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NCCJR oie EsTADO DE MATo Grosso Rut ‘ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO Grosso Secretaria Parlamentar da Mesa Diretora Nacleo COIR Comissao de Constituiggo, Ju ica e Redaco Parecer N.° $53/2023/CCIR Referente ao Projeto de Lei N. ° 902/2023 que “Torna obrigatério constar nos exames de pré-natal o teste HTLV para as gestantes.”. Autor: Deputado Dr. Joao Relator (a): Deputado (a) 4, Li span. Woes rah Relatorio A presente iniciativa foi recebida e registrada pela Secretaria de Servigos Legislativos no dia 15/03/2023 (f1. 02), sendo colocada em 1* pauta no mesmo dia, tendo seu devido cumprimento no dia 29/03/23 (fl. 05/verso). O projeto em refi HTLV para as gestantes. incia visa tornar obrigat6rio constar nos exames de pré-natal o teste O Autor em justificativa informa: “O HTLV é um retrovirus da mesma familia do virus que provoca a Aids, sé que relacionado a complicagdes mais especificas como linfomas, leucemia e doengas neurolégicas. Estudo desenvolvido por uma equipe de pesquisadores e médicos brasileiros em parceria com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), sobre infecgdo pelo virus HTLV 1 ¢ 2 em mulheres fluminenses, foi divulgado pela revista Plos Medicine. A Plos é uma das revistas de divulgagao cientifica mais conceituadas do mundo. © estudo analisou 1.200 mulheres que deram entrada no Hospital Estadual da Mae (HEM), em Mesquita. Entre elas, foram verificados oito casos da doenga, o que é considerado um nimero bastante alto, “S6 para termos ideia, no HEM sao quase 600 partos por més. Separamos 1.200 pacientes em trabalho de parto e fizemos o teste. Se essa proporgiio encontrada se confirmar, teriamos quatro novos casos por més de uma doenga que nao é nem testada”, diz. um dos participantes da pesquisa e diretor do HEM, 0 médico Sérgio Teixeira, que considera a obrigatoriedade do teste durante © pré-natal um assunto essencial. ‘Av. André Anténio Maggi, N. ° 06, Setor A — CPA — CEP: 78049-901 — Cuiaba — MT (TT/KG) As Pg. 1/19 « EsTADO DE MATO Grosso ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GRosso Secretaria Parlamentar da Mesa Diretora Nucleo COR Comissio de Constituiga0, Justiga e Redaco Entre os casos verificados, sete siio do virus tipo 1 e um do virus tipo 2. Os médicos envolvidos na pesquisa ressaltaram que esse ntimero é bastante significativo e o teste para HTLV deve se tomar obrigatério durante o pré-natal, para evitar a contaminagao dos bebés. Hoje em dia somente o teste para sifilis e 0 proprio HIV sio obrigat6rios durante a gravidez. Também, Teixeira diz que diferentemente do HIV, contra o qual hi coquetéis para combate direto, o HTLV & pouco estudado e nao hd nenhum tipo de droga voltada para seu tratamento. Assim, s6 & possivel tratar as doengas relacionadas ao virus. “Como nao ha tratamento, a melhor forma atual de combatermos a doenga é evitar que as pessoas se contaminem. No caso das grividas, é importante identificé-lo porque a contaminago acontece mais comumente através da amamentagio, ndo durante a gravidez. Os exames s6 sio feitos quando a paciente tem alguma das doengas relacionadas, como o linfoma e a leucemia, No sistema piblico, o teste niio 6 obrigatério" Além disso, constam relevantes informag6es sobre o tema na pagina da Universidade Federal da Bahia, vejamos: “Todo mundo ja ouviu falar do HIV, o virus da aids. Mas, na verdade, 0 primeiro retrovirus humano causador de infecgdes e de edncer descrito é 0 H TLY (ou Virus T-Linfotr6pico Humano), no inicio da década de 1980. E nao se engane: apesar de pouco conhecido, ele nao é uma raridade e pode provocar problemas sérios.”. Hoje, estima-se que de 10 a 20 milhdes de pessoas em todo o planeta estejam infectadas com 0 HTLV. Apesar da transmissio ocorrer em diversas partes do mundo, sua prevaléncia varia segundo a localizagao geografica, raciais e grupos populacionais mais expostos aos fatores de risco. No Brasil, estima~ se que 800 mil individuos carregam o virus. Formas de contagio: A transmissiio do HTLV ocorre da mae infectada para o recém- nascido (Transmissio Vertical), principalmente pelo alcitamento materno. Outras formas de infecgao so a via sexual desprotegida (sem camisinha) com uma pessoa infectada eo compartilhamento de seringas e agulhas. Sinais e sintomas: A maioria das pessoas infectadas pelo HTLV nao apresentam sinais e sintomas durante toda a vida. Dos infectados pelo HTLV, 10% apresentaraio algumas doengas associadas a esse virus, entre as quais podem-se citar: doengas neurol6gicas, oftalmolégicas, dermatolégicas, urolbgicas ¢ hematolégicas (ex.: leucemia/linfoma associada ao HTLV). Tratamento: O tratamento é direcionado de acordo com a doenga relacionada ao HTLY, A pessoa deverd ser acompanhada nos servigos de satide do SUS e, quando necessirio, receber seguimento em servigos especializados para diagnéstico e tratamento precoce de doengas associadas ao HTLV. Preveng&io: E recomendado o uso de preservativo masculino ou feminino (disponiveis gratuitamente na rede publica de satide) em todas as relagdes sexuais, € © ndo compartithamento de seringas, agulhas ou outro objeto cortante. Da mesma forma, a amamentagao esta contraindicada (recomenda-se 0 uso de inibidores de lactagdo e de formulas lacteas infantis)”. ‘Av. André Antonio Maggi, N. ° 06, Setor A— CPA — CEP: 78049-901 ~ Cuiabé — MT (TT/KG) |NCcur jFes _ EsTADO DE MATO Grosso. Ru Ze Z| ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO Grosso Secretaria Parlamentar da Mesa Diretora Nucleo COIR Comissao de Constituicao, Justica e Redagio Por fim, a matéria em comento é tema do Projeto de Lei n° 6431/2022 da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro e da Lei n? 17.431, de 14 de outubro de 2021, da Assembleia Legislativa do Estado de Sao Paulo. Ante a inegivel relevancia da matéria, visando garantir a seguranga das gestantes ¢ dos nascituros, pedimos aos nobres pares apoio para aprovacdo da_ presente propositura.”