Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Anti-Herói Vol 2
Anti-Herói Vol 2
Renato Ribeiro
Anti-Herói
Volume 2
Copyright © 2014 by
RENATO RIBEIRO
ISBN 978-85-9181-760-3
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida,
armazenada ou transmitida, total ou parcialmente, por quaisquer métodos ou processos,
sem autorização do detentor do copyright.
RENATO RIBEIRO
http://anti-heroibr.blogspot.com.br/
Ribeiro, Renato
GIACOMO LEOPARDI
5
Anti-Herói Volume 2
Herói- Cínthia
A Beleza de Gelo!
Nome: Cínthia Albuquerque Apelido: A Beleza e Gelo Estado Civil: Solteiro
Idade: 24 Ofício: Desempregada Cidade onde vive: Maceió-Alagoas
B
rasil, um país que teve sua educação totalmente reformada
em apenas seis anos. Antes, o que era uma nação de pessoas
pouco inteligentes e muito preguiçosas, se tornou hoje a
maior potência em tecnologia com direito até a seis nobéis em áreas
científicas. Isso é admirável, não é? Sinceramente, eu também acho.
Mas no mesmo ponto, é revoltante! A que custas esse povo atingiu
esse novo patamar? Com torturas? Ameaças? Mortes em público?
7
É somente sob essa pressão esmagadora que o brasileiro consegue
produzir algo? Nós realmente precisamos de um ditador?
8
poder punitivo em todas as escolas. Se um aluno fugisse, dormisse
em aula, desrespeitasse um professor ou infringisse qualquer uma das
duzentas e vinte duas regras que estavam em vigência, seria punido
com o isolamento em uma pequena sala sem luz ou com castigos
físicos em público, como chicotadas ou até mesmo, ser marcado
por um ferro em brasa com a palavra “LIXO” em suas costas.
Eram crianças que estavam ali e não preciso dizer que nem todas
conseguiam sobreviver à nova disciplina.
9
sentia uma dor enorme; a dor de abandonar tudo que eu gostava;
que amava. Depois de destruir a mim mesmo, vejo que criei uma
obra interessante, pois a máscara não mudara tanto a sua forma,
mas agora possuía inúmeras rachaduras, como um gelo poluído de
arranhões e trincas. Com minha nova arte em mãos, noto que eu
estava preparado para dar fim no que eu sentia, e de uma maneira
sem igual. Eu iria matar Cínthia de um modo que a fizesse sentir
uma dor perto da loucura! Uma dor que a fizesse morrer a cada
suspiro!
10
1 Semana
A Primeira Impressão
E
u sempre fui fraco a bebidas. Na verdade, eu nem gostava
muito de beber, mas se a ocasião me forçasse, eu o faria. Na
minha frente, a linda heroína mostrava um esperto sorriso
que se tornava ainda mais enigmático por detrás de seu batom azul
cintilante. O que diabos ela tinha naquelas cartas? Dois pares? Flush?
Não! É um blefe e ela quer que eu fuja para ganhar outra rodada.
Eu me preparo para aumentar o pote e entrar com tudo, mas ao ver
que seus vivos olhos azuis me encaravam enquanto ela enrolava uma
pequena mexa de seu cabelo no dedo em uma óbvia tentativa de me
11
manipular, recuo. Ela tem algo! Não é um blefe! Eu respirava fundo e
provavelmente estaria suando se não fosse a leve brisa fria que aquela
mulher propositalmente emanava naquele bar sem janelas.
— Uau! Mandou bem, John! Você tem mesmo colhões! Mas abraça
apertado esse full house e engole um pouco a sua petulância.
12
boca, sinto a mão de Cínthia segurar a minha. Espantado ao máximo
que minha condição de bêbado me permitia, a encaro e vejo nela
uma expressão compreensiva:
— Meu bem, deixa que essa eu bebo. Não quero ter que te levar para
o hospital hoje.
13
— Não precisa de tudo isso, senhorita Cínthia. Uma dama me
acompanhar até minha casa seria uma desonra. Imagine se eu
deixaria você andar sozinha por aí? Não, o convite é meu! Você se
importa se eu te levar em casa?
