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36 por lei da Assembleia da Republica e por decreto-lei do Governo sob autorizacao dela, como ainda por diploma legislative regional nos termos em que as respeitantes leis e decretos-leis 0 consentirem, J. J. Tercera Ruzzino 0 conceito ocidental de Constituigao “” Esta intervengao insere-se no teme A or- dem econémica ¢ social na Constituigaon, Mas, para perceber o Ingar e a medida que as modernas constituigdes podem reservar 4 ordem econémica e social, cremos que se torna indispensdvel ter bem presente todo © sentido que @ tradicio ocidental foi atri- buindo & ideia de constituigdo. Sé desse modo se evitario os equivocos e contradi- gées que o tema frequentemente suscita. E aae, nos nossos dias, em cada viragem politica da vida dos povos, as atengdes se voltam ansioses para a ideia magica de constituigso, iente se cria uma psicose colectiva constitucional, com homens de todos os quadrantes, desde o sapateiro a0 politico, do jurista a0 comerciante, do agricultor 20 burocrata, angustiados com a constituigso gue fizeram, Ihe fizeram ou querem fazer, E, frequentemente, pedindo ou impondo & sua constituigdo cometimentos que ultra- Passam as forcas dela; algumas veres com ingenuidade, nfo poucas abusando da inge- nuidade dos outros. E talvez esquecendo ou desconhecendo o sentido que o mundo cultural do Ocidente, ao longo dos séculos, foi dispensando a ideia de constituigao, Mas a verdade ¢ que de tal ideia continua. mos a ser tributérios, queiramos ou nao. Apesar de em muitos ladoe se ouvirem vo, essimistas que reduzem a constituigzo a (+) Intervengio no IT Congresso de Direito Comparado Luso-Brasileire, Rio de Janeiro, Agnsto de 1985. Omitiram-se as férmuias Ge cin. cunstincia, Revista pe Lecrstacio eps JURISPRUDENCIA At 119)” No 3743 simples vestigio duma época acabada. conservando sempre, com diversos rostos, uma reinvindicacko constante de um espaco le autonomia para a pessoa humana, supée uma orde: fundamental que a constitui e The dé sentido — imediatamente as repre- sécio © estrangeiro, de eidadao © bdrbaro. Quaisquer que sejam as formas Por que a consciéncia do grupo politico se vai desenvolver (identidade nacional ou ter- ritorial, d Finalmente a ordenecio fandamental exprime uma posigéo quanto A estrutura sentido do corpo social, apontando Para cujo servigo se consti- jem mecanismos de defesa mais ou menos elaborados, que pretendem compor as ten- es internas, Szber até onde vai o dominio da privaticidade de cada sécio e em quais valores se decompie & questio que tem sempre de ficar decidida perante as preten- sdes do grupo, Ora toda esta maneira por que necessa- slamente est4 construida a sociedade civil, 2 forma como se atticulam es solugdes oferecidas aos problemas que acebimos de indicar, em suma, o modo de ser primério ou constitutive da comunidade 6 a sua constituigso or Ora desde os alvores ocidental vamos encontrar essa representa- isso que Hesiodo tem em vista quando proclama que «0 povo deve lutar tanto pelo sea tomos como pelas muralhas da cidades. Quando em Roma se afirma a santidade das leis da Repiblica, ¢ pare esse objecto espiritual que se aponta. E jer todavia a rapes aquele pe- riodo que mais claramente veré desenvol- verse a ideia duma ordem transcendente que, resolvendo os problemas fandamentais Ga communitas, assegura 0 equilibrio © jus- tificago politica dos varios estratos, atri- buindo-thes pretensdes relativas e obrigagées muituas na realizagio da tarefa comum. m ret tempo nio usar a palavra constituig& mais simplesmente chamaré a iss ou qualquer coise ‘todo 0 modo, é uma cons- Hiuigdo material que se inculca, é um con- junto de principios no carecidas de posi vagio. certo que, nos nossos dias, com fre- quéncia, se referem alguns decretos politico- ~constitucionais que s das modemas constituigées positivas. B, an- tes de todos, ‘odavia, esses : frmagbes enceram um equivoco. Porque, ‘pensamento REVISTA DE Lacrstacho 2 DE JURISPRUDENCIA 37 sublinhar & que é incompreensivel a Idade ‘Média sem uma ideia de constitwipiio ma- terial. ‘A passagem pare a modernidade hé-de provocar transformagées politice-culturais que inevitavelmente vém afectar 0 nosso problema. principalmente a criagéo de bom que ainda alo sigificasse af senso mma transposigio do sentido corrente da palavra estado, ou seja, 0 de as coisas politicas fais como estéo, ou a comunidade na sua dimensao existencial concrete. Mas gradual- mente vai sendo siasmo dos mente depois da reiorma protestante, cana um sistema de servigos racionalmente dese- nhado, & imagem duma companhia de sol- i igado ‘car-se com o grupo politic, Apoucoe poxco dissolvem-se as reptesentages tradicionais da communitas portadora do seu nomos proprio, imanéncia de um equilibrio entre os varios grupos sociais. Quando agora 0 principe proclama realizar interesses impes- soais ¢ intemporais do Estado, quando fala na grandeza ¢ gldria do reino, aponta para uma dimensio que ndo se mede jé com o 38 REVISTA DE LectsiAgio £ DE JuRISPRUDENGIA padrao dos interesses imediatos das guildas dos mezcadores ou das corporagées de arte- stos, das