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Grupo 2 - Leis Sobre As Línguas... PDF - 084806
Grupo 2 - Leis Sobre As Línguas... PDF - 084806
Autores:
Adilson Armando dos Santos Manico;
Domingas Baptista Cussecala;
Faustino Funhete Sapi;
Gilberto Pedro João Sonhi;
Onofre João Gomes.
Instituto Superior de Ciências da Educação de Luanda (ISCED)
Introdução
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1. Direitos linguísticos
Com frequência os países multilingues são convidados pela UNESCO a adoptarem uma
fórmula que dê reconhecimento público ao uso de três línguas. Uma internacional, para
participação na economia e nas redes mundiais. Uma língua franca, do tipo língua
veicular local que facilite a comunicação entre grupos linguísticos diferentes. A língua
materna, quando esta não for nem a internacional nem a franca.
Importa dizer que em Angola não há um documento onde consta de forma detalhada as
leis que regem os direitos linguísticos. Sendo assim, neste trabalho utilizámos a
Constituição da República de Angola, como fonte primária. Os relatos, aqui
apresentados, enquadram-se na política linguística, ou seja, nas grandes decisões do
Estado Angolano sobre as línguas instituídas para comunicação ao nível territorial.
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Angola é um país que apresenta uma grande diversidade cultural na sua estrutura
territorial. Conforme a Constituição, Artigo 19°, alusivo às línguas, no primeiro e
segundo pontos, constam:
Nesta secção serão descritas algumas leis que se encarregam na definição dos estatutos
e funções das línguas em Angola, obviamente, tendo como base a Declaração Universal
dos Direitos Linguísticos, a Constituição da República de Angola, o Boletim Oficial de
Angola, nº 5, 1ª série de 9 de Dezembro, a Resolução nº 3/87 de 23 de Maio e a Lei de
Bases do Sistema de Educação e Ensino.
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Assim sendo, a DUDL, embora pouco valorizada por muitos países, é um importante
instrumento de defesa das línguas, tal como a UNESCO (1996) afirma:
Em conformidade com o pensamento de Abreu (2016, p. 43), uma das formas mais
comum que permite a instauração dos direitos linguísticos advém da necessidade do
estabelecimento de políticas linguísticas, ou seja, da forma como os Estados lidam com
o fenómeno da diversidade linguística em seus territórios, tomando essa diversidade
como um fenómeno de natureza cultural cuja gestão é um factor dependente de políticas
e planeamentos linguísticos. Daí que se ressalta a importância de salientar-se sobre
alguns dispositivos da DUDL no seu Título I e II:
Princípios gerais
[...]
Artigo 10.º
1. Todas as comunidades linguísticas são iguais em direito.
2. Esta Declaração considera inadmissíveis as discriminações contra as comunidades
linguísticas baseadas em critérios como o seu grau de soberania política, a sua situação
social, económica ou qualquer outra, ou o nível de codificação, actualização ou
modernização alcançada pelas suas línguas.
3. Em aplicação do princípio da igualdade, devem ser tomadas as medidas
indispensáveis para que esta igualdade seja real e efectiva (Idem)
Artigo 11.º
Todas as comunidades linguísticas têm direito a beneficiar dos meios de tradução nos
dois sentidos que garantam o exercício dos direitos constantes desta Declaração.
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Artigo 12.º
Artigo 13.º
Artigo 15.º
1. Todas as comunidades linguísticas têm direito a que a sua língua seja utilizada como
língua oficial dentro do seu território.
2. Todas as comunidades linguísticas têm direito a que as acções judiciais e
administrativas, os documentos públicos e privados e as inscrições em registos públicos
realizados na língua própria do território sejam válidos e eficazes, e ninguém possa
alegar o desconhecimento dessa língua.
Artigo 16.º
Artigo 17.º
1. Todas as comunidades linguísticas têm direito a dispor e a obter na sua língua toda a
documentação oficial, qualquer que seja o suporte (papel, informático, ou outro), nas
relações respeitantes ao território de que essa língua é própria.
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2. Os poderes públicos devem dispor de formulários, impressos e modelos, em papel,
suporte informático, ou outro, nas línguas territoriais, e colocá-los à disposição do
público nos serviços respeitantes aos territórios de que cada língua é própria.
Ora, o ponto de partida para a garantia da tão almejada unidade nacional foi
necessariamente ajustar um conjunto de leis que regessem a vida da nação. Assim, a
constituição (lei magna) é o documento mais importante de um país, pois explica as
normas que regulam as relações entre governantes e governados, isso quer dizer, os
deveres e direitos dos povos que vivem numa determinada nação. E Angola, enquanto
um país independente, não se eximiu dessa lógica soberana.
Ainda que os respectivos documentos não descortinem sobre o estatuto das línguas,
tampouco definam as funções das múltiplas línguas que circulam no espaço territorial
angolano, todavia, pelo que se sabe, a opção linguística do Governo Angolano foi,
desde a Independência, transformar a língua portuguesa em instrumento de unidade
nacional, impondo-a como obrigatória nos sectores mais actuantes: no sistema
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educativo (como veículo de transmissão e como matéria de ensino), na informação, no
sistema judicial e jurídico, na administração pública em geral (Miguel, 2014, pp. 16-17).
