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XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”

Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.

ANÁLISE DOS FATORES DE DESVIOS


DE CUSTO EM ORÇAMENTOS DE UM
EMPREENDIMENTO IMOBILIÁRIO

NAYME TALYANE DA SILVA (UFG)


maria.carolina@uol.com.br
Maria Carolina Gomes de Oliveira Brandstetter (UFG)
maria.carolina@uol.com.br
LOURIVAL JUNIO FONSECA DIAS (UFG)
maria.carolina@uol.com.br

O orçamento constitui uma ferramenta fundamental para o controle de


todo o processo produtivo, envolvendo diversos setores de uma
organização. Mesmo diante da aplicação de critérios estabelecidos,
ainda é comum a ocorrência de desvios, cujas causas muitas vezes não
são levantadas, não sendo possível gerar indicadores que visam
retroalimentar os setores de planejamento e orçamento, inviabilizando
seu aprimoramento. Este trabalho tem como objetivo identificar os
motivos que ocasionam desvios no custo de um empreendimento e
propor diretrizes para melhoria da gestão relacionada ao orçamento.
Foi realizado um estudo de caso em um empreendimento comercial
localizado na cidade de Goiânia, cujos dados foram originados a
partir das solicitações de alteração no planejamento que permitiram a
avaliação dos desvios ocorridos durante toda a execução da obra. Os
desvios de custos foram quantificados, avaliando o impacto gerado por
cada um desses desvios no orçamento final da obra, buscando
quantificar a recorrência e apontar as principais causas de desvios
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orçamentários ocorridos durante a execução. Os resultados apontam,


entre as causas levantadas, o preço unitário realizado acima do preço
orçado e o método construtivo realizado diferente do orçado como os
fatores mais recorrentes, ou seja, correspondem aos itens responsáveis
pelo maior número de alterações no orçamento realizado e que
causaram maior impacto no custo. As diretrizes apontam a integração
dos setores de orçamentação e produção, a definição do responsável
pelo projeto antecipadamente ao seu início para que o mesmo participe
da fase de orçamentação e a falta de retroalimentação da área de
orçamento pela área de produção.

Palavras-chave: Construção civil, custos, orçamento, desvios

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1. Introdução
O mercado da construção civil tornou-se cada vez mais competitivo, em um cenário de queda
de 3,6% do PIB nacional e 5,1% nas atividades relacionadas à construção civil (CBIC, 2017),
as empresas do ramo, com o intuito de garantir sua sobrevivência, buscam formas de
aprimorar sua gestão, seja ela orçamentária ou construtiva.

O desenvolvimento do orçamento consiste em um dos procedimentos inerentes à fase do


planejamento, na qual é definido, principalmente, a partir de levantamentos realizados em
projetos já elaborados e da quantidade de serviços a serem realizados ao longo do
desenvolvimento do empreendimento, levando-se em consideração fatores como mão de obra,
material e equipamentos. Sendo assim, o processo de elaboração do orçamento deve ser
realizado de maneira criteriosa, visto que as gerações de desvios podem inviabilizar ou até
mesmo tornar inexequível a obra ou serviço planejado, logo, o detalhamento, o levantamento
preciso ou ainda a pesquisa realizada de forma planejada e prudente são itens fundamentais e
indispensáveis ao longo do processo.

Mesmo diante da aplicação de ações ou critérios bem estabelecidos, ainda é comum a


ocorrência de diversos desvios e erros, que podem ser explicados por fatores que muitas vezes
não são levantados ou até mesmo detectados, não sendo possível gerar indicadores que visam
retroalimentar os setores de planejamento e orçamento, inviabilizando a garantia no
aprimoramento e desenvolvimento do processo.

Como o custo de um empreendimento é um fator limitante para sua concepção e implantação,


a importância de se estimá-lo é inquestionável e envolve diversos setores da empresa, como
suprimentos, projetos e produção. Apesar disso, nota-se ainda que esses departamentos
acabam agindo de forma independente, não havendo troca de informação entre eles
(ANDRADE; SOUZA, 2003; ROSENFELD, 2014).

