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Voto PGE 5549
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PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO
CONSELHO SUPERIOR
VOTO
Excelentíssimo Presidente,
Colendo Conselho,
1. BREVE RETROSPECTO
Trata-se de proposta de acordo judicial entre “Philips Medical Systems Nederland B.V.” e
o Estado de Santa Catarina, formulada nos autos nº 0309928-57.2018.8.24.0023, em trâmite na
1ª Vara da Fazenda Pública da Comarca da Capital, com a finalidade de pôr fim a litígio
envolvendo a aplicação de sanção por inadimplemento contratual.
O processo judicial nº 0309928-57.2018.8.24.0023 iniciou-se por ação judicial movida por
Philips Medical Systems visando à declaração de nulidade de ato administrativo de imposição de
multa no percentual de 20% do contrato entabulado por ela com o Estado de Santa Catarina.
Segundo consta na petição inicial, a referida empresa teria firmado, em 23 de maio de 2011,
contrato com o ente público para fornecimento de equipamento de ressonância magnética,
acompanhado de vários acessórios, ao Hospital Governador Celso Ramos (HGCR). Devido a um
atraso na conclusão de obras necessárias para a instalação do equipamento, atraso este
imputável ao Estado de Santa Catarina, a colocação do aparelho de ressonância no hospital
somente se teria tornado possível posteriormente, ocorrendo tão somente em 30 de setembro de
2016. Além do aparelho, a empresa teria resosto vários acessórios que, entregues dentro do
prazo originalmente fixado, haviam-se desgastado com o decurso do tempo.
Ainda conforme a inicial, após a instalação do equipamento de ressonância houve a
abertura de processo administrativo de aplicação de penalidade contra a empresa Philips, em
virtude de danos causados ao piso e à pintura do HGCR durante a entrega do material. A própria
empresa teria promovido a troca do piso vinílico danificado e manifestado a sua disposição em
reparar os prejuízos relativos à pintura, orçados em R$ 5.543,86. Contudo, apesar disso, teria
havido a instauração de processo administrativo para que fosse aplicada uma sanção por
inadimplemento, e para que fossem cobradas as quantias gastas com a pintura do HGCR, tendo
sido a empresa Philips notificada em 18 de outubro de 2017 para apresentar defesa prévia.
Posteriormente, a empresa teria sido notificada para proceder à manutenção preventiva do
equipamento e à substituição de acessórios necessários ao seu uso – eletrodos, seringas de
bomba injetora, bateria. Apesar das razões apresentadas em sua defesa, o processo
administrativo teria culminado com a imposição de multa no valor de R$ 946.943,79, equivalente a
20% do valor do contrato, e com a determinação de ressarcimento do valor de R$ 5.543,86.
Em decisão liminar, o juízo deferiu a antecipação de tutela pretendida pela empresa
Philips e determinou a suspensão do valor cobrado a título de multa, bem como a suspensão de
quaisquer atos de inscrição em dívida ativa, além da suspensão de inscrição da empresa, por
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2. FUNDAMENTAÇÃO
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pela realização de um acordo cujo valor se situe entre as duas quantias acima mencionadas. (pp.
1.328-1.329)
Em caso semelhante ao presente, assim decidiu o Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul:
APELAÇÃO. LICITAÇÃO E CONTRATO ADMINISTRATIVO. AÇÃO ORDINÁRIA.
DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL. APLICAÇÃO DE MULTA DE 10%
INCIDENTE SOBRE O VALOR ATUALIZADO DO CONTRATO. EXAME DA
PENALIDADE À LUZ DOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA
RAZOABILIDADE. DESPROPORÇÃO ENTRE O DESCUMPRIMENTO
CONTRATUAL HAVIDO E A PENALIDADE APLICADA VERIFICADA.
REDUÇÃO DA MULTA A 4% DO VALOR DO PACTO MANTIDA. A penalidade
deve guardar proporcionalidade com o descumprimento contratual ocorrido e
admite gradações, ainda que não expressamente previstas no pacto. Importa
analisar, assim, o objeto do contrato entabulado entre as partes e quanto houve de
efetivo descumprimento para, então, sopesar a proporcionalidade da multa
aplicada. No caso, o contrato firmado entre as partes previa a instalação de porta
giratória, aparelhos de ar-condicionado (17 unidades de variada especificação e
preço), gabinete de ventilação e mini-ventilador. Dentre os aparelhos de ar-
condicionado instalados pela apelada, cinco apresentaram problemas de
funcionamento e, ainda que tenha ocorrido demora nos reparos, foi observada a
cláusula de garantia dos produtos. Possível concluir, como o fez o magistrado a
quo, que o descumprimento contratual foi mínimo em relação à extensão da obra,
havendo de ser mantida a redução da multa a 4% do valor do contrato. APELO
DESPROVIDO. UNÂNIME.
(Apelação Cível, Nº 70072474307, Vigésima Segunda Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Denise Oliveira Cezar, Julgado em: 08-06-2017)
No presente caso, conquanto tenha havido falhas no adimplemento do contrato, o
descumprimento não comprometeu a finalidade precípua do contrato, que era a entrega do
equipamento de ressonância magnética, de forma que a aplicação de multa no percentual de 20%
sobre o valor total da avença caracterizou uma medida desproporcional. Em rigor, a multa deveria
ser aplicada no percentual de 0,33% por dia de atraso na entrega dos acessórios faltantes, até o
limite de 9,9%, calculado sobre o valor da parte inadimplida do contrato, nos termos do art. 110, I,
do Decreto Estadual nº 2.617/2009.
Configurada a excessividade da penalidade aplicada à Interessada, e,
consequentemente, a viabilidade da demanda judicial por ela movida, revela-se conveniente a
aprovação do acordo firmado entre a Interessada e o Estado de Santa Catarina, no valor de R$
200 mil, dando-lhe eficácia para encerrar a lide relativa aos autos nº 0309928-57.2018.8.24.0023.
3. DECLARAÇÃO DE VOTO
Ante o exposto, voto favoravelmente à aprovação do acordo entabulado entre o Estado
de Santa Catarina e a Interessada Philips Medical Systems Nederland B.V. em 7 de dezembro de
2022, conforme Termo da p. 1.352 destes autos.
É o voto.
Procurador do Estado