. Uma vez cumprida a primeira pauta, o projeto de lei foi encaminhado para a Comissa0 de Satide, Previdéncia e Assisténcia Social em 03/04/2023 (fl. 05/verso). A Comissao opinou por sua aprovagai (fs. 06-17), tendo sido aprovado em 1. votago no Plendrio desta Casa de Leis no dia 24/05/2023 (fl. 17/verso). ‘Na sequéncia a proposigao seguiu para colocagao em 2* pauta no dia 24/05/2023, com seu cumprimento ocorrendo em 31/05/2023, sendo que na data de 01/06/2023 os autos foram encaminhados a esta Comissao, tendo a esta aportado no mesmo dia, tudo conforme a fl. 17/verso. No Ambito desta Comissio de Constituigao, Justiga ¢ Redagiio, esgotado o prazo regimental, nao foram apresentadas emendas e/ou substitutivos, estando, portanto, o projeto de lei em questo, apto para anélise e parecer quanto ao aspecto constitucional, legal e juridico. Eo relatério. Il- Anilise IL L. - Atribuigées da CCJR Cabe 4 Comissiio de Constituigao, Justica e Redagdio — CCIR, de acordo com 0 artigo 36 da Constituigao do Estado de Mato Grosso, e artigo 369, inciso I, alinea “a”, do Regimento Interno desta Casa de Leis, opinar quanto ao aspecto constitucional, legal, juridico e regimental em todas as proposigdes oferecidas a deliberago da Casa. Assim sendo, no ambito desta CCJR 0 exame da proposigao buscard verificar, inicialmente, se a matéria legislativa proposta se encontra dentre aquelas autorizadas pela Constituig3o Federal aos Estados-Membros, a fim de se evitar a incidéncia de vicio de Ay, André Antonio Maggi, N.° 06, Setor A — CPA — CEP: 78049-901 — Cuiabi— MT (TT/KG) Z Pg. 3/19 Dien EsTADO DE MATO Grosso ‘ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO Grosso Secretaria Parlamentar da Mesa Diretora Nucleo COIR Comissao de Constituigao, Justica e Redac3o inconstitucionalidade formal orgénica, que ocorre quando lei estadual disciplina matéria de competéncia da Unido ou dos Municipios. ‘Num segundo momento, analisar-se-4 a constitucionalidade formal da proposigao em face das disposigdes estabelecidas pela Constituig’o Federal ¢ pela Constituigao Estadual, de modo a se preservar a proposigao de eventual vicio formal subjetivo, caracterizado pela inobservancia das regras de iniciativa reservada, ou vicio formal objetivo, que se consubstancia nas demais fases do processo legislativo. Ademais, esta Comissio apreciara a constitucionalidade material da propositura, mediante a averiguagdo da compatibilidade entre o contetido do ato normativo ¢ os prineipios e regras estabelecidas pela ordem juridica constitucional. Derradeiramente, realizar-se-4 a anilise da juridicidade, legalidade ¢ respeito - da proposta - 20 regimento interno desta Casa, de forma que a proposigio esteja alinhada com 0 ordenamento juridico, as decisées dos Tribunais Superiores e as demais formalidades do Regimento Interno da ALMT. Assim consta da proposta, em seu corpo: “Art. 1° E obrigatério constar nos exames de pré-natal, realizados em Mato Grosso, o teste HTLV para as gestantes. Art. 2°~ Esta Lei entra em vigor na data de sua publicagai ILI — Da (s) Preliminar (es); Nao hé preliminares a serem analisadas, sejam elas na modalidade de substitutivos, emendas ou apensos. ‘Ay, André Ant6nio Maggi, N. ° 06, Setor A - CPA — CEP: 78049-901 — Cuiabi — MT (TT/KG) y Pg. 4/19 ofl EsTADO DE MATO Grosso ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GRosso Secretaria Parlamentar da Mesa Diretora Nacleo CCR Comissio de Con: uig&0, Justiga e Redagdo ILI - Da (In) Constitucionalidade Formal Quanto a Repartigdo de competéncias na Constituig&o de 1988, o tema foi resolvido com apelo a uma reparti¢go tanto horizontal como vertical de competéncia, Isso, tanto no que concemne as competéncias legislativas (competéncias para legislar) quanto no que respeita as competéncias materiais (competéncias de ordem administrativa). A Constituigdo Federal efetua a reparticéo de competéncias em seis planos: 1) competéncia geral da Unio; 2) competéncia de legislagio privativa da Unido; 3) competéncia relativa aos poderes reservados dos estados; 4) competéncia comum material da Unido, estados-membros, do distrito federal e dos municipios (competéncias concorrentes administrativas); 5) competéncia legislativa ‘concorrente; 6) competéncias dos municipios; (...) A COMPETENCIA PRIVATIVA da Unio para legislar esta listada no art. 22 da CF. Esse rol, entretanto, nao deve ser tido como exaustivo, havendo outras tantas competéncias referidas no art. 48 da CF. Assim, por exemplo, as leis para 0 desenvolvimento de direitos fundamentais - como a que prevé a possibilidade de quebra de sigilo das comunicagdes telefonicas (art. 5°, XII) (...) (MENDES, Gilmar