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ProducaoArtisticaContemporanea em Dialogo Com o Croche Artesanal
ProducaoArtisticaContemporanea em Dialogo Com o Croche Artesanal
Natal-RN
2016
ELISAMA DE MORAIS SILVA
Natal-RN
2016
ELISAMA DE MORAIS SILVA
_________________________________________________
Prof. Dr. Vicente Vitoriano Marques Carvalho – UFRN (Orientador)
___________________________________________________
Profa. Dra. Laís Guaraldo – UFRN (Examinadora Interna)
____________________________________________________
Profa. Dra. Evanir de Oliveira Pinheiro – IFESP-SEC/RN (Examinadora Externa)
AGRADECIMENTOS
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................... 11
3.1 Proposta artística: diálogo entre a arte contemporânea e o crochê artesanal ............................. 17
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................ 39
1 INTRODUÇÃO
O trabalho aqui apresentado, que tem por título “Uma produção artística
contemporânea em diálogo com o crochê artesanal”, foi materializado sob a
forma de uma instalação na Galeria de Artes do Departamento de Artes, localizada
no Campus Central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(DEART/UFRN). O trabalho configura-se como uma produção artística que propõe
fazer um diálogo entre a técnica de crochê artesanal e a arte contemporânea.
Este documento pretende explicar e relatar o processo de produção artística
resultante do diálogo acima referido realizado no decorrer de toda a pesquisa. Para
esta produção, tem sido utilizada a técnica do crochê, que expressa conexões
estabelecidas entre o que estamos chamando de artesanato e arte contemporânea
em uma perspectiva regional.
A forma como isso seria alcançado foi um desafio ao longo do caminho,
durante um ano e meio. Este percurso iniciou-se em agosto de 2015 na disciplina de
Pesquisa em Artes Visuais ministrada pelo o professor Vicente Vitoriano. A pesquisa
seguiu durante o TCC I e o TCC II. Hoje, ao término da mesma, considero ter
alcançado a maioria dos objetivos propostos, alguns com mais dificuldades que
outros, dificuldades que foram encaradas como desafios a serem vencidos. À
medida que eram ultrapassados, sentia-me enriquecida com as experiências vividas,
e avançava em direção ao término do projeto.
Iniciei este projeto pesquisando sobre artistas que utilizavam a técnica do
crochê em suas obras, em seguida visitei um grupo de mulheres que fazem
varandas de rede em crochê, que eram comercializadas pela extinta Associação dos
Artesãos e Microempresários de Parelhas-RN (ASSOAMEP), na cidade de Parelhas,
Região do Seridó, Rio Grande do Norte, para obter dados sobre seus trabalhos. Em
nossa produção artística, as tramas de fios são baseadas nos pontos usados
tradicionalmente por estas mulheres rendeiras.
A princípio, a ideia era fazer uma releitura de algumas obras do artista
plástico potiguar, Vatenor de Oliveira, “o pintor dos cajus”, plasmada no crochê.
Porém, no desenvolver da pesquisa decidi fazer o trabalho sobre uma obra de minha
própria autoria. E surgiu então a proposta da instalação, à qual dei o título de
“Tramas ao Vento”. Composta por três obras tecidas em crochê, peças que foram
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executadas com barbante de algodão cru, as quais depois de prontas foram tingidas
artesanalmente com corantes de tecido.
Registrei todos os passos dados na elaboração da obra em meu diário de
bordo. Tais registros foram de grande valia para redigir o relato do processo de
criação, pois com base nos registros foi possível descrever as dificuldades,
mudanças ocorridas no decorrer da pesquisa, experimentos com êxitos e os que não
funcionaram e as preocupações que foram se dissipando ao se aproximar da etapa
final da pesquisa.
A relevância deste trabalho está ligada à importância da produção artística da
instalação intitulada “Tramas ao Vento” para o momento contemporâneo.
Deste modo, com esta instalação pretendo trazer para a academia o valor
desta produção, que está ligada à cultura de comunidades tradicionais que se
mantiveram vivas ao longo dos tempos como um elemento da criatividade popular,
em oposição a diversas técnicas industriais.
