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Texto 4 - Fronteira Etnocultural
Texto 4 - Fronteira Etnocultural
CAMPUS DO PANTANAL
MESTRADO EM ESTUDOS FRONTEIRIÇOS
CORUMBÁ/MS
2012
EDSON PEREIRA DE SOUZA
CORUMBÁ/MS
2012
FICHA CATALOGRÁFICA
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________
Presidente da Banca Examinadora
Prof. Dr. Sérgio Ricardo Oliveira Martins
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - UFMS
___________________________________________
Membro externo ao Programa de Mestrado em Estudos Fronteiriços
Prof.ª Dr.ª Icléia Albuquerque de Vargas
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - UFMS
___________________________________________
Membro
Prof. Dr. Marco Aurélio Machado de Oliveira
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - UFMS
A Srª Maria Aparecida de Souza (in
memorian), minha mãe, que não mediu
esforços em me apoiar e educar.
resultados das pesquisas dos colegas, e que os mesmos não parem, e deem continuidade nesse
crescimento intelectual, e deem um retorno à sociedade.
À minha família, iniciando-se pela minha mãe Sr.ª Maria Aparecida de Souza (in
memorian), que pôde ver o meu ingresso a este programa, mas por percalços da vida, não
poderá ver o seu final; externa-se também ao meu irmão Alexsandro Pereira Gomes pelo
apoio e pelas ”correrias”, idas e buscas na rodoviária e pontos estratégicos de minha ida ao
Distrito de Taunay e Corumbá, como também de chegada à Campo Grande.
À minha amiga Senhora Queli Waldow Gonçalves, pelo imenso apoio, correção
gramatical, na construção de artigos e textos, bem como pelas críticas construtivas e apoio nos
meus momentos de desabafo.
Ao amigo David Rees Dias, pela ajuda e apoio quanto à forma motivacional, para
que eu nunca desistisse, e pudesse ser alguém, por meio de objetivos a serem traçados, assim
como nos ensinamentos de caráter e objetividade profissional e relacional.
Faz-se imprescindível mencionar as seguintes pessoas que de forma direta e/ou
indireta propiciaram apoio e ensinamentos, quais sejam: Prof.ª NOSIMAR Ferreira dos
Santos Rosa; Perito ALBERTONI Martins da Silva Junior; Bibliotecária TÂNIA Regina de
Brito; Procurador do Trabalho CÍCERO Rufino Pereira; Oficial de Justiça LAURA Regina
Echeverria da Silva; Prof. ODAILSON Figueiredo; Prof.ª MARCILENE Ramos; Prof.
ANTONIO Firmino de Oliveira Neto; Prof.ª ICLÉIA Albuquerque de Vargas; Prof.ª ANA
Paula Correia de Araujo; Técnico Administrativo JOÃO Batista; Prof. MILTON Augusto
Pasquotto Mariani; Turismóloga LÍGIA Magalhães Braga; Prof.ª ROSANGELA Vargas; PRF
VALTER Lopes Rodrigues; Administrador NATANAEL Junior Cardoso de Miranda; Prof.ª
LUCIANI Coelho Guindo; Pastor MARCOS Batista Ferreira; Capelão EDILSON dos Reis.
Diante do exposto, PEÇO DESCULPAS se porventura esqueci de mencionar alguém
que, de maneira direta e/ou indireta, contribuiu para que eu pudesse chegar até o ponto
conclusivo desta pesquisa.
Por fim, prezados e eternos COLEGAS e AMIGOS, quero lhes agradecer os
momentos de grande valia, que nos piores momentos e/ou de entraves vocês me estenderam a
mão, me orientaram, me ensinaram que na vida há sempre um melhor caminho a seguir, que a
melhor vitória de um ser humano é extrair a felicidade com pequenos e talvez desconhecidos
gestos.
O poder está dentro da comunidade e ela o
exercita controlando o resultado social dos
seus atos (KEPPI, J., 2001).
RESUMO
Quando os portugueses e espanhóis chegaram aqui (no Brasil) a terra já estava ocupada pelas
populações indígenas. Com isso, o Estado de Mato Grosso do Sul tem a segunda maior
população indígena do país, ficando atrás apenas do Amazonas. Os Terena, por contarem com
uma população bastante numerosa e manterem um contato intenso com a população regional,
são o povo indígena cuja presença no estado se revela de forma mais explícita, por meio do
contato entre indígenas e não indígenas (purútuye). Nessa relação étnica de contato, é que,
objetivou-se compreender a dinâmica dos conflitos e das territorialidades que caracterizam a
fronteira etnocultural no Distrito de Taunay e das Aldeias Circunvizinhas. Para tanto, definiu-
se procedimentos técnico-metodológicos para se trabalhar com pesquisa em terras indígenas,
quais sejam: fez-se a delimitação, a qual abrange a área do Distrito de Taunay e as aldeias
indígenas circunvizinhas, em seguida, partiu-se para a revisão teórica sobre alguns elementos:
cultura, comunidade, território, territorialidade, conflitos, fronteira e etnicidade, em
sequência, um trabalho de escritório para orientar (e complementar) o trabalho de campo.
Posteriormente, aplicou-se a técnica de observação, em conjunto do orientador, sendo
indispensável ao melhor proveito possível do trabalho de campo. Utilizaram-se recursos
como: caderneta de campo e da máquina fotográfica enquanto instrumento de registro.
Depois, elaborou-se um planejamento do trabalho de campo, que consistiu da observação
sistemática da realidade com registros diretos em caderneta de campo, pesquisa documental,
produção de imagens fotográficas digitais e coleta de depoimentos por meio de relatos orais e
entrevistas. Após esta sistemática metodologia aplicada, a fim de equacionar o objetivo
estabelecido, percebeu-se que as relações étnicas entre indígenas e não indígenas podem ser
denominadas de fronteiras etnoculturais, não somente pelo quesito geográfico, mas também
pelas relações de contato e inter-relações existentes.
When Portuguese and Spanish arrived here (in Brazil) the land was already occupied by
indigenous peoples. Therefore, the Brazilian state of Mato Grosso do Sul has the second
biggest indigenous people of the country, the first is the state of Amazonas. Terena, which has
a large population and maintains intense contact with other people in region, are the
indigenous people whose presence in Mato Grosso do Sul is more visible by contact between
indigenous and non indigenous (purútuye). In this ethnic relation, this research aimed to
understand the dynamics of conflict and territorialities that characterize the ethno-cultural
frontier in District of Taunay and indigenous villages surrounding. Technical and
methodological procedures were needed to research in abovementioned indigenous lands: a) it
was demarcated the geographic area of research, which covers the District of Taunay and
indigenous villages surrounding; b) a bibliographic review was done about following
elements: culture, community, territory, territoriality, conflicts, frontier and ethnicity; c) the
office work was done to guide (and complement) the field work. Subsequently, it’s applied
the observation technique in field work, where the accompaniment of the advisor was very
important to make better use of data collection. In field work, the field notebook was used to
record details and a photographic camera to capture images. The field work was conducted
and a systematic observation was done. Documentary research, production of digital
photography and collecting of oral narratives have been made at field work too. The field
surveys were performed in order to reach the objectives of this research. The results has
shown that the ethnic relations between indigenous and non indigenous may be called ethno-
cultural frontier, not only by its geographic characteristics but also by the inter-relationships.
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................13
1 O CONCEITO DE FRONTEIRA ETNOCULTURAL ...................................................19
1.1 Etnicidade e Fronteira .....................................................................................................20
1.2 Território e Territorialidade, como elementos do conceito de fronteira Etnocultural
............................................................................................................................................34
2 A FRONTEIRA ETNOCULTURAL NO DISTRITO DE TAUNAY E ALDEIAS
CIRCUNVIZINHAS ..............................................................................................................43
2.1 Processo Histórico e Caracterização do Distrito de Taunay e das Aldeias
Circunvizinhas ..................................................................................................................44
2.2 Caracterização dos Atores, dos Locais de Interação e da Natureza da Pesquisa.......47
2.3 Caracterização da Fronteira Etnocultural do Distrito de Taunay e das Aldeias
Circunvizinhas ..................................................................................................................55
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................78
REFERÊNCIAS .....................................................................................................................81
APÊNDICE A .........................................................................................................................85
APÊNDICE B..........................................................................................................................87
APÊNDICE C .........................................................................................................................88
13
INTRODUÇÃO
1
Trata-se de uma bomba incendiária de fabricação caseira: uma garrafa cheia de combustível com um pavio no
gargalo. Esse tipo de arma existe desde que se descobriram os poderes inflamáveis da gasolina, mas o nome
surgiu na Segunda Guerra Mundial. Os guerrilheiros soviéticos utilizavam armas domésticas como essa para
atacar o exército alemão e resolveram prestar uma homenagem ao chanceler (ministro das Relações Exteriores) e
então presidente do Conselho de Ministros da antiga União Soviética: Vyacheslav Mikhailovich Molotov (1890-
1986). O próprio chanceler chegou, inclusive, a encomendar uma grande quantidade de garrafas para atacar os
invasores. Disponível em: <http://mundoestranho.abril.com.br/materia/como-funciona-e-onde-surgiu-o-
coquetelmolotov>, acesso em 18 de maio de 2012).
14
parte dianteira do ônibus. Ao mesmo tempo, diversas pedras foram atiradas nas janelas do
lado direito, quebrando diversos vidros, inclusive os da porta2. Diante desse fato lamentável,
diversos indígenas ficaram feridos, alguns de forma mais grave, e foram transportados a 220
km, no caso, transferidos para a Santa Casa de Campo Grande-MS.
Ainda segundo o Jornal Gazeta do Pantanal (2011), o ataque teria sido feito por
pessoas a mando de fazendeiros – que disputam terras com os índios, pois, no mês de março
de 2011, os Terena ocuparam duas fazendas no município de Miranda-MS, uma delas
denominada fazenda Petrópolis, do ex-governador de Mato Grosso do Sul, Pedro Pedrossian,
tendo a Justiça, no entanto, ordenado a retirada dos indígenas da referida área.