Como se pode verificar, apenas a língua portuguesa lhe foi conferida uma designação e
definida o seu espaço de actuação, e as outras línguas são tratadas como “as demais”, tal
realidade deriva da tentativa de se criar um espectro político-ideológico de interesse de
unidade nacional, advogado desde o pós-indepedência, que defende que a unidade entre
os diferentes grupos étnicos em Angola poderia ser consumada por via da adopção da
língua portuguesa. Essa visão unitária da língua concebida pela CRA que, de certa
forma, confere uma hegemonia total à língua portuguesa em prejuízo das línguas
nacionais, pois se depreende que a unidade de uma nação não se abrevia em falar uma
só língua, obscurece as diversas línguas autóctones que carregam as culturas dos povos
ou etnias angolanas, infringindo os princípios de igualdade linguística consagrados
pelos artigos 10.º, 11.º, 12.º e 13.º da DUDL.
Por outra, a valorização, a promoção, o ensino e o estudo das línguas Nacionais que a
CRA confere no ponto 2 do artigo 19.º, desarticulam-se no plano operacional, pois pelo
que parece, o Estado Angolano repassou essas tarefas e obrigações para as famílias,
ficando, assim, isento de responsabilidades, assumindo, no entanto, o papel de o
principal promotor das desigualdades sociolinguísticas que afectam a vida em
sociedade, aumentando a ausência da democratização linguística em Angola.
Para Timbane e Tamba (2020) a cada língua lhe deve ser concedida o seu espaço e o seu
momento de uso. Essa abertura ou espaço que se dá às diversas línguas em situações de
multilinguismo e multiculturalismo é que se chama de democracia linguística. Neste
sentido, nenhum grupo étnico em Angola já reclamou pelo multilinguismo e
multiculturalismo que caracterizam o país, pois essa realidade linguístico-cultural não é um
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problema nem um impasse, entretanto, passa a configurar um problema para quem não
compreende e nem respeita a cultura e as tradições do outro, isto é, para quem não sabe
calcular a fórmula da unidade na diversidade.
Ora, é importante referir que o uso de tais línguas no quadro das actividades oficiais em
cada região da África do Sul constitui um respeito e cumprimento dos artigos 15.º,16.º e
17.º da DUDL.
O referido boletim enquadra-se, de acordo com a nossa visão, no quadro das leis que
visam promover uma determinada língua e tinha como principal objectivo a promoção e
o uso exclusivo da língua portuguesa em Angola em todos os contextos de interacção
comunicativa em detrimento das línguas africanas. Ou seja, por meio da opressão
linguística, visava-se extinguir as línguas dos povos nativos.
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tentativa de materialização de uma intenção por parte dos povos nativos, desde que a
intenção fosse demonstrada em português, seria facilmente compreendida pelos
portugueses.
Os argumentos acima apresentados apoiam-se nas palavras de (Bernardo, 2018, pp. 47-
48) que afirma o seguinte:
Eis os artigos constantes no tal decretam que línguas proibiam o uso das africanas:
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se reconhecer que ela pode prejudicar a ordem pública e a liberdade ou a segurança dos
cidadãos e das populações indígenas.
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Eis o alfabeto:
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prática, pois promover o estudo e a investigação do português e das línguas nacionais
contribuiria na definição da norma do português angolano e, desta feita, definir-se-ia a
norma a ser ensinada na escola.
Quanto ao ensino das línguas nacionais, no ensino geral, nada se verifica de concreto,
ou seja, quase tudo ficou no papel. Se houvesse um interesse em preservar as nossas
línguas, o ensino e a investigação das mesmas teriam começado logo após a conquista
da independência em 1975. Não obstante a existência de leis que defendam a
investigação, a preservação e o ensino das línguas nacionais, as mesmas se encontram
em decadência; e se não sairmos dos discursos teóricos para a prática, nos tempos
vindouros, só nos restará história.
Segundo Lemos (2018), há uma coexistência não muito pacífica entre as línguas
moçambicanas de origem bantu, a língua portuguesa, que é a língua oficial (de
escolaridade) e as línguas estrangeiras, o inglês e o francês. Para além dessas línguas,
existem igualmente as línguas asiáticas e islâmicas. Estas circulam em comunidades
mais fechadas, sendo as islâmicas mais presentes no norte do país. É o caso do hindu,
urdo, gujarate, memane e o árabe.
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Considera-se a inexistência de uma coabitação pacífica em Moçambique, ou seja, pela
falta de domínio da língua portuguesa por parte de falantes de outras línguas, surge a
necessidade de transpor termos de uma língua para a outra como explica (Menezes,
2013, p. 5) citado por Lemos, que para o caso de Moçambique relativamente aos
empréstimos linguísticos, sabe-se que estes ocorrem quando uma língua integra uma
palavra existente em outra língua, sendo que a palavra não sofre grandes alterações e
mantém o mesmo sentido. Algumas dessas palavras emprestadas de outras línguas no
português passam por um processo de aportuguesamento que não deixa claro para o
emissor que se trata de uma verdadeira influência que outras línguas exercem sobre a
mesma.