A produção artística possui um valor subjetivo, cognitivo e simbólico para o
artista e para o espectador, pois segundo Tolstoi (apud ALMEIDA, 2005, p. 82), “o
artista sente uma certa emoção e transmite essa emoção através da obra à
audiência, provocando nela o mesmo tipo de estado emocional. A expressão é vista
como uma forma de comunicação, permitindo sentir à audiência o mesmo que o
artista sentiu ao criar a obra”. Neste sentido, esta produção nasceu das lembranças
cognitivas da infância da autora, na qual os cajus e cajueiros faziam parte do cenário
da Cidade de Natal-RN. Estas memórias remontam a um tempo em que uma das
principais marcas de nossa região era o caju, que estava espalhado nos mais
diversos lugares da cidade. Sendo assim, a relevância da obra também está ligada à
comunicação deste estado cognitivo e afetivo ao espectador que, em contato com as
obras, compartilhará desta emoção que primeiro nasceu na artista.
Esta pesquisa tem o valor pedagógico de trazer para a audiência elementos
sensoriais que provocam emoções que estabelecem um elo entre artista e
espectador. É a provocação de um olhar para o artesanal que carrega valor
simbólico e cognitivo pessoal, mas que dialoga com o meio social e artístico
contemporâneo, através de técnicas que ressignificam a função e a finalidade do
crochê, trazendo esta produção para uma instalação artística que se comunica com
o velho e o novo, o tradicional e o contemporâneo, o popular e o acadêmico.
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O trabalho se caracteriza como uma pesquisa em arte, pois tem como produto
final uma criação artística, que segundo Zamboni (1998), a expressão pesquisa em
arte refere-se aos trabalhos de pesquisa relacionados à criação artística, realizados
por artistas pesquisadores que objetivam ter como produto final a obra de arte.
Desta forma todo o andamento da pesquisa e seu registro, configura a
fundamentação teórico-prática do processo de sua elaboração e culmina com a
exposição das obras.
Segundo Vegne (2011, p.22) a palavra "crochê" tem sua origem do francês
medieval croké, que significa um instrumento de ferro curvado, em forma de gancho,
para suspender ou segurar algum objeto. A expressão broder au crochet ("bordar
com o gancho"), passou a ser conhecida na França no século XIX.
Ninguém sabe ao certo quando ou onde o crochê começou. Alguns escritores
dizem que a técnica do crochê tem origem na Pré-história e que o crochê era tido
como um ofício e não como arte, como se conhece atualmente. Paludan (1976, apud
VEGNE, 2011, p.20) afirma que, após pesquisas para descobrir a origem do crochê,
existem três possíveis origens. Primeiro, chegou à Europa vindo da Arábia, entrando
pela Espanha aproximadamente no ano de 1700, através da rota do comércio pelo
Mediterrâneo. Segundo, há indícios de que algumas tribos da América do Sul
utilizavam a técnica do crochê nos adornos que usavam em rituais da puberdade.
Em terceiro, na China havia relatos de bonecas que foram tecidas com a mesma
técnica.
Ainda segundo Vegne (2011, p.22), o crochê passou a ser difundido em 1800,
quando a francesa Eleonor Riego de La Branchardiere desenhou padrões de crochê
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que usava a arte do tecer na elaboração de suas obras. Desta observação, foi
possível ver a arte do tecer por um ângulo diferente. Como diz Morais (2003, p. 92),
“a apropriação da criatividade popular como base para recriações ou reelaborações
eruditas, tem sido uma constante da arte brasileira desde muito tempo”. Com base
nesta apropriação da criatividade popular surge a necessidade de trilhar pelo
caminho do crochê, atrelando à figura do caju que aparece completando o mote
gerador de minha proposta.