Ferreira, Curso de Direito Constitucional / Gilmar Ferreira Mendes; Paulo Gonet Branco, - 15. ed. - Sao Paulo: Saraiva Educagao, 2020 - (Série IDP) p. 933). Destacamos. O pardgrafo ‘inico do artigo 22 prevé a possibilidade de lei complementar federal vir a autorizar que os Estados-membros legislem sobre questdes especificas de materias relacionadas no artigo. (...) E formalmente inconstitucional a lei estadual que dispde sobre as_matérias enumeradas no art. 22, se nfo houver autorizago adequada a tanto. (MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional / Gilmar Ferreira mendes: Paulo Gonet Branco. - 15. ed. - Sao Paulo: Saraiva Educagao, 2020 - (Série IDP) p. 934 Em relagdo a terminologia, quando se diz Competéneia privativa difere-se - as vezes - do significado de competéncia exclusiva - parte da doutrina emtende haver uma divisdo, onde as competéncias exclusivas sfio aquelas nao delegaveis, enquanto as privativas poderiam- sé-la (Artigo 21 da C.F. exclusiva da Unido; e Artigo 22 privativa). Parte da doutrina, porém, entende que os termos podem ser usados com o mesmo sentido. ‘Ay. André Ant6nio Maggi, N. ° 06, Setor A — CPA — CEP: 78049-901 — Cuiaba— MT (TT Pg, 5/19 Dx EsTADO DE MaATO Grosso ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GRosso Secretaria Parlamentar da Mesa Diretora Nacleo CCIR Comissao de Constituicgo, Justiga e Redacdo Quanto 4 COMPETENCIA LEGISLATIVA CONCORRENTE. pode-se dizer, de acordo com a doutrina especializada, que & um condominio legislativo, de que resultardio normas gerais a serem editadas pela Unido e normas especificas, a serem editadas pelos Estado-membros. O Art. 24 da Lei Maior enumera as matérias submetidas a essa competéncia coneorrente (..) Os Estados-membros e o Distrito Federal podem exercer, com relagiio as normas gerais, competéncia suplementar (art. 24§ 2°), o que significa preencher claros, suprit lacunas. Nao ha falar em preenchimento de lacuna, quando o que os Estados ou 0 Distrito Federal fazem é transgredir lei federal ja existente. (...) Quando da falta completa da lei com normas gerais, 0 Estado-membro pode legislar amplamente, para suprir, assim, a inexisténcia do diploma federal. (...) Pode-se dizer que 0 propésito de se entregar & Unido a responsabilidade por editar normas gerais se liga a necessidade de nacionalizar o essencial, de tratar uniformemente o que extravasa o interesse local (MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional / Gilmar Ferre Mendes; Paulo Gonet Branco. - 15. ed. - Sao Paulo: Saraiva Educagao, 2020 - (Série IDP) p. 936-937). Destacamos. Quando da andlise da Constitucionalidade da Proposta Legislativa, deve-se verificar sua submissio tanto sob 0 quesito formal quanto o material. Sobre vicios quanto 4 Constitucionalidade Formal, diz a doutrina: A inconstitucionalidade formal tanto pode ser fruto de um processo legislative ilegitimo (seja por vicio de iniciativa, seja por quaisquer outros, vicios do seu proceso de formacdo), quanto pelas, ex. usurpacdo ou falta de competéncia do poder dos entes federados. (...) ‘em linhas gerais, a inconstitucionalidade formal tanto poder ser fruto de um processo legislativo ilegitimo (seja por vicio de iniciativa, seja por quaisquer outros, vicios do seu processo de formagdo), quanto pelas, ex. usurpagaio ou falta de competéncia do poder dos entes federados (...) De tudo se vé, por conseguinte, que inconstitucionalidade formal tem duas dimensOes: uma atrelada as diferentes fases do processo legislativo de formacao das espécies normativas (fase de iniciativa, fase de deliberagio parlamentar, fase de deliberacdo executiva, fase de promulgacao ¢ fase de publicagao) ¢ a outa vinculada a0 pacto federativo e suas regras de competéncia, edificadas sob a égide do principio da predominancia do interesse, sem nenhum tipo de hierarquizagdo entre os entes federados. (...) Assim, quando se trata de inconstitucionalidade formal propriamente dita (refere-se 08 vicios do processo legislativo) e quando se trata de inconstitucionalidade formal orgénica (esti a se falar dos vicios da repartigéo de competéncias dos entes federativos. (..) Ay. André Ant6nio Maggi, N. ° 06, Setor A — CPA — CEP: 78049-901 — Cuiabi — MT (T1/KG) Pg. 6/19 De EsTapo DE Mato Grosso ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE Mato Grosso Secretaria Parlamentar da Mesa Diretora Nucleo COIR Comisséo de Constituicdo, Justiga e Redacdo Em esséncia, 0 vicio formal decorre das circunstancias que destespeitam as normas referentes & elaboragdo das espécies normativas, bem como das normas que regulam a distribuigao de competéncia no ambito do federalismo pat (MELLO, Cleyson de Moraes, Guilherme Sandoval Goes. Controle de Constitucionalidade - 2* edigao. Rio de Janeiro: Proceso 2021, fls 96-97). Destacamos. Inicialmente, é necessério destacar que a proposigdo trata do tema protegiio e defesa da satide, sendo assim, estamos diante de matéria que se encontra no rol de competéncia legislativa concorrente entre a Unido e os estados, cabendo 4 Uniti editar as normas gerais ¢ aos estados suplementa-las, exercendo a competéncia legislativa plena (supletiva) em caso de auséneia de norma geral federal, nos termos do artigo 24, inciso XII, da Constituigao Federal, in verbis: “Art. 24. Compete Unitio, aos Estados e ao Dist