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2007
i
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 1
1.1 Objetivos deste manual .................................................................................................... 1
1.2 Problemas da disposição inadequada ............................................................................... 2
1.3 Vantagens da disposição adequada .................................................................................. 3
1.4 Classificação dos resíduos sólidos ................................................................................... 3
1.5 Caracterização dos resíduos sólidos................................................................................. 5
1.6 Considerações sobre a legislação ..................................................................................... 6
2. CRITÉRIOS LOCACIONAIS ................................................................................................ 9
2.1. Importância e objetivos .............................................................................................. 9
2.2. Decisões fundamentais ............................................................................................... 9
2.3. Estimativa futura da geração de resíduos e volume do aterro.................................. 10
2.4. Os critérios de seleção das áreas .............................................................................. 11
2.4.1. Seleção preliminar das áreas disponíveis ............................................................... 12
2.4.2. Estudos necessários ................................................................................................ 12
2.4.3. Critérios de seleção ................................................................................................ 13
2.4.4. Priorização dos critérios de seleção ....................................................................... 15
2.4.5. Seleção da melhor área........................................................................................... 16
2.5. Para não esquecer /dicas importantes....................................................................... 18
2.6. Exercícios ................................................................................................................. 18
2.6.1. Cálculo de volume necessário do aterro sanitário .................................................. 18
2.6.2. Escolha de área para novo aterro sanitário............................................................. 19
APÊNDICE 2.A – Fluxograma de resolução das decisões fundamentais .............................. 21
APÊNDICE 2.B – Fluxograma seqüência de identificação da melhor área ........................... 22
3. PROJETO E IMPLANTAÇÃO DO ATERRO SANITÁRIO .............................................. 23
3.1. Introdução................................................................................................................. 23
3.2. Decisões fundamentais ............................................................................................. 23
3.3. Definição de aterro sanitário e de outros termos...................................................... 25
3.4. Métodos de aterros ................................................................................................... 27
3.5. O ecossistema aterro sanitário.................................................................................. 28
3.5.1. Degradação anaeróbia de compostos orgânicos..................................................... 28
3.5.2. Microbiologia da degradação anaeróbia ................................................................ 30
3.6. Partes constituintes do projeto de engenharia .......................................................... 32
3.6.1. Memorial descritivo ............................................................................................... 33
3.6.2. Memorial técnico.................................................................................................... 33
3.6.3. Cronograma de execução e estimativa de custos ................................................... 33
3.6.4. Desenhos ou plantas ............................................................................................... 34
3.6.5. Anexos ao projeto executivo .................................................................................. 34
3.7. Principais elementos de projeto................................................................................ 34
3.7.1. Sistema de drenagem superficial (pluvial) ............................................................. 34
3.7.2. Sistema de impermeabilização ............................................................................... 37
3.7.3. Sistema de drenagem de lixiviados ........................................................................ 46
3.7.4. Sistema de drenagem de gases ............................................................................... 53
3.7.5. Plano de disposição de resíduos ............................................................................. 59
3.7.6. Análise de estabilidade........................................................................................... 62
3.8. Biogás de aterros sanitário e os créditos de carbono................................................ 65
3.9. Para não esquecer /dicas importantes....................................................................... 67
3.10. Exercício de cálculo de aterro sanitário ............................................................... 68
1. INTRODUÇÃO
A adequada disposição final dos resíduos urbanos gerados continua sendo um grande
desafio dos gestores municipais pelo mundo, e em especial no Brasil. Muitas vezes a falta
de uma adequada disposição final dos resíduos sólidos é apenas mais uma das muitas
deficiências que devem ser superadas no campo do gerenciamento dos resíduos sólidos,
como o inadequado armazenamento dos resíduos nos domicílios; ineficiência da cobertura e
dos serviços de coleta; problemas de manutenção dos veículos coletores; falta de
programas de reciclagem e de diminuição da geração na origem; falta de profissionalização
técnica e gerencial dos órgãos responsáveis pelo manejo dos resíduos; política de
recuperação dos custos por meio de taxa e tarifas precária ou inexistente; uso inadequado e
gerenciamento inapropriado de contratos públicos; e incapacidade de estabelecer
planejamento estratégico de médio e longo prazo para o setor de resíduos sólidos.
Todos os aspectos citados no parágrafo anterior são cruciais para implantar um sistema de
gerenciamento de resíduos urbanos que garanta a proteção á saúde pública e do meio
ambiente. Entretanto, o objetivo central deste Manual é apresentar respostas à última
questão-chave acima, que invariavelmente envolverá aspectos ambientais, de saúde
pública, administrativos, técnicos, e econômicos.
No Brasil, atualmente ainda cerca de 50 % dos resíduos sólidos urbanos são dispostos de
forma inadequada, o que corresponde a quase 80 % do número de municípios brasileiros
(IBGE, 2002). Paradoxalmente a legislação ambiental e as normas técnicas brasileiras são
muito avançadas e com padrões de exigência e qualidade similares às de países
desenvolvidos ou ricos. Isto coloca os gestores frente a um dilema: a necessidade urgente
de melhorar a forma de disposição final, adotando melhorias gradativas; e a necessidade de
adequação imediata ao que estabelece a lei.
Conhecimento técnico
(saber como fazer)
Recursos financeiros
(ter como poder fazer)
problemas ambientais:
poluição do solo, da água e do ar;
incêndios;
poluição visual.
problemas sociais e econômicos:
existência de catadores;
desvalorização do uso do solo local e vizinho.
problemas de saúde pública:
contaminação direta dos catadores;
contaminação por vias indiretas.
Na figura 1.2 mostra-se as principais rotas de contaminação humana por vias diretas e
indiretas, através da poluição do solo e alimentos, água e ar que a disposição inadequada
ao longo de vias, córregos ou rios, banhados, mangues ou áreas baixas, e encostos de
morros pode causar.
Cadeia alimentar
Animais
Emissões gasosas
Poluição visual
Substâncias tóxicas
Hidrocarbonetos Odores
Metais pesados
Subst. orgânicas Cadeia
Plantas alimentar
em função da biodegradabilidade:
Estrada
principal
Cerca
Depósito Estacio-
de argila namento
Lagoa de Escritório
Tratamento de Depósito de central de
solos para campo
Lixiviados cobertura
Depósito Fosso de lavagem
materiais Área de
de pneus materiais espera
Pátio de
FASE 1
Ponto de
coleta do
lixiviado
A norma técnica NBR 10004 (ABNT, 2004) trata da classificação de resíduos sólidos quanto
a sua periculosidade, ou seja, característica apresentada pelo resíduo em função de suas
propriedades físicas, químicas ou infectocontagiosas, que podem representar potencial de
risco à saúde pública e ao meio ambiente. De acordo com sua periculosidade os resíduos
sólidos podem ser enquadrados como:
Os aterros sanitários são destinos adequados aos resíduos Classe II A; sendo que os
resíduos perigosos (Classe I) devem ser encaminhados para aterros industriais específicos.
Resíduos Classe II B (inertes) também não podem ser dispostos em aterros sanitários na
forma de “resíduos”, mas sim, quando classificados e separados, na forma “matéria prima”
para construção de acessos internos, coberturas e até mesmo drenagens.
Os três entes que compõem a Federação Brasileira (União, Estados e Municípios) podem
legislar sobre os diversos aspectos que envolvem as questões ambientais de maneira geral,
e de resíduos sólidos mais especificamente.
Os Governos Federal e Estadual têm um papel a cumprir também! Vai lhes caber auxiliar o
Município, promovendo algumas medidas:
Ressalta-se ainda a Lei nº 6.938 – de 31 de agosto de 1981 – que dispõe sobre a Política
Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
providências. Esta lei estabelece o SISNAMA, que é o Sistema Nacional de Meio Ambiente.
A Lei nº 7.347 – 24 de julho de 1985 – disciplina a ação civil pública de responsabilidade por
danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico e dá outras providências.
2. CRITÉRIOS LOCACIONAIS
A escolha de um local para a implantação de um aterro sanitário não é tarefa simples. O alto
grau de urbanização das cidades, associado a uma ocupação intensiva do solo, restringe a
disponibilidade de áreas próximas aos locais de geração de resíduos sólidos e com as
dimensões requeridas para se implantar um aterro sanitário que atenda às necessidades
dos municípios.
Além desse aspecto, há que se levar em consideração outros fatores, como os parâmetros
técnicos das normas e diretrizes federais, estaduais e municipais, os aspectos legais das
três instâncias governamentais, planos diretores dos municípios envolvidos, pólos de
desenvolvimento locais e regionais, distâncias de transporte, vias de acesso e os aspectos
político-sociais relacionados com a aceitação do empreendimento pelos agentes políticos,
pela mídia e pela comunidade. Por outro lado, os fatores econômico-financeiros não podem
ser relegados a um plano secundário, uma vez que os recursos municipais devem ser
sempre usados com muito equilíbrio.
Sem dúvida a etapa mais importante do processo de instalação de um novo aterro sanitário
é a viabilização de áreas para implantação do aterro. Deve-se sempre ter em vista a
importância do meio físico da área para instalação do aterro sanitário. Uma área adequada
implica em menores gastos com preparo, operação e encerramento do aterro, mas
fundamentalmente significa menores riscos ao meio ambiente e a saúde pública. Deste
modo, escolhendo uma boa área, a prefeitura estará se prevenindo contra os efeitos
indesejáveis da poluição dos solos e das águas subterrâneas e superficiais de seu
município, além de eventuais transtornos decorrentes de oposição popular.
Duas decisões fundamentais devem ser tomadas antes de iniciar um estudo de possíveis
áreas para implantação de um aterro sanitário:
Uma grande variedade de critérios pode ser aplicada para identificação de áreas para
implantação de um aterro sanitário. Estes podem ser agrupados nos seguintes aspectos (no
item a seguir apresenta-se uma descrição mais detalhada):
questões de transporte;
geológicos, hidrológicos e hidrogeológicos;
uso e ocupação do solo;
aceitabilidade da população;
segurança.
A estimativa atual de geração de resíduos sólidos municipais pode ser feita pela seguinte
equação:
G0 = P0 ⋅ Gp 0 ⋅ C 0 (2.1)
} }
Gt = {P0 ⋅ (1 + y p ) t ⋅ {Gp0 ⋅ (1 + y per ) t ⋅ {C t } (2.2)
Para estimar o volume total ano a ano a disposto no aterro, assim como o volume útil total
Nas colunas (F), (G) e (H) da tabela 2.1 calculam-se os volumes dos resíduos quando estes
se encontram compactados no aterro, respectivamente, volume diário anual, anual e
acumulado por ano. O volume diário anual, em m3/d, é calculado a partir da massa diária
que chega ao aterro, em kg/d ou t/d, e da densidade dos resíduos compactados no aterro,
que é dada em t/m3.
No encontro da coluna (H) com a linha (I) da tabela 2.1 tem-se o volume de resíduos
compactados aportados ao aterro ao longo de toda a sua vida útil, na parte mais baixa e à
direita (coluna (F) e linha (J)), tem-se o volume útil total já considerando o espaço ou volume
que será ocupado pelo solo de cobertura intermediária e final. É este o volume que deve ser
considerado quando se parte os trabalhos de busca de área para a implantação de um novo
aterro sanitário, de acordo com os critérios descritos na seqüência deste Manual.
Por conta desta importância técnica, ambiental, econômica e social, os critérios para se
implantar adequadamente um aterro sanitário são muito severos, havendo a necessidade de
se estabelecer uma cuidadosa priorização dos mesmos.
A estratégia a ser adotada para a seleção da área do novo aterro consiste nos seguintes
passos:
A seleção preliminar das áreas disponíveis no Município deve ser feita da seguinte forma:
A situação fundiária dos imóveis é de extrema importância para se evitar futuros problemas
para a prefeitura.
Uma série de estudos deve ser realizada para avaliação de possíveis áreas de implantação
de um aterro sanitário, envolvendo diferentes profissionais e diversas áreas do
conhecimento. A seguir estão listadas as principais informações que devem ser levantadas
para basear a escolha da área para aterro sanitário:
• Dados geológico-gotécnicos
– distribuição e características das unidades geológico-geotécnicas da região;
– principais feições estruturais (foliação, falhas e fraturas);
– permeabilidade do solo;
– capacidade de carga do terreno de fundação.
• Dados socio-econômicos
– valor da terra;
– uso e ocupação dos terrenos;
– distância da área em relação aos centros atendidos;
– integração a malha viária;
– aceitabilidade da população e de suas entidades organizadas.
• Dados arqueológicos
– laudo de existência ou não de sítios de interesse arqueológico.
Os critérios utilizados para escolha de área para aterro podem divididos em três grandes
grupos: técnicos, econômico-financeiros e político-sociais.