Outra evidência desta problemática indígena são os dados apontados pelo CIMI -
Conselho Indigenista Missionário de 2011 - que mostra Mato Grosso do Sul como o estado
brasileiro com mais registros de casos de violência contra os povos indígenas, concentrando
um percentual de 57% de todos os assassinatos de índios no país. O CIMI (2011) apresenta
que no ano de 2010 foram registrados 60 assassinatos de índios em todo o Brasil. Desse total,
34 deles aconteceram no Mato Grosso do Sul, sendo 29 mortos da etnia Guarani-Kaiowá, 01
da etnia Guarani Nhandeva, 01 Terena, 01 Ofaye-Xavante e 02 Kadiweu.
De acordo com informações apresentadas pelo CIMI (2011), acrescenta-se que mais
de 50 mil índios do Mato Grosso do Sul estão confinados em pequenas reservas, insuficientes
para o contingente populacional atual, principalmente os da etnia Guarani-Kaiowá que são
obrigados a viver em pequenos espaços de terra.
Nos últimos anos, esse confinamento está crescendo por causa da expansão das
plantações de soja e cana, acirrando o conflito por terras. As manifestações por demarcações
de novas áreas estariam sendo reprimidas com violência. O maior número de assassinatos no
estado aconteceu em cidades como Dourados, Amambaí e Caarapó, cidades onde estão
concentradas as maiores aldeias indígenas da etnia Guarani-Kaiowá (CIMI, 2011).
O conflito com fazendeiros, principalmente os mono-agroindustriais, tem gerado um
confronto ofensivo e violento contra os índios, não sendo reprimido pelo poder público.
Sendo assim, a pressão dos povos não-indígenas pela não regularização destas terras, nesse
processo demarcatório, inviabiliza assim a efetividade do cumprimento das legislações para
com os povos indígenas do Estado de Mato Grosso do Sul.
O relatório do CIMI (2011) aponta ainda, que além da falta de emprego para as
populações indígenas no Mato Grosso do Sul, agravada pela mecanização das lavouras de
2
Fonte: Informação extraída do Jornal Gazeta do Pantanal, de 6 de junho de 2011.
15
diretas para a coleta de dados (principalmente, os relatos orais), e este pesquisador, também
foi instrumento para esta pesquisa, por ter sido professor numa escola indígena e vivenciar,
através de um olhar externo, as dinâmicas ali existentes. Porém, até o presente, tudo está em
conformidade com as exigências do CEP/UFMS e FUNAI, e ainda no aguardo do parecer
final da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP (de Brasília), após em maio de
2012, ter atendido todos os condicionantes exigidos.
Diante do exposto, na tentativa de melhor esclarecer o objetivo desta pesquisa,
pensou-se e pesquisou-se sobre procedimentos técnico-metodológicos para se trabalhar em
terras indígenas, as quais se descrevem: primeiramente, fez-se a delimitação da pesquisa à
área do Distrito de Taunay e às aldeias indígenas circunvizinhas; posteriormente, partiu-se
para a pesquisa e revisão bibliográfica sobre as seguintes categorias: cultura, comunidade,
território, territorialidade, conflitos, fronteira e etnicidade, em seguida, um trabalho de
laboratório para orientar (e complementar) o trabalho de campo.
Em seguida, fez-se treinamento para a técnica de observação, acompanhado pelo
orientador, sendo indispensável ao melhor proveito possível do trabalho de campo. Teve-se
como instrumentos de registro o uso da caderneta de campo e da máquina fotográfica. Depois,
elaborou-se um planejamento do trabalho de campo, que consistiu da observação sistemática
da realidade com registros diretos em caderneta de campo; pesquisa documental e produção
de imagens fotográficas digitais. Foram dois os seguimentos de coleta de dados: a) Coleta de
dados secundários e b) Coleta de relatos orais.
Ressalta-se que por essa pesquisa ser desenvolvida em terras indígenas, garantiu-se a
confidencialidade na identificação dos sujeitos da pesquisa, sendo eles representantes
legalmente instituídos ou indicados das seguintes instituições: Associação de Moradores
Indígenas, Associação de Moradores Não Indígenas, escolas indígenas, escolas não-indígenas,
igrejas, estabelecimentos comerciais e as lideranças indígenas (apêndice B).
E também, quanto ao critério de inclusão e exclusão de sujeito de pesquisa, pois a
opção por sujeitos com representatividade institucional é a mais adequada aos propósitos da
pesquisa, ao tratar de conflitos territoriais e etnoculturais. Neste sentido, foi fundamental
recorrer a visões mais abrangentes e representativas, a fim de obter relatos com maior grau de
impessoalidade.
Sendo assim, o objetivo principal e toda a estruturação teórico-metodológica
apresentada foram a fim de elucidar e evidenciar o porquê dos resultados, considerações finais
e/ou proposituras feitas; tudo na tentativa de esclarecer a problematização inicial da pesquisa.
18
Já a forma idealizada, como aponta Azanha (2005, p. 88), é sobre as amplas áreas de
vegetação ainda preservadas nas áreas do Distrito de Taunay e Aldeias Circunvizinhas que:
Sendo assim, Oliveira (1976) chama a atenção para a designação pejorativa do termo
bugre que era imposta aos Terena pelos regionais como uma forma de identificá-los como
bêbados e preguiçosos entre outros rótulos negativos. No contexto acima, observa-se, por
exemplo, o princípio das relações etnoculturais, ou seja, estabelecidas por meio do contato, e
também por situações territoriais, e assim percebe-se, ainda que focalizando um só lado, a
existência de preconceitos, bem como idealizações (e/ou perspectivas), que se desdobram em
possíveis conflitos.
Por isso, observa-se que ”na” e “a” terra é fundamental para os índios Terena, pois é
o local de produção e reprodução cultural e econômica. Sendo assim, mediante estas relações
etnoculturais é possível se desvelar uma compreensão sobre alguns dos aspectos culturais, na
compreensão dos mesmos, tornando-se peça fundamental e necessária, para, por exemplo, a
gestão pública, e também para a FUNAI entender a manutenção das aldeias.
É com o foco nesse processo de compreensão que apresentamos a importância desta
pesquisa, que está em refletir e compartilhar, a partir dos subcapítulos a seguir, informações
sobre esses possíveis elementos, tais como: i) etnicidade e fronteira e; ii) território e
territorialidade, que podem caracterizar e fundamentar esta Fronteira Etnocultural existente.
Tentar-se-á, através de referenciais teóricos, apontar, por meio dos elementos aqui
propostos, que esses (etnicidade e fronteira), podem, agregados, conjecturar e embasar o
conceito já existente de fronteira etnocultural. O processo histórico entre indígenas e não-
indígenas, bem como pelas relações étnicas (pré)estabelecidas, bem como as relações
21
Isso explica o porquê de fato os Terena do Distrito de Taunay estão insatisfeitos com
a presença dos não-índios. Estes ocupam “terras indígenas” que lhes foram expropriadas, e
que são consideradas imprescindíveis à existência da organização cultural Terena. De fato, o
confinamento territorial resultou em alteração do modo de produção e vida tradicionais, como
22
3
Processo FUNAI/BSB nº 0289/85. Terra Indígena: Taunay-Ypegue. Superfície: 33.900 ha. Perímetro: 78.500m.
Município: Aquidauana, Estado de Mato Grosso do Sul. Sociedade Indígena: Terena. População: 3.880 hab.
Grupo Técnico constituído pela Portaria nº 1.155/PRES de 13/11/00 (DOU de 14/11/00).
4
Por etnicidade se entende o conjunto temporal e dinâmico de “traços culturais, transmitidos da mesma forma de
geração para geração na história do grupo” (POUTIGNAT; STREIFF-FERNART, 1998, p. 250; PEREIRA,
2003). Entendida também como “uma categoria objetiva de autorreconhecimento de diferenças, a demarcação de
territórios simbólicos” (SILVA, 2005, p. 259-260).
5
Extraído do site: http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=conflitos em 08-03-2012.
23
Para tanto, Baines (2009, p. 27-28) esclarece também que os conflitos oriundos da
fronteira, muitas das vezes têm sua origem desencadeada pelo Estado/Nação, como por
exemplo, sobre as prioridades das políticas indigenistas (pré) estabelecidas:
Com isso, observa-se que, no decorrer do seu processo histórico de uso e ocupação,
os povos indígenas “(...) tem mais do que resistido à invasão e a espoliação” dos não
indígenas e do sistema vigente em seus territórios (MARTINS, 2009a, p. 25). Sendo assim, os
povos indígenas tentam enfrentar a situação violenta que lhes tornam atores nesse cenário. A
partir de então, passa-se a perceber que esse contato, em detrimento às ações socioespaciais
podem se configurar na fronteira etnocultural.
Martins (2009a, p. 25) nos mostra que a realidade do conflito cria uma situação de
fronteira etnocultural, sofridos pelos ataques ao diferentes grupos indígenas, conforme segue:
Com isto, percebe-se que os indígenas, ao passarem por entraves sociais, de acordo
com Martins (2009a), se organizam, de forma inteligente, para sobreviver e atender aos
anseios de sua comunidade e das aldeias do entorno, respeitando-se os valores e concepções,
que “dão sentido à sua vida e aos diferentes modos como os diferentes grupos se organizam”
(2009a, p. 25-6).
Para comprovar essa forma inteligente dos indígenas se organizarem numa situação
de conflito, observa-se nas palavras de Reis (2005, p. 06) que diz:
Ou seja, a autora nos mostra que “tirar a terra e a liberdade do índio de ir e vir é um
ato desumano”, principalmente quando se analisa o seu processo histórico de povoamento.
Segundo Reis (2005, p. 12):
A casa do índio é o chão batido quase sempre porque, para ele, é necessário
e vital ter contato com a mãe-terra. Os seus antepassados ao cortarem uma
árvore para canoa ou para outra necessidade, conversavam com e pediam
desculpas por terem que derrubá-la.