14
Maceió é uma cidade linda, mas, de acordo com os noticiários,
também é absurdamente violenta. No começo os heróis até que
melhoraram bem esse lugar, mas depois que Cínthia abandonou o
Ministério da Educação e fez um acordo para que nenhum idiota
de capa interferisse no local onde vivia, o índice de mortalidade
aumentara novamente. Eu não entendia esse acordo e nem o porquê
dela ter feito isso, mas posso dizer com muita certeza que Maceió é o
único lugar do Brasil onde você terá um pouco de liberdade; mesmo
que bem pouco.
— Não é isso. É que eu pensei que você iria ter um carro. Tipo, você
é uma super-heroína, e nem tem um carro! E ainda por cima mora
longe.
15
— Eu não sou uma super-heroína. Eu sou uma pessoa normal que
fez um monte de besteiras! Só isso!
— Verdade. Você é tão humana, mas tão humana que tem a ousadia
de pedir um homem bêbado e sem dinheiro pra te levar em casa.
Onde está seu coração, mulher?
— Ei, não fala isso! Eu queria te levar em casa, mas você é teimoso
feito uma porta!
16
Aquele assunto me soa estranho e, ao mesmo tempo, lógico.
Era óbvio que não iriam dar o braço a torcer que um humano tenha
matado um herói, mas daí já acusar outros babacas de capa?
— Como assim algum dos oito? Você acha mesmo que os heróis
iriam se matar desse jeito?
— Eu moro aqui. Quer entrar? Eu acho que não é uma boa você
andar desse jeito até a sua casa.
17
Ela me chamou para entrar? As coisas estão um pouco rápidas
demais; o que é ótimo! Mas vamos controlar o passo para que nada
dê errado:
18
só tinha uma cama, uma mesa com um notebook em cima e uma
cadeira. Me jogando de uma vez no duro colchão, me arrependo
de não ter uma geladeira para colocar alguma comida fresca, e nem
um fogão para esquentá-la; comer fast-food do jeito que eu estava
não me parecia uma boa opção. Pegando o celular e consultando as
embaçadas horas, vejo que eram quase três da manhã, o que era o
momento perfeito para fazer uma ligação para o Charles. O telefone
toca apenas três vezes até ser atendido prontamente com a enorme
boa vontade de meu amigo:
— John, eu sou seu amigo, não suas negas! Sorte sua que eu tava
acordado.
— Foi ela quem me chamou pra jogar um pouco de Left 4 Dead, mas
ficou com sono e foi dormir. Como eu não acordo cedo, aproveitei
pra tentar zerar logo. Mas mudando de assunto, você tem assistido
televisão? São Paulo está em um caos só.
Um caos? Será que era por causa do Félix? Cínthia disse que
não era grande coisa...
19
dividida aqui. Uns acham que foi ótimo ele ter morrido, porque era
ditador e arruaceiro, mas a maioria quer a sua cabeça! Ah é, eu ia me
esquecendo, essas duas últimas semanas foram de protestos contra os
heróis. Eu acho que com o Félix fora da jogada, o povo pensou que
tinha liberdade pra falar o que queria.
— Todos foram mortos. Foi uma chacina sem igual e... cara, mais de
cinco mil pessoas foram presas ou mortas. Pelo que eu pude pincelar,
foi uma medida de contenção que o Michel mandou executar. Eles
20
esperaram o movimento começar a ganhar força e, quando tudo
parecia ir bem, Ramom apareceu com seu grupo militar e pôs um
fim em tudo.
— John, não é só isso, cara. Eles disseram em rede nacional que isso
aconteceu por causa do Anti-Herói. Não sei como te dizer isso, mas
agora o povo te odeia mais que tudo. Você é o vilão de todo o país.
— Baixo ou não, você já começou e não pode parar! Agora você vai
matar aquela desgraçada da Cínthia e eu vou riscar o nome dela das
suas costas com todo o prazer do mundo! John, você precisa acabar
com ela de um jeito muito cruel, porque essa vaca precisa pagar por
tudo que aconteceu!
