Teorema Da Decomposição Espectral

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Teorema da Decomposição espectral

Felipe Borges

June 2023

1 Teorema da Decomposição Espectral


Se  e B̂ são dois operadores hermitianos que comutam entre si, então eles podem ser simultaneamente
diagonalizados por uma base de autovetores comuns.
Para entender melhor o teorema, vamos considerar os operadores hermitianos  e B̂. Se eles comutam,
temos:

ÂB̂ = B̂ Â

Agora, vamos supor que |v⟩ é um autovetor de  com autovalor a, ou seja:

Â|v⟩ = a|v⟩

Vamos atuar o operador B̂ nos dois lados dessa equação:

B̂(Â|v⟩) = B̂(a|v⟩)

Usando a comutatividade de  e B̂, podemos escrever:

Â(B̂|v⟩) = a(B̂|v⟩)

Isso significa que B̂|v⟩ é também um autovetor de  com autovalor a. Portanto, qualquer autovetor de
 também é um autovetor de B̂ com o mesmo autovalor.
Agora, podemos aplicar o mesmo raciocínio começando com um autovetor de B̂. Se |w⟩ é um autovetor
de B̂ com autovalor b, temos:

B̂|w⟩ = b|w⟩

Atuando o operador  nos dois lados da equação:

Â(B̂|w⟩) = Â(b|w⟩)

Novamente, usando a comutatividade de A e B, temos:

B̂(Â|w⟩) = b(Â|w⟩)

1
Isso implica que Â|w⟩ é também um autovetor de B̂ com autovalor b. Portanto, qualquer autovetor de B̂
também é um autovetor de  com o mesmo autovalor.
A partir desses resultados, podemos concluir que existe uma base de autovetores comuns que diagonaliza
tanto  quanto B̂. Ou seja, é possível encontrar uma base na qual ambos os operadores são representados
por matrizes diagonais.

1.1 Exemplo
Suponha que tenhamos duas matrizes hermitianas  e B̂ que comutam entre si. Vamos definir as matrizes
 e B̂ da seguinte forma:
   
1 0 0 1 0 0
 = 0 2 0 e B̂ = 0 0 1
   

0 0 2 0 1 0

Agora, vamos encontrar os autovetores e autovalores de B̂ para determinar a base comum que diagonaliza
ambos. Para isso precisamos resolver a equação

B̂|wi ⟩ = bi |wi ⟩, (1)

onde b é o autovalor e |wi ⟩ é o autovetor, i = 1, 2, 3. Para encontrar os autovalores de B̂ faremos

ˆ = 0,
det(B̂ − bI)

isto é:

1−b 0 0
0 −b 1 =0
0 1 −b
Calculando o determinante
(1 − b)(b2 − 1) = 0

b1 = 1,
b2 = −1,
b3 = 1.

Precisamos resolver a Equação (1) para cada autovalor, dessa forma, para b1 = 1:

B̂|w1 ⟩ = b1 |w1 ⟩
    
1 0 0 x1 x1
0 0 1  y1  = 1  y1 
    

0 1 0 z1 z1

2
Resolvendo essa equação para cada um os autovalores obtemos os seguintes autovetores de B̂, encontramos:
     
1 0 0
1   1  
|w1 ⟩ = 0 ; |w2 ⟩ = √  1  ; |w3 ⟩ = √ 1
 
2 2
0 −1 1

Observe que a construção da base de {|w1 ⟩, |w2 ⟩, |w3 ⟩} de satisfazer a condição de ortonormalidade, isto
é:
⟨wi |wj ⟩ = δi,j

Agora, verificaremos se esses autovetores formam uma base comum que diagonaliza tanto  quanto B̂.
Para verificar se uma base diagonaliza uma matriz, precisamos construir a matriz de mudança de base e
verificar se a matriz diagonalizada pode ser obtida.
A matriz de mudança de base Û é construída colocando os autovetores como colunas. Tomando os
autovetores |w1 ⟩, |w2 ⟩, |w3 ⟩ como colunas, podemos construir a matriz de mudança de base para  e B̂:
 
1 0 0
√ √ 
Û = 0 1/ 2 1/ 2

√ √
0 −1/ 2 1/ 2

Agora, vamos verificar se Û † · Â · Û e Û † · B̂ · Û são matrizes diagonais.


Para Â:
 
1 0 0
Û † · Â · Û = 0 2 0
 

0 0 2

Podemos observar que a matriz Û † · Â · Û é diagonal, o que indica que a base diagonaliza Â.
Para B̂:
 
1 0 0

Û · B̂ · Û = 0 −1 0
 

0 0 1

Novamente, a matriz Û † · B̂ · Û é diagonal, o que indica que a base diagonaliza B̂.


Portanto, os autovetores |w1 ⟩, |w2 ⟩ e |w3 ⟩ formam uma base comum que diagonaliza tanto  quanto B̂,
como demonstrado pelas matrizes diagonalizadas acima.
Em geral, uma mudança de base não preserva a forma diagonal de um operador. A nova representação
matricial do operador  em uma base diferente pode ter elementos não nulos fora da diagonal. No entanto,
existe uma exceção importante. Se a mudança de base é realizada por meio de uma transformação unitária1 ,
a forma diagonal do operador é preservada. Transformações unitárias preservam a diagonalidade de um
operador, ou seja, se A é diagonal em uma base, ele também será diagonal na nova base após a transformação
unitária. Portanto, se você realizar uma mudança de base por meio de uma transformação unitária, o operador
A continuará na forma diagonal. Caso contrário, a forma diagonal do operador não será preservada durante
a mudança de base.

1
Uma transformação unitária Û é aquela que satisfaz U † U = U U † = Iˆ

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