Você está na página 1de 10

FUNDAMENTOS E ROTINA DE ESTUDOS NO TROMPETE

Publicado em 28 de janeiro de 2016 por trumpetarticlesblog


por Professor Wagner Felix

I – Fundamentos

• O que são os Fundamentos para vocês?


Chales Vernon diz que: “Devemos ter os fundamentos muito sólidos, só assim
poderemos tocar qualquer coisa.”
Na maioria das vezes é mais importante COMO você estuda do que, O QUE
você estuda. Se pensarmos de maneira simples, os fundamentos dos
instrumentos de metais são:
1 – Ar; ter um controle da respiração e da emissão do som.
2 – Embocadura; flexibilidade dos lábios.
3 – Mecânica; coordenar língua e dedos.
E outro tópico importante é o Cérebro; pensar no que está fazendo o tempo
todo.

1- Ar
O ar para os instrumentistas de metal é o combustível para a produção de um
bom som. Assim como os carros de motores grandes, que consomem muito
combustível, uma embocadura boa e eficiente também vai consumir uma
quantidade maior de ar. O ar é voz musical para o instrumentista de sopro é o
ar que vai te direcionar nos ataques, nas frases e nas dinâmicas. Você precisa
trabalhar com o ar mas tendo a consciência dos músculos envolvidos na
inspiração e na expiração para criar a resistência necessária para que o ar
trabalhe de maneira eficiente.
• Mas como usar o ar?
Para responder isso, primeiramente precisamos ter a consciência dos
músculos envolvidos na respiração. O processo de respiração existe em três
etapas simples.
1. Respiração baixa ou intercostal. (próxima ao umbigo e costelas inferiores)
2. Respiração média (na altura do abdome)
3. Respiração alta (na altura do peito).
É importante ter a consiênciada da entrada do ar sem prendê-lo, causando
uma tensão desnecesária.
Exemplo: dedo indicador nos lábios, posição de língua de ô e respiração.
A postura corporal, seja ela – sentado ou em pé – é fundamentantal para uma
boa respiração. Precisamos estar relaxados e quando respiramos possamos
expandir o corpo e deixar uma quantidade maior de ar entrar. Precisamos de
mais quantidade de ar para tocar o instrumento de sopro do que necessitamos
para viver. É importante que nunca tocamos no limite do ar e sim com reserva.
Ter uma boa quantidade de ar vai fazer com que você toque de maneira mais
segura e eficiente.
Ter o controle do ar ou da coluna de ar, está ligado com a quantidade do fluxo
de ar, ou seja, se você tem uma coluna de ar rápida ou lenta. A coluna de ar e
a língua devem trabalhar de forma coordenada. “O ar realiza o trabalho e a
língua canaliza para a altura das notas”1 – Michel Sachs. Os lead trumpets
tocam com um ar muito rápido e sem apertar o bacal contra os lábios. Essa
compressão de ar é que vai dar a sustentação para as notas agudas. Não
podemos esquecer que a garganta e a língua não podem impedir a passagem
do ar.
Uwe Köller diz que, “ Pensa o ar como se estivesse em uma balança. De um
lado a quantidade e de outro a qualidade.” Isso quer dizer que, se você tem
uma semínima para tocar, um dó grave piano, por exemplo, você não precisa
ter uma respiração completa, apenas o suficiente para soar bem.

2- Embocadura
O conjunto dos músculos da face tem a funçao de manter os lábios vibrando.
Se você tiver um ar bem focado e uma vibração rica consequentemente isso
vai amplificar o seu som e a qualidade sonora vai ser notada imediatamente.
Fazendo com que a sua vibração seja mais livre e com boa ressonância. O
desenvolvimento da embocadura vai acontecer se você tiver o controle e o
ajuste da flexibilidade dos seus lábios. Alguns estudos como calistenia, pedais
ou agudos eu não 1 Sachs, Michel falando sobre o método de Claude Gordon.
recomendo para aqueles que ainda tem a embocadura jovem, por exemplo
alguém com menos de um ano de trompete, o risco desse trompetista se
perder no caminho ou se machucar é grande. Por isso, tenha sempre um
professor para te orientar.
O trompetista seja ele em qualquer nível, deve ter uma sistemática agenda de
estudo. É justamente onde a maioria dos alunos criam maus hábitos. Por
exemplo, vamos imaginar um aluno X em uma semana inteira. Esse aluno tem
duas horas de estudo no primeiro dia. Meia hora no dia seguinte. Nada no
terceiro dia. Mais uma hora no quarto dia. Nada no quinto dia. Duas horas no
sexto dia e nada no sétimo.
• O que vocês acham? Essa embocadura vai ter o máximo do
desenvolvimento?
Precisamos ter regularidade na quantidade de horas para termos um bom
desenvolvimento da embocadura, os músculos envolvidos na embocadura
devem ter cargas diárias de peso, mesmo que essa regularidade seja alguns
minutos diários. Arnold Jacobs dizia que: “Tente praticar um pouco de muito do
que muito de pouco.” Falaremos mais disso na sessão de Rotina.
Para o bom desenvolvimento da embocadura estudar descansando é
fundamental.