Sendo assim, como se vê, a originalidade dos conflitos interétnicos, muitas das
vezes, são provocados por não indígenas (fazendeiros) que querem, como diz Raffestin (1993,
p. 58), “construir um poder pela apropriação”, em detrimento dos seus próprios anseios e não
se importando com a localidade presente, além da fauna e flora local. Na contramão dos não-
índios, conforme Reis (2005, p. 14), “o índio sabe, por intuição que a natureza cobrará em
dobro a agressão sofrida”. Sendo assim, a ótica do não indígena, em dar dinâmica ao sistema,
não engloba, muitas das vezes, a racionalidade dos povos indígenas, desencadeando uma série
de conflitos.
No entendimento de Andrade e Santos (2009), percebe-se, por meio dos processos
históricos, que palavras de maiores frequências entre indígenas e não indígenas, que
desencadeiam uma situação conflituosa, ora pela manifestação, ora pela militância são:
preconceito, respeito e igualdade. Essas palavras indicam um posicionamento crítico dos
atores sociais sobre essa realidade preconceituosa presente no imaginário social, ao mesmo
25
Diante disso, Nogueira (2006, p. 292) traz uma definição para o termo preconceito:
Observa-se nos referenciais teóricos que essa relação da diferença, exclusão e/ou
preconceito propriamente dito, podem desencadear situações conflitivas entre os grupos
étnicos. Sendo assim, acrescenta-se que o preconceito é um dos grandes obstáculos que deve
ser superado para que seja assegurado o acesso e a permanência dos diversos grupos étnicos
nas diversas modalidades6 do sistema (escolar, político, cultural, outros). Contudo, tais
modalidades, no meio indígena, ainda permanecem na condição de ”marginais”
(PRAXEDES, 2008).
Nesse sentido, verifica-se que se é necessário que se entenda o preconceito da
população marginal como a “[...] criação de um contexto favorável aos marginalizados e
oprimidos, para a recuperação da sua história, da sua voz, e para a abertura das discussões
acadêmicas para todos” (BONNICI, 2000, p. 10).
O preconceito, para Praxedes (2008, p. 4), é resultante da violência simbólica, pois
“[...] só se completa quando os próprios dominados se consideram inferiores e aceitam a sua
6
Explica-se este termo modalidades como as maneiras existentes.
26
submissão aos poderes dominantes”. É assim que se constrói a hegemonia das culturas e
relações sociais capitalistas sobre os grupos subalternos, em relação aos indígenas.
Tal relação cultural é explicada por Bonnemaison (2002, p. 92): “o papel central da
cultura fica então afirmado; o espaço é subjetivo, ligado à etnia, à cultura e à civilização
regional”. Diante disso, Giroux (1999, p. 47) destaca que respeitar as diferenças é “expandir o
potencial da vida humana e as possibilidades democráticas”, e só assim, ter-se-á a
possibilidade de minimizar as situações preconceituosas indígenas do cotidiano.
Para os autores Andrade e Santos (2009), a palavra preconceito indica um
posicionamento crítico dos sujeitos/participantes sobre essa realidade preconceituosa presente
no imaginário social, ao mesmo tempo em que demonstra a importância da sensibilização,
como possibilidade de mudança social e construção de relações de respeito e convivência com
o outro na sua diferença.
O preconceito é denotado, principalmente, pelas populações rurais que convivem
diretamente com os índios. Além disso, em decorrência de interesses das elites municipais,
dos fazendeiros nas terras indígenas e pelos recursos ambientais existentes, não são raras as
vezes que as populações indígenas necessitam disputar as escassas oportunidades de
sobrevivência nas aldeias e adjacências com os não-indígenas que ali vivem (SOUZA et. al.,
2010).
Corroborando com esta linha do saber, Guareschi (1992, p. 246) explica como se dá
a origem dos conflitos etnoculturais:
Essas relações etnoculturais, por meio do contato, por exemplo, como o já citado
incidente ocorrido com os povos indígenas, Terena, do município de Miranda-MS, onde foi
ateado fogo ao ônibus que ali estavam, bem como os altos índices de violência, em meio as
questões de demarcação territorial entre fazendeiros e povos indígenas do município de
Dourados-MS, tudo isso mostra que a fronteira esta além do limite, transpassando-o, em
virtude das próprias evidências documentais apontadas pelo Estado/Nação, bem como na
busca de mão-de-obra indígena, no caso, para trabalharem nas grandes plantações de cana e
soja. Outro ponto, importante, é essa questão da busca dos povos indígenas pela qualificação
educacional, em escolas, muitas das vezes, dirigidas pelo sistema de povos não-indígenas.
Sabe-se que antigamente o povo indígena não tinha essa oportunidade de interação,
mas quando isso acontecia, era no sentido de expropria-los de suas terras. Hoje isso ainda
acontece, de maneira veemente, no Brasil e, principalmente, no 2° maior Estado com reservas
indígenas – Mato Grosso do Sul. Contudo, em contra partida, a relação Estado-Nação, auxilia-
os no processo de interação, ou seja, transpor os limites impostos, na abertura do contato com
o diferente, no atendimento das necessidades básicas de saúde, educação, habitação, emprego
e renda, dentre outros.
Sem dúvida, o que se apresenta em tela permite-nos refletir sobre as relações (pré)
existentes destes grupos étnicos. Sendo assim, uma leitura de Barth (1969 apud SILVA,
2005a, p. 115), revela-nos o elemento que substancia o termo ”grupo étnico”, que diz: “a
característica definidora dos grupos étnicos é a de serem tipos organizacionais definidos por
29
categorias de adscrição do tipo ‘nós’ e ‘outros’”. Ora, isto permite identificar que o contato
entre estes distintos grupos étnicos é produto das relações sociais entre indígenas e não-
indígenas.
Torna-se evidente, na ótica de Barth (1969 apud SILVA, 2005a, p. 115) que “os
grupos étnicos não surgiram do isolamento geográfico, mas de processos sociais produtores
da diferença cultural”. Esses processos se davam através do contato, ou seja, da interação, na
premissa de atender um interesse existente.
Nessa relação de contato interétnico Silva (2005a, p. 119) diz que:
Esse ponto é bastante significativo porque nos permite entender que esse contato
entre diferentes, indígenas e não-indígenas, acarreta singularidades na construção de relações
interétnicas entre estes atores sociais, que antes, era posta, ou entendida de forma limitada,
como se tivesse uma barreira que impedisse o estabelecimento de relações, e quando isso
acontecia, era de forma totalmente negativa e avassaladora aos povos indígenas.
Mas, não somente, precisa-se tomar partido pela evidência negativa, quando se
estabelece o contato entre indígenas e não-indígenas, percebe-se e constata-se, por exemplo, a
importância desse contato nas relações educacionais. Um exemplo disso ocorre no Distrito de
Taunay e Aldeias Circunvizinhas, na etnia Terena, que se tem o primeiro indígena com
titulação de doutor pela PUC-RS. Isso mostra que o contato possibilita as ”construções
sociais” propostas por Silva (2005).
Segundo Silva (2005a, p. 125), a relação entre os grupos étnicos – indígenas e não-
indígenas - é entendida que “não denota uma homogeneidade cultural entre os índios, mas
efeitos semelhantes ‘misturas’ advindos de uma certa estrutura colonial de subordinação dos
índios e seus territórios a regimes administrativos estatizados”.
Contudo, essa visão étnica se torna pertinente para os atores. A etnicidade se
transforma em um princípio de divisão, não necessariamente conflitivo, da vida social
(POUTIGNAT; STREIFF-FERNART, 1998), permitindo a interação, por meio das relações
sociais entre indígenas e não-indígenas, que de maneira direta e/ou indireta comungam por
30
um interesse qualquer, fazendo com que essa fronteira, no principio entendida como limite,
seja elo entre estes atores.
Nesse sentido, Silva (2005a, p. 128) assevera que:
Encarada nessa perspectiva, o que importa nessa relação entre os grupos étnicos é
que no contato entre “nós” e “outros”, a diversificação das características entre os atores
sociais, indígenas e não-indígenas, podem mais a frente adquirir as mesmas e novas
conjecturas num mesmo território (POUTIGNAT; STREIFF-FERNART, 1998).
Ora, o indígena, com o convívio no mesmo território que o não indígena, por
exemplo, os indígenas das aldeias circunvizinhas do Distrito de Taunay, ao se deslocarem até
a cidade de Aquidauana, para usufruir dos serviços de saúde e educação, estabelecem o
contato com os não-indígenas, e mesmo assim, não deixam de ser indígenas. O que acontece,
na maioria das vezes, é que se confunde tal situação com o indígena que ao retornar para sua
aldeia, traz consigo inovações. Mas isso não o descaracteriza como índio, pois, no exemplo de
se utilizar os serviços de saúde, o indígena, sendo atendido por um médico não indígena, não
31
faria com que o indígena perdesse sua identidade, e sim acrescentasse inovações, desde que
convenientes e aceitas pelos povos indígenas.
Por isso, Poutignat e Streiff-Fernart, (1998, p. 11) evidenciam características que
comprovam a etnicidade onde:
povos. Nesse outro lado também estão determinações que dão sentido à
dialética da fronteira.
Nesse sentido, Poutignat e Streiff-Fernart (1998, p. 36) informa que “uma nação não
pode mais valer-se de fronteiras geográficas naturais, mas reivindicar populações que lhe
pertenceriam pela comunidade linguística ou parentesco racial”. Isso faz valer a importância
do contato e das relações interétnicas, respeitando-se os limites, mas também que haja a
possibilidade de continuarem a ser transpassados, e assim proporcionando um dinamismo
nessa chamada fronteira etnocultural.
Dando sustentação à interpretação apresentada, Weber (1971 apud POUTIGNAT;
STREIFF-FERNART, 1998, p. 37), no que tange aos contatos interétnicos, entre indígenas e
não-indígenas, observa que os grupos étnicos são:
[...] esses grupos que alimentam uma crença subjetiva em uma comunidade
de origem fundada nas semelhanças de aparência externa ou dos costumes,
ou dos dois, ou nas lembranças da colonização ou da migração, de modo que
esta crença torna-se importante para a propagação da comunalização, pouco
importando que uma comunidade de sangue exista ou não objetivamente.