O caju sempre me fascinou, na verdade tenho uma ligação afetiva com o
mesmo. E quando li sobre as obras do artista plástico Vatenor de Oliveira em uma
entrevista dada ao Blog do Programa Xeque Mate da TVU1 despertou-me mais
interesse. Na entrevista, o artista falava que tem no caju a maior inspiração para as
suas obras.
1 Blog do Programa Xeque Mate da TVU. Disponível em: <http://programaxequemate.blogspot.com.br/2009/11/vatenor-de-oliveira-artista-plastico.html> . Acesso em: 20 de maio de 2015.
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Todas as peças foram tecidas com barbante, também conhecido como linha
de algodão cru, e depois de prontas tingidas. Os cajus nas cores amarela, laranja e
vermelho e as folhas com vários tons de verde.
Durante a experiência de tecer os primeiros cajus, surgiu a ideia ou
possibilidade de fazer a pesquisa baseada numa produção própria e não mais a
releitura da obra do artista plástico Vatenor de Oliveira. Segundo Salles, Isto é
normal acontecer em uma obra em construção.
possibilidades do artista que deseja trilhar o caminho do tecer são várias. O exemplo
dos seguintes artistas aponta este caminho, e suas obras serviram-me como
referencial artístico.
Sheila Hicks, nasceu nos Estados Unidos em 1934 e, segundo Elbaz (2015,
p. 11), concluiu seus estudos na Universidade de Yale, lá recebeu uma bolsa para
pintar no Chile onde estudou a cultura Andina e suas técnicas artesanais a qual
adotou como referências para suas obras. Como realça Elbaz (2015, p.15) as obras
de Sheila Hicks são uma “desconstrução da estrutura dos meios artísticos
tradicionais” e “é inspirado pela era pré-colombiana de tecelagem”. Segundo Pacce
(2012), a artista tornou-se “uma força crítica na redefinição da arte contemporânea,
reimaginando a profunda relação do artista com o artesão”.
Além de ser conhecida por suas grandes obras, Sheila Hicks também elabora
obras em miniatura ou menores em linho ou barbante com a mesma técnica de
tecelagem. À obra intitulada “Beauvai Vine” (Figura 3), apresentada na 30º Bienal
de São Paulo, a artista faz referência ao Muro das lamentações em Jerusalém, que
para os judeus é um lugar sagrado para orações, e para a artista sua obra é o muro
representando a temporada de frutas maduras de mamões, melancias, laranjas,
mangas e uvas que generosamente caem do céu e pintam a obra com tons
alaranjados, vermelhos e amarelos. Já na obra “Lianes de Beauvai” (Figura 4) a
artista busca uma comunicação com seu espectador através de uma linguagem
universal, a trama de linhas, que faz parte da técnica de tecelagem pertencente ao
artesanato de muitas culturas.
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Crystal Gregory é uma artista plástica norte-americana que usa o tecer nos
elementos cotidianos para suas intervenções urbanas com o objetivo de provocar e
transmitir sensações nos espectadores que passam nas ruas e percebem as
transformações no seu cotidiano.
As tramas de linhas e cores modificam a paisagem urbana e deixam as
cidades com aspecto de alegria. De acordo com Braun (2013, p.27) falando da obra
de Crystal, sua proposta é criar “objetos e instalações que estão relacionados ao
lugar, ao corpo e à arquitetura”.
Nas obras Foundation I (Figura 5) e Foundation II (Figura 6), a artista empilha
alguns tijolos; na primeira, parte dos tijolos são envoltos com crochê, e na segunda
obra, alguns tijolos são retirados e substituídos por crochê, e uma iluminação vinda
do interior dá um toque especial à obra. Em ambos trabalhos a artista constrói um
diálogo entre a leveza e a rigidez.
Instalações como a Foot Traffic de 2010 (Figura 7), foram inspiradas nos
sapatos que eram jogados na ponte Lincoln Road, em Miami-USA, formando um
“candelabro” de fios e cores. Gregory teceu em crochê losangos coloridos que,
unidos formaram uma grande tela que foi colocada na grade da ponte, mudando de
forma simples a visão do local.
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levar seus espectadores para interagir com suas obras de maneira a trazer
experiências sensoriais.