concorrentemente sobre: Federal legislar XII - previdéncia social, protegdo e defesa da satide;”. () § 1° No Ambito da legislagio concorrente, a competéncia da Unido limitar-se-& a estabelecer normas gerai § 2° A competéncia da Unido para legislar sobre normas gerais ndo exclui a competéncia suplementar dos Estados. § 3° Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerdio a competéncia legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. Notadamente, a presente propositura enquadra-se na competéncia residual dos estados, pois 0 que nao for da competéncia de outro ente da federagao e nao houver vedagio legal, competiré ao Estado legislar, conforme preceitua o art. 25, § 1° da Constituigiio Federal. Jn verbis: Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituigdes € leis que adotarem, observados os principios desta Constituigao. § 1° Sio reservadas aos Estados as competéncias que nao Ihes sejam vedadas por esta Constituigao. Neste sentido, ha repartigiio de competéncias da matéria entre a Unido ¢ os Estados, de modo que a tematica da protegdo e defesa da satide se mostra como de competéncia ¢ responsabilidade de cada unidade da federagao, portanto, nfo ha de se falar em vicio de ‘Av. André AntOnio Maggi, N. ° 06, Setor A— CPA — CEP: 78049-901 ~ Cuiabé — MT (TT/KG) Pe. 7/19 [NccuR a5 =Slc EsTapo DE Mato Grosso rue ¥ | ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GRosso Secretaria Parlamentar da Mesa Diretora Nacleo COR Comissio de ConstituicSo, Justiga e Redaciio competéncia legislativa, vez que a matéria est nos limites do poder a ser exereido pelo Estado- membro, Cumpre destacar que a nivel infraconstitucional a Lei 8.060/1990 (Lei do SUS), em seu artigo 2°, §1°, estabelece a satide como direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condigdes indispensdiveis ao seu pleno exercicio, estimulando politicas que visem a redugao de riscos de doengas ¢ de outros agravos. Ainda referente a normas gerais, @ Unio publicou a Lei Federal n° 8.080/1990 que “Dispde sobre as condigdes para a promogio, protegdo e recuperagio da satide, a organizagao e 0 funcionamento dos servigos correspondentes e di outras providéncias”, que em seu artigo 2°, § 1°, determina ser dever do Estado (Unido, Estados-membros e Municipios) a atribuigio de garantir a satide, o que consiste na formulago e execugiio de politicas sociais que visem & redugo de riscos de doengas. Desse modo, resta evidente que pode o Estado de Mato Grosso exerver sua competéncia legislativa suplementar para tratar da matéria objeto desta proposigio. Doutro norte, no que tange iniciativa para propositura tem-se que a Constituigdo Federal, assim como a Constituigdo Estadual reservou a independéncia dos Poderes, expressamente previsto nos artigos 2° e 9°, Nesse contexto, nenhum dos Poderes Constituidos, seja Executivo, Judiciario e Legislativo, pode interferir no funcionamento do outro, em harmonizagao dos Poderes, sob pena de violag3o do Prinefpio da Separagtio dos Poderes (art. 2°) Constituigio Federal “Art, 2° Sdo Poderes da Un 0 Executivo e 0 Judiciario.” (0, independentes ¢ harm6nicos entre si, o Legislativo, Constituigao Estadual “Art. 9° Sao Poderes do Estado, independentes, democriticos, harménicos entre si e sujeitos aos principio estabelecidos nesta Constituigao ¢ na Constituigao Federal, 0 Legislativo, 0 Executivo ¢ 0 Judiciério. Pardgrafo tinico. E. vedada a qualquer dos Poderes a delegagaio de competéncia.”. Av, André Ant6nio Maggi, N.° 06, Setor A - CPA — CEP: 78049-901 — Cuiaba — MT (TT/KG) d. Pg, 8/19 - EsTADo DE MaTo Grosso. ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO Grosso Secretaria Parlamentar da Mesa Diretora Nucleo CCR Comissao de Constituigdo, Justica e Redacao Logo, importante se faz ressaltar que a propositura nfo esta inserida no rol de iniciativa teservada ou concorrente (em sentido estrito), tratando-se, por exclusio, de projetos de lei de iniciativa geral ou comum, conforme estabelece o artigo 39 da Constituig&o do Estado de Mato Grosso em consondncia com o art. 61 da Constituigtio Federal, in litteris: Constituigio Estadual “Art. 39 A iniciativa das leis complementares e ordindrias cabe a qualquer membro ou Comissio da Assembleia Legislativa, a0 Governador do Estado, ao Tribunal de Justiga, a Procuradoria Geral de Justiga, a Procuradoria Geral do Estado e aos cidadaos, na forma ¢ nos casos previstos nesta Constituigao. (A expressio “a Procuradoria-Geral do Estado” foi declarada inconstitucional, em controle concentrado, pelo Supremo Tribunal Federal, pela ADI n° 291-0, julgada em 07.04.2010, publicada no DJE em 10.09.2010)”. Constituigio Federal “Art. 61. A iniciativa das leis complementares ¢ ordinarias cabe a qualquer membro ou Comissio da Cémara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congreso Nacional, ao Presidente da Republica, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da Repiblica e aos cidadaos, na forma e nos casos previstos nesta Con: io.”