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Reflexões metodológicas sobre

os usos da fotografia na antropologia

Anne Attané e Katrin Langewiesche

Resumo Palavras-chave
O texto trata da utilização da fissional, enfocando a fotografia ilustração interpretativa, fotogra-
1
Michael Young
fotografia na pesquisa antro- como instrumento de pesquisa e fia e pesquisa antropológica (1998) faz uma
pológica com base em três ex- como “ilustração interpretativa” análise da utilização
periências de colaboração entre de apresentação dos resultados de imagens por
Malinowski.
as autoras e um fotógrafo pro- de uma pesquisa.
2
Sobre as fotografias
de Griaule, ver Geertz
(1996) e Fiemeyer
(2004).
A utilização da fotografia na antropologia tem uma longa tradição. Bronislaw
3
Malinowski, um dos fundadores da antropologia social, publicou, ainda em 1914, Cf. Saudades do
Brasil, (1994), de
uma monografia sobre as ilhas Trobiands com suas próprias fotografias.1 Outras Levi-Strauss
grandes figuras da disciplina, como Griaule2, Lévi-Strauss3, Mead e Bateson4,
4
Evans-Pritchard5 e Verger, utilizaram a fotografia nos seus textos científicos. Os an- Ira Jackins (1988)
analisa como Mead
tropólogos recorrem freqüentemente à fotografia, sem forçosamente teorizar sobre e Bateson utilizam a
a sua utilização. Geralmente, a fotografia é utilizada para ilustrar o texto antropo- fotografia e o cinema.
lógico no momento de restituição dos resultados da pesquisa. Os trabalhos que 5
Sobre as fotografias
recorrem à fotografia desde a etapa de produção de dados – ou seja, que se utilizam de Evans-Pritchard, ver
da imagem como um verdadeiro instrumento de pesquisa – são muito mais raros6. Geertz (1996).
Uma obra precursora nesse tipo de trabalho é, certamente, o livro Balinese character 6
No que concerne
(1942), de Bateson e Mead. Nesse livro, os autores não só utilizam suas imagens a alguns trabalhos
para a produção dos dados, como consideram as fotografias como uma forma de recentes, podemos
discurso indispensável na apresentação do resultado de suas pesquisas. citar Guran (1996),
Fiéloux & Lombard
Outros trabalhos que utilizam, em paralelo, imagens e texto para construir (1998) e Piette (1992,
uma trama narrativa são os de Léonore Mau e Hubert Fichte (1976; 1980). Seus 1996 e 1998).

