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MESTRADO TEATRO – LABORATÓRIO TEATRO E COMUNIDADE I

2019/ 2020
Prof. Rita Wengorovius

Lista de material que deve constar no Portfólio Laboratório Teatral I

1.Introdução
2.Analise do seu percurso como artista e criador de /para / e teatro e
comunidade
- Organizar em áreas de ação (Crianças, jovens, adultos, idosos, comunidade
em geral etc.) ou em áreas de actuação (temas sociais, memória, identidade de
cidadania, activismo, poética etc.)
- Refletir á luz do mestrado e das aprendizagens acerca do seu percurso
enquanto futuro mestre de Teatro e Comunidade
- Relatar algum projeto que realizou com sentido descritivo, critico e de partilha
de saber fazer, saber ser
- Organizar em portfolio experiências e referencias de projetos, espectáculos e
pesquisas
3. Acerca do seu perfil de Artista Pedagogo e qual sua perspetiva para Teatro
e comunidade
-Metodologias e pedagogia de ação (partir da sua praxis, e de seus princípios
orientadores, reforçando á luz de outros artistas e pedagogos em teatro e
praticas artísticas comunitárias)
3. Analise do percursos, reflexão, avaliação e materiais anexos á montagem e
espetáculo BIOGRAFIA DO EU
4. Ficha de escrita dramaturgia do eu
- Trabalho que realizaram para a performance Dramaturgia do Eu
- Reflexão do trabalho
- Guião coletivo construído por o grupo para espectáculo
5. Reflexão acerca do seu projeto de aprendizagem no mestrado
(potencialidades, dificuldades, metodologias aplicadas ao contexto a partir dos
perfis de saída: Encenador em Teatro e Comunidade, Artista criador, artista
pedagogo arquitecto de projectos)
6. Estudo acerca de uma autora que é aplicado á sua pedagogia teatral (Por
exemplo: Boal, Paulo Freire, Eugénio Barba, Peter Brook, escolher um autor de
teatro e olhar na ótica do teatro e artes e comunidade que queira aprofundar)
7. Reflexão final
8. Bibliografia
9. Anexos (Fotos, caderno de bordo, texto da peça, etc.)

Nota: Podem e devem incluir textos trabalhados com outros professores e


vossos trabalhos, como todos outros mestres tragam no vosso perfil de
criadores
Data de entrega: Dia 27 fevereiro 2019 sala 116
Professora
Rita Wengorovius
1.INTRODUÇÂO

“Os que estão abertos à transformação sentem


um apelo utópico, mas também sentem medo.”
Ira Shor

Este é um espaço de arrumação, ou desarrumo, de ideias soltas. Um


testemunho documental da minha passagem pelo Mestrado em Teatro e
Comunidade da Escola Superior de Teatro e Cinema. Agradeço desde já o
privilégio de pertencer a este curso, a este espaço onde a criatividade se
descobre e constrói em espaços interiores e exteriores, assente e iluminada
numa lógica extra-quotidiana e fantástica.
Aqui se registam etapas, divagações e fragmentes de quem eu fui e de quem
eu me a descobrir nesta turma fantástica a que pertenço.
Obrigado à Professora Rita Wengorovius por me guiar nesta viagem em que as
minhas sombras interiores se fazem luz, obrigado também aos meus colegas
que me suportam, aturam e apoiam com uma força que só o amor fraterno
consegue.
Entre primos e primas estou a dar os primeiros passos numa praia inexplorada,
onde a palavra, o silêncio e o gesto são caminho de libertação.

Alexandre, Fevereiro de 2020


2.Análise de percurso

“Eu sou o sujeito do meu medo. Esse domínio


sobre o medo não aconteceu de repente.
Levou muito tempo em minha vida.”
Paulo Freire

O teatro aparece na minha vida em 1974, tinha eu seis anos, num contexto pós
25 de Abril. Eu morava com os meus pais no bairro do Rego, a pouca distância
da Praça de Espanha onde estava a Comuna e mais tarde, no início dos anos
80, o Teatro Aberto e a minha infância passou-se muito dentro destas casas.
Quando, em meados dos anos 80, nos mudámos para Odivelas tive de me
adaptar a outra realidade: a periferia. A periferia não tinha teatros nem teatro, e
só uns anos mais tarde voltei a integrar um projeto de palco que utilizava o
salão paroquial de Odivelas. Nessa altura fizemos bastantes peças para um
público infantojuvenil que tiveram algum impacto na comunidade local.
Levámos a palco “A Fada Oriana”, “Actores de Boa Fé”, “Falar Verdade a
Mentir” e “Felizmente Há Luar”, mais tarde fizemos espetáculos baseados em
poesia como “Hoje é dia de ser bom”, “A Pedra Filosofal” e “Liberdade” no final
dos anos 80 escrevi e encenei a minha primeira peça: “Outro Natal”. Nessa
altura éramos o Grupo de Teatro do Movimento Juvenil de Odivelas, desse
grupo alguns tornaram-se profissionais e trabalham na área até hoje.