. Assim, verifica-se que a presente iniciativa no representa invasiio de esfera de competéncia privativa do Chef do Poder Executivo Estadual, uma vez que nio cria atribuigdes, nao implica na criagao de cargos ou alteragdo da estrutura da administragdo publica, razio pela qual a proposigilo no possui reserva de iniciativa, podendo os integrantes do Parlamento deflagrar o inicio do processo legislative. Superada a questo da competéncia, onde resta claro a legitimidade do legislador para deflagrar 0 processo legislativo, temos ainda que a criagio de uma politica publica a ser inserida nas atribuigdes ja fixadas para um érgio ja existente nio invade a competén ativa do Chefe do Executivo, No julgamento da ADI 5.293/SC, o STF entendeu inexistir vicio de inconstitucionalidade formal em lei estadual, de autoria parlamentar, que tratava de assisténcia a vitimas ineapacitadas por queimaduras graves, in verbis: ‘Ay, André Antonio Maggi, N. ° 06, Setor A ~ CPA — CEP: 78049-901 — Cuiaba - MT (TT/KG) — Pg. 9/19 oO EsTapo be MATo Grosso ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO Grosso Secretaria Parlamentar da Mesa Diretora Nucleo COIR Comissao de Constituigao, Justica e Redaco Lei 16.285/2013, de Santa Catarina. (...) Os arts. 1°, 4°, 6° e 7° da lei impugnada nao afrontam a regra, de reproduedo federativamente obrigatéria, que preserva sob a autoridade do chefe do Poder Executivo local a iniciativa para iniciar leis de criaga0 c/ou extingdo de ministérios e 6rgaos da administraeao piblica (art. 61, § 1°, Ile, da CF). Mera especificagao de quais cuidados médicos, entre aqueles jé contemplados nos padres nacionais de atendimento da rede publica de satide, devem ser garantidos a determinada classe de pacientes (portadores de sequelas graves causadas por queimaduras). [ADI 5.293, rel. min. Alexandre de Moraes, j. 8-11-2017, P, DJE de 21-11-2017, Neste ponto, importante transcrevermos alguns trechos do brilhante voto do relator Ministro Alexandre de Moraes: “Diferentemente do que sustentado, os artigos 1°, 4°, 6° © 7° da lei estadual impugnada nao chegaram a promover inovagSes na realidade organica do Executivo local, seja pela criago de novos cargos, servigos ou mesmo obrigagdes. As normas ‘em exame cuidaram apenas de especificar quais os cuidados médicos, dentre aqueles Jj providos ordinariamente pela rede piiblica de saiide, deveriam ser garantidos a determinada classe de pacientes (portadores de sequelas graves causadas por queimaduras), tendo em vista a situagao de vulnerabilidade por eles experimentada G2) As medidas de assisténcia e de reabilitago previstas nos arts. 4° a 6° do diploma catarinense decorrem do dever de recuperar plenamente a saiide dessas pessoas, 0 qual & imposto pela Constituigdo a todos os entes federativos, de forma solidéria (Como decorréncia direta do regime constitucional de tutela estatal integral e universal da satide). A expresso ‘atendimento integral’, contida no art. 198, II, da CReno art. 7°, Il, da Lei 8.080/1990, deve ser interpretada de forma a abranger todo procedimento ou servigo curativo exigido para restabelecer a saiide de pessoas vitimas de queimaduras que acarretem sequela grave. (...) Os dispositivos previstos nos arts. 1°; 4°; ¢ 6° da Lei estadual 16.285/2013 caminham ao encontro dessa logica de atendimento integral, estabelecendo de maneira concreta quais os modelos de atendimento devem ser observados para viabilizar a assisténcia adequada a portadores de consequéncias graves causadas por queimaduras. (..) Na medida em que os arts. 1°; 4°; 6° e 7° da Lei 16.285/2013 veicularam padrées de atendimento médico absolutamente consenténeos com aqueles que jé sio contemplados em diversas outras referéncias do ordenamento federal, incluindo preceitos de hierarquia constitucional que sintetizam o dircito fundamental a saiide, no ha como identificar qualquer vicio de origem na lei estadual em exame. Além de n&o violarem a iniciativa do Govemador do Estado para dispor sobre organizacao ¢ funcionamento da Administragao local, as normas dos arts. 1°; 4°; 6° e 7° da lei catarinense igualmente nao violam os preceitos orgamentdrios indicados na inicial (arts. 165; 167, Le II; ¢ 169, § 1°, da CF). E que, diversamente do que sustentado pelo requerente, os projetos de lei subscritos por parlamentares nao so Av. André Antoi Maggi N. ° 06, Setor A — CPA — CEP: 78049-901 — Cuiaba - MT (TTIKG) Pg, 10/19 NCCUR 1s 23 a5 ESTADO DE MATO Grosso | Ne ek] ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO. Se! Secretaria Parlamentar da Mesa Diretora Nicleo CCR Comissao de Con: igo, Justica e Redacio necessariamente neutros em termos financeiros, sendo perfeitamente possivel que eles tenham projegdes nas despesas pilblicas. E relevante observar, a propésito, que a prevaléncia da tese do requerente teria 0 efeito de tolher significativamente a abrangéncia da atividade parlamentar como um todo (...) O entendimento veio a ser recentemente reafirmado pelo Plenério desta Suprema ‘Corte em caso com repercussao geral (ARE 878.91 1, Rel. Min. GILMAR MENDES, Die de 10/10/2016), em que se assentou a tese de que: “Nao usurpa competéncia privativa do Chefe do Poder Executivo lei que, embora crie despesa para a Administrag2o, nfo trata da sua estrutura ou da atribuigio de seus Sraiios nem do regime juridico de servidores piblicos (art. 61, § 1°,1,"a", "c" ¢ "e", da Constituigdio Federal)” Por esses motivos, a proposta ¢ apropriada ¢ muito relevante, tratando de dircito constitucional A tutela integral e universal a satide. No mais, a Carta Estadual determina ainda que cabe 4 Assembleia Legislativa dispor sobre todas as matérias de