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Manual

Projeto, Operação e Monitoramento


de Aterros Sanitários

Geraldo Antônio Reichert


gareichert@cpovo.net

2007
i

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 1
1.1 Objetivos deste manual .................................................................................................... 1
1.2 Problemas da disposição inadequada ............................................................................... 2
1.3 Vantagens da disposição adequada .................................................................................. 3
1.4 Classificação dos resíduos sólidos ................................................................................... 3
1.5 Caracterização dos resíduos sólidos................................................................................. 5
1.6 Considerações sobre a legislação ..................................................................................... 6
2. CRITÉRIOS LOCACIONAIS ................................................................................................ 9
2.1. Importância e objetivos .............................................................................................. 9
2.2. Decisões fundamentais ............................................................................................... 9
2.3. Estimativa futura da geração de resíduos e volume do aterro.................................. 10
2.4. Os critérios de seleção das áreas .............................................................................. 11
2.4.1. Seleção preliminar das áreas disponíveis ............................................................... 12
2.4.2. Estudos necessários ................................................................................................ 12
2.4.3. Critérios de seleção ................................................................................................ 13
2.4.4. Priorização dos critérios de seleção ....................................................................... 15
2.4.5. Seleção da melhor área........................................................................................... 16
2.5. Para não esquecer /dicas importantes....................................................................... 18
2.6. Exercícios ................................................................................................................. 18
2.6.1. Cálculo de volume necessário do aterro sanitário .................................................. 18
2.6.2. Escolha de área para novo aterro sanitário............................................................. 19
APÊNDICE 2.A – Fluxograma de resolução das decisões fundamentais .............................. 21
APÊNDICE 2.B – Fluxograma seqüência de identificação da melhor área ........................... 22
3. PROJETO E IMPLANTAÇÃO DO ATERRO SANITÁRIO .............................................. 23
3.1. Introdução................................................................................................................. 23
3.2. Decisões fundamentais ............................................................................................. 23
3.3. Definição de aterro sanitário e de outros termos...................................................... 25
3.4. Métodos de aterros ................................................................................................... 27
3.5. O ecossistema aterro sanitário.................................................................................. 28
3.5.1. Degradação anaeróbia de compostos orgânicos..................................................... 28
3.5.2. Microbiologia da degradação anaeróbia ................................................................ 30
3.6. Partes constituintes do projeto de engenharia .......................................................... 32
3.6.1. Memorial descritivo ............................................................................................... 33
3.6.2. Memorial técnico.................................................................................................... 33
3.6.3. Cronograma de execução e estimativa de custos ................................................... 33
3.6.4. Desenhos ou plantas ............................................................................................... 34
3.6.5. Anexos ao projeto executivo .................................................................................. 34
3.7. Principais elementos de projeto................................................................................ 34
3.7.1. Sistema de drenagem superficial (pluvial) ............................................................. 34
3.7.2. Sistema de impermeabilização ............................................................................... 37
3.7.3. Sistema de drenagem de lixiviados ........................................................................ 46
3.7.4. Sistema de drenagem de gases ............................................................................... 53
3.7.5. Plano de disposição de resíduos ............................................................................. 59
3.7.6. Análise de estabilidade........................................................................................... 62
3.8. Biogás de aterros sanitário e os créditos de carbono................................................ 65
3.9. Para não esquecer /dicas importantes....................................................................... 67
3.10. Exercício de cálculo de aterro sanitário ............................................................... 68

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ii

APÊNDICE 3.A – Considerações sobre os custos.................................................................. 69


APÊNDICE 3.B – Valores de P(60,10) para 80 localidades brasileiras ..................................... 70
4. OPERAÇÃO DO ATERRO SANITÁRIO ........................................................................... 71
4.1. Importância............................................................................................................... 71
4.2. Decisões fundamentais ............................................................................................. 71
4.3. Instalações de apoio ................................................................................................. 72
4.4. Controle das operações............................................................................................. 74
4.5. Plano de emergência................................................................................................. 83
4.6. Para não esquecer /dicas importantes....................................................................... 84
4.7. Para discutir.............................................................................................................. 85
5. TRATAMENTO DE LIXIVIADOS..................................................................................... 86
5.1. Importância............................................................................................................... 86
5.2. Características do lixiviado ...................................................................................... 86
5.3. Processos de tratamento ........................................................................................... 89
5.4. Adequação e aplicabilidade dos diferentes métodos................................................ 94
5.5. Proposta de dimensionamento.................................................................................. 95
5.6. Para não esquecer /dica importante.......................................................................... 99
5.7. Exercício dimensionamento sistema de tratamento ................................................. 99
6. MONITORAMENTO ......................................................................................................... 100
6.1. Importância e objetivos .......................................................................................... 100
6.2. Monitoramento dos líquidos (lixiviado, águas superficiais e subsuperficiais) ...... 101
6.3. Descrição do piezômetro e métodos construtivos .................................................. 102
6.4. Monitoramento de biogás....................................................................................... 103
6.5. Monitoramento geotécnico..................................................................................... 103
6.6. Para não esquecer /dicas importantes..................................................................... 104
7. ENCERRAMENTO E PÓS-FECHAMENTO.................................................................... 105
7.1. Importância e objetivos .......................................................................................... 105
7.2. Decisões fundamentais ........................................................................................... 105
7.3. Princípios gerais ..................................................................................................... 106
7.4. Camada de cobertura final...................................................................................... 106
7.5. Usos futuros............................................................................................................ 106
7.6. Cuidados pós-fechamento ...................................................................................... 108
7.7. Encerramento do aterro .......................................................................................... 108
7.8. Para discutir............................................................................................................ 109
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 110

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Capítulo 1: Introdução 1

1. INTRODUÇÃO

1.1 Objetivos deste manual

Um sistema de gerenciamento de resíduos sólidos é composto pelos seguintes elementos


funcionais: geração, manejo a armazenamento, coleta, transporte, tratamento e destinação
final. Os aterro sanitário dentro deste sistema se enquadram ao mesmo tempo como
tratamento e destino final. Além disso, o tratamento e a disposição dos resíduos no solo é
um componente inevitável de qualquer sistema de gerenciamento de resíduos sólidos.
Mesmo em sistemas mais complexos de gerenciamento de resíduos, que contenham
unidades de compostagem, processos de reciclagem ou até mesmo sistema de incineração,
sempre haverá a necessidade de disposição final de uma fração residual, o rejeito, da
massa de resíduos originalmente gerados.

A adequada disposição final dos resíduos urbanos gerados continua sendo um grande
desafio dos gestores municipais pelo mundo, e em especial no Brasil. Muitas vezes a falta
de uma adequada disposição final dos resíduos sólidos é apenas mais uma das muitas
deficiências que devem ser superadas no campo do gerenciamento dos resíduos sólidos,
como o inadequado armazenamento dos resíduos nos domicílios; ineficiência da cobertura e
dos serviços de coleta; problemas de manutenção dos veículos coletores; falta de
programas de reciclagem e de diminuição da geração na origem; falta de profissionalização
técnica e gerencial dos órgãos responsáveis pelo manejo dos resíduos; política de
recuperação dos custos por meio de taxa e tarifas precária ou inexistente; uso inadequado e
gerenciamento inapropriado de contratos públicos; e incapacidade de estabelecer
planejamento estratégico de médio e longo prazo para o setor de resíduos sólidos.

Entre as questões-chave para melhorar os sistemas de gerenciamento de resíduos pode-se


citar a busca da universalização da coleta (atender a 100 % dos domicílios); melhoria dos
aspectos técnicos, de recursos e de administração para obter maior eficiência e economia;
melhorar a cobrança pelos serviços prestados; adequar os padrões de disposição final de
resíduos sólidos no solo, fazendo com que os aterros sanitários durem mais, operem com
maior segurança, e reduzindo os problemas existentes no sítio de operação.

