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Printed by: 5097@MPDFT.edu. br. Printing is for personal, private use only. No part of this book may be reproduced. or transmitted without publisher's prior permission, Violators will be prosecuted. ESTUDOS SOBRE A TEORIA PURA DO DIREITO transforma-se em um sistema unitério ¢ isento de contradiges por meio da atividade cientifica* ‘A légica, por sua vez, nio pode se aplicar as normag, que nio sio afir- magées suscetiveis de verdade ou falsidade. Assimtpa conclusio de que certa pessoa, que cometeu certa conduta, deveiser punida, em razio da existéncia de uma norma geral que prescrete punigdes para condutas como aquelas, nao é uma conclusio légicaeKelsen retomaria esse tema ¢ oaprofundaria nos seus estudos gerais sObre as normas, publicados, apés seu falecimento, como Teoria Geraldas Normas.* Porém, a légica aplica- ~se As proposicées da ciéncia do direito que descreve aquelas normas. Se existe duas proposicdes, uma afirmando que, conforme determinada ‘ordem juridica, certo compértamento é licito, ¢ outra afirmando que, conforme a mesma ordeft jitridica, o mesmo comportamentd ¢ ilicito, ¢ supondo-se a veracidadé das duas proposigdes, temos uma contradi¢io no nivel da ciéncia/que revela a contradigio no seio da ordem juridica. Da mesma forma, se as proposicées descritivas deftormas podem entrar em um silogismo, entio as normas descritas pédem ser deduzidas uma da outra.* Contlusées: direito, objetividade c ideologia O capitulo ¢ finalizado com um treého destinado a rechagar a negagio Oldever-ser enquanto algo sem sentido ou meramente uma ilusio ideo- logica. Kelsen refere, especifi¢amente, a visio de Karl Marx, do direito enquanto um conjunto de-rélagdes econémicas de exploragio de classe, encobertas por uma idéblogia que esconde essa realidade no interesse da classe exploradora. A ciéncia do direito apenas seria possivel, sob esse ponto de vista, enquanto sociologia juridica voltada a compreender © fato social da exploracio. Para Kelsen, ao contririo, uma ordem nor- mativa posta existe enquanto tal, em dimensio essencialmente diversa dos atos de vontade de exploraco que eventualmente lhe estejam sub- ® Teoria pura do direito, op. cit, p. 80. * Teoria geral das normas. Trad. José Florentino Duarte. Porto Alegre: Fabris, 1986. Para uma critica aessa visio, v. ATTENZA, Manuel. Asrazdes do direito: teoriasda argu- mentagio juridiea. 3. ed. Sio Paulo: Landy, 2006, p. 30 % Teoria pura do direito, op. cit, p.82. Printed by: 5097@MPDFT.edu.br. Printing is for personal, private use only. No part of this book may be reproduced or transmitted without publisher's prior permission, Violators will be prosecuted. piREITO E CIENCIA jacentes, ¢ 0 contetido de sentido das normas juridicas pode e deve ser © objeto de uma ciéncia propriamente juridica.** Ideoldgica sera, isso sim, a afirmagio da validade ou invalidade do direito positive conforme corresponda ao dircito natural ou a qualquer outra nocio de Justica, no sentido de que ser “..uma representacio nao-objetiva, influenciada por juizos de valor subjetivos, que encobre, obscurece ou desfoea’o objeto do conhecimento...”.*7 A Teoria Pura do Direito, nesse sentido, tem uma tendéncia marcadamente antiideolégica: nao Ihe compete defender ou atacar uma ordem juridica a partir de um fundamento externo qualquer; apenas conhecé-la enquanto tal58 A afirmagao da objetividade da ciéncia do difeito, contudo, fica em xeque pelo cariter proprio da interpretagig? Afirmar que uma norma qualquer tem um determinado contetido'@bjetivo depende de interpre- tacio, e a objetividade daquele contetido dependeri de uma teoria da interpretacio que a garanta, O estiidioso da Teoria Pura do Direitothega, ao final, esperando por uma téoria da interpretacio que expliqe como & possivel afirmar o sentido objetivo da norma juridica em umd proposigio juridica descritiva verdadeifae insuscetivel de diivida ou de controvér- sia. O capitulo da interpretagio, que fecha o livro, contudo, é algo frus- trante, pois no apehas deixa de trazer qualquer critério para afirmar que a norma A tetito significado X e nao o significado Y, como ainda afirma que, sendo possiveis tanto o significado X quanto o Y, cabe ao cientista apontar esSnathbiguidade, sem a resolver, porque essa solugdo se dari em um ato de decisio, volitivo e irracional. Foi feliz Tercio Sampaio Fer- ras Junior quando caracterizou, o énfrentamento dessa questio como um vetdadeiro “desafio kelsenianb”.” Trata-se, ainda, de um dos desa- fios fundamentais do nosso tempo: sem o seu enfrentamento, em rigor, nenhuma ciéncia objetiva do direito é possivel. Sem resolver a questo que Kelsen nao resolveu, sua prépria proposta permanece inviivel. % Teoria pura do direito, op. cit, p. 115. © Teoria pura do direito, op. cit, p18. ® Teoria pura do direito, op. cit, p.120. © Introdugdo ao estudo do dreto:sécnica, decisto, dominagio. 3, ed. S40 Paulo: Atlas, 2001, p.259.

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