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Dans un échange agressif, le vainqueur, non content de nuire aux autres en se favorisant, réussit d démontrer qu’il est un meilleur inte- Factant que ses adversaires. Cette démonstra- tion est souvent plus importante que tout ce ‘qu'il peut communiquer par ailleurs au cour de Téchange. E. Goffman, 1974: 25 Debate parlamentar e FTA Do debate de uma interpelagao a0 governo, a n°8/vi de 11 de Marco de ~ 1993, consta, no DAR, o seguinte excerto: A st" Maria Julicta Sampaio (PS): _ (...) Na verdade, Portugal necessita de um ministro da Educagdo capaz. Mas, infelizmente, que temos — lamento dizé-lo— é um ministro “rapaz”. p. 1660 O st. Ministro da Educagiio (Couto dos Santos): Sr* Deputada ‘Maria Julieta Sampaio, comego por agradecer e cumprimenté- la pelo elogio de juventude que me dirigiu, (..) p. 1661 A sr Julieta Sampaio (PS) - Sr Ministro da Educagao, primeiro do que tudo, cumpre-me cumprimenté-lo porque compreendeu perfeitamente que no quis ofender ninguém quando me referi & questi do rapaz. (..) 0 Sr. Ministro entendeu, est aqui com fairplay © percebe perfeitamente o que as palavras representam no jogo politico. Pp. 1688 -— . Agradeco a opottunidade de publicamente expressar a minha home: Fernanda Irene Fonseca, cuja obra é fonte de inspirago e marco in 95 que, como eu, se interessam pelas «coisas» dos discursos, nagem & Professora contornavel para todos ranma RR » nado é uma agressividade disciplinada pelos cédigos de conduta do. ‘Curso institucional, mas também porque og inio de uma audiéncia, © povo Portugués (a agressividade tem retorno em termos da imagem do Jocutor). Por isso 0 discurso. Politico parlamentar privilegia comportamentos explicitos de cortesia verbal, Catherine Kerbrat-Orecchioni (1992:177-8, 1997:153 e 2004. 43 © sgs), a Propésito da teoria de cortesia de Brown e Levinson (1987), que considers glo: balmente adequada*, propde algumas reformulagdes/actualizagées teéricas para 1A propésito danse, no parlamento inglés, do subgénero do discurso politic prlamentar, Question Time, Ayala (2001: 145, 146 ¢ 147) afirma: «in Particular, Johnson a 1992) argues. that a whole text (..) can become a FTA (global FTA), containing local, individual FTAS (specific FTAs) (..). Thus, every question on parliamentary exchange can be considered a global FTA and the whole activity of Question Time in the House of Commons a face- > tenes teas to “relativismo cultural” do conceito de face de Brown ¢ Levinson tram que dai decorte a centralidade da nogao de FTA: «A. cognitive individualistic siterpretatafon of face” meets witha further resistance in research any non-Anglosaxon snipe rey GBargiela-Ciappini, 2003: 1455). Mas este egocentrieme ate ¢ absoluto, alids, Can io) ‘mostra o valor social ligado a0 conceito de face. Uma outra questo eae 7 as a0 cagressive face work de que também fala Goffman na mesma obra e coe ie me lapar preeminente em Brown e Levinson, Advém de que o primeiro interesse Fee en isido para uma téoria da interac¢o social, inspirado em Durkheim, em de Gofiman ore vai de evitamento (avoidance) Finalmente,» acusagio de etocentrismo, Partie oe ne foi apontado, pela primeira vez, por Wiersbicka &tamben, mitigada gue segundo Cheng firma o autor: at a particular speech act is viewed as having Belo fact a politeness in different cultures is taken care of by BAILS formate different oeeratezy ( ), which includes ‘R’, the force of imposition of a FTA perceived calculating. 7 iva given culture. (2001: 93) spassar as criticas mais persistentes ao modelo’, alargando, em especial, 0 do- io da cortesia & produgo de «anti-ameacas»*, porgue a maior pteocupagio do La politesse positive est au contraire de nature productionniste: celle consisted effectuer quelque acte «anti-menacant», c’est-&- dire, valorisant pour la face positive ou négative du destinataire (cadeau, compliment, etc.) Ces actes «anti-menagants, nous les appellerons des FFA... (1997 : 153) Es, pues, indispensable prever un lugaé en e] modelo teérico para esos actos que, de alguna manera, son la pendiente positiva de los FTAs, actos valorizadores de la imagen del otro, que proponemos lamar actos “agradadores” de imagen (en adelante FFAs, por el inglés face flattering acts). (2004:43) Analisando as trocas discursivas corteses, como encadeamentos de _ ETAs e/ou FFAs, a autora propde uma «organizacién preferencial de los + intercambios» constituida por duas partes: 3 Kerbrat-Orecchioni tem uma posi¢o moderada e conciliadora face as criticas mais difun- didas, porque considera que nfo passam de Ieituras radicalizadas de aspectos do modelo. Para a autora o “essencial” da critica a fazer nao reside ai porque «..Ja faiblesse essentielle ‘du systéme de Brown et Levinson se situe en quelque sorte en amont: elle tient a la con- fusion qui pése gravement sur les expressions «politesse négative» et «politesse positiven, ‘assimilées & tort a «face négative» et «face positiven.» (1997 : 153), uma assimilagio que parece derivar do facto de nfo se ter em conta a importincia de Durkheim e dos conceitos de «ritos negativos e positives» de que derivam os de cortesia positiva e negativa, - «Com efeito, Brown e Levinson (1987:1-2) explicitamente apontam a agressividade como base da comunicacio, em particular pelo conceito de “ofensa virtual” que tomam de Goffman: «...politeness, like formal diplomatic protocol (...) presupposes that potential for aggression as it seeks to disarm it, and makes possible communication between potentially aggressive parties. But how? Goflman suggests that it is through the diplomatic fiction of the virtual offence, ‘or worst possible reading’, of some action by A that potentially trespasses B's interests, equanimity or personal preserve (...).By orienting the ‘virtual offence’, an offender can display that he has the other's interests at heart. Equally, a failure to orient to the virtual offence counts as a diplomatic breach. Thus is constructed a precise semiotics of peaceful vs. aggressive intentions (...)