Todos os aspectos citados no parágrafo anterior são cruciais para implantar um sistema de
gerenciamento de resíduos urbanos que garanta a proteção á saúde pública e do meio
ambiente. Entretanto, o objetivo central deste Manual é apresentar respostas à última
questão-chave acima, que invariavelmente envolverá aspectos ambientais, de saúde
pública, administrativos, técnicos, e econômicos.

No Brasil, atualmente ainda cerca de 50 % dos resíduos sólidos urbanos são dispostos de
forma inadequada, o que corresponde a quase 80 % do número de municípios brasileiros
(IBGE, 2002). Paradoxalmente a legislação ambiental e as normas técnicas brasileiras são
muito avançadas e com padrões de exigência e qualidade similares às de países
desenvolvidos ou ricos. Isto coloca os gestores frente a um dilema: a necessidade urgente
de melhorar a forma de disposição final, adotando melhorias gradativas; e a necessidade de
adequação imediata ao que estabelece a lei.

No gerenciamento resíduos sólidos urbanos não há soluções milagrosas, e as melhorias


devem ser feitas passo-a-passo, dentro da realidade econômica, social e política de cada
comunidade. Assim, neste Manual apresenta-se as modernas técnicas e tecnologias de
projeto, implantação e operação de aterros sanitários. A grande maioria delas são utilizadas
em aterros de segurança nos países desenvolvidos. Entretanto, dadas as condições
econômicas peculiares da grande maioria dos municípios brasileiros (no Brasil, segundo a
Constituição Federal de 1988, o município é o responsável pela gestão dos resíduos

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Capítulo 1: Introdução 2
urbanos) também se aborda técnicas que podem ser adaptadas às realidades locais e de
implantação de aterros mais simples, mas que ainda atendam ao objetivo maior de proteção
ambiental e da saúde.

O Manual destina-se a engenheiros, técnicos e gestores envolvidos com implantação e


operação ou o gerenciamento e fiscalização de aterros sanitários.

O sucesso na implementação de um novo aterro sanitário, assim como de qualquer sistema


integrado de gerenciamento de resíduos sólidos municipais, depende fundamentalmente de
cinco aspectos crucias, como apresentado na figura 1.1 a seguir.

Vontade e decisão política


(querer fazer)

Conhecimento técnico
(saber como fazer)

Pessoal qualificado e motivado


(poder fazer, avaliar e refazer)

Recursos financeiros
(ter como poder fazer)

Participação popular ou social


(ter o aval da comunidade)

Figura 1.1 – Receita para o sucesso de um projeto

1.2 Problemas da disposição inadequada

A falta de tratamento e disposição final adequada de resíduos sólidos resultam resultam


numa série de problemas ambientais, sociais e de saúde pública, tais como:

 problemas ambientais:
 poluição do solo, da água e do ar;
 incêndios;
 poluição visual.
 problemas sociais e econômicos:
 existência de catadores;
 desvalorização do uso do solo local e vizinho.
 problemas de saúde pública:
 contaminação direta dos catadores;
 contaminação por vias indiretas.

Na figura 1.2 mostra-se as principais rotas de contaminação humana por vias diretas e
indiretas, através da poluição do solo e alimentos, água e ar que a disposição inadequada
ao longo de vias, córregos ou rios, banhados, mangues ou áreas baixas, e encostos de
morros pode causar.

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Capítulo 1: Introdução 3

Cadeia alimentar

Animais

Emissões gasosas

Poluição visual

Substâncias tóxicas
Hidrocarbonetos Odores
Metais pesados
Subst. orgânicas Cadeia
Plantas alimentar

Bactérias Água de beber


Contaminação do
solo e das águas
subterrâneas Infecções
Pragas
Resíduos
Insetos
gerados por
humanos

Figura 1.2 – Principais rotas de contaminação humana a partir da disposição inadequada


(Fonte: Adaptado de Rushbrook e Pugh, 1999)

1.3 Vantagens da disposição adequada

Dentro da conceituação científica e popular mais aceita, “aterro sanitário” implica no


confinamento dos resíduos e seu isolamento do meio ambiente até que sejam estabilizados
através de processos biológicos, químicos e físicos que ocorrem dentro do aterro. Como
requisitos mínimos, listados abaixo, e como mostrado na figura 1.3, quatro condições
básicas devem estar presentes no projeto e na operação para que um sítio de disposição
final possa ser chamado de aterro sanitário:

 bom isolamento hidrogeológico;


 ser concebido e operado como uma “obra de engenharia”;
 ter permanente controle por pessoal qualificado;
 ter um plano detalhado de disposição e cobertura dos resíduos.

1.4 Classificação dos resíduos sólidos

Há vários tipos de classificação de resíduos sólidos que se baseiam em determinadas


características ou propriedades identificadas. No contexto do gerenciamento municipal três
tipos de classificação são destacados:

 em função da origem (do local onde o resíduo é gerado):


 residencial ou domiciliar;
 comercial;
 industrial;
 de serviços de saúde;
 públicos;
 especiais.

 em função da biodegradabilidade:

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Capítulo 1: Introdução 4
 facilmente biodegradável: matéria orgânica putrescível;
 moderadamente biodegradável: papel, papelão e outros materiais celulósicos;
 dificilmente biodegradável: madeira, trapos, couro, borracha;
 muito dificilmente biodegradável: plástico;
 não-biodegradável: vidro, metais, rochas e solo.

 em função dos riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública (NBR


10004/2004):
 Classe I ou resíduo perigoso;
 Classe II ou resíduo não-perigoso:
 Classe II A ou não-perigoso e não-inerte;
 Classe II B ou inerte.

Estrada
principal

Cerca

Depósito Estacio-
de argila namento
Lagoa de Escritório
Tratamento de Depósito de central de
solos para campo
Lixiviados cobertura
Depósito Fosso de lavagem
materiais Área de
de pneus materiais espera

Pátio de

Vai para sistema de drenagem existente


manutenção
Lagoa de
sedimentação de Sistema de fluxo
drenagem pluvial de mão-única

Ponto de coleta das


águas supericiais
FASE 5 FASE 4 Direção de
enchimento

FASE 1

FASE 6 FASE 3 FASE 2

Ponto de
coleta do
lixiviado

Drenagem pluvial no perímetro do aterro

Figura 1.3 – Configuração típica de implantação e operação de um aterro sanitário


(Fonte: Rushbrook e Pugh, 1999)

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Capítulo 1: Introdução 5

A norma técnica NBR 10004 (ABNT, 2004) trata da classificação de resíduos sólidos quanto
a sua periculosidade, ou seja, característica apresentada pelo resíduo em função de suas
propriedades físicas, químicas ou infectocontagiosas, que podem representar potencial de
risco à saúde pública e ao meio ambiente. De acordo com sua periculosidade os resíduos
sólidos podem ser enquadrados como:

Classe I – Perigoso: são aqueles que apresentam características, elementos ou compostos


que conferem periculosidade (definido segundo a NBR 10004) ou uma das seguintes
características: inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade ou patogenicidade.

Classe II A – Não-Perigoso e Não-Inerte: São aqueles que não se enquadram nas


classificações de resíduo Classe I – Perigoso ou de resíduo classe II B – Inerte, nos termos
da NBR 10.004. Estes resíduos podem ter propriedades, tais como: combustibilidade,
biodegradabilidade ou solubilidade em água.

Classe II B – Inerte: Amostras representativas submetidas ao teste de solubilização


(contato dinâmico e estático com água destilada) que não tiverem nenhum de seus
constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água,
conforme Anexo G da NBR 10004. Como exemplos de resíduos inertes pode-se citar
rochas, tijolos, vidros e certos plásticos e borrachas que não são decompostos prontamente.