Ernesto Neto, em sua obra intitulada “Dengo” (Figura 8), faz uma trama de
corda utilizando a técnica artesanal do crochê e bolas de plástico no interior da peça
formando gotas. Ao longo da obra o espectador pode ter uma experiência sensorial
com as cores, formato e cheiros das especiarias que estão no interior das gotas.
Já na obra “É o Bicho” (Figura 9), o artista se utiliza do tule de poliamida para
representar a pele de animal, sendo este a “pele” que fecha a estrutura interna e, já
o uso das especiarias como o açafrão, cravo e pimenta, são os órgãos em que o
espectador irá interagir e ter diversas sensações.
NeSpoon espalha seu trabalho artístico pelas ruas de sua cidade, Varsóvia,
Polônia, ou em outros países da Europa. Deixa sua marca por meio de intervenções
artísticas, utilizando crochê, estêncil, cerâmica e outros materiais que têm como
base padrões de renda. O delicado trabalho embeleza os espaços públicos com
uma estética que remete a um artesanato urbano, usando as tintas de spray a artista
embeleza as ruas com suas rendas, que lembram o crochê, para causar impacto
nos espectadores que se apropriam daquele espaço.
Os crochês (Figuras 10 e 11) são distribuídos nos postes das cidades ou em
galhos encontrados na areia da praia, como se fossem a formação de teia das
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aranhas. Com isso a artista pretende que o espectador tenha um novo olhar para
aquilo que pode ser considerado abandonado e esquecido.
Figura 10: Intervenção Urbana. Obra Figura 11: Intervenção. Obra de arte de
de arte de NeSpoon. NeSpoon
Fonte: Indústria Criativa, 2013 Fonte: Indústria Criativa, 2013.
O tema caju nas obras do pintor potiguar Vatenor de Oliveira despertou o meu
interesse em utilizá-lo como referencial temático e de fazê-lo parte do meu processo
de criação.
Vatenor na maioria de suas obras retrata o caju, uma fruta muito conhecida
no Nordeste do Brasil e que, segundo ele, em entrevista dada ao programa Xeque
Mate da Televisão Universitária:
4 Processo artístico
de verde, marrom, vermelho e amarelo. O crochê foi tecido com agulha de número
2, utilizando os pontos básicos do crochê, o ponto alto e correntinhas, os mesmos
usados pelas mulheres da ASSOAMEP.
O próximo passo foi iniciar, tecendo as primeiras obras da Instalação, todavia,
enquanto tecia, pensava na obra como um todo, ou seja, tema e técnica, que vinham
à imaginação e tomavam formas variadas, que subjetivamente se pretendia
comunicar com o espectador através da instalação.
A seguir, passo a descrever o processo de criação das obras que compõem a
Instalação “Tramas ao Vento”.
Primeira etapa
Iniciei tecendo em crochê oito faixas, cada uma delas com 58 carreiras
(Figura 14 e 15), que foram costuradas umas às outras usando agulha de costura
grossa e linha de crochê fina.
Para aumentar a largura da parte inferior desta peça, teci quatro triângulos, os
quais também foram costurados entre as faixas.
Figura 14: Obra autoral “Meu Cajueiro” Figura 15: Parte de uma peça que
Fonte: SILVA, Elisama. 2016. compõe a obra “Meu Cajueiro”
Fonte: SILVA, Elisama. 2016.
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Antes de tingir as peças com vários tons de marrom, decidi que seria melhor
montar a parte inferior para ter uma ideia de como iria ficar, então fiz um ensaio,
uma junção de três faixas de crochê unindo uma a uma até quase a metade da peça
e emendei a peça triangular entre uma faixa e outra, mas o resultado não me
agradou, percebi que a base não ficou da largura que havia imaginado e tampouco
tinha o caimento que eu desejava. Então percebi que os triângulos deveriam ser
maiores, tanto em largura como em altura e comecei a tecer novos triângulos.