..». Dai a acusago de pessimismo, feita de forma recorrente Kerbrat-Orecchioni (1997: 153) vé o esquecimento de uma cortesia positiva tal como neste texto a apresenta, como prova desse pessimismo de que Brown e Levinson so acusados ¢ proclama: «..nous dirons haut et ferme que la politesse positive (ainsi congue) occupe en droit dans le systéme global une place aussi importante que la politesse negative...» cssnsnnonnnssninstbsi FASCINIO DA LINGUAGEM. Homenagem « Femanda Irene Fa ‘os encadeamentos «preferidos» corresponden a los encadea~ mmentos corteses (asercién ~ acuerdo; ; peticién ~ aceptacién; pero también autocritica ~ desacuerdo; 0 cumplido~rechazo; al nenos parcial: la reaccién mas cortés no siempre es la reaccién positiva), y los encadenamientos descorteses (asercién ~ refuta- cién, peticién ~ denegacién...). (2004:45) No caso em andlise, a troca constituida por trés tomadas de palavra (esta & uma estrutura recorrente ainda que nao seja a tinica), e inicia-se com um FTA (ima, assergao), dirigido & “pessoa”, é um ataque pessoal, realizado por L, (primeiro, Jocutor),’ ainda que modificado/atenuado por um acto de cortesia ai encaixado, no uso da formula «lamento dizé-lov. A resposta de L, (segundo locutor) nao'é a ‘preferencial’, nos termos propostos por Kerbrat-Orecchioni. & um FFA (irénico), ou melhor dois (agradecimento e cumprimento) que péem em evidéncia a dimensi ) pessoal do FTA inicial ~ mas simultaneamente o desdramatizam’ -, e “obrigam® © primeiro locutor (L,) a retomar a palavra para realizar novo e efectivo FFA. (cumprimento). E claro que a dimensio irénica da réplica de L, permite encontrar af implicito um ETA. Contudo essa dimensdo nao é recuperada por L,. O equilibria interpessoal restabelecido acaba por favorecer 0 seu adversério, O locutor, neste caso, jogou ¢ perdeu. ‘Acstrutura desta unidade comunicativa ¢, pois, mais complexa, desenvolve-se em trés movimentos: ~ agressao (FTA) ~téplica (2 FFAs (+FTA implicito, pelo uso da ironia)) —resolugao (FFA) Volto agora a tiltima assergiio do excerto «... pereebe perfeitamente 0 que as palavras representam no jogo politico». A metafora do jogo € por demais conheci- da, banalizada até, nos mais diversos géneros discursivos, No que concerne ao dis- {Mais uma vez, Gofman (1974: 22) faz rferéncia aeste tipo de réplica, como caracteristica le tesposta possivel (troca reparadora) a uma ameaca da face: : «Le second mouvement est constitué par l'ofire qui donne & un participant, généralement I’offenseur, une chance de tSparer T'offense et de réetablir l'ordre expressif (...) on peut sefforcer de montrer que le dangei ° Yun & it rae leant tant en fait qu'un événement insignifidnt ow un ace sans intention ou crie...». Mas esta anilise de Goffman é, para 0 caso em anélise, algo redutora, dado as complexas relacd Sprit a0 vente alae intrpestoisproprias do debate paamntare que a toni, 20 i tem a ver com um sentido forte de funcionalizagaotda actividade politica. A sitica & da responsabilidade dos politicos; os agentes da politica desempenham, quanto tal, um papel. [sso permite, nomeadamente, preset var — em teoria - a €s- ra privada dos politicos, considerando apenas a esfera piiblica. A agressividade e caracteriza os debates politicos, sejam debates ‘institicionais’ (parlamentares) oil nao (debates politicos televisivos) é dirigida para a fungdio desempenhada, para ; grupo que representa e nao para o individuo enquanto pessoa. E ébvio, até pelo ‘emplo que apresentei, que tal distin¢ao nem sempre ocorre. A dimenséo pessoal jo individuo (aqui considerada num sentido alargado, que tomaria como sinénimo dimensio ‘no politica’) € com frequéncia recuperada para a interacgao discur- iva, em estratégias diversas ao servigo da dimensio agonal basica. ‘Tomar, portanto, a politica como jogo valoriza esta dimenséo funcional dos ‘jnteractantes mas projecta-se também na interacgdo discursiva, tomada como jogo ie palavras. O funcionamento da cortesia linguistica no Discurso Politico Parla- jentar € creio devedor destes pressupostos, No caso em andlise, esta referéncia ao “valor das palavras” no jogo politico enquadra e justifica a construgao de uma re- cdo interpessoal agressiva, ‘imposta’ pelo género discursivo em causa, indepen- dentemente da relago pessoal, privada, existente entre os interlocutores. E sinal do complexo relacionamento interpessoal e até mesmo do fazer politica. Neste contexto, a anélise da cortesia assume importancia fundamental em ter- scursiva em geral e interpessoal em particu- 6 0 termo é de T. van Dijk (1998). Consta de um texto (work in progress) que foi divulgado ra Internet (wwwJetsuva.nl): «Functionalization. Actors typically may be identified by ‘their profession or what function they have, such as immigrant, representative, chairperson, or teacher.» (p.12). ? Catherine Kerbrat-Orecchioni