A não utilização de métodos científicos pode implicar em estimativas de custos acima do real,
o que implica consequentemente em uma possível perda de concorrência e, no caso inverso,

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quando o custo se encontra abaixo do real, o retorno pode não ocorrer da forma esperada na
análise de viabilidade (LIMA, 2000; CHENG, 2014). Nesse sentido, a fase de orçamentação
ou custeio constitui um fator de grande relevância para o sistema de gestão de custos e pode
gerar grandes impactos.

Diante deste contexto, este trabalho possui como objetivo uma análise das causas dos desvios
de custos de empreendimentos, de modo a gerar diretrizes de gestão que possam minimizar a
ocorrência das alterações levantadas. Este objetivo contribui para os propósitos da Gestão de
Risco que visa reduzir ao mínimo possível os impactos dos riscos para a organização,
avaliando as incertezas de modo a permitir melhores tomadas de decisão.

Para atingir o objetivo proposto, foi realizado um estudo de caso em uma obra de tipologia
comercial, de caráter privado. Esta pesquisa contribui dentro do limite da identificação das
causas raiz do risco relacionado ao desvio de custos de empreendimentos.

2. Síntese da revisão
O orçamento envolve ações de identificação, descrição, quantificação e análise de valor dos
itens que deverão compor o preço de venda de uma obra, fundamentando a realização do
negócio e servindo de parâmetro básico para o estudo de viabilidade e negociações de preços
com fornecedores e clientes (MATTOS, 2006; KERN, 2005).

Quando esse orçamento apresenta um maior grau de precisão como, por exemplo, a utilização
de um levantamento completo de quantitativos dos serviços constantes no projeto,
composições unitárias de serviços e realização de uma pesquisa externa de preços dos
insumos, esse orçamento pode ser denominado como orçamento analítico, detalhado ou
convencional. Neste orçamento detalhado ainda devem ser apresentados os custos dos
serviços diretos e os indiretos e devem ser definidos também os impostos e lucro esperado
pelo construtor (DIAS, 2011).

O orçamento ainda pode ser visto com múltiplos objetivos, envolvendo um sistema de
autorização ou forma de liberação de recursos, um instrumento de motivação dos gestores

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para alcance de metas ou de avaliação e controle de desempenho, além de ferramenta para


tomada de decisões diárias (PADOVEZE, 2010).

A partir do entendimento e das informações vinculadas em um orçamento, pode-se obter um


planejamento de gastos frente aos custos apresentados ao longo do processo, o que pode
auxiliar quanto à definição de metas a serem atingidas. Logo, o orçamento se mostra uma
ferramenta fundamental, visto que a viabilidade do empreendimento proposto está
diretamente vinculada ao cumprimento de propostas e quantitativos expostos na orçamentação
realizada, e ainda, este recurso permitirá uma retroalimentação precisa de fatores, que
auxiliarão no planejamento de projetos futuros, já que erros e incoerências poderão ser
corrigidos, visando cada vez mais um aperfeiçoamento de todo o processo.

Ainda que o sistema de gestão de custos tenha como atribuições fundamentais estimar custos
para produtos e serviços, além de disponibilizar aos gestores informações que possam servir
de base para tomada de decisões, é recorrente a ocorrência de falhas nesse processo de gestão
de custo aplicada na construção. Cabe ressaltar que as falhas podem gerar desvios no
orçamento considerando valores estimados acima ou abaixo dos valores praticados na
execução, entretanto ambos os casos indicam ineficiência durante a orçamentação (AHIAGA-
DAGBUI; SMITH, 2014).

Apesar de ser o principal sistema de informação quantitativa de uma empresa, muitas vezes
inexiste o vínculo entre os indicadores gerados na gestão do custo com as metas estabelecidas
para o negócio. Sendo assim, acrescenta-se que para a melhoria do processo de tomada de
decisão é necessário ter o controle de todo o progresso executivo do empreendimento, além
dos efeitos dos desvios ocorridos com suas respectivas causas (KERN, 2005).

No âmbito internacional, várias pesquisas foram conduzidas com o intuito da identificação de


causas relacionadas aos desvios de custos, frequentemente também relacionados aos prazos de
empreendimentos da construção. Uma Revisão Sistemática da Literatura foi conduzida com o
objetivo de aprofundamento no tema e sintetização das evidências quanto às causas raiz
atribuídas ao tema do desvio de custos.