Critérios técnicos
A seleção de uma área para a implantação de um aterro sanitário deve atender, no mínimo,
aos critérios técnicos impostos pelas normas da ABNT (NBR 13896/1997 e NBR
10.157/1987) e pela legislação federal, estadual e municipal (quando houver).
Critério Observações
Uso do solo As áreas têm que se localizar numa região onde o uso do solo seja rural (agrícola) ou
industrial e fora de qualquer Unidade de Conservação Ambiental.
Proximidades a cursos As áreas não podem se situar a menos de 200 metros de corpos d'água relevantes,
d'água relevante tais como, rios, lagos, lagoas e oceano. Também não poderão estar a menos de 50
metros de qualquer corpo d'água, inclusive valas de drenagem que pertençam ao
sistema de drenagem municipal ou estadual.
Proximidades a núcleos As áreas não devem se situar a menos de mil metros de núcleos residenciais urbanos
residências urbanos que abriguem 200 ou mais habitantes
Proximidade a As áreas não podem se situar próximas a aeroportos ou aeródromos e devem
aeroportos respeitar a legislação em vigor
Distância do lençol As distâncias mínimas recomendadas pelas normas federais e estaduais são as
freático seguintes:
* Para aterros com impermeabilização inferior através de manta plástica sintética, a
distância do lençol freático à manta não poderá ser inferior a 2 metros.
* Para aterros com impermeabilização inferior através de camada de argila, a
distância do lençol freático à camada impermeabilizante não poderá ser inferior a 3
metros e a camada impermeabilizante deverá ter um coeficiente de permeabilidade
-6
menor que 10 cm/s
Vida útil mínima É desejável que as novas áreas de aterro sanitário tenham, no mínimo, 10 anos de
vida útil. Vida útil de 20 a 25 anos é desejável.
Permeabilidade do solo É desejável que o solo do terreno selecionado tenha uma certa impermeabilidade
natural natural, com vistas a reduzir as possibilidades de contaminação do aqüífero. As áreas
selecionadas devem ter características argilosas e jamais deverão ser arenosas.
Extensão da bacia de A bacia de drenagem das águas pluviais deve ser pequena, de modo a evitar o
drenagem ingresso de grandes volumes de água de chuva na área do aterro.
Facilidade de acesso à O acesso ao terreno deve ter pavimentação de boa qualidade, sem rampas íngremes
veículos pesados e sem curvas acentuadas, de forma a minimizar o desgaste dos veículos coletores e
permitir seu livre acesso ao local de descarga mesmo na época de chuvas muito
intensas.
Disponibilidade de Preferencialmente, o terreno deve possuir ou se situar próximo a jazidas de material
material de cobertura de cobertura, de modo a assegurar a permanente cobertura dos resíduos a baixo
custo.
(1)
Área para expansão Considerando o Efeito NIMBY , é desejável que na localização da área já seja
reservada uma área adjacente pra expansão futura da área de disposição final.
1
NIMBY – Not In My Back Yard (Não no meu jardim)
Tabela 2.2 – Critérios técnicos para seleção de áreas para aterro sanitário
Critérios econômico-financeiros
A implantação do novo aterro sanitário deve ser sustentável; para tanto além dos aspectos
técnicos os aspectos econômico-financeiros são fundamentais. Na tabela 2.3 apresenta-se
sugestão de alguns desses critérios que devem ser avaliados.
Critérios político-sociais
Completando a busca de uma área para aterro sanitário, os critérios sociais talvez sejam os
mais importantes para uma futura operação sustentável do aterro, evitando ou pelo menos
minimizando os possíveis conflitos sociais e políticos que possam surgir. Alguns aspectos a
serem considerados estão listados na Tabela 2.4. a seguir.
Critério Observações
Distância de núcleos Aterros são locais que atraem pessoas desempregadas, de baixa renda ou sem
urbanos de baixa renda outra qualificação profissional, que buscam a catação dos resíduos como forma de
sobrevivência e que passam a viver desse tipo de trabalho em condições insalubres,
gerando, para a prefeitura, uma série de responsabilidades sociais e políticas. Por
isso, caso a nova área se localize próxima a núcleos urbanos de baixa renda,
deverão ser criados mecanismos alternativos de geração de emprego e/ou renda
que minimizem as pressões sobre a administração do aterro em busca da
oportunidade de catação. Entre tais mecanismos poderão estar iniciativas de
incentivo à formação de cooperativas de catadores, que podem trabalhar em
instalações de reciclagem dentro do próprio aterro ou outros locais da cidade, de
forma organizada, fiscalizada e incentivada pela prefeitura.
Acesso às áreas através O tráfego de veículos transportando resíduos é um transtorno para os moradores
de vias com baixa das ruas por onde estes veículos passam, sendo desejável que o acesso à área do
densidade de ocupação aterro passe por locais de baixa densidade demográfica.
Inexistência de É desejável que, nas proximidades da área selecionada, não tenha havido nenhum
problemas com a tipo de problema da prefeitura com a comunidade local, com organizações não-
comunidade local governamentais (ONG's) e com a mídia, pois esta indisposição com o poder público
irá gerar reações negativas à instalação do aterro.
O local selecionado para se implantar um aterro sanitário deve ser aquele que atenda ao
maior número de critérios, dando-se ênfase aos critérios de maior prioridade. A seleção da
melhor área para implantação do aterro sanitário deve ser precedida de uma análise
individual de cada área selecionada com relação a cada um dos diversos critérios
apresentados, fornecendo-se a justificativa que permita considerar o critério "totalmente
atendido", o "atendido parcialmente através de obras" ou o "não atendido".
Quando os atributos naturais do terreno selecionado não forem suficientes para atender
integralmente ao critério analisado, tais deficiências deverão ser sanadas através da
implementação de soluções da moderna engenharia, de forma a que o critério seja atendido.
Para que se possa efetuar a escolha da melhor área, é necessário que se fixem pesos, tanto
para as prioridades, quanto para o atendimento aos critérios selecionados, como se mostra
na Tabela 2.6. Aqui também, os pesos podem ser alterados de acordo com os especialistas
envolvidos na tomada de decisão de buscas das áreas.
Será considerada melhor área aquela que obtiver o maior número de pontos após a
aplicação dos pesos às prioridades e ao atendimento dos critérios.
Atendimento
Critério Prioridade
Área 1 Área 2 Área 3
Proximidade a cursos d'água 1 T T T
Proximidade a núcleos residenciais 1 T T P
Proximidade a aeroportos 1 T T P
Distância do lençol freático 1 P P T
Distância de núcleos de baixa renda 2 T T P
Vias de acesso com baixa ocupação 2 P P P
Aquisição do terreno 3 P P T
Investimento em infra-estrutura 3 T T P
Vida útil mínima 4 P P T
Uso do solo 4 T T T
Permeabilidade do solo natural 4 P P P
Extensão da bacia de drenagem 4 P P T
Acesso a veículos pesados 4 T P P
Material de cobertura 4 N P T
Manutenção do sistema de drenagem 5 P P T
Distância ao centro de coleta 6 T P P
Nota: T – atende total/integralmente; P – atende parcialmente; N – não atende.
Tabela 2.7 – Características das áreas quanto ao atendimento dos critérios (exemplo)
Importante frisar que não existe a área ideal, e em qualquer uma delas serão necessárias
intervenções da engenharia para garantir a segurança ambiental do empreendimento. Uma
metodologia bem conduzida de escolha de área conduzirá, entretanto, em um projeto de
maior segurança sanitária e ambiental e de menor custo de implantação e de operação.
Tão logo se escolha a área para a implantação do aterro sanitário, a prefeitura deve
proceder imediatamente à compra ou desapropriação do imóvel. Sempre que possível
desapropriar área maiores que o estritamente necessário para o aterro, permitindo a
implantação de um grande cinturão de proteção ou de minimização dos impactos potenciais
do futuro aterro.
Não existe área perfeita. O que queremos é uma área que cause
os menores impactos ambientais e sociais...
2.6. Exercícios
Utilizando as equações 2.1 e 2.2, e tomando como modelo a tabela 2.1, defina o volume útil
total necessário para implantar um novo aterro sanitário com as seguintes características:
ÁREA 1
Condições físicas:
• perfil do solo arenoso com 5 m de espessura;
• condição de alta permeabilidade do solo;
• área com declividade suave;
• lençol freático a 4 m de profundidade;
• presença de curso d’água na vizinhança, distância de 100 m;
• 30 ha de área disponível.
Condições bióticas:
• vegetação rasteira (campo sujo) em toda a área;
• pequena presença de fauna.
Condições antrópicas:
• uso para agricultura em toda a área, com a presença de benfeitorias de um dos
proprietários;
• distância de 1.500 m do núcleo populacional mais próximo;
• área pertencente a três proprietários.
ÁREA 02
Condições físicas:
•
perfil do solo argiloso com 5 m de espessura;
•
condição de baixa permeabilidade do solo;
•
área com declividade suave;
•
lençol freático a 2 m de profundidade;
•
presença de curso d’água no interior da área;
•
60 ha de área disponível.
Condições bióticas:
• vegetação rasteira em 2/3 da área, vegetação arbórea nativa em 1/3 da área;
• pequena presença de fauna.
Condições antrópicas:
• uso para agricultura em toda a área, sem a presença de benfeitorias;
• distância de 3.000 m do núcleo populacional mais próximo;
• área pertencente a um único proprietário.
ÁREA 03
Condições físicas:
• perfil de solo areno-argiloso com 3,5 m de espessura;
• condição de média permeabilidade do solo;
• área com declividade média;
• lençol freático a 3 m de profundidade;
• presença de talvegue no interior da área;
não
não
não
não
Consensuar sobre
Critérios de Aplicar os critérios de cronograma de escolha da
seleção seleção de áreas área e projeto
Mapeamento das
1 restrições Aplicação de critérios
geográficos de exclusão,
através da participação de
especialistas
Locais com área
potenciais
Pré-seleção de várias
2 áreas potenciais Considerar condições de solo
requeridas, a propriedade e o
uso do solo
Investigação de campo
5 na(s) área(s) preferida Confirmação dos dados
geológicos e hidrogeológicos
Confirmar estimativa de
custos e capacidade
Preparar estudo de
6 viabilidade Preparar plano de trabalho e
fluxo de caixa e a efetiva
realização do EIA/RIMA
3.1. Introdução
Outra área tecnológica que se aproxima muita das operações que ocorrem num aterro é a
mineração. Pode-se ver a implantação e operação de um aterro sanitário como sendo um
projeto de mineração ao contrário. Ou seja, na mineração tem-se um morro ou uma
determinada gleba de terra e a cada dia retira-se uma parcela de material (argila, brita,
carvão mineral, etc.) e transporta-se para uso nas cidades. No caso do aterro sanitário, a
cada dia coleta-se uma quantidade de resíduos na cidade e transporta-se para uma
determinada área onde são compactados dando forma a um morro.
Surge desta segunda questão mais uma questão na política de operação que afeta as bases
de projeto do novo aterro:
Uma “equipe de projeto”, sob a liderança de engenheiro civil ou ambiental com experiência,
é considerada a melhor maneira de desenvolver um novo aterro sanitário. A municipalidade
deve decidir se tal equipe pode ser formada dentre a própria instituição, se alguns membros
devem ser trazidos de outras organizações, ou parte ou todo o projeto dever ser feito por
outras instituições.
A operação manual do aterro aumenta o risco Requer maior treinamento para os operadores
potencial de doenças ocupacionais pelo contato dos equipamentos.
coma gentes perigosos presentes nos resíduos.
Trabalho manual adicional é requerido para Alguns equipamentos mecanizados fazem este
escavar o solo e espalhar o material de cobertura. trabalho em adição à disposição dos resíduos.
Fonte: Rushbrook e Pugh (1999)
Tabela 3.1 –Comparação entre aterramento manual e mecanizado de resíduos sólidos
Aterro sanitário é uma técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem
causar danos à saúde pública e à sua segurança, minimizando os impactos ambientais,
método este que utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos à menor
área possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-se com uma camada de
terra na conclusão de cada jornada de trabalho, ou a intervalos menores, se necessário
(ABNT NBR 8419/92).
Aterramento dos resíduos é um processo pelo qual os resíduos sólidos são colocados no
aterro sanitário. O aterramento inclui o monitoramento dos resíduos que entram no aterro, a
disposição e a compactação dos resíduos, e a instalação de sistemas de monitoramento
ambiental e de sistemas de controle.
O termo célula é utilizado para descrever o volume de material colocado no aterro durante
um determinado período de operação, geralmente um dia (ver Fig. 3.1). Uma célula inclui os
resíduos depositados e o material de cobertura diária que os encobre. Cobertura diária
geralmente consiste de uma camada de 15 a 30 cm de solo local ou outro material
alternativo como composto ou entulhos da construção beneficiados que são colocados
sobre as frentes de trabalho ao final de cada jornada de trabalho.