21
O ódio na voz de Charles era visível. Ele falava com uma
voracidade que poderia convencer qualquer um de cometer um
assassinato. Eu sabia o porquê daquilo. Eu tinha ido ao enterro de
seu pai na ocasião:
— Fica tranquilo, Charles. Eu vou dar um fim nela e vingar seu pai.
— Eu queria ter feito isso eu mesmo. Matar essa vagabunda era algo
que eu queria fazer a muito tempo. Mas explodir ela seria pouco!
Pouco demais! Do seu jeito é melhor! Do seu jeito eles sentem medo!
Por favor, John, não volta atrás.
22
Ele desliga antes que eu pudesse responder. Sonolento pelo
cansaço e pela bebida, fico de joelhos no chão e pego minha maleta
de aço embaixo da cama. Posicionando-a sobre o colchão, coloco o
código com paciência e a abro, revelando os meus soros azulados.
Pegando uma pequena ampola, despejo seu líquido na seringa e sem
demora aplico o conteúdo em meu braço. De pronto sinto uma
intensa dor e, logo em seguida, uma sensação extasiante de plena
calma. Faltavam apenas quarenta unidades e uma ampola vermelha.
Meu prazo estava acabando.
23
24
2 Semana
Os Encontros
M
esmo que tivesse o telefone de Cínthia, falar com ela não
era algo tão fácil assim. No dia seguinte ao nosso primeiro
encontro eu liguei, assim como era o combinado, mas
ela não atendeu. Isso ocorreu nos outros três dias seguintes e essa
demora estava estragando meus planos. Eu precisava ficar próximo
dela. Precisava que ela criasse um vínculo enorme comigo e em
pouco tempo. Mas para isso dar certo eu tinha que pelos menos
vê-la. Eu me considerava muito inteligente, mas admito que não
25
conseguia entender o porquê dela me ignorar depois de uma ótima
primeira impressão.
Ela se vira de uma vez e mostra uma surpresa tão grande que
recua dois passos antes mesmo de falar:
26
Ela se mostra confusa e me fita com enorme vergonha. Eu
observo sua postura e noto que havia uma enorme insegurança
retratada em sua perna direita que estava um pouco para trás e mãos
que fechavam e abriam repetidamente:
— Agora estamos quites. Você me deu bolo por três dias e eu roubei
um beijo da mulher mais bonita do país. Concorda com isso?
— É justo. Mas agora não pense que eu vou explicar o porquê de não
ter atendido. Como você disse, docinho, estamos quites!
27
viro de costas e ligo novamente para ela, que achando aquilo muito
estranho, atende e coloca o telefone ao ouvido:
28
— O respeito nesse relacionamento que nós estamos construindo.
Pode subir, eu espero o tempo que for necessário.
Dessa vez sua ruborização era nítida. Ela olha para baixo e
mostra um sorriso bobo, contraindo logo em seguida os lábios e
afirmando:
29
No sábado eu mando uma mensagem bem cedo, mesmo
sabendo que ela estaria dormindo pesadamente:
— Já?
30
mais bela. Porém, mesmo que Cínthia fosse a mulher, foi ela quem
elogiou minha vestimenta primeiro:
— Meu docinho, você está de arrancar suspiros! Não sabia que tinha
o corpo tão atlético assim!
— Sei lá! Você é tão seguro, como se pensasse em tudo com muito
cuidado. Mas não se liga nisso não, docinho, não faz muito tempo
que seus pontos já chegaram no máximo...
Mesmo que sua sentença iniciasse com uma voz forte e segura,
a cada palavra ela diminuía até se tornar algo que eu apenas pudesse
ouvir. Pelo visto eu estava muito perto de conseguir o que queria...
estava perto de começar a caçada.
31
— Praia do Gunga? Eu já estive aqui muitas vezes, meu bem. O que
tem nesse lugar que o torna mais especial que as outras praias?
— Tem você.
32
Ela morde o lábio inferior e eu consigo ver uma lágrima
descer por sua face. Era apenas uma lágrima, solitária e de tantos
significados. Uma lágrima que confiava em mim plenamente e que,
naquele momento, fazia minha alma chorar também. E com tantos
sentimentos conflituosos, eu vivi o melhor beijo que poderia na
minha existência.
