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Anti-Herói

Renato Ribeiro

Anti-Herói

Volume 2
Copyright © 2014 by
RENATO RIBEIRO

1ª edição – 1ª impressão – 02/2015

ISBN 978-85-9181-760-3

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida,
armazenada ou transmitida, total ou parcialmente, por quaisquer métodos ou processos,
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RENATO RIBEIRO
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Pedidos de livros a RENATO RIBEIRO


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Texto revisado conforme o Novo Acordo Ortográfico.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Ribeiro, Renato

Anti-Herói / por Renato Ribeiro. – 1. ed. 1. imp. – Brasília: 2014.



ISBN 978-85-9181-760-3

1. Anti-Herói. I. Ribeiro, Renato. I. Título. II. Série.


“É possível repousar sobre qualquer dor de qualquer desventura, menos sobre o arrependimento. No
arrependimento não há descanso nem paz, e por isso é a maior ou a mais amarga de todas as desgraças.”

GIACOMO LEOPARDI

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Anti-Herói Volume 2

Herói- Cínthia
A Beleza de Gelo!
Nome: Cínthia Albuquerque Apelido: A Beleza e Gelo Estado Civil: Solteiro
Idade: 24 Ofício: Desempregada Cidade onde vive: Maceió-Alagoas

B
rasil, um país que teve sua educação totalmente reformada
em apenas seis anos. Antes, o que era uma nação de pessoas
pouco inteligentes e muito preguiçosas, se tornou hoje a
maior potência em tecnologia com direito até a seis nobéis em áreas
científicas. Isso é admirável, não é? Sinceramente, eu também acho.
Mas no mesmo ponto, é revoltante! A que custas esse povo atingiu
esse novo patamar? Com torturas? Ameaças? Mortes em público?

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É somente sob essa pressão esmagadora que o brasileiro consegue
produzir algo? Nós realmente precisamos de um ditador?

Mas, mesmo com essa ditadura, eu tenho que admitir que no


início não era bem assim; antes tudo prosseguia pelo bom caminho.
Para cuidar da reforma na educação, o grupo de heróis recém-formado
escolheu a única deles que tinha alguma experiência na área escolar,
e assim, Cínthia, a Beleza de Gelo, assumiu essa responsabilidade, se
tornando a Ministra da Educação. Com seus ideais e impetuosidade,
escolas que eram sucateadas se transformaram em modelos mundiais
de centros de educação e a maioria dos alunos que não demonstrava
interesse em aprender já conseguia vislumbrar um objetivo na vida.

Não preciso dizer que em menos de um ano ela se tornou


o ídolo número um de todos os brasileiros, e eu me encaixo bem
nisso. Primeiramente, ela era linda, carismática, dócil e firme nos
momentos certos e tudo isso me fazia amá-la mais do que a qualquer
um. Em homenagem a sua exemplar forma de agir e levando em
conta seu lindo poder de criar gelo, eu fiz a mais bela das artes e,
ao misturar vidro e plástico derretido com minha idealização de
uma bela e afável rainha, me vi criar uma máscara que simulava a
aparência do gelo, com uma coroa de pétalas congeladas e olhos
suaves como aqueles que eu queria sempre perto. Aquela era uma
obra que resumia tudo sobre ela e sobre mim, sendo colocada em
destaque em minha parede.

Tanto amor, tanta admiração que em pouco tempo se


transformaram em um ódio que eu não conseguia alocar em lugar
algum. Cínthia, que visitava as escolas e acolhia a cada aluno que
precisava de sua ajuda, se transformou ao ver que o índice de evasão,
causado por alunos desinteressados, tinha aumentado. Em menos de
seis meses todo o plano de ensino tinha mudado, e agora contávamos
com câmeras em todas as salas e uma equipe de fiscalização com

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poder punitivo em todas as escolas. Se um aluno fugisse, dormisse
em aula, desrespeitasse um professor ou infringisse qualquer uma das
duzentas e vinte duas regras que estavam em vigência, seria punido
com o isolamento em uma pequena sala sem luz ou com castigos
físicos em público, como chicotadas ou até mesmo, ser marcado
por um ferro em brasa com a palavra “LIXO” em suas costas.
Eram crianças que estavam ali e não preciso dizer que nem todas
conseguiam sobreviver à nova disciplina.

Nesses meses eu segurava a bela máscara em meus braços em


completa confusão. Mesmo com tudo aquilo eu claramente ainda
amava aquela mulher. Mas ao ver sua nova regra, meu sentimento
puro se tornou apenas um seco e amargo ódio:

Regra 223- Qualquer aluno que apresentar uma nota menor


que 9,5 (nove vírgula cinco) será executado, visto que a nova nação, que
preza por uma evolução intelectual, não necessita de futuros pesos em seu
sistema de plena evolução. Da mesma forma, professores que não forem
capazes de fazer com que 95% (noventa e cinco por cento) de sua turma
seja aprovada com a nova média em todos os bimestres serão igualmente
executados devido a falha em sua atuação como educador.

CÍNTHIA ALBUQUERQUE- MINISTRA DA EDUCAÇÃO

Em dois meses morreram mais de três mil crianças e


adolescentes! Em dois meses foram executados inúmeros professores,
tanto os que não conseguiram cumprir a meta quanto os que
protestaram! Os números sobre a nossa educação subiram de um
modo impressionante, e por isso maioria da população aplaudiu
de pé o novo meio de ensinar. Aqueles que eram contra o sistema
educacional foram carbonizados por Félix ou degolados por
Ramom. Em um surto de meu ódio e com uma marreta em mãos,
bati com toda minha força contra aquela máscara. A cada golpe eu

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sentia uma dor enorme; a dor de abandonar tudo que eu gostava;
que amava. Depois de destruir a mim mesmo, vejo que criei uma
obra interessante, pois a máscara não mudara tanto a sua forma,
mas agora possuía inúmeras rachaduras, como um gelo poluído de
arranhões e trincas. Com minha nova arte em mãos, noto que eu
estava preparado para dar fim no que eu sentia, e de uma maneira
sem igual. Eu iria matar Cínthia de um modo que a fizesse sentir
uma dor perto da loucura! Uma dor que a fizesse morrer a cada
suspiro!

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1 Semana
A Primeira Impressão

E
u sempre fui fraco a bebidas. Na verdade, eu nem gostava
muito de beber, mas se a ocasião me forçasse, eu o faria. Na
minha frente, a linda heroína mostrava um esperto sorriso
que se tornava ainda mais enigmático por detrás de seu batom azul
cintilante. O que diabos ela tinha naquelas cartas? Dois pares? Flush?
Não! É um blefe e ela quer que eu fuja para ganhar outra rodada.
Eu me preparo para aumentar o pote e entrar com tudo, mas ao ver
que seus vivos olhos azuis me encaravam enquanto ela enrolava uma
pequena mexa de seu cabelo no dedo em uma óbvia tentativa de me

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manipular, recuo. Ela tem algo! Não é um blefe! Eu respirava fundo e
provavelmente estaria suando se não fosse a leve brisa fria que aquela
mulher propositalmente emanava naquele bar sem janelas.

— Olha, docinho, você tá demorando demais. Quer que eu vá aí te


ajudar a tomar uma decisão? Eu posso fazer isso, mas você vai perder
pontos comigo pela falta de... o que seria mesmo? Ah, claro! Pela
falta de macheza!

Quero ver a falta de macheza quando eu explodir sua cabeça.


Mas, colocando minha raiva de lado, eu sabia que ela tinha alguma
razão. Eu iria tomar uma atitude e com certeza aquela assassina não
me venceria. Nem mesmo no poker!

— Eu cubro seu lance e dobro a aposta! Toma de presente esses dois


pares!

Ela levanta as sobrancelhas e afirma levemente impressionada:

— Uau! Mandou bem, John! Você tem mesmo colhões! Mas abraça
apertado esse full house e engole um pouco a sua petulância.

Ela mostra a mão e eu vejo um nítido full house que me


doeu como um forte tapa na cara. Eu respiro fundo totalmente
decepcionado; era a oitava rodada que ela vencia, ou seja, mais
dois drinks que eu tenho que mandar para dentro. Meio zonzo e
me sentindo feder a álcool, vejo Cínthia pegar os dois pequenos
copos e, com sua habilidade, fazê-los ficar mais frios e, desse modo,
mais tragáveis. Sem demora eu viro o primeiro e sinto o líquido
me queimar por dentro. Me sentindo um pouco mal, sou atingido
diretamente pelo forte som do Motörhead que reverbera em minha
cabeça. Eu adorava essa banda, mas aquela altura que tremia até
mesmo minha mesa me fazia querer vomitar. Em um ato de desamor
próprio, pego o segundo copo, mas antes que eu pudesse levá-lo à

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boca, sinto a mão de Cínthia segurar a minha. Espantado ao máximo
que minha condição de bêbado me permitia, a encaro e vejo nela
uma expressão compreensiva:

— Meu bem, deixa que essa eu bebo. Não quero ter que te levar para
o hospital hoje.

Eu queria recusar, porque não quero receber favores de um


herói de merda, mas o plano requeria que eu fosse uma boa pessoa:

— Eu perco pontos por deixar você beber essa?

Ela ri de maneira agradável e, virando a dose de uma vez, bate


o pequeno copo na mesa com espontaneidade:

— Um homem que sabe quando parar é um exemplo, meu bem.


Mas não levar as suas responsabilidades até o fim com certeza não é
algo bom. Então digamos que você não perde e nem ganha pontos.

Eu rio para acompanhá-la; ou talvez porque achei graça... eu


estava muito bêbado. Me levantando, cambaleio levemente e logo
Cínthia se põe de pé:

— John? Você tá mesmo bem?

Não, eu tava uma bosta!

— Bem bêbado... mas não é nada que você precise se preocupar.