Em Janeiro de 1995 fundámos o Projecto Jovens da Ramada, hoje Projecto


JR, e a valência de teatro ficou da responsabilidade do Grupo de Teatro
Alquimia do Sonho. Esse grupo celebra este ano 25 anos de atividade.
O Grupo de Teatro Alquimia do Sonho faz parte do Projecto JR, tem sede na
Ramada, uma freguesia do Município de Odivelas no distrito de Lisboa. Iniciou
a sua atividade em Janeiro de 1995 fazendo, portanto, este ano 25 anos de
atividade. O Projecto apresenta diversas valências e tem por fim a criação e
dinamização de atividades que permitam desenvolver vivências comunitárias
na população a partir da Ramada, tem por lema “somos felizes fazendo os
outros felizes”. Voltado para a juventude nele se criaram diversos projetos:
projetos musicais – que chegaram a participar, e a vencer, em festivais
nacionais e internacionais; projetos de intervenção social ao nível do combate
ao abandono escolar – como o Projecto Jovem, na freguesia de Famões;
projetos de reintegração social de jovens – com a Casa do Gaiato de Lisboa;
campanhas de voluntariado – como a construção de uma escola na Ilha do
Príncipe; e o Grupo de Teatro Alquimia do Sonho.
O Alquimia do Sonho nasceu, portanto, dentro de um projeto de intervenção
social, multidisciplinar e voluntário que via no teatro uma porta aberta ao
compromisso participativo da comunidade. As performances de rua, as
intervenções em espaços públicos, nos bares e em escolas fugiam muito ao
teatro tradicional. Apesar de ter levado a cena obras de autor como “Universos
& Frigoríficos” de Jacinto Lucas Pires, o “Pagador de Promessas” de Dias
Gomes ou “A Casa de Bernarda Alba” de Garcia Lorca, é nas performances
menos tradicionais que o grupo conquistou o seu espaço junto da comunidade
local.

Se Odivelas é periferia, a Ramada é periferia da periferia. Em Odivelas


existiram em tempos doze grupos de teatro jovem, a maioria ligados ao projeto
“Escola em Palco” com sede nas escolas secundárias do concelho. Nessa
altura, finais dos anos noventa, havia alguns palcos onde se podia ver teatro. A
grande casa da cultura era a Malaposta1 era o lugar por excelência de
encontros de Teatro e durante vários anos lá se fez o Festival de Teatro
Amador onde se encontravam e conviviam os diversos grupos locais e
convidados de fora. Mas coletividades de cultura e recreio também tinham a
sua sala de espetáculos com os seus palcos, muitos delas já têm outros usos 2.
A verdade é que, nesta altura, só se encontram ativos cinco grupos de teatro
amador e só o da Casa da Juventude tem como alvo os jovens. Os outros
grupos são de teatro de revista, musicais e teatro convencional uma imitação
do que se pode ver em Lisboa, mas mais perto de casa e mais barato.

O Alquimia do Sonho foi criado e desenvolvido numa localidade periférica da


própria periferia, numa Ramada sem qualquer espaço convencional para teatro
e numa freguesia em que o investimento da câmara municipal é quase nulo – a
freguesia tem cerca de vinte mil habitantes que se diluem nos quase duzentos
mil votantes no concelho. Foi neste cenário que se começou a desenhar uma
abordagem diferente ao teatro. O Alquimia do sonho emergiu e adaptou-se de
dentro da própria comunidade: lendo e escrevendo, histórias locais e
personagens que eram simultaneamente ninguém e toda gente (Kuppers,
2014). Tendo começado por participar no Festival Nacional de Teatro Jovem –
em 1996 com uma peça inédita sobre o mar, o grupo foi crescendo em número
e vontade e durante alguns anos foi um ativo grupo jovem de teatro amador
registado e reconhecido pelo Instituto Português da Juventude. O grupo foi
contratado para animação de rua na Expo98, inserida na campanha
antitabagista “Feel Free To Say No” da União Europeia, o que lhe abriu a
perspetiva de todo um potencial de intervenção fora de palco.

1
A Malaposta era um Centro Cultural localizado no Olival Basto, sede de uma associação
constituída pelas Câmaras da Amadora, Loures, Sobral de Monte Agraço e Vila Franca de Xira,
a Associação de Municípios para a Área Sociocultural, a Amascultura. Com a criação do
concelho de Odivelas desfez-se a Amascultura e o espaço ficou para o município e que o
cedeu em exploração a privados em 2018.
2
O Teatro da Póvoa de Santo Adrião é hoje um armazém do projeto REFOOD.
O Grupo de Teatro Alquimia do Sonho é hoje conhecido no concelho de
Odivelas e muitos dos seus membros são hoje dirigentes em projetos do
movimento associativo local e alguns têm até responsabilidades políticas ao
nível autárquico, na Assembleia de Freguesia da Ramada em três das quatro
forças politicas representadas há um pelo menos um membro do grupo de
Teatro e o representante da quinta força está neste momento a trabalhar
connosco. O objetivo da política local devia ser criar comunidade e preservar o
espaço comunitário.
Foi exatamente com vontade de ser ainda mais teatro comunitário na Ramada
que me inscrevi neste Mestrado. Tem sido um fascinante Laboratório Teatral e
mais que isso um espaço de descoberta e crescimento que me fazem estar
cada vez mais apaixonado e entusiasmado para aplicar na minha comunidade
o potencial transformador da criação artística que nesta fogueira de luz vou
aprendendo.

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