Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Malária - Doenças Infecciosas - Manuais MSD Edição para Profissionais
Malária - Doenças Infecciosas - Manuais MSD Edição para Profissionais
Malária
Por Richard D. Pearson , MD, University of Virginia School of Medicine
Malária é uma infecção causada por quaisquer das quatro espécies de Plasmodium. Os sinais e sintomas
incluem febre, que pode ser periódica, calafrios, sudorese, anemia hemolítica e esplenomegalia. O
diagnóstico é feito pela identificação do Plasmodium em lâmina de sangue periférico e em testes
diagnósticos rápidos. O tratamento e a profilaxia dependem das espécies e da sensibilidade aos
fármacos, sendo feitos com esquemas de combinação contendo artemisinina, a combinação fixa de
atovaquona e proguanil e os esquemas que contêm cloroquina, quinina ou mefloquina. Os pacientes
infectados por P. vivax e P. ovale também recebem primaquina ou uma dose de tafenoquina para evitar
recorrências.
Cerca de metade da população mundial corre risco de ter malária. A malária é endêmica na África, na Índia e em
outras regiões do sul e sudeste da Ásia, nas Coreias do Sul e do Norte, no México, na América Central, no Haiti, na
República Dominicana, na América do Sul (partes do norte da Argentina), no Oriente Médio (Turquia, Síria, Irã e Iraque)
e na Ásia Central. Os Centers for Disease Control and Prevention (CDC) fornecem informações sobre cada específicos
onde há transmissão de malária (ver CDC: Yellow Fever and Malaria Information, by Country), os tipos de malária, os
padrões de resistência e a profilaxia recomendada (ver CDC: Malaria).
Em 2017, a estimativa era que existiam 219 milhões de casos de malaria em todo o mundo, com 435.000 mortes, a
maioria em crianças < 5 anos de idade na África. Desde 2000, as mortes por malária diminuíram em cerca de 60% por
causa de esforços do RBM (Roll Back Malaria) Partnership to End Malaria, que tem > 500 parceiros (inclusive países
endêmicos e várias organizações e instituições).
A malária já foi endêmica nos EUA. Atualmente, ocorrem cerca de 1.500 casos nos EUA a cada ano. Quase todos são
adquiridos no exterior, mas um pequeno número resulta de hemotransfusões ou, raramente, da transmissão por
mosquitos locais que picam imigrantes infectados ou viajantes que retornam.
Fisiopatologia
As quatro espécies de Plasmodium que infectam seres humanos são
P. falciparum
P. vivax
P. ovale
P. malariae
4. Os esquizontes se rompem, liberando merozoítos. Essa replicação inicial no fígado é chamada de ciclo
exoeritrocítico.
para esquizontes.
11. Os oocinetes invadem a parede do intestino médio do mosquito, onde se desenvolvem em oocistos.
12. Os oocistos crescem, rompem-se e liberam esporozoítos, os quais se deslocam para as glândulas salivares
do mosquito. A inoculação dos esporozoítos em um novo hospedeiro humano perpetua o ciclo de vida da
malária.
Esquizontes teciduais no fígado podem persistir como hipnozoítas por anos no caso de P. vivax e P. ovale, mas não de
P. falciparum ou P. malariae. A recidiva do P. ovale ocorreu até 6 anos depois de um episódio de malária sintomática e a
infecção foi transmitida por transfusão de sangue de uma pessoa que foi exposta 7 anos antes de doar sangue. Essas
formas dormentes servem como cápsulas de liberação lenta que induzem a recaídas e complicam a quimioterapia,
porque não são mortas pela maioria dos fármacos antimalária, as quais agem tipicamente nos parasitas da corrente
sanguínea.
O estágio pré-eritrocítico (hepático) do ciclo de vida da malária é evitado quando a infecção é transmitida por
transfusões de sangue, compartilhamento de agulhas contaminadas, ou congenitamente. Esses modos de
transmissão não produzem doença latente e não provocam recorrências.
A ruptura dos eritrócitos durante a liberação de merozoítas está associada com os sintomas clínicos. Quando grave, a
hemólise produz anemia e icterícia que pioram por fagocitose de eritrócitos infectados no baço. A anemia pode ser
grave em infecção por P. falciparum ou por P. vivax crônica, e tende a ser leve em P. malariae.
Malária falciparum
Ao contrário de outras formas de malária, P. falciparum causa obstrução microvascular porque os eritrócitos
infectados aderem às células vasculares endoteliais. Pode ocorrer isquemia, resultando em hipóxia tecidual,
sobretudo no cérebro, rim, pulmão e trato gastrintestinal. Hipoglicemia e acidose láctica são outras complicações
potenciais.
Resistência à infecção
A maioria dos africanos ocidentais tem resistência completa a P. vivax, porque em seus eritrócitos falta o grupo
sanguíneo Duffy, que está envolvido na ligação do P. vivax aos eritrócitos; muitos afro-americanos também possuem
essa resistência. O desenvolvimento de Plasmodium em eritrócitos também é retardado em pacientes com
hemoglobina S, hemoglobina C, talassemia, G6PD ou eliptocitose.