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Após uma busca nas bases de dados Scopus, Sience Direct, Engeneering Vilage e Web of
Knowledge, a partir das strings principais cost overrun e construction industry, foram
selecionados 52 artigos aderentes ao tema. Um filtro foi realizado para direcionar as pesquisas
com foco nos desvios de custo de obras por contrato, público ou privado, além de
relacionadas ao escopo da construção civil. Este filtro permitiu a compilação do grupo de
causas relacionado na Tabela 1.

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Tabela 1 – Síntese das causas dos desvios de custos em empreendimentos a partir da literatura

Fonte: Autores

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3. Método de pesquisa
Optou-se pelo estudo de caso de cunho descritivo (YIN, 2015) por permitir uma expressiva
quantidade de informações e uma análise em profundidade, necessárias ao atingimento do
objetivo proposto na pesquisa.

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3.1 Caracterização do estudo de caso

Para realização deste estudo, buscou-se primeiramente um caso com disponibilidade de


acesso às informações. Os dados tendem a ser de difícil obtenção pela falta de registros
precisos quanto às causas e pela não disponibilização dos dados financeiros pelas empresas.

A obra escolhida foi administrada por uma empresa construtora que permitiu a realização da
pesquisa, sediada no estado de Goiás, que atua no mercado da construção há mais de 20 anos,
tendo como foco obras voltadas para segmentos industriais, logísticos, comerciais,
minerações, infraestrutura e residencial, sendo este último em menor proporção.

O empreendimento selecionado é do tipo comercial, de médio porte, área construída de


aproximadamente 14.000 m2, localizada na cidade de Goiânia, concluído no ano de 2016,
fator importante e que tornou viável o estudo realizado, pois permitiu uma avaliação dos
desvios ocorridos durante toda a execução da obra.
A empresa possui um departamento responsável pela atividade de orçamentação que atua no
fechamento do orçamento para a execução do empreendimento, definindo as composições de
custos planejados conforme a duração da obra.

Durante a execução da obra, a equipe de produção é responsável por contratar e executar os


serviços conforme o custo definido no orçamento e, na impossibilidade dessa realização, é
preenchido o formulário de “Solicitação de Alteração no Planejamento”.

Neste formulário são descritos os serviços que sofrem alteração no custo em relação ao
orçamento inicial, informando ainda o valor solicitado como adição no orçamento e o motivo
que gerou esta necessidade de modificação. Com o formulário preenchido, o mesmo é
encaminhado para aprovação e consequente liberação do valor solicitado para utilização.

O fluxograma da Figura 1 apresenta resumidamente as ações que a empresa estudada realiza


após a definição/fechamento do orçamento para execução de um empreendimento.

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Figura 1 – Fluxograma do processo de planejamento da execução dos serviços orçados

Fonte: Autores
Os dados foram coletados e avaliados a partir do formulário padrão denominado “Solicitação
de Alteração no Planejamento” preenchidos ao longo de toda a execução do empreendimento.
Este formulário é representado na Figura 2.
Figura 2 – Formulário de solicitação de alteração no planejamento

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Fonte: Autores
Os registros de solicitação de alteração no planejamento foram analisados individualmente,
com o intuito de identificar a quantidade de modificações ocorridas por frentes de serviço. O
impacto gerado por cada um desses desvios no orçamento final da obra foi avaliado, buscando
quantificar a recorrência e impacto no custo final do empreendimento.

Foi avaliado por serviço se as alterações ocorridas correspondiam a desvios positivos, quando
o valor executado ultrapassa o valor orçado, e desvios negativos, quando o valor orçado está
acima do valor executado, e ainda, identificou-se o impacto financeiro, ou seja, verificou-se
em termos percentuais o que o desvio gerado por cada serviço corresponde em relação ao
desvio global de toda a obra.

De forma complementar à análise dos registros, foram realizadas entrevistas não estruturadas
com gestores da área de orçamentos da empresa, com o intuito de entender os procedimentos
realizados. Posterior à avaliação dos desvios ocorridos em cada serviço, constatou-se que
vários são os problemas que ocasionam desvio no custo previsto inicialmente, sendo possível
então criar grupos de forma a categorizar os desvios.

