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O Barulho Dos Evangélicos. Entrevista Com Ricardo Mariano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU
O Barulho Dos Evangélicos. Entrevista Com Ricardo Mariano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU
Eles têm crescido muito nos últimos tempos numa onda moralista e
cerceadora dos direitos individuais que se alastra por toda sociedade. Embora
não representem a totalidade dos 60 milhões de evangélicos brasileiros, uma
comunidade bastante heterogênea, eles apontam uma tendência geral
conservadora que pode ser verificada na população religiosa e nos seus
representantes parlamentares. “Nos legislativos municipais, estaduais e
federal, a maioria, mas não todos, tende a sustentar projetos de lei de caráter
conservador no plano moral relativos à sexualidade e à família, por exemplo”,
diz Mariano. “Propõem projetos para tratar e reverter a homossexualidade e
pretendem discriminar casais de mesmo sexo.” Assuntos relativos à
moralidade têm sido um ponto de coesão para os evangélicos. A grande
maioria da sua bancada na Câmara, que hoje tem pelo menos 80 deputados,
15% da casa, está de acordo com esses temas.
“Caberá à população arcar com o custeio do que está deixando de ser pago
pelas igrejas em taxas de limpeza urbana. A dívida total é de 920 milhões, mas
não é só das igrejas evangélicas ”
não é só das igrejas evangélicas.
“O fato é que o STF bancou o ensino religioso confessional. A meu ver, essa
decisão foi lamentável. Ainda que o ensino religioso seja facultativo, na
prática ele é obrigatório, porque as escolas não oferecem outras opções aos
estudantes.”
“Nos últimos 30 anos, quase triplicaram o tamanho de sua bancada. 15% dos
deputados federais atualmente são evangélicos.”
Eis a entrevista.
E a corrupção?
Também foi assunto. Foram objeto de debate a crise da democracia, o
combate à corrupção e os embates políticos e judiciais em torno disso, a
crescente desconfiança da população nas instituições políticas, o quadro de
desemprego, endividamento, de agravamento da desigualdade, da
criminalidade, da precarização do trabalho e da flexibilização dos direitos
trabalhistas. Tal situação deu margem até para manifestações, a partir de
junho de 2013, de grupelhos propondo a volta dos militares ao poder. O
próprio Bolsonaro tem insuflado tal movimento, alardeando que pretende
governar com ministros militares.
Você acha que a sociedade está guinando para a direita, que essa
minoria está ganhando massa?
São muito pragmáticos de um modo geral.
E a atuação partidária?
Entre os partidos controlados por grupos evangélicos o PRB se destaca pelo
pragmatismo, ou pelo peemedebismo, isto é, opta por fazer parte da base de
apoio aos governos de plantão, seja de que partido for, em troca de cargos. O
PRB sustentou os governos petistas de Lula e Dilma e está apoiando o
governo Temer, além dos governos paulistas tucanos. Os parlamentares do
PRB tendem a votar com os demais evangélicos em temas de ordem moral.
Mas eles, inclusive seus deputados que são pastores e bispos, não encabeçam
os projetos de lei de cunho moral, muito menos os mais controversos. Já o
PSC, sobretudo a partir de 2013, quando Marco Feliciano presidiu a
Comissão de Direitos Humanos e Minorias, assumiu publicamente
uma orientação político-ideológica de direita no campo econômico e
superconservadora no plano moral. Pastor Everaldo, presidente do PSC, como
candidato à presidência da República, defendeu o Estado mínimo, a
privatização da Petrobras. O PSC assumiu perfil partidário de extrema direita
nos últimos anos. À medida que assumiu perfil mais extremista, o PSC perdeu
parlamentares entre as eleições de 2010 e 2014. Em geral, são os
parlamentares vinculados à Assembleia de Deus os mais ativos ou os que mais
se destacam na promoção de pautas moralistas conservadoras no Congresso
Nacional. Caso dos deputados Marco Feliciano, João Campos, Sóstenes
Cavalcanti, Eduardo Bolsonaro, Hidekazu Takayama. No Senado, Magno
Malta, que é batista.
Não são todos que apoiam tal agenda moral ou que sustentam esse
moralismo na arena pública. Os progressistas são minoritários e pouco
visíveis dentro e fora do parlamento. Eles defendem os direitos humanos,
minorias, a laicidade do Estado e da escola pública, políticas redistributivas.
A Universal dispõe de TV aberta – a Record disputa a segunda posição no
mercado com o SBT. Além disso, eles dispõem de uma imensa rede
radiofônica e muitas portais na internet, editoras e bandas gospel. Vendem
milhões de bíblias e livros religiosos e de autoajuda.
Podem, mas, desde 1989 nunca deram apoio maciço, uniforme, a um único
candidato. Naquela eleição, no primeiro turno, eles se dividiram entre os
diferentes candidatos. Só no segundo turno, quando restaram apenas Collor
e Lula, lideranças pentecostais apoiaram em peso a candidatura do caçador
de marajás. Na ocasião, difundiram o boato persecutório de que a eleição de
Lula estabeleceria o comunismo no Brasil, comunismo atípico, pois associado
ao catolicismo de esquerda, mas que iria impor sérios obstáculos à sua
liberdade religiosa. Diziam que os evangélicos seriam perseguidos, seus
pastores iriam para o paredón, seriam presos, torturados, suas igrejas seriam
transformadas em galpões, supermercados. Esse tipo de boato persecutório
foi muito forte durante o segundo turno da eleição presidencial de 1989.
Radicalizou e levou.
Por quê?
O fato é que o STF bancou o ensino religioso confessional. A meu ver, essa
decisão foi lamentável. Ainda que o ensino religioso seja facultativo, na
prática ele é obrigatório, porque as escolas não oferecem outras opções aos
estudantes. Os pais desconhecem que seja uma disciplina facultativa. Os que
conhecem e não querem que seus filhos cursem ensino religioso na
modalidade confessional não dispõem de disciplina alternativa para seus
filhos. Os colégios não oferecem opções. Os alunos são colocados em uma
salinha qualquer ou no pátio. E ficam sob o risco de sofrer bullying, assédio,
discriminação dos colegas e dos próprios professores. Isso pode colocar
muitos alunos em situação difícil. Alunos de minorias religiosas podem vir a
sofrer ainda mais nas mãos de professores incautos, dispostos a utilizar a sala
de aula como escola dominical.
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