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Eles publicaram uma livros são menos célebres e reconheci- ou seja, na produção de dados e na
série de quatro obras.
dos, embora sejam vanguardistas nesse restituição dos resultados, assim como,
O primeiro volume
é consagrado às domínio. Esses dois autores desenvol- naturalmente, na interpretação inerente
fotografias de Léonore veram um método que não só integra à apreensão do mundo.
Mau (Xangô – Die
imagem e texto, como também combina A produção de imagens é uma ferra-
Afroamerikanischen
Religionen, 1976). arte e ciência. Fichte, etnólogo e poeta, menta entre outras e, em nenhum caso,
O segundo volume e Mau, fotógrafa, trabalharam juntos ela se propõe a substituir a descrição
tem o mesmo título
durante cerca de quinze anos. Seus escrita dos fenômenos observados.
e publicou textos
de Hubert Fichte. O trabalhos publicados sobre as religiões A fotografia não é nem mais, nem
terceiro volume foi de afro-brasileiras e formas de cristianismo menos científica do que a escrita. Os
novo consagrado às
sincrético associam fotografia e texto7, critérios de rigor aos quais podemos
fotografias de Léonore
Mau (Petersilie, e, apesar de inovadora, sua colaboração submeter a fotografia podem ser tão
1980), e o quarto, é muito pouco referenciada nas discus- estritos quanto aqueles aos quais é
com o mesmo título,
sões sobre antropologia visual. Dito de submetida a escrita nas ciências sociais.
apresentou os textos
de Fichte. outro modo, embora seus escritos sejam O domínio da linguagem fotográfica e
reconhecidos no campo da etnologia, dos procedimentos técnicos faz parte
8
Jean-Pierre Olivier
seu método global que associa escritura desse rigor tanto quanto a valorização
de Sardan mostra
a supremacia textual e imagem passou despercebido de uma fotografia por uma cópia de
incontestável da (Baun, 1994-1995). qualidade. As sombras sutilmente de-
escrita sobre a
A acolhida relativa da obra desses talhadas, a profundidade das nuanças
produção audiovisual
no domínio da autores é característica da desconfiança de cinza contribuem diretamente para
produção científica, que encontramos nas ciências sociais o valor documental de uma fotografia10.
e sua argumentação
diante da utilização de fotografias. De A imagem não pode, em caso algum,
sobre o instrumento
audiovisual pode maneira geral, as ciências sociais têm substituir a produção discursiva textu-
ser retomada, em dificuldade em reconhecer qualidade al; quando realizada segundo padrões
grande parte, para a
científica na imagem. Como a imagem específicos e rigorosos, ela aporta um
fotografia. Cf. Olivier
de Sardan (1982). pode estimular impressões, exprimir outro olhar que convida a considerar
sentimentos, ela parece frívola e sua uti- plenamente a dimensão humana de
9
Cf., entre outros,
lização como instrumento de pesquisa se nossos objetos de pesquisa.
Darbon (1994),
Gombrich (1983). afigura suspeita8. Os limites de utilização Diferentes experiências de pesquisas
Esses limites também da fotografia nas ciências sociais são antropológicas e fotográficas nos leva-
são lembrados
sistematicamente lembrados por vários ram a refletir sobre a fotografia como
em diferentes
contribuições do autores9. Sem negar as limitações da instrumento ao longo do processo de
número especial imagem fixa, insistimos no fato de que a pesquisa, mas também como meio de
do Journal des
imagem fotográfica é um rastro do real. apresentar os resultados da pesquisa.
Anthropologues (2000,
p. 80-81). Trata-se de saber como, apesar de suas Em três exemplos, destacaremos os
limitações, ela pode ser uma ferramenta aspectos metodológicos da utilização
suplementar à disposição da antropolo- da fotografia em um discurso científico.
gia nas diferentes etapas da sua reflexão, Esperamos, assim, dar visibilidade a al-

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gumas potencialidades da fotografia no fizeram um retorno à natureza – em
campo da pesquisa antropológica. sua maioria, a partir de 1968 – a fim de
As imagens deste artigo foram rea- tentar uma nova experiência de vida à
lizadas pelo fotógrafo Frank Pourcel, margem da sociedade de consumo. Essa
com quem trabalhamos em três dife- pesquisa não se configurou como um
rentes projetos de pesquisa. No primei- estudo etnológico clássico, nem como
ro, estudamos a percepção, por parte uma pesquisa fotográfica convencio-
dos habitantes das cidades industriais nal, mas sim como um trabalho que
francesas de Martigues e Cherbourg, combina as duas abordagens (Attané,
do perigo representado por duas usinas Langewiesche, Pourcel, 1999-2000,
nucleares instaladas em seus respectivos 2004, 2005).
arredores. Tratou-se de uma pesquisa Essas experiências de pesquisa nos
encomendada pelo Ministério do Meio permitem abordar dois níveis diferentes
Ambiente da França e efetuada por Anne da utilização da fotografia em antro-
Attané (1998, 2000, 2005). pologia: primeiramente, a fotografia
A segunda experiência comum de pode se constituir em um instrumento
trabalho ocorreu na África Ocidental. de pesquisa. Ela facilita a descrição e
O fotógrafo se deslocou ao Bukina a comparação. As imagens permitem,
Faso para, em companhia das etnólo- igualmente, o registro de um discurso
gas, registrar fotograficamente, duran- sobre questões que dificilmente são
te um mês, cerimônias de casamento enunciadas durante uma entrevista.
e de batismo, e funerais. As duas et- Em segundo lugar, a fotografia pode se
nólogas, em trabalho de campo havia transformar em uma ilustração inter-
vários meses, estavam na fase final pretativa para apresentar os resultados
de suas respectivas pesquisas de dou- da pesquisa. Por vezes, uma mesma
torado sobre as transformações das fotografia pode ser utilizada nas duas
relações entre os sexos e as diferentes funções, enquanto outras serão apenas
gerações, e sobre as transformações em uma das duas. Uma fotografia pode
10
Nas obras de
religiosas (Attané, 2003; Langewies- ser lida separadamente, mas é o conjun- antropologia,
che, 2003). Os seus respectivos eixos to do corpus fotográfico que produz o encontramos
de trabalho levaram-nas a estudar em sentido do discurso visual. freqüentemente
fotografias mal
conjunto algumas cerimônias religiosas, compostas ou
sobretudo os funerais. impressas com baixa
Por fim, a terceira pesquisa teve A fotografia como qualidade. A qualidade
da edição fotográfica
como tema os modos de vida alterna- instrumento de pesquisa reflete evidentemente
tivos desenvolvidos na região de Haute as limitações editoriais,
Provence, na França, por pessoas que Este ponto inclui três aspectos essen- mas isso também
indica as prerrogativas
são correntemente designadas pelo ciais do uso da fotografia no processo do texto escrito na
termo de neorurais. São aqueles que de pesquisa: ela facilita a descrição e a literatura científica.