Ela mostra estar preocupada, assim como eu tinha planejado.


Se tudo der certo, ela vai dizer...

— Eu posso te acompanhar até a sua casa. Não. Não é eu posso, e


sim, eu vou levar você em casa!

Eu rio e, respirando fundo, me mantenho mais firme:

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— Não precisa de tudo isso, senhorita Cínthia. Uma dama me
acompanhar até minha casa seria uma desonra. Imagine se eu
deixaria você andar sozinha por aí? Não, o convite é meu! Você se
importa se eu te levar em casa?

As palavras certas no momento certo e eu a vejo se surpreender


ao ponto de corar um pouco. Tenho que admitir, ela é absurdamente
linda e com esse tímido sorriso é totalmente impossível pensar que
teria matado milhares de pessoas:

— Eu... bom... ah! Deixa disso, homem! Eu sou forte o suficiente


para andar onde eu quiser!

Eu esperava essa reação:

— Então eu não posso? É por que eu sou... fraco?

Ela me olha novamente como se estivesse em uma guerra


interna. Com uma leve mordida no lábio inferior, a vejo afirmar
levemente:

— Você não é fraco... é que... tem certeza que me conhece?

— Sim, eu te conheço. Você é uma mulher manipuladora que me fez


perder oito rodadas de poker e beber demais. Mas só porque é mais
forte que todo mundo não quer dizer que eu não possa te cortejar.

Arrisquei muito no que disse e isso poderia levar a duas


reações. A primeira era ela me achar um abusado e me deixar sozinho,
ou morto, ou congelado... A segunda seria ela aceitar meu convite,
e pela forma com que eu a via não saber onde colocava as mãos, a
resposta era óbvia:

— Você... você pode me levar em casa, John?

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Maceió é uma cidade linda, mas, de acordo com os noticiários,
também é absurdamente violenta. No começo os heróis até que
melhoraram bem esse lugar, mas depois que Cínthia abandonou o
Ministério da Educação e fez um acordo para que nenhum idiota
de capa interferisse no local onde vivia, o índice de mortalidade
aumentara novamente. Eu não entendia esse acordo e nem o porquê
dela ter feito isso, mas posso dizer com muita certeza que Maceió é o
único lugar do Brasil onde você terá um pouco de liberdade; mesmo
que bem pouco.

Em uma noite que com certeza era para estar quente, eu


sentia uma leve e suave brisa que vinha de Cínthia. Em total silêncio,
já tínhamos caminhado duas ruas inteiras por entre bares e pequenas
rodas de cervejeiros. Eu queria conversar e dar continuidade ao
plano, mas ela não olhava direito para mim, se focando apenas no
caminho em frente a suas botas. Tentando pensar em algum assunto,
me pego estando um pouco nervoso. Nervoso? Não. Não posso ficar
nervoso por andar com ela, isso me faria recuar. Claro! Estou ansioso
para destruí-la! É por isso que eu estou assim. Notando que minhas
bêbadas pernas doíam, não consigo segurar o riso, o que faz Cínthia
parar de caminhar para perguntar:

— O que foi? O álcool finalmente chegou no cérebro?

Eu me controlo um pouco e, respirando fundo, respondo, me


pondo a andar novamente:

— Não é isso. É que eu pensei que você iria ter um carro. Tipo, você
é uma super-heroína, e nem tem um carro! E ainda por cima mora
longe.

Mesmo eu achando graça, ela não ri. Pelo contrário, mostra


um olhar duro, assim como sua reação:

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— Eu não sou uma super-heroína. Eu sou uma pessoa normal que
fez um monte de besteiras! Só isso!

Aquele modo de agir me atinge, mesmo que apenas um


pouco. Então ela se arrepende? Esses heróis de merda têm esse
tipo de sentimento? Eu pensava que o gás os impedia de ter esses
comportamentos... humanos. Seja como fosse, eu tinha que mudar
aquele clima para ganhar mais pontos:

— Verdade. Você é tão humana, mas tão humana que tem a ousadia
de pedir um homem bêbado e sem dinheiro pra te levar em casa.
Onde está seu coração, mulher?

Em passos lentos, ela me olha séria por um breve momento,


mas logo esse semblante dá lugar a uma gostosa risada e um leve soco
em meu braço; que doeu bastante, porque o leve de um super-herói
é o pesado de uma pessoa normal:

— Ei, não fala isso! Eu queria te levar em casa, mas você é teimoso
feito uma porta!

Entrando em uma área habitada por vários prédios e com


alguns becos realmente escuros, me vejo com uma pergunta brilhante
em mente:

— Mas se eu não acompanhar você, aquele tal assassino de heróis


pode vir te pegar. Você não tem medo? Ele matou o Félix, o Fogo
da Esperança.

Com uma breve risada esnobe, Cínthia nega levemente:

— Não tem assassino algum. Aquilo é um caso isolado. Eu sei disso


porque todo mundo queria matar o Félix. Na verdade, eu não duvido
nada que um dos outros oito heróis tenha feito aquilo.

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Aquele assunto me soa estranho e, ao mesmo tempo, lógico.
Era óbvio que não iriam dar o braço a torcer que um humano tenha
matado um herói, mas daí já acusar outros babacas de capa?

— Como assim algum dos oito? Você acha mesmo que os heróis
iriam se matar desse jeito?

Ela afirma duramente:

— Isso já quase aconteceu entre Ramom e Félix. Eu me lembro


de uma briga entre os dois, porque o Félix tinha eliminado vários
manifestantes antes do Ramom lidar com a situação. Como líder das
forças policias do país, Ramom foi tomar satisfação e deixou o Félix
com ferimentos muito parecidos com aquilo que a tevê mostrou.
Os cortes, os tiros, tudo ali lembra o Ramom. Por isso que eu digo,
ninguém gostava do Félix. Foi por isso que o Michel o mandou para
São Paulo, porque não queria ele perto.

Então é isso? Ninguém vai acreditar no anti-herói porque


acham que foi um acerto de contas entre Ramom e o Félix? Mas que
merda! Calma, Jonathan! Isso irá mudar depois que você acabar com
a Cínthia.

— Tá tudo bem, John?

Sem perceber, me pego parado em frente a um prédio com os


preocupados olhos de Cínthia a fitar os meus:

— Tudo bem. Eu só estava pensando alto.

Ela dá de ombros e mostra um aberto sorriso ao indicar o


edifício:

— Eu moro aqui. Quer entrar? Eu acho que não é uma boa você
andar desse jeito até a sua casa.

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Ela me chamou para entrar? As coisas estão um pouco rápidas
demais; o que é ótimo! Mas vamos controlar o passo para que nada
dê errado:

— Não precisa se preocupar, eu moro bem aqui perto. Umas três


ruas de distância.

Depois de pensar na situação, ela afirma com um contido


sorriso. Se aproximando e dando um confortável beijo em minha
bochecha, diz já abrindo o portão:

— Então eu te encontro depois. Obrigada por me trazer! Isso foi...


muito gentil.

Sem perceber, ficamos os dois calados por algum tempo, até


que o barulho de alguns jovens se aproximando nos faz despertar:

— Não tem de quê. Se precisar de escolta de novo, é só me chamar!

Ela sorri e, já entrando, responde:

— Amanhã eu vou precisar. Então me liga pra gente se ver. Eu


coloquei meu número no seu bolso.

Ela finalmente entra sem me dar chance de resposta e eu me


pego tirando um pequeno papel do bolso de minha calça com o seu
número. Sorrindo para aquele gesto que eu nem havia percebido,
noto que tinha perdido a vantagem daquela noite. Ela se mostrou
hábil em seus discretos movimentos e eu, perdendo de propósito
oito vezes seguidas no poker.

Chegando ao meu novo apartamento, noto que meu corpo


estava mais pesado do que a momentos atrás. Ligando a luz e
olhando ao redor, não sabia se era por causa da bebida ou do que
o Charles tinha falado há algumas semanas, mas eu começava a
achar que realmente tinha que comprar mais móveis, até porque ali

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só tinha uma cama, uma mesa com um notebook em cima e uma
cadeira. Me jogando de uma vez no duro colchão, me arrependo
de não ter uma geladeira para colocar alguma comida fresca, e nem
um fogão para esquentá-la; comer fast-food do jeito que eu estava
não me parecia uma boa opção. Pegando o celular e consultando as
embaçadas horas, vejo que eram quase três da manhã, o que era o
momento perfeito para fazer uma ligação para o Charles. O telefone
toca apenas três vezes até ser atendido prontamente com a enorme
boa vontade de meu amigo:

— Seu relógio quebrou? São três da manhã, animal!

— Eu sei, eu sei. Mas eu tô meio bêbado e preciso falar com alguém.


Como você é meu único amigo, então tem que me aguentar nessas
horas.

— John, eu sou seu amigo, não suas negas! Sorte sua que eu tava
acordado.

— Acordado? E a Raquel deixa você fazer isso?

— Foi ela quem me chamou pra jogar um pouco de Left 4 Dead, mas
ficou com sono e foi dormir. Como eu não acordo cedo, aproveitei
pra tentar zerar logo. Mas mudando de assunto, você tem assistido
televisão? São Paulo está em um caos só.

Um caos? Será que era por causa do Félix? Cínthia disse que
não era grande coisa...

— Por que um caos? Tem alguma coisa a ver comigo?

Por um breve momento eu escuto alguns resmungos e


palavrões, como: burro, idiota, e outros não tão gentis:

— Você mata um herói e acha que não dá nada? John, você é o


cara mais inteligente e burro que eu conheço. A população ficou

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dividida aqui. Uns acham que foi ótimo ele ter morrido, porque era
ditador e arruaceiro, mas a maioria quer a sua cabeça! Ah é, eu ia me
esquecendo, essas duas últimas semanas foram de protestos contra os
heróis. Eu acho que com o Félix fora da jogada, o povo pensou que
tinha liberdade pra falar o que queria.