ordens religiosas ou das casas senhoriais, das conirarias de camponeses ou dos concelhos de vizinhos. E o triunfo duma ideia abstracta servida por uma aparelhagem coesa e eficaz, O principio do direito divino dos reis , em seguida, as férmulas do des- potismo esclarecido consagrardo e estabili- zatao 0 processo. Esté assim criada para a Europa conti- nental uma categoria estranha A sua expe- rignoia, fonte de inguietagdes teéricas nunca pacificadas e, mais do que isso, catalizadora de ressentimentos e angustias dos antigos sécios, agora degradados ao denominador comum de stibditos. Era inevitével que este novo mundo politico viesse a tocar a compreensio tradi cional duma constituigfo material. Nao queremos dizer que a nogdo desaparega, mas que significativamente o seu contetido sai empobrecido. Se Loiseau pode falar ainda nas lois fondamentales de Estat; ou se Bodin se refere as leges emps acima do principe; ow se o rei Tiago I invoca as Fondamental Laws, ‘Mas agora temos de chamar a ateng&o para um outro dado, Nao admira que o mesmo clima racionalista-matemético que se manifestara na criaglo do Estado pelo principe, e depois, na teoria do déspota esclarecido, houvesse de produzir também a pretensio de encontrar um quadro de Es- tado eternamente perfeito, participante numa racionalidade universal, Nao é j& aquela racionalidade prética, teleolégica, que tinha alimentado a intengio téeniea de construir uma aparelhagem de servigos ofi- ciente, cicios (ele redige a lei bésica da Carolina). No 3743 E assim vamos ter um acto fundacional, uma, Concorrem aqui, além da anunciada atmosiera filoséfica geral dum racionalismo individualista, Em_primei via a representagdo de fandagio transforme-se de uma explica~ go ouristica da realidade numa categoria historia, As convulsdes da época fornecem oportunidades abundantes para estas expe- riéncias, Assim, uma linha de forte colora- go religiosa, que tem raizes nos movimentos milenaristas do século xm até 20s pré-refor- madores ingleses ¢ hiingaros e explode nas guerras civis inglesas, com os miveladoress & proclamarem o Agreement of the People (1647) © a Reptblica de Cromwell a assen- tat no Instrument of Government (1653). Por outro lado, recom as Fundamental Orders of Connecti- out (1638). E nem grandes pensadores, como Locke, desdenham de dedicar-se a estes exer- Em todos estes acordos bdsicos ressalta uma] de cunho acentua- damente religioso, Por este elemento liberal se hé-de ligar a actualizaslo da ideia de contrato social a uma segunda forga. Ela é 0 desejo de calculabilidade matemétice da classe bur- N.03743 guesa, 2 quem interessam agora, mais do que o respeito das velhas leis fundamentais € dos privilégios dos diferentes grupos, a fixagio duma maguina estadual definida transparente e a garantia duma esfera de liberdade, ao abrigo das pretenses do poder © expressa em direitos individualizados. Finalmente, ao longo de dois séculos, se vai manifestando com forga erescente um ingrediente democratico de feigio individua- lista, que desde a redescoberta das teses agustinianeias pelos movimentos protestan- tes, passando pelo jansenismo, e depois lai- cizado, alimenta @ pretenséo dos cidadtos de contribuirem para a ordenac&o da comu- nidade, De qualquer modo REVISTA De Lecrsiacio B Ds JuRIsPRUDENCLA (Continua) Rocério EERHARDT SOARES Sec¢&o de jurisprudéncia SUPREMO TRIBUNAL ADMINISTRATIVO (Contencioso Tributério) Acérdio de 9 de Outubro de 1985 Sumario: — 1. $6 podem considerarse custos ou perdas imputdveis ao exercicio 03 que, cumulativamente, se tenham tornado indis- pensdveis para a realizagéo dos proveitos ou Ganhos sujeitos a imposto e para a manu tengo da fonte produtora. — II, Em prin- cipio, o juiz so pode conhecer das quesiées suscitadas pelas partes,—III. Assim, a ine pugnagéo improcederd sempre que se nko tenha articulado a indispensabitidade dos ‘custos para a manutencio da fonte produ tora. Acordam na 2* Secgo do Supremo ‘Tribunal Administrativo: 1, «Roudolph J, Arié, L.», com sede na Rua Rodrigues Sampaio, n° 30-C, 6Esq", desta cidade de Lisboa, impug- nou contenciosamente a liquidagio defi nitive da contribuicSo industrial, grupo A, respeitante ao ano de 1973, no montante de 1958500 e correspondentes juros com- pensatérios no valor de 1 158$00. Alegou, para tanto e em suma, o se guinte: —a Administracdo Fiscal nfo conside- rou, como custo do exercicio de 1973, a importéncia de 105 451§20, de gastos efec- tuados no citado exercicio, por ter consi- derado que tal verba revestia a natureza de donativos a empregados, assim inter pretando erradamente a natureza da ru- brica «Ofertas», na qual figurava; —porém, o referido montante cor. respondeu a valor de vales entregues as empregadas de balcdo de cada uma das clientes da impugnante para as incenti- var e promover a venda dos seus produ- tos, vales esses que as mesmas utilizaram para levantarem artigos em diversas fir mas, que posteriormente Thos facturaram; —tratowse, pois, de brindes dados a pessoas que, em contrapartida, incentiva- ram vendas de produtos da impugnante;

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