Berma
Célula (terraço)
final
Cobertura final do talude
Camada Camada
Altura da Altura da
camada célula
Comprimento da
Cobertura célula
intermediária
Impermeabilização inferior
A camada final inclui a camada de cobertura. A camada de cobertura final é colocada sobre
o aterro quando todas as operações do aterro estão completadas. Esta camada
normalmente consiste de várias camadas de solo e /ou geomembrana projetadas para
melhorar a drenagem superficial, diminuir a infiltração de água da chuva no aterro, controlar
e emissão de gases, e dar suporte a revegetação.
Biogás ou gás de aterro é uma mistura dos gases resultantes da decomposição anaeróbia
na matéria orgânica no aterro, sendo constituído principalmente de metano e gás carbônico
e outros gases em menores concentrações, como o nitrogênio, oxigênio, amônia e traços de
compostos orgânicos.
• (2) Método da área: este método é utilizado quando o terreno não é apropriado
para escavações de células ou de trincheiras, geralmente em locais onde o nível do lençol
freático está muito perto da superfície (veja Fig. 3.2b). O material de cobertura deve ser
transportado de caminhão de áreas adjacentes ou de áreas de empréstimo. Em locais com
carência de material de cobertura, pode ser utilizado composto produzido de resíduos
domiciliares ou podas de árvores e material verde. Outra técnica que tem sido utilizada,
principalmente nos Estados Unidos e na Alemanha, é a utilização de coberturas removíveis
como solo e geomembranas sintéticas, que são removidas antes da colocação dos próximos
patamares.
Talude em terra
Greide da cobertura final
(a)
Talude em terra
Células de resíduos
Greide da cobertura final
(b)
Limite do aterro
Dreno pluvial
Greide da cobertura final
Figura 3.2 – Métodos de aterro sanitário utilizados: (a) células ou trincheiras escavadas,
(b) área, e (c) depressão (Fonte: Tcobanoglous et al., 1993)
Para Gandolla et al. (1995), o aterro sanitário é uma tentativa do homem de confinar seus
resíduos numa área controlada, a fim de fixar e concentrar as substâncias perigosas. Mas,
ao mesmo tempo em que é uma criação artificial do homem, um aterro sanitário para
resíduos sólidos urbanos é também um sistema vivo, dentro do qual se desenvolvem
processos biológicos, similares aos que se encontram em certos ecossistemas particulares,
ricos em matéria orgânica e pobres em oxigênio, como os sedimentos, pântanos e solos
saturados em água.
Digestão anaeróbia é definida por Metcalf e Eddy (1991), como a decomposição de matéria
orgânica na ausência de oxigênio molecular, com a conversão deste material em metano
(CH4) e dióxido de carbono (CO2). Na digestão anaeróbia, a matéria orgânica complexa, na
forma de glicídios, proteínas, lipídios, etc., é convertida em compostos simples.
A utilização de compostos orgânicos por bactérias, exige que tais substâncias sejam
inicialmente hidrolisadas no ambiente externo antes que elas possam aproveitá-las. Para
este propósito é que as bactérias produzem enzimas localizadas na sua superfície (extra
celulares) que interagem com o alimento disponível no meio.
Trabalhos de Rees (1980), Rees e Viney (1982) e Lima (1985) apud Lima (1995), revelaram
um modelo de quatro estágios para expressar a metanogênese em aterro. Resumidamente,
este modelo é assim explicado:
Pohland e Harper (1985) apud Gomes (1989), apresentam um outro modelo para
representar a digestão anaeróbia em aterros sanitários, e dividem o processo em cinco
fases, assim descritas resumidamente:
Fase de ajuste inicial (I): é a fase de disposição inicial dos resíduos e acúmulo
preliminar da mistura. Ocorre uma sedimentação inicial e cada célula do aterro é
fechada. Variações nos parâmetros ambientais são detectadas e refletem o início
do processo de estabilização;
Fase de transição (II): a capacidade de campo é superada, isto é, inicia-se a
formação do chorume ou lixiviado. A estabilização microbiológica sofre uma etapa
de transição: passa de uma fase aeróbia para uma anaeróbia. Nitratos e sulfatos
passam a ser, no lugar do oxigênio, os aceptores primários de elétrons. Surge
dióxido de carbono no biogás formado no processo. O meio começa a se tornar
redutor. Em análises do lixiviado já se encontram ácidos orgânicos voláteis;
Resíduos sólidos
Resíduos orgânicos Resíduos inorgânicos
FASE I
(Aeróbia)
Sais inorgânicos
Hidrólise
(Aeróbia)
H2O
FASE II
(Acidogênese)
Hidrólise e
Fermentação Bactérias redutoras Sulfetos
(Anaeróbia) de sulfato metálicos
FASE III
(Acetogênese)
Acetogênicas CO2
H2
Acetato Formiato
Bactérias
homoacetogênicas
FASE VI
(Metanogênese)
Metanogênicas CH4
FASE V
(Aeróbia) Organismos
oxidativos do metano
Um aterro sanitário é uma obra de engenharia, e como tal deve ter um projeto executivo que
deverá ser obrigatoriamente constituído das seguintes partes:
memorial descritivo;
memorial técnico;
cronograma de execução e estimativa de custos;
desenhos ou plantas;
eventuais anexos.
1
Na década de 70 dois cientistas propuseram uma nova classificação para os seres vivos. Esta nova
classificação os divide em três domínios: arquéias, bactérias e eucariotes. Arqueias e bactérias são procariotes,
mas possuem, por exemplo, composição de parede celular diferente. Algumas características das arquéias são
similares aos dos eucariotes. Neste domínio arqueia estão agora classificados os microrganismos
metanogênicos e aqueles que habitam ambientes extremos. Pois isso que neste Manual, estamos falando de
arquéias metanogênicas e não de bactérias metanogênicas. Para saber mais entre no sítio
http://en.wikipedia.org/wiki/Archaea#History_of_archaean_microbiology.
a) informações cadastrais;
b) informações sobre os resíduos a serem dispostos no aterro sanitário;
c) caracterização do local destinado ao aterro sanitário;
d) concepção e justificativa do projeto;
e) descrição e especificações dos elementos do projeto;
f) operação do aterro sanitário;
g) uso futuro da área do aterro sanitário.
No item 3.7 deste Manual se apresenta o cálculo e definição dos principais elementos de
projeto de um aterro sanitário.
a) equipamentos utilizados;
b) mão-de-obra empregada;
O projeto de aterro sanitário pode variar de um local para outro, dependendo das
características intrínsecas de cada local. Após a discussão e aprovação do projeto básico ou
lay-out procede-se ao traçado do projeto executivo. As seguintes plantas são necessárias:
Pode-se colocar como anexos ao projeto do aterro sanitário laudos e documentos que autor
julgar necessários ou importantes. A fim de ilustração, citam-se os seguintes possíveis
anexos:
O sistema de drenagem deverá ser composto por canais construídos em argila compactada,
solo revestido em concreto, meia-cana ou tubos de concreto. Estes terão a função de captar
as vazões de cada sub-bacia, criada com a conformação topográfica final do
empreendimento, e encaminhá-las para o talvegue. No caso de existirem declividades
elevadas no local, deverão ser adotadas medidas de redução da velocidade das águas,
como curvas de nível ou escadas d’água, evitando a ocorrência de processos erosivos.
O topo das células deverá apresentar uma conformação que possibilite a divisão das águas
pluviais, de forma que as escadas de dissipação não apresentem seções muito grandes,
que dificultem o acesso de máquinas e veículos ao local.
Q = C.ic . A (3.1)
A intensidade da chuva crítica é a que causa maior vazão na seção considerada e tem
duração igual ao tempo de concentração (t = tc). Rocca et al. (1993) sugerem a seguinte
equação para cálculo da chuva crítica:
ic (t c , T ) =
1
tc
[(0,21. ln T + 0,52).(0,54.t c0, 25 − 0,50).P( 60,10) ] (3.2)
L (3.3)
t c = 5,3.3
I
0 , 385
L3
t c = 57. (3.4)
H
1 2 1
Q= .S .Rh 3 .i 2
n (3.5)
estanqueidade;
durabilidade;
resistência mecânica;
resistência a intempéries;
compatibilidade com os resíduos a serem dispostos.
Segundo Rocca et al. (1993) um solo argiloso, para ser considerado adequado como
impermeabilização de aterros, deve atender às seguintes características:
Na seleção de uma membrana sintética para aterro sanitário, o material a ser utilizado deve
atender aos seguintes requisitos:
Embora a permeabilidade das geomembranas seja muito baixa, elas não são totalmente
impermeáveis. Além disso, as mantas têm permeabilidade seletiva, ou seja, o coeficiente de
permeabilidade é diferente para gases e líquidos, e também é diferente para diferentes
líquidos. A título de ilustração apresentamos a capacidade de transporte de água
(permeabilidade à água) e de cresol (um composto orgânico aromático) das geomembranas
de PEAD e de PVC (Vidal, 2003):
Impermeabilização inferior
A decisão de qual sistema de base adotar num projeto de aterro sanitário depende
fundamentalmente das condições do solo e hidrogeologia do local, do tipo (periculosidade)
dos resíduos a serem dispostos e do tamanho e importância do aterro.
Daniel (1993) sugere a seguinte prioridade em termos de eficácia dos sistemas: melhor
desempenho, sistema composto argila compactada e geomembrana; depois sistema
simples de argila compactada; e o pior desempenho o sistema simples somente com
geomembrana. O autor cita ainda que a eficácia em termos de vazamentos pela base do
aterro, a vazão por hectare é cerca de 100 vezes menor em sistemas compostos do que
sistemas simples de argila ou de geomembrana.
Quanto maior o aterro, em termos de volume útil total ou capacidade de recepção diária, e
quanto mais sensível ambientalmente for o local de implantação do aterro, maior devem ser
os cuidados do projetista. Neste caso, pode-se adotar sistemas compostos ou até duplos de
impermeabilização. Em muitos casos, o próprio órgão ambiental licenciador estabelece as
condições a serem adotadas por ocasião da emissão da Licença Prévia (LP).
Legenda:
Resíduos sólidos
Dreno de areia
Geomembrana
ou Argila compactada
Solo natural
A NBR 13896/97 – Aterros de resíduos não perigosos: Critérios para projeto, implantação e
operação – apresenta uma aparente contradição quando por um lado condiciona em seu
item 5.2.1 a implantação da impermeabilziação inferior ao não atendimento das condições
naturais do terreno estabelecidos pela própria norma (em seu item 4.1.1-b). Quer dizer, se o
terreno natural apresentar permeabilidade inferior a 10-6 cm/s e uma zona não saturada com
espessura superior a 3,0 m, pela norma acima não é necessária impermeabilização artificial.
No entanto, no item 5.2.6 da mesma norma, diz que sob o sistema artificial de
impermeabilização inferior deve haver um sistema de detecção de vazamento de lixiviados.
Ora, como pode uma hora exigir um dreno de segurança ou dreno testemunha (como o
mostrado na figura 3.2) e outra hora prescindir até mesmo de um sistema de
impermeabilização? Na nossa opinião, a escolha do tipo de sistema a adotar depende do
tipo de terreno, do tamanho do aterro e da exigência do órgão ambiental.
(a) (b)
1a camada de
argila compactada
Solo natural
(a) (b)
Figura 3.4 – (a) Espalhamento e (b) compactação por rolo pé-de-carneiro das camadas de
argila (Aterro Sanitário da Extrema, Porto Alegre)
(a) (b)
Um detalhe importante a ser observado é que para uma maior eficácia do sistema composto
argila e geomembrana é que estes dois materiais devem ser justapostos de modo a se ter
um bom contato hidráulico (muitas vezes chamado de contato íntimo). Desta forma,
eventuais falhas na geomembrana, ou mesmo na camada de argila, terão menor
probabilidade de resultarem em vazamentos de líquidos ou gases pela base do aterro (ver
figura 3.6).
Contato íntimo
Argila compactada
de baixa permeabilidade
De modo a evitar escorregamento ou ação do vento sobre a geomembrana, esta deve ser
firmemente ancorada nas bordas superiores dos taludes do aterro sanitário. A canaleta de
ancoragem (ver figura 3.7) deverá ser escavada de acordo com as dimensões previstas no
projeto, e o reaterro deverá ser feito cuidadosamente para evitar danos a geomembrana.
Como material de reaterro pode-se utilizar o próprio solo escava ou concreto.