Os aterros sanitários são destinos adequados aos resíduos Classe II A; sendo que os
resíduos perigosos (Classe I) devem ser encaminhados para aterros industriais específicos.
Resíduos Classe II B (inertes) também não podem ser dispostos em aterros sanitários na
forma de “resíduos”, mas sim, quando classificados e separados, na forma “matéria prima”
para construção de acessos internos, coberturas e até mesmo drenagens.

1.5 Caracterização dos resíduos sólidos

A heterogeneidade encontrada entre os resíduos sólidos urbanos é imensa. As


características quali-quantitativas dos resíduos variam em função das características da
cidade e com as mudanças climáticas e sazonais. Variam também com as alterações que
ocorrem com a população que os produz, ou seja, os resíduos diferem de composição em
razão dos hábitos e padrões de vida da comunidade. Mudanças na política econômica de
um país, e no nível de renda da sua população, também são causas para uma variação na
massa de resíduos de determinada comunidade.

O conhecimento das características químicas possibilita a seleção de processos de


tratamentos e técnicas de disposição final (Zanta e Ferreira, 2003). Algumas das
características básicas de interesse são: poder calorífico, pH, composição química (carbono,
nitrogênio, fósforo, potássio e enxofre), relação C/N, sólidos totais fixos, sólidos voláteis, teor
de umidade e densidade aparente. Castilhos Jr (2003) apresenta um estudo comparativo
com sugestões para a padronização de métodos analíticos empregados para resíduos
sólidos.

A determinação da composição gravimétrica dos resíduos sólidos é outro dado essencial.


No caso dos resíduos de origem domiciliar e comercial, normalmente dispostos em aterros
sanitários, os componentes comumente discriminados na composição gravimétrica são:
matéria orgânica putrescível, metais ferrosos, metais não-ferrosos, papel, papelão, plásticos
rígidos, plásticos filme, vidro, trapos, borracha, couro, madeira e rejeito, entre outros. Na
literatura são apresentados diferentes métodos para realizar o estudo de composição
gravimétrica dos resíduos urbanos, a maior parte baseada no quarteamento da amostra,
como em D’Almeida e Vilhena (2000), Pessin et al. (2002), Cintra et al. (2003) e Costa et al.
(2003).

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Capítulo 1: Introdução 6
O método descrito por Pessin et al. (2002) consiste na escolha da procedência dos veículos
coletores de acordo com critérios de representatividade estatística. Os resíduos são então
descarregados no solo sobre uma manta plástica. Em seguida, procede-se ao rompimento
dos sacos ou embalagens dos resíduos, coletando quantidades em cinco pontos, uma no
topo e quatro nas laterais do monte de resíduos, de modo a preencher quatro tonéis de 200
litros cada. Os tonéis preenchidos são despejados sobre uma lona plástica, iniciando-se a
mistura e o quarteamento da amostra, ou seja, a divisão em quatro partes do total de 800
litros de resíduos dispostos. Duas das partes obtidas pelo quarteamento, e localizadas em
posição diametralmente opostas são descartadas. Repete-se a mistura e o quarteamento
das partes restantes, obtendo-se uma amostra final de 200 litros ou de 100 litros. Nesta
amostra realizam-se a separação e a pesagem dos materiais por componentes presentes na
mesma.

1.6 Considerações sobre a legislação

Os três entes que compõem a Federação Brasileira (União, Estados e Municípios) podem
legislar sobre os diversos aspectos que envolvem as questões ambientais de maneira geral,
e de resíduos sólidos mais especificamente.

No âmbito do município, as diretrizes de limpeza urbana constam normalmente em alguns


artigos da Lei Orgânica do Município ou do Código de Posturas. Alguns municípios de médio
e grande porte têm leis específicas, os chamados Códigos de Limpeza Urbana. As áreas de
de implantação de futuros aterros sanitários deveriam também estar gravados nos Planos
Diretores de Desenvolvimento Urbano, que são obrigatórios para municípios acima de 20 mil
habitantes (Lei Federal 10.257/2001 – Estatuto das Cidades).

Os Estados também têm leis e resoluções ou normas relacionadas ao gerenciamento dos


resíduos sólidos. A título de exemplificação citamos as leis de resíduos sólidos dos três
Estados da Região Sul:

 Lei nº 9.921 de 1993 e Decreto de Regulamentação nº 38.356 de 1998 – Lei de


Resíduos Sólidos do Estado do Rio Grande do Sul;
 Lei nº 12.493 de 1999 e Decreto de Regulamentação nº 6.674 de 2002 – Lei de
Resíduos Sólidos do Estado do Paraná;
 Lei nº 13.557 de 2005 – Política Estadual de Resíduos Sólidos de Santa Catarina.

A nível Federal temos na Constituição Brasileira o art. 225 que diz:


“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.”; e ainda no parágrafo 3º – “As condutas e
atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.”

Os incisos I e V do art. 30 da Constituição Federal estabelecem como atribuição municipal


legislar sobre assuntos de interesse local, especialmente quanto à organização dos seus
serviços públicos. Fica, portanto, definida claramente a competência do Município quanto ao
gerenciamento dos serviços de limpeza urbana, fato que tradicionalmente vem ocorrendo no
Brasil. No caso de grandes aglomerações urbanas, em particular nas Regiões
Metropolitanas, o destino dos resíduos sólidos passa a ser um problema sério, geralmente
afetando vários Municípios. O Governo Estadual pode intervir, então, cuidando das
integrações necessárias. Podem ainda os Municípios interessados se consorciar para tratar
da questão. Assim, são evitadas duplicações e irracionalidades. Os investimentos serão
divididos e os custos operacionais do sistema passarão a ser mais baixos. A Lei Federal nº
11.107, de 6 de abril de 2005, que dispõe sobre normas gerais de contratação de consórcios

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Capítulo 1: Introdução 7
públicos e dá outras providências, configura-se em um importante instrumento legal que
pode ser utilizado pelos municípios para a implantação de aterros sanitários conjuntos.

Os Governos Federal e Estadual têm um papel a cumprir também! Vai lhes caber auxiliar o
Município, promovendo algumas medidas:

 estabelecendo as normas gerais que serão adotadas como princípios orientadores;


 tornando acessíveis os programas de financiamento para serviços de limpeza
urbana. Aqui é preciso muita atenção para verificar se as propostas correspondem
às realidades regionais e locais.

Ressalta-se ainda a Lei nº 6.938 – de 31 de agosto de 1981 – que dispõe sobre a Política
Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
providências. Esta lei estabelece o SISNAMA, que é o Sistema Nacional de Meio Ambiente.
A Lei nº 7.347 – 24 de julho de 1985 – disciplina a ação civil pública de responsabilidade por
danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico e dá outras providências.

Em 1986 sai a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambeinte, Resolução CONAMA nº


01 – de 23 de janeiro de 1986, da qual se destacam dois artigos:

“Art. 2º – “Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e


respectivo relatório de impacto ambiental – RIMA, a serem submetidos à
aprovação do órgão estadual competente, e da SEMA em caráter supletivo, o
licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como:
X - Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou
perigosos.”

Art. 4º – “Os órgãos ambientais competentes e os órgãos setoriais do


SISNAMA deverão compatibilizar os processos de licenciamento com as
etapas do planejamento e implantação das atividades modificadoras do meio
ambiente, respeitados os critérios e diretrizes estabelecidos por esta
Resolução e tendo por base a natureza, o porte e as peculiaridades de cada
atividade”.”

O licenciamento ambiental vem ser a regulamentado pelo Decreto Federal nº 99.274 – de 06


de junho de 1990, onde destacamos os seguintes artigos:

“Art. 17 – “A construção, instalação, ampliação funcionamento de


estabelecimento de atividades utilizadoras de recursos ambientais,
considerados efetiva ou potencialmente poluidoras, bem assim os
empreendimentos capazes, sob qualquer forma de causar degradação
ambiental dependerão de prévio licenciamento do órgão estadual competente
do SISNAMA, sem prejuízo de outras licenças legalmente exigíveis.”