pde em evidéncia, também, a importancia para a linguis- © tica do desenvolvimento de uma teoria da cortesia integrada na andlise da relagdo inter- : pessoal. Abordando a importancia dos marcadores discursivos, afirma : «Or ces différents marqueurs et indices de ia relation [interpersonnelle] sont particuliérement intéressants pour le linguiste, car ils constituent un lien privilégié d'observation de la fagon dont s"in- terpénétrent dans le discours le grammatical et le culturel, et dont les déterminations s0- ~ ciales viennentinvestir le systeme de Ja langue; cat ces unités sont en quelque sorte, nous dit Friedrich (1972 :298) «lanus-faced, because linked into both the linguistic matrix of grammatical paradigms and cultural matrix of social statuses». En d’autres termes : ces unités démontrent éloquemment que la compétence linguistique et la compétence socio culturelle ne sont que les deux faces dune wcompétence communicative globalen (Kerbrat- Orecchioni, 1992: 34-35). 82 7 (© FASCINIO DA LINGUAGEM, Homenagea a Foronade Tree’ [: ?.A teoria da cortesia verbal Em Les Interactions verbales (tomo 1), Catherine Kerbrat-Orecchioni a Tetomando os trabalhos anteriores de Brown. ¢ Levinson (1987) a construgaic Telaedo interpessoal organizada segundo oe; eixos/varidveis que determina caracteristicas que essa telagao discursiva pode assumir*: Tiantes), a savoir (1) latelation chorizontalen: axe de la distance 3 (2) la relation «verticaley: axe de la domination, ou du systéme de «places»; (3) la relation que je dirai n décrire des attitudes discursi sensuelle. (1992: 35-36) 1on pas «affective» (car il s'agit de ives ...) mais conflictuelle vs con- A expressdo da'cortesia no discur da So politico tem em conta, directamente, eixo da relagao conffito/consenso, emb ora «distanciay e «poder» condicionem obc Viamente os comportamentos corteses dos interlocutores. 1 ‘a remodelacao que propde do modelo de cortesia de Browne Levinson (1987), a introdugao do conceito de FFA jé é juestao mais saliente, mas tar a concepgdo pessim: ista da cortesia « un terreno. minado por toda suerte de FTAs» ( Kerbrat-Orecchioni i, 2004: 43), * Sto eixos de natureza soviolégica, que permit com 0 social ‘La fapon dont les différentes socigtés congoivent et exprsment te relation interpersonnelle’, diz kerbrat-Orecchioni, 1997: 156). Esta 6 um ia dimensio fundamental do estudo da cortesia e, nomeadamente, do uso das formas de tratamento, com origem nos ‘rabalhos de Durkheim, que, em particular, enfatiza as dimensdes da solidariedade e distén- sia e nos trabalhos de Goffman que reioma e desenvolve esta queso, como eta Pragmatic, o texto de Brown e Gilman (1960), Pronouns of power and soldarin; nage iniioedesenvolviment ds invesigaées n rea, Cornelia Ife (2005: 175) cologa ea gin termos muito similares aos de Kerbrt-Oreschioni; « Forms of address have sangre significance, reflecting and revealing the way in which inelocutrs pereive aed none ate each other, as well as the relationships between them. Following Brown and Levineon (1987), Lakoff (1990) e Leech (1983), three politeness-related social variables have first been taken nto account when examining patamentary terms of address the poe 7 dilfeence between interocutors),D (he perceived socal distance epee them) 2nd R (th cultural ranking of the speech act)» _fCocorréncia sistematica de “anti-ameacas”, is dit intetacgbe: a re . 7 gas”, nas mais diversas inte 8, te-Ihe introduzir na teoria os FFAs, a par dos FTAs. Esta 6a base para distin, ,portanto, cortesia positiva’e cortesia negativa: ‘ ‘Todo acto de habla puede entonces ser descrito como um FTA, 0 un FFA, 0 un complexo de estos componentes, Correlativamen- te, dos formas de cortesia pueden distinguir-se sobre esta base: a cortesia negativa, que consiste en evitar un FTA, o en suavizar su realizacién por algin procedimiento (...); y la cortes{a positiva, que consiste en realizar algin FFA, de preferencia reforzado... (Kerbrat-Orecchioni, 2004: 43-44) = Nas palavras de Catherine Kerbrat-Orecchioni este novo desenvolvimento te6- = fico torna o modelo «a la vez, mas potente y mas coherenten (idem, 44). A cortesia pode ser assim definida como «...un conjunto de estrategias de proteccién y de lorizacion de las imagenes de los demas a fin de preservar «el orden de la inte- racciOn.» (idem, 45), 4. Cortesia e género discursivo Catherine Kerbrat-Orecchioni (2004) acentua a fungdo reguladora da cortesia Tigada ao contexto’. A cortesia € pois sensivel ao contexto (‘context sensitive’), quer © contexto situacional quer 0 contexto mais amplo de que o género discursivo par icipa. ‘No que concerne ao Discurso Politico Parlamentar, este é especifico enquanto subgénero do Discurso Politico. © Parlamento tem a competéncia de fiscalizaglo dos actos do Governo e da Administragdo”. E sfo varios os mecanismos pelos guais se exerce essa competéncia’!, As interpelagdes ao Governo e os debates de 7 Esta é uma dimensfo fundamental para os investigadores. Veja-se, por exemplo, Maria Helena Carreira, 1994. - ; : 10 @A Assembleia compete vigiar pelo cumprimento da Constituicao ¢ das leis ¢ apreciar os actos do-Governo e da Administrago» (Conhecer o Parlamento, wwu.parlamento.pt). 