Com o objetivo de proteger a geomembrana de danos que possam ser causados pela
colocação do sistema de drenagem (brita) ou mesmo dos resíduos sólidos (materiais
pontiagudos e cortantes), uma camada de proteção mecânica deverá ser colocada sobre a
geombrana. Esta camada, com cerca de 20 a 30 cm de espessura, poderá ser de qualquer
solo, não sendo necessário que seja argila, uma vez que a sua função não é de
impermeabilização, mas de proteção. Esta camada de solo também evita que a
geomembrana fique exposta à ação da temperatura e dos raios solares. Na figura 3.8
mostra a colocação desta camada de proteção mecânica.
(a) (b)
Os critérios de projeto para um sistema de cobertura final devem ter por objetivo:
Solo cobertura Sc
Cobertura
Argila cobertura Ac
PEAD (PEADc) mm
Dreno areia - Gas Dc
Geotextil Cobertura Gramatura (Gc)
Resíduo Sólido
Para evitar o ressecamento e danos à camada de argila deve ser prevista uma cobertura
com solo vegetal. Esta camada de solo vegetal favorece um maior escoamento superficial e
protege contra a erosão. A vegetação a ser colocada deve ser resistente, auto suportada,
densa o suficiente para minimizar a erosão, e possuir raízes que não penetrem a camada de
baixa permeabilidade (camada de argila). Sugere-se que gramíneas de raízes radiais sejam
plantadas; e que seja evitado o plantio ou crescimento natural de espécies com raízes
pivotantes e profundas. A espessura desta camada vegetal deverá ser da ordem de 20 a 30
cm, com uma declividade entre 3 a 5 %.
Geração do lixiviado
Wu et al. (1988) descrevem o lixiviado como o produto derivado da hidrólise dos compostos
orgânicos e da umidade do sistema, com características que variam em função do tipo de
resíduos sólidos, da idade do aterro, das condições meteorológicas, geológicas e
hidrológicas do sítio de disposição. Em geral, o lixiviado possui elevada carga orgânica,
fontes de nitrogênio, como a amônia, metais pesados e grupos microbianos.
Neste Manual, optou-se pelo termo lixiviado, uma vez que, na prática, seria impossível
distinguir as diferentes fontes de água dentro dos aterros sanitários. Além disso, o termo
caracteriza melhor os processos físicos e químicos ligados ao fenômeno de geração deste
Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)
Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 47
líquido, como a infiltração e percolação das águas pluviais e o arraste, ou lixiviação, dos
compostos solúveis do interior da massa de resíduos.
Para estimar a vazão de lixiviado gerado, os métodos mais utilizados são os embasados no
balanço hidrológico, existindo para tanto grande número de equações baseadas em
múltiplos modelos analíticos para quantificar os processos hidrológicos envolvidos. Um
exemplo de equação para balanço hídrico em aterros sanitários é apresentada abaixo (Lu et
al. (1985) apud Sharma e Lewis (1994)):
A equação 3.6 é uma das mais completas encontradas na literatura. Alguns dos parâmetros
desta equação podem ser desprezíveis, como WD; ou até mesmo iguais a zero, como WGW,
nos modernos aterros com impermeabilização inferior.
Em aterros menores e mais simples ou na falta de dados para aplicação dos modelos de
balanço hídrico, metodologias simplificadas podem ser empregadas. Um delas é o Método
Suíço, descrito por Rocca et al. (1979), que estima a vazão de lixiviado de acordo com a
seguinte expressão:
1
Q = • P• A• K (3.7)
t
O sistema de drenagem tem por objetivo coletar e remover o mais rapidamente possível os
lixiviados gerados do interior do aterro sanitário.
Colchão drenante
Espera dreno de gás
Linhas de drenos de brita
(a) (b)
Figura 3.11 – Sistema de drenagem de lixiviados (a) tipo colchão drenante e (b) tipo drenos
em linha (Aterro Metropolitano Santa Tecla, Gravataí, RS)
2% 2% 2% 2%
2%
2%
2 a 3:1 2 a 3:1
2% 2%
2%
2%
2%
2 a 3:1 2 a 3:1
Em todos os sistemas mostrados na figura 3.12 o lixiviado flui por gravidade para as áreas
de acúmulo ou pontos de saída (identificados com um círculo branco na figura acima), onde
algum sistema de remoção é instalado. Algumas dessas opções de saída são:
poço de visita que sobe através dos resíduos (e da cobertura final) para a remoção
por bombeamento do lixiviado;
tubulação colocada sobre o talude impermeabilizado chegando até o local de
acúmulo;
tubulação inclinada que passa através do talude e faz a descarga em ponto fora da
célula do aterro (normalmente feito por gravidade sem necessidade de bombas).
Sempre que possível, deve-se optar por fazer a descarga ou retirada do lixiviado do interior
do aterro sem a utilização de bombas, uma vez que o uso desse tipo de equipamento
sempre corresponde a uma fragilidade do sistema e leva a possibilidade de falhas. Quando
a impermeabilização inferior for feita com geomembrana, cuidados especiais devem ser
tomadas na passagem da tubulação de saída de lixiviados por esta camada. Na figura 3.13
pode-se ver um sistema de passagem adotado nestes casos.
Figura 3.13 – Detalhe de passagem de tubo com geomembrana (Fonte: Vidal, 2004)
O dimensionamento do dreno, quando for utilizada tubulação perfurada (ver figura 3.14.a),
pode ser feito través da equação 3.5 (mesma metodologia apresentada para drenagem das
águas pluviais). Quando for utilizado este tipo de drenagem recomenda-se a utilização de
tubos de PEAD que tem grande resistência química. Os tubos de concreto perfurados são
atacados pelo H2S gerado na decomposição anaeróbia dos resíduos, e podem se
desintegrar completamente.
Na Brasil, se utiliza muito os chamados drenos cegos (ver figuras 3.14.b e 3.14.c), ou seja,
drenos com seção sem tubo circular, somente com brita como meio drenante. Nestes casos,
a Lei de Darcy pode ser utilizada, adotando-se o gradiente hidráulico como sendo igual a
declividade do dreno.
Q = K ⋅i ⋅ A (3.8)
Q
A= (3.9)
K ⋅i
Com seção transversal do dreno calculada conforme a equação 3.9, defini-se a forma da
seção (normalmente retangular ou trapezoidal) e calculam-se suas dimensões (ver alguns
cortes típicos de seções de drenos de lixiviados na figura 3.14). Em drenos escavados em
argila (na base) ou na camada de resíduos (em drenos intermediários), a largura mínima
normalmente é de 40 cm (corresponde a largura das conchas de escavação de retro-
escavadeiras e é a largura mínima para a descida de um operário na vala).
O material de preenchimento do dreno preferencialmente deve ser feito com brita de rocha
magmática (granito ou basalto) por sua maior resistência, e com a utilização de britas 3, 4
ou 5. A porosidade desta britas varia de 40 a 50 %.
p ⋅ Ds
Rh = (3.11)
6 ⋅ (1 − p )
V = C v ⋅ i 0,54 (3.12)
V ⋅ Ds
Re = (3.13)
6 ⋅ δ ⋅ (1 − p )
Como segurança para compensar possíveis reduções na seção transversal do dreno devido
a problemas de colmatação física ou biológica, ou até mesmo de deslocamentos ou
recalques diferenciais, a seção deve majorada por um coeficiente de segurança no mínimo
igual a 2.
Dreno com tubo perfurado Dreno cego trapezoidal Dreno cego retangular
Brita
Brita
Tubo
perfurado
2 ⋅ hmax
L= (3.14)
tan 2 φ tan φ
c ⋅ + 1 − ⋅ tan 2 φ + c
c c
Percolação do
lixiviado (q)
RSU
▼
hmax
Dreno
Argila
Φ
Geomembrana
impermeabilização inferior (a)
Percolação do
lixiviado (q)
Geomembrana ▼ RSU
impermeabilização inferior Dreno
hmax
Argila
(b)
Figura 3.15 – Ilustração da lâmina de lixiviados que ocorre entre drenos:
(a) declividade uniforme entre os drenos; (b) crista (“divisor de
águas”) entre os drenos (Adaptado de Daniel, 1993)
Composição do biogás
Um aterro sanitário pode ser entendido como um reator bioquímico, sendo os resíduos
sólidos é a água as maiores entradas, e tendo como principais saídas o gás de aterro (ou
biogás) e o líquido lixiviado. O material armazenado no aterro inclui matéria orgânica
parcialmente biodegradada e os outros materiais inorgânicos inicialmente colocados no
aterro sanitário.
O biogás de aterro é composto por alguns gases que estão presentes em grandes
concentrações (os gases principais) e outros gases presentes em concentrações muito
baixas (os gases traços). Os gases principais são gerados pela decomposição da fração
orgânica dos resíduos urbanos. Alguns dos gases traços, também presentes em pequenas
concentrações, podem ser tóxicos e podem causar risco à saúde humana.
Geração de biogás
A geração de biogás em aterros sanitários é afetada por diversas variáveis, entre quais se
pode citar:
Durante a primeira fase de vida do aterro, o meio torna-se ácido, e por um curto período de
tempo o gás produzido é constituído principalmente por hidrogênio. Em seguida, depois de
um período de latência, cuja duração depende fortemente das condições locais (umidade,
temperatura, compactação, entre outras), e onde a produção de gás é mínima e este é
constituído quase inteiramente por gás carbônico, uma flora metanogênica estável se
instala. A partir daí, a exalação de biogás torna-se regular e sua composição se estabiliza
em torno dos valores típicos (aproximadamente 45% de CO2 e 55% de CH4). Este período
pode durar vários anos, diminuindo depois progressivamente, na medida que a matéria
orgânica for sendo estabilizada (ver figura 3.16). Todavia, a relação entre metano e gás
carbônico permanecerá constante por muito tempo ainda.
dy
= K ⋅ (G − Y ) (3.16)
dt
Segundo Castilhos Jr. et al. (2003) modelos matemáticos foram desenvolvidos para
descrever a geração de biogás em aterros sanitários. Esses modelos são formulados
essencialmente sobre técnicas de ajuste de curvas teóricas sobre resultados experimentais.
Um desses modelos descreve a geração acumulada de biogás por unidade de massa
segundo uma cinética de primeira ordem, como abaixo (resultante da integração da equação
3.16):
Gt = Gc ⋅ (1 − e − k ⋅t ) (3.17)
Para fins de projeto pode-se adotar modelos matemáticos para prever a geração do biogás
(como os de Findikakis e Leckie, 1984; e de Lu e Kunz, 1981 apud Castilhos Jr. et al., 2003),
fazer a previsão com base no modelo estequiométrico (conforme descrito em
Tchobanoglous et al. 1993) ou fazer uso de valores empíricos com base na experiência de
outros aterros. Em aterros pequenos e médios, e principalmente quando não se objetiva a
recuperação energética do biogás, esses últimos são os mais utilizados para previsão da
geração de biogás.
Conforme Lima (1995) estima-se uma geração de 370 a 400 Nm3 de biogás por tonelada de
matéria seca digerida dos resíduos sólidos. Estes valores têm sido freqüentemente
utilizados em projetos de aterros brasileiros.
Importante notar, no entanto, que esta geração de gás não se dá instantaneamente nem de
forma uniforme ao longo do tempo. Em condições normais a taxa de decomposição, medida
pela geração de gás, atinge um pico nos primeiros dois anos e diminui gradativamente,
continuando em muitos casos em períodos superiores a 25 anos.
¾h
½h
¼h
0 1 2 3 4 5
Tempo (anos)
Figura 3.17 – Modelo teórico de geração de gás com o tempo para a fração
facilmente biodegradável (Fonte: Adaptado de Tchobanoglous, 1993)
Para a fração moderadamente biodegradável o modelo triangular da figura 3.17 tem seu
pico em 5 anos e a geração tem uma duração de 15 anos.
Total
Ano
Podem ser utilizados tanto drenos verticais quanto horizontais para a retirada do gás dos
aterros. Os drenos verticais de gás são os mais utilizados, sendo que neste caso sempre
são interligados com os drenos horizontais de lixiviados. Na verdade o sistema funciona
como sendo um sistema misto. Os drenos horizontais que drenam os lixiviados também
conduzem, na sua parte superior, os gases. Quando os drenos de lixiviados interceptam os
drenos de gás, o biogás sobe por estes últimos. Da mesma forma, quando os drenos
intermediários de lixiviados das camadas mais superiores do aterro interceptam os drenos
verticais de gás, o lixiviado desce por estes drenos até chegar ao fundo do aterro e ser
conduzido para fora pelo sistema de drenos de fundo.