Também mudou a quantidade de troncos (Figura 16, 17, 18 e 19), que antes era
apenas um grande tronco redondo e agora são três troncos no formato triangular,
permitindo desta forma que o espectador interaja melhor com a obra ao caminhar
entre a mesma, tocar os cajus e olhar para o alto, comtemplando a copa do cajueiro
que se estende.
Porém ao analisar qual seria o local onde a obra seria instalada na exposição
mais adequadamente, e já com algumas peças prontas, percebi que toda instalação
não teria o impacto desejado para o espectador se a mesma estivesse dentro da
galeria do DEART. Decidi que deveria trazer a obra “Meu Cajueiro” para o hall de
entrada da galeria, por se tratar de um local com estrutura física mais adequada
para distribuição dessa peça, permitindo o espectador a interagir melhor com a obra.
Fiz a medição do local e constatei os seguintes dados: 3,75m de largura, 2,85m
de profundidade e 4,35m de altura. De acordo com estas medidas, era necessário
fazer 54 triângulos para a copa, 34 retângulos para cada tronco do cajueiro (3
troncos), 09 triângulos para a base dos troncos e 13 cajus.
Figura 16: Tronco da obra “Meu Cajueiro” Figura 17: Peças dos troncos tingidos “Meu
Fonte: SILVA, Elisama. 2016. Cajueiro”
Fonte: SILVA, Elisama. 2016.
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Segunda etapa
Para a segunda etapa da obra, teci cajus em vários tamanhos (Figura 20),
que seriam tingidos nas cores vermelha, laranja e amarelo, os quais ganhariam
volume ao serem cheios com manta acrílica e presos à copa do cajueiro. Para isso
já havia tecido todos os cajus, quando na apresentação do TCC I, as professoras
que compunham a banca, Lais Guaraldo e Regina Johas, sugeriram que pensasse
na possibilidade de mudar os cajus, para não parecer muito figurativo, segundo elas
não condiziam com a arte contemporânea presente em minha pesquisa. Então,
decidi tecer os cajus em formatos de bolas e endurecer com massa endurecedora.
Para testar, dei início a uma série de experimentos que passo a descrever a seguir.
Fiz um experimento com ramas de salsa, uma planta do banhado que possui
ramas bastante compridas. Muitos artesãos utilizam as ramas de salsa para fazer
diversos trabalhos, como cestos, vasos, arranjos natalinos, presépios e guirlandas,
entre outros.
Fui à beira do Açude Boqueirão, localizado em Parelhas, para retirar ramas
de salsa. O processo foi retirar todas as folhas, enrolar as ramas em volta de um
balde várias vezes até ficar da espessura desejada e esperar secar por 24 horas
para retirar da forma. Após fazer os círculos com as ramas de salsa, utilizando forma
de objetos como balde pequeno, balde grande e pneus, pois gostaria de ter círculos
de vários tamanhos com o objetivo de escolher o tamanho mais adequado para o
projeto. Depois que retirei os círculos das formas verifiquei que estavam bem
endurecidos e reservei. Teci uma peça redonda em crochê e costurei no círculo feito
com as ramas, para representar o caju. Teci também uma castanha em crochê,
envolvi uma pedra com manta acrílica, pois queria que tivesse peso para puxar a
tela para baixo e costurei a castanha no caju.
Depois de ter feito todo este trabalho, o resultado não me agradou, pois, o
ponto que havia tecido o crochê estava muito junto e a peça parecia um pouco
pesada, sem caimento.
Então decidi fazer outra tela, com pontos mais abertos (Figura 21), desta vez
antes de costurar o crochê no suporte, tingi a peça. Utilizei corante para tingir tecido
da marca Tupy, na cor vermelha. Prendi o caju no suporte para ter uma ideia de
como ficaria.
A castanha foi tecida com linha já na cor cinza, pois achei que seria mais
prático visto que é uma peça menor, depois de pronto costurei a castanha na tela e
no suporte. O resultado desse segundo modelo me agradou bastante.