Com isso, percebe-se em Raffestin (1993, p. 130) que “as diferenças interétnicas
constituem um fator político, ora virtual, ora concreto”, isso se configurando também como o
estabelecimento de limites, em meio aos interesses de outrem. Daí, ao ser imposto o limite, os
grupos étnicos ora convergem ora divergem, em prol de seus interesses. Quando isso
acontece, sendo numa perspectiva positiva e/ou negativa, inicia-se a interação interétnica no
território, para analisarem como resolver determinados entraves. Sendo assim, conforme
Raffestin (1993, p. 139), “a eliminação da diferença está relacionada à destruição da
informação”, por isso esse limite e a transposição do mesmo ser importante, caracterizando a
fronteira etnocultural.
Portanto, após exposição teórica, partir-se-á para outros dois elementos: “território” e
“territorialidade”, que são condicionantes para subsidiar o objetivo desta pesquisa. Para
Raffestin (1993, p. 144), “[...] o território, [...] é um espaço onde se projetou um trabalho, seja
energia e informação, e que, por consequência, revela relações marcadas pelo poder”, em que
os grupos étnicos se constroem e (re) constroem no território, e nessa construção e
reconstrução, (reporta-se a Sack, 1986), em que o território é marcado pelas territorialidades
exercidas, que será observado no próximo subcapítulo.
34
Isso mostra que o território é uma importante vertente para se compreender o “espaço
geográfico” que ora adquire o compromisso de expor a sociedade, de modo compreensível,
35
Ora, percebe-se na fala desse autor a importância das relações sociais numa
dimensão espacial, em que o território torna-se o lugar dos estímulos e/ou ”repulsa ao
contato” entre os diferentes grupos étnicos (HISSA, 2002), precisamente os indígenas e não-
indígenas do Distrito de Taunay e Aldeias Circunvizinhas.
Dessa maneira é que se começa a fortalecer a proposta de ”fronteira etnocultural”,
pois no território configura-se a possibilidade de “[...] recuperação e resgate dos fragmentos
de informações geográficas [...]” daquilo que foi apropriado e construído no espaço
geográfico, e assim permitindo “[...] a compreensão do que está acontecendo no processo
[...]” de distribuição socioespacial (ANJOS, 2007, p. 117).
A fim de fortalecer ainda mais este elemento – território – reporta-se a Raffestin
(1993, p. 143-144) que nos ensina que:
37
[...] a pertença étnica não pode ser determinada senão em relação a uma
linha de demarcação entre os membros e os não-membros. [...] é preciso que
os atores possam se dar conta das fronteiras que marcam o sistema social ao
qual acham que pertencem e para além dos quais eles identificam outros
atores implicados em um outro sistema social.
Com isso, verifica-se que, por meio do território, a fronteira etnocultural existe não
somente pelo “[...] conteúdo cultural interno que definem o grupo étnico e permitem que se dê
conta de sua persistência”, mas também pelo seu modo de organização, apropriação, traços
culturais oriundos da relação com o ”outro”, nesse caso, específico, o não indígena
(POUTIGNAT; STREIFF-FENART, 1998, p. 153).
Nessa mesma linha de raciocínio, aos indígenas foram reconhecidos seus costumes,
línguas, crenças e tradições, bens a que compete ao Estado-Nação proteger e fazer respeitar,
(BRASIL, 2009, CF, 1988, ART. 231). Por isso, a reprodução cultural das sociedades
indígenas deve ser considerada na identificação das terras por eles ocupadas (BRASIL, 2009,
CF, 1988, ART 231, § 1°).
Para o cumprimento desta Carta Magna, em detrimento da preservação e
manifestação dos grupos étnicos, faz-se necessário um território, este apropriado, para o
estabelecimento de relações etnoculturais, pois, como se sabe, hoje no Brasil, as áreas
territoriais, denominadas ‘terras indígenas’, estão, muitas das vezes, dentro e/ou próximas de
áreas rurais de pequenos ou de grandes fazendeiros. Sendo assim, verifica-se que a
compreensão constitucional sobre as culturas indígenas modificou-se radicalmente, em função
desse contato interétnico entre indígenas e não-indígenas, se as compararmos com as
abordagens antes vigentes.
38
Mediante esse contato interétnico entre indígenas e não-indígenas, ora na maior parte
se dá em suas terras, na área rural, ora de forma menos intensa se dá na área urbana, ou seja,
em territórios distintos. Poutignat e Streiff-Fenart (1998, p. 160) ensinam-nos que:
[...] a fronteira que os separa dos outros é determinada por forças agindo do
interior e do exterior e ela é constantemente redefinida pela interação desses
mecanismos internos e externos. [...] Essa interação entre as pressões
externas e internas exercidas na fronteira é particularmente sensível [...].
Nesse sentido, observa-se em Saquet (2007, p. 09) que “o território é mediador das
relações sociais de produção”, ou seja, é no território que possibilita o contato com o ”outro”,
seja para impor um limite, como para interagir. Por isso, pensar o território como elemento
conceitual de fronteira etnocultural é demonstrar a importância que o contato entre estes
atores sociais, indígenas e não-indígenas, ora de modo conflitante, ora de modo agregador,
podem ensinar e contribuir para melhorar a vida em sociedade.
Ainda em Saquet (2007, p. 17-18), visualiza-se o território como:
são relações de poder, visto que há interação entre os atores que procuram
modificar tanto as relações com a natureza como as relações sociais.
7
De acordo com o Dicionário on-line Priberam da Língua Portuguesa significa manutenção.
41
identifica-se um limite, por não deixar o ”outro” participar, como também, visualiza-se a
interação, quando há a permissibilidade do “outro” no processo de organização.
Isso se fundamenta em Saquet (2007, p. 86), em que nos revela que “cada sociedade
usa e organiza o território a sua maneira, com uma tendência areal, conforme suas formas de
vida e de poder”. Entretanto, “a territorialidade é uma forma de união, a partir do uso comum
dos recursos, facilitando a reciprocidade nas tarefas para indivíduos e famílias” (SAQUET,
2007, p. 84-85), fazendo com que se entenda a territorialidade como a estratégia no processo
das relações sociais entre os grupos étnicos.
Sendo assim, considera-se que a territorialidade permite aos grupos étnicos,
indígenas e não-indígenas, reconstituir seus horizontes e anseios em novos espaços, ao se
apropriarem de novos territórios. Portanto, a territorialidade parece ser um elemento útil à
coesão dos grupos sociais. Por outro lado, ela é uma fonte ou um apoio a hostilidades,
exclusões, ódios.
Diante dos elementos apresentados, por meio de referenciais teóricos, para se
entender a proposta desta pesquisa, que é a fronteira etnocultural, no capítulo dois, a seguir,
responder-se-á o questionamento objeto desta pesquisa que foi "Como ou quais elementos
substanciam o conceito de fronteira etnocultural no Distrito de Taunay e nas Aldeias
Circunvizinhas?", através da apresentação dos resultados obtidos em campo e do cruzamentos
entre os depoimentos (parte prática e empírica) corroborado em teóricos.
43
Um dos grandes problemas que marcam essa situação conflitante, sem dúvida,
manifesta-se pelo predomínio das questões territoriais, especificamente, nas aldeias que
circundam o Distrito de Taunay, pertencente ao município de Aquidauana-MS. Esse traço
negativo colocado pela situação territorial se dá pelo “passar do outro lado” e/ou não respeitar
o ”limite” estabelecido pelo Estado/Nação por parte dos não-indígenas, principalmente, mas
não apenas os fazendeiros.
Sendo assim, os meios para atingir o objetivo dessa pesquisa, que se trata de
compreender a dinâmica dos conflitos e das territorialidades que caracterizam a fronteira
etnocultural no Distrito de Taunay, município de Aquidauana, desdobra-se em identificar e
analisar as territorialidades locais, identificar e mapear os conflitos considerando seus
protagonistas, naturezas e objetos, e também analisar os conflitos territoriais entre os limites
existentes.
Neste contexto, colocar-se-á a aplicabilidade da metodologia proposta, a fim de
apresentar os atores sociais, que se propuseram a relatar sobre essa dinâmica etnocultural
(pré)existente entre indígenas e não-indígenas, assim como o objeto, no caso as questões
socioespaciais, e a natureza desses conflitos, em síntese, para nos defrontarmos com os
obstáculos, e também alternativas que indígenas e não-indígenas desenvolvem para, no
mínimo, mitigar seus problemas e viver de forma interrelacionada no Distrito de Taunay e nas
aldeias circunvizinhas.
Diante disso, reporta-se a Reis (2005, p. 11) que acrescenta sobre a questão territorial
indígena, onde:
Suas terras férteis e dadivosas, suas florestas, seus rios, a caça e a pesca,
tudo lhes foi tomado. Alguns possuem terras que não lhes pertencem porque
foram arrendadas e a força política muitas vezes, com sustentação de órgãos
do governo, não rescinde o contrato e o mesmo se perpetua, sendo a família
índia obrigada a ser empregada do arrendatário.
Neste item, por meio de fontes secundárias8, (BRASIL, 2004) de forma sintetizada,
apresentar-se-á um relato quanto ao processo de ocupação e uso das terras indígenas no Sul do
Estado de Mato Grosso (atual Mato Grosso do Sul), e posteriormente chegando à criação do
Distrito de Taunay e das Aldeias Circunvizinhas, além de relatar, como se deu a gênese dos
conflitos nestas terras.
Os povos indígenas, especificamente os Terena, são descendentes dos antigos
Guaná-Txané, os Terena contemporâneos falam uma língua da família linguística Aruak. Os
Guaná, até pouco tempo depois da Guerra do Paraguai, estavam separados em quatro
subgrupos (Terena/Etelenoé, Echoaladi, Kinikinawa e Laiana), contudo, atualmente se
reconhecem como “Terena”.
A eclosão do conflito entre o Paraguai e a Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e
Uruguai), no final de 1864, viria afetar a vida em todas as aldeias Guaná-Txané. Um dos
palcos do conflito foi justamente o território destes povos e, como eram aliados dos
brasileiros, sofreram ataques por parte das tropas paraguaias invasoras. Muitas aldeias foram
incendiadas pelos invasores e todas as aldeias então existentes na região dos rios Miranda e
Aquidauana se dispersaram, com seus habitantes buscando refúgio em serras e terrenos
incultos inacessíveis na região ou nas serras de Maracaju (BRASIL, 2004).