Para dimensionar o dreno vertical pode-se utilizar equações de fluxo de fluídos (neste caso
um gás) em meios porosos (brita) ou mesmo em tubulações. Mas pelas vazões
relativamente baixas nos drenos verticais; e como é desejável manter-se pequenas
pressões e baixas velocidades no interior dos drenos, de modo a permitir que o lixiviado que
chega aos drenos verticais desce ao fundo do aterro em vez de ser arrastado até a
superfície pela velocidade ascendente excessiva do biogás; normalmente adota-se um
dimensionamento empírico do sistema vertical de drenos. Neste caso, adotam-se grandes
diâmetros que resultam numa velocidade ascensional mais baixa. Os diâmetros adotados
em projeto variam de 50 a 100 cm, sendo preenchidos com rocha brita 3, 4 ou 5. Aterros
maiores e de maior altura podem possuir drenos verticais de até 150 cm de diâmetro.
0,5m
Queimador de biogás
Tubo ferro Ø 50cm
2m
Cobertura final
solo orgânico e
grama de campo
0,3m
Geomembrana
PEAD 1mm 1m Tubo em concreto Ø 30cm
Cobertura primária Ligação entre o dreno vertical
0,5m
com solo local e o queimador de biogás
RSU
Dreno vertical de biogás (rachão)
Ø 60cm no último patamar
Figura 3.18 – Detalhe de dreno vertical de gás (Cortesia de Eng. Marcelo Hoffmann)
Perímetro do aterro
30o
x = 2r cos 30o
Uma vez definido o layout geral do aterro sanitário será necessário escolher o método de
disposição a ser utilizado e o layout e dimensões das células individuais de resíduos. O
método específico escolhido para disposição dos resíduos e preenchimento do aterro
depende das características do local, como a disponibilidade de material de cobertura, a
topografia, e a hidrologia e geologia locais. Deverá ser elaborado um plano detalhado da
seqüência de preenchimento das células do aterro sanitário. A seqüência de preenchimento
ou disposição dos resíduos deve ser estabelecida de modo que a operação do aterro não
seja interrompida em condições climáticas severas, como períodos de fortes chuvas. Na
figura 3.21 apresenta-se um exemplo típico de preenchimento das células de um aterro em
área com múltiplas camadas.
4 5 6
A A
Em planta
Camada 2
Camada 1
Etapa 2
Seção A – A
Frente de serviço
No caso de aterro para município de pequeno porte, o método de aterro mais adotado é
aterro em valas ou trincheiras, o plano de implantação das valas e disposição dos resíduos
deve ser feito de modo a que cada vala tenha uma vida útil entre 2 e 4 meses (Gomes e
Martins, 2003).
Tanto a estabilidade dos maciços de terra (no caso de escavações) como da massa de
resíduos aterrados deve ser avaliada. No caso dos maciços de terra, deverão ser utilizados
os métodos da mecânica dos solos, mas no caso dos resíduos sólidos, estes métodos
devem ser utilizados com algumas restrições.
A estabilidade de um aterro sanitário é influenciada por alguns fatores, que interagem entre
si, sendo os mais importantes:
Em aterros de grande altura ou com risco elevado de causar graves danos ambientais ou
humanos em caso de instabilidade ou ruptura, recomenda-se a utilização de métodos
geotécnicos como os métodos de Bishop ou de Janju (métodos referenciados na bibliografia
geotécnica específica), utilizando os parâmetros listados na tabela 3.10 ou outros baseados
em bibliografia específica, e fazendo uso de programas computacionais.
De acordo com Benvenuto et al. (1994), os parâmetros mecânicos dos resíduos sólidos,
como compressibilidade, resistência ao cisalhamento e permeabilidade, podem variar em
cada célula em função da variação nas proporções de lixiviado, gases e matéria sólida, o
que dificulta a formulação de modelos de análise do seu comportamento.
Resíduos
(a)
Resíduos
Geomembrana
(b)
Resíduos
Solos moles
(c)
Figura 3.23 – Linhas de ruptura em aterro acima da superfície: (a) linha de ruptura circular
na massa de resíduos; (b) linha ruptura mista: circular na massa de resíduos e ao longo da
geomembrana na base; (c) linha ruptura abaixa na base do aterro sobre solos moles
(Fonte: Daniel, 1993)
a altura dos aterros, ou seja, o número de camadas de resíduos, deverá ser limitado
no projeto, de forma a colaborar com a segurança dos mesmos;
o controle de compactação dos resíduos é de fundamental importância para a
estabilidade do aterro;
a drenagem dos líquidos e gases deve ser operada e mantida constantemente e, no
caso de gases considerar a exaustão forçada;
a cobertura final com espessura de 0,60 m, com compactação que permita o
selamento da célula, deve ser considerada como um elemento de contenção da
massa de resíduos aterrada e de proteção à infiltração de águas pluviais, que
podem comprometer a estabilidade da estrutura;
implantar um sistema de drenagem de águas pluviais que permita o rápido
escoamento das águas de chuvas, evitando a infiltração e erosão dos taludes.
Em aterros de menor altura, quando não for possível a utilização de métodos mais
sofisticados de análise de estabilidade, e quando a fundação do aterro não for de solos
moles, geralmente a adoção da seguinte configuração dos taludes confere estabilidade ao
maciço do aterro: taludes com uma inclinação de 1:2 (V:H), em camadas de 5,0 de altura e
bermas com a largura de 5,0 m.
O biogás gerado em aterros sanitários, por contar em sua composição com metano e
dióxido de carbono, é um dos gases formadores do fenômeno conhecido como efeito estufa
e que vem contribuindo para o aquecimento global. Estudos indicam que, considerando um
período de 100 anos, 1 grama de metano contribui 21 vezes mais para a formação do efeito
estufa do que 1 grama de dióxido de carbono.
Assim, o biogás gerado nos aterros sanitários deve ser drenado e queimado para mitigação
dos efeitos causados pelo seu lançamento na atmosfera, notadamente no que concerne a
potencialização do efeito estufa. A queima do biogás transforma o metano em dióxido de
carbono e vapor d’água.
Como o biogás tem alto poder calorífico, pode-se implantar no aterro uma unidade de
geração de energia elétrica. O biogás pode ainda ser utilização em sistemas de calefação
ou como combustível veicular, sendo que nesta última alternativa haverá a necessidade de
instalação de uma unidade de beneficiamento ou purificação para aumentar o teor de
metano.
Dentro da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, foi realizado
em 1997, na cidade de Kyoto, Japão, uma conferência que decidiu a adoção de um
protocolo segundo o qual os países industrializados reduziriam suas emissões combinadas
de gases de efeito estufa em pelo menos 5 % em relação aos níveis de 1990 até o período
compreendido entre 2008 e 2012.
Para que o biogás possa ser explorado comercialmente através de sua recuperação
energética, o aterro sanitário deverá receber no mínimo 200 t/d de resíduos, ter uma
capacidade mínima de recepção da ordem de 500 mil toneladas e altura mínima de
carregamento de 10 m (Ministério das Cidades, 2007).
Para o cálculo teórico da geração de biogás para fins de MDL, pode-se usar o método US
EPA First Order Decay Model (Modelo de decomposição de Primeira Ordem da Agência de
Proteção Ambiental dos Estados Unidos) para estimar as emissões associadas ao resíduo
no caso de sua disposição em aterro sanitário.
Sendo:
LFG = volume estimado de metano gerado no aterro num determinado ano (m3/h);
Lo = potencial de geração de metano do resíduo (m3/ton);
R = taxa de disposição de resíduos (ton/ano);
k = taxa de geração de metano (1/ano);
t = tempo desde que o início da disposição (anos);
c = tempo desde o fechamento do (c = 0 para aterros em operação) (anos).
k=ln(2)/t1/2 (3.20)
Sendo t1/2 o tempo médio para 50 % da decomposição, sendo usual variações entre 4 e 10
anos para resíduos sólidos municipais. Para climas úmidos, os valores de k podem variar de
0,1 a 0,35.
DOC = 0,4 * (A) + 0,17 *(B) + 0,15 * (C) + 0,30 * (D) (3.22)
1. Considere um aterro sanitário ainda em operação, com área útil de 6 ha, recebendo
cerca de 400 t/d de RSU. Suponha que o aterro está localizado em Porto Alegre onde a
chuva média anual é de 1.400 mm/ano. Calcule (adote os parâmetros adequados e
justifique os valores adotados):
a) A vazão média de lixiviado gerado.
b) A vazão de dimensionamento dos drenos pluviais (seção máxima) que serão
construídos sobre o aterro.
c) A seção transversal do dreno de lixiviados (área e dimensões)
d) O espaçamento entre drenos de lixiviado (em planta) para que a altura máxima de
lixiviado no corpo do aterro seja de 30 cm.
1. Infra-estrutura
Escritório m2 450,00 42 18.900,00
Cercamento externo (moerão de madeira c/ 5 fios de arame farpado) m 26,00 1.515 39.390,00
Acessos internos permanentes m 27,21 350 9.524,59
Portão de veículos (2 folhas e larg. 5 m) un 850,00 2 1.700,00
Cortina vegetal (mudas) un 10,00 1.555 15.550,00
Poço de monitoramento de águas subterraneas (execução) - Piezômetros un 6.000,00 5 30.000,00
115.064,59
2. Estação de Tratamento de Lixiviados
Terraplenagem -
Escavação e transporte até 2 km m3 2,08 28.052 58.304,68
Transporte interno m3 0,77 18.235 14.040,95
Impermeabilização de fundo e contensão -
Argila compactada s/ fornecimento m3 9,62 9.817 94.447,00
Geomembrana PEAD 1,5 mm (fornecimento e instalação) m2 15,00 6.270 94.050,00
Drenagem -
Drenagem pluvial externa - meia-cana de concreto DN 0,60 m m 27,00 414 11.178,00
Acessos/ Grama -
Acessos internos permanentes ( larg. 2,0 m) m 9,73 700 6.813,99
Plantio de grama m2 3,50 5.100 17.850,00
Sistema hidráulico -
Caixa de alvenaria de pedra com grade (interna ao aterro) vb 1.000,00 1 1.000,00
Caixa de alvenaria de pedra de saída (externa ao aterro) vb 1.200,00 1 1.200,00
Sistema hidraulico de saída e controle de nivel do filtro anaeróbio vb 3.000,00 1 3.000,00
Sistema hidraulico de ligaçao entre os modulos de tratamento vb 5.000,00 1 5.000,00
Filtro biológico -
Fornecimento de brita m3 33,85 320 10.831,35
Sistema hidráulico de distribuição vb 2.500,00 1 2.500,00
320.215,97
3. Implantação do aterro sanitario (célula)
Terraplenagem -
Escavação e transporte até 2 km m3 2,08 140.496 292.013,91
Transporte interno m3 0,77 20.000 15.400,00
Aterro de argila para o maciço de contensão m3 9,62 18.200 175.097,83
Impermeabilização de fundo -
Argila compactada s/ fornecimento m3 9,62 39.675 381.703,65
Geomembrana PEAD 1,5 mm m2 15,00 39.675 595.125,00
Proteção mecânica da geomembrana m3 0,85 11.903 10.129,86
Drenagem -
Drenagem de lixiviados de fundo (50 x 50 cm) m 11,95 950 11.350,38
Filtro anaeróbio (fornecimento de brita) m2 37,83 1.000 37.829,00
Drenagem pluvial externa - vala escavada em solo m 1,24 1.000 1.240,58
1.519.890,22
4. Operação do aterro sanitário -
Compactação dos resíduos m3 1,60 275.000 440.000,00
Cobertura diária m3 2,92 55.129 160.992,12
Acessos internos provisórios m 9,73 500 4.867,13
Pátio de descarga m2 4,87 500 2.433,57
Drenagem de lixiviados de patamar m3 11,95 1.000 11.947,77
Drenagem de gases (verticais) m3 177,13 594 105.212,84
Drenagem pluvial interna m 22,48 300 6.744,35
Monitoramento ambiental (análises fisico-quimicas)( 25 anos) mês 3.000,00 300 900.000,00
- 1.632.197,77
5. Encerramento do aterro sanitário -
Impermeabilização superficial -
Argila compactada esterada (esp 60 cm) m2 12,12 23.850 289.113,68
Plantio de grama m2 3,00 14.310 42.930,00
Drenagem Pluvial interna m 22,48 200 4.496,23
Drenagem Pluvial externa m 1,24 500 620,29
Bota-fora de solo excedente (10 km) m3 3,00 10.944 32.832,00
Monitoramento ambiental (análises fisico-quimicas)( 10 anos pós fecham) mês 3.000,00 120 360.000,00
729.992,20
6. Mão-de-Obra
Operários mês 1.200,00 4 1.440.000,00
Técnicos (nível médio) mês 2.000,00 2 600.000,00
Responsavel técnico (Engenheiro) mês 3.500,00 1 210.000,00 2.250.000,00
CUSTO TOTAL R$ 6.567.360,75
CUSTO UNITÁRIO R$ 23,70 por m3
R$ 52,66 por t
P(60,10) P(60,10)
Estado Cidade Estado Cidade
(mm) (mm)
RS Alegrete 62 RJ Alto Itatiaia 60
Bagé 49 Bangu 68
Caxias do Sul 54 Cabo Frio 50
Cruz Alta 65 Campos 55
Encruzilhada 48 Ipanema 72
Iraí 56 Jardim Botânico 67
Passo Fundo 43 Km 47 Rod. Pr. Dutra 78
Porto Alegre 64 Niterói 64
Rio Grande 68 Nova Friburgo 60
Santa Maria 62 Petrópolis 76
Sta. Vitória do Palmar 62 Pinheiral 64
São Luiz Gonzaga 64 Praça XV 74
Uruguaiana 56 Praça Saens Pena 60
Viamão 37 Resende 70
SC Blumenau 72 Santa Cruz 57
Florianópolis 70 Teresópolis 66
São Francisco do Sul 65 Vassouras 58
PR Curitiba 68 Volta Redonda 67
Jacarezinho 52 PB João Pessoa 50
Paranaguá 70 São Gonçalo 62
Ponta Grossa 54 CE Fortaleza 54
SP Avaré 64 Guaramirangá 54
Lins 52 Quixeramobim 66
Piracicaba 58 PI Terezina 90
Santos – Itapema 140 MA Barra do Corda 70
Santos 84 São Luiz 59
São Carlos 70 Turiassu 66
São Simão 51 PA Alto Tapojós 80
ES Vitória 56 Belém 62
MG Barbacema 58 Soure 86
Belo Horizonte 62 Taperinha 76
Passa Quatro 44 AM Juaretê 82
Sete Lagoas 52 Manaus 68
BA Salvador 60 Paritins 80
SE Aracaju 66 Vaupés 80
AL Maceió 55 RO Porto Alegre 72
PE Fernando de Noronha 70 MT Cuiabá 68
Nazaré 44 GO Catalão 60
Olinda 60 Formosa 57
RN Natal 58 Goiânia 70
Tabela 3.12 – Valores de P(60,10) para 80 localidades brasileiras
(Fonte: Adaptado de Rocca et al., 1992)
4.1. Importância
É fundamental que seja dada forte ênfase às boas técnicas de operação. Isto significa, em
muitos casos, a necessidade de aumentar as habilidades gerenciais e de engenharia do
pessoal que trabalha no aterro. Boa prática de operação do aterro não é conseguida se o
pessoal qualificado em gerenciamento e engenharia estiver locado, em todo ou em parte do
tempo, em escritórios longe do aterro. Um gerente de aterro qualificado, ou ao menos um
supervisor treinado e motivado, deveria estar baseado no aterro para coordenador
diretamente as atividades diárias. Este gerente deveria receber suporte e visitas regulares
do engenheiro responsável para garantir que o aterro seja implantado e operado de acordo
com o estabelecido no projeto e no plano de disposição dos resíduos.