Para a criação desta categorização das causas dos desvios de custos, utilizou-se o
embasamento bibliográfico retirado da etapa de revisão, incluindo fatores apontados na

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literatura nacional e internacional, considerando apenas as pesquisas que tiveram similaridade


quanto ao objeto de estudo. Esta lista apresentada na Tabela 1 foi utilizada para classificar as
causas levantadas nos registros analisados do estudo de caso. Um filtro foi realizado para
selecionar somente as causas apontadas como correspondentes aos desvios registrados e
definir os grupos de causas para a análise, apresentados na Tabela 2.

Tabela 2 – Síntese das causas dos desvios de custos em empreendimentos a partir da literatura

Fonte: Autores

Posteriormente avaliou-se cada causa com o intuito de identificar fatores que influenciaram
sua ocorrência. Foram propostas diretrizes visando a minimização das ocorrências
encontradas. Esta etapa final da análise dos fatores que causaram os desvios e proposições de
melhorias foram também abordadas nas entrevistas não estruturadas com os gestores da área
de orçamentos empresa para maior precisão da análise.

4. Resultados e discussões
O Gráfico de Pareto apresentado na Figura 3 representa o percentual dos desvios negativos
ocorridos por serviços da obra.

Figura 3 – Gráfico de Pareto da ocorrência de desvios negativos

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Fonte: Autores

Os desvios negativos demonstram que o valor orçado está acima do valor executado, ou seja,
houve uma economia frente à realização destes serviços. O serviço referente à execução de
estruturas de concreto apresentou a maior economia ocorrida. De acordo com os formulários
preenchidos, o orçamento apresentou valores referentes a serviços e tarefas que no instante da
execução não foram realizados, ou por terem sido aplicadas ações mais simplificadas ou ainda
por não haver a necessidade de cumprir as descrições previstas nos levantamentos feitos no
orçamento.

A Figura 4 apresenta o Gráfico de Pareto relacionando os percentuais de desvios positivos


ocorrido por serviços da obra.

Figura 4 – Gráfico de Pareto da ocorrência de desvios positivos

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Fonte: Autores

Os desvios positivos ocorridos são avaliados como desvantagens financeiras geradas ao longo
do processo, já que representam alterações orçamentárias que tornaram os serviços
executados mais caros que o previsto na fase de orçamentação. A execução de dry wall e a
pintura externa e interna geraram desvios que somados correspondem a 63,3% do desvio
global, o que pode ser explicado principalmente devido a definições de valores unitários, na
fase de elaboração do orçamento, abaixo dos valores de fato contratados e, ainda, a
quantidades levantadas na fase de orçamentação inferiores às executadas no projeto.

Na Figura 5 observa-se o impacto financeiro de cada desvio ocorrido e seu percentual em


relação ao orçamento inicial realizado.

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Figura 5 – Valor do desvio x percentual em relação ao seu orçamento inicial

Fonte: Autores

O serviço de limpeza representou 421,69% de aumento em relação ao orçamento planejado,


porém verifica-se que seu valor financeiro foi o menos significativo em relação aos demais,
apresentando uma influência menor no valor total da obra.

Em contrapartida o serviço de dry wall representou 50,11% de aumento. Apesar de apresentar


uma porcentagem mediana em relação ao seu orçamento inicial, sua influência no valor
financeiro final da obra foi maior.

Dessa forma percebe-se que o serviço de limpeza teve um desvio, aproximadamente, nove
vezes maior em termos de porcentagem do orçamento inicial do que o serviço de dry wall, no
entanto, analisando financeiramente, o serviço de dry wall foi onze vezes maior que o de
limpeza. Verifica-se, então, que a porcentagem referente ao orçamento inicial não é
diretamente proporcional ao impacto financeiro na obra.

Posterior à avaliação dos desvios ocorridos em cada serviço, pode-se analisar cada categoria
de causa previamente definida.

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Entre as causas levantadas, é possível destacar que o preço unitário realizado acima do preço
orçado foi o fator mais recorrente, ou seja, corresponde ao item de maior número de
alterações no orçamento realizado. Unidades consideradas em composição divergente do
encontrado no mercado foi o fator com o menor índice de repetição e recorrência.

O gráfico apresentado na Figura 6 ilustra o tratamento dos dados referente à recorrência das
causas dos desvios e seu impacto financeiro em relação ao orçamento previsto.

