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1.

GERAÇÕES DE DIREITOS

Continuando nossos estudos acerca da análise evolutiva dos Direitos Humanos,


temos as chamadas dimensões (ou gerações) dos Direitos Humanos.
Primeiramente cumpre ressaltar que a expressão “dimensões” é mais precisa do que
“gerações”. Isso porque essa pressupõe que a geração subsequente seja superada, eliminada,
o que não é verdade.
Como já estudado, os Direitos Humanos são dotados de historicidade, o que nos faz
concluir que eles se aperfeiçoam com o passar do tempo, de modo que uma dimensão se
relaciona intrinsicamente com a outra para garantir a sua efetividade.
Por isso iremos dar preferência à expressão “dimensões”. Essa sistematização foi
proposta por Karel Vsak, um jurista tcheco, com base nos princípios da Revolução Francesa
(liberdade, igualdade e fraternidade), buscando demonstrar a evolução histórica dos Direitos
Humanos.
Norberto Bobbio, neste sentido, sistematizou as referidas dimensões da seguinte
maneira:
1. Primeira: Liberdade, alcançando os direitos civis e políticos;

2. Segunda: Igualdade, alcançando os direitos sociais, econômicos e culturais;

3. Terceira: Fraternidade, também conhecida como princípio da solidariedade, alcançando


direitos difusos com destaque ao meio ambiente e a paz.

IMPORTANTE: Bobbio também visualizou uma quarta


dimensão, ainda em evolução, alcançando a globalização dos
Direitos Humanos. Com o passar do tempo à doutrina apontou
a existência de outras dimensões cujo destaque é a quinta, com o direito à paz.

1.1. Primeira Dimensão

Aqui temos os direitos de liberdade.


Ela compreende os direitos civis e políticos, tendo ocorrido na passagem do Estado
Absolutista (onde o rei concentrava a figura do Estado) para o Estado Liberal de Direito.
Essa dimensão teve como referencial jurídico-positivo a Constituição Americana de
1787 e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da França, de 1789.
Os principais referenciais teóricos dessa geração são John Locke, com a obra
intitulada “Segundo Tratado sobre o Governo” e Jean Jacques Rousseau, com a obra “O
Contrato Social”. Em síntese, ambos afirmavam a existência de direitos naturais dos indivíduos
que não estavam sendo respeitados pela existência de governos arbitrários.
Aqui temos direitos de aplicabilidade imediata que atribuem ao Estado uma
obrigação de não fazer, uma liberdade negativa do Estado, que não poderia intervir na esfera
de liberdade das pessoas.

IMPORTANTE: Em provas objetivas, a afirmação de que os


direitos de primeira dimensão são direito negativos tem sido
reputada como correta. Entretanto, na verdade, nem todos o
são: em provas discursivas e orais, é interessante que se aborde o fato de que os direitos
políticos necessitam da participação das pessoas na vida política estatal. É o que chamamos de
plano de participação.

1.2. Segunda Dimensão

Aqui temos os direitos de igualdade.


A segunda dimensão, por sua vez, compreende os direitos sociais, econômicos e
culturais.
Essa dimensão se situa, historicamente, após a Revolução Industrial e após a
transição do Estado Liberal para o Estado Social. Nesse sentido, Malheiro aduz que.
No entanto, a orientação mais correta se encontra no sentido de que a sua
gênese se concebeu na Revolução Industrial, no século XIX, em face das
lamentáveis condições laborais que ali se apresentavam e os movimentos
sociais em defesa dos trabalhadores, bem como o apoio ao
desenvolvimento e harmonização de legislação trabalhista para a melhoria
nas relações de trabalho.
Apesar disso, é incontestável que o fim da cruenta Primeira Guerra
Mundial (28 de julho de 1914 a 11 de novembro de 1918), que ceifou
milhares de vidas em razão de preitesias desmesuradas, e a elaboração do
Tratado de Versalhes (1919) em muito contribuíram para estabelecer
melhorias nas condições sociais dos trabalhadores.
O Tratado de Versalhes, além de fazer curvar a Alemanha, levá-la
praticamente à bancarrota e ser o embrião da Segunda Guerra Mundial (1
de setembro de 1939 a 2 de setembro de 1945), criou a Liga das Nações,
que originou a atual Organização das Nações Unidas (ONU) e também a
Organização Internacional do Trabalho (OIT). A concepção de uma
legislação trabalhista nas relações exteriores originou-se como
consequência de especulações éticas e econômicas sobre o custo humano
da Revolução Industrial.
A Constituição mexicana (1917) foi historicamente bastante importante por
conter em seu bojo os direitos de segunda dimensão.
Portanto, aqui temos que esses direitos demonstram um momento histórico onde
havia a necessidade de o Estado intervir na seara econômica e prestar serviços essenciais
como educação e saúde. Assim, temos que eles são direitos positivos, de natureza
prestacional.
Os seus referenciais teóricos são a “Encíclica Rerum Novarum sobre a condição dos
operários”, da Igreja Católica, de 1891, e o “Manifesto do Partido Comunista” de Karl Marx e
Friedrich Engels, de 1848.
No Brasil, a Constituição de 1934 traz os direitos de segunda dimensão.
1.3. Terceira Dimensão

São os direitos de fraternidade.


O final da Segunda Guerra Mundial e a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
em 1948, simbolizaram o marco para uma grande nova ordem mundial, da qual decorreram os
direitos de terceira dimensão.
Eles são os direitos difusos, dos povos, da humanidade, da solidariedade, decorrentes
principalmente de um sentimento gerado frente aos abusos cometidos durante a segunda
grande guerra.
A sua principal característica está relacionada com o fato de serem esses direitos
reconhecidos pela simples condição humana de todos os indivíduos.
São exemplos o direito ao desenvolvimento, ao meio ambiente, à autodeterminação
dos povos, à comunicação, dentre outros.
Aqui não temos um referencial teórico específico.
Por retirar do indivíduo o seu foco, partindo para a coletividade, temos que a
titularidade dos direitos de terceira dimensão é indeterminada.
1.4. Quarta Dimensão

Sobre a quarta dimensão, temos que essa já foi afirmada por Norberto Bobbio em
1990 na obra intitulada “A Era dos Direitos”, referente aos efeitos da pesquisa biológica e da
manipulação do patrimônio genético humano.
Além dos direitos relativos à área genética, a quarta dimensão engloba também os
direitos relacionados à área da cibernética.
1.5. Quinta dimensão

Por fim, ante os graves acontecimentos do século XXI, temos que autores como Paulo
Bonavides16 sustentam a existência de uma quinta dimensão de Direitos Humanos.
É o direito à paz.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

RAMOS, Andrẽ Carvalho. Curso de Direitos Humanos – Editora Saraiva 2a Edic̃ão.

OLIVEIRA, Bruna Pinotti Garcia e GARCIA OLIVEIRA, Rafael de Lazari, Manual de direitos
humanos: volume único - 3. ed. rev. Amplo. E atual. Salvador: Ed. Juspodivm, 2017.

CASTILHO, Ricardo. Direitos Humanos – 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2018.

MALHEIRO, Emerson. Curso de Direitos Humanos – 3. Ed.


PERES LUÑO, Antônio. Derechos humanos, Estado de Derecho y Constituición. 5 edição.
Madrd:
Editora Tecnos, 1195.

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