Eu sabia que iria ocorrer alguma comoção depois do que eu


fiz, mas pelo visto meus atos atingiram somente ao povo. Quem eu
queria que ficasse em choque ainda não acreditava que um humano
tinha feito aquilo. Isso era algo que eu tinha que corrigir, e rápido!
Porém, a última notícia tinha me feito sorrir verdadeiramente. É
bom ver que a liberdade estava voltando aos poucos:

— Então o que eu fiz valeu muito a pena! Agora que eu libertei


São Paulo, aqueles que têm a mente livre desses dementes com
superpoderes podem falar o que pensam de verdade.

Charles não responde de imediato, na verdade, era como


se quisesse falar algo, mas não conseguisse encontrar as palavras
adequadas:

— Olha, John, não é bem assim...

— Como assim? O que você quer dizer?

Ele permanece calado e aquilo me faz ficar a cada segundo


mais aflito:

— Fala, Charles! O que houve?

Depois de eu ouvir claramente que ele havia perdido em seu


jogo, eu escuto seu pesado suspirar ao dizer:

— Todos foram mortos. Foi uma chacina sem igual e... cara, mais de
cinco mil pessoas foram presas ou mortas. Pelo que eu pude pincelar,
foi uma medida de contenção que o Michel mandou executar. Eles

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esperaram o movimento começar a ganhar força e, quando tudo
parecia ir bem, Ramom apareceu com seu grupo militar e pôs um
fim em tudo.

Eu escuto aquilo sentindo um fervente ódio queimar em


meu peito. Eles estavam minando a liberdade que eu tinha dado ao
povo! Eu tinha certeza que tudo isso tinha sido ideia do Michel, que
mandou o Ramom executar. No fundo eu sabia que isso poderia
acontecer. Não. Na verdade eu previa esse ataque, mas não imaginava
que seria com essas proporções:

— John, não é só isso, cara. Eles disseram em rede nacional que isso
aconteceu por causa do Anti-Herói. Não sei como te dizer isso, mas
agora o povo te odeia mais que tudo. Você é o vilão de todo o país.

Um calafrio me sobe a espinha ao ouvir aquilo. Eu era o vilão?


Então eu, que salvei um estado de um babaca tirano, sou a merda de
um vilão? Esses heróis desgraçados eram inteligentes em jogar todo
um país contra mim.

— John? Tá aí? Responde, seu careca idiota!

Não sei quanto tempo permaneci em silêncio pensando em


todas essas notícias, mas pela maneira que Charles me chamava, não
deveria ser pouco:

— Desculpa, Charles. É que tudo isso é muito pra digerir de uma


vez. Não é que eu não esperasse por algo assim, mas eu não imaginava
que seria tão... tão baixo.

— Baixo ou não, você já começou e não pode parar! Agora você vai
matar aquela desgraçada da Cínthia e eu vou riscar o nome dela das
suas costas com todo o prazer do mundo! John, você precisa acabar
com ela de um jeito muito cruel, porque essa vaca precisa pagar por
tudo que aconteceu!

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O ódio na voz de Charles era visível. Ele falava com uma
voracidade que poderia convencer qualquer um de cometer um
assassinato. Eu sabia o porquê daquilo. Eu tinha ido ao enterro de
seu pai na ocasião:

— Fica tranquilo, Charles. Eu vou dar um fim nela e vingar seu pai.

Agora era ele quem se mantinha em silêncio. Será que estava


pensando em como seu pai era um ótimo professor? Em como sua
morte para proteger um aluno tinha sido cruel? Como Cínthia,
a Beleza de Gelo, perfurou sua garganta com uma estaca gélida?
Independente do que estivesse pensando, eu sabia que ainda doía
muito nele.

— Eu queria ter feito isso eu mesmo. Matar essa vagabunda era algo
que eu queria fazer a muito tempo. Mas explodir ela seria pouco!
Pouco demais! Do seu jeito é melhor! Do seu jeito eles sentem medo!
Por favor, John, não volta atrás.

Aquelas palavras duras e cheias de ódio me tocaram de um


modo motivador, mesmo que eu soubesse que era uma motivação
meramente explosiva:

— Pode deixar que eu vou trazer o medo a ela. Eu prometo.

Eu escuto uma voz ao fundo e em seguida Charles responde


algo que não consigo decifrar. Mas ele logo volta ao telefone e diz de
forma evasiva:

— Cara, vou ter que ir nessa. A madame requisita minha presença


na cama, se é que você me entende. Daqui a três semanas eu vou
para o seu apartamento riscar o nome dessa vagabunda. Boa sorte e
até mais!

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Ele desliga antes que eu pudesse responder. Sonolento pelo
cansaço e pela bebida, fico de joelhos no chão e pego minha maleta
de aço embaixo da cama. Posicionando-a sobre o colchão, coloco o
código com paciência e a abro, revelando os meus soros azulados.
Pegando uma pequena ampola, despejo seu líquido na seringa e sem
demora aplico o conteúdo em meu braço. De pronto sinto uma
intensa dor e, logo em seguida, uma sensação extasiante de plena
calma. Faltavam apenas quarenta unidades e uma ampola vermelha.
Meu prazo estava acabando.

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2 Semana
Os Encontros

M
esmo que tivesse o telefone de Cínthia, falar com ela não
era algo tão fácil assim. No dia seguinte ao nosso primeiro
encontro eu liguei, assim como era o combinado, mas
ela não atendeu. Isso ocorreu nos outros três dias seguintes e essa
demora estava estragando meus planos. Eu precisava ficar próximo
dela. Precisava que ela criasse um vínculo enorme comigo e em
pouco tempo. Mas para isso dar certo eu tinha que pelos menos
vê-la. Eu me considerava muito inteligente, mas admito que não

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conseguia entender o porquê dela me ignorar depois de uma ótima
primeira impressão.

No quarto dia eu torno a ligar e, como anteriormente, não


tive nenhum sucesso. Aquilo estava me irritando profundamente, a
ponto de apenas colocar a primeira calça e camiseta que vi e ir até
seu prédio sem nem mesmo pensar nas consequências. Não podia
demorar nem um dia a mais, então seria nessa quinta-feira que eu
iria encontrá-la. Andando por duas ruas inteiras e virando a terceira,
sob aquele frio realmente incômodo, vejo ao longe Cínthia chegando
ao portão de seu prédio. Ela vestia roupas de ginástica e pelos fones
de ouvido e rabo de cavalo que usava, devia estar correndo. Eu me
aproximo em passos rápidos, porém discretos, e ligo para seu celular.
De pronto escuto seu telefone tocar a poucos metros a frente e a
vejo o tirar da calça de ginástica e verificar quem ligava. Parando
perto dela, noto que ela olhava fixamente para meu número em sua
tela e percebo sua expressão dura e triste; até mesmo confusa. Ela se
demora em atender e, por fim, acaba deixando que a ligação caia.
Eu começava a entender o que estava acontecendo, mas precisava
verificar melhor:

— Eu pensei que tinha pontos o suficiente pra você pelo menos


atender minhas ligações.

Ela se vira de uma vez e mostra uma surpresa tão grande que
recua dois passos antes mesmo de falar:

— Jon...Jonathan?! Eu... é que... olha, o meu celular...

Eu me aproximo ligando de novo e logo escuto novamente


seu toque do AC/DC, Thunderstruck:

— Eu amo essa música.

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Ela se mostra confusa e me fita com enorme vergonha. Eu
observo sua postura e noto que havia uma enorme insegurança
retratada em sua perna direita que estava um pouco para trás e mãos
que fechavam e abriam repetidamente:

— Desculpa, John... eu acho que, não sei. Eu queria atender... mas eu


fiquei pensando... nossa, você deve estar me achando uma estúpida
agora. Eu fui mesmo estúpida e sei que você vai se distanciar...

Ela falava sem parar, mas não terminava suas sentenças.


Isso indica confusão mental extrema e conflito de ideias. O modo
como olhava apenas para baixo e fugia do meu olhar demonstrava
uma culpa enorme. Eu poderia fazer várias coisas, falar como estava
chateado, ou que estava tudo bem. Mas no tempo que me restava,
era melhor pegar um atalho, mesmo que isso pudesse custar minha
vida. Eu me aproximo lentamente e aproveito da grande confusão
de Cínthia para, de uma vez, dar um leve beijo e selar seus lábios de
tantas frases jogadas a esmo. Ela poderia me congelar de uma vez,
mas apenas recua um passo e coloca a mão sobre a boca ao me fitar
totalmente espantada. Aliviado por não ter morrido, pelo menos não
ainda, eu sorrio e respondo de forma sincera:

— Agora estamos quites. Você me deu bolo por três dias e eu roubei
um beijo da mulher mais bonita do país. Concorda com isso?

Por um momento ela se mostra enraivecida, mas logo


suaviza sua expressão e sorri com naturalidade, mesmo que estivesse
claramente ruborizada:

— É justo. Mas agora não pense que eu vou explicar o porquê de não
ter atendido. Como você disse, docinho, estamos quites!

Pela forma como tudo ocorreu e de acordo com a resposta


que recebi, ganhei muitos pontos. Com meu celular em mãos, me

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viro de costas e ligo novamente para ela, que achando aquilo muito
estranho, atende e coloca o telefone ao ouvido:

— Alô? Eu gostaria de falar com a Cínthia. Ela se encontra?

Me tornando para ela, vejo seu lindo sorriso enquanto


responde:

— Quem deseja a enorme honra de ter este diálogo?