Art. 19 – “O Poder Público no exercício de sua competência de controle,


expedirá as seguintes licenças:
I – Licença Prévia (LP), na fase preliminar do planejamento da atividade,
contendo requisitos básicos a serem atendidas nas fases de localização,
instalação e operação, observados os planos municipais, estaduais ou
federais de uso do solo;
II – Licença de Instalação (LI), autorizando o inicio da implantação de acordo
com as especificações constantes do projeto executivo aprovado,
III – Licença de Operação (LO), autorizando, após as verificações
necessárias, o inicio da atividade licenciada e o funcionamento de seus
equipamentos de controle de poluição, de acordo com o previsto nas
Licenças Prévia e de Instalação.””

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Capítulo 1: Introdução 8

Com a promulgação da Lei dos Crimes Ambientais – Lei nº 9.605 – de 12 de fevereiro de


1998 – causar dano ao meio ambiente passou a ser considerado crime. Destacamos 4 dos
artigos desta lei:

“Art. 54 – “Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem


ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a
mortalidade de animais ou a destruição significativa da flora”. Pena - reclusão,
de um a quatro anos, e multa.

Art. 60 – “Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, (...) obras


ou serviços potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos
órgãos ambientais competentes, ou contrariando as normas legais e
regulamentares pertinentes”. Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa,
ou ambas as penas cumulativamente.

Art. 66 – “Fazer o funcionário público afirmação falsa ou enganosa, omitir a


verdade, sonegar informações ou dados técnicos-científicos em
procedimentos de autorização ou de licenciamento ambiental”. Pena -
reclusão, de um a três anos, e multa.

Art. 68 – “Deixar, aquele que tiver o dever legal ou contratual de fazê-lo, de


cumprir obrigação de relevante interesse ambiental”. Pena - detenção, de um
a três anos, e multa.”

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Capítulo 2: Critérios Locacionais 9

2. CRITÉRIOS LOCACIONAIS

2.1. Importância e objetivos

A escolha de um local para a implantação de um aterro sanitário não é tarefa simples. O alto
grau de urbanização das cidades, associado a uma ocupação intensiva do solo, restringe a
disponibilidade de áreas próximas aos locais de geração de resíduos sólidos e com as
dimensões requeridas para se implantar um aterro sanitário que atenda às necessidades
dos municípios.

Além desse aspecto, há que se levar em consideração outros fatores, como os parâmetros
técnicos das normas e diretrizes federais, estaduais e municipais, os aspectos legais das
três instâncias governamentais, planos diretores dos municípios envolvidos, pólos de
desenvolvimento locais e regionais, distâncias de transporte, vias de acesso e os aspectos
político-sociais relacionados com a aceitação do empreendimento pelos agentes políticos,
pela mídia e pela comunidade. Por outro lado, os fatores econômico-financeiros não podem
ser relegados a um plano secundário, uma vez que os recursos municipais devem ser
sempre usados com muito equilíbrio.

Sem dúvida a etapa mais importante do processo de instalação de um novo aterro sanitário
é a viabilização de áreas para implantação do aterro. Deve-se sempre ter em vista a
importância do meio físico da área para instalação do aterro sanitário. Uma área adequada
implica em menores gastos com preparo, operação e encerramento do aterro, mas
fundamentalmente significa menores riscos ao meio ambiente e a saúde pública. Deste
modo, escolhendo uma boa área, a prefeitura estará se prevenindo contra os efeitos
indesejáveis da poluição dos solos e das águas subterrâneas e superficiais de seu
município, além de eventuais transtornos decorrentes de oposição popular.

Basicamente o que se deseja é identificar, dentre as áreas pré-selecionadas, aquela que


melhor possibilite:
a) Menor potencial para geração de impactos ambientais:
– estar fora de áreas de restrição ambiental;
– aqüíferos menos permeáveis;
– solos mais espessos e menos sujeitos aos processos de erosão e
escorregamentos;
– declividade apropriada;
– distância de habitações, cursos d’água, rede de alta tenção.
b) Maior vida útil para o empreendimento:
– máxima capacidade de recebimento de resíduos.
c) Baixos custos de instalação e operação do aterro:
– menores gastos com infra-estrutura;
– menor distância da zona urbana geradora dos resíduos;
– disponibilidade de material de cobertura.
d) Aceitabilidade social:
– menor oposição da comunidade vizinha.

2.2. Decisões fundamentais

Duas decisões fundamentais devem ser tomadas antes de iniciar um estudo de possíveis
áreas para implantação de um aterro sanitário:

A que tamanho de área (ou população) deverá esta área atender?

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Capítulo 2: Critérios Locacionais 10
Deve-se decidira a qual área geográfica o aterro vai atender e quais os resíduos sólidos são
aceitos neste aterro. Juntamente com a vida útil do aterro, estes fatores afetarão:

 restrições gerais quanto à localização do sítio, devido às limitações de transporte;


 os tipos de impactos ambientais;
 a capacidade volumétrica requerida das áreas candidatas;
 uma eventual necessidade de cooperação intermunicipal (parcerias ou consórcios).

Quais os critérios locacionais são apropriados?

Uma grande variedade de critérios pode ser aplicada para identificação de áreas para
implantação de um aterro sanitário. Estes podem ser agrupados nos seguintes aspectos (no
item a seguir apresenta-se uma descrição mais detalhada):

 questões de transporte;
 geológicos, hidrológicos e hidrogeológicos;
 uso e ocupação do solo;
 aceitabilidade da população;
 segurança.

2.3. Estimativa futura da geração de resíduos e volume do aterro

Alem das características e da composição (apresentados no capítulo 1), o conhecimento ou


a estimativa do total de resíduos a serem gerados no futuro é fundamental para o projeto e
operação de um aterro sanitário, em especial para a definição da vida útil ou volume total de
aterro necessário. A definição do volume útil necessário para o novo aterro sanitário deverá
ser estimado mesmo antes do início do processo de seleção das áreas, uma vez que ele
define tamanho do aterro (ou da área) necessário.

Os fatores principais que influenciam na quantidade de resíduos gerados são:

 cobertura da coleta ou nível de atendimento dos serviços de coleta;


 população;
 geração percapita (função da renda e nível de consumo da população).

A estimativa atual de geração de resíduos sólidos municipais pode ser feita pela seguinte
equação:

G0 = P0 ⋅ Gp 0 ⋅ C 0 (2.1)

Por sua vez, a geração futura de resíduos sólidos é dada por:

} }
Gt = {P0 ⋅ (1 + y p ) t ⋅ {Gp0 ⋅ (1 + y per ) t ⋅ {C t } (2.2)

onde: Gt = geração futura de resíduos, após t anos (kg/d);


G0 = geração atual de resíduos (kg/d);
P0 = população atual total do município (hab);
Gp0 = geração percapita atual (kg/hab.d) – obtida por amostragem ou literatura;
C0 = cobertura atual da coleta ou nível de atendimento dos serviços de coleta (%);
Ct = nível de cobertura da coleta no tempo t considerado (%);
yp = taxa de crescimento populacional (% a.a.);
yper = taxa de incremento anual da geração percapita (% a.a.);
t = tempo considerado (anos).

Para estimar o volume total ano a ano a disposto no aterro, assim como o volume útil total

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Capítulo 2: Critérios Locacionais 11
do aterro sanitário para receber os resíduos durante a vida útil desejada para o aterro, pode-
se utilizar a planilha na tabela 2.1 (neste caso apresentado para uma vida útil de 15 anos –
coluna (A) – mas que pode ser utilizada para qualquer duração de vida útil desejada).

Nas colunas (F), (G) e (H) da tabela 2.1 calculam-se os volumes dos resíduos quando estes
se encontram compactados no aterro, respectivamente, volume diário anual, anual e
acumulado por ano. O volume diário anual, em m3/d, é calculado a partir da massa diária
que chega ao aterro, em kg/d ou t/d, e da densidade dos resíduos compactados no aterro,
que é dada em t/m3.