— Eu não queria matar ninguém. Juro por tudo que eu nunca quis...
eu adorava dar aula e ajudar os professores e alunos. Eu vivia pra
isso. Mas aquele maldito gás fez tudo ficar assim! Aquela droga que
nós respiramos deixou a todos loucos! Eu sabia que tava fazendo
merda! Eu... matei crianças e até mesmo congelei uma escola inteira
com todo mundo dentro. De mais de mil pessoas, entre crianças,
adolescentes e professores, ninguém sobreviveu...
33
— Eu só percebi o que fiz depois de ter feito. John, você não sabe a dor
de dormir todos os dias com os gritos das crianças em meus sonhos!
Eu sinto a dor delas, eu me envergonho quando um professor passa
perto de mim. Eu... queria morrer! O gás trouxe tudo de ruim que
existia em mim para fora. A frieza por me achar mais bonita virou
um poder, a intolerância virou assassínio. Hoje eu consigo controlar
tudo isso, porque posso esfriar meu sangue e evitar esses acessos de
raiva. Mas não adianta! Nada do que eu fizer hoje vai aplacar a dor
de uma mãe que perdeu seu filho de uma maneira tão cruel.
34
— É cedo pra dizer, e eu sei disso. Mas eu tenho certeza que te
amo! Que você é a mulher certa! Por isso, Cínthia, você aceita viver
comigo?
35
3 Semana
A Preparação.
A
terceira semana já estava em sua metade e eu logo percebia
que a minha missão seguia para o caminho errado. A cada
encontro com Cínthia, a cada sorriso dela, a cada momento
em que estávamos unidos eu sentia que algo em mim quebrava. A
verdade era que eu não queria mais matá-la. Não havia nada daquela
ditadora de antes em seus atos, e sim uma mulher que tentava se
redimir por seus feitos a cada suspiro. Eu de fato não sabia o que
fazer, mas ainda assim continuava a anotar todas as suas fraquezas.
Eu tinha um plano pronto, mas não queria seguir em frente.
37
Renato Ribeiro
Na sexta-feira, logo após o nosso terceiro encontro na semana,
eu me vejo chegando ao meu apartamento com um leve sorriso no
rosto; algo que não fazia espontaneamente há alguns anos. Ainda
sentindo o leve frio que Cínthia sempre deixava em meus lábios, aos
poucos decidia abandonar aquele assassínio e seguir para o próximo
da lista. Andando pelo escuro corredor apenas iluminado por uma
singular lâmpada que teimava em falhar, noto ao olhar minha porta
que ela estava destrancada. Destrancada? Eu me lembro de tê-
la trancado e, em se tratando da minha memória, eu com certeza
não estou enganado. Respirando mais calmamente, retiro minha
karambit do bolso da calça e passo em minha mente todos os prováveis
lugares de onde eu poderia ser atacado. Por sorte meu apartamento
era pequeno e não tinha mobílias, por isso o intruso não teria onde
se esconder facilmente a não ser nos lugares mais óbvios. Eu abro
a porta lentamente e percebo de imediato a luz do meu notebook
ligado sob a mesa. Entrando em passos leves, noto uma presença
poucos metros a minha frente, tendo sua silhueta visível defronte a
janela. Girando a faca em minha mão, me preparo para arremessá-la,
quando uma voz conhecida me alerta com tranquilidade:
— Se me matar agora, John, não vai ter ninguém pra terminar sua
lista nas costas.
38
Anti-Herói Volume 2
— Eu ia ligar. Juro que ia. Mas como fazer isso quando seu melhor
amigo tá de caso com a assassina do seu pai? Situação difícil, não é?
— Quem está caçando eles sou eu ou você? Aliás, não era pra você
vir só daqui a uma semana?
39
Renato Ribeiro
todos esses malditos sites e hackear como se não houvesse amanhã!
Mudei sua foto pra alguém que não tinha nada a ver, por isso eu
aceito seu agradecimento!
— John, eu não quero ouvir sobre como ela mudou ou o que ela
pode fazer pra ajudar. Ela tirou de mim uma pessoa que era meu
40
Anti-Herói Volume 2
pilar central... não apenas isso, como tirou o pilar de milhares de
famílias...