Ao ouvir aquilo, me curvo e finjo estar tirando um chapéu


invisível em um cortejo e ela retribui segurando sua enorme saia
invisível e curvando brevemente sua cabeça:

— Olá, senhorita Cínthia, aqui quem fala é Jonathan! Eu gostaria de


saber se a dama, que esteve correndo por toda Maceió esta manhã,
estaria disposta a sair comigo nesse lindo dia frio como o Alaska.

Ela ri gostosamente e, desligando o celular e olhando


diretamente para mim, responde:

— Eu seria uma idiota se não aceitasse. Você espera eu tomar um


banho e me trocar? Pode ficar na sala do meu apartamento enquanto
isso.

Eu recuso e aponto para o banco que estava a menos de cinco


metros:

— Eu espero aqui mesmo. Não quero jogar no lixo o que há entre


nós.

Ela mostra estranheza, mesmo que com um sorriso:

— E o que é essa coisa que iria para o lixo?

Eu coloco as mãos no bolso da calça e respondo com


naturalidade:

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— O respeito nesse relacionamento que nós estamos construindo.
Pode subir, eu espero o tempo que for necessário.

Dessa vez sua ruborização era nítida. Ela olha para baixo e
mostra um sorriso bobo, contraindo logo em seguida os lábios e
afirmando:

— Eu prometo que não demoro.

Ela entra de uma vez e eu noto a sua pressa em subir logo


pelos passos rapidamente ritmados. Respirando fundo, sinto uma
mescla de felicidade e nojo. O que eu estava fazendo era baixo; baixo
demais! Mas era necessário para um bem maior. Retirando a pequena
agenda de meu bolso, anoto:

“Cínthia é emocionalmente frágil e relativamente fácil de conquistar.


Usar disso para obter plena vantagem!”

Na quinta e na sexta nossos encontros não foram nada de


incrível, pois se resumiam apenas a andar pela cidade e conversar
sobre tópicos aleatórios, como o que gostava de comer, qual era a
banda favorita na adolescência, por que o pão sempre cai com a
parte da manteiga para baixo. Entretanto, eu não precisava de muito
mais que isso para que nossos laços se fortificassem. Eu conhecê-la
mais profundamente e fazê-la ter a mesma sensação era vital para
que meu plano desse certo. Ainda assim, em todos os dias em que
andamos juntos, certas coisas me deixaram incomodado, pois nunca
passávamos por uma rua onde tivesse uma escola e o olhar de Cínthia
ao ver uma criança era nitidamente triste. O que ela sentia quanto
a esse assunto? Eu tinha que ver isso de perto, mas, por enquanto, o
melhor a se fazer era evitar esses pontos, e para isso eu tinha o local
perfeito para ser visitado.

29
No sábado eu mando uma mensagem bem cedo, mesmo
sabendo que ela estaria dormindo pesadamente:

Olá, Cínthia! Estou te perturbando a essa hora para pedir que


coloque um biquíni (algo sexy, por favor), e me encontre na porta do
seu prédio. Vou te levar a um lugar especial e em exatamente uma hora
estarei aí.

Eu sorrio para mim mesmo e jogo o celular na cama, abrindo


minha mala logo em seguida para retirar algumas roupas mais leves
e um calção de banho. Porém, antes que eu conseguisse selecionar as
roupas, meu celular toca em resposta:

— Já?

Pegando o aparelho e abrindo a mensagem, leio a resposta:

Se fosse outra pessoa, estaria sim me perturbando. Mas é você,


então tá tudo bem! Colocar um biquíni bem sexy? Meu bem, até de
burca eu sou sexy! Mas vou pensar no seu caso, prometo. É bom o senhor
não se atrasar! Até daqui a pouco, docinho.

Ler aquela mensagem me faz sentir bem e, ao mesmo tempo,


triste. Olhando para minha mala, vejo a máscara que fiz para a
Cínthia e sabia que aquela caçada levaria uma parte importante de
mim embora. Mas, fosse o que fosse, eu não poderia falhar! Nem que
para isso eu tivesse que destruir a mim mesmo.

Chegando exatamente na hora combinada, vejo Cínthia


abrir o portão usando uma lisa camisa branca amarrada na altura
da cintura, mostrando sua perfeita pele alva. O pequeno short jeans
combinava com a sandália modesta que tinha colocado. Mas o que
me chamava mais atenção naquela mulher, além dela toda, era o
chapéu branco de longa aba que de alguma forma a deixava ainda

30
mais bela. Porém, mesmo que Cínthia fosse a mulher, foi ela quem
elogiou minha vestimenta primeiro:

— Meu docinho, você está de arrancar suspiros! Não sabia que tinha
o corpo tão atlético assim!

Eu sorrio e, por algum motivo, abaixo a cabeça sem saber


ao certo o que responder; era a primeira vez naquela missão que eu
ficava sem palavras. Ela se aproxima com um olhar curioso e diz com
uma esperta risada:

— Ficou com vergonha? Sério mesmo que eu deixei o todo poderoso


John com vergonha?

Eu apenas passo a sacola que estava em minha mão para a


outra e a tomo pelo braço, andando com ela perto de mim:

— Eu perco pontos se ficar com vergonha? Aliás, que imagem você


faz de mim?

Mesmo tímida, ela mostra um vívido sorriso ao responder:

— Sei lá! Você é tão seguro, como se pensasse em tudo com muito
cuidado. Mas não se liga nisso não, docinho, não faz muito tempo
que seus pontos já chegaram no máximo...

Mesmo que sua sentença iniciasse com uma voz forte e segura,
a cada palavra ela diminuía até se tornar algo que eu apenas pudesse
ouvir. Pelo visto eu estava muito perto de conseguir o que queria...
estava perto de começar a caçada.

Chegando a uma linda praia de areia branca e com uma


estonteante sequência de coqueiros, vejo Cínthia mostrar uma
estranha expressão ao perguntar:

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— Praia do Gunga? Eu já estive aqui muitas vezes, meu bem. O que
tem nesse lugar que o torna mais especial que as outras praias?

Parando sob a sombra de um coqueiro e colocando nossas


coisas no chão, eu respondo enquanto estendo a toalha:

— Tem você.

Eu sabia o que aquela resposta faria com ela, porque eu já


tinha decifrado tudo sobre aquela mulher. Cínthia se cala por um
momento e, em um gesto de inquietação, mexe na ponta de seu
chapéu com um bobo e lindo sorriso. Se abaixando ao meu lado,
ela me abraça de uma vez; posição essa que ficamos por um longo
momento. Eu sentia seu doce perfume, o rápido bater de seu
coração, e até mesmo o tremer de seu corpo. Mas o que me fez sofrer
pela minha escolha em assassiná-la foi o que ela sussurrou em meu
ouvido:

— Se eu te conhecesse antes... se eu tivesse você do meu lado naqueles


dias tão... difíceis. Obrigada por ser tão bom comigo.

Eu sabia o que responder para que ela ficasse ainda


mais ludibriada por mim, mas só a intenção de enganá-la doía
imensamente. Uma dor que me fazia querer parar com tudo. De fato
eu pararia, se meu objetivo fosse apenas por mim. Não. Eu não vou
parar, porque eu luto pela liberdade de todo um país. Pela liberdade
eu posso morrer aos poucos. Ainda abraçado a ela, faço questão de
olhar de perto em seus lindos olhos azuis:

— Verdade, você não me conheceu antes. Mas me conhece agora,


então não precisa mais carregar isso tudo sozinha. Confie em mim, e
eu prometo que vou deixar você sem nenhum peso. Eu prometo por
tudo que eu mais amo! Eu prometo... prometo por mim e por você.

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Ela morde o lábio inferior e eu consigo ver uma lágrima
descer por sua face. Era apenas uma lágrima, solitária e de tantos
significados. Uma lágrima que confiava em mim plenamente e que,
naquele momento, fazia minha alma chorar também. E com tantos
sentimentos conflituosos, eu vivi o melhor beijo que poderia na
minha existência.

Depois de andar de buggy, nadar nas piscinas naturais e comer


peixe assado, nós dois nos vimos fazendo o que mais gostávamos
de fazer juntos; conversar. As pessoas ao nosso redor se mantinham
longe e eu não tinha ideia do porquê. Nos momentos em que
ficávamos em silêncio, um beijo completava nosso prazeroso diálogo.
Porém, ao anoitecer, em uma lua que iluminava claramente o calmo
mar, percebo o silêncio de Cínthia, que contemplava o horizonte.
Eu poderia falar algo, ou beijá-la, mas respeitei seu momento de
reflexão. Depois de um longo tempo calada, ela, sem tirar o olhar da
imensidão do céu, diz calmamente:

— Eu sou uma pessoa ruim.

Em silêncio, a vejo fitar os próprios pés e pegar um punhado


de areia que escorria de sua mão:

— Eu não queria matar ninguém. Juro por tudo que eu nunca quis...
eu adorava dar aula e ajudar os professores e alunos. Eu vivia pra
isso. Mas aquele maldito gás fez tudo ficar assim! Aquela droga que
nós respiramos deixou a todos loucos! Eu sabia que tava fazendo
merda! Eu... matei crianças e até mesmo congelei uma escola inteira
com todo mundo dentro. De mais de mil pessoas, entre crianças,
adolescentes e professores, ninguém sobreviveu...

Suas mãos tremiam nervosamente e aos poucos as lágrimas


caíam por seu rosto. De maneira frágil, Cínthia se vira para mim
com um olhar desolado de profundo arrependimento:

33
— Eu só percebi o que fiz depois de ter feito. John, você não sabe a dor
de dormir todos os dias com os gritos das crianças em meus sonhos!
Eu sinto a dor delas, eu me envergonho quando um professor passa
perto de mim. Eu... queria morrer! O gás trouxe tudo de ruim que
existia em mim para fora. A frieza por me achar mais bonita virou
um poder, a intolerância virou assassínio. Hoje eu consigo controlar
tudo isso, porque posso esfriar meu sangue e evitar esses acessos de
raiva. Mas não adianta! Nada do que eu fizer hoje vai aplacar a dor
de uma mãe que perdeu seu filho de uma maneira tão cruel.