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La Rouge, Mane, setembro de 1999

11
Essa idéia-chave comparação, e se transforma em mate- ao dizer que, na base do ato fotográfico,
de Barthes (1980) for rial de apoio nas entrevistas. encontram-se três elementos principais:
retomada por Scherer
(1990) e Antoniadis
o fotógrafo, a fotografia (a imagem), e o
(2000, p. 121) A descrição espectador (aquele que vê a imagem)11.
O suporte fotográfico facilita a descri- Ainda que a fotografia reflita as escolhas
ção por três razões essenciais: primei- do fotógrafo e que, por isso, seja parcial,
ramente, permite fixar uma observação ela é, em grande parte, igualmente rea-
visual; em segundo lugar, registra uma lista, uma vez que é um rastro do real.
infinidade de detalhes que a observação O antropólogo reflete sobre os efeitos
direta nem sempre leva em considera- realistas, ou seja, sobre as informações
ção; e, em terceiro, torna perene um veiculadas pela imagem, as roupas dos
instante e a percepção que o fotógrafo atores, suas atitudes corporais, o am-
teve da situação naquele momento. biente, as paisagens etc. No contexto
Nesse sentido, o documento fotográfico da nossa pesquisa sobre os modos de
permite transformar impressões em da- vida alternativos, a fotografia registrou
dos. Mas, uma descrição, seja ela visual dados dificilmente apresentáveis por
ou textual, não pode ser separada da escrito, que vão além da descrição das
interpretação do autor, das condições habitações e seus arredores, além da
de sua produção e da natureza de seus descrição das atitudes ou da maneira
destinatários. Barthes exprime essa idéia de vestir dos interlocutores.

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Na casa de Ponny, Reillane, setembro de 1998.

Por intermédio da fotografia, o ob- Quando o observador deve avaliar uma


servador pode se enlevar com a beleza do grande quantidade de elementos inscri-
lugar, e quando o texto (o comentário tos na cena observada, a fotografia se
escrito que acompanha essa fotografia constitui em uma ferramenta essencial.
na publicação final) lhe informa que É o caso, por exemplo, da imagem que
se trata do homem que construiu sua representa o exterior da casa de uma das
própria casa, aí então ele pode compre- pessoas que nós encontramos.
ender o duro trabalho de reconstrução Ao permitir, “potencialmente, um
e a poesia do resultado final. Ele pode registro de tudo o que se encontra no
imaginar como o construtor se deu mundo sob todos os ângulos possíveis”
ao trabalho de procurar as pedras nas (Piette, 1992, p. 27), a fotografia facilita
pedreiras das redondezas e as talhar
12
Essa potencialidade
uma descrição fina. Essa potencialidade
da imagem é
uma a uma para fazer essa fachada. Ou da imagem em destacar em um só plano firmemente defendida
pode, ao mesmo tempo, perceber como uma infinidade de detalhes é particular- por Albert Piette
foi dura essa tarefa e como é talentoso mente interessante para dar sentido a (1992, 1996, 1998).

o construtor. interiores de casas que pareceriam mudos 13


Achutti utilizou
A segunda razão que nos estimula e pálidos em uma descrição linear escri- a fotografia do
a utilizar a fotografia para a descrição ta13. O fato de a imagem poder destacar interior da casa para
reconstituir o retrato
etnográfica é que esse suporte pode detalhes além do que consegue o olhar de seu habitante
registrar uma infinidade de detalhes12. do observador é uma grande contribui- (Achutti, 2004).