— Você não tá fazendo isso por você, John. Sua missão tem a vontade
de milhões e vai ajudar a um país inteiro. Então...
— Por favor, acabe o que você veio fazer! Por favor, vingue todas
essas pessoas que não têm mais pra onde fugir! Só você pode fazer
isso!
Ele não chorava, sua voz não tremia, seu rosto não mostrava
dor. O que eu via a minha frente era um pedido de alguém que
confiava em mim de maneira indubitável. Eu me permito pensar
por um momento e a dor de matar alguém que eu gostava se
intensificava. De fato, Charles tinha razão, eu não estou fazendo
isso por mim e sim por todo um país... por um mundo inteiro.
Afirmando pesadamente, digo as palavras que destruíram o mínimo
de humanidade que eu ainda podia ter em mim:
41
4 Semana
O Assassínio
S
ábado. Um sábado totalmente sozinho. Sozinho planejando
um assassinato. Assassinato. Assassinato? Assassinato...
Sentado em minha cadeira e apenas tendo um copo com
água a minha frente, eu olhava fixamente para a máscara que tinha
feito para Cínthia. Ela era linda, até mesmo com aquelas tantas
rachaduras, e foi aí que eu soube que mesmo que eu ficasse ali o
dia inteiro, não conseguiria encontrar o sentido em fazer aquela
missão. O escuro proposital do apartamento servia para me fazer
pensar mais, procurar dentro de mim uma centelha de vontade.
43
Renato Ribeiro
Porém não havia fagulha alguma. Me levantando, vou até a cama
e vejo todos os itens que eu tinha separado para aquela caçada. As
três karambits de carbono em meu travesseiro pareciam querer que
eu fosse adiante. As dez granadas incendiárias me diziam que tudo
aquilo era um exagero. Os dois bastões elétricos claramente queriam
que eu voltasse à realidade. As botas com pequenos pregos no solado
desejavam ficar aqui. As vinte C4 ansiavam pela revolução daquele
ato. As duas desert eagle pareciam felizes em botar um fim naquilo.
Eu ia fazer isso. Eu ia matar Cínthia com todo aquele arsenal e de
um jeito que ela se arrependesse de seus atos... coisa que ela já fez.
44
Anti-Herói Volume 2
— Perdão, oh, moça de linda aparência! O que eu, um homem sujo
e sem coração, posso fazer para recompensar essa atitude tão terrível?
Ela ri gostosamente:
— Casar comigo!
— E-eu o quê?
45
Renato Ribeiro
Ela se desculpava quando o errado era eu:
— Você é uma pessoa ótima, John. Eu acho que não mereço alguém
tão bom assim...
Sou eu quem não merece. Sou eu quem irá matar uma mulher
que quer se redimir. Sou eu quem está iludindo uma pessoa que sofre
diariamente com a solidão:
46
Anti-Herói Volume 2
Eu sorrio para mim mesmo:
— John!?
Eu te amo? Por que você tinha que falar isso agora? Essa três
palavras deixam tudo mais... mais difícil:
— Fala, careca!
47
Renato Ribeiro
No domingo às dezoito horas eu já estava praticamente
pronto. Já tinha vestido minha roupa social. A máscara, as botas e o
cinto de granadas eu escondi no carro e iria colocá-los no momento
certo. Por dentro do meu terno preto bem fechado já tinha acoplado
o coldre das facas e o de pistolas. Nesse momento Charles já deveria
esperar a hora certa para agir e eu tinha certeza que às dezenove e
quinze ele entraria em ação. Olhando para a hora em meu notebook,
vi que já deveria agir, mas me permiti um breve momento de silêncio
em meu escuro apartamento. Um momento para deixar o resto de
humanidade que eu tinha para trás.
48
Anti-Herói Volume 2
salto alto branco. Porém, ao se aproximar o suficiente para que eu
sentisse seu doce perfume, ela me fita com um afável sorriso ao dizer:
— Isso é pra mim? Eu... nossa. Não sei nem o que dizer...