Findo o conflito com o Paraguai, as terras das aldeias Terena passaram a ser
“apossadas” por brasileiros, em geral oficiais e soldados desmobilizados do exército brasileiro
e comerciantes que lucraram com a guerra – e que permaneceram na região. Aqueles novos
colonizadores – a maioria chegada de regiões do Brasil onde a relação com as populações
indígenas era fundada na prepotência e no desprezo ao “bugre” – desconheciam qual havia
sido o papel fundamental dos Terena para a conquista e manutenção daquela região em mãos
brasileiras e os motivos que os levaram a abandonar temporariamente seus territórios
tradicionais.
Os índios se surpreenderam com o caráter eminentemente predador destes novos
purutuyé (não-indígenas) e recorreram como puderam às autoridades de Cuiabá – que antes os
tratavam com o respeito devido aos aliados – para defenderem suas terras; agora, sem
8
Referência: Processo FUNAI/BSB nº 0289/85. Terra Indígena: Taunay-Ypegue. Superfície: 33.900 ha.
Perímetro: 78.500 m. Município: Aquidauana, Estado de Mato Grosso do Sul. Sociedade Indígena: Terena.
População: 3.880 hab. Grupo Técnico constituído pela Portaria nº 1.155/PRES de 13/11/00 (DOU de 14/11/00).
45
sucesso. Este tempo do pós-guerra é conhecido pela maioria dos Terena contemporâneos
como “o tempo da servidão” (MIRANDA, 2006).
É a época, em fins do século XIX, em que se intensifica a abertura dos
estabelecimentos pecuários na região, com apoio das autoridades do Império. Todos aqueles
empreendimentos só foram possíveis graças a “liberação” forçada das terras indígenas e pelo
uso intensivo da mão-de-obra indígena, então disponível, pela circunstância.
É este o território que os velhos habitantes das aldeias da Terra Indígena Taunay-
Ypegue reconhecem, ainda hoje, quando definem os limites daquela terra indígena. Contudo,
a partir de 1892, o governo do Estado do Mato Grosso passaria a expedir títulos provisórios
de aquisição e/ou legitimação de posse para terceiros dentro dos limites reconhecidos pelos
Terena do Ypegue, transformando de direito, mas não de fato, parcelas de terras daquela
ocupação indígena tradicional em “terras devolutas sujeitas a legitimação”.
A continuidade histórica da ocupação Terena no interflúvio Miranda-Aquidauana
remonta às primeiras décadas do século XIX, quando Miranda era apenas um Presídio
abastecido por estes mesmos índios. Os depoimentos de anciãos Terena nascidos nas décadas
de 1910 e 1920, seja na “Reserva” do Ypegue, demarcada por Rondon em 1905, ou em
“fazendas” da região que fazem parte do território tradicional Terena dali, demonstram que a
influência indígena na região nunca arrefeceu, e que a criação de um espaço arbitrário (a
Reserva) jamais constituiu em obstáculo para a continuidade do uso e ocupação indígena nas
áreas que os Terena do Ypegue tinham (e têm) como de ocupação tradicional.
A atual aldeia Bananal tem sua origem registrada desde o final do século XIX
(1894). Foi nessa aldeia, em 27.08.1905, o local onde Rondon realizou audiências antes de
iniciar a demarcação da “Reserva” do Ypegue naquele ano. Mesmo quando grande parte dos
territórios tradicionais desses Terena do Ypegue lhes foram expropriados indevidamente.
As alterações nos padrões históricos da ocupação territorial Terena em Taunay-
Ypegue ao longo dos anos, assim como as alterações no modo de produção tradicional estão
atualmente determinados pela redução territorial explicitada pelo confinamento, cujo espaço
atual é insuficiente para possibilitar àqueles Terena um futuro com um mínimo de dignidade
(BRASIL, 2004).
Sendo assim, informa-se que o Distrito de Taunay situa-se no início da planície
pantaneira, divisa no planalto brasileiro com as escarpas da Serra de Maracaju. Pelo decreto-
lei federal nº 6.550, de 31/05/1944, o Distrito de Taunay pertence ao município de
Aquidauana, localizando-se no km 530, da BR 262 entre os municípios de Aquidauana e
Miranda, no sentido Campo Grande-Corumbá-MS, conforme figura 1.
46
Para a realização dessa pesquisa, entrevistaram-se vinte e cinco pessoas, que foram
escolhidas segundo a representatividade que as mesmas possuem no Distrito e nas Aldeias
circunvizinhas, a fim de, conforme proposto na metodologia, obter o máximo de informações
precisas e de maneira imparcial, a fim de não tornar prejudicial à análise e os resultados desta
pesquisa.
No entanto, quando se vai analisar o território, parte-se da caracterização dos atores,
dos locais de interação e da natureza, configurando o que Santos (2004, p. 128) diz que os
“[...] componentes não estão isolados. Apresentam padrões de distribuição no território e
estão relacionados em uma intricada rede de interações que determinam funções e
comportamentos”.
Por isso, na tentativa de apresentar e correlacionar essa interação, direta e/ou indireta,
respectivamente, em que a primeira é para se entender a natureza do contato interétnico no
processo de integração, enquanto que na segunda forma, como a presença, mais acentuada de
um limite estabelecido e/ou imposto, observa-se a tabela 2:
Diante dos dados apresentados na tabela 2, que foram os atores sociais, indígenas e
não-indígenas, bem como os objetos (escolas; AMDT; AMIDT; Igrejas; Correios; ESF;
Comércio; Posto Policial), tentar-se-á apresentar a natureza dessa relação, bem como
caracterizar a relação atribuída a cada objeto participado pelos atores sociais. Destaca-se que
essa análise engloba o Distrito de Taunay e ”todas” as sete (7) aldeias circunvizinhas, a fim de
maneira empírica apresentar a existência desta fronteira etnocultural.
48
Figura 2: Placa indicativa de entrada ao Figura 3: Placa que delimita a entrada nas Terras
Distrito de Taunay e Aldeias. Indígenas.
(Autor, 2011) (Autor, 2011)
Sendo assim, reporta-se a Bourdieu (2010, p. 133-134) que explica essa forma de
ocupar e utilizar o território na ótica das relações sociais e de poder em que para:
Ora, diante disso, percebe-se uma contradição de acesso às aldeias, em que o não
cumprimento da placa indicativa, determinada pelo governo federal que diz: “[...] Terra
Indígena com acesso interditado a pessoas estranhas [...]”, por parte dos não-indígenas,
segundo Bourdieu (2010, p. 134), desencadeia um “campo de forças”, e que este pode dar a
eclosão de uma situação de conflito, bem como proporcionar as interações.
Diante dessa questão de identificação e demarcação do território, recorre-se a
Poutignat e Streiff-Fenart (1998, p. 112-113) onde informam que:
Ora, isso remete-nos a analisar a grande preocupação que os índios Terena têm dessa
presença significativa de não-indígenas em suas terras, em decorrência da situação territorial
(demarcação de terras), e acrescenta-se a esta preocupação com a perda de um “atributo
cultural”, decorrente da comunicação, que é a língua falada pelo povo Terena, no contato com
os não indígenas em suas terras.
Em seguida, têm-se as figuras 4 e 5, que mostram como esses povos indígenas e não-
indígenas se organizam no território em meio a relações diretas e indiretas uns com os outros,
em prol das territorialidades do poder no território, ou seja, a estratégia que cada indivíduo
usa para se manter no espaço territorial.
Isso, conforme Poutignat e Streiff-Fenart (1998, p. 196), caracteriza que “[...] a
fronteira étnica canaliza a vida social – ela acarreta de um modo frequente uma organização
muito complexa nas relações sociais e comportamentais”, isso se torna evidente quando,
conforme figura 4, encontra-se construída uma ”Associação de Moradores do Distrito de
Taunay – AMDT”.
A AMDT foi criada pelos povos indígenas que residiam e residem no Distrito de
Taunay, em busca de reivindicar melhorias e estabelecer contato organizado com a esfera
50
pública municipal. Essa AMDT não fazia objeção quanto à participação dos povos não-
indígenas que residiam no Distrito de Taunay, sendo assim, começaram a atuar conjuntamente
em prol de interesses comuns. Tal prova de que essa relação direta, ou seja, o contato
interétnico deu êxito foi, por exemplo, com a implantação de um correspondente postal dos
correios e um posto telefônico (vide figura 5), que até hoje é cuidado pela AMDT.
Observa-se que nas figuras 4 e 5, respectivamente, a infraestrutura de uma
associação de moradores, bem como de um correspondente postal dos correios e um posto
telefônico, mostra que nas terras indígenas são encontrados equipamentos urbanos, em que
estes são utilizados pelos não-indígenas. Tais equipamentos presentes em terras indígenas não
os descaracterizam, mas sim, proporcionam agilidade e acompanhamento as dinâmicas
oriundas do sistema, não os apontando como ”atrasados”.
Diante do exposto, acrescentam-se duas situações importantes dessa relação direta e
indireta entre os povos indígenas e não-indígenas, dentro dos ensinamentos de Raffestin
(1993, p. 58), que mostra que “o poder visa o controle e a dominação sobre os homens e sobre
as coisas”, contudo na perspectiva de esclarecer essa dinâmica etnocultural: a) Segundo os
indígenas do Distrito de Taunay, a AMDT começou a agir por interesses próprios, ou seja,
com a vertente em prol dos não-indígenas, por isso, os indígenas criaram a Associação de
Moradores Indígenas do Distrito de Taunay – AMIDT, presidida hoje por um indígena, em
que este foi o fundador da AMDT, que atualmente, encontra-se presidida por um não
indígena; b) As instalações do correspondente postal dos correios são cuidadas pela AMDT,
conforme informação acima, acrescenta-se que os correios (segundo a regional de
Aquidauana) por não ter uma demanda acentuada, não disponibilizam carteiros, por isso, as
entregas das correspondências aos indígenas e não-indígenas são feitas pelo filho do
presidente da AMDT, que por mais que haja divergência no poder de quem responde por tal
benefício a comunidade local, há a interação, muitas das vezes pela necessidade do sistema.