Eu sentia sua dor, porque era vívida. Seu arrependimento era


indubitável e eu via isso. Pegando em sua alva mão, a vejo segurar a
minha com mais força e olhar para mim com toda sua sinceridade:

— John, eu sou um monstro! Eu sou uma assassina e uma covarde


que nem conseguiu tirar a própria vida! Então... se depois de tudo
isso você quiser procurar outra pessoa, uma que seja normal, eu... eu
juro que vou entender.

Entendendo a seriedade daquela proposta, eu acaricio seus


cabelos e beijo levemente sua testa. Olhando-a de perto, digo da
forma mais verdadeira o que eu sentia:

— Realmente, você fez coisas ruins. Mas não existe um pecado


irreparável. Cínthia, eu me comprometo a te ajudar a tirar essas
manchas do seu passado. Vamos trabalhar juntos por um mundo
melhor. Isso é, se você me aceitar como companheiro...

Ela se espanta e leva uma mão à boca:

— Você quer..? Comigo?

Eu seguro suas duas mãos e, tentando dizer o que tinha


ensaiado em minha mente o dia inteiro, reproduzo de forma limpa
e direta:

34
— É cedo pra dizer, e eu sei disso. Mas eu tenho certeza que te
amo! Que você é a mulher certa! Por isso, Cínthia, você aceita viver
comigo?

Não estava propondo um namoro, mas um compromisso


mais forte e duradouro. Ela tenta inutilmente segurar as lágrimas e
me abraça de uma só vez, dizendo com sua voz emocionada:

— Eu aceito! Eu... eu também te amo!

E naquele dia nos amamos mais intensamente, o que me fazia


ver que de fato havia muito de vilão em mim.

35
3 Semana
A Preparação.

A
terceira semana já estava em sua metade e eu logo percebia
que a minha missão seguia para o caminho errado. A cada
encontro com Cínthia, a cada sorriso dela, a cada momento
em que estávamos unidos eu sentia que algo em mim quebrava. A
verdade era que eu não queria mais matá-la. Não havia nada daquela
ditadora de antes em seus atos, e sim uma mulher que tentava se
redimir por seus feitos a cada suspiro. Eu de fato não sabia o que
fazer, mas ainda assim continuava a anotar todas as suas fraquezas.
Eu tinha um plano pronto, mas não queria seguir em frente.

37
Renato Ribeiro
Na sexta-feira, logo após o nosso terceiro encontro na semana,
eu me vejo chegando ao meu apartamento com um leve sorriso no
rosto; algo que não fazia espontaneamente há alguns anos. Ainda
sentindo o leve frio que Cínthia sempre deixava em meus lábios, aos
poucos decidia abandonar aquele assassínio e seguir para o próximo
da lista. Andando pelo escuro corredor apenas iluminado por uma
singular lâmpada que teimava em falhar, noto ao olhar minha porta
que ela estava destrancada. Destrancada? Eu me lembro de tê-
la trancado e, em se tratando da minha memória, eu com certeza
não estou enganado. Respirando mais calmamente, retiro minha
karambit do bolso da calça e passo em minha mente todos os prováveis
lugares de onde eu poderia ser atacado. Por sorte meu apartamento
era pequeno e não tinha mobílias, por isso o intruso não teria onde
se esconder facilmente a não ser nos lugares mais óbvios. Eu abro
a porta lentamente e percebo de imediato a luz do meu notebook
ligado sob a mesa. Entrando em passos leves, noto uma presença
poucos metros a minha frente, tendo sua silhueta visível defronte a
janela. Girando a faca em minha mão, me preparo para arremessá-la,
quando uma voz conhecida me alerta com tranquilidade:

— Se me matar agora, John, não vai ter ninguém pra terminar sua
lista nas costas.

Acendendo a luz, vejo Charles a minha frente, que carregava


uma lata de cerveja e me encarava com uma expressão enigmática.
Respirando fundo e sentindo a raiva borbulhar dentro de mim,
respondo guardando a arma:

— Da próxima vez que entrar no meu apartamento sem avisar, vou


jogar a faca primeiro e me arrepender depois! Entendeu?

Ele dá uma risada descontraída enquanto se senta na cadeira


e cruza as pernas:

38
Anti-Herói Volume 2
— Eu ia ligar. Juro que ia. Mas como fazer isso quando seu melhor
amigo tá de caso com a assassina do seu pai? Situação difícil, não é?

Ele ainda sorria, mas eu percebia o veneno em sua voz.


Charles estava com raiva; ele estava com tanto ódio em seu peito que
só podia disfarçar dessa maneira. Eu fecho a porta e vou até minha
cama, me deitando de uma vez:

— Quem está caçando eles sou eu ou você? Aliás, não era pra você
vir só daqui a uma semana?

Sem pressa em responder, ele dá um demorado gole em sua


cerveja com direito a um “delicado” arroto:

— Verdade, eu ia vir só na semana que vem. Só que depois de ver


que você tá em uns cinco sites de fofoca por andar com a senhorita
Beleza de Gelo, eu tive que ver a merda você tá fazendo por mim
mesmo!

Ele pega meu notebook e joga na cama perto da minha cabeça.


Achando tudo aquilo estranho, olho a reportagem no computador
e vejo fotos amadoras de mim e Cínthia na praia, andando perto
de uma cafeteria e até mesmos nos beijando. Porém algo estava
errado ali, pois além de todas as fotos não mostrarem meu rosto,
o homem que estava com Cínthia claramente não era eu. Ele tinha
cabelo curto, sua pele era mais clara e era possível ver uma modesta
tatuagem de duas cobras em seu pescoço em uma das fotos:

— O que é isso? Eu me lembro bem de não ter descuidado da minha


identidade em nenhum momento...

Charles ri, e dessa vez porque achava graça de verdade:

— Não, John! Você vacilou porque tá afim de trepar com essa


assassina desgraçada! Foi isso que aconteceu! Eu tive que entrar em

39
Renato Ribeiro
todos esses malditos sites e hackear como se não houvesse amanhã!
Mudei sua foto pra alguém que não tinha nada a ver, por isso eu
aceito seu agradecimento!

Minhas suspeitas estavam confirmadas. Eu sabia que Charles


era alguém com um conhecimento tecnológico invejável, mas não
tinha ideia de que chegava a esse ponto. Eu fecho o notebook, respiro
fundo, e digo com toda a sinceridade que possuía:

— Obrigado, Charles! Eu errei e você me cobriu sem eu ter pedido


nada.

Ele faz uma breve reverência:

— De nada! Agora, já que estamos aqui nós dois e sabemos a merda


que tá acontecendo, que tal conversarmos sobre O QUE DIABOS
TÁ ROLANDO ENTRE VOCÊ E AQUELA VAGABUNDA?!

De súbito ele fica de pé e eu vejo seus olhos me fitarem com


um vívido ódio. Eu abaixo a cabeça por um momento e, ao procurar
a melhor maneira de responder, torno a encará-lo:

— Beleza, se você quer conversar sobre isso, nós conversaremos. Mas


acho melhor você controlar a sua TPM antes. Eu não moro nesse
prédio sozinho e tenho certeza que os vizinhos vão pensar que você
é meu namorado ciumento com essa última frase dita em uma altura
absurda.

Por um momento eu o vejo segurar uma risada, mas, se


controlando, Charles vai até a janela e olha para a rua sem nada
dizer por um momento, como se o lado de fora tivesse uma resposta
melhor para aquele problema:

— John, eu não quero ouvir sobre como ela mudou ou o que ela
pode fazer pra ajudar. Ela tirou de mim uma pessoa que era meu

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Anti-Herói Volume 2
pilar central... não apenas isso, como tirou o pilar de milhares de
famílias...

Aquelas palavras me destroem aos poucos. As pessoas a quem


ela lesou nunca se recuperariam, assim como o homem a minha
frente, que mostrava uma dor sem cura. Mas se eu matá-la... como
ela vai se redimir? Charles se vira para mim com uma forte expressão
de dor e sede de justiça:

— Você não tá fazendo isso por você, John. Sua missão tem a vontade
de milhões e vai ajudar a um país inteiro. Então...

Ele se aproxima e coloca as pesadas mãos em meus ombros ao


me fitar diretamente nos olhos:

— Por favor, acabe o que você veio fazer! Por favor, vingue todas
essas pessoas que não têm mais pra onde fugir! Só você pode fazer
isso!

Ele não chorava, sua voz não tremia, seu rosto não mostrava
dor. O que eu via a minha frente era um pedido de alguém que
confiava em mim de maneira indubitável. Eu me permito pensar
por um momento e a dor de matar alguém que eu gostava se
intensificava. De fato, Charles tinha razão, eu não estou fazendo
isso por mim e sim por todo um país... por um mundo inteiro.
Afirmando pesadamente, digo as palavras que destruíram o mínimo
de humanidade que eu ainda podia ter em mim:

— Eu vou fazer isso! Eu vou matar Cínthia nesse domingo! E pra


isso, vou precisar da sua ajuda.

41
4 Semana
O Assassínio

S
ábado. Um sábado totalmente sozinho. Sozinho planejando
um assassinato. Assassinato. Assassinato? Assassinato...
Sentado em minha cadeira e apenas tendo um copo com
água a minha frente, eu olhava fixamente para a máscara que tinha
feito para Cínthia. Ela era linda, até mesmo com aquelas tantas
rachaduras, e foi aí que eu soube que mesmo que eu ficasse ali o
dia inteiro, não conseguiria encontrar o sentido em fazer aquela
missão. O escuro proposital do apartamento servia para me fazer
pensar mais, procurar dentro de mim uma centelha de vontade.