Infecções prévias fornecem imunidade parcial. Quando residentes de áreas hiperendêmicas deixam o local, sua
imunidade adquirida anteriormente dura apenas alguns meses ou anos, podendo ocorrer desenvolvimento de malária
sintomática caso retornem e sejam infectados.
Sinais e sintomas
O período de incubação geralmente é
12 a 17 dias para o P. vivax
Anemia
Icterícia
Esplenomegalia
Hepatomegalia
O paroxismo malárico coincide com a liberação de merozoítas dos eritrócitos rompidos. O paroxismo clássico inicia-se
com mal-estar, calafrios abruptos e febre subindo de 39 para 41° C, pulso rápido e filiforme, poliúria, cefaleia, mialgia
e náuseas. Após 2 a 6 horas, a febre diminui e ocorre sudorese profusa durante 2 a 3 horas, seguida por fadiga
extrema. A febre é frequentemente irregular no início da infecção. Em infecções estabelecidas, paroxismos típicos de
malária ocorrem a cada 2 a 3 dias, dependendo da espécie.
Esplenomegalia geralmente torna-se palpável ao final da primeira semana de doença clínica, mas pode não ocorrer
com P. falciparum. O baço aumentado apresenta consistência frágil e propensão à ruptura traumática. A
esplenomegalia pode diminuir com ataques recorrentes de malária, à medida que uma imunidade funcional se
desenvolve. Após muitos acessos, o baço pode se tornar fibrótico e sólido e, ocasionalmente, aumentar de forma
maciça (esplenomegalia tropical). Hepatomegalia, em geral, acompanha a esplenomegalia.
Manifestações do P. falciparum
P. falciparum provoca a doença mais grave por causa de seus efeitos microvasculares. É a única espécie com
probabilidade de provocar doença fatal se não for tratada; pacientes não imunes podem morrer dentro de dias após o
probabilidade de provocar doença fatal se não for tratada; pacientes não imunes podem morrer dentro de dias após o
início dos sintomas. Os aumentos da temperatura e os sinais e sintomas concomitantes geralmente se manifestam em
um padrão irregular, mas podem se tornar sincrônicos, ocorrendo em padrão de febre terçã (aumentos da
temperatura em intervalos de 48 horas), particularmente nos moradores de regiões endêmicas que têm imunidade
parcial.
Pacientes com malária cerebral podem desenvolver sintomas que variam de irritabilidade a convulsões e coma.
Síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), diarreia, icterícia, sensibilidade epigástrica, hemorragias
retinianas, malária álgida (uma síndrome semelhante a choque) e trombocitopenia grave também podem ocorrer.
Insuficiência renal pode ser o resultado de depleção de volume, obstrução vascular por eritrócitos parasitados ou
deposição de imunocomplexos. Hemoglobinemia e hemoglobinúria, que são os resultados de hemólise intravascular,
podem progredir para febre hemoglobinúrica (“febre da água preta”, assim denominada em razão da urina de cor
escura), ou regredir espontaneamente após o tratamento com quinina.
Hipoglicemia é comum e pode ser agravada por tratamento com quinina e hiperinsulinemia associada.
O envolvimento da placenta pode levar a baixo peso no nascimento, aborto espontâneo, natimortalidade ou infecção
congênita.
Diagnóstico
Microscopia óptica do sangue (esfregaços finos ou gota espessa)
Gravidade da malária
Define-se malária grave pela presença de uma ou mais das seguintes características clínicas e laboratoriais: A malária
grave tende a resultar de P. falciparum.
Critérios clínicos para malária grave:
Síndrome do desconforto respiratório agudo/edema pulmonar
Sangramento
Icterícia
Convulsões (recorrentes)
Choque
Critérios laboratoriais para malária grave:
Anemia (grave: < 7 g/dL [70 g/L])
Hemoglobinúria
Acidose metabólica
Insuficiência renal
Tratamento
Fármacos antimaláricos
Os antimaláricos são escolhidos de acordo com:
Gravidade da doença (critérios clínicos e laboratoriais)
Em algumas áreas endêmicas, um percentual importante dos antimaláricos disponíveis localmente é falsificado. Assim,
alguns médicos aconselham viajantes para áreas remotas de alto risco a levar um ciclo completo de um regime de
tratamento adequado a ser usado se a malária confirmada pelo médico for adquirida apesar da profilaxia; essa
estratégia também evita a depletar os recursos limitados dos fármacos no país de destino.
Malária é particularmente perigosa em crianças com < 5 anos de idade (a mortalidade é maior naquelas com < 2 anos),
gestantes e visitantes não expostos previamente a áreas endêmicas.
Se há suspeita de P. falciparum, a terapia deve ser iniciada imediatamente, mesmo se o esfregaço inicial e o teste
diagnóstico rápido são negativos. A resistência do P. falciparum aos antimaláricos é agora generalizada e P. vivax
resistente à cloroquina é comum na Papua Nova Guiné e Indonésia e cada vez mais comum em algumas outras
regiões.