Figura 6 – Recorrência e impacto financeiro das causas que geraram desvios no orçamento inicial

Fonte: Autores

Pode-se observar que o preço unitário realizado acima do orçado também é o que causou
maior impacto no custo.

Diante das causas de desvio de custo em relação ao orçamento inicial levantadas, foi possível
avaliar pontualmente cada uma delas, analisando seus fatores determinantes:

 Preço unitário realizado divergente ao que foi orçado: muitas vezes a empresa utiliza
preços históricos ou ainda arbitra preços “por sentimento”. Ressalta-se também que o
método utilizado para escolha do preço é o do “menor preço”, ou seja, muitas vezes ao

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escolher o menor preço não se avaliam aspectos como capacidade de atendimento,


localização, entre outros. Além disso, outro ponto é a utilização de produtos e serviços
de qualidade superior àqueles que foram originalmente planejados.

 Método construtivo realizado diferente do orçado: A pouca integração entre os


departamentos de orçamento com as demais áreas da empresa, como produção, gera
esse tipo de ocorrência, pois muitas vezes o que é considerado na composição de
determinado serviço não condiz com a realidade do projeto. Com isso, ainda há o
desinteresse da produção em obter o conhecimento daquilo que foi orçado, executando
o serviço da forma que entende ser mais interessante no momento.

 Quantidade realizada divergente ao que foi orçado: no projeto estudado pode-se


observar que grande parte dos levantamentos foram realizados a partir de projetos
básicos, sendo feita apenas a estimativa de quantidades para alguns insumos. Além
disso, muitos dos coeficientes de perdas considerados não representavam a realidade
de execução, pois se originam de um banco de dados genérico utilizado pela empresa.
Destaca-se ainda a falta de transparência dos coeficientes empregados pela área
orçamentária, não sendo informada, por exemplo, a variabilidade dos consumos e os
contextos nos quais estes indicadores foram gerados.

 Itens não considerados na composição orçamentária: Este problema está relacionado à


questão da vivência do orçamentista em obra, pois neste caso estudado, observa-se que
grande parte das ocorrências levantadas poderia ser solucionada com o conhecimento
mais detalhado do orçamentista da execução do serviço.

Considerando os desvios de custo positivos e negativos ocorridos, pode-se concluir que houve
ao final do projeto um desvio de custo positivo de aproximadamente 3% em relação ao
orçamento total do empreendimento. Sendo assim, a partir dos dados expostos, é possível
sugerir algumas ações e diretrizes que auxiliem na gestão do orçamento e custo durante a
execução de um projeto.

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Primeiramente é necessária a integração dos setores de orçamentação e produção com o


objetivo de haver trocas de informações, seja na fase de custeio ou nas fases de controle e
apropriação dos custos. Também é importante o envolvimento dos setores de planejamento e
suprimentos, para aumentar a confiabilidade das informações apresentadas na proposta, assim
como o conhecimento da produção e planejamento das considerações realizadas.

Deve ser considerada também a possibilidade de se definir o responsável pelo projeto


antecipadamente ao seu início para que o mesmo participe da fase de orçamentação, avaliando
previamente o projeto de maneira a propor soluções técnicas e realizar suas considerações
quanto às demais variáveis da composição de custo.

A falta de retroalimentação da área de orçamento pela área de produção é um fator que gera
grande impacto, pois apesar da empresa estudada utilizar um sistema operacional que permite
gerenciar custos, não há garantia que as apropriações desse custo estão sendo realizadas de
maneira correta, o que gera descrédito das informações apresentadas. Sendo assim, com o
maior envolvimento da produção no orçamento, tornando com que seu bom desempenho não
dependa apenas do orçamentista, geraria um maior comprometimento e permitiria que a partir
de apropriações corretas fosse gerado um banco de dados de composições de custos próprio
da empresa para grande parte dos serviços.

Outra ação considerada é o orçamentista visitar as obras com o intuito de obter conhecimento
em campo mais detalhado dos métodos executivos, o que possibilitaria também a troca de
informações quanto ao desempenho do orçamento realizado, produtividades e percentuais de
perda reais dos insumos.