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ção para a descrição das práticas rituais.
Por ocasião de cerimônias em que várias
ações ocorrem rapidamente e ao mesmo
tempo, a observação a olho nu pode
ficar no limite da simples impressão.
A fotografia pode, nesse caso, ajudar
o etnólogo a reconhecer quais são as
pessoas que participaram efetivamente
do ritual, quem fez que gestos, quais
objetos foram utilizados etc. Os detalhes
que não são vistos em uma observação
direta ou que não são anotados no ca-
derno de campo são muito numerosos.
A fotografia permite apreender esses
detalhes e trabalhá-los a posteriori. Como
exemplo, escolhemos algumas imagens de
uma breve seqüência ritual composta por
cerca de quarenta fotografias. Trata-se de
uma fase dos funerais do chefe de uma
aldeia próxima à cidade de Ouahigouya,
no noroeste de Burkina Faso. Essa parte
dos funerais ocorreu simultaneamente a
outras atividades rituais que se desenrola-
vam não muito longe dali, na concessão
do defunto, e foram acompanhadas pelas
etnólogas, enquanto o fotógrafo seguia os Funerais em Lago, novembro de 1997
atores que se embrenhavam na mata.
Por fim, a fotografia facilita a descri- O marido dá um pedaço de bolo à
ção graças à sua capacidade de imorta- sua esposa. As famílias, que celebram o
lizar um instante. Ela “tem a vantagem casamento de seus filhos, pertencem à
de parar as coisas – como escreveu Pierre burguesia africana, que muito freqüen-
Verger – (...) e, assim, nos permitir ver temente exprime seu pertencimento
o que tinha sido apenas entrevisto e à modernidade ocidental por ocasião
imediatamente esquecido porque uma das cerimônias familiares. A fotografia
nova impressão veio apagar a preceden- destaca as tendências que provocam
te” (Verger, 1991 p. 168). É o caso da questionamentos e estimulam análises
imagem de um casamento católico feita antropológicas aprofundas. O gesto do
na cidade de Ouahigouya no Burkina marido que serve à sua mulher é o pon-
Faso, na página seguinte. to central da imagem. Assim destacado

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não-confessado, geralmente ambíguo
em relação ao discurso” (Piette, 1992,
p. 33) e, poderíamos acrescentar, do
“não-visto”. De fato, as fotografias,
frutos de um olhar exterior, podem
dar visibilidade a elementos de uma
paisagem ou de uma prática que não
são necessariamente vistos pelo ator.

A comparação
As imagens podem também contribuir
para a produção de dados comparativos.
As duas fotografias a seguir mostram
diferentes relações com o espaço encon-
tradas por ocasião de nossa pesquisa
sobre o movimento neorural. A primeira
imagem corresponde às representações
mais aceitas na França sobre os neoru-
Casamento católico em Ouahigouya, rais: cabelos longos, casas em madeira,
novembro de 1997. um certo desapego material... A segunda
imagem vai ao encontro das idéias que
pela construção da imagem, esse gesto são feitas desse meio. O espectador
parece traduzir uma transformação en- reconhece um jardim bem cuidado,
tre as relações de gênero analisadas mais uma piscina e um homem que opera
detidamente pela antropóloga (Attané, um cortador de grama. Ao justapor
2003). No primeiro plano, contudo essas duas imagens, podemos mostrar
menos evidente ao primeiro olhar, o a diversidade de atitudes ligadas à na-
leitão assado e as garrafas de bebidas tureza nesse meio. Se alguns escolheram
alcoólicas expostos de maneira osten- uma forma de desapego material, nem
siva podem ser interpretados como o todos vivem longe do conforto que a
desejo de assinalar abastança material sociedade de consumo pode oferecer.
e, ao mesmo tempo, como a preocupa- Trata-se de evitar, ao colcoar essas duas
ção de se distanciar dos muçulmanos imagens lado a lado, as generalizações
(Langewiesche, 1998; 2005). habitualmente veiculadas sobre o meio
No estudo das práticas rituais ou neorural.
sociais, é indispensável considerar o Um outro tipo de comparação vi-
contexto. A fotografia se transforma, sual foi possível graças ao conjunto de
então, em um instrumento primordial imagens realizadas durante a pesquisa
para “uma etnologia do não-dito, do efetuada em Martigues e Cerbourg sobre

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Água de balde para lavar a louça e regar o Les Jeux, Mane, primavera de 1999.
jardim, Clos des Sauniers, Limans,
primavera de 1999

a percepção dos perigos ligados à proxi- duas cidades e a relação que os atores
midade de uma usina nuclear. O corpus mantêm com seus respectivos espaços.
fotográfico permite que se apresentem Em Martigues, as pessoas tomam banho,
paralelamente o meio ambiente das comem, vivem ao pé das usinas.