1 @A competéncia de fiscalizago da Assembleia relativamente & acgdo do Governo ¢ aos actos da administragdo pode exercer-se através de diversos instrumentos: aprovagio de mo- Ges de confianga ou de censura; requerimentos de apreciaglo da legislagio produzida pelo Governo que a Assembleia pode alterar ou revogar, reunides quinzenais de perguntas 20 civterpelagdes a0 Governo sobre essuintos de politica geral ou sectorial; apresen- pine bemn ste ) sobre quaisquer actos do Governo ou da Admi- F tagdo de requerimentos (perguntas escritas) squer ac ventas; consiuisd0 de comissdes patlamentares de inquérito que gozam dos poderes de javestigagao proprios das autoridades judiciais.» (Glossério, vowwparlamento.p*) ‘© FASCINIO DA LINOUAGEM, Homenagem 2 Fe ¥ urgéncia, em reunides plendrias, onde foram recolhidos os exemplos aqui apre sentads e discuidos, fazem parte desses mecanismos". A definicdo proposta pay Johnson, ¢ acima citada a propdsito do género discursivo ‘Question Time’ do lameato inglés como um exemplo de género «face-threateningy,é aplicivel bém aos debates no Parlamento Portugués, pese embora 2s especifcidades de vada um. Esta caraceristica do discurso politico parlamentar 6 repetidamente apontada ‘como refere Chris Christie (texto na internet): -- while, for Brown & Levinson, rational linguistic behaviour involves interlocutors in the avoidance or mitigation of face threatening acts, as Harris (2000) and Ayala (2001) have shown, in the context of parliamentary debate, interpersonal relation. ships are maintained through the performance of those very acts Em suma, nos debates parlamentares, a Kerbrat-Orecchioni (2004), é complexa: é um pelo Regimento da Assembleia da Reptblica, pelo estatuto dos participantes, pelag relagSes intra-grupo e inter-grupos, pelo género discursivo (Marques, 2000). As relagGes interpessoais sio, em parte, construidas e mesmo mantidas pela realizagdo de FTAs, que so consentidos e até previstos", estando mesmo regula- dos. Os artigos 93° (reaeco contra ofensas & honra ou consideragao ¢ 98° (modo de usar a palavra) do Regimento da Assembleia da Repiiblica, nos pontos 1 e 2, € ponto 3, respectivamente, estabelecem as formas de reparagio ¢ superagio de: ofensas: ‘orden de Ja interaccién’ de que fala a disputa, agressiva, mas controlada, Artigo 93.2 {- Sempre que um Deputado ou membro do Governo considere que foram proferidas expresses ofensivas da sua honra ou Sonsideragdo pode, para se defender, usar da palavra por tempo no superior a trés minutos. 2 - O autor das expressées con: sideradas ofensivas pode dar explicagses por tempo nao superi ior a trés minutos, © 0 nosso corpus de andlise é constituido Por um conjunto aleatério de excertos de reu- ides plendrias, com destaque para alguns debates de interpelagdo ao Governo, realizadas durante avi, vii, e ix legislaturas, publicadas no Didrio da Assembleia da Republica (DAR), 1 Sts © disponiveis “on ine”, no portal do Parlaments Portugués, '* Systematic impoliteness, 16 2s it the form of utterances, which are intentionally designed to ” ee threatening, is not only sanctioned but rewarded, ‘Members of Parliament as a com- ec opposition is to oppose, ice. te Positions of the Government, ea INDO A CORTESIA E AGRESSIVA, BXPRESSAO DE CORTESIA E IHAGEM DO OUTRO Artigo 98. 3 - O orador ¢ advertido pelo Presidente quando se desvie do assunto em discussko ou quando o discurso se torne injurioso ‘ou ofensivo, podendo retirar-lhe a palavra, O género, como referido, impde constrigdes a relago interpessoal, ¢, por con- eguinte, relagdo cortés. Ou seja: a cortesia verbal € uma competéncia socio- ‘cultural e linguistica especifica de cada géneto discursivo. Consideremos como = exemplo, mais uma vez, 0 Discurso Politico Parlamentar. O Regimento"* ¢ a tradi- ‘géo parlamentar determinam o «estilo» global, a que chamarei «institucional», € = de que faz parte um «estilo de cortesian. O artigo 98° acima citado pressupde um tilo relativamente ao qual uma intervengdo pode ser injuriosa e ofensiva. Como /eremos, no esté clara, fora da tradicao discursiva parlamentar, a determinagao do = que pode ser “injurioso e ofensivo”. _” Cabe nesta designagio de cortesia institucional o estabelecimento das formas “de tratamento, Séo formas de tratamento formal e ‘deferente’. A par das formas -VEx:/VVEX"";, sio apelativos funcionais, como Sr, Deputado/Deputada, st. Mix nistro, etc. Ainda que o Regimento no se lhes refira explicitamente, as formas de tratamento a usar so determinadas mas pela tradigdo parlamentar (Marques 2000). ‘So formas ao servico de uma relaco formal, que resulta do facto de o debate parlamentar privilegiar uma relagdo interpessoal distante, simétrica e conflituosa, ~ segundo os principios propostos por Kerbrat-Orecchioni (1992). Esta 6, todavia, juma norma nem sempre respeitada. Em primeiro jugar, pela ocorréncia de uma. forma delocutiva de tratamento. O uso do pronome pessoal de 3* pessoa (ele/ela) constitui um FTA". A agressividade de falar do alocutério sem the falarmos, tira-o da relago interlocutiva, desclassifica-o. 0 Regimento tem como fungdo preservar a dimensao individual. Apenas a fungio inte- ressa. Garante a igualdade de estatuto: a relagio vertical é nula. Pretende assegurar, assim, ‘uma distingo entre esfera piblica e esfera privada. 15 4 forma de tratamento «V. Exceléncian: é exaltante, Tem em conta o alto cargo piblico, a dignidade do Parlamento enquanto érgao legislativo, '6Ver Kerbrat-Orecchioni, 1992: 17. 