Considera-se interessante também a utilização dos formulários de Solicitação de Alteração no


Planejamento não apenas como uma forma de liberação de recursos ou um meio para tomar
conhecimento momentâneo das causas que ocasionaram os desvios, mas sim como uma forma
de proporcionar um feedback em tempo real à área de orçamentação, uma vez que esta área
está em constante atividade e eventuais desvios poderiam ser identificados e corrigidos nos
orçamentos em andamento.

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Sempre que ocorrerem alterações entre custo estimado e custo real deve ser realizada uma
análise crítica com o intuito de identificar causas como composições inadequadas, alterações
de projeto, erros de estimativas de duração, complexidade não prevista, que devem ser
repassadas para conhecimento dos responsáveis pela orçamentação, buscando a regularização
de possíveis erros de orçamentos futuros.

5. Conclusões
Por se tratar de um estudo de caso, não é prudente que seja feita uma análise genérica para
todas as empresas do ramo da construção civil, visto que cada uma delas apresentam
realidades que se diferem em vários aspectos e as estratégias de elaboração de orçamento e
planejamento não condizem a um fator necessariamente global.

Através do estudo realizado constatou-se que existem diversos fatores que influenciam na
ocorrência de desvios no orçamento, em qualquer tipo de serviço orçado, podendo este desvio
gerar vantagens ou desvantagens frente ao ocorrido. No entanto, destaca-se que no caso
avaliado os desvios positivos, geradores de prejuízos financeiros à empresa, são mais
frequentes e ainda são altamente impactantes em relação ao custo estimado, já que tornaram o
valor executado maior que o projetado.

Destaca-se ainda que a maior ocorrência de desvios se deu em virtude de definições de


valores unitários diferentes do executado, o que pode ser explicado devido a forma de definir
o preço no orçamento, que muitas vezes se opta unicamente pelo menor preço.

Entender o processo de elaboração de um orçamento e avaliar os fatores envolvidos neste


processo é de extrema importância para garantir um cumprimento ideal do valor projetado,
para tanto, uma das maneiras de garantir uma minimização na ocorrência de desvios está
relacionada a uma integração entre os setores, pois esta junção permite um processo de
retroalimentação de dados, gerando indicadores que permitem um aperfeiçoamento do
processo e ainda servindo como ferramenta essencial para o planejamento de futuros
empreendimentos.

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Pode-se dizer ainda que, para uma empresa garantir sua sobrevivência no mercado de forma
eficiente, de modo a manter sua atratividade quanto ao custo sem prejudicar o seu produto
final, é necessário não apenas a elaboração de um orçamento mais preciso, mas também que
haja uma boa gestão de custos durante a execução da obra, permitindo além de uma avaliação
contínua daquilo que foi planejado, uma forma de alimentar orçamentos futuros.

REFERÊNCIAS

AHIAGA-DAGBUI, D. D..; SMITH, S. D. Delays Rethinking construction cost overruns: cognition, learning
and estimation. Journal of Financial Management of Property and Construction, v. 19 n. 1, p. 38-54, 2014.

ANDRADE, A. C.; SOUZA, U E. L. Críticas ao processo orçamentário tradicional e recomendações para a


confecção de um orçamento integrado ao processo de produção de um empreendimento. In: SIMPÓSIO
BRASILEIRO DE GESTÃO E ECONOMIA DA CONSTRUÇÃO, 3, São Carlos, 2003. Anais…São Carlos,
2003.

ARDITI, D.; AKAN G. T.; GURDAMAR S. Cost Overruns in Public Projects. Projetct Management, v. 3, n.
4, p. 218-224, 1985.

CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO (CBIC). Para construção civil, resultado do


PIB é coerente com a crise. Disponível em: <http://www.cbicdados.com.br/menu/home/pib-2016 > Acesso em
01abr.2017.

CHAN, D. W. M.; CHAN, A. P. C.; LAM, P. T. I.; YEUNG, J. F. Y.; CHAN, J. H. L. Risk ranking and analysis
in target cost contracts: empirical evidence from the construction industry. International Journal of Project
Management, v. 29, n. 6, p.751–763, 2011.

CHENG, Y. M. An Exploration Into Cost- Influencing Factors on Construction Projects. International Journal
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DIAS, P. R. V. Engenharia de Custos: uma metodologia de orçamentação para obras civis. Rio de Janeiro:
Sindicato dos Editores de Livros, 9ª ed., 2011, 221p.

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