Lugarejo de Ponteau, Martigues, junho de 1996

Em Cherbourg, parece que estamos A visibilidade das indústrias em


em uma área de natureza preservada. Martigues salta aos olhos, enquanto

Baía de Ecalgrains, abaixo da usina de La Praia de Collignon, Cherbourg,


Hague, agosto de 1996 agosto de 1996

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em Cherboug a indústria nuclear parece Ao longo da pesquisa sobre o mo-
invisível. Ao contrário, o campo e os vimento neo rural e sobre as práticas
espaços verdes é que são visualmente ao ar livre em Martigues e Cherbourg,
muito presentes. Em um mesmo olhar, apresentamos imagens aos nossos inter-
é muito raro que se possa confrontar, locutores durante as entrevistas. Graças às
em Cherbourg, as instalações indus- fotografias, as impressões dos interessados
triais e as atividades humanas ao ar se transformaram em dados sociologica-
livre. A comparação dos corpus foto- mente tratáveis. Os discursos suscitados
gráficos constituídos para a cidade de pela observação das fotografias se reve-
Martigues e para a de Cherbourg nos laram ricos para a compreensão das re-
permite insistir sobre tal característica presentações das relações com o espaço
ambiental desses dois locais. ou das motivações dos atores. Durante
as entrevistas, as imagens favoreceram
Uma fotografia para um discurso as discussões em torno de temáticas
Em uma pesquisa, a fotografia também dificilmente enunciáveis (por serem
pode ser utilizada durantes as entre- inconscientes ou estarem dissimuladas).
vistas como base para a formulação Isso pode ser ilustrado pela próxima
de perguntas. Os principais detratores fotografia, tomada durante a pesquisa
da utilização da fotografia nas ciências sobre o movimento neo rural.
sociais lhe condenam precisamente a Essa fotografia, resultado da sensi-
carência em termos de comunicação. bilidade e da interpretação individuais
Os códigos estéticos, o conhecimen- do fotógrafo, não apresenta, à primeira
to ou desconhecimento dos objetos vista, dado antropológico algum. Foi
apresentados, a relação afetiva daquele apenas em um segundo momento,
que emite o olhar com aquele que é após ser apresentada a alguns de nos-
representado etc. fazem com que cada sos interlocutores, que sua capacidade 14
Cf. a afirmação de
indivíduo, ao descobrir a imagem, de suscitar um discurso se revelou. Gombrich de que “a
perceba ou sinta realidades diferentes Nenhuma das pessoas envolvidas ficou imagem visual é sem
paralelo quanto à sua
ou, ao menos, não idênticas. É por indiferente a essa imagem. Diante desta capacidade de instigar,
essa razão essencial que a fotografia fotografia, desenvolveram, espontane- mas sua utilização
é considerada um instrumento de amente, um discurso próprio sobre a para fins expressivos
é problemática e,
comunicação fraco.14 A polissemia de sua instalação na região. Para todos, tal reduzida a ela mesma,
uma imagem faz com que ela permita imagem simbolizava a luta de muitos é incapaz de igualar
múltiplas interpretações, sendo por deles, que tinham vindo se instalar e a função enunciativa
da linguagem” (1983,
essa mesma razão que sua utilização construído uma casa. Essa foto lhes p. 324)
ao longo das entrevistas é rica de propiciou a ocasião de evocar o duro
15
informações. A visualização das ima- trabalho de construção, mas também Sobre a utilização
de imagens nas
gens favorece a produção de discursos a importância afetiva e simbólica da entrevistas, ver
originais.15 casa ou ainda o rompimento do casal que também Guran (1996).