1 A especificidade dos géneros discursivos é também especificidade cultural. Veja-se, por contraste, o modo como Cornelia Iie (2005: 177) apresenta o.uso do pronome pessoal de terceira pessoa nos pariamentos inglés e sueco: «...members of both Parliaments address each other in the third person through the intermediary of the Speaker (Chairperson), the third person being the unmarked address form in interactions between questioning and an- e duros, mais agressivos ‘io interpessoal» (Marques, 2005:213). Por isso, as formas de tatamente integra Pel® Fecurso a formas informais — como os pronomes vocé/vooés « UNG, integradas num contexto agressivo, acentuam 9 FTA ©, Por essa razo, marcam uma relaco vertical de poder. 0 Orador: -(..). Tinhamos acreditado na Nitalino Canas e Ferro Rodrigues, mas, afnal, vemos que isso foi uma desculpa de ocasiio para Ihe “cobrirem as costae”, O Sr. Vicente Jorge Sitva (PS): = Vocé quer calar-me! (DAR, IX legislatura, reunido plenéria de 14 de Fevereiro de 2003, p.3659) osigo dos Deputados © Sr. Anténio José Seguro (PS): — A vocés sai-vos de graga, ‘mas aos portugueses custa-thes a pagar do seu bolso! (DAR, Interpelacdo ao Governo n°13/IX, de 20 de Maio de 2004, p. 4897) O Sr. Joel Hasse Ferreira (PS): — Yocé & nada! (DAR, Interpelacio a0 Governo n°13/IX de 20 de Maio de 2004, p. 4914) que nao percebe Certas formas de tratamento sio, portanto, proprias deste subgénero discursivo, mas 0 seu uso, excepto na abertura de cada interacgo (Marques 2000), ndo esta totalmente determinado e, por isso, ésignificativo em termos darelago interpessoal construida por cada locutor'*. Com efeito, a cortesia € dinamica. As constrigdes impostas podem sevsio derrogadas, mesmo num discurso to rtualizado como 0 Discurso Politico Parlamentar. O quadro comunicativo é constantemente redefinido do debate. 7 Ten ipecias a esta cortesia institucional esté a cortesia como escolha, ‘Apenas passivel de ser determinada em contexto, a cortesia como escolha, estratégica, in- dividualiza-se pelo facto de em contexto similar poderem ocorrer enunciados niio ese tBangyor : The Prime Minister once boasted that (...). Had He proposed to stat his Necion ‘nano saying (...)%. Trata-se, sem qualquer surpresa teérica, de uma lise que nfo tom validade para ouso de tereire pessoa no Parla Portugués, se apenas o tratamento de V Ext fosse postive, esta forme teria fundamentalmente um valot deictico; sendo 0 valor elaciooal inteiramente determinado peto género discutsivo. QUANDO 4 CORTESIA E AGRESSIVA. EXPRESSAO DE CORTESIA E INAGEM DO OUTRO (ae marcados em termos de cortesia. Tomemos como exemplo, as tomadas de palavra do Presidente da Assembleia da Republica, que tem funglo de modendor eee estd em posiglo equidistante relativamente aos diversos grupos e interlocutores, As suas intervengdes sio por isso particularmente importantes; revelam a possibi- lidade de ocorréncid ou auséncia de marcas de cortesia como escolha do locaton, independentemente de qualquer cédigo parlamentar: . a. A Sr! Presidente: —- St. Deputado, o seu tempo terminou, conelua, por favor. a’. O Sr. Presidente: — St. Deputado, o seu tempo esgotou-se. (AR, IX legislature, reunizo plendtia, de 25 de Fevereiro de 2004, pp. 3048 ¢ 3056) A resposta do alocutario evidencia, do mesmo modo, essa variabilidade: b.OSr. Presidente: — Sr, Deputado, o seu tempo est largamente esgotado. Tem de terminar. 0 Orador: — Vou concluir de imediato, Sr Presidente. b’. O Sr. Presidente: — Sr* Deputada, o seu tempo esgotou-se. A Oradora: — Termino ja (DAR, UX legislatura, reunido plendtia, de 25 de Fevereito de 2004, pp. 3068 e 364) Creio que esta classificagao em dois tipos de comportamentos corteses, ambos ligados ao conceito de género, no se confunde com outras classificagées cujos critérios classificatérios me parecem heterogéneos. Por um Jado consideram a integracdo das estruturas de cortesia no sistema linguistico, por um processo de «gramaticalizagdo» em sentido amplo e , por outro, a escotha do locutor, Esta é a distingdo retomada por Chris Cristie (internet) e Diana Bravo (2004). Para ambas, é importante distinguir a cortesia estratégica da cortesia normativa constituida por “a set of linguistic conventions”: Finalmente, la [delimitacién de la cortesia] de estratégica, por su parte, establece una diferencia entre ‘cortesia normative? y cortesia volitiva. La primera se refiere a aquella cuyas expresiones comunicativas estan altamente convencionalizadas y ritualizadas (por ejemplo los saludos) y que tienen carécter *Ajo’ en al lengua, y la segunda a la que depende de elecciones ‘Jibres* del/ia falante en el contexto de fa situacién de habla en la que se producen. (Bravo, 2004:6) politeness as a strategy, and politeness as a set of linguistic conventions that ‘operate independently of the current goal a : speaker intends to achieve’ (C. Christie, internet) ing Ainda que a cortesia institucional tenda a usar essas expresses “altam convencionalizadas” ou cortesia normativa, a verdade € que no se con: Allis, a cortesia estratégica, motivada pela escolha do locutor, também as usd $3 expresses, ou formulas, linguisticas de comportamento cortés, como “lamento zer ...; permita-me ...; desculpe que Ihe diga...; gostaria de...; quero cumprimiet Jo...» entre muitas outras possiveis, que marcam actos de cortesia positiva e negatiz va: cumprimento; pedido de desculpa; pedido de informagio, agradecimento, elo gio, entre outros. A sua integragio no sistema da lingua permite o uso recorrente, ainda que nao necessariamente obrigatério. 