A fim de substanciar as informações ditas no parágrafo anterior, com essas relações
etnoculturais existentes, em iminência do poder, no processo organizacional do território,
reporta-se a Raffestin (1993, p. 59) onde retrata que:
ser aprendidas, praticadas, e no decorrer da situação temporal, a pessoa, por exemplo, a não
indígena, pode se identificar como indígena.
Para isso, segundo Poutignat e Streiff-Fenart (1998, p. 143), em que “o fato de
nomear tem o poder de fazer existir na realidade uma coletividade de indivíduos a despeito do
que os indivíduos assim nomeados pensam de sua pertença a uma determinada coletividade”,
ora pelo convívio estabelecido, o não indígena, por meio de práticas culturais aprendidas e
praticadas, pode ser identificado como indígena por outrem, como também pode não ser.
Figura 12: Apresentação cultural de crianças Figura 13: Professor de História, não
indígenas e não-indígenas. indígena com seu aluno, indígena, Xavante.
(Autor, 2011) (Autor, 2011)
Figura 14: Pesquisador aplicando temática Figura 15: Capacitação pedagógica entre
transversal aos indígenas. professores indígenas e não-indígenas.
(Diretora, 2010) (Diretora, 2010)
9
Disponível em <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=500110#>. Acesso em 30 de
agosto de 2012.
56
10
Exiva na lingua Terena refere-se ao “chaco” Paraguaio.
11
Purútuye na língua Terena refere-se aos não indígenas, preferencialmente os “brancos”.
57
12
Kali Lâvona, na língua Terena, significa “pequeno lago”.
58
13
Passeio natural, vagueamento natural.
60
conquistas públicas diante de suas necessidades. Após anos de conflitos, as políticas públicas
não encontraram uma fórmula para minimizar os impactos do contato com os brancos na vida
dos indígenas na aldeia. As iniciativas governamentais não passam de paliativos, sem
continuidade e desprovidos do respeito ao processo decisório dos Terena.
As primeiras terras indígenas criadas pelo SPI foram delimitadas com base no
conceito de gleba, usado para delimitar a área de uma propriedade rural. Dessa forma,
nenhum desses pequenos vilarejos destinados aos índios levava em conta a vida tradicional e
a relação cultural com o território. Isso restringiu muito a vivência dos índios em
determinadas regiões, especialmente no Sul, no Sudeste e em parte do Centro-Oeste
(PROGRAMA, 2009/2010). "A ideia era de que os índios tinham que ter terra como os
brancos, ou seja, lotes, glebas. Foi um erro terrível, que prejudicou tremendamente os Guarani
e os Terena, no Mato Grosso do Sul" (PROGRAMA, 2009/2010, p. 37).
O Estado de Mato Grosso do Sul abriga uma das maiores populações indígenas do
país. Os Terena, por contarem com uma população bastante numerosa e manterem um contato
intenso com a população regional, são o povo indígena cuja presença no estado se revela de
forma mais explícita, seja através das mulheres vendedoras nas ruas de Campo Grande, ou das
legiões de cortadores de cana-de-açúcar que periodicamente se deslocam às destilarias para
changa, o trabalho temporário nas fazendas e usinas de açúcar e álcool.
Essa intensa participação no cotidiano sul-mato-grossense favorece a atribuição aos
Terena de estereótipos tais como “aculturados” e “índios urbanos”. Tais declarações servem
para mascarar a resistência de um povo que, através dos séculos, luta para manter viva sua
cultura, sabendo positivar situações adversas ligadas ao antigo contato, além de mudanças
bruscas na paisagem, ecológica e social, que o poder colonial e, em seguida, o Estado
brasileiro os reservou.
A taxa de suicídio entre as populações indígenas do Brasil é quatro vezes maior do
que no resto do país, segundo o UNICEF. Um dos grupos analisados para a pesquisa foi
justamente o Guarani-Kaiowá, alvo de chacinas nos últimos anos. Mato Grosso do Sul e
Amazonas concentram cerca de 81% dos casos de suicídio do país. No primeiro, as taxas são
34 vezes maiores do que a média nacional. O valor sobe ainda mais entre os jovens. O Brasil
tem cinco casos de suicídio a cada cem mil habitantes; entre os jovens indígenas de MS, esse
número chega a 446 casos para cada cem mil.
Assim, enquanto o Brasil tem taxas baixas de suicídio na América Latina, essa
relação se inverte quando se trata das populações indígenas. O estudo aponta para a
62
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes,
línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer
respeitar todos os seus bens.
§ 1º - São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas
em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as
64
É nesse sentido que estão sendo observados, por meio desta pesquisa, os elementos
comuns entre fronteira e etnicidade, como perenidade; relação social; relações de poder;
organização social; apropriações; limites; contingente e o desencadear de ações e reações. O
que foi observado nesta pesquisa contribui para o conceito de fronteira etnocultural, ou seja,
para a exposição da compreensão das dinâmicas através das territorialidades e conflitos
(pré)existentes no Distrito de Taunay e nas aldeias circunvizinhas.
Com isso, de forma empírica, durante o transcorrer da pesquisa, por meio da
entrevista com os representantes das associações de moradores, os respectivos senhores,
Waldomiro Wargas, que representa a AMIDT - Associação de Moradores Indígenas do
Distrito de Taunay, e Antônio José dos Santos, que representa a AMDT - Associação de
Moradores do Distrito de Taunay, informaram das conquistas que conseguiram, por meio das
respectivas associações. Pela AMIDT, conseguiram cestas básicas, através do Programa de
Segurança Alimentar Indígena, para 62 famílias cadastradas e ainda existem cerca de 40
famílias aguardando serem cadastradas, além da construção na sede do Distrito do PSF -
Posto de Saúde Familiar.
Pela AMDT, conquistaram os seguintes benefícios para indígenas e não-indígenas: a)
caixa d'água para o Distrito; b) construção da sede da associação; c) construção do
Destacamento da Polícia Militar; d) aquisição de uma viatura da PM; e) restauração da Escola
Municipal Visconde de Taunay; f) manutenção do campo de futebol; g) convênio com
correios; h) aquisição de uma ambulância para a sede do Distrito.
Portanto, observaram-se nas relações entre as associações - A.M.D.T. e A.M.I.D.T. -
as relações etnoculturais inerentes aos interesses distintos e em comum, por meio das relações
de poder, que uma pode e/ou tenta exercer sobre a outra, no que tange a conquistas para a
comunidade de indígenas e não-indígenas.
Em seguida, de maneira geral, percebe-se que os aruak abrangem povos indígenas
ainda demograficamente vigorosos como os Terena no MS. Sendo assim, reportou-se à
Fundação Nacional de Saúde - FUNASA, para visualizarmos os dados do contingente
populacional pelo número de residências nas aldeias que circundam o Distrito de Taunay.
Assim, nessas aldeias, perfaz-se uma relação étnica com os Cinta-Larga; Terena; Guarani;
Kadiwéu; Kaiowá; Kinikinawa e Xavante, conforme quadro abaixo:
65
Tabela 3: Caracterização demográfica pelo número de residências dos Povos Indígenas que
circundam o Distrito de Taunay, município de Aquidauana-MS.
bem como ver a teoria sobre a proposta de fronteira etnocultural sendo corroborada pelas
evidências apontadas.
Ao tratarmos sobre qual a visão que os moradores “Não-indígenas” das Aldeias
Indígenas têm sobre os moradores “Indígenas” que residem nas Aldeias, percebeu-se na
resposta de um dos depoentes, que disse: "A visão que eles tem é que todos deveriam ser
igual, deveriam ter direitos iguais sendo ele índio ou não-índio" (DEPOENTE 5, 2011).
Diante dessa resposta, observa-se que o pronome eles refere-se aos ”não-indígenas”
que residem nas aldeias e que querem fazer uso e gozar dos direitos (benefícios,
principalmente os sociais e territoriais) dos povos indígenas. Nessa ótica, observa-se em
Poutignat e Streiff-Fenart (1998, p. 80) que a etnicidade designa "[...] uma forma de
organização social própria às sociedades modernas". Ora, o não indígena, no seu tempo
”acelerado”, muitas vezes conotando o tempo do indígena, como se fosse arcaico, o que se
sabe que não é fato.
Nesse mesmo prisma, fez arguições de qual a visão que os moradores “Indígenas”
das Aldeias Indígenas têm sobre os moradores “Não-indígenas” que residem nas Aldeias,
constataram-se nas respostas dos depoentes o seguinte: "Na Água Branca não tem esse
estranho", não é contra, mas não aceita (DEPOENTE 1, 2011). Diante dessa resposta, as
definições implicam a ideia de não se ter a presença do não indígena, com isso, de acordo com
Poutignat e Streiff-Fenart (1998, p. 80) "[...] um grupo que tem uma tradição cultural e um
sentido da identidade, [...] um grupo social que, no interior de um sistema sociocultural mais
amplo reivindica ou possui um estatuto [...]". No entanto, se tem uma liderança indígena que
tenta ainda preservar o mínimo de traços étnicos existentes, manifesta-se o bloqueio e/ou
situações subentendidas como preconceituosas, como por exemplo, na resposta, a frase "esse
estranho", que remete ao não indígena.
Em seguida, têm-se as palavras do próximo depoente, que disse: "Por causa de não
índios de outros estados que casaram com índias que trabalhavam nas fazendas, e também
encontrou a índia trabalhando de doméstica, e quando vem trabalhar de pedreiro"; "O índio
tem todos os direitos independente do casamento ser com a não-índia"; "A índia existe um
preconceito da liderança e dos moradores"; "O marido (não indígena) vai pode ter escritura de
bens e direito, sua presença é permissível, desde que ele se autossustente, não tem direito a
benefícios sociais"; "Tem direito a voz e não a voto"; "O não-índio passa por rejeição e
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preconceito quando se está dentro da aldeia, fica sempre em segundo plano" (DEPOENTE 2,
2011).