No encontro da coluna (H) com a linha (I) da tabela 2.1 tem-se o volume de resíduos
compactados aportados ao aterro ao longo de toda a sua vida útil, na parte mais baixa e à
direita (coluna (F) e linha (J)), tem-se o volume útil total já considerando o espaço ou volume
que será ocupado pelo solo de cobertura intermediária e final. É este o volume que deve ser
considerado quando se parte os trabalhos de busca de área para a implantação de um novo
aterro sanitário, de acordo com os critérios descritos na seqüência deste Manual.

Geração Cobertura Volume de RS compactados no Aterro


Massa de RS
Ano População percapita coleta 3 3 3
(kg/d) (m /d) (m /ano) Acumulado (m )
(kg/hab.d) (%)
(A) (B) (C) (D) (E) (F) (G)) (H)
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
(I) Volume total do aterro (resíduos compactados)
(J) Volume total do Aterro = (I) + 10 a 20 % de material de cobertura

Tabela 2.1 – Estimativa dos volumes anuais e total no aterro sanitário

2.4. Os critérios de seleção das áreas

Por conta desta importância técnica, ambiental, econômica e social, os critérios para se
implantar adequadamente um aterro sanitário são muito severos, havendo a necessidade de
se estabelecer uma cuidadosa priorização dos mesmos.

A estratégia a ser adotada para a seleção da área do novo aterro consiste nos seguintes
passos:

 seleção preliminar das áreas disponíveis no Município;


 estabelecimento do conjunto de critérios de seleção;
 definição de prioridades para o atendimento aos critérios estabelecidos;
 análise crítica de cada uma das áreas levantadas frente aos critérios estabelecidos e
priorizados, selecionando-se aquela que atenda à maior parte das restrições

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Capítulo 2: Critérios Locacionais 12
através de seus atributos naturais.

Com a adoção dessa estratégia, minimiza-se a quantidade de medidas corretivas a serem


implementadas para adequar a área às exigências da legislação ambiental vigente,
reduzindo-se ao máximo os gastos com o investimento inicial. A seleção da área segue os
seguintes passos:

 seleção preliminar das áreas disponíveis;


 critérios de seleção:
 critérios técnicos;
 critérios econômico-financeiros;
 critérios político-sociais.
 priorização dos critérios de seleção;
 seleção da melhor área;
 análise da área selecionada frente aos critérios utilizados;
 ponderação do atendimento aos critérios;
 escolha da melhor área.

2.4.1. Seleção preliminar das áreas disponíveis

A seleção preliminar das áreas disponíveis no Município deve ser feita da seguinte forma:

 estimativa preliminar da área total do aterro;


 delimitação dos perímetros das regiões rurais e industriais e das unidades de
conservação existentes no Município;
 levantamento das áreas disponíveis, dentro dos perímetros delimitados
anteriormente, com dimensões compatíveis com a estimativa realizada, com
prioridade para as áreas que já pertencem ao Município;
 levantamento dos proprietários das áreas levantadas;
 levantamento da documentação das áreas levantadas, com exclusão daquelas que
se encontram com documentação irregular.

A situação fundiária dos imóveis é de extrema importância para se evitar futuros problemas
para a prefeitura.

Na primeira etapa, normalmente pouca atividade de campo é desenvolvida, lançando-se


mão, o máximo possível, do acervo de informações já existente. Caso existam áreas
previamente indicadas pela municipalidade, estas serão analisadas prioritariamente.
Somente se estas se mostrarem “não-recomendáveis”, outros locais deverão ser buscados.
Na segunda etapa são fundamentais os trabalhos de campo, através do levantamento de
dados do meio físico, com investigações de superfície e de subsuperfície.

2.4.2. Estudos necessários

Uma série de estudos deve ser realizada para avaliação de possíveis áreas de implantação
de um aterro sanitário, envolvendo diferentes profissionais e diversas áreas do
conhecimento. A seguir estão listadas as principais informações que devem ser levantadas
para basear a escolha da área para aterro sanitário:

• Dados geológico-gotécnicos
– distribuição e características das unidades geológico-geotécnicas da região;
– principais feições estruturais (foliação, falhas e fraturas);
– permeabilidade do solo;
– capacidade de carga do terreno de fundação.

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Capítulo 2: Critérios Locacionais 13
• Dados pedológicos
– tipos de solo da região;
– disponibilidade de jazidas de argila e/ou de cobertura para cobertura;
– espessura do solo.

• Dados sobre o relevo


– identificação de áreas de morros, planícies, encostas, etc.;
– declividade dos terrenos.

• Dados sobre as águas subterrâneas e superficiais


– profundidade do lençol freático;
– padrão de fluxo subterrâneo;
– qualidade das águas subterrâneas;
– riscos de contaminação;
– localização das zonas de recarga das águas subterrâneas;
– principais mananciais de abastecimento público;
– áreas de proteção de manancial.

• Dados sobre o clima


– regime de chuvas e precipitação pluviométrica (série histórica);
– direção e intensidade dos ventos;
– dados de evapotranspiração.

• Dados sobre a legislação


– localização das áreas de proteção ambiental, parques, reservas, áreas
tombadas, etc.;
– zoneamento urbano da cidade (plano diretor).

• Dados socio-econômicos
– valor da terra;
– uso e ocupação dos terrenos;
– distância da área em relação aos centros atendidos;
– integração a malha viária;
– aceitabilidade da população e de suas entidades organizadas.

• Dados arqueológicos
– laudo de existência ou não de sítios de interesse arqueológico.

2.4.3. Critérios de seleção

Os critérios utilizados para escolha de área para aterro podem divididos em três grandes
grupos: técnicos, econômico-financeiros e político-sociais.

Critérios técnicos

A seleção de uma área para a implantação de um aterro sanitário deve atender, no mínimo,
aos critérios técnicos impostos pelas normas da ABNT (NBR 13896/1997 e NBR
10.157/1987) e pela legislação federal, estadual e municipal (quando houver).

Todos os condicionantes e restrições relativos às normas da ABNT, assim como os


aspectos técnicos da legislação atualmente em vigor estão considerados nos critérios
listados na Tabela 2.2. De qualquer maneira, é necessário sempre verificar condições e
restrições específicas estabelecidas por legislação ou resoluções locais, tanto estaduais
quanto municipais. Havendo outras condicionantes técnicas, estas poderão ser relacionadas
e incluídas no estudo de avaliação das áreas.

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Capítulo 2: Critérios Locacionais 14
É importante que se frise o aspecto de vida útil do aterro, uma vez que é grande a
dificuldade de se encontrar novos locais, próximos às áreas de coleta, para receber o
volume de resíduos urbanos gerados no Município, em face da rejeição natural que a
população tem de morar perto de um local de disposição de resíduos sólidos (Efeito
NIMBY).