4. Cortesia e Discurso Politico Parlamentar No Discurso Politico Parlamentar, a relagdo interpessoal 6 também mostrada a partir de marcadores no verbais, nomeadamente risos e aplausos (obviamente, a ~ entoagao, a mimica ¢ os gestos so também fundamentais, mas no tém registo no Diério da Assembleia da Repiiblica). O facto de a organizacao proxémica ser também pré-determinada, permite que’ - comportamentos nao verbais considerados descorteses, sejam aqui neutralizados, Salvaguarda-se, por exemplo, que o locutor esteja de costas para o alocutdrio, sem ser descortés. O Discurso Politico Parlatientar é, sublinhe-se mais uma vez, fortemente ritualizado. O estilo parlamentar pretende ser ‘elevado”: € um discurso institucional; a0 nivel mais alto da governagio”, O ponto 3 do artigo 98°, acima apresentado, consigna 0 poder do presidente da Assembléia da Reptiblica para advertir o orador «...quando 0 discurso se torne injurioso ou ofensivo, podendo retirar-the a palavra.» Além disso, os interlocutores, deputados e membros do governo, podem Pedir a palavra para defesa da honra ou consideragio™. Esta é uma figura muitas vezes usada, ainda que com objectivos diversos". No que agora nos concerne, & “ «A Assembleia da Repiblica tem competéncia politica e legislativa, de fiscalizagio e ain- da outras relativamente a outros érgios.» (conhecer o Parlamento, www.parlamento.pt). ® O crime de difamagao é definido, no art. 180.° do Cédigo Penal, nos seguintes termos: ‘quem, dirigindo-se a terceiro, imputar a outra pessoa, mesmo sob a forma de suspeita, um facto, ou formular sobre ela um juizo, ofensivos da sua honra ou consideragao..o» http:// ww. verbojuridico.net/doutrina/penal/honra. html * Objectivos que sio conhecidos e referidos: O Sr. Presidente: - Para defesa da consideragdo da bancada, tem a palavra o Sr. Deputado Manuel dos Santos, © St: Manuel dos Santos: (PS): - Sr. Presidente, Sr? Deputada Manuela Ferreira Leite, V. —, importante sublinhar de novo que o debate parlamentar prevé a agressio verbal na = figura da defesa da honra e da consideragao. Interessa, por conseguinte, ter em atengo as expressdes proferidas qué esto fa origem deste tipo de pedido para uso da palavra, tendo em conta que de'foritta = sistematica, nao ha reacco relativamente a essa questo, por parte do Presidente Ee. de Assembleia da Repiblica a quem cabe advertir 0 orador caso este use palavras ofensivas. Consideremos 0 exemplo seguinte: © Sr. Ministro dos Assuntos Patlamentares: (...). 0 Bloco de Esquerda também néo surpreendeu, tem sido, de resto, nos ul- ‘timos meses, igual a si proprio. Alardeando uma hipdcrita su- perioridade moral, feita de insinuagdes, caltinias e perversida- des, (.JIsto é rigor ¢ verdade. O contrério da perfidia e da falta de escriipulos que hoje o PS tem na politica O Sr. Joel Hasse Ferreira (PS): — Isso 6 que é ser politicamente um cobarde! (-) Isto & da parte do PS, a politica no seu pior, porque é a mistura da incompeténcia e da irresponsabilidade politica com @ total falta de vergonha. O Sr. Joel Hasse Ferreira (PS): — Falta de vergonha é a sua! Falta de escnipulos e de seriedade! (DAR, IX Legislatura, reunido pleniria, de 19 de Maio de 2004, pp. 4913 & 4914) A esta intervencao™ seguem-se trés pedidos para defesa da honta ou conside- Tago, a que a Presidente da a palavra, mas sem que tenha considerado ofensivas Ex.*correspondeu 4 minha elegineia com alguns aspectos deselegantes da sua intervengéo. ©). Sr. Presidente: - Para dar explicagdes, querendo, tem a palavra a Sr.’ Deputada Manuela Ferreira Leite. A Sr* Manuela Ferreira Leite (PSD): - St. Presidente, niéo ereio que haja propriamente uma ofensa ao Sr. Deputado Manuel dos Santos ou é sua bancada, mas sao estas as figuras regimentais de gue temos de nos socorrer para irmos respondendo uns aos outros.» (DAR, \VUI legislatura, Reunigo Plenatia de 10 de Novembro de 1999, p.184) » Contraste-se este excerto com um excerto similar do Parlamento inglés: «Ms, Mowlam: G...) as well as his hability to deliver openness in central Government machinery (...) given that his integrity as a Minister has been seriously put in question by the evidence produced last week that he misled the House over the Matrix Churchill affair? Madam Speaker: - Order. J ask the hon, Lady to withdraw what she has said. No Minister misled the House. (Ayala, 2001: 154-55). discurso Politico, assente num sentido instituigSes envolvidas nessa actividade © ‘St: Antonio Capucho (PSD): - Sr. Presidente, Sr. Minis- Ro, Bostaria de referir 0 seguinte: ndo é admisitvel que V Ex* chame irresponsével ao lider do PSD ou 3 minke ban, cada a propésito da apresentacao de uma mogao de rejeiggo 20 Programa do Governo Constitucional - e néo ao Governo, fendo em conta o registo do partido a que V. Ex* pertence, (-) O Sr. Ministro das Financas e da Economia: - Sr. Deputado Anténio Capucho, eu classifiquei de irresponsdvel a iniciativa, nao o lider nem a bancada do PSD. Classifiquei de irresponsé- vel a iniciativa pelas consequéncias politicas que produziria se tivesse sucesso. Foi isso que eu disse ¢ quero reafitmar, @AR, VI legislatura, reuniao plendria, de 4 de Janeiro de 1999, p.117) As defesas da honra ou da consideragio devem pois ser consideradas como: tum importante mecanismo metadiscursivo de reflexdo sobre o estilo. Ao mes. mo tempo, dio conta de uma caracteristica do discurso parlamentar portugués: a tolerdincia relativamente a linguagem. Tolerancia tanto mais assumida quanto a maior parte da sagresividadey nio € sequer contestada. Assume-se pelo que é: estilo parlamentar. ee coat oi, a tarefa dos membros do parlamento ~ af incluindo os membros do governo - & contestar, discordar. A critica é mais essencial que o elogio, Este apenas pode ser pontual num discurso em que o objectivo nao é chegar a consenso, antes Pe led cuatolamlata de cortesia adquirem outros valores discursivos. ete decvalorizagio do adversirio, so estratépia de consirugao do ethas do A par sar da relagao agressiva que estabelece com o alocutério, se valo- sori comportumento cort8e qua assume. Fama images: apesar de oonstraiéa riza voce adversério, ¢ dirigida em especial ao destinatério que é 0 povo na re Fran ontras fangGes, obviamente, mas esta vertente é a que aqui interessa. 