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Sistema de Alerta de Risco de Desastres
Sistema de Alerta de Risco de Desastres
Introdução
E
m vários documentos internacionais e nacionais sobre redução do risco de
desastres é comum encontrar a recomendação de que se deve conhecer
o risco. Esta ação é considerada uma etapa básica, inclusive para os siste-
mas de alerta (UNISDR, 2005; 2015). Conhecer o risco implica nos debruçarmos
sobre a história dos desastres, pois ela nos fornece elementos importantes para
mobilizar as percepções, tanto de gestores públicos quanto dos atores da
sociedade civil, sobre as ameaças e/ou perigos, as vulnerabilidades, os riscos e
os desastres.
Na América Latina e Caribe, esse intento de descobrir a história dos desastres
foi empreendido por cientistas de La Red de Estudios Sociales en Prevención de
Desastres em América Latina (La Red), que publicaram ao menos três livros
sobre o assunto, intitulados Historia y Desastres en América Latina (Acosta, 1996;
1997; 2008). No volume 2 dessa coletânea encontramos um capítulo que versa
sobre os aspectos históricos das secas na região Nordeste durante o Brasil
colonial (1530-1822), em que são destacadas diferentes dimensões de
vulnerabilidade e impactos ocorridos, desde as migrações até fome, mortes,
estratégias de resistência e ações das autoridades diante do problema, como,
por exemplo, a repressão aos saques de comida durante a seca que se estendeu
de 1722 a 1728 (Gareis et al., 1997). Se a história dos desastres associados às
secas foi analisada a partir dos arquivos históricos, como também da história
oral das diversas gerações que a enfrentaram, talvez seja difícil sustentar a
mesma afirmação para desastres associados a outras ameaças e/ou perigos, tais
como deslizamentos e inundações.
Mattedi (1999) aventurou-se nessa empreitada ao estudar o histórico das
inundações em Blumenau, município situado na Bacia do Itajaí, em Santa
Método
A revisão do estado da arte no tema de sistemas de alerta e gestão de risco,
a pesquisa documental em organismos internacionais e nacionais e entrevistas
semiestruturadas serviram de base para a realização deste estudo. A pesquisa
documental envolveu a consulta, por meio de plataforma on-line, de órgãos
federais, estaduais e municipais que lidam com monitoramento e alerta. Entre
os órgãos federais, foram realizadas consultas on-line junto ao Serviço Geo-
lógico do Brasil (CPRM), Agência Nacional de Águas (ANA), Secretaria Nacional
de Defesa Civil (SEDEC), Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), dentre outros. No âmbito estadual,
foram consultadas as defesas civis estaduais, secretarias de meio ambiente,
agências de meteorologia, etc. No nível municipal, as defesas civis. A pesquisa
documental foi acompanhada de entrevistas semiestruturadas realizadas du-
rante o I Seminário Nacional de Avaliação de Alertas do Cemaden, ocorrido em
abril de 2017.
Figura 2 Bacias monitoradas pelo Sistema de Alerta de Eventos Críticos (Sace). Fonte:
Adaptada a partir de Brasil (2016b).
Tabela 1
*Municípios identificados como prioritários pelo governo federal, os quais tiveram riscos hidrológicos e geológicos mapeados.
**A área da Amazônia legal abrange os estados do Amazonas, Pará, Acre, Amapá, Roraima, Rondônia, Tocantins e parte dos estados
do Maranhão nordeste e Mato Grosso.
Fonte: Elaborada pelos autores a partir de diversas fontes documentais.
Outro órgão federal que se ocupa do tema monitoramento é o Cemaden,
lotado no Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações. O órgão
federal reúne dados e informações provenientes de diferentes instituições e gera
conhecimento sobre os riscos de desastres. O centro realiza o monitoramento do
risco de desastres e alerta para a probabilidade de ocorrência de inundações e
deslizamentos em alguns municípios brasileiros identificados como de alto risco.
Os alertas do Cemaden são enviados à Secretaria Nacional de Proteção e Defesa
Civil (Sedec), que os encaminha às defesas civis estaduais e municipais. Os muni-
cípios são responsáveis por comunicar o alarme à população (Figura 3). O Cemaden
é o único órgão federal que se ocupa de monitorar riscos de desastres associados
a deslizamentos, além das enxurradas. Em relação às inundações graduais, essa
responsabilidade é dividida entre o referido órgão, a ANA e a CPRM. Entretanto,
os alertas do Cemaden são voltados à escala municipal, isto é, são enviados para
cada um dos municípios, mesmo que o processo alertado de inundação possa
ocorrer em toda a bacia hidrográfica. ANA e a CPRM, por sua vez, emitem boletins
com previsão hidrológica e as referidas tendências de subida ou declínio dos
níveis dos rios.
Considerações finais
A operação de sistemas de alerta no Brasil teve início de forma reativa,
desarticulada e descentralizada, organizada por diferentes instituições que
tinham o monitoramento como atividade primária ou secundária. Em virtude
desse processo histórico, os alertas têm diferentes níveis, caracterizações e
denominações, e, também, diferentes alcances e público-alvo. A emissão desar-
ticulada dos alertas tem representado um problema aos órgãos locais que os
recebem das instituições federais e estaduais. Pela natureza das atividades de
monitoramento, que lidam com alto nível de incerteza – relacionada não so-
mente às previsões climáticas e meteorológicas, mas também à probabilidade
de ocorrência de inundações, enxurradas e deslizamentos –, muitas vezes não
há consenso sobre o diagnóstico emitido. A incerteza aumenta quando se passa
a monitorar não somente as ameaças naturais, mas também o risco de desastre,
o qual engloba as dimensões associadas às vulnerabilidades e impactos.
A existência de diferentes órgãos emissores, denominações e planos mostra
que a emissão de alertas ainda está em fase de consolidação no país. Além da
necessidade de unificação ou padronização dos termos técnicos, é preciso rever
o fluxo de emissão dos alertas e a participação das diferentes esferas envol-
vidas. Todos esses descompassos revelam a necessidade de políticas públicas
de prevenção de desastres que organizem um Sistema Nacional de Alerta de
Risco de Desastres (Sinarde), concentrando-se não somente no provimento de
uma rede observacional para o monitoramento de ameaças, mas também pela
organização da rede de instituições e atribuições que compõem o sistema, além
de buscar mecanismos para envolver a sociedade civil e encontrar caminhos
para a construção de sistemas de alerta centrados nas pessoas e nas multia-
meaças (UNISDR, 2005; 2015).
A partir do mapeamento dos centros de monitoramento, é possível observar
que algumas agências estaduais executam essas atividades. Entretanto, no nível
municipal, esses sistemas ainda são muito raros, existentes, em sua maioria,
nas capitais. Portanto, é importante desenvolver políticas públicas que consi-
derem essa lacuna, tendo em vista que os riscos de desastres se manifestam,
na maioria das vezes, em escalas regionais e locais.
Uma das formas de reduzir as vulnerabilidades institucionais do sistema é
investir na formação técnico-científica, potencializando o uso de salas de situa-
ção estaduais – já implantadas em parceria com a Agência Nacional de Águas –
e municipais que possam fortalecer as capacidades locais de gestão do risco de
desastres, entendendo-se que essa dimensão é ampla e vai além do monito-
ramento e alerta. Dito de outro modo, e para usar uma expressão brasileira,
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