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ças às fotografias permite comparar
o que diferentes atores dizem de uma
mesma imagem. As fotografias tornam
os questionamentos sociológicos mais
acessíveis às pessoas envolvidas com
a pesquisa e facilitam a compreensão
mútua entre o pesquisador e seus inter-
16
Para Piette
locutores. Por fim, as imagens estão fre-
a fotografia na qüentemente na origem de discussões
etnologia só funciona sobre uma prática específica, um espaço
acompanhada de um
texto: “a utilização
particular, ou sobre pessoas singulares.
da fotografia como A fotografia fabrica lembranças; para
‘representação não parafrasear Verger, ela registra a história
descritiva’ demanda
a presença de um
e as transformações que podem evocar
‘comentário descritivo’, temas novos que não estavam presentes
para identificar o nas entrevistas.
objeto ou a situação
representada e
indicar o modo de
funcionamento dessa A apresentação dos resultados
Mane, abril de 1999.
representação” (1992,
p. 25). Ver, a esse
da pesquisa
propósito, Sperber, freqüentemente acontece quando a constru-
(1982, p. 18-19), A polissemia de uma imagem é um
ção da casa é concluída. Essa fotografia
ao qual se refere
Piette. Para Darbon, a autoral é útil para precisar o que não trunfo quando ela é apresentada du-
linguagem da imagem pode ser mostrado, as informações não rante uma entrevista, mas se transfor-
“necessita de um ma em limitação na restituição dos
evocadas em uma entrevista em razão
texto para exprimir
sua plena eficácia” de serem muito íntimas. Ao mesmo resultados. Para conservar um poder
(Darbon, 1994, p. tempo que apreendem informações, de comunicação que ilustre as inter-
116). pretações e as hipóteses, uma imagem
as fotografias traduzem as emoções:
17
Segundo Gombrich, elas têm, então, uma capacidade de deve ser acompanhada de um texto16.
“uma interpretação evocação que falta ao discurso do et- O texto não é uma condição suficiente,
correta depende uma vez que a interpretação de uma
nólogo durante uma entrevista. Diante
de três variáveis: o
código, a legenda e o dessa imagem, as pessoas envolvidas imagem não é um ato passivo17. De
contexto. Poderíamos evocaram a importância atribuída à fato, a uma mesma imagem podemos
pensar que a legenda aplicar diferentes enunciados que lhe
casa e ao fato de eles próprios a terem
bastaria para tornar
supérfluas as duas construído. modificam a leitura. Em alguns casos,
outras. Mas as nossas Afora esse poder de evocação, o somente o contexto pode dissipar a
convenções culturais ambigüidade de uma mensagem vi-
recurso às fotografias nas entrevistas
são muito instáveis
para que assim seja.” se revela pertinente por outras razões: sual. A compreensão do contexto de
(1983, p. 328) o corpus de discursos recolhidos gra- uma imagem fotográfica é essencial

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para a sua interpretação. Vários pro-
cedimentos facilitam a restituição do
contexto: a legenda (Gombrich, 1983),
a construção da imagem (Guran, 1994;
Darbon, 1994) ou a utilização de uma
série de imagens (Attané & Langewies-
che, 2000).
A legenda, ou seja, um comentário
escrito sobre a imagem, freqüentemente
é necessário para permitir que aquele
que olha a imagem compreenda o que o
autor quis dizer. É, por exemplo, o caso
da imagem à direta. Essa imagem só se
torna compreensível com sua legenda:
“Sonho de galinha”, uma performance
encenada no ateliê de um artista neo-
rural pelo fundador do “cubitenismo”,
uma filosofia do absurdo.
Na construção do discurso narra- Sonho de galinha, instalação de Alain Fraud,
tivo, alguns autores preferem colocar “cubitenista”, na Garage Laurent, Folcalquier,
fevereiro de 1999.
as legendas no fim da obra para dar
livre curso ao discurso visual18. O lugar
do texto (legendas ou explicações) em cujos critérios são próprios a cada 18
Fichte e Mau
relação às imagens em um livro geral- época, a cada país e a cada fotógrafo. escolheram esta opção
mente caracteriza o domínio a que ele Esses critérios estéticos são decisivos para alguns seus de
livros.
pertence. Quando um livro é classifi- para a fabricação das imagens. Franck
cado na rubrica “fotografia”, o texto é Pourcel, com quem trabalhamos nes- 19
Podemos encontrar
levado para o final da obra, enquanto sas três pesquisas, situa-se na linha uma análise
interessante sobre o
na rubrica “etnologia”, normalmente dos fotógrafos-autores20. Ele utiliza status das imagens
encontramos texto e imagens mistura- a fotografia em preto-e-branco como e do texto em três
dos ou ainda as fotografias reunidas uma pesquisa de estilo pessoal. “Eu livros de fotografia
com caráter etnológico
em um caderno especial no meio da concordo com a opinião de Bauret em Jahel (2000). Esta
obra. Os livros que transgridem os (1996) que escreveu que ‘a fotografia temática mereceria
domínios e misturam os gêneros são em preto-e-branco marca não ape- um estudo mais
aprofundado sobre
raros 19. Em um discurso científico, nas o pertencimento do fotógrafo a a questão “autor e
uma legenda (não importa onde ela uma estética, mas representa ainda a autoridade”.
apareça no livro) é indispensável para afirmação de um ponto de vista, de
20
Ver, principalmente,
guiar a leitura. A leitura de uma fo- um pensamento, por oposição a um sua obra sobre a
tografia é uma “experiência estética”, simples testemunho”, explica Franck Camargue (2003).