2 Jes outras fungSes, rico da identdade, Daf que, quando efectivamente acusado pelo interlocutor de _ Sear uma Tinguagem ofensiva, ele recuse essa acusago, usando como argumento ferido a especificidade da «politican, do jogo que é o discurso politica © Orador: (...)A maior acusagao que fiz a0 Bloco de Esquerida — io foi um insulto mas uma acusagao politica, & verdade (.). 0 Sr. Deputado nem se deu conta de que, ao falar, estava a dar total razdo 8 acusagdo que eu tinha feito. (AR, debate da interpelagao n.° 13/1X, de 19 de Maio de 2004, p. 4922) St. Diogo Feio (CDS-PP); (..) A propésito de privatizagdes e da alienacdo de partes sociais de empresas, nos iltimos tempos ¢ devido a um discurso que, quanto a mim, correspondeu a um enormissimo exercicio de aldrabice politica feito pelo Sr Deputado Francisco Louga,... (DAR, debate da interpelacdo n.° 13/IX, de 19 de Maio de 2004, p.4877) O consenso, quando ocorre sé funciona de modo sistematico no espago intra- grupo. A solidariedade grupal marcada no uso de NOS, remete em primeiro lugar ao grupo a que o locutor pertence. O clogio, neste caso é de regra: O Sr. Miguet Paiva (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Ministroé, Sr. Secretdrio de Estado, St.as e Srs. Deputados: Antes de mais, quero saudar a presenga do Sr. Ministro e do Sr. Secretério de Estado, uma vez que 0 Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares & um «homem da Casa»... Mas mais do que isso quero saudar a postura séria e responsdvel com que o Sr. Ministro aqui vem abordar esta temética, dando desse modoum contributo parauma abordagem correcta de um assunto sério ¢ importantissimo, (DAR, IX legislatura, reunido plendria, de 25 de Fevereiro de 2004, p.3066) Enquanto possivel relagdo inter-grupal, a consonancia entre os interlocutores & esporddica, tem a ver com coligagdes pontuais. Mas, mesmo nestas situagdes, © locutor tira partido dessa similaridade que é, de modo sistematico, apresentada como aproximagio do outro as ideias, criticas ou propostas, proprias: O Sr. Nogueira de Brito (CDS): - (...) Sr. Depatado Alvaro Barreto, também me éongratulo com a coincidéncia de opinides de uma parte do seu discurso com o discurso do‘CDS.... Li 2s (© FASCINIO DA LINGUAGEM. Homenagem a Feraands irene Forme (DAR, debate da interpelagao 7/VI, de 30 de Outubro de 1992, p. 191) “Nessa vertente de consonncia surgem, portanto, os FFA (elogios, agra cimentos, cumprimentos, ...) préprios da cortesia positiva. Os actos de cortesig positiva sao manipulados para servirem como introdutores de um efectivo acts’ critica, de censura... Enfim, um acto ameagador que desvaloriza o alocutério, Nesta estratégia, pese embora a omnipresente afirmagfo da _exclusividade’ da esfera politica, a evocacao da vida pessoal do adversdrio pode ocorrer com estratégia para uma valorizacao de que resulta a critica O St. Correia de Campos (PS): - St. Ministro comego por cum primenta-lo pessoalmente e na qualidade de Deputado, pelo passado comum que tivemios na nossa vida profissional. Gos- taria também que essa boa impresstio que V.Ex" deixou na sua vida profissional como gestor de uma escola, pudesse projectar- se nas responsabilidades mais vastas que agora vai ter. Receio, porém, que este desejo néio venha a concretizar-se, € passo 2 explicar porque, st. Ministro WAR, debate da interpelagdo n°I/VI, de 23 de Janeiro de 1992, p. 640) O sr. Adriano Moreira (CDS-PP): -(...) st Ministro da Justiga, ndo dou o mex tempo por perdido porque, para dizer francamente, nio vim c4 para ouvir 0 Ministro da Justiga, vim, sobretudo, para ouvir o ex-Director do Centro de Estudos Judicidrios, dado que ¢ essa qualidade, esse passado e esse patriménio que the dio qualidade e peso na sociedade portuguesa. (DAR, debate da interpelagdo n°23/VI, de 27 de Abril de 1995, p. 2208) Esta estratégia de valorizagio agressiva inter-grupos € particularmente usa- da na sequéncia de abertura da intervengao. E uma sequéncia de vertente fatica Privilegiada, com valor interpessoal marcado. Dai a dupla estratégia de elogiar ~muitas vezes ironicamente ~ para criticar e dividir. © comportamento de cortesia Positiva inicial € anulado por um novo acto discursivo onde a justificagdo tem um funcionamento particular. Sendo neste contexto (justificagdo de um FFA) um acto relorcador desse FFA, obriga aqui, pelo contetido negativo que veicula, & sua rein- ferpretacdo como ironia, E mesmo quando tai valor irénico nao ocorre, o elogio nao € inocente. Nestes casos, 0 locutor usa a complexa relagaio do individuo com o Srupo, no debate pariamentar, para fazer uma critica ao grupo/membros do grupo (por sree, clogiar 0 individuo para desvalorizar 0 grupo, numa estratégia de INDO A CORTESIA E