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Inteligência Artificial e Policiamento Preditivo
Inteligência Artificial e Policiamento Preditivo
Neste ano de 2022, o Brasil anda às voltas com a elevação do preço dos
combustíveis. Segundo a Edição nº 23/2022 da Síntese Semanal do Comportamento dos
Preços dos Combustíveis, publicada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis, e que compila dados referentes à semana de 5 a 11 de junho de 2022,
o preço da gasolina comum no país teve variação positiva média de 27,68% em doze
meses; o do etanol hidratado, 13,99%; e preço do óleo diesel sofreu o maior aumento
dentre os combustíveis mais utilizados pela população: 53,55% desde junho de 2021. 1
Para se ter uma ideia da magnitude da variação de preços de tais produtos, a inflação
média teria atingido 11,73% nos doze meses encerrados em maio de 2022.2
1
https://www.gov.br/anp/pt-br/assuntos/precos-e-defesa-da-concorrencia/precos/arq-sintese-
semanal/2022/junho/sintese-precos-n-23-semana-05-a-11-06-22.pdf
2
https://www.ibge.gov.br/explica/inflacao.php
a “Proposta de Emenda Constitucional do Etanol”, prevendo um regime fiscal
diferenciado para esse combustível, e a “Proposta de Emenda Constitucional dos
Combustíveis”, dispondo acerca de um garantia de compensação financeira para os
Estados que adotarem alíquota zero para o ICMS incidente sobre o diesel e sobre o gás
de cozinha.3 Além de tais propostas, levou-se à apreciação dos legisladores o Projeto de
Lei Complementar (PLP) nº 18/22, o qual estabelece que, para fins de tributação pelo
ICMS, os combustíveis, assim como o gás natural, a energia elétrica, as comunicações e
o transporte coletivo são considerados bens e serviços essenciais e indispensáveis, de
forma que sobre as respectivas operações de comercialização não podem ser fixadas
alíquotas em patamar superior àquela incidente sobre as “[...] operações em geral,
considerada a essencialidade dos bens e serviços”.4
O PLP 18/22 foi aprovado pelas duas casas do Congresso Nacional e, no dia 15
de junho de 2022, encaminhado para sanção presidencial mediante o Ofício nº
417/2022/OS-GSE.5 Para a presente trabalho, interessam os seguintes trechos da
proposição legislativa:
[...]
3
https://valor.globo.com/politica/noticia/2022/06/17/veja-sete-iniciativas-para-tentar-reduzir-os-
precos-dos-combustiveis.ghtml
4
PLP 18
5
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=node01rv3u4cqgcgol1u2ah1
s17pini20732108.node0?codteor=2188570&filename=Tramitacao-PLP+18/2022
elétrica, às comunicações e ao transporte coletivo, para fins de incidência de
imposto de que trata esta Lei Complementar, são consideradas operações de
bens e serviços essenciais e indispensáveis, que não podem ser tratados como
supérfluos.
Como se pode perceber, uma mesma norma foi expressa em dois enunciados,
sendo um inserto no 18, § único, I, do Código Tributário Nacional e outra no art. 32-A,
§ 1º, I, da Lei Complementar nº 87/1996: a proibição de fixação de alíquotas sobre as
operações referentes à comercialização de combustíveis, gás natural, energia elétrica,
comunicações e transporte coletivo em patamar superior ao da alíquota estabelecida
para as “operações em geral”. Em outras palavras: é fixado um “teto” de alíquota de
ICMS sobre tais operações, correspondente à alíquota prevista para as “operações em
geral”. Assim, no caso de Santa Catarina, se observados os termos do PLP 18/22, sobre
as operações com serviços de comunicação, energia elétrica, gasolina automotiva e
álcool carburante incidiria a alíquota de ICMS de 17%, fixada para as “operações em
geral” pelo art. 19, I, da Lei Estadual nº 10.297/1996, e não mais a alíquota de 25%,
prevista para tais operações pelo art. 19, II, “a”, “c” e “d”, da mesma lei (SANTA
CATARINA, 1996).
O PLP 18/22 foi proposto na Câmara dos Deputados, órgão do Poder Legislativo
federal. Uma leitura apressada da Constituição Federal pode levar ao entendimento de
que a competência da União para legislar sobre a matéria estaria prevista no art. 146, II
e III, desse diploma, os quais dispõem que cabe à lei complementar regular as
limitações constitucionais ao poder de tributar (inciso II) e estabelecer normas gerais em
matéria tributária (inciso III). No entanto, essa leitura apressada não resiste a uma
leitura superficial: as limitações constitucionais ao poder de tributar estão listadas nos
arts. 150 a 152, não havendo em tais dispositivos menção alguma à necessidade de
observância de alíquota padrão ou modal – fixada para as “operações em geral” – como
limite para a tributação de bens e serviços essenciais ou indispensáveis – há apenas a
vedação à utilização de tributo com efeito de confisco (art. 150, IV); por sua vez, o
dispositivo que consagra a lei complementar como o instrumento adequado para
estabelecer normas gerais em matéria tributária, traz em si uma norma afirmando que à
lei complementar cabe fixar normas gerais, com o perdão da tautologia. Ora, normas
gerais não podem descer a minúcias, como determinar os elementos do aspecto
quantitativo da hipótese de incidência.
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
[...]
[...]
3. A energia elétrica é item essencial, seja qual for seu consumidor ou mesmo
a quantidade consumida, não podendo ela, em razão da eficácia negativa da
seletividade, quando adotada, ser submetida a alíquota de ICMS superior
àquela incidente sobre as operações em geral. A observância da eficácia
positiva da seletividade – como, por exemplo, por meio da instituição de
benefícios em prol de classe de consumidores com pequena capacidade
econômica ou em relação a pequenas faixas de consumo –, por si só, não
afasta eventual constatação de violação da eficácia negativa da seletividade.
5. Foi fixada a seguinte tese para o Tema nº 745: Adotada pelo legislador
estadual a técnica da seletividade em relação ao Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS), discrepam do figurino constitucional
alíquotas sobre as operações de energia elétrica e serviços de
telecomunicação em patamar superior ao das operações em geral,
considerada a essencialidade dos bens e serviços.
É verdade que o PLP 18/22 vai além do que foi decidido pelo STF ao
julgar o Recurso Extraordinário 714.139. A tese fixada naquela oportunidade limita-se a
dizer que, uma vez adotada a técnica da seletividade em relação ao ICMS, “[...]
discrepam do figurino constitucional alíquotas sobre as operações de energia elétrica e
serviços de telecomunicação em patamar superior ao das operações em geral,
considerada a essencialidade dos bens e serviços” (BRASIL, 2021), ao passo que o PLP
18/22 introduz no Código Tributário Nacional e na Lei Complementar 87/1996
dispositivos vedando a definição de alíquota superior à padrão para combustíveis, gás
natural, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo (arts. 18-A e 32-A,
respectivamente (BRASIL, 2022). Portanto, pode-se questionar o ajuste da proposição
legislativa ao entendimento do STF no que concerne aos combustíveis, ao gás natural,
ao transporte coletivo e até mesmo aos serviços de comunicação que não se subsumam
ao conceito de telecomunicação.