Assim, na realidade angolana, estudos, projectos e resoluções têm sido levados a cabo
para que se crie condições e se dê às demais línguas nacionais o mesmo tratamento que
é dado ao português, destes constam:
Volvidos muitos anos, as línguas nacionais ainda não ocupam o espaço que merecem
tampouco lhes são dadas outras funções, além de facilitar a comunicação entre os
membros de uma mesma comunidade linguística.
Segundo Jorge (2018) é possível uma coabitação pacífica entre as línguas nacionais e a
língua portuguesa, desde que as elevemos aos mesmo nível de funcionalidade e
operatividade públicas que esta; as políticas linguísticas devem, verdadeiramente
promover e divulgar as línguas nacionais em toda a extensão do país e não só, sem
menosprezo ou rejeição das outras línguas, em particular da língua portuguesa, pois,
quanto maior for a diversidade linguística maior será a diversidade cultural.
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4. Os estatutos das línguas em Angola
Antes de se apresentar uma abordagem concisa ou breve à volta das línguas faladas em
Angola e seus estatutos, importa salientar que, em termos de classificação ou agrupamento,
A língua portuguesa é uma língua europeia, tal como as restantes línguas neolatinas e que,
falada de inicio em Portugal, expandiu-se para territórios e continentes distantes onde os
portugueses, durante a sua diáspora marítima, se foram estabelecendo na constituição do
chamado «Império Ultramarino Português».
Iniciados os contactos dos portugueses com Angola no ano de 1482, por altura da chegada a
foz do rio Congo de uma frota comandada pelo navegador português Diogo Cão, os
portugueses permaneceram em Angola até à data da independência, a 11 de Novembro de
1975. Durante este largo período, à semelhança de outras potências coloniais noutros pontos
do mundo, impuseram a sua organização política, os seus costumes e, naturalmente, a sua
língua.
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comunicação. Não desenvolveu língua própria, na medida em que o fenómeno de
pidginização não chega a evoluir a um crioulo como, por exemplo, sucedeu em
Cabo Verde, ou na Guiné-Bissau, ou em São Tomé e Príncipe (Zau, 2011, p.49).
Com efeito, Angola compõe-se portanto, por cenário plurilingue, em que o português têm o
estatuto de língua oficial, pois, conforme A Constituição da República de Angola, no seu
artigo 19.º sobre as línguas, certifica que:
As línguas bantu e não bantu, consideradas nacionais, para muitos, gozam de um estatuto de
não bem definido, servindo, mormente, como língua de comunicação a micro-nível, quer
dizer, entre os membros de mesmo grupo etnolinguístico ou de uma comunidade linguística.
Portanto, à semelhança da maioria dos países africanos e mais, Angola vive uma situação de
multilinguismo onde coabitam várias famílias linguísticas e suas variantes. O português é a
língua oficial de Angola, mas a maioria da população angolana fala, como primeira língua,
alguma das línguas africanas de Angola. As principais línguas africanas ou nacionais faladas
em Angola são Umbundu, Kimbundu, Kikongo, côkwe, Nganguela e o Kwanyama. Além
destas, são faladas dezenas de outras línguas africanas - com fontes que afirmam haver 20
línguas enquanto outras fontes falam em 37 línguas e 50 dialectos, mas estas indicações não
são tão fiáveis nem criteriosas. A par dessas, há ainda as línguas estrangeiras (espanhol,
inglês, francês…) e outros idiomas falados por grupos específicos que residem no solo
pátrio.
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5. Considerações finais
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6. Referências Bibliográficas
Baxter, R. N., Huck , D., Carrera, A., Ó hIfearnáin, T., S. Vikør, L., Mouraux , P., et al.
(2015). Quem fala a minha língua? 1ª ed., Vol. 2. Através.
Fernandes, J., & Ntondo, Z. (2002). Angola: Povos e Línguas. Luanda: Nzila.
Jorge, Fidel Jaime (2018). A situação linguística em Angola: Valorização das línguas
nacionais e sua coabitação pacífica com a língua portuguesa. Disponível em: 2006-
2021WebArtigos.com. Acesso 31.01.2021.
Leite, Ilka Boaventura (2015). Línguas atuais faladas em Angola: entrevista com Daniel
Perez Sassuco, Florianópolis: NUER – Núcleo de Estudos de Identidades e Relações
Interétnicas, 27 p. – (Textos e debates).
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Lemos, Amélia Francisco Filipe da C. (2018). Língua e cultura em contexto
multilingue: Um olhar sobre o contexto educativo em Moçambique. Disponível em:
http://orcid.org/0000-0001-6992-3565 . Acesso 31.01.2021.
Redinha, José (1984). Distribuição Étnica de Angola, 8.ª ed., Luanda, Centro de
Informação e Turismo de Angola.
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