competéncia do Estado, conforme dispde seu artigo 25: “Art. 25 Cabe & Assembleia Legisl: no exigida esta para o especificado ‘competéncia do Estado, especialmente: com a sangao do Governador do Estado, o art, 26, dispor sobre todas as matérias de Ante 0 exposto, restando observadas as competéncias Constitucionais para a propositura, tramitagdo e objeto, dentre outras, resta formalmente constitueional a proposigao. ILIV - Da (In) Constitucional lade Material; No que diz respeito constitucionalidade material, a doutrina especializada faz as seguintes ~ ¢ relevantes — consideragdes: © controle material de constitucionalidade é delicadissimo em raziio do elevado teor de politicidade de que se reveste, pois incide sobre 0 conteiido da norma. Desce ao fundo da lei, outorga a quem o exerce competéncia com que decidir sobre o teor e a matéria da regra juridica, busca acomodé-la aos cAnones da Constituigdo, ao seu espirito, sua filosofia, aos seus principios politicos fundamentais. E controle criativo, substancialmente politico. (...) ‘Av. André Anténio Maggi, N. ° 06, Setor A — CPA — CEP: 78049-901 ~ Cuiabé ~ MT (TT/KG) Lge Pe. 11/19 Sen EsTADO DE MATO Grosso. ran F | ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO Grosso Secretaria Parlamentar da Mesa Diretora Nicleo CCR Comissio de ConstituicS0, Justica e Redacao Sem esse reconhecimento, jamais sera possivel proclamar a natureza juridica da Constitui¢do, ocorrendo em eonsequéncia a quebra de sua unidade normativa, no ha uma constituig20, como disse 0 nosso Rui Barbosa, proposigdes ociosas, sem forga cogente, (Bonavides, Paulo, Curso de Direito Constitucional -31. ed., atual - Sao Paulo: Malheiros, 2016, p. 306) Guilherme Sandoval Gées, em sua obra Controle de Constitucionalidade, citando a obra de Gilmar Mendes ¢ outro, traz a seguinte definigao da doutrina quanto a (in) constitucionalidade material: inconstitucionalidade material, também denominada de inconstitucionalidade de contetido ou substancial, esta relacionada a “matéria” do texto constitucional, ao seu contetido juridico-axiolégico, (...) A inconstitucionalidade material envolve, porém, nao s6 0 contraste direto do ato legislativo com o pardmetro constitucional, mas também a aferigiio do desvio de poder ou do excesso de poder legislativo. Assim sendo, destaca o eminente jurista que a doutrina identifica como tipica manifestagdo do excesso de poder legislativo a violagdo do principio da proporcionalidade ou da proibigdo de excesso, que se revela mediante contrariedade, incongruéncia, e irrazoabilidade ou inadequagio entre meios ¢ fins. No direito constitucional alemao, outorga-se ao prineipio da proporcionalidade ou 20 principio da proibieao de excesso, qualidade de norma constitucional nfo escrita, derivada do Estado de Direito, Dessa forma, para além da costumeira compreensio do prinefpio da proporcionalidade como proibigdio de excesso, hd uma outra faceta desse principio, a qual abrange (...) a proibigao de protegao insuficiente de determinada garantia constitucional) MENDES, 2012, p. 1013-5) (grifos nossos). (MELLO, Cleyson de Moraes, Guilherme Sandoval Gées. Controle de Constitucionalidade. Rio de Janeiro: Proceso, 2021.fls. 90/92) Nesse sentido, assim define o Ministro do Supremo Tribunal Federal Luis Roberto Barroso: (..) E mais: com a devida atengdo observe que a inconstitucionalidade material (ofensa ao conteiido da constituigdo) representa um vicio insandvel, vale dizer, essa norma sempre seré considerada inconstitucional, mesmo que tenha cumprido rigorosamente todas as etapas formais do processo legislative. Ou seja, a inconstitucionalidade material, diferentemente da formal, diz respeito ao mérito conteudistico da Carta Apice, nao podendo, por via de consequéncia, ser sanada. (...) Outro aspecto central da inconstitucionalidade material envolve a aferigao do desvio de poder ou do excesso de poder legislative a partir da aplicagao do prinefpio da Av, André Ant6nio Maggi, N. ° 06, Setor A — CPA — CEP: 78049-901 — Cuiabé — MT (TT/KG) J Pg, 12/19 1 EsTapo DE MATO Grosso ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO Grosso Secretaria Parlamentar da Mesa Diretora Nacleo COIR Comissao de Constituicdo, Justiga e Redagdo proporcionalidade © seus subprincipios da adequacdo, necessidade Proporcionalidade em sentido estrito. (MELLO, Cleyson de Moraes, Guilherme Sandoval Gées. Controle de Constitueionalidade. Rio de Janeiro: Processo, 2021.fIs, 91-92) Além disso, em relagdo a inconstitucionalidade material, em regra, a propositura, realga uma fungao ja tipica do Estado, in casu, o direito a satide, previsto como um direito de ordem fundamental, (art. 6° da Constituigao Federal), sendo um dever das trés esferas federativas disponibilizar, de forma integrada, a infraestrutura necessria para 0 seu exercicio, os artigos 196, 197 ¢ 227 da Carta Magna, certificam que a satide é direito de todos e dever do Estado, vejamos: Art, 6° Sao direitos sociais a educagao, a saiide, a alimentaga, o trabalho, a moradia, © transporte, o lazer, a seguranga, a previdéncia social, a protego & maternidade e & infancia, a assisténcia aos desamparados, na forma desta Constituigao. (Redacao dada pela Emenda Constitucional n° 90, de 2015) Art, 196. A saiide é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante politicas