ANNE ATTANÉ E KATRIN LANGEWIESCHE • Reflexões metodológicas sobre os usos da fotografia na antropologia 143
pode situar o contexto de um instante
apreendido.
No segundo plano, dois homens se
encontram lado a lado sobre as pedras.
Mais adiante, pescadores seguram suas
varas. O domínio da técnica fotográ-
fica está a serviço da construção do
propósito21. O fotógrafo, ao utilizar
Clos de Sauniers, Limans, verão 1999. uma objetiva grande angular (35 mm),
recoloca as ações humanas em seu
Poucel. Esse ponto de vista fotográfi- contexto. Não se trata de um retrato:
co (e a subjetividade a ele ligada), bem não se busca apreender o olhar ou a
como o valor artístico de suas imagens individualidade (o homem do primeiro
são um trunfo importante para a escrita plano está de costas), mas sobretudo
etnológica. Não porque as fotografias a ação desse homem em seu ambiente
representem a experiência pessoal do imediato. Há, nessa fotografia, elemen-
fotógrafo, mas porque elas se tornam tos suficientes para uma leitura que
fonte de várias leituras possíveis. ultrapasse o instante que ela represen-
A imagem acima interroga o es- ta. Pode-se dizer que essa fotografia
pectador e permite, ao lado do texto, é eficiente porque ela tem um forte
um trabalho de descrição. Durante as poder de comunicação. A fotografia
várias estações do ano, vimos pessoas eficiente não tem por função tornar
do movimento neorural viverem em o texto inútil, mas apenas elaborar
uma certa intimidade com a natureza, uma representação que contenha um
21
Milton Guran propõe
e a imagem demonstra essa intimidade. sentido que seja transmitido com fa-
a produção de uma
fotografia eficiente O olhar do cavalo induz a um estranha- cilidade. A fotografia eficiente é aquela
(1994; 1996, p. 363). mento. Ele atrai o olhar do espectador que, tomada isoladamente, transmite
Terrinoire (1985) insiste
e leva a cabana para o segundo plano. as informações necessárias sobre o
sobre o fato de que
a fotografia deve O enquadramento incita, com bastante contexto do instante fotografado. Sua
ser cientificamente sensibilidade, a pergunta sobre a pre- utilização na restituição dos resultados
construída. Entretanto,
sença da cabana. Uma fotografia mal ganha pertinência. A eficiência de uma
mesmo se o fotógrafo
domina plenamente os composta, como um texto mal escrito, fotografia é freqüentemente descoberta
códigos da linguagem dissimularia o sentido. a posteriori, da mesma forma que um
fotográfica, toda sua
É nesse sentido que podemos dizer dado eficaz surgirá de um caderno
intenção não está
contida na imagem, e que, para certas imagens, o texto tem de notas quando essas notas forem
nada garante que o pouca importância, já que um único apreciadas em seu conjunto.
receptor veja nela tudo
olhar basta para interpretar a imagem. O contexto também pode ser apre-
o que o autor quis que
ali constasse (Darbon, A fotografia na página ao lado ilustra sentado pela construção de uma série de
1994, p. 115). como a construção de uma imagem fotografias. Não utilizamos largamente

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imagem em seu contexto mais amplo.
Uma série pode ser construída segundo
o propósito do autor (como se vê nas
páginas seguintes) ou representar um
acontecimento único em “tempo real”
(apresentação de provas-contato, por
exemplo). Nos dois casos, os detalhes
fornecidos são limitados pela proble-
mática e pela economia de análise que
despreza os elementos que não serão
analisados. Desse ponto de vista, a
descrição visual não é menos delimitada
que a descrição escrita.