43
Renato Ribeiro
Porém não havia fagulha alguma. Me levantando, vou até a cama
e vejo todos os itens que eu tinha separado para aquela caçada. As
três karambits de carbono em meu travesseiro pareciam querer que
eu fosse adiante. As dez granadas incendiárias me diziam que tudo
aquilo era um exagero. Os dois bastões elétricos claramente queriam
que eu voltasse à realidade. As botas com pequenos pregos no solado
desejavam ficar aqui. As vinte C4 ansiavam pela revolução daquele
ato. As duas desert eagle pareciam felizes em botar um fim naquilo.
Eu ia fazer isso. Eu ia matar Cínthia com todo aquele arsenal e de
um jeito que ela se arrependesse de seus atos... coisa que ela já fez.

Pegando minha quarta karambit, a maior de todas, fecho


meus olhos e ensaio em minha mente as formas em que ela poderia
me atacar. Porém, mesmo concentrado por cinco minutos, não vi
maneira dela fazer isso comigo. Na minha cabeça eu ainda ouvia o
que Charles dizia e, de verdade? Eu sabia que ele tinha muita razão.
Não era por mim, e sim por todos! Segurando a faca com mais força,
em um ataque de ódio repentino eu a enfio na mesa! Largando-a de
uma vez, a vejo balançar de um lado a outro enquanto o copo com
água caía e molhava o chão:

— Mas que merda...

Não tinha maneira de enrolar mais. Era hora de pôr o


plano em ação. Tirando meu celular do bolso, ligo para Cínthia de
imediato, sem dar tempo a nenhum arrependimento. Antes mesmo
que tocasse duas vezes, ela atende com uma contagiante simpatia:

— Eu pensei que o senhor não iria me ligar!

Eu inspiro profundamente e respondo em um ato repugnante


de atuação:

44
Anti-Herói Volume 2
— Perdão, oh, moça de linda aparência! O que eu, um homem sujo
e sem coração, posso fazer para recompensar essa atitude tão terrível?

Ela ri gostosamente:

— Casar comigo!

Casar? Como assim:

— E-eu o quê?

Sua risada se torna mais escandalosa e eu logo noto que era


apenas uma brincadeira:

— Eita homem covarde! É brincadeira, moço. Mas fique o senhor


sabendo que eu sou mulher de casar mesmo. Nada de me enrolar
uma vida toda, ouviu?!

Eu forço uma risada, acho que me saí bem:

— Claro, mas tudo a seu tempo. Mudando de assunto, meu bem, eu


não posso te ver hoje. Tenho que prestar um serviço para um amigo
meu e isso vai me levar o dia todo.

Pelo repentino silêncio, ela não estava muito feliz:

— Sério...? Poxa, pensei que o sábado seria nosso...

Eu não sabia muito bem o que responder. Pensar que eu não


estaria com ela hoje por que precisava organizar todos os pontos em
que poderia matá-la me fazia calar. Mas meu silêncio parecia já ter
sido uma resposta:

— Desculpa, John. Acho que eu acabei falando algo idiota. Passamos


a semana juntos e você sempre estava disponível. Então tudo bem
se você não puder vir. Eu não sou uma namorada pegajosa, pode
confiar.

45
Renato Ribeiro
Ela se desculpava quando o errado era eu:

— Eu é que peço desculpas. Mas me deixe correr atrás do prejuízo.


Domingo à noite a senhorita estaria livre? Quero te levar a um lugar
surpresa. Vai ser um encontro... inesquecível.

Mesmo não ouvindo nada por um momento, eu sabia que ela


estava imensamente feliz:

— Bom, é o jeito, não é?! Nossa, agora eu tô curiosa. O que eu devo


vestir, meu bem?

Eu olho para o meu terno dentro da mala aberta e respondo


controladamente:

— Um vestido de festa. Fora isso, eu acho que não precisa de mais


nada. Você é linda de qualquer jeito.

Eu acabei falando algo que não tinha planejado, mas o efeito


dessa frase me ajudaria na missão:

— Você é uma pessoa ótima, John. Eu acho que não mereço alguém
tão bom assim...

Sou eu quem não merece. Sou eu quem irá matar uma mulher
que quer se redimir. Sou eu quem está iludindo uma pessoa que sofre
diariamente com a solidão:

— Você merece tudo que qualquer pessoa incrível merecer. Agora eu


tenho que desligar, senhorita. Amanhã às dezenove horas eu passarei
em sua casa em meu lindo carro velho. Esteja pronta!

Ela responde animada:

— Docinho, eu sempre estou pronta! Amanhã às dezenove em ponto


nós nos vemos!

46
Anti-Herói Volume 2
Eu sorrio para mim mesmo:

— Então está combinado. Tchau, senhorita!

Antes que eu desligasse, a escuto me chamar:

— John!?

— Oi, meu bem? O que houve?

Ela se demora a responder e enquanto isso eu consigo ouvir


seu murmurar inquieto:

— Eu... eu te amo. Bom, é isso. Tchau, docinho!

Eu te amo? Por que você tinha que falar isso agora? Essa três
palavras deixam tudo mais... mais difícil:

— Eu também te amo, meu anjo. Agora tenho que ir mesmo. Tchau


e até amanhã.

Eu desligo antes que qualquer resposta surgisse; não


conseguiria seguir em frente caso ouvisse outras declarações. Indo
até a janela e pegando a máscara em minha outra mão, ligo para
Charles que atende de imediato:

— Fala, careca!

— Vem buscar as bombas. Precisamos colocar todas nos locais certos


o mais rápido possível.

— Em cinco minutos estarei aí.

O resto do plano ele já sabia. Estava tudo pronto para ser


executado. Aquele sábado servia apenas para eu sofrer mais um pouco.
Sei que isso não iria apagar meus pecados, mas todo sofrimento para
mim a partir dali seria pouco. Seria justo!

47
Renato Ribeiro
No domingo às dezoito horas eu já estava praticamente
pronto. Já tinha vestido minha roupa social. A máscara, as botas e o
cinto de granadas eu escondi no carro e iria colocá-los no momento
certo. Por dentro do meu terno preto bem fechado já tinha acoplado
o coldre das facas e o de pistolas. Nesse momento Charles já deveria
esperar a hora certa para agir e eu tinha certeza que às dezenove e
quinze ele entraria em ação. Olhando para a hora em meu notebook,
vi que já deveria agir, mas me permiti um breve momento de silêncio
em meu escuro apartamento. Um momento para deixar o resto de
humanidade que eu tinha para trás.

Chegando quinze minutos adiantado, me vejo de frente ao


portão de Cínthia. Respirando fundo, olho o relógio já sabendo que
horas eram e, sem mais enrolar, aperto o interfone. Ela atende quase
que de imediato e pela forma como falava ainda não estava pronta:

— Ah, meu Deus! John? É você, meu bem?

— É sim, senhorita. Eu cheguei mais cedo, por isso pode se arrumar


com calma.

Ela se demora em responder e logo percebo os passos rápidos


vindos por de dentro da entrada do prédio. Abrindo o portão
vagarosamente vejo que a mulher mais linda do mundo estava, de
alguma forma que não posso explicar, ainda mais bela. Seu cabelo
tinha volumosos cachos que deslizavam suavemente até seus ombros.
O batom permanecia sendo azul, mas agora era modesto e um pouco
mais escuro, o que combinava perfeitamente com seus olhos e pele.
O branco vestido que usava seguia de forma perfeita seu corpo e, ao
chegar às pernas, se abria revelando várias saias, o que eu sabia de
alguma forma ser um vestido mullet. De imediato ela não olha em
meus olhos e anda em minha direção com certa dificuldade em seu

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Anti-Herói Volume 2
salto alto branco. Porém, ao se aproximar o suficiente para que eu
sentisse seu doce perfume, ela me fita com um afável sorriso ao dizer:

— Você está perfeito, John!

Eu me pego despertando do meu transe e noto que o elogio


veio dela e não de mim. Falha minha, eu acho:

— Sabe, Cínthia, se houvesse uma categoria além de perfeita... você


estaria umas dez posições acima.

Ela ri envergonhada e, de uma vez, me abraça delicadamente


e sela meus lábios com um apaixonado beijo. Eu, que não me sentia
bem, continuei atuando e, ao nos separarmos, sorrio da minha
melhor forma e tiro do meu bolso o colar que tinha comprado para
ela há alguns dias. Era um item simples, apenas um floco de neve em
uma fina corrente de prata, mas ao ver que eu tinha trazido algo, a
expressão daquela super-heroína se tornou a mais humana possível
ao demonstrar uma sincera felicidade:

— Isso é pra mim? Eu... nossa. Não sei nem o que dizer...

Eu vou até suas costas e, com sua ajuda ao levantar o cabelo,


prendo o colar sem nenhuma pressa. Terminando, ela olha para si mesma
e torna a me abraçar novamente, mas um pouco mais forte agora:

— Obrigada, meu bem! Ele é lindo!

Me demorando um pouco naquele abraço, eu a separo


gentilmente e a levo até o carro que tinha alugado hoje mesmo.
Quando sentados, me viro para ela e mostro uma venda preta e um
abafador de ouvidos que tinha colocado no porta-luvas, o que gera
estranheza e excitação por parte dela:

— O que é isso, docinho? Tá me sequestrando, é?

49
Renato Ribeiro
Apesar de ser uma piada, não era bem uma mentira:

— Cínthia, eu vou te levar para um lugar especial. Por isso eu quero


que você coloque essa venda e o abafador. Ah, por favor, não os tire
até eu mandar! Pode fazer isso?