sociais ¢ econdmicas que visem a redugao do risco de doenga e de outros agravos & a0 acesso universal ¢ igualitirio as agdes e servicos para sua promogiio, proteco e recuperagaio. Art, 197. Sio de relevaincia piiblica as agdes e servigos de satide, cabendo ao Poder Piblico dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentaedo, fiscalizagao e controle, devendo sua execucao ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa fisica ou juridica de direito privado. Art. 227. E dever da familia, da sociedade ¢ do Estado assegurar 4 crianga, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito A vida, & sate, & alimentagio, 4 educagao, ao lazer, profissionalizagao, 4 cultura, a dignidade, ao respeito, a liberdade e convivéncia familiar e comunitaria, além de colocé-los a salvo de toda forma de negligéncia, discriminagao, exploragao, violéncia, crueldade © opressiio A Constituigéo Estadual por sua vez, prevé que a satide é direito de todos e dever do Estado, bem como que as ages e servigos de saiide do Estado sao de natureza piblica, cabendo aos Poderes Piiblicos Estadual ¢ Municipal sua regulamentagao nos termos da lei. Art. 217 A saiide € direito de todos e dever do Estado, assegurada mediante politicas sociais, econdmicas ¢ ambientais que visem a eliminagdo de risco de doengas & outros agravos © a0 acesso universal e igualitario as ages e servigos, para sua promogao, proterdo e recuperacao. ‘Av. André Ant6nio Maggi, N. ° 06, Setor A— CPA — CEP: 78049-901 — Culaba— MT (TT/KG) i. Pg. 13/19 Aen Estapo DE Mato Grosso ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO Grosso Secretaria Parlamentar da Mesa Diretora Nucleo COR Comissao de Constituic&o, Justica e Redacao Art. 218 As agdes ¢ servigos de satide do Estado sao de natureza publica, cabendo a0 Poderes Publicos Estadual e Municipal disporem, nos termos da lei, sobre sua regulamentacio, fiscalizagio © controle, devendo sua execugao ser feita, preferencialmente, através de servigos Publicos e, supletivamente, através de servigos de terceiros, contratados ou conveniados com estes. Com alicerce nestes ensinamentos, cumpre salientar que 0s dispositivos que compdem © Projeto de Lei em anilise, revelam que a propositura nio fere atribuigdes expressas a rg do Poder Executivo, especialmente a Secretaria de Estado de Satide - SES. Pode ser que a presente proposigao implique em despesa para 0 Executivo, porém nenhuma de suas competéncias esté sendo atingida. Desse modo, reitera-se, que pode o Parlamento criar regra que possa aumentar despesa do Executivo. E isto que nos orienta 0 Supremo Tribunal Federal: Recurso extraordinario com agravo. Repercussio geral. 2. Agio Direta de Inconstitucionalidade estadual. Lei 5.616/2013, do Municipio do Rio de Janeiro. Instalagio de cmeras de monitoramento em escolas e cercanias. 3 Inconstitucionalidade formal. Vicio de iniciativa. Competéncia privativa do Poder Executivo municipal. Nao ocorréncia. Nao usurpa_a competéncia privativa do chefe do Poder Executivo lei que, embora erie despesa para a Administracio Pablica, nao trata da sua estrutura ou da atribuicio de seus 6rgios nem do regime juridico de servidores piblicos. 4. Repercussao geral reconhecida com reafirmagao da jurisprudéncia desta Corte. 5. Recurso extraordindrio provido, (ARE. 878911 RG, Relator: GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 29/09/2016, PROCESSO FLETRONICO REPERCUSSAO GERAL - MERITO DJe-217 DIVULG 10-10-2016 PUBLIC 11-10-2016). Assim, 0 caso aqui tratado resta contemplado pela conclusio do julgamento deste Supremo Tribunal sob 0 Tema n° 917 da Repercussio Geral, segundo o qual “nao usurpa a competéncia privativa do chefe do Poder Executivo lei que, embora crie despesa para a Administragtio Piblica, nao trata da sua estrutura ou da atribuigo de seus érgfios nem do regime juridico de servidores piblicos.”. Assim, n&o ha que se falar em interferéncia do Poder Legislative na esfera de competéncia exclusiva do Poder Executivo ou em transgresstio ao princfpio da independéncia e harmonia entre os Poderes, previsto na Constituigiio Federal em seu artigo 2°, assim como na Constituigao Estadual previsto no artigo 9°, Av. André Ant6nio Magai, N. ° 06, Setor A — CPA — CEP: 78049-901 ~ Cuiaba - MT (TT/KG) Pg. 14/19 NCCJR M0 Estapo DE Mato Grosso a2 ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GRosso Secretaria Parlamentar da Mesa Diretora Nucleo COR Comissao de ConstituicSo, Justiga e Redago Art. 2° So Poderes da Unido, independentes e harménicos entre si, 0 Legislativo, 0 Executivo € 0 Judiciario, Art. 9° Sado Poderes do Estado, independentes, democriticos, harménicos entre si e Sujeitos aos principios estabelecidos nesta Constituigio ¢ na Constituigaio Federal, 0 Legislativo, o Executivo e o Judiciatio. Nao é vislumbrado neste momento, qualquer razo plausivel a impedir a que conste tal exame de pré-natal no ambito do Estado de Mato Grosso. Neste sentido vejamos o entendimento do Supremo Tribunal Federal: Anotagao Vinculada - art, 24, ine. XI da Constituigéo Federal (...). Lei sobre procedimento em matéria processual. A prerrogativa de legislar sobre procedimentos possui o conddo de transformar os Estados em verdadeiros "laboratérios legislativos". Ao conceder-se aos entes federados o poder de regular 0 procedimento de uma matéria, baseando-se