Para concluir...

No canal de Caronte, Martigues, junho de 1996. Para concluir, podemos constatar que,
nas três pesquisas rapidamente apre-
esse procedimento no trabalho sobre o sentadas aqui, muito diferentes entre
movimento neo rural. si, a colaboração entre texto e imagem
As pessoas que nós encontramos dão trouxe elementos suplementares para
sua cota de trabalho cotidiano, freqüen- reflexão que contribuíram para valo-
temente difícil e, sobretudo, repetitivo, rizar o objeto antropológico. Primei-
mesmo quando se trata de um trabalho ramente, o questionamento antes da
que elas amam e que são elas mesmas tomada de fotos já produziu dados e
que determinam as regras. A construção interpretações. Para as antropólogas,
da série de fotografias sublinha a idéia observar o fotógrafo trabalhar favore-
que desejamos exprimir: a repetição das ceu a confrontação de pontos de vista,
tarefas cotidianas é um traço caracte- ou seja, as diversas maneiras de apre-
rístico do trabalho agrícola. Ao alinhar ender os fatos observados, específicas
as fotografias de um mesmo indivíduo, a cada um, produziram informações
nós apresentamos os múltiplos instan- válidas.
tes que constituem seu trabalho diário: Ao longo da pesquisa, o diálogo entre
costas curvadas para colher plantas, mão fotógrafo e antropólogas no momento
levantada para guiar cabras. da seleção de fotos nas provas-contato
A construção de uma série de fo- permitiu confrontar e combinar uma
tografias, portanto, fornece aos espec- retórica fotográfica e um propósito dis-
tadores a possibilidade de integrar a cursivo. Durante o processo de pesquisa,

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Cuidando das cabras, La Rouge, Mane, abril de 1999.

Coleta de plantas e ervas, Saint Lambert, verão de 1999.

Cuidando das ovelhas, Limans, inverno de 1999.

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ANNE ATTANÉ E KATRIN LANGEWIESCHE • Reflexões metodológicas sobre os usos da fotografia na antropologia 147
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É o que Albert a fotografia induz o pesquisador a uma de dados. As notas escritas no caderno
Piette chama de o possibilidade de vai-e-vem entre a ima- de campo são indispensáveis. O texto
princípio da distância
(1992, p. 27).
gem e o objeto, para ver mais e, talvez, escrito permite produzir um discurso
ver melhor (Piette, 1992, p. 27)22. explicativo que é essencial ao procedi-
Por fim, por ocasião da restituição mento científico. Em compensação, ao
dos resultados da pesquisa, a fotografia apreender o mundo naquilo que ele
serve de apoio para restituir os dados tem de visível, o objeto de pesquisa se
e tornar as interpretações e hipóteses torna mais complexo e, portanto, mais
inteligíveis. Para cumprir esses objetivos, próximo de sua realidade. A colaboração
a utilização da imagem deve responder semântica entre a fotografia e o texto
a critérios tão estritos quando os outros escrito se revela mais enriquecedora, se
procedimentos da pesquisa antropoló- ela se realiza tanto durante a pesquisa
gica (tomada de notas, questionário, quanto no momento de apresentação
narrativas...). A fotografia, como o fil- dos resultados. A imagem serve de
me, não é um instrumento que pode instrumento, a um só tempo, de inves-
substituir outros modos de produção tigação e de inteligibilidade.

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150 Cadernos de Antropologia e Imagem, Rio de Janeiro, 21(2), 2005


Abstract Key words
The text deals with the use professional photographer, interpretative illustration,
of photography in antropo- focusing on photography as a photograph, anthropologycal
logical research as from three research instrument as well as research.
experiences of colaboration interpretative illustration when
between the authors and a presenting research results.

Tradução
Milton Guran

Recebido em
setembro de 2005

Aprovado em
dezembro de 2005

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