Ela sorri e pega os itens de minha mão, colocando-os de uma


vez:

— Eu confio em você, senhor Jonathan! Pode ficar tranquilo porque


eu serei uma dama muito obediente hoje.

Olhando as horas, vejo que são dezenove e cinco. Em dez


minutos eu tinha que dar início ao plano. Dirigindo um pouco
rápido, percebo que tinha enrolado demais para buscá-la. Em breve
Charles iria criar a distração e eu precisava estar pronto! Para minha
sorte, o local escolhido não era muito longe, e logo nós chegamos
faltando apenas cinco minutos. Eu saio do carro e me apresso em
colocar o cinto de granadas, as botas e esconder a máscara em meu
terno. Tirando Cínthia do carro, vejo-a ansiosa em me acompanhar:

— Vou ser sincera, estou muito nervosa!

Ela falava mais alto por causa dos abafadores e se mostrava


totalmente desnorteada sem poder enxergar. Trazendo-a pela mão,
eu entro no vazio prédio e pego o elevador, subindo quatro dos
oito andares daquele local. Apenas um minuto e tudo iria começar.
Entrando na sala que eu tinha preparado, me dou dez segundos para
respirar fundo e jogar fora o que restava de piedade. Retirando seus
abafadores de ouvidos, digo de forma centrada e tomo a distância
necessária dela:

— Pode retirar a venda, Cínthia. Nós já chegamos.

50
Anti-Herói Volume 2
Com um enorme sorriso ela retira a venda pacientemente,
como se quisesse desfrutar daquele momento, mas ao ver onde
estava, seu sorriso some e uma mistura de angústia e dúvida tomam
sua face. Parado a sua frente, a vejo olhar ao redor perplexa e se
fixar por alguns momentos nos objetos daquela sala. As carteiras
enfileiradas, os armários na parede, os desenhos das crianças e, por
fim, o quadro negro, gravado em douradas letras garrafais:

“Esta escola foi reconstruída em homenagem a todos os alunos


e professores que foram mortos injustamente por Cínthia Albuquerque.
Aqui estão todas as assinaturas dos pais e parentes que perderam uma
grande parte de suas vidas. Sentiremos saudades.”

Ao ver os vários nomes, escritos não só no quadro como nas


paredes, Cínthia leva a mão à boca e tenta suprimir um doloroso
grito que acompanhava suas muitas lágrimas. Virando-se para mim
totalmente perplexa, ela olha em meus olhos sem entender o porquê
de tudo aquilo, mas sua voz não saía; ela não conseguia falar. Eu,
que tinha o olhar totalmente frio e sem alma, retiro a máscara de
meu terno e coloco-a em meu rosto, ajustando rapidamente o firme
elástico em minha cabeça:

— Cínthia Albuquerque, a Beleza de Gelo! Eu sou o Anti-Herói


e vim eliminá-la em prol da justiça e da dor de todos aqueles que
sofreram por seus atos cruéis. Essa escola, que é uma réplica daquela
que você congelou e que o Michel destruiu, será o local perfeito
para o seu sepultamento. Ninguém virá te salvar, pois estão nesse
momento cuidando das explosões causadas por meu parceiro em
outros dois prédios longe daqui. O que tem a dizer em sua defesa?

Ela não responde, apenas chora e aos poucos vai perdendo


as forças, caindo de joelhos; como se o peso do mundo estivesse
em seus ombros. Eu retiro minha karambit e noto que não haveria

51
Renato Ribeiro
uma luta. Ela estava acabada e iria morrer de qualquer maneira. Me
aproximando lentamente consigo escutar leves sussurros vindo dela
e, de alguma forma, o local esfria aos poucos:

— Por que... por que... por que....

O chão ao seu redor aos poucos é tomado por uma fina


camada de gelo que logo sobe pelas paredes e cerca todo o local na
medida em que sua voz se torna mais alta:

— Por que... por que... POR QUE VOCÊ FEZ ISSO, JOHN?

De súbito ela coloca uma das mãos no chão e uma estaca de


gelo surge do solo e mira minha cabeça. Por reflexo eu pulo para trás,
mas não rápido o suficiente para evitar que meu braço fosse cortado
de raspão. Olhando para frente, a vejo se levantar com um olhar
mais intenso que o da fúria; era o olhar de alguém traído! De alguém
que perdeu a sanidade.

— EU JÁ SOFRO MUITO! EU MORRO TODOS OS DIAS E


VOCÊ AINDA QUER ME LEVAR PRO INFERNO?! EU NÃO
VOU DEIXAR! EU NÃO VOU MORRER AQUI!

Eu estava paralisado por aquelas palavras, e nesse tempo


vejo que ela tinha retirado os saltos. A luta seria arriscada dali para
frente, pois Cínthia pode congelar tudo o que toca, até mesmo
criando estacas e paredes de gelo onde bem entender. Descalça ela é
dez vezes mais perigosa! Eu tento dar um passo para trás, mas meus
pés estavam presos por uma camada de gelo que subia lentamente
por minhas botas. Droga! Eu nem tinha percebido! De súbito uma
nova estaca surgia atrás e se dirigia às minhas costas, mas antes que
me atingisse eu me movo um pouco para a direita e a evito, apenas
tendo meu terno rasgado. A minha frente, Cínthia se aproximava
em passos lentos e carregados de fúria; ela queria me congelar por

52
Anti-Herói Volume 2
completo. Controlando um pouco meu desespero, pego uma das
granadas incendiárias e arremesso contra ela. Porém, sem ao menos
se surpreender, ela agarra o objeto no ar com apenas uma das mãos
e o congela de uma vez, continuando a se aproximar. Eu iria morrer!
Se eu não fizesse nada ela iria me matar em questão de segundos.
Sacando uma das pistolas, eu atiro em sua direção, porém ela desvia
da minha arma com facilidade, mas não nota as outras duas granadas
que eu tinha acabado de jogar, que explodem e a arremessam em
chamas para a direita. O fogo não toma o gélido local, mas ativa os
sprinklers que jogam água em todo o prédio. O gelo em meus pés
tinha se tornado menos denso e, colocando muita força, consigo
livrar minhas botas e fugir daquela sala.

No corredor com várias portas e janelas que davam visão para


fora, eu corro tentando obter alguma vantagem. Meu plano tinha dado
errado. Não era para ela conseguir reagir daquela forma! Olhando para
trás, sinto que algo estava errado e, sentindo uma gélida brisa a minha
frente, me viro a tempo de ver que Cínthia estava a poucos centímetros
de mim. Com seus olhos sem vida alguma, ela rapidamente tenta tocar
meu peito e, ao mesmo tempo, eu puxo meu bastão elétrico e miro
seu abdômen. Mesmo com a dor do choque, ela consegue me tocar
e eu logo sinto meu terno congelar rapidamente. Largando o bastão e
pulando para trás, retiro o terno de uma vez e o jogo no chão a tempo
de ver que tinha congelado por completo. Retirando as duas pistolas,
atiro em desespero, deixando apenas uma bala em uma delas. Porém,
de súbito, uma grossa parede de gelo irrompe do chão e sobe até o teto,
protegendo-a dos tiros. Vendo que minha desvantagem era enorme, me
viro para fugir pelo único caminho que restava, mas outro bloco de gelo
cobre toda a passagem, me isolando em um gélido quadrado sem saída.
Eu estava preso e o frio começava a fazer minha pele arder insanamente.
Meu corpo já não me obedecia mais e cada simples movimento era um
ato sofrível. Comigo restavam apenas sete granadas, as facas, um bastão

53
Renato Ribeiro
e uma bala em uma das pistolas. Começando a sentir o ar gélido perfurar
meus pulmões, ouço a confusa voz de Cínthia do outro lado:

— John, você já perdeu. Desista e vamos embora. Por favor, vamos


esquecer isso tudo e ir cada um pro seu canto...

Aquilo me choca de várias maneiras. Eu de fato tinha perdido


aquela batalha, mas ver que ela não desejava me matar, ver que ela
estava pegando leve me tornava ainda mais miserável. Olhando para
minhas mãos, que aos poucos ficavam azuis, me vejo respondendo
pela primeira vez com sinceridade:

— Cínthia, eu quero pedir desculpas por isso tudo. Eu traí sua


confiança e usei você de uma forma horrível. Eu quero que você
saiba que isso não é pessoal, porque eu te amo de verdade. O único
problema é que eu amo muito mais o ideal que persigo. Você não
estava séria, e eu sei disso, mas eu também não entrei nessa luta com
a intenção de vencer...

Eu retiro a máscara já sabendo o próximo passo; eu iria


com tudo:

— Mas agora, vendo você assim, eu sinto que não é justo me segurar
mais, e eu te peço o mesmo. Vamos acabar com isso de uma vez.

As paredes de gelo trincam aos poucos e logo se rompem


em mínimos pedaços. A minha frente, Cínthia mostrava uma
expressão de dor imensa, mas eu conseguia ver em seus olhos que ela
concordava com o proposto:

— Se alguém tem que me matar por tudo de ruim que eu fiz, então
que seja você, John. Eu não sei por que, mas desde a primeira vez
que eu te vi, eu te amei.

54
Anti-Herói Volume 2
Sua voz limpa, imponente e aquele sincero sorriso me
aqueciam naquele frio. Eu jogo a máscara no chão, puxo minhas
karambits e me preparo para o ataque:

— Eu sei de tudo isso, porque eu sinto o mesmo.

Sorrisos amistosos que precediam uma morte certa. De


súbito Cínthia bate o pé no chão ao mesmo tempo em que eu corro
em sua direção. Ao meu redor várias estacas de gelo miravam todo
meu corpo. Eu não podia evitar que me acertassem, mas com certeza
escolheria onde ser acertado. Os padrões de ataque dela eram sempre
iguais e o ângulo das estacas obedecia a mesma linha. Cochichando
para mim mesmo enquanto me aproximo dela, desvio de um a um:

— Cinco centímetros a direita...