Após ter tomado a decisão por fazer os cajus de forma mais abstrata em
crochê e ramas de salsa, voltei ao açude Boqueirão para buscar mais ramas para
fazer outras peças, mas não encontrei nenhuma rama de salsa pois não estava na
época. E mais uma vez optei por fazer um outro experimento que havia ensinado na
minha Ação Pedagógica.
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Figura 22: Circulo com barbante Figura 23: Cajus de barbante endurecido da
endurecido da obra “Meu Cajueiro” obra “Meu Cajueiro”
Fonte: SILVA, Elisama. 2016. Fonte: SILVA, Elisama. 2016.
Terceira etapa
A terceira e última etapa da obra “Meu Cajueiro” foi tecer triângulos grandes
com barbante e tingi-los com corantes de vários tons de verde, o crochê foi
elaborado com ponto alto e correntinhas (Figura 26, 27, 28 e 29). Os triângulos
foram unidos um ao outro, os quais seriam presos no parapeito do piso superior do
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Figura 30: Retângulos em crochê da obra Figura 31: Cajus em crochê da obra
“Cajus ao vento” “Cajus ao vento”
Fonte: SILVA, Elisama. 2016. Fonte: SILVA, Elisama. 2016.
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Uma particularidade desta obra são os formatos diferente do caju. Esta peça
me agrada por sua beleza simples, o contraste do colorido dos cajus figurativos
sobre as faixas tecidas com barbante cru, fazendo um diálogo perfeito com o
contemporâneo. Quanto a isso, é interessante a colocação de Salles:
A última etapa do projeto é a criação da obra “Tramas”. Esta obra tem uma
particularidade que a diferencia das demais obras, é o fato da mesma ser composta
por seis molduras (Figura 34, 35, 36 e 37) que formam um conjunto de tramas com
linhas e cajus endurecidos tecidos em crochê.
São seis molduras em madeira. Três molduras medindo 27cm X 40cm e três
medindo 27cm X 60cm feitas por um marceneiro. Ele cortou em uma máquina
apropriada e eu colei as peças de madeira com cola branca.
A obra foi produzida com barbante na cor verde, um pouco mais grosso do
que usei para tecer o crochê. Para fazer esta peça prendi a ponta do barbante por
baixo da madeira e dei algumas voltas, sempre esticando o barbante de um lado
para outro, formando a trama sem seguir nenhuma direção específica, simplesmente
fui preenchendo os espaços aleatoriamente e quando estava já bem espalhada as
linhas sobre a moldura cortei a ponta e prendi por baixo, de forma que não se
pudesse ver a ponta do barbante.
A próxima etapa foi tecer alguns cajus (Figura 38). Como para cada obra optei
por fazer cajus diferentes, para esta peça teci com barbante cru metade dos cajus,
que foram endurecidos com a massa endurecedora. Para realizar este processo,
passei os cajus já tingido com corante da marca Tupy pela massa endurecedora,
retirei cuidadosamente o excesso da massa e coloquei sobre umas forminhas, que
havia preparado com antecedência para servir de suporte que daria forma ao caju,
utilizei frascos de plásticos com o formato que eu desejava para fazer as formas,
esperei secar durante 24 horas, desenformei e retirei todo o excesso que fica da
massa já endurecida, impermeabilizei com cola branca diluída em um pouco de
água.
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O passo seguinte foi prender com barbante os cajus sobre a trama que
lembram o emaranhado de galhos com folhas do cajueiro.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BENJAMIM, Walter. Magia e técnica, arte e política. 2. Ed. São Paulo. Editora
Brasiliense Ltda, 2014.
BRAUN, Sônia Maria Antônia Holdorf. Intervenção urbana com fios: o tricô e o
crochê na arte contemporânea em uma perspectiva educativa. 2013. 96p.
Monografia - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013.
COSTA, Alexsandro. Vatenor de Oliveira, artista Plástico Potiguar [01 nov. 2009].
Programa Cheque Mate, Rio Grande do Norte, novembro 2009.