AGRESSIVA. EXPRESSAO DE CORTESIA E IMAGEN DO OUTRO O'St- Antonio Filipe (PCP); (..) St. Deputado Virgilio Carneiro, muito obrigado por ter trazido aqui a poesia de Sebastido da Gama, pois creio que foi o aspecto mais relevante ¢ positivo do, seu pedido de esclarecimento, ; DAR, debate da interpelagio n°19/V1, de 27 de Maio dé 1994, : p. 2503 0 St Narana Coisssor6(CDS):— Sr* Secretiria de Estado, quero Jelicité-tapela sua estreia na tribuna, dadas as rarissimas vezes: que temos a honra de ouvi-la e tembém pelo seu entusiasmo. Mas julgo que nao devia entusiasmar-se tanto... (DAR, debate da interpelagao n°5/ DAR, de2/ de Maio de 1992, 9.2149) O'Sr. Ministro do Comércio e Turismo; — Sr. Deputado Manuel dos Santos, agradeco a sua intervengio, que velo confirmar aquilo que referi na minka, em que apontei as fragilidades do discurso do Sr. Secretitio-Geral do Partido Socialista (DAR, debate da interpelagao n°7/vi,de 30 de Outubro 'de 1992, p.182) © St. Manuel Queiré (CDS): — St. Presidente, St Deputado Guilherme Silva, consideramos a sua intervencaio um momento importante deste debate jé que foi a primeira da sua bancada que, (..), foi ao cerne da questiio (DAR, debate da interpelagio n°5/VI, de 21 de Maio de 1992, p.2154) Os diferentes comportamentos de cortesia explicitos na superficie textual so __ Gentrais para a compreensio da relacéo interpessoal. Apesar de apenas ter centrade J atengdo neste dominio, €forgoso que os sentidos veiculados por esta construgie dinamica sejam integrados nos sentidos globais da interacgo verbal. Com efeito, esta separagao da relago interpessoal é apenas metodologica e no deixa, mesmo assim, de mostrar essa integragio, como é 0 caso do recurso 20 contetido do enun- ciado para justifcar que a cortesia positiva possa ser agressiva, Ao contrite dawn formulasdo terminolégica proposta por Kerbrat-Orecchioni que substitu « terrerg dimensio da relagdo interpessoal “Sentiment positif vs négatif” por “confituella vs consensuelle”, ceio que o primeiro par destaca uma dimensio fundamental de relasio interpessoal que é do dominio das emoges, do pathos atistotélico ¢ : i POssam ser neste gétiey 0 S para compreender o lugar do individuo, em particular no D; curso Politico Parlamentar, 2. A cortesia é necessaria ao discurso, a qualquer discurso, (a) porque comini: car € pedir colaboragio, ou numa Perspectiva mais “pessimista”, € invadir 0 espago do outro, (b) porque o discurso é dialogico, prevé uma pluralidade mais ou menos ampla de interlocutores, (c) porque comunicar significa estabelecer lagos frigeis, entre interlocutores. Os comportamentos de cortesia so fine 3. O género discursivo & necessirio 4 compreensio dos comportamentos dé cortesia, e O Discurso politico parlamentar ¢ sobretudo um discurso cortés, onde a func cionalizagao dos interlocutores tem também papel determinante, Como resultado da anilise, pode afirmar-se que 0 Discurso Politico Parla- mentar 6 um discurso agénico, agressivo, mas nio é ofensivo, mercé da criagdo: de um mundo discursivo politico, que livra os participantes (funcionalizados) de- responsabilidades ¢ agressGes. O conflito esté ritualizado. E possivel falar de vin: estilo institucional, ou seja, a variedade de estilos pessoais é filtrada peio género naquilo que este permite aos interlocutores. No caso vertente, a agressdo verbal” é permitida enquanto no suscita reac¢do, em particular da instancia discursiva ‘moderador’, cuja fungiio é regular o uso da palavra, A cortesia negativa tem ai um lugar central. Mas a cortesia positiva também ovorte. Destaca-se af 0 uso de comportamentos considerados de cortesia positiva para, na realidade ~ por ironia, por exemplo -, veicular FTAs. Ha indicadores de que no Parlamento Portugués hé um alto grau de tolerancia (¢ liberdade) para construr o discurso sem a intervengao censuradora do presidente. As consequéncias so a existéncia de intervengdes mais agressivas, mas que no so transgressoras de quaisquer cédigos pariamentares. 7 4. A fungdo dos comportamentos de cortesia no Discurso Politico Parlamentar & desequilibrar a simetria institucional, para desequilibrar um resultado. Isso colo. ca-a no cerne das estratégias de argumentagao discursiva. 10 4 CORTESIA E AGRESSIVA, EXPRESSAO DE CORTESIA E IMAGEM DO OUTRO RENCIAS BIBLIOGRAFICAS , Soledad Perez de, 2001, “FTAs and Erskine May i ez de, 2001, y: conflicting needs? — Poli i Question Time” Journal of Pragmatics 33, pp.143-169. —— sia”, in Bravo, Diatia e Antonio Briz (eds), Pragmdtica sociocultural: estudios sobre el discurso de cortesia en espaiiol, Barcelona, Ariel, pp. 15-38 age, Cambridge, Cambridge University Press. ‘Carreira, Maria Helena, 1994, “Pedido de desculpa e delicadeza: para o estudo dos seus processos linguisticos em portugués”, Actas do X Encontro Nacional da Associagdo Portuguesa de Linguistica, Evora, Universidade de Evora, pp. 105-116 “Cheng, Rong, 2001, “Self- Politeness: a proposal” Journal of Pragmatics 33, pp.87-106 ‘Ciuistie, Chris, 2007, Politeness and the Linguistic Construction of Gender in Parliament: ‘An Analysis of Transgressions and Apology Behaviour (working papers on the web, con- sulta em 11 de Maio 2007) http://extra.shu.ac.uk/Awpw/politeness/christie.htm 1998, “Categories for the Critical Analysis of Parliamentar Debates van Dijk, Teun, , (working paper: http//www:hum.let.uva/~teun - nfo disponivel about Immigration actualmente). 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