O plano de disposição dos resíduos (ver Capítulo 3) deve servir como base ao gerente do
aterro sobre como organizar e conduzir o aterro. De modo resumido, o plano deve prover
uma detalhada explanação do seguinte:
O período de operação é a mais longa etapa na vida útil do aterro. Durante este tempo a
intervenção de gerente técnico sênior será requerida para resolver problemas e questões
que ficam aquém das capacidades do gerente alocado no aterro sanitário. Problemas
potenciais do aterro podem ser minimizados dando-se cuidado especial a duas decisões
fundamentais:
O novo gerente pode ser um engenheiro que pode ser identificado dentro da municipalidade
ou do setor público. Um novo gerente local (residente no aterro) dever ser criado, ou quando
já existente, deve receber maior reconhecimento. Os melhores gerentes residentes são
aqueles aos quais são dados a autoridade e acessos a recursos para tomar decisões sobre
a operação no aterro, cujos julgamentos sejam aceitos pelos gerentes seniores. Os
melhores encarregados de aterro (uma espécie de mestre de obra) são muitas vezes
oriundos do setor de disposição de resíduos do município, e que foram treinados e
motivados para a nova forma de trabalhar em aterro sanitário.
Um julgamento franco deve ser feito sobre se o poder público vai operar o aterro ou se uma
empresa privada será contratada para realizar este serviço. No caso de contratação do
serviço de operação do aterro, a municipalidade continuará com a responsabilidade, e o
controle, do gerenciamento dos resíduos, mas terá a responsabilidade pela operação do dia-
a-dia do aterro. Mesmo na hipótese de contratar uma empresa privada, o município deverá
investir na no treinamento de pessoal próprio para fazer a fiscalização dos serviços.
As despesas previstas deverão ter a aceitação e aprovação dos controladores das finanças
do orçamento municipal, e isto deverá ser feito e confirmado anualmente. Somente a
disponibilidade de recursos garantirá as condições satisfatórias de operação do novo aterro
sanitário.
As instalações de apoio são estruturas auxiliares que têm por objetivo garantir o
funcionamento do aterro, dentro dos padrões estabelecidos pelas técnicas da engenharia e
do saneamento ambiental. De forma geral, essas instalações são constituídas pelos
elementos descritos a seguir.
Isolamentos
O isolamento da área é fundamental para o bom andamento dos serviços. Toda a área do
aterro deverá estar cercada, com o objeto de limitar o espaço e impedir a entrada de
animais e de catadores ao local. O tipo de cerca a ser utilizada depende do local onde está
o aterro e de condições locais específicas. Pode ser de arame farpado, ou de tela, que
No caso de Aterro Zona Norte de Porto Alegre (operado até 1999), a forma mais eficaz de
isolamento da área, foi a escavação de um canal de mais de 10 m de largura em redor de
toda a área, para evitar a entrada de catadores e animais de fazendas vizinhas. A cerca de
arame farpado, inicialmente colocada, além de, evidentemente, não evitar a entrado de
catadores, ainda era sistematicamente retirada por habitantes das vilas vizinhas, permitindo
assim a entrada dos animais (bovinos e eqüinos).
A construção de um cinturão verde, juntamente com outro tipo de cerca, também é uma
forma de isolamento.
Portaria
O controle da entrada de veículos se faz necessário para fiscalizar os resíduos que podem
ser depositados no aterro, de modo a não aceitar, por exemplo, resíduos perigosos que
possam causar danos aos operadores do aterro, ao processo de estabilização dos resíduos
no aterro, ou ao meio ambiente. Atualmente, em função do esgotamento das áreas de
disposição, muitos aterros sanitários não aceitam mais resíduos de podas ou resíduos da
construção/demolição (caliça). Este controle também é função da portaria.
Balança
A pesagem constante dos resíduos fornece ainda dados estatísticos de grande valor na
avaliação da vida útil do aterro e da variação da produção de resíduos ao longo do tempo,
servindo como base para a elaboração de futuros planos de manejo de resíduos.
Escritórios
Acessos internos
Os acessos internos visam permitir interligação entre os diversos pontos do aterro. Estes
acessos devem resistir ao trânsito de veículos mesmo em dias de chuva, por isso devem
estar sempre em perfeitas condições. Para mantê-las pode-se utilizar saibro, brita ou até
mesmo caliça.
Iluminação
Nos aterros operados em tempo integral, isto é, nos períodos diurno e noturno, é
indispensável a existência de um sistema de iluminação na portaria, acessos e,
principalmente, na frente de operação. Esta medida visa garantir condições de
operacionalidade e segurança tanto ao pessoal e aos equipamentos que trabalham no
aterro, quanto àqueles responsáveis pelo transporte de resíduos. A iluminação no interior do
aterro, junto a frente de operação, deve ser facilmente transposta para outros locais na
medida que o aterro for avançando.
Controle do acesso
O primeiro passa para controlar os resíduos que chegam ao aterro, e os tipos de resíduos
dispostos, é o controle de acesso ao sítio do aterro.
Na entrada do aterro deve haver uma portaria onde um apontador deve fazer o registro dos
detalhes de cada carga: placa de caminhão, tipo de resíduo, origem ou fonte do resíduo, a
quantidade. No caso de uso de balança a quantidade é medido pelo peso líquido de cada
descarga, em toneladas ou quilogramas; no caos de aterros sem balança, estima-se o
volume do veículo.
O controle de acesso garante que os resíduos somente serão aceitos no aterro durante o
horário de operação do aterro (ver figura 4.1). Isso garante que não descarregados resíduos
não permitidos. Durante o horário de operação deverá um porteiro e fora desses horários, u
ou dois guardas.
A disposição cuidadosa dos resíduos no aterro deve seguir o plano de disposição (discutido
anteriormente), e é um aspecto essencial para uma operação adequado do aterro sanitário.
Deve ser feita de modo a garantir que todo o resíduo seja compactado para atingir a melhor
densidade possível no enchimento do aterro. Esta compactação reduz os vazios no interior
do aterro, diminuindo a entrada de água e a conseqüente geração de lixiviados; reduz os
adensamento; e confere maior estabilidade ao aterro diminuindo o risco de colapso.
(a) (b)
Os métodos de disposição dos resíduos variam; e são função do tipo de aterro e de sua
geometria. A maneira mais usual de disposição e compactação dos resíduos em aterros é
descrita a seguir e é representada na figura 4.3.
O veículo coletor descarrega o mais próximo possível da frente de serviço (figura 4.3.a).
Neste momento o funcionário do aterro (o encostador de caminhão) tem o papel importante
de orientar o motorista e não deixá-lo efetuar a descarga em qualquer lugar. Na seqüência
um trator-de-esteiras faz o espalhamento e a compactação dos resíduos em rampa (figuras
4.3.b e 4.3.c). A rampa deve ter declividade da ordem de 3:1 (H:V), otimizando a distribuição
do peso na roda motriz (roda de tração) do trator e conferindo uma maior compactação aos
resíduos. Rampas muito íngremes, além de levarem o trator-de-esteiras a patinar, também
causam problemas de lubrificação do motor do trator. O espalhamento deve ser feito em
camadas finas, que tenham entre 30 e 50 cm de espessura. Após o espalhamento destas
finas camadas, a compactação é feita pela passagem sucessiva do trator-de-esteiras (notar
na figura 4.2.b que o trator está com a lâmina frontal erguida, e está somente compactando,
sem estar fazendo o espalhamento dos resíduos). Geralmente são feitas de 3 a 5 passadas
de trator-de-esteiras no mesmo local, sendo que a máquina deve ter peso operacional maior
ou igual 14 t. Após a compactação dos resíduos faze-se a cobertura diária ou periódica dos
mesmos com uma camada de solo (figura 4.3.d.). Esta cobertura é feita colocando-se o solo
3
1
(a)
(b)
(c)
(d)
Para a definição da largura da frente de serviço utiliza-se o critério de que a forma de célula
que implica na utilização de menor volume para cobertura diária é a célula quadrada. Assim,
tomando-se uma célula com a da figura 4.4, que tem altura h, largura da frente de serviço b,
e avanço diário da célula l; e sabendo-se a quantidade diária de resíduos dispostos, calcula-
se o volume da célula diária:
M rs
Vc = (4.1)
d rsc
b
h 1
3
Vc
Ac = (4.2)
h
Vc
l=b= Ac = (4.3)
h
Densidade (t/m )
3
0,9
0,6
0,3
2 4 6 8 10
Número de passadas
Cobertura
Como comentado anteriormente é prática comum cobrir os resíduos com solos regularmente
(às vezes diariamente, ou com periodicidade maior em pequenos aterros), com uma camada
de 15 a 20 cm de espessura. Em locais com escassez de material de cobertura,
inevitavelmente uma camada mais fina de cobertura será utilizada, com uma periodicidade
maior. O espalhamento e compactação da cobertura diária são feitos normalmente com o
mesmo trator-de-esteira usado na compactação dos resíduos ou equipamento similar. Em
aterros menores pode-se utilizar retro-escavadeira ou até mesmo cobertura manual.
A cobertura pode ser feita com solos ou entulhos resultantes da construção civil, que são
armazenados em área específica do aterro para uso posterior; ou com solo escavado no
próprio local do aterro ou de áreas próximas. Jazidas fora da área do aterro, além de
implicarem em maiores custos de transporte (e de aquisição do material), devem elas
também ser alvo de licenciamento ambiental. Na figura 4.6 mostra-se detalhe de cobertura
de um aterro sanitário com a retirada do solo no próprio aterro.
Alternativamente, a frente de serviço (rampa) pode ser coberta, a cada fim de jornada de
Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)
Capítulo 4: Operação do Aterro Sanitário 80
trabalho, por mantas geossintéticas leves que são removidas na manhã seguinte, na
retomada da disposição dos resíduos. Em aterro de grande porte, que operam nas 24 horas
do dia, parando somente nos domingos, a rampa, como está sempre em serviço, não
recebe cobertura diária (mas somente no final do expediente de sábado); sendo a cobertura
intermediária feita somente na parte superior da célula.