Para fármacos e doses recomendados para o tratamento e a prevenção da malária, ver tabelas Tratamento da malaria
e Prevenção da malaria. Efeitos adversos comuns e contraindicações estão listados na tabela Reações adversas e
contraindicações dos antimaláricos. Ver também o site web do CDC (Malaria Diagnosis and Treatment in the United
States) ou, para consulta de emergência sobre o tratamento nos EUA, ligar para CDC Malaria Hotline nos números
listados acima.
No caso de uma doença febril durante uma viagem, em uma região endêmica, é essencial que uma avaliação médica
seja feita prontamente. Quando a avaliação imediata não é possível (p. ex., porque a região é muito remota),
automedicação com artemeter/lumefantrina ou atovaquona/proguanil pode ser considerada aguardando a avaliação
médica. Se os viajantes tiverem febre depois de voltar de uma região endêmica e nenhum outro diagnóstico for feito,
os médicos devem considerar a administração do tratamento empírico contra a malária sem complicações mesmo
quando as lâminas e/ou o teste diagnóstico rápido para malária forem negativos.
CALCULADORA CLÍNICA:
Correção do intervalo QT
(ECG)
Prevenção
Deve-se administrar aos viajantes para áreas endêmicas quimioprofilaxia (ver tabela Prevenção da malária).
Informações sobre países onde a malária é endêmica estão disponíveis no Centers for Disease Control and Prevention
(CDC) (ver CDC: Yellow Fever and Malaria Information, by Country e CDC: Malaria); informações incluem os tipos de
malária, padrões de resistência, distribuição geográfica e profilaxia recomendada.
Malária durante a gestação é uma ameaça grave à mãe e ao feto. Cloroquina pode ser usada durante a gestação nas
áreas onde Plasmodium spp são suscetíveis, mas não há nenhum outro esquema profilático seguro e eficaz, assim as
gestantes devem evitar viajar para áreas resistentes à cloroquina sempre que possível. A segurança da mefloquina
durante a gestação não foi documentada, mas experiência limitada sugere sua utilização quando se julga que os
benefícios excedam os riscos. Doxiciclina, atovaquona/proguanil, primaquina e tafenoquina não devem ser usadas
durante a gestação.
As artemisinas têm meia-vida curta e não devem ser usadas para profilaxia.
Medidas profiláticas contra mosquitos incluem
Usar spray de inseticidas residuais de permetrina ou contendo permetrina (que têm ação prolongada)
Utilizar mosquiteiro (preferencialmente impregnados com permetrina ou piretrum) em torno das camas
Tratar roupas e equipamentos (p. exp., botas, calças, meias e barracas) com produtos contendo 0,5% de
permetrina, que continuam protegendo mesmo após várias lavagens (existem roupas já pré-tratadas que
podem ter efeito protetor mais prolongado)
Usar camisas de manga longa e calças compridas protetoras, especialmente entre o anoitecer e o amanhecer,
quando os mosquitos Anopheles estão ativos
As pessoas que planejam usar repelentes que contêm DEET devem ser instruídas a
Aplicar repelentes somente na pele exposta, conforme indicado no rótulo e usar com moderação perto das
orelhas (não devem ser aplicados ou pulverizados nos olhos ou na boca).
Não permitir que crianças manuseiem repelentes (adultos devem aplicar o repelente nas mãos primeiro, então
espalhá-los delicadamente sobre a pele da criança).
Lavar as roupas antes de usá-las novamente a menos que indicado do contrário na etiqueta do produto.
A maioria dos repelentes pode ser usada em bebés e crianças < 2 meses. A Environmental Protection Agency não
recomenda precauções adicionais para a utilização de repelentes registrados para crianças ou gestantes ou nutrizes.
Vacinas contra malária estão sendo desenvolvidas, mas não está claro quando é provável que uma vacina esteja
disponível.
Pontos-chave
Em 2017, havia cerca de 219 milhões de pessoas com malária em todo o mundo, e ocorreram cerca de
435.000 mortes, principalmente entre as crianças < 5 anos na África; desde 2000 as mortes por malária
diminuíram aproximadamente 60%.
P. vivax, P. ovale e P. malariae geralmente não comprometem órgãos vitais; mortalidade é rara.
As manifestações incluem febre recorrente e rubor, cefaleia, mialgia e náuseas; anemia hemolítica e
esplenomegalia são comuns.
Diagnosticar usando microscopia óptica de amostras de sangue (esfregaços finos ou espessos) e testes
diagnósticos rápidos de sangue.
Tratar com antimaláricos com base nas espécies (se conhecidas) e nos padrões de resistência aos
fármacos na área em que a infecção foi adquirida.
Usar primaquina ou tafenoquina para infecções confirmadas ou suspeitas por P. vivax e P. ovale a fim
de evitar recidiva, a menos que as pacientes sejam gestantes, tenham deficiência de G6PD ou seu
estado de G6PD seja conhecido.
Administrar quimioprofilaxia a viajantes para regiões endêmicas, e ensiná-los como prevenir-se contra
picadas de mosquito.
Informações adicionais
CDC: Resources for Health Professionals: Malaria
© 2022 Merck Sharp & Dohme Corp., subsidiária da Merck & Co., Inc., Kenilworth, NJ, EUA