• Descanso
O desenvolvimento da embocadura também está ligado ao tempo de descanso
e recuperação dos lábios e dos músculos até a próxima sessão de estudos.
Repetir padrões corretos vai tornar a sua vida de estudo muito mais prazerosa
e gratificante.
Maurice André era conhecido por estudar o dia todo, mas em pequenas doses.
Vachianno dizia que: “É melhor colocar o trompete no estojo quando ainda os
lábios estão inteiros.” Descansos estratégicos são benéficos, enquanto o
estudo descontrolado e forte, trazem enormes prejuízos, destruindo os nossos
lábios.
Divida sua sessão de estudos em períodos curtos de 20-25 minutos para cada
assunto durante o dia todo. Existe a fadiga muscular e a fadiga mental, por
muitas vezes estamos insistindo em algo que está pior do que começou.
Depois de 30 minutos o cérebro está cansado. E vocês acham que isso é um
padrão bom? Você pode usar um despertador ou alarme para monitorar cada
sessão dessas. Se no seu planejamento você programou de descansar 10
minutos por exemplo, faça acontecer. Segure a vontade de tocar e lembre-se
que os músculos precisam desse tempo para se recompor.
3- Mecânica
Se analisarmos bem, nós trompetistas temos um tipo de coordenação
incomum, temos que coordenar língua e dedos. Aqui entra todos os tipos de
articulações, estilos, frases etc. etc. Se não tivermos essa coordenação bem
definida a música não sai. Para ter esse tipo de controle precisamos estudar
lento.
• Por que estudar lento?
“Estudar lento, desenvolvimento rápido. Estudar rápido, desenvolvimento
lento.” – Carlos Sulpício. “Pratique lentamente: não toque algo no tempo até
que você possa tocar em um tempo dobrado.” – Thomas Hooten.
Estudar lento é a chance que você está dando para o seu cérebro, para por
seu corpo e seus ouvidos se acostumarem com o trecho que você está
estudando.
Cérebro
Pensar, traçar metas, objetivos, usar a inteligência a favor do seu estudo e
desenvolvimento, planejamento o seu dia de estudo e da sua carreira, estar
concentrado. “Ter uma estratégia de aprendizado é algo que qualquer um pode
adotar. A técnica é a habilidade necessária para usar bem a estratégia.”
Em qualquer estudo devemos ter objetivos claros de onde estamos e onde
queremos chegar. “Não existe atalho musical, devemos ser conscientes e
metódicos” – John Hagstron. Respeitar e confiar no professor são pontos
fundamentais e você vai tirar proveito disso. Ter regularidade, perseverança, fé
e variedade no estudo são as chaves para um bom desenvolvimento.
Guiliano Sommerhalder diz: “Você deve pensar como gostaria de soar,
trabalhar tudo com bom som e ir somando as coisas isoladas. Para isso, requer
um grande trabalho intelectual mais do que um trabalho físico.”
David Bildger diz que: “O aquecimento tem fundamentalmente duas
importâncias: Primeiro, o de despertar o seu cérebro e o segundo, a prática dos
conceitos básicos da técnica.”