Na figura 4.8 mostra-se um aterro sanitário já com os taludes na forma do greide final do
aterro, já com a camada de argila final e a colocação da cobertura vegetal de gramíneas
para controle da erosão. Na parte superior da figura, nota-se a frente de serviço ou de
operação do aterro sanitário.
A rede de drenagem de lixiviados da base do aterro, bem como o início da construção dos
drenos verticais de gases, deverá feita juntamente com a implantação do aterro. Como já
referenciado anteriormente, estes dois sistemas devem interligados, como mostrado na
figura 4.8.
Os drenos verticais de gás vão sendo construídos a medida que o aterro vai avançando e
subindo. Quando são usados canos perfuras de concreto para servir de guia para a
Dreno secundário
de lixiviado
Dreno vertical de gás
Dreno de lixiviado na
base do aterro
a. Sistema de isolamento
A inspeção no sistema de isolamento tem por objetivo detectar problemas no cercamento da
área, manutenção dos portões, verificação da ocorrência de pragas ou moléstias nas mudas
da barreira vegetal. Deve ter a sua freqüência de inspeção realizada semanalmente,
c. Sistema viário
O plano de inspeção e manutenção do sistema viário visa detectar a ocorrência de erosão,
buracos e empoçamento dos acessos. Sua freqüência deve ser diária. Deve-se tomar como
providências a execução de reparos, reaterramento com material especificado e
compactação do leito dos acessos permanentes, esgotamento de poças, capina e
desobstrução das canaletas de drenagem pluvial.
e. Sistema de monitoramento
Servirá para a detecção de danos ou mau funcionamento. Sua freqüência deverá ser
semanal. As providências a serem tomadas são reparos das caixas de alvenaria e proteções
sanitárias, substituição das tampas dos poços, desobstrução de entupimentos.
Deverá ser elaborado um Plano de Emergência para lidar com acidentes, imprevistos e
outras questões emergenciais que venham a ocorrer no aterro. Os coordenadores de
emergência – que deverão estar devidamente identificados – deverão receber treinamentos
específicos para cada uma das situações expostas neste plano. Em caso de sinistro
deverão adotar assim as medidas observadas nestes treinamentos, liderando o combate a
situação gerada.
Coordenadores de emergência
Com o objetivo de ter-se sempre pelo menos uma pessoa como coordenador do plano de
emergência no local, sugere-se-se constituir três coordenadores de emergência durante o
período diurno e um no período noturno (quando houver) atuando em ordem hierárquica
dentro do aterro. Para a ocupação deste cargo sugere-se o engenheiro responsável técnico,
o chefe do aterro e o encarregado geral.
nome;
especialização;
telefones de contato;
endereços para ser localizado.
corpo de bombeiros;
polícia militar;
pronto socorro ou hospital mais próximo;
secretaria municipal de meio ambiente;
órgão estadual de controle ambiental;
demais secretarias da prefeitura municipal.
Procedimentos de emergência
incêndios;
explosões;
vazamentos de lixiviados;
vazamentos de gases;
ruptura ou rompimento de taludes;
tombamento e colisão de veículos ou equipamentos;
Para cada uma destas situações o plano de emergência deverá descrever os procedimentos
que orientam as atitudes que devem ser tomadas em curto prazo para minimizar os
impactos e retomar o controle da obra.
5. TRATAMENTO DE LIXIVIADOS
5.1. Importância
Para uma descrição detalhada dos resultados dos projetos de pesquisa do Edital 4 do
PROSAB, ver Castilhos Jr. (2006).
A composição do lixiviado varia de aterro para aterro e até mesmo dentro de um mesmo
aterro com o tempo. Na tabela 5.1 pode-se observar grandes variações nos resultados das
análises do lixiviado proveniente de diferentes aterros. As razões estão relacionadas às
características da população geradora dos resíduos (nível e características de vida sócio-
econômico-culturais), topografia e geologia do local do tratamento e/ou destino final dos
resíduos, formas de coleta dos resíduos, e ainda, às características hidrológicas e climáticas
da região.
A evolução do processo biológicos que ocorrem no interior do aterro, bem como sua idade e
a composição dos resíduos dispostos, influenciam nas características do lixiviado. Gandolla
et al. (1995) apresentam os principais parâmetros utilizados na caracterização do lixiviado,
descritos a seguir e que podem ser visualizados na figura 5.1:
Resulta assim que o tratamento do lixiviado não deve ser abordado de uma maneira isolada,
e sim fazendo parte de uma proposta de gerenciamento amplo do aterro sanitário – como
uma das suas partes principais – onde, em função do rigor que se deseja no controle deste
efluente, da estação de tratamento em si, dos limites de emissão e dos custos de
implantação e operação, poderão ser previstos dispositivos à retenção em bacias de
detenção/equalização e recirculação de lixiviado para as células do aterro. Outro fator
importante é que o sistema de tratamento deverá continuar funcionando por vários anos
após o fechamento do aterro.
Tratamento biológico
Alguns dos processos de tratamento que mais têm sido aplicados ao tratamento de
lixiviados são:
lodos ativados;
lagoas de estabilização;
lagoas aeradas;
contatores biológicos rotatórios (bio-discos);
digestão anaeróbia.
Lodos ativados
Tabela 5.2 – Resultados do tratamento, em escala real, de lixiviado por lodos ativados
(Fonte: Reichert, 1999)
Lagoas de Estabilização
Lagoas aeradas
As lagoas aeradas são semelhantes às lagoas de estabilização, com a diferença de que são
providas de equipamentos de aeração mecânica, cuja principal finalidade é introduzir
oxigênio na massa líquida. Sua profundidade varia de 3 a 5 m. O sistema funciona como um
tanque de aeração, no qual a aeração artificial substitui a oxigenação natural através das
algas. A área requerida por este sistema é menor do que a requerida pelas lagoas de
estabilização, devido a sua maior profundidade e ao menor tempo de detenção necessário
para a estabilização da matéria orgânica.
Digestão anaeróbia
Boyle e Ham (1974) estudaram processos anaeróbios para tratamento de lixiviados. Usaram
reatores anaeróbios em escala de bancada em três fases distintas; na primeira fase foi
verificada a aplicabilidade do processo anaeróbio; na segunda fase, verificaram o efeito da
carga de orgânicos e do tempo de detenção na eficiência do processo e na terceira foram
avaliados os efeitos do controle de temperatura.
Na primeira fase, usando um lixiviado com DBO de 8.400 mg/L, relação DBO/DQO de 0,79
e tempo de detenção de 10 dias, os autores obtiveram uma redução média de 94 % da DQO
e de 98 % de DBO, confirmando a eficiência do processo anaeróbio no tratamento de
lixiviados.
Variando a carga de DQO aplicada de 0,432 a 2,16 kg/m3.d e o tempo de detenção de 5 até
20 dias, com uma relação DBO/DQO de 0,82 e mantendo a temperatura entre 21 e 23 °C,
os autores concluíram que existe uma correlação entre o tempo de detenção hidráulica e a
performance do processo; o mesmo não ocorrendo para carga orgânica e performance,
dentro das variações de carga testadas.
Os resultados de outra etapa do estudo mostram que dentro dos valores de tempo de
detenção estudados (12,5 e 20 dias) não foram observadas diferenças nas performances
para 23 °C, ficando a eficiência de remoção de DQO e DBO em 87 e 97 %,
respectivamente. Já, para temperaturas inferiores de 15 e 10 °C, e mantendo o tempo de
detenção em 12,5 dias, a eficiência da remoção de DBO caiu para 84 e 26 %,
respetivamente. Os resultados mostram ainda que a remoção da DBO é um pouco mais
sensível a temperatura do que a remoção da DQO.
De acordo com os autores este tipo de tratamento é viável como pré-tratamento, devendo
haver um tratamento em seqüência para obtenção de um efluente em condições de
lançamento no meio ambiente.
Tratamento físico-químico
Qasin e Chiang (1994) apresentam uma compilação dos principais tratamentos físico-
químicos utilizados, a nível internacional, com sucesso no tratamento de lixiviados. Estes
resultados são apresentados nas tabelas 5.2 e 5.3.
Remoçã
DQO afluente
DBO/DQO DQO/COT Sistema de tratamento o DQO Dosagem
(mg/L)
(%)
330 0,07 2,57 Cloração 33 65 ml/l de amostra
Cloração com cálcio
1.500 0,75 – 8 8.000 mg/L
Ca(ClO)3 hipoclorídrico
7.162 0,75 – Ozonização 37 4 h, 7.700 mg O3/L.h
4.800 0,66 2,73 Cloração 22 2.000 mg Cl2/L
139 0,04 2,10 Ozonização 22 4 h, 34 mg O3/L.h
Ozonização de elfuente de
1.250 – 2,90 37 3 h, 600 mg O3/L.h
filtro anaeróbio
Ozonização de efluente de
627 – 2,50 48 3 h, 400 mg O3/L.h
lagoa aerada
Como resultado, processos físico-químicos são normalmente usados somente para o pré-
tratamento ou polimento de lixiviado para complementar tecnologias de degradação
biológica. Assim, eles são especialmente úteis para tratamento de lixiviado de aterros velhos
e para a eliminação de poluentes perigosos específicos em determinados sítios.
Processos alternativas
Evaporação
Quando a quantidade de lixiviado gerado é pequena podem ser usados métodos que
produzem potencial de descarga zero. Um destes métodos é a evaporação. A evaporação
natural ou solar requer grandes áreas e depende fundamentalmente das condições
climáticas, como: temperatura, velocidade do vento, e umidade. Segundo Qasin e Chiang
(1994) o tamanho de áreas para leito de evaporação pode ser reduzido usando a
recirculação do lixiviado para o interior do aterro nas épocas de condições climáticas
adversas. Neste caso, a recirculação funcionaria como armazenamento temporário do
lixiviado no corpo de aterro. A evaporação de lixiviado é factível usando como fonte de
energia a combustão do biogás do próprio aterro.
Aplicação no solo
Outra alternativa de tratamento de lixiviados são as terras úmidas ou banhados (na língua
inglesa denominados de wetlands), que são áreas de terra inundadas com profundidades
não maiores que 0,6 m e que suportam o crescimento de plantas aquáticas. Esta vegetação
serve como suporte de filmes de bactérias, ajuda na filtração e adsorsão dos constituintes
do lixiviado, transfere oxigênio para a água, e controla o desenvolvimento de algas pela
restrição à entrada da luz solar. Esta tecnologia é considerada, principalmente, para
polimento de lixiviado pré-tratado.
Boyle e Ham (1974) demostraram que um lixiviado com DQO de 10.000 mg/L pode ser
tratado com 5 % em volume sem alterar a qualidade do efluente final. Henry (1985) sugere
que, quando possível, a adição de lixiviado a ETEs deveria ser o método de disposição
preferido. Segundo o autor, estudos demonstraram que lixiviados altamente concentrados
(DQO de 24.000 mg/L), quando combinados até 2 % em volume com águas residuárias
municipais, não causaram alterações significativas na performance das estações de
tratamento.
A literatura apresenta vários aterros reais que utilizam o sistema combinado para tratamento
de lixiviados (segundo Reichert, 1999): o aterro Fresh Kills, da cidade de Nova Iorque; o
aterro Tohbu Fushitani, de Fukuoka, Japão; o aterro Bandeirantes, de São Paulo; o aterro
da Extrema, de Porto Alegre; sendo também prática comum na Suécia.
Recirculação
Matéria Orgânica
Poluen
Jovem Médio Velho Nitrogê tes Sólido
Processo de Tratamento Metais Ácidos
<5 5 – 10 > 12 nio Prioritá s
anos anos anos rios
Físico
Evaporação natural Bom Bom Bom Bom Bom Bom Bom Bom
Flotação NA NA NA Regular Regular NA Regular Bom
Bolhas de ar NA NA NA NA Bom Bom Regular NA
Filtração NA NA NA Bom NA NA Na Bom
Membranas Bom Bom Bom Bom Regular Bom Bom Bom
Químico
Coagulação/floculação Ruim Regular Ruim Bom NA Regular NA Bom
Oxidação química Ruim Regular Regular NA Regular NA Bom NA
Troca iônica Ruim Regular Regular Bom NA Regular NA Bom
Carvão ativado Ruim Regular Bom NA Bom NA Bom NA
Biológico
Crescimento aeróbio suspenso Bom Regular Ruim Bom Bom Regular Regular Regular
Aeróbio de leito fixo Bom Regular Ruim Bom Bom Regular Regular Regular
Crescimento anaeróbio
Bom Regular Ruim Bom Bom Regular Regular Regular
suspenso
Anaeróbio de leito fixo Bom Regular Ruim Bom Bom Regular Regular Regular
NA: não aplicável
Tabela 5.3 – Comparação da performance dos vários processos de tratamento de lixiviado
(Fonte: Reichert, 1999)
Como visto no item anterior deste capítulo há vários processos e sistemas que podem ser
utilizados para tratamento de lixiviados, e a escolha do processo, ou dos processos em
seqüência não é uma tarefa fácil.
Fleck (2003), em um estudo piloto com lixiviado real, concluiu que a eficiência de remoção
de DBO para filtro anaeróbio é função do tempo de detenção hidráulica. Os estudos feitos
pelo autor mostram uma redução de 50 e 70 %da DBO para tempos de detenção de 10 e 20
dias, respectivamente.
Fernandes et al. (2006) apontam valores muito semelhantes que os encontrados por Fleck
(2003) para lixiviados novos; já para lixiviados de aterros velhos, as eficiências foram da
ordem 10 e 30 % respectivamente para 10 e 20 dias de detenção, com cerca de 50 % de
redução da BDO para 30 dias.
Importante colocar que estes resultados são preliminares e devem ser usados com extremo
cuidado e restrição para fins de dimensionamento. Sugere-se que uma eficiência média de
50 % de redução de DBO possa ser utilizada para dimensionamento, sendo que os tempos
de detenção hidráulica devem ser elevados, na ordem de 10 a 20 dias, no mínimo. Esses
tempos elevados implicam em volumes maiores de filtro.
V = Q×t (5.1)
No aterro sanitário da Extrema, em Porto Alegre, foi construído um filtro anaeróbio na base
do aterro, no patamar de cotas mais baixas. O filtro tem 40 cm de altura e cerca de um
hectare de área, e um tempo de detenção hidráulica de 30 dias. As eficiências de remoção
de BDO são da faixa de 70 a 80 % (Reichert e Cotrim, 2000a; e Reichert e Cotrim, 2000b).
Este tipo de solução de construção do filtro parece ser uma solução interessante,
principalmente quando não se dispõe de grandes áreas para o sistema de tratamento.
No filtro biológico aeróbio o lixiviado passa por um meio poroso normalmente constituído por
brita 3, onde na presença de ar atmosférico o líquido entra em contato com as bactérias
aderidas ao meio suporte (brita).
1
E= (5.1)
w
1 + 0,443 ⋅
V
Lagos de maturação
A lagoa anaeróbia tem menor volume e maior profundidade. Sua eficiência na remoção de
DBO é de 40% a 50%. A DBO remanescente é removida na lagoa facultativa.
Q xS0
L= (5.1)
1000
L
V = (5.2)
Lv
V
t= (5.3)
Q
V
A= (5.4)
h
As dimensões adotadas são tais que a lagoa tenha relação comprimento/largura de 1:1
(quadrada) ou 2:1 (retangular). Assim, conhecida a área e definida a relação de dimensões,
calcula-se a largura e o comprimento da lagoa anaeróbia.
S0 − S
E= x100 (3.5)
S0
A lagoa facultativa tem pouca profundidade e grande área. A DBO solúvel é particulada e
estabilizada aerobiamente por bactérias dispersas no meio liquido e a DBO suspensa tende
a sedimentar, sendo estabilizada anaerobiamente por bactérias no fundo da lagoa. O
oxigênio requerido pelas bactérias aeróbias é fornecido pelas algas, através da fotossíntese.
A seguir temos a seqüência de cálculo do dimensionamento da lagoa facultativa.
QxS 0
L= (3.6)
1000
Valores de Ls:
Regiões de inverno quente e elevada insolação: Ls = 240 a 350 kg DBO/ha.d
Regiões de inverno e insolação moderados: Ls = 120 a 240 kg DBO/ha.d
Regiões com inverno frio e baixa insolação: Ls = 100 a 180 kg DBO/ha.d
L
A= (3.7)
Ls
V = A⋅h (3.8)
S0
Se = (3.9)
(1 + k .t )
(S 0 − S e )
E= (3.10)
S0
Com o objetivo de dar maior segurança ao sistema de tratamento de lixiviados, podem ser
adotadas uma ou mais lagoas de maturação em série, que tem por objetivo remover os
nutrientes e complementar a remoção da carga orgânica.
Esta lagoa de maturação para tratamento de lixiviados pode ser dimensionada como lagoa
facultativa, porem com uma taxa de aplicação superficial na ordem 100 kg.DBO/ha.d.
6. MONITORAMENTO
O ponto de lançamento final do efluente tratado deverá ser monitorado para avaliação do
efluente final que será lançado no corpo hídrico. Estes resultados de análises deste ponto
deverão ser periodicamente enviados ao órgão de controle ambiental, para fins de
comparação com os limites máximos de emissão de efluentes líquidos de acordo com a
legislação de emissão de efluentes líquidos vigente.
As águas superficiais deverão ser coletadas em dois pontos: ambos próximos ao local de
lançamento dos efluentes líquidos tratados, sendo um à jusante do lançamento e outro à
montante.
Na tabela 6.1 é apresentado uma proposta de periodicidade de coleta e análise, bem como
dos parâmetros a serem analisados para as águas superficiais, águas subterrâneas ou
subsuperficiais, lixiviados nas unidades de tratamento, e lixiviado no ponto de emissão final
pós-tratamento. Estes parâmetros e periodicidades são sugestivos, devendo a definição final
ser feita conjuntamente com projetista, empreendedor e órgão de controle ambiental, tendo
como base o porte do aterro e o grau de fragilidade da área de implantação do mesmo.
Valores naturais ou “brancos” devem ser estabelecidos para todos os parâmetros de águas
(superficiais e subsuperficiais). Estes valores devem preferencialmente ser definidos antes
do início da operação do aterro. Por uma questão de representatividade estatística, o valor
natural deve ser estabelecido a partir de pelos menos quatro amostragens realizadas em
intervalos de três meses (ou seja, um ano antes do início da operação).
O poço deverá ser perfurado com um diâmetro de 8" e com uma profundidade a ser
estabelecida pelo nível de água encontrado, devendo abranger toda a coluna de material
saturado e, se muito profunda, devendo estender-se até 2 metros abaixo do topo do nível de
água.
Todos os furos deverão ser revestidos com tubos de PVC rígido ou tubos geomecânicos de
diâmetro de 4" para a introdução de amostrador. O filtro do piezômetro será constituído por
PVC rígido e ranhurado com a finalidade de permitir a entrada das águas freáticas dentro do
poço. O comprimento da parte ranhurada do filtro deverá ser de no mínimo 50% da
extensão da zona saturada, porém não podendo ser inferior a 50 cm. As ranhuras do tubo
deverão ser de 2 a 3 cm vazadas e espaçadas em 1 cm. Os seus comprimentos deverão ser
um pouco menores do que a metade da circunferência da seção transversal do tubo.
A parte externa do filtro deverá ser envolvida por uma manta sintética de geotêxtil (OP-40)
em toda a parte ranhurada, cujo objetivo é evitar a interferência dos sólidos finos carreados
pelo sub-solo nas análises. A ponta final do piezômetro deverá ser vedada com um tampão
Com o objetivo de constituir um selo cuja finalidade impedir a infiltração de águas, será
colocado material argiloso (de preferência argila bentonítica) no espaço anular e com o solo
da perfuração. A fim de evitar a infiltração de águas superficiais no furo e melhorar as
condições de fixação do tubo, deverá ser efetuada uma proteção nos 50 cm finais do tubo
com argamassa de cimento e areia preenchendo o restante do espaço anular. Na superfície
deverá ser confeccionado um piso de cimento com 5 cm de espessura e 30 cm de largura.
Na extremidade superior do tubo será colocado um tampão removível e rosqueado com um
orifício em sua lateral, efetuando assim um respiro e, conseqüentemente evitando
diferenças de pressão e deslocamento do tubo.
O piezômetro deverá ser protegido por uma caixa de alvenaria com tampa e trancada,
permitindo o acesso somente de pessoas autorizadas. Após construído o piezômetro, deve-
se fazer o preparo para o monitoramento. Tal preparo consiste em esgotar o poço tantas
vezes quanto for necessário até obter-se água com turbidez menor ou igual a 5 N.T.U..
Estes recalques causam tanto movimentos verticais quanto horizontais do aterro, ou seja,
como se costuma dizer, “o aterro caminha”. Estas movimentações podem ser claramente
visualizadas na figura 3.24.
Placas de recalque
As placas de recalque são dispositivos instalados no interior do aterro, entre camadas, que
permitem o acompanhamento dos recalques por adensamento do aterro. Estes dispositivos
Marcos de superfície
7. ENCERRAMENTO E PÓS-FECHAMENTO
A vida útil do aterro sanitário chega ao fim quando é alcançado o volume previsto de
resíduos a serem dispostos no local; ou, em outras palavras, quando o último caminhão
coletor efetuar a sua última descarga. Com isto o aterro terá a sua operação diária
encerrada, mas ainda necessitará de cuidados posteriores. Os cuidados de encerramento e
pós-fechamento (uma espécie de “aposentadoria ou seguro de terceira idade”) devem
considerar que um aterro pode gerar efluentes com potencial impacto ambiental por um
período de 20 a 50 anos, ou mais.
O plano de encerramento deve ser parte constituinte do projeto executivo do aterro. Quando
as atividades de operação do aterro chegam o ponto onde as primeiras etapas ou áreas
atingem suas cotas ou alturas finais, será apropriado ao operador ou gerente do aterro
considerar o seguinte:
Neste ponto, o plano de encerramento e uso futuro deverá ser revisto com especial
consideração sobre os recursos e os custos implicados. Neste mesmo momento, estarão
sendo tomadas simultaneamente as medidas para a preparação do próximo aterro sanitário,
que irá competir com o sítio atual por recursos e dinheiro. Isto leva naturalmente a uma
segunda questão fundamental:
A camada superior deve ser suficiente flexível para se acomodar aos deslocamentos
verticais e horizontais que fatalmente ocorrerão no aterro. Quando os taludes de drenagem
são suaves, a adoção de largos canais revestidos em grama será adequada. Em
declividades mais acentuadas, com risco de erosão, pode ser necessária a adoção de
drenagem em espinha-de-peixe. Deve-se evitar o uso de tubulação de concreto para a
drenagem pluvial dos taludes uma vez que eles podem levar a arraste de material de
cobertura adjacente em caso de recalques diferenciais. Estruturas de dissipação de energia
(como as escadas) podem ser utilizadas; assim como o revestimento com gabiões (tela +
brita) que têm alta rugosidade e diminuem a velocidade de escoamento.
De acordo com (Rushbrook e Pugh, 1999) os usos futuros dos aterros sanitários podem ser
divididos em três categorias gerais: espaços abertos e de recreação; agricultura; e
desenvolvimento urbano.
Esta é sem dúvidas de longe a que parece ser a forma mais indicada de uso futuro de sítios
de aterros sanitários. Os tipos de usos podem ser para a prática de esportes locais (como
campos de futebol), ao passo que parques e espaços mais abertos poderão ser de interesse
de um número maior de pessoas, e uma área verde, com trabalho paisagístico de
implantação de gramados, arbustos e árvores, pode trazer benefícios para a comunidade.
Adicionalmente, este tipo de uso não implica na construção de grandes estruturas no local,
apenas pequenas e leves construções, como prédios administrativos e sanitários públicos.
Estas pequenas construções devem ser, no entanto, construídas de modo a evitar o
acumulo e biogás na base ou no interior das mesmas e devem resistir aos recalques
diferenciais.
Agricultura
Aterros concluídos podem ser utilizados para pastagens ou plantações (de grãos, frutíferas,
Desenvolvimento urbano
O uso de aterros sanitários encerrados como locais para construção, e particularmente para
o desenvolvimento urbano, de maneira geral deveria ser desencorajado devido às muitas e
severas restrições. Estas incluem provável movimento de gases, corrosão do concreto,
baixa capacidade de carga, e recalques diferencias associados à construção e utilização
das estruturas implantadas sobre o aterro. Em nossas cidades, devido à pressão imobiliária,
e à proximidade de aterros antigos (muitos deles que foram disposição a céu aberto) dos
centros urbanos, muitos desses locais foram utilizados para implantação de prédios
comerciais ou mesmo prédios de apartamentos, como foi o caso em Porto Alegre no final da
década de 1980 (Trindade e Figueiredo, 1982). Quando se construir habitações ou outras
estruturas em um aterro encerrado, o único recurso será adotar medidas extremas de
precaução para amenizar ou eliminar os efeitos nocivos acima citados.
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