49
Renato Ribeiro
Apesar de ser uma piada, não era bem uma mentira:
50
Anti-Herói Volume 2
Com um enorme sorriso ela retira a venda pacientemente,
como se quisesse desfrutar daquele momento, mas ao ver onde
estava, seu sorriso some e uma mistura de angústia e dúvida tomam
sua face. Parado a sua frente, a vejo olhar ao redor perplexa e se
fixar por alguns momentos nos objetos daquela sala. As carteiras
enfileiradas, os armários na parede, os desenhos das crianças e, por
fim, o quadro negro, gravado em douradas letras garrafais:
51
Renato Ribeiro
uma luta. Ela estava acabada e iria morrer de qualquer maneira. Me
aproximando lentamente consigo escutar leves sussurros vindo dela
e, de alguma forma, o local esfria aos poucos:
— Por que... por que... POR QUE VOCÊ FEZ ISSO, JOHN?
52
Anti-Herói Volume 2
completo. Controlando um pouco meu desespero, pego uma das
granadas incendiárias e arremesso contra ela. Porém, sem ao menos
se surpreender, ela agarra o objeto no ar com apenas uma das mãos
e o congela de uma vez, continuando a se aproximar. Eu iria morrer!
Se eu não fizesse nada ela iria me matar em questão de segundos.
Sacando uma das pistolas, eu atiro em sua direção, porém ela desvia
da minha arma com facilidade, mas não nota as outras duas granadas
que eu tinha acabado de jogar, que explodem e a arremessam em
chamas para a direita. O fogo não toma o gélido local, mas ativa os
sprinklers que jogam água em todo o prédio. O gelo em meus pés
tinha se tornado menos denso e, colocando muita força, consigo
livrar minhas botas e fugir daquela sala.
53
Renato Ribeiro
e uma bala em uma das pistolas. Começando a sentir o ar gélido perfurar
meus pulmões, ouço a confusa voz de Cínthia do outro lado:
— Mas agora, vendo você assim, eu sinto que não é justo me segurar
mais, e eu te peço o mesmo. Vamos acabar com isso de uma vez.
— Se alguém tem que me matar por tudo de ruim que eu fiz, então
que seja você, John. Eu não sei por que, mas desde a primeira vez
que eu te vi, eu te amei.
54
Anti-Herói Volume 2
Sua voz limpa, imponente e aquele sincero sorriso me
aqueciam naquele frio. Eu jogo a máscara no chão, puxo minhas
karambits e me preparo para o ataque:
55
Renato Ribeiro
mas ela se mostra realmente incomodada e me solta de uma vez.
Porém, o bastão congela por completo ao mesmo tempo em que
ela segura meu outro braço e pisa o meu pé, congelando os dois
instantaneamente. A dor era imensa e eu via que não restavam mais
opções. Com o braço restante, puxo meu cinto de granadas que já
estava pré-solto e, removendo um dos pinos, deixo as sete granadas
incendiárias entre nós. Aquilo iria explodir de forma absurda, mas
eu sabia que eu iria ficar bem; tudo fazia parte do meu plano. Em
um último ato de redenção, Cínthia me empurra para trás e cria uma
grossa parede de gelo a minha frente, me protegendo da explosão e
deixando a ela mesma vulnerável. Antes que tudo fosse tomado por
uma imensa chama, eu me vi arrependido do que tinha feito no
último instante:
— Cínthia!
56
Anti-Herói Volume 2
Não. Eu não estava bem. Eu morria dentro de mim naquele
momento. Me aproximando em passos mancos e me abaixando
como podia, a vejo colocar uma das mão em meu braço congelado
com leveza e, de uma vez, descongelar todo meu corpo. A outra
mão, que permaneceu fechada a todo o momento, é estendida para
mim e quando aberta eu consigo ver o colar que eu tinha dado. Sem
entender eu a fito confuso e escuto em sua fraca voz:
57
Renato Ribeiro
Sentindo uma dor imensa vejo minha mão tremer ao mesmo
tempo em que as lágrimas desciam em minha dura face:
— Eu te amo...
58
Anti-Herói Volume 2
4 Semanas depois
Rio de Janeiro- Capital
A
chuva era forte demais para ver qualquer coisa, mas mesmo
assim eu e os outros recrutas do treinamento militar especial
não mostrávamos sinais de qualquer fraqueza. Fraqueza aqui
era morte! Era isso que todos ali temiam e era para isso que nós
treinávamos; para matar! Para manter a ordem através do medo! A
nossa frente um homem moreno, forte e de grossa barba permanecia
parado a nos fitar com um olhar enigmático; um olhar que lembrava
a mim mesmo:
59
Renato Ribeiro
— Vocês foram os cem recrutas que passaram do treinamento padrão!
Vocês conseguiram ir além dos cinco mil candidatos e chegaram até
aqui! Vocês serão agora meus filhos, e como pai eu posso ser bondoso
e punitivo se meu filho não se comportar! Dos cem aqui, eu quero
apenas cinco, e direi logo, os outros fora desses cinco irão morrer!
Como ele podia saber disso? Quem avisara a ele? Sem desviar
meu olhar e mantendo toda a farsa, o vejo fixar os olhos em mim
como um lobo sedento de justiça:
60
Anti-Herói Volume 2
-Alvos-
1 - Michel- A Força da Justiça
2 - César- O Controle Moral
3 - Helena- O Vento da Mudança
4 - Victor- A Inteligência Ética
5 - Hilda- O Veneno da Verdade
6 - Cibele- A Flecha Para o Futuro
7 - Sabim- A Velocidade da Liberdade
8 - Ramom- O Gatilho Contra o Mal
9 - Cínthia- A Beleza de Gelo
10 - Félix- O Fogo da Esperança
61
Sobre o Autor
E
u nasci em Brasília e desde cedo demonstrei grande interesse
na escrita e tudo que envolvesse a arte de contar histórias.
Mesmo escrevendo cinco livros ainda não publicados,
continuo persistente na empreitada em ser reconhecido por essa
profissão que é ser escritor. Ser autor no Brasil é muito difícil, pois os
novos autores, por melhores que sejam, disputam lugar com grandes
nomes: como atores, membros de banda, enfim, personalidades
famosas. Outro meio de ser publicado é pagar a publicação, que não
sai por menos de dez mil reais, um preço muito alto para quem não
tem dinheiro. Porém, mesmo com tantas dificuldades, a vontade de
realizar esse sonho se faz maior.
63
Renato Ribeiro
Portanto, mesmo com as asperezas das dificuldades, irei
continuar a escrever e melhorar ainda mais meu trabalho. Agradeço
imensamente seu apoio e peço para que, se realmente tiver gostado
desta história, a passe para frente e mande e-mails para as editoras,
como a Leya, Rocco, Darkside, Record, Intrínseca, Fantasy. Quem
sabe assim elas finalmente não me notam?
RENATO RIBEIRO
64
O que é o Anti-Herói?
O
anti-herói é uma novela mensal que irá ser publicada em
doze volumes, como esse que você acabou de ler. Diferente
de toda história de heróis, nesse enredo temos alguém que
quer destruir todos os heróis que um dia ele amou. Porém, esse ato
não o torna um vilão, pois ele tem motivos claros para cumprir essa
missão, que é salvar o sistema que está claramente corrompido por
aqueles que estão no poder. Mas como um humano pode matar
um ser tão superior como um herói? O que a população vai achar
disso? O que acontecerá se ele falhar? Essas são perguntas que serão
respondidas no decorrer desta história.
65
Como eu posso
acompanhar?
É
simples, fácil e rápido! O anti-herói tem uma página no
facebook e, ao sair mais um volume, você será avisado
imediatamente. Outro lugar que você pode saber mais sobre
a história é no site do anti-herói, onde iremos postar concept arts,
informações e os links para quem quiser comprar online, via e-book
para kindle, fazer pedidos para receber em casa, ou até mesmo elogiar
o trabalho e discutir sobre ele com outros leitores.
Link do site: www.anti-heroi.com
67
Conselho Editorial:
Renato Ribeiro
Coordenação Editorial:
Renato Ribeiro
Produção Editorial:
Renato Ribeiro
Revisão:
Renato Ribeiro
Cristina Carvalho Sena
Diagramação:
Diego Henrique Oliveira Santos