em peculiaridades préprias, esta a possibilitar-se que novas e exitosas experiéncias sejam formuladas. Os Estados Passam a ser participes importantes no desenvolvimento do direito nacional ea adotadas por outros entes ou em todo territério federal, (..) [ADI 2.922, rel. min. Gilmar Mendes, j. 3-4-2014, P, DIE de 30-10-2014,] Assim, caso haja despesa extra e insuportavel na execugiio do disposto no presente Projeto de Lei, compete ao senhor Governador demonstrar por ocasido de sua legitima manifestagao. Verificada a observancia das regras Constitucionais relativas & materialidade, é, portanto, materialmente constitucional. ILV - Da Juridicidade e Regimentalidade. Quanto a Ji idade, verifica-se que 0 ordenamento juridico infraconstitucional é, como um todo respeitado, nao se identificando qualquer conflito que vena gerar ilegalidade contra a proposiso. ‘Ay, André Antonio Maggi, N. ° 06, Setor A — CPA — CEP: 78049-901 — Cuiaba— MT (TT/KG) EE Pg, 15/19 © ESTADO DE Mato Grosso \* Zs g ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO Grosso SC af Secretaria Parlamentar da Mesa Diretora Nicleo COR Comissao de Constituicao, Justica e Redagio O art. 2° da LEI N° 11.573, DE 17 DE NOVEMBRO DE 2021 que “Dispée sobre a ctiagdo do Programa Maes de Mato Grosso, com objetivo de proteger a satide da gestante em situagio de vulnerabilidade social e do recém-nascido no dmbito do Estado de Mato Grosso.”, expde que: Art. 2° O Programa Maes de Mato Grosso tem por finalidade: | - assegurar a mulher em situag’o de vulnerabilidade social ¢ a0 recém-nascido a assisténcia integral & saiide, incluindo prénatal, parto ¢ pos-parto; 11 - facilitar e promover o acesso a rede piblica de saiide da gestante e do recém- nascido; IIL - prevengaio de doengas no ciclo gravidico puerperal até o primeiro ano de vida da crianga, visando diminuigio dos indices de mortalidade materna e infantil A titulo de informagao, o Guia de Manejo Clinico da Infecgao pelo HTLV do ano de 2021 confeccionado pelo Departamento de Doengas de Condigdes Crénicas e Infecges Sexualmente Transmissiveis da Secretaria de Vigilancia em Saiide, vinculada ao MINISTERIO DA. SAUDE, indicou para alguns casos a testagem diagnéstica da infecgao por HTLY-1/2, dentre eles, para gestantes. Vejamos quadro apresentado a pag. 58: Quadro 3 ~ Indicagdes para testagem diagndstica da infecgao por HTLV-1/2: () Gestantes; (.) Fonte: DCCU/SVS/MS. Ainda, conforme 0 Guia, todas as propostas so factiveis e de ftcil aplicagiio. A lusdio do HTLV-1/2 nesse sistema, tal como ocorreu nos hemocentros nacionais para a seguranga da transfustio de sangue e derivados em nosso pais, se mostrar como mais uma pequena adaptagio gerencial ¢ financeira em prol de sua populagao, com grande beneficio. Diversas ages sfio propostas ao longo do Guia, dentre elas, o de Tornar obrigatéria a triagem para HTLV no pré-natal (pag. 76) Por fim, destaca-se que 0 Governo do Estado de Mato Grosso ja sancionou propostas semelhantes, vejamos: ‘Av. André Antonio Maggi, N. ° 06, Setor A ~ CPA — CEP: 78049-901 — Cuiaba— MT (TT/KG) _ Pg. 16/19 o- EsTADO DE Mato Grosso ‘ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO Grosso Secretaria Parlamentar da Mesa Diretora Nucleo CCR Comissao de Constituicdo, Justiga e Redago LEI N° 11.681, DE 11 DE MARCO DE 2022 que “Dispoe sobre a realizag&o de exame de colonoscopia na rede piiblica de satide do Estado de Mato Grosso.”. Autor: Deputado Dr. Gimenez LEI N° 10.856, DE 22 DE MARGO DE 2019 que “Dispe sobre a obrigatoriedade da realizagdo de exame de ecocardiograma nos recém-nascidos portadores de sindrome de Down no Estado de Mato Grosso e adota outras providéncias.”, Autor: Deputado Wagner Ramos. Quanto & Regimentalidade, deve constar registrado que, a proposigdo legislativa, esti em pleno acordo com o disposto no Regimento Intemo, Acerca do regramento constante do Regimento Interno da Casa de Leis, no que diz respeito a Iniciativa das proposigdes, verifica-se que so devidamente observados 0s artigos 165, 168, e172a175. Em face de todo 0 exposto, nao vislumbramos questdes atentatérias ao Ordenamento Juridico Constitucional, infraconstitucional ou ao Regimento Interno desta Casa de Leis que caracterizem impedimento a tramitagdio e aprovagao da presente proposigao legislativa. Eo parecer. III — Voto do (a) Relator (a) Pelas razSes expostas, voto favoravel & aprovagdo do Projeto de Lei N.° 902/2023, de autoria do Deputado Dr. Joao, Sala das Comissées,em29 de OF de 2023. ‘Av. André Anténio Maggi, N. ° 06, Setor A— CPA — CEP: 78049-901 — Cuiaba ~ MT (TT/KG) y= Pg. 17/19 NCCUR ve EsTapo DE Mato Grosso ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GRosso Secretaria Parlamentar da Mesa Diretora Nacleo COIR Comissao de Constituicao, Justiga e Redagdo IV -Ficha de Votagio Projeto de Lei N.° 902/2023 — Parever N.° 553/2023/CCIR Reunido da Comissioem 29 / O¢ / 2223 Presidente: Deputado (a) 4 Ds Comp Relator (a): Deputado (a) ‘Voto Relator (a) Pelas razdes expostas, voto favoravel & aprovagaio do Projeto de Lei N.° 902/2023, de autoria do Deputado Dr. Joao. Posig&o na Comissfio Identificagaio do (a) sis (a) Relator (a) dopo) Mdhbrds (a) ‘Av. André Antonio Maggi, N. ° 06, Setor A — CPA — CEP: 78049-901 — Cuiaba — MT (TT/KG) Pg, 18/19

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