Disponível em: <http://programaxequemate.blogspot.com.br/2009/11/vatenor-de-
oliveira-artista-plastico.html>. Acesso em: 23 ago. 2015.
DEBBANÉ, Lívia. Uma Entrevista com Sheila Hicks, destaque da 30ª Bienal De
São Paulo [2012]. Revista Bamboo, São Paulo, 2012. Disponível
em:<http://bamboonet.com.br/posts/uma-entrevista-com-sheila-hicks-destaque-da-
30a-bienal-de-sao-paulo>. Acesso em: 09 nov. 2015.
MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política. 3ª. Ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1975, Livro 01 – O Processo de Produção do Capital, Vol. 1/2.
MORAIS, Frederico. O Brasil na Visão do Artista: O País e sua Cultura. São Paulo,
SP: Editora Premium, 2003.
PACCE, Lilian. Bienal de artes de São Paulo: entre fios. Disponível em:
<http://www.lilianpacce.com.br/e-mais/bienal-de-artes-de-sp-entre-fios>. Acesso em:
23 ago. 2015.
Troncos do cajueiro
Fonte: MOURA, Francisco, 2016.
Ação Pedagógica
PLANO DE AULA
TEMA: “Crochê endurecido, como endurecer e criar peças com a técnica do crochê
endurecido”
PÚBLICO ALVO: Senhoras do Grupo Vida Ativa, um grupo que oferece terapia
ocupacional a Senhoras de meia e terceira idade.
DURAÇÃO: 8 horas
MATERIAIS NECESSÁRIOS:
Linha de crochê
Agulha de crochê
Peças em crochê
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Pincel chato
Verniz
Facas de mesa
OBJETIVOS
GERAL:
ESPECÍFICOS:
JUSTIFICATIVA:
METODOLOGIA:
Após esse período inicial, a turma terá oportunidade de expor para as demais
integrantes do grupo seus materiais, discutirem o que desejam expressar, se
possuem conhecimentos da técnica do crochê e o que as inspiram.
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Relatório da Oficina
A igreja possui boa organização e procura dar uma boa assistência social a
comunidade, além da assistência espiritual.
O contentamento com o resultado final foi tanto que muitas não ficaram
satisfeitas com apenas duas tardes destinadas à oficina e me pediram para realizar
mais um encontro, pois queriam fazer mais peças. Este fato deixou-me bastante
satisfeita em saber que o meu objetivo havia sido alcançado, e como era o desejo de
todas, concordei em ter mais um encontro.
participantes, fez um comentário que confirmou isto: “é, realmente se pode fazer
muitas coisas com o crochê”.
A sugestão da exposição dos trabalhos foi bem aceita, mas preferiram expor
no mês de novembro, ocasião em que os trabalhos feitos durante todo o ano seriam
expostos; visto que elas se reúnem quinzenalmente para fazerem trabalhos
manuais, de imediato fizeram a postagem de seus trabalhos nas redes sociais.
Percebi com essa experiência o quanto é importante produzir uma aula com
foco em alcançar a terceira idade, muitas vezes observei as senhoras trabalhando
animadamente e falando que estas atividades ajudavam a esquecer os problemas,
por este motivo procurei sempre levar as senhoras para a discussão sobre o que
elas estavam produzindo.
Além disso, já ter conhecimento do local e das senhoras para quem eu iria
ministrar a Ação Pedagógica, representou uma vantagem para o bom andamento da
oficina. Acredito que pelo fato de conhecê-las ajudou-me a saber o que seria
necessário preparar em casa com antecedência e o que não seria possível fazer no
local, como por exemplo, a cola de amido de milho que precisava ir ao fogo e, como
no local não havia fogão, levei pronto de casa, utilizei apenas recipientes que havia
na cozinha da igreja que serviram de formas para a produção das peças. No geral,
me ajudaram a cumprir todos os objetivos que foi proposto no planejamento. Fiquei
muito satisfeita com tudo o que produzimos e posso dizer que foi um aprendizado
mútuo, foi uma maravilhosa troca de saberes.
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Esperando secar