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ATIVIDADE FINAL – JULIANA DA SILVA PINHO

Os diferentes processos históricos de reestruturação produtiva resultaram na


atual sociedade capitalista e neoliberal que tem, como pilar, a desigualdade social e
econômica. No Brasil, as estruturas políticas e econômicas também tem como base esse
modelo que, associado a um desenvolvimento escravocrata de exploração de povos
negros, teve como consequência uma cultura racista e excludente, com o sucateamento
de setores como a educação e a saúde e o investimento em políticas públicas
proibicionistas e armamentistas.
Assim, o Estado utiliza da guerra às drogas para criminalizar pessoas e suas
práticas, culpabilizando-as por estarem em contextos de vulnerabilidade social. Dessa
forma, justificam-se formações e atuações profissionais preconceituosas, moralistas e
negligentes que violam direitos básicos dessas populações. Com a dificuldade no acesso
a políticas públicas efetivas, tem-se um agravo das desigualdades e vulnerabilidades
sociais de diferentes grupos.
Durante minha formação, participei de um estágio no Projeto Novos
Caminhos, desenvolvido pela Prefeitura de Fortaleza, em parceria com a Fundação
Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD),
entre outros. O projeto consistiu na qualificação profissional, moradia e
acompanhamento psicossocial de pessoas em situação de rua em sofrimento decorrente
do uso de drogas, tendo como resultado a construção de novas perspectivas e modos de
viver dos usuários beneficiados, com a reinserção deles no mercado de trabalho.
Apesar de objetivar uma perspectiva integral dos participantes e dos
resultados positivos alcançados com o projeto, haviam constantes conflitos entre
usuários e profissionais da rede, que tinham um olhar moralista e uma atuação baseada
na tutela da vida dos beneficiários. Essa situação era agravada pela precariedade nas
relações trabalhistas desses profissionais, com alta carga horária, baixa remuneração e
ambiente de trabalho adoecedor. Outra problemática foi a falta de continuidade das
ações, que fez com que alguns usuários se desligassem do projeto e ficassem
desassistidos em diferentes aspectos.
Pensando nessa experiência e no contexto de violência, exclusão e
desigualdade social em que vivem diferentes populações brasileiras – como a população
em situação de rua – é preciso viabilizar a criação de políticas públicas direcionadas
para as especificidades de cada grupo, entendendo e respeitando suas singularidades,
demandas e vivências. Para que isso seja possível, faz-se necessário investir em espaços
de diálogo e protagonismo das populações a que se destinam as ações, de forma que a
escuta de suas questões e histórias seja o ponto norteador da atuação dos profissionais
dos equipamentos públicos. Assim, fomenta-se a reflexão sobre a prática e uma atuação
profissional baseada na garantia de direitos, no respeito, na autonomia e no
fortalecimento de vínculos entre trabalhadores e usuários.

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