Critério Observações
Uso do solo As áreas têm que se localizar numa região onde o uso do solo seja rural (agrícola) ou
industrial e fora de qualquer Unidade de Conservação Ambiental.
Proximidades a cursos As áreas não podem se situar a menos de 200 metros de corpos d'água relevantes,
d'água relevante tais como, rios, lagos, lagoas e oceano. Também não poderão estar a menos de 50
metros de qualquer corpo d'água, inclusive valas de drenagem que pertençam ao
sistema de drenagem municipal ou estadual.
Proximidades a núcleos As áreas não devem se situar a menos de mil metros de núcleos residenciais urbanos
residências urbanos que abriguem 200 ou mais habitantes
Proximidade a As áreas não podem se situar próximas a aeroportos ou aeródromos e devem
aeroportos respeitar a legislação em vigor
Distância do lençol As distâncias mínimas recomendadas pelas normas federais e estaduais são as
freático seguintes:
* Para aterros com impermeabilização inferior através de manta plástica sintética, a
distância do lençol freático à manta não poderá ser inferior a 2 metros.
* Para aterros com impermeabilização inferior através de camada de argila, a
distância do lençol freático à camada impermeabilizante não poderá ser inferior a 3
metros e a camada impermeabilizante deverá ter um coeficiente de permeabilidade
-6
menor que 10 cm/s
Vida útil mínima É desejável que as novas áreas de aterro sanitário tenham, no mínimo, 10 anos de
vida útil. Vida útil de 20 a 25 anos é desejável.
Permeabilidade do solo É desejável que o solo do terreno selecionado tenha uma certa impermeabilidade
natural natural, com vistas a reduzir as possibilidades de contaminação do aqüífero. As áreas
selecionadas devem ter características argilosas e jamais deverão ser arenosas.
Extensão da bacia de A bacia de drenagem das águas pluviais deve ser pequena, de modo a evitar o
drenagem ingresso de grandes volumes de água de chuva na área do aterro.
Facilidade de acesso à O acesso ao terreno deve ter pavimentação de boa qualidade, sem rampas íngremes
veículos pesados e sem curvas acentuadas, de forma a minimizar o desgaste dos veículos coletores e
permitir seu livre acesso ao local de descarga mesmo na época de chuvas muito
intensas.
Disponibilidade de Preferencialmente, o terreno deve possuir ou se situar próximo a jazidas de material
material de cobertura de cobertura, de modo a assegurar a permanente cobertura dos resíduos a baixo
custo.
(1)
Área para expansão Considerando o Efeito NIMBY , é desejável que na localização da área já seja
reservada uma área adjacente pra expansão futura da área de disposição final.
1
NIMBY – Not In My Back Yard (Não no meu jardim)

Tabela 2.2 – Critérios técnicos para seleção de áreas para aterro sanitário

Critérios econômico-financeiros

A implantação do novo aterro sanitário deve ser sustentável; para tanto além dos aspectos
técnicos os aspectos econômico-financeiros são fundamentais. Na tabela 2.3 apresenta-se
sugestão de alguns desses critérios que devem ser avaliados.

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Capítulo 2: Critérios Locacionais 15
Critério Observações
Distância geométrica de É desejável que o percurso de ida (ou de volta) que os veículos de coleta fazem
coleta até o aterro, através das ruas e estradas existentes, seja o menor possível, com
vistas a reduzir o seu desgaste e o custo de transporte dos resíduos. Normalmente
em distâncias maiores a 20 ou 25 km faz-se necessária a implantação de uma
estação de transferência.
Custo de aquisição do Se o terreno não for de propriedade da prefeitura, deverá estar, preferencialmente,
terreno em área rural, uma vez que o seu custo de aquisição será menor do que o de
terrenos situados em áreas industriais.
Custo de investimento em É importante que a área escolhida disponha de infra-estrutura completa, reduzindo
construção e infra- os gastos de investimento em abastecimento de água, coleta e tratamento de
estrutura esgotos, drenagem de águas pluviais, distribuição de energia elétrica e telefonia.
Custo de manutenção do A área escolhida deve ter um relevo suave, de modo a minimizar a erosão do solo
processo de drenagem e reduzir os gastos com a limpeza e manutenção dos componentes do sistema de
drenagem.

Tabela 2.3 – Critérios econômico-financeiros

Critérios político-sociais

Completando a busca de uma área para aterro sanitário, os critérios sociais talvez sejam os
mais importantes para uma futura operação sustentável do aterro, evitando ou pelo menos
minimizando os possíveis conflitos sociais e políticos que possam surgir. Alguns aspectos a
serem considerados estão listados na Tabela 2.4. a seguir.

Critério Observações
Distância de núcleos Aterros são locais que atraem pessoas desempregadas, de baixa renda ou sem
urbanos de baixa renda outra qualificação profissional, que buscam a catação dos resíduos como forma de
sobrevivência e que passam a viver desse tipo de trabalho em condições insalubres,
gerando, para a prefeitura, uma série de responsabilidades sociais e políticas. Por
isso, caso a nova área se localize próxima a núcleos urbanos de baixa renda,
deverão ser criados mecanismos alternativos de geração de emprego e/ou renda
que minimizem as pressões sobre a administração do aterro em busca da
oportunidade de catação. Entre tais mecanismos poderão estar iniciativas de
incentivo à formação de cooperativas de catadores, que podem trabalhar em
instalações de reciclagem dentro do próprio aterro ou outros locais da cidade, de
forma organizada, fiscalizada e incentivada pela prefeitura.
Acesso às áreas através O tráfego de veículos transportando resíduos é um transtorno para os moradores
de vias com baixa das ruas por onde estes veículos passam, sendo desejável que o acesso à área do
densidade de ocupação aterro passe por locais de baixa densidade demográfica.
Inexistência de É desejável que, nas proximidades da área selecionada, não tenha havido nenhum
problemas com a tipo de problema da prefeitura com a comunidade local, com organizações não-
comunidade local governamentais (ONG's) e com a mídia, pois esta indisposição com o poder público
irá gerar reações negativas à instalação do aterro.

Tabela 2.4 – Critérios político-sociais

2.4.4. Priorização dos critérios de seleção

Na seqüência apresenta-se uma sugestão de metodologia para a priorização de área em


avaliação para a implantação de um aterro. A critério da equipe técnica responsável pelo
processo de escolha da área, e de maneira justificada, a ordem de prioridade aqui proposta
pode ser alterada, sendo que sempre a prioridade de ordem mais elevada é aquela que diz
respeito ao atendimento das exigências legais.

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Capítulo 2: Critérios Locacionais 16
Critério Prioridade
Atendimento às exigências do órgão de controle ambiental 1
e à legislação ambiental em vigor
Atendimento aos condicionantes político-sociais 2
Atendimento aos principais condicionantes econômicos 3
Atendimento aos principais condicionantes técnicos 4
Atendimento aos demais condicionantes econômicos 5
Atendimento aos demais condicionantes técnicos 6
Tabela 2.5 – Priorização dos critérios de seleção

2.4.5. Seleção da melhor área

Analise da área selecionada frente aos critérios

O local selecionado para se implantar um aterro sanitário deve ser aquele que atenda ao
maior número de critérios, dando-se ênfase aos critérios de maior prioridade. A seleção da
melhor área para implantação do aterro sanitário deve ser precedida de uma análise
individual de cada área selecionada com relação a cada um dos diversos critérios
apresentados, fornecendo-se a justificativa que permita considerar o critério "totalmente
atendido", o "atendido parcialmente através de obras" ou o "não atendido".

Quando os atributos naturais do terreno selecionado não forem suficientes para atender
integralmente ao critério analisado, tais deficiências deverão ser sanadas através da
implementação de soluções da moderna engenharia, de forma a que o critério seja atendido.

Para que se possa efetuar a escolha da melhor área, é necessário que se fixem pesos, tanto
para as prioridades, quanto para o atendimento aos critérios selecionados, como se mostra
na Tabela 2.6. Aqui também, os pesos podem ser alterados de acordo com os especialistas
envolvidos na tomada de decisão de buscas das áreas.

Prioridade dos critérios (Ver Tab. 2.4) Peso


1 10
2 7
3 6
4 5
5 2
6 1
Tipo de atendimento Peso
Total 100 %
Parcial ou com obras 50 %
Não atendido 0%
Tabela 2.6 – Peso dos critérios e do tipo de atendimento

Escolha da melhor área

Será considerada melhor área aquela que obtiver o maior número de pontos após a
aplicação dos pesos às prioridades e ao atendimento dos critérios.

Para melhor entendimento, é apresentado o exemplo de um Município que deve escolher


entre três áreas selecionadas, com as características fornecidas na Tabela 2.7.