Nessa fala, baseou-se novamente em Poutignat e Streiff-Fenart (1998, p. 103) que
teoriza sobre a etnicidade como uma relação social lógica de poder, onde "a etnicidade como
uma forma de solidariedade que emerge em resposta à discriminação e à desigualdade e
manifesta uma grande consciência política por parte dos grupos que buscam reverter uma
lógica dominação". Isso acrescenta na relação de interação entre os distintos grupos étnicos,
indígenas e não-indígenas, mas em detrimento das questões territoriais manifesta-se as
relações de poder, daquele que já se apropriou do espaço, no caso, os indígenas.
Acrescentando resposta ainda a esta pergunta, observa-se na fala do depoente a
seguir um fato importante, a presença de imigrantes, na parte oeste do Pantanal sul-mato-
grossense, em terras indígenas, vejam: "Tem boliviano, paraguaio, purútuye (branco)"
(DEPOENTE 3, 2011). Nessa resposta, percebeu-se que o Depoente 3 tem a visão de
reciprocidade da aceitação do outro, e com isso gera muita polêmica em sua aldeia.
Para se entender melhor essa resposta do Depoente 3 reportou-se a Poutignat e
Streiff-Fenart (1998, p. 105) que diz:
[...] através da agregação de interesses individuais, mas como estratégia
própria a um grupo particular que manipula, em proveito próprio, o apelo à
lealdade étnica [...] onde a formação de comunidades étnicas nas sociedades
em vias de modernização à capacidade das elites em mobilizar os
camponeses para apoiar suas próprias pretensões de prestígio e às vantagens
econômicas.
Para esta aldeia, mediante a resposta do Depoente 3, corroborada pela teoria abaixo,
entende-se e percebeu-se no diálogo com o referido depoente que a presença de imigrantes,
sendo estes indígenas e não-indígenas, podem contribuir para melhorias e benefícios na
aldeia, haja vista a dificuldade de acesso e chegada das informações em seu território. Tudo
isso é autorizado, desde que não seja ultrapassada a hierarquia (pré) concebida.
Finaliza-se essa questão com a resposta do próximo depoente que disse "A presença
do não indígena na aldeia só é permitida de acordo com a gestão do cacique"; "O caso que
tem, não atrapalha a comunidade, não-índio de Coxim (Eduardo)"; "Tem variação/aceitação
de aldeia para aldeia, exemplo no Ypegue tem mais não-indígenas" (DEPOENTE 4, 2011).
Nesse sentido, reporta-se a Poutignat e Streiff-Fenart (1998, p. 109) onde mostra que
"[...] a etnicidade como um sistema cultural que permite aos indivíduos situar seu espaço em
uma ordem social mais ampla", em que "[...] o processo pelo qual as pessoas, por meio das
diferenças culturais, comunicam ideias sobre a distintividade humana e tentam resolver
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Por isso, é tomando como referência esta trajetória que se observa uma interface
conflituosa, a meu ver, central no campo das políticas pelo poder do território. Em que pesem
tais divergências, surge o que Poutignat e Streiff-Fenart (1998, p. 160) esclarece sobre as
fronteiras étnicas, que através da interação perspectivada, "a fronteira que os separa dos
outros é determinada por forças agindo do interior e do exterior e ela é constantemente
redefinida pela interação desses mecanismos internos e externos".
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Para subsidiar esta análise, Poutignat e Streiff-Fenart (1998, p. 160) nos ensinam
que:
o ato de produzir no espaço, onde essa produção interativa vai atestar e/ou definir o sentido
produtivo dessa interação no meio pelos diferentes.
Com isso, através das questões inerentes a presença das duas associações em um
único local, perguntou-se por que há duas associações de moradores no Distrito de Taunay.
Observou-se como reposta pelos depoentes que: "Cada um quer se promover" (DEPOENTE
1, 2011); "A associação deveria ser integrada. Há preconceitos da AMIDT com as outras"
(DEPOENTE 2, 2011); “Vê como a distinção de objetivo de uma entre outra” (DEPOENTE
4, 2011) e "Porque defendem os dois lados" (DEPOENTE 5, 2011).
Diante disso, percebeu-se o "poder de nomear" que é a rotulação que um grupo
exerce sobre o outro, quando, por exemplo, identifica que ”seus” interesses não estão sendo
atendidos, bem como, quando se observa na resposta do Depoente 2 (2011), observa-se em
Poutignat e Streiff-Fenart (1998, p. 143-144) que: "[...] o fato de nomear tem o poder de fazer
existir na realidade uma coletividade de indivíduos a despeito do que os indivíduos assim
nomeados pensam de sua pertença a uma determinada coletividade".
Nessa questão de “nomear” se visualizam os preconceitos (pré) estabelecidos e
manifestados quando interesses são atendidos apenas a um determinado grupo, mas o que se
observou nessas situações é o fato de serem nomeados, tanto exógena quanto endogenamente,
visualizando-se assim, a fronteira etnocultural, ultrapassando os limites (pré) estabelecidos
através da integração perspectivada.
É nesse contexto que se baseou em Vargas et, al. (2009, p. 7) que acrescenta que "as
relações sociais produzem o território como espaço específico e, ao transformarem o espaço
em território, criam limites e fronteiras num espaço de conflitualidades". Esse espaço muitas
vezes é marcado pelas relações de poder (RAFFESTIN, 1993) e proporciona as interações
entre os distintos grupos étnicos no seu processo de construção e/ou planejamento de
militância por algo, e este, quando se concretiza, desdobra-se em produto para um dos lados,
origina-se o conflito. Por isso, que é fato marcante, as situações conflituosas existentes entre
indígenas e não-indígenas do Distrito de Taunay e Aldeias Circunvizinhas, em decorrência da
questão territorial, onde limites são estabelecidos e transpassados.
Num prisma educacional, procurou-se saber o quê os entrevistados pensam sobre o
contato entre alunos “Indígenas” e “Não-indígenas” nas Escolas. Visualizaram-se os seguintes
depoimentos: Na aldeia Água Branca "não tem alunos não-indígenas, somente os
professores", com isso, preocupa-se por causa da "timidez da criança e do aprendizado", pois
esse problema da linguagem/comunicação gera muita nota baixa (DEPOENTE 1, 2011); "O
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professor não indígena dá muito mais atenção aos alunos indígenas"; "Os alunos indígenas
tem um carinho e atenção com os professores não-indígenas"; "As professoras (es) índias (os)
chegam estressados nas escolas";; "É bom. Em termos de aprendizagem, o índio tem que
acompanhar a evolução do não-índio" (DEPOENTE 3, 2011). "Quando estuda na cidade,
sente-se sozinho"; "Quando estuda na comunidade, sente-se integrado"; "A escola incentiva a
valorização da cultura" (DEPOENTE 4, 2011) e "Acho que deveriam vir mais indígenas de
fora (das aldeias) para estudarem aqui (no Distrito)" (DEPOENTE 5, 2011).
Percebeu-se uma especificidade existente nas aldeias, principalmente na resposta do
Depoente 1 (2011), que é a não aceitação de alunos não-indígenas. Com isso, justifica-se em
Poutignat e Streiff-Fenart (1998, p. 148) que diz: "a relação de força que atua em torno das
definições da pertença nem sempre opõe os dominantes aos dominados, mas pode algumas
vezes opor frações dos dominados na luta pela hegemonia [...]", é nesse viés de luta, de
mantença cultural, que esta aldeia não permite a relação educacional de alunos não-indígenas,
e tão somente dos professores, haja vista demandar dos serviços educacionais estabelecidos
pela relação de imposição do município.
Dessa maneira, salutar se faz apontar a dialética estabelecida entre os professores
indígenas com os não-indígenas, principalmente pelas relações de afetividade que são
percebidas e manifestadas pelos alunos indígenas, e também, pela grande preocupação dos
professores não-indígenas em quererem manter a sua presença nas escolas indígenas,
tornando-os estimuladores das praticas culturais de cada grupo indígena. Portanto, Poutignat e
Streiff-Fenart (1998, p. 153) aponta que as "[...] fronteiras étnicas e não o conteúdo interno
que definem o grupo étnico e permitem que se dê conta de sua persistência", com isso,
entende-se que a fronteira etnocultural aqui identificada é definida por princípios de se manter
e estabelecer a fronteira entre os indígenas e não-indígenas pelo contato, não se limitando
apenas aos traços culturais.
Outro elemento que estabelece relações sociais são as instituições religiosas (igrejas),
como qual a importância das igrejas para o Distrito de Taunay, e obteve-se a seguinte
resposta: "Elas são importantes para evangelizar os índios e os não-índios" (DEPOENTE 5,
2011). Essa pergunta foi complementada por “como é a relação entre indígenas e não-
indígenas nas igrejas do Distrito de Taunay”? Viu-se que "Nas igrejas não há discriminação"
(DEPOENTE 5, 2011).
Arguiu-se também, sobre qual a importância das igrejas para as aldeias. Percebeu-se
nos depoimentos: "Ajuda na redução de álcool (pinga) drogas e bagunça e prega a palavra de
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com isso, a visão sociohistórica de que o isolamento geográfico e social tenham sido
os fatores críticos para a sustentação da diversidade cultural não se equivalem para os
resultados desta pesquisa, pois, foi a partir do contato com o outro, do indígena com o não
indígena que as trocas, relações, necessidades, disputas (inclusive pela terra) e aprendizado se
fizeram identificadas nesta pesquisa, e assim consubstanciando o termo fronteira etnocultural.
Essa fronteira etnocultural, entendida no prisma geográfico, estabelecida entre os
povos indígenas com os não-indígenas do Distrito de Taunay e das Aldeias Circunvizinhas,
mostraram que as relações socioespaciais são estáveis e instáveis, persistentes e muitas vezes
de uma importância social vital. A manutenção dessas fronteiras é frequentemente baseada
precisamente nos quesitos territoriais, quando este é objeto, ora na situação de disputa entre os
grupos distintos, ora na situação de união, contra um terceiro ator social, bem como nas
relações de interação.
Observou-se que a fronteira etnocultural é decorrente do processo de interação, onde
esta, em um sistema social como este, indígenas e não-indígenas, não leva a seu
desaparecimento por mudança e aculturação; as diferenças culturais podem permanecer
apesar do contato interétnico e da interdependência dos grupos. Os grupos étnicos são
categorias de atribuição e identificação realizadas pelos próprios atores sociais e, assim, têm a
característica de organizar a interação entre estas pessoas.
Contudo, faz-se relevante apontar que além dos depoimentos citados, os depoentes se
expressaram no quesito de se pedir melhorias para a localidade, haja vista que ao se colher as
entrevistas deixou-se claro que esta pesquisa se tornaria um documento público, e este
pesquisador aponta as situações demandadas pelos depoentes indígenas e não-indígenas, pois,
como estamos num ano de período eleitoral, que muitos possam tomar nota destas
informações e pensar em melhorias e/ou políticas públicas para esta localidade.
Sendo assim, percebe-se a necessidade da efetivação das políticas públicas da relação
Estado/Nação com as populações do Distrito de Taunay e das Aldeias Circunvizinhas, a fim
dos entraves identificados, quais sejam: a) Projeto de capacitação para trabalhos manuais e de
maquinários (roça e costura) para as mulheres; b) A renda da família não é suficiente para
investir na lavoura; c) As mercadorias na aldeia são muito caras; d) Um engenho comunitário,
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para se vender por um preço mais em conta; e) Faltam moradias - poucas casas de material
(alvenaria); f) É a única aldeia que não foi contemplada pelo governo foi a Água Branca com
habitações de alvenaria; g) Falta d'água (reservatórios).
A Fronteira Etnocultural, partindo dessas necessidades apontadas, pode ser entendida
como ponto de interação, a partir do momento que esses entraves são expressos aos
segmentos governamentais, mesmo que não atendidos, mas oportunizam ao indígena a se
expressar, de tal modo a buscar necessidades da realidade, e/ou contexto da cidade, que
possam dinamizar o convívio nas terras indígenas, como também serve para dar gênese a
situações conflitivas, quando esses segmentos não atendem as situações inerentes a
demarcações territoriais.
Por conseguinte, com os resultados apontados no transcorrer dessa pesquisa, espera-
se que possam ser minimamente utilizados para um planejamento estratégico ao se pensar em
adentrar e/ou desenvolver e/ou implantar qualquer atividade em terras indígenas, haja vista,
que esta fronteira etnocultural mostrou que as populações indígenas e não-indígenas precisam
ser ouvidas. No entanto, para serem ouvidos, os não-indígenas precisam ser autorizados a
entrar e se manifestar nas terras indígenas. É a partir dessa autorização que a aceitação se
estabelece ou não, evidenciando as relações socioespaciais na fronteira etnocultural
identificada.
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REFERÊNCIAS
ANDRADE, E.S.; SANTOS, I.V. Reflexões sobre a formação continuada no âmbito das
relações etnicorraciais: uma experiência em nível de pós-graduação lato sensu no Centro
Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca. Rio de Janeiro: Centro
Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca - CEFET/RJ, 2009.
ANJOS, R. S. A. dos. Territórios étnicos: o espaço dos quilombos no Brasil. In: SANTOS, R.
E. dos (Org.): Diversidade, espaço e relações étnico raciais: o negro na geografia do
Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. p. 115-136.
FREDERIC, S. Resenha sobre BAILEY, Frederik G. (2000). The Need for Enemies: A
Bestiary of Political Forms. Ithaca/London: Cornell University Press. 223 pp.
Universidad Nacional de Quilmes, Buenos Aires, 2000. MANA 6(2), pp. 163-192.
OLIVEIRA, R. C. de. O índio e o mundo dos brancos: a situação dos tukúna do alto
Solimões. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1964.
OLIVEIRA, R. C. de. Do índio ao Bugre : o processo de assimilação dos Terena. 2. ed. Rio
de Janeiro: Francisco Alves, 1976.
RAFFESTIN, C. Por uma Geografia do poder. São Paulo: Editora Ática, 1993.
SANTOS, M. A natureza do espaço: Técnica e tempo. Razão e emoção. 2ª ed. São Paulo:
Hucitec, 1997.
SANTOS, M. Território e Sociedade: Entrevista com Milton Santos. São Paulo: Fundação
Perseu Abramo, 2007.
SAQUET, M.A. Abordagens e concepções sobre território. São Paulo: Expressão Popular,
2007.
APÊNDICE B
TERMO DE CONFIDENCIALIDADE
Título do projeto:
Pesquisador responsável:
Demais pesquisadores:
Instituição de origem do pesquisador:
Área de Conhecimento:
Curso:
Telefone para contato:
Local da Coleta de dados:
Protocolo no CEP/UFMS:
APÊNDICE C
Você esta sendo convidado a participar em uma pesquisa. Você precisa decidir se
quer participar ou não. Por favor, não se apresse em tomar a decisão. Leia cuidadosamente o
que se segue e pergunte ao responsável pelo estudo qualquer dúvida que você tiver. Este
estudo está sendo conduzido por Edson Pereira de Souza do Programa de Pós-Graduação em
Estudos Fronteiriços da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Porque o estudo esta sendo feito? O motivo pelo qual se pretende realizar este estudo
é, primeiramente, a escassez de estudos sobre os conflitos etnoculturais e territoriais no
Distrito de Taunay do município de Aquidauana. Há na referida localidade muitas questões à
espera de equacionamento. Pouco se sabe sobre a situação conflituosa entre as
territorialidades (e comunidades) existentes na referida localidade, bem como sobre as
relações de interdependência que afetam e definem a fronteira etnocultural, a qual transcende
os limites territoriais indígenas.
A finalidade deste estudo é estudar a fronteira etnocultural em Taunay, ou seja,
compreender como as relações entre indígenas e não-indígenas se expressam como
territorialidades e afetam as comunidades constituídas ou em formação. outro propósito é de
compreender a dinâmica dos conflitos e das territorialidades que caracterizam a fronteira
etnocultural no Distrito de Taunay, município de Aquidauana.
Quem participará deste estudo? Quais são os meus requisitos? Poderão participar
deste estudo apenas as lideranças indígenas e não-indígenas, portanto, pessoa maior de 18
anos, livre e voluntariamente.
Quem não pode ou não deve participar deste estudo? Não participará deste estudo
qualquer liderança indígena e não-indígena que, por qualquer motivo, se recuse a conceder a
entrevista, além de menores de 18 anos.
O que serei solicitado a fazer?
Você será entrevistado sobre as relações sociais, políticas e econômicas entre
indígenas e não-indígenas. A entrevista será gravada e o que você disser será registrado para
posterior estudo.
O que se sabe sobre este assunto (este procedimento )? Sabe-se que, a fim de melhor
compreender e contextualizar as relações (interesses, associações e conflitos) entre indígenas
e não-indígenas, serão colhidos relatos pessoais com o uso de gravador de audio apropriado.
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Por outro lado, o procedimento visa também à obtenção de informações sobre as práticas
sociais e espaciais cotidianas, especialmente as relações entre as pessoas (ou grupos) e destas
com o lugar em que vive. A quantidade de relatos orais a serem colhidos será definida em
correspondência com o número de lideranças indígenas e não-indígenas existentes na
localidade (Distrito e Aldeias). Portanto, esta é uma pesquisa qualitativa que conforme
Chizzotti (2008, p. 28) visa "extrair do convívio os significados visíveis e latentes que
somente são perceptíveis a uma atenção sensível". A aplicação da referida técnica será
baseada nas orientações metodológicas de Queiroz (1991).
Quanto tempo estarei no estudo? A partir de maio de 2011 até fevereiro de 2012,
período em que você participará deste estudo, correspondendo ao início das entrevistas até
apresentação final da dissertação no Câmpus Pantanal da UFMS, em Corumbá.
Que prejuízos (ou eventos adversos ) podem acontecer comigo se eu participar deste
estudo? Não há previsão de qualquer prejuízo ou evento adverso.
Que benefício eu posso esperar? Em relação aos sujeitos da pesquisa (pessoa que
concederá entrevista) não há benefícios diretos decorrentes deste estudo. Todavia, seus
resultados poderão subsidiar as políticas públicas e gestão social e territorial voltadas para a
localidade (Distrito de Taunay e as 7 aldeias adjacentes).
Quem poderá ver os meus registros / respostas e saber que eu estou participando do
estudo? Se você concordar em participar deste estudo, seu nome e identidade serão mantidos
em sigilo. A menos que requerido por lei, somente o pesquisador e seu orientador (equipe de
estudo) e Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul terão acesso a suas informações para verificar as informações do estudo.
Eu serei informado do surgimento de informações significativas sobre o assunto da
pesquisa? Sim, você será informado periodicamente de qualquer nova informação que possa
modificar a sua vontade em continuar participando do estudo.
Quem devo chamar se tiver qualquer dúvida ou algum problema? Para perguntas ou
problemas referente ao estudo ligue para (67) 9268-0202 ou 3362-8043 [Edson Pereira de
Souza e/ou Sérgio Ricardo Oliveira Martins]. Para perguntas sobre seus direitos como
participante no estudo chame o Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFMS,
no telefone 3387-3093 - Ramal 2299.
Eu posso recusar à participar ou pedir para sair do estudo? Sua participação no
estudo é voluntária. Você pode escolher não fazer parte do estudo, ou pode desistir a
qualquer momento. Você não perderá qualquer benefício ao qual você tem direito. Você não
90
será proibido de participar de novos estudos. Você poderá ser solicitado a sair do estudo se
não cumprir os procedimentos previstos ou atender as exigências estipuladas. Você receberá
uma via assinada deste termo de consentimento.
Declaro que li e entendi este formulário de consentimento e todas as minhas dúvidas
foram esclarecidas. e que sou voluntário a tomar parte neste estudo.
Assinatura do Voluntário__________________________________data__________
(se possível obter uma forma para que o sujeito da pesquisa possa ser contactado
Assinatura do pesquisador __________________________________data_________