II – Rotina de Estudos
Música é um tipo de comunicação, certo? A beleza da música faz com que nós
nos conectamos com as pessoas. A maioria de nós esquecemos disso quando
estamos estudando. Por isso, tentar tocar musicalmente e pensando nos
resultados e usar a rotina como meio de alcançar os seus objetivos. Pode fazer
de sua vida algo muito mais prazeroso e fazer com que você soe mais
fácil.
• Uma pergunta recorrente é: Como posso soar mais fácil?
Consistência é a coisa mais importante. Você pode desenvolver mais rápido do
que você imagina se tiver objetivos claros na sua rotina e ser consistente
naquilo que você se propôs. Assim, tendo maior resultado com o mínimo de
esforço.
Primeiramente, fazer a sua rotina de estudo virar uma rotina diária, ou seja, ter
o estudo como parte do seu dia a dia, assim como comer, tomar banho,
escovar os dentes etc. Faça do seu período de estudo algo sagrado um tempo
para você. Lembre-se você é o maior interessado nisso.
Uma frase do Byron Stripling no último Jazz Trumpet Festival foi: “Tenha
certeza de que você estudou pelo menos uma hora antes do meio-dia.”
Tem gente que gosta de fazer a mesma sequência de estudos ou aquecimento
todos os dias. Outros preferem fazer coisas diferentes e variadas. Nenhum dos
dois estão errados, mas tudo vai depender um planejamento prévio. Ou mesmo
definir se aquele dia de estudo vai ser um dia de manutenção ou um dia de
desenvolvimento.
Tenha uma agenda detalhada de sua prática, então você poderá avaliar seu
progresso todo o tempo. Tenha também um caderno de trompete, tomar nota
das suas aulas é fundamental e rever cada item trabalhado em aula. Tenha
certeza de que você está evoluindo de certa maneira, se você não está
tentando melhorar, você está piorando. Faça essas anotações no mesmo dia
da sua aula, se deixar para o dia seguinte você vai esquecer pelo menos 60%
das informações.
Não podemos deixar de fazer a rotina nem mesmo no dia da performance.
Talvez você não precise fazê-la inteira, mas conferir se os lábios estão
vibrando de maneira que você está acostumado. Não podemos esquecer que
nós trompetistas somos atletas de pequenos músculos, assim como os atletas
precisamos aquecer, alongar, cuidar da alimentação, do corpo e das horas de
descanso. Tudo isso vai influenciar na sua performance.

PRÁTICA DIÁRIA
• Como se manter motivado?
Isso vai da ideia clara dos seus objetivos enquanto músico e da paixão que
você tem com o instrumento. Pacho Flores disse que: “ele toca trompete desde
os 8 anos de idade e que com 12 anos ele se apaixonou pelo instrumento. E
que não existe prazer maior para ele do que acordar e poder tocar o seu
trompete.”
Ter grandes trompetistas como referência e a vontade de tocar como eles pode
te motivar.
Ter um bom professor que possa te inspirar.
Ter certeza de que você está se divertindo quando faz música. “Não há nada
mais sério do que se divertir.”3 Don Cherry trompetista de jazz.
No livro The Practice of Practice de Jonathan Harnum, ele entrevista vários
músicos das mais diversas áreas e uma das entrevistas é do segundo trompete
da New York Philarmonic Ethan Bensdorf. Mas uma das observações do autor
é que todos os músicos entrevistados têm um prazer imenso na hora de
estudar. Quem já teve a oportunidade de conversar com o Professor Gilberto
Siqueira sobre trompete e estudos vai entender do que estou falando.
Muita gente fala sobre talento. Pessoalmente, acredito que tudo é questão de
técnica e técnica pode ser aprendida. Lógico que você vai se deparar com
gente com mais facilidade para determinadas habilidades. Alguém que toque
mais rápido ou mais agudo que você. Mas nada que boas horas no seu quarto
de estudos não façam você chegar nos seus objetivos.
Talento é uma questão difícil de definir. Porque já me deparei com alunos que
tem muita facilidade, mas são desleixados com o estudo e outros com
problemas sérios de embocadura ou que usam aparelho nos dentes que são
extremamentes comprometidos com os estudos. Qual desses dois sujeitos
vocês acham que vai chegar mais longe? Por outro lado, que “Talento não é
uma misteriosa habilidade natural. Talento é a prática disfarçada. E a prática é
mais do que voce imagina.” – Jhonatan Harnum.
Hoje em dia o trompetista brasileiro precisa fazer um pouco de tudo, erudito e
popular e deve estar preparado para esses tipos de situação. Por isso, estudar
um pouco de tudo vai te deixar pronto para os mais diversos tipos de trabalhos.

• CONCENTRAÇÃO
“Cada músico, não importa quão bom seja, comete erros. Mas muito melhores
são os resultados quando fazem as duas coisas: não os tolerar em sessões de
práticas, corrigindo o menor dos acidentes (também praticando com
concentração e lentamente o suficiente para que os erros não sejam
aprendidos); e na performance, reagem a qualquer erro imediatamente
elevando seu nível de energia e concentração, permanecendo tranquilo e
agressivo”. Chris Grekker
Estar no tempo presente. Quanto mais presente você mais você vai fazer bem.
Utilização do cérebro no lugar certo, se está dirigindo você está dirigindo, se
está estudando você está estudando etc. etc.
• O que deve conter na sua rotina.
Acredito que não tenha nenhuma novidade nos itens a seguir, mas esses ítens
devem ser organizados para que sua rotina tenha consistência.

1. Buzzing (com referência)


2. Notas longas
3. Tocar com som bonito
4. Afinação (com o afinador ligado)
5. Bend
6. Estudar com metrônomo
7. Flexibilidade
8. Trillo de lábio
9. Extremos nas dinâmicas
10. Dinâmicas bem definidas
11. Extremos nos registros
12. Ataques com sílabas fortes
13. Ataques com sílabas suaves
14. Estudos de técnica
15. Estudos de Fluência
16. Escalas, maiores, menores, cromáticas, de tons inteiros, modos
17. Arpejos
18. Staccato simples
19. Staccato duplo
20. Staccato triplo
21. Ouvir gravações como parte do estudo
22. Música que você goste
23. Estude mentalmente
24. Cante precisamente as melodias ou intervalos que está tocando
25. Estudos
26. Solos
27. Transposição
28. Jazz
29. Improviso
30. Leitura à primeira vista
31. Estudo em outros trompetes (Flugel, Trompete em Dó, Mib, Piccolo)

Outras coisas que você pode fazer para ajudar no estudo.


1. Concentração.
2. Plano de estudo.
3. Tocar em grupo.
4. Tocar musicalmente o tempo todo.
5. Tocar em público de maneira informal.
6. Estudar com um amigo.
7. Estar no tempo presente.
8. Ver os outros tocando ao vivo, não precisa ser trompete.
9. Tirar música de ouvido.
10. Improvisar.
11. Compor.
12. Se gravar.
13. Dar aulas.
14. Ter o hábito de ouvir música com ouvido de músico.
15. Tocar uma música toda sem parar.
16. Estar apto para tocar um pouco mais rápido ou um pouco mais lento.
17. Tocar sem aquecer.
Em suma, isso é apenas a parte “burocrática” do estudo, temos que estar nos
divertindo e fazendo música acima de tudo, conecte com quem está te ouvindo,
pense sempre na plateia. Se você está sofrendo em tocar um instrumento, para
que serve? Então faça música de maneira prazerosa, deixe as emoções virem
do coração. Não seremos ricos tocando um instrumento, mas existe muita
satisfação em tocar.

CILADAS COMUNS E DICAS DE COMO EVITÁ-LAS


Publicado em 24 de março de 2014 por trumpetarticlesblog
por Allen Vizzutti

A seguir estão as armadilhas típicas e comuns que causam rigidez (dos lábios),
má resposta e inconsistência geral ao tocar trompete:

 Não aquecer – 15-20 minutos – sempre. (Material de aquecimento


específico está nos livros Allen Vizzutti Trumpet Method books).
 Praticar muita flexibilidade no registro agudo na parte superior do
pentagrama e acima -. Não é necessário.
 Grande quantidade de notas longas – não são necessárias. Rigidez
causada por contato estático bocal/lábio.
 Concentrar-se e trabalhar a embocadura e resistência dos cantos da
boca – não é necessário.
 Os 3 itens acima, deixa-me muito rígido/duro, então não os práticos, a
menos que precise melhorar um movimento técnico, neste caso a
prática mínima de flexibilidade, por exemplo, resolve.
 Tocar muito forte.
 Não praticar piano suficientemente.
 Não fazer frequentes descansos / pausas curtas.
 Tocar COM UM BOCAL QUE É MUITO GRANDE fará acontecer o
resultado inevitável: MUITA PRESSÃO NA MÃO ESQUERDA OU NO
DEDO NO ANEL
 Over blowing (soprar com excesso de ar).
 Deixar o bocal em contato com os lábios por muito tempo sem tirá-lo dos
lábios ou aliviar a pressão.
 Tocar com bocais superpesados ou trompetes muito pesados – não é
necessário – este tipo de equipamento cria resistência artificial e
um som morto.
 Não ter uma mente aberta.
 Não estar disposto a experimentar.
 Posição ruim da mão.
 Não inalar habitualmente de uma forma relaxada e profunda.
 Posição da língua muito baixa nos registros médio e agudo.
 Não usar o bom senso – se praticar algo te faz sentir-se mal, então não
pratique.

Aqui está o que você precisa descobrir:

 O conceito de produção eficiente do som, fluxo de ar constante e suave,


relaxamento e controle da abertura dos lábios.
 Pratique em sessões mais curtas, mas mais do que uma vez por dia.
 Se você soa terrivelmente e pode ter um dia de folga – faça isso. Vá
fazer coisas em casa. Encontre-se com algumas pessoas legais. Ouça
as idéias do seu amigo sobre trompete – mas com certo ceticismo.
 Fundamentos nunca mudam, mas a interpretação das técnicas com as
quais estabelece-se os fundamentos do som, variam.
 Não há um caminho que é exatamente o mesmo para todos os músicos,
mas grandes ideias e materiais musicais sólidos funcionam bem para a
maioria de nós. Boa Sorte!!!

Fonte: http://www.vizzutti.com/journal.html
Tradução: Bruno Garcia Fermiano

Você também pode gostar