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Capítulo 2: Critérios Locacionais 17

Atendimento
Critério Prioridade
Área 1 Área 2 Área 3
Proximidade a cursos d'água 1 T T T
Proximidade a núcleos residenciais 1 T T P
Proximidade a aeroportos 1 T T P
Distância do lençol freático 1 P P T
Distância de núcleos de baixa renda 2 T T P
Vias de acesso com baixa ocupação 2 P P P
Aquisição do terreno 3 P P T
Investimento em infra-estrutura 3 T T P
Vida útil mínima 4 P P T
Uso do solo 4 T T T
Permeabilidade do solo natural 4 P P P
Extensão da bacia de drenagem 4 P P T
Acesso a veículos pesados 4 T P P
Material de cobertura 4 N P T
Manutenção do sistema de drenagem 5 P P T
Distância ao centro de coleta 6 T P P
Nota: T – atende total/integralmente; P – atende parcialmente; N – não atende.

Tabela 2.7 – Características das áreas quanto ao atendimento dos critérios (exemplo)

Aplicando-se os pesos definidos na Tabela 2.6, as áreas selecionadas chegarão à


pontuação calculada na Tabela 2.8, a seguir.

Pontos da Pontos do Atendimento Pontuação das Áreas


Critério
Prioridade Área 1 Área 2 Área 3 Área 1 Área 2 Área 3

Proximidade a cursos d'água 10 100 100 100 10,0 10,0 10,0


Proximidade a núcleos residenciais 10 100 100 50 10,0 10,0 5,0
Proximidade a aeroportos 10 100 100 100 10,0 10,0 10,0
Distância do lençol freático 10 50 50 100 5,0 5,0 10,0
Distância de núcleos de baixa renda 6 100 100 50 6,0 6,0 3,0
Vias de acesso com baixa ocupação 6 50 50 50 3,0 3,0 3,0
Problemas com a comunidade local 6 0 50 100 0,0 3,0 6,0
Aquisição do terreno 4 50 50 100 2,0 2,0 4,0
Investimento em infra-estrutura 4 100 100 50 4,0 4,0 2,0
Vida útil mínima 3 50 100 100 1,5 3,0 3,0
Uso do solo 3 100 100 100 3,0 3,0 3,0
Permeabilidade do solo natural 3 50 50 50 1,5 1,5 1,5
Extensão da bacia de drenagem 3 50 50 100 1,5 1,5 3,0
Acesso a veículos pesados 3 100 50 50 3,0 1,5 1,5
Material de cobertura 3 0 50 100 0,0 1,5 3,0
Manutenção sistema de drenagem 2 50 50 100 1,0 1,0 2,0
Distância ao centro de coleta 1 100 50 50 1,0 0,5 0,5
Pontuação final 61,5 66,5 70,5

Tabela 2.8 – Pontuação das áreas (exemplo)

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Capítulo 2: Critérios Locacionais 18
Vê-se, portanto, que a área 3, apesar de se situar relativamente próxima a um núcleo
residencial, é a que apresenta maiores vantagens no cômputo geral. Os valores
encontrados na soma das colunas à direita da Tabela 2.8 não devem ser analisados ou
interpretados de maneira absoluta. O que importa, neste caso, são as diferenças relativas
do “pontos” ou das “notas” das diferentes áreas avaliadas. Uma pequena diferença entre as
três áreas estudadas indica que elas são muito parecidas em termos dos critérios de
avaliação adotados. Por outro lado, quando uma área apresenta pontuação muito abaixo ou
acima das outras duas, indica que esta é, respectivamente, muito pior ou muito melhor que
as demais.

Importante frisar que não existe a área ideal, e em qualquer uma delas serão necessárias
intervenções da engenharia para garantir a segurança ambiental do empreendimento. Uma
metodologia bem conduzida de escolha de área conduzirá, entretanto, em um projeto de
maior segurança sanitária e ambiental e de menor custo de implantação e de operação.

Tão logo se escolha a área para a implantação do aterro sanitário, a prefeitura deve
proceder imediatamente à compra ou desapropriação do imóvel. Sempre que possível
desapropriar área maiores que o estritamente necessário para o aterro, permitindo a
implantação de um grande cinturão de proteção ou de minimização dos impactos potenciais
do futuro aterro.

2.5. Para não esquecer /dicas importantes

Um bom aterro sanitário começa com uma boa escolha de áreas.

Antes de se iniciar a escolha de áreas é necessário se ter pelo


menos um uma projeção dos volumes futuros de resíduos a serem
aterrados e uma concepção básica do projeto. Isto implica no
tamanho da área que se vai buscar.

Não existe área perfeita. O que queremos é uma área que cause
os menores impactos ambientais e sociais...

Tema para discussão:


Em que etapa da escolha de uma área para implantação de um
futuro aterro sanitário deve-se dar conhecimento da(s) área(s)
estuda(s) à comunidade vizinha?

2.6. Exercícios

2.6.1. Cálculo de volume necessário do aterro sanitário

Utilizando as equações 2.1 e 2.2, e tomando como modelo a tabela 2.1, defina o volume útil
total necessário para implantar um novo aterro sanitário com as seguintes características:

População atual do município: 150.000 hab


Geração percapita: 0,85 kg/hab.d (dia útil – 6 dias úteis por semana)
Cobertura de coleta atual: 85 %
A cobertura de coleta passará a ser de 100 % a partir do 6o ano de operação do aterro
O aterro levará 5 anos para ser planejado, projetado e implantado

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Capítulo 2: Critérios Locacionais 19
Vida útil mínima do Aterro: 10 anos
Peso específico dos resíduos compactados no Aterro: 0,8 t/m3
Volume de terra para cobertura: 15 % do volume de resíduos
Taxa de crescimento populacional: 0,85 % ao ano
Taxa de aumenta da geração percapita: 1 % a.a.
Dias úteis por ano: 313 dias (excluídos os domingos)

2.6.2. Escolha de área para novo aterro sanitário

Apresentam-se abaixo algumas características de 3 (três) possíveis áreas para implantação


de um aterro sanitário. Considerando a metodologia apresentada neste capítulo faça a
hierarquização das áreas. Considerar que qualquer aspecto das áreas que não foi
mencionado neste exercício seja equivalente para as três áreas.

ÁREA 1
Condições físicas:
• perfil do solo arenoso com 5 m de espessura;
• condição de alta permeabilidade do solo;
• área com declividade suave;
• lençol freático a 4 m de profundidade;
• presença de curso d’água na vizinhança, distância de 100 m;
• 30 ha de área disponível.
Condições bióticas:
• vegetação rasteira (campo sujo) em toda a área;
• pequena presença de fauna.
Condições antrópicas:
• uso para agricultura em toda a área, com a presença de benfeitorias de um dos
proprietários;
• distância de 1.500 m do núcleo populacional mais próximo;
• área pertencente a três proprietários.

ÁREA 02
Condições físicas:

perfil do solo argiloso com 5 m de espessura;

condição de baixa permeabilidade do solo;

área com declividade suave;

lençol freático a 2 m de profundidade;

presença de curso d’água no interior da área;

60 ha de área disponível.
Condições bióticas:
• vegetação rasteira em 2/3 da área, vegetação arbórea nativa em 1/3 da área;
• pequena presença de fauna.
Condições antrópicas:
• uso para agricultura em toda a área, sem a presença de benfeitorias;
• distância de 3.000 m do núcleo populacional mais próximo;
• área pertencente a um único proprietário.

ÁREA 03
Condições físicas:
• perfil de solo areno-argiloso com 3,5 m de espessura;
• condição de média permeabilidade do solo;
• área com declividade média;
• lençol freático a 3 m de profundidade;
• presença de talvegue no interior da área;

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Capítulo 2: Critérios Locacionais 20
• 20 ha de área disponível.
Condições bióticas:
• vegetação rasteira em toda área;
• pequena presença de fauna.
Condições antrópicas:
• uso para agricultura em toda a área, com a presença de benfeitorias do proprietário;
• distância de 3.000 m do núcleo populacional mais próximo;
• área pertencente a um único proprietário.