Eu me inclino e a estaca apenas arranha meu braço:

— Um metro e meio para cima...

Ainda inclinado, me abaixo levemente e vejo o espinho a


minha frente rasgar a ponta da minha orelha direita:

— Trinta centímetros na diagonal esquerda...

Eu levanto o braço e o ataque rasga a pele por sobre minhas


costelas. Em um movimento, arremesso as duas facas como distração
e Cínthia se vê obrigada a se mover para a direita, o que a atrapalha
a criar as cinco estacas a minha frente e as faz ser menores que o
esperado. Eu pulo todas de uma vez já retirando minhas últimas
duas facas e a ataco mirando seu pescoço. Ela dá um passo para trás
e o dano fatal se transforma em dois cortes simples, quebrando o
colar que eu tinha dado. Ela segura o meu braço ao mesmo tempo
em que solto as adagas e puxo o bastão elétrico, descarregando o
choque no seu cotovelo. Eu sinto um pouco da descarga elétrica,

55
Renato Ribeiro
mas ela se mostra realmente incomodada e me solta de uma vez.
Porém, o bastão congela por completo ao mesmo tempo em que
ela segura meu outro braço e pisa o meu pé, congelando os dois
instantaneamente. A dor era imensa e eu via que não restavam mais
opções. Com o braço restante, puxo meu cinto de granadas que já
estava pré-solto e, removendo um dos pinos, deixo as sete granadas
incendiárias entre nós. Aquilo iria explodir de forma absurda, mas
eu sabia que eu iria ficar bem; tudo fazia parte do meu plano. Em
um último ato de redenção, Cínthia me empurra para trás e cria uma
grossa parede de gelo a minha frente, me protegendo da explosão e
deixando a ela mesma vulnerável. Antes que tudo fosse tomado por
uma imensa chama, eu me vi arrependido do que tinha feito no
último instante:

— Cínthia!

A explosão torna minha voz apenas um fragmento perdido. A


parede de gelo trinca de uma vez e é destruída por completo, mas eu
estava bem. Ela tinha me protegido, assim como eu tinha presumido.
A fumaça tomava o local, mas nada estava em chamas, pois o frio
e a umidade eram mais intensos. Sentindo o gosto amargo do meu
próprio ato, me levanto com enorme dificuldade e percebo que
não consigo sentir meu braço direito e nem minha perna esquerda.
Porém, aquilo não importava, eu queria ver Cínthia, e aos poucos,
com a fumaça se esvaindo, eu a vejo a minha frente, caída, queimada
com feridas borbulhantes, mas viva! Eu me aproximo lentamente e
ela consegue me ver entre seu respirar rápido e tomado de dor. Ela
chorava. Não queria morrer. Mas seu sorriso ao me ver fez toda essa
destruição parecer apenas um segundo plano:

— Gra... graças a Deus... você está bem...

56
Anti-Herói Volume 2
Não. Eu não estava bem. Eu morria dentro de mim naquele
momento. Me aproximando em passos mancos e me abaixando
como podia, a vejo colocar uma das mão em meu braço congelado
com leveza e, de uma vez, descongelar todo meu corpo. A outra
mão, que permaneceu fechada a todo o momento, é estendida para
mim e quando aberta eu consigo ver o colar que eu tinha dado. Sem
entender eu a fito confuso e escuto em sua fraca voz:

— Eu lembro... desse colar... eu lembro... de você. Eu mereço isso


tudo... eu sempre te fiz...sofrer...

Eu recolho o objeto de sua mão e o coloco em cima de seu peito:

— Isso é seu, meu bem. Sempre foi.

Ela sorri, mas ao mesmo tempo as pesadas lágrimas caem por


sua face:

— Jonathan... eu fui perdoada? Você me perdoa?

Eu sorrio e, acariciando seus lindos cabelos, respondo


sinceramente:

— Você nunca foi culpada. Eu sempre carreguei os seus pecados e


vou levar eles comigo pra sempre.

Ela respira fundo e mostra uma expressão confortável; a


face de quem estava finalmente livre. Eu retiro a pistola do coldre
e miro em sua cabeça a última bala. Se eu não a matasse ali, ela iria
se recuperar totalmente em poucas semanas. Ela me vê colocando
a arma em sua testa e afirma levemente para dar certeza a minha
dúvida:

— Você precisa fazer isso... você vai libertar o mundo...

57
Renato Ribeiro
Sentindo uma dor imensa vejo minha mão tremer ao mesmo
tempo em que as lágrimas desciam em minha dura face:

— Me perdoe por isso!

Ela fecha os olhos, como se fosse ter o mais belo sono:

— Eu te amo...

Apenas um estampido. Um som alto de disparo e eu me vejo


morrer ao matar outra pessoa.

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Anti-Herói Volume 2

4 Semanas depois
Rio de Janeiro- Capital

A
chuva era forte demais para ver qualquer coisa, mas mesmo
assim eu e os outros recrutas do treinamento militar especial
não mostrávamos sinais de qualquer fraqueza. Fraqueza aqui
era morte! Era isso que todos ali temiam e era para isso que nós
treinávamos; para matar! Para manter a ordem através do medo! A
nossa frente um homem moreno, forte e de grossa barba permanecia
parado a nos fitar com um olhar enigmático; um olhar que lembrava
a mim mesmo:

59
Renato Ribeiro
— Vocês foram os cem recrutas que passaram do treinamento padrão!
Vocês conseguiram ir além dos cinco mil candidatos e chegaram até
aqui! Vocês serão agora meus filhos, e como pai eu posso ser bondoso
e punitivo se meu filho não se comportar! Dos cem aqui, eu quero
apenas cinco, e direi logo, os outros fora desses cinco irão morrer!

Ali estava ele. O segundo herói mais perigoso. Aquele que eu


teria mais dificuldade em enfrentar, Ramom, O Gatilho Contra o
Mal! Olhando para todos nós e portando suas quatro karambits no
cinto, ele mostra um breve sorriso ao dizer com uma certeza que me
fazia temer:

— Eu sei que o Anti-Herói está aqui! Eu sei que um de vocês é esse


assassino sem escrúpulos! Nesse treinamento eu vou te encontrar...

Como ele podia saber disso? Quem avisara a ele? Sem desviar
meu olhar e mantendo toda a farsa, o vejo fixar os olhos em mim
como um lobo sedento de justiça:

— E quando eu te encontrar, vou arrancar sua cabeça e colocar no


alto de uma torre como exemplo para todo o mundo.

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Anti-Herói Volume 2

-Alvos-
1 - Michel- A Força da Justiça
2 - César- O Controle Moral
3 - Helena- O Vento da Mudança
4 - Victor- A Inteligência Ética
5 - Hilda- O Veneno da Verdade
6 - Cibele- A Flecha Para o Futuro
7 - Sabim- A Velocidade da Liberdade
8 - Ramom- O Gatilho Contra o Mal
9 - Cínthia- A Beleza de Gelo
10 - Félix- O Fogo da Esperança

61
Sobre o Autor

E
u nasci em Brasília e desde cedo demonstrei grande interesse
na escrita e tudo que envolvesse a arte de contar histórias.
Mesmo escrevendo cinco livros ainda não publicados,
continuo persistente na empreitada em ser reconhecido por essa
profissão que é ser escritor. Ser autor no Brasil é muito difícil, pois os
novos autores, por melhores que sejam, disputam lugar com grandes
nomes: como atores, membros de banda, enfim, personalidades
famosas. Outro meio de ser publicado é pagar a publicação, que não
sai por menos de dez mil reais, um preço muito alto para quem não
tem dinheiro. Porém, mesmo com tantas dificuldades, a vontade de
realizar esse sonho se faz maior.

63
Renato Ribeiro
Portanto, mesmo com as asperezas das dificuldades, irei
continuar a escrever e melhorar ainda mais meu trabalho. Agradeço
imensamente seu apoio e peço para que, se realmente tiver gostado
desta história, a passe para frente e mande e-mails para as editoras,
como a Leya, Rocco, Darkside, Record, Intrínseca, Fantasy. Quem
sabe assim elas finalmente não me notam?

Obrigado pelo apoio, mas, principalmente, pela sua leitura.

RENATO RIBEIRO

64
O que é o Anti-Herói?

O
anti-herói é uma novela mensal que irá ser publicada em
doze volumes, como esse que você acabou de ler. Diferente
de toda história de heróis, nesse enredo temos alguém que
quer destruir todos os heróis que um dia ele amou. Porém, esse ato
não o torna um vilão, pois ele tem motivos claros para cumprir essa
missão, que é salvar o sistema que está claramente corrompido por
aqueles que estão no poder. Mas como um humano pode matar
um ser tão superior como um herói? O que a população vai achar
disso? O que acontecerá se ele falhar? Essas são perguntas que serão
respondidas no decorrer desta história.

65
Como eu posso
acompanhar?

É
simples, fácil e rápido! O anti-herói tem uma página no
facebook e, ao sair mais um volume, você será avisado
imediatamente. Outro lugar que você pode saber mais sobre
a história é no site do anti-herói, onde iremos postar concept arts,
informações e os links para quem quiser comprar online, via e-book
para kindle, fazer pedidos para receber em casa, ou até mesmo elogiar
o trabalho e discutir sobre ele com outros leitores.
Link do site: www.anti-heroi.com

67
Conselho Editorial:
Renato Ribeiro

Coordenação Editorial:
Renato Ribeiro

Produção Editorial:
Renato Ribeiro

Revisão:
Renato Ribeiro
Cristina Carvalho Sena

Capa e Projeto Gráfico:


Diego Henrique Oliveira Santos
Cristina Carvalho Sena

Diagramação:
Diego Henrique Oliveira Santos

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