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Capítulo 2: Critérios Locacionais 21

APÊNDICE 2.A – Fluxograma de resolução das decisões fundamentais

Aterro para atender Aterro para atender dois


um município ou mais municípios

O novo aterro sim Iniciar conversações com


atenderá mais que municípios vizinhos
um município?

não

sim Todo o município Estabelecer acordo sobre qual


será atendido? será o município sede

não

Identificar áreas/população sim Na própria


a ser atendida jurisdição?

não

Estabelecer aporte anual sim A identificação da


de resíduos à área área será feita pelo
próprio município?

não

Decidir sobre vida útil Propor limite de distância do


Capacidade desejada do aterro aterro ao próprio município
desejada da
área
Estabelecer fórum de participação

Consensuar sobre
Critérios de Aplicar os critérios de cronograma de escolha da
seleção seleção de áreas área e projeto

Consensuar sobre tarifas e


pagamentos

Ver Figura 2.2

Implantar Comitê Gestor

Figura 2.1 – Resolução das decisões fundamentais

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 2: Critérios Locacionais 22

APÊNDICE 2.B – Fluxograma seqüência de identificação da melhor área

Numera da etapa Dados de entrada

Mapeamento das
1 restrições Aplicação de critérios
geográficos de exclusão,
através da participação de
especialistas
Locais com área
potenciais

Pré-seleção de várias
2 áreas potenciais Considerar condições de solo
requeridas, a propriedade e o
uso do solo

Listagem das áreas pré-


selecionadas

Pesquisa e visitação das


3 áreas selecionadas Análise das condições físicas
e ambientais da área e das
áreas vizinhas

Pequena lista de áreas


selecionadas

Fazer projeto conceitual e


4 custos iniciais Com base na topografia fazer
o desenvolvimento e as fases
do aterro, e os impactos
ambientais
Capacidade da área e
indicativo de custos

Investigação de campo
5 na(s) área(s) preferida Confirmação dos dados
geológicos e hidrogeológicos

Confirmar estimativa de
custos e capacidade

Preparar estudo de
6 viabilidade Preparar plano de trabalho e
fluxo de caixa e a efetiva
realização do EIA/RIMA

Bases para a tomada de


decisão

7 Decisão Tomada de decisão com base


em dados confiáveis

Figura 2.2 – Identificação da melhor área

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 23

3. PROJETO E IMPLANTAÇÃO DO ATERRO SANITÁRIO

3.1. Introdução

A implantação de aterros sanitários pode ser entendida como um projeto de construção de


engenharia civil onde a maior fonte de material que forma o “solo” é resíduos sólidos. Muitas
das habilidades requeridas para planejar, projetar, e executar um projeto de aterro sanitário
são as mesmas, pode-se assim dizer, requeridas em projetos de construção de rodovias.

Outra área tecnológica que se aproxima muita das operações que ocorrem num aterro é a
mineração. Pode-se ver a implantação e operação de um aterro sanitário como sendo um
projeto de mineração ao contrário. Ou seja, na mineração tem-se um morro ou uma
determinada gleba de terra e a cada dia retira-se uma parcela de material (argila, brita,
carvão mineral, etc.) e transporta-se para uso nas cidades. No caso do aterro sanitário, a
cada dia coleta-se uma quantidade de resíduos na cidade e transporta-se para uma
determinada área onde são compactados dando forma a um morro.

O objetivo de se fazer um projeto detalhado de aterro sanitário é prover uma forma de


comunicação (por desenhos e especificações) de como o projetista pretende que o
empreendimento seja desenvolvido. Todos os possíveis problemas práticos e logísticos de
recepção, descarga, compactação e cobertura dos resíduos devem ser detalhados. Atenção
especial dever ser dada ao movimento de água/lixiviado dentro do aterro.

O projeto de um aterro sanitário deve minimizar os riscos à saúde pública e ao meio


ambiente em caso de falhas na construção ou operação assegurando o atendimento aos
padrões de projeto. Geralmente, isso implica em assumir níveis se segurança mínimo para:

 continuidade de fornecimento de energia e combustíveis no local;


 a operação e manutenção de equipamentos sofisticados ou caros;
 operação e manutenção de bombas, misturadores, e outros equipamentos elétricos
ou mecânicos associados com controle de lixiviados e biogás;
 integridade de longo prazo dos sistemas artificiais de impermeabilização da base.

3.2. Decisões fundamentais

Passada a etapa de escolha da área para construção do aterro sanitário, a municipalidade


se vê frente a duas questões fundamentais:

A municipalidade tem os recursos técnicos para projetar e


operar o novo aterro?

Quais os padrões de projeto e operação que serão adotados?

Surge desta segunda questão mais uma questão na política de operação que afeta as bases
de projeto do novo aterro:

O aterro utilizará equipamentos automotores para a disposição e


a compactação; ou métodos manuais?

A primeira questão colocada à municipalidade que vai implantar um aterro sanitário,


principalmente quando se trata do primeiro aterro do município (saída da disposição a céu
aberto) é se ela dispõe os recursos técnicos e humanos para projetar, desenvolver, e
operar um empreendimento desse tipo. Uma variedade de habilidades profissionais é

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 24
necessária para tal empreitada, incluído as disciplinas chave de:

 gerenciamento de resíduos sólidos;


 engenharia civil e ambiental;
 hidrogeologia;
 engenharia geotécncia;
 hidrologia.

Uma “equipe de projeto”, sob a liderança de engenheiro civil ou ambiental com experiência,
é considerada a melhor maneira de desenvolver um novo aterro sanitário. A municipalidade
deve decidir se tal equipe pode ser formada dentre a própria instituição, se alguns membros
devem ser trazidos de outras organizações, ou parte ou todo o projeto dever ser feito por
outras instituições.

Uma segunda questão fundamental a ser enfrentada pela municipalidade se refere ao


padrão de aterro sanitário a ser adotado, o que refletirá no projeto e afetará os custos de
implantação, operação e os subseqüentes cuidados de pós-fechamento.

O projetista do aterro necessita receber da municipalidade uma lista ou sumário com os


quesitos e critérios da performance básicos que o aterro deverá atender, e quando for
aplicável, uma lista de melhorias a serem agregadas ao projeto se os custos estimados do
projeto básico ficarem dentro no orçamento proposto pela municipalidade.

Esta lista pode englobar critérios como:

 o uso futuro previsto para área do aterro;


 qualquer limitação da área quanto ao uso para aterro sanitário ou atividades
associadas;
 regulamentos legais, normas e padrões de projeto que deverem ser respeitados;
 padrões de emissões ambientais, incluindo padrões de emissões às águas
superficiais e subterrâneas, e de ruído;
 segurança da área, cercamento, infra-estrutura, e serviços (p.ex., energia, água e
telefone);
 o programa e cronograma para o projeto (incluindo relatórios parciais de progresso,
aprovações, etc.);
 orçamento claro de capital e operações para o projeto.

Se é realimente fácil se depositar resíduos sólidos em aterros utilizando trator-de-esteiras


ou máquinas pesadas similares, para aterros menores (p.ex., recebendo menos que 40
t/d) isso não é necessariamente essencial. Operação manual (i.é., sem o uso de máquinas
de terraplanagem) pode ser efetiva quando não há maquinário disponível e quando há mão-
de-obra em abundância (realidade de muitos municípios pequenos e médios latino-
americanos e brasileiros).

Uma combinação de procedimentos manuais e mecanizados pode ser adotada quando a


disponibilização contínua de um trator-de-esteiras não puder ser assegurada. Outra
alternativa é a utilização no aterro de máquinas de menor custo, como retro-escavadeiras,
que podem fazer trabalhos de escavação de trincheiras ou valas, e mesmo a compactação
dos resíduos e a cobertura, embora com menor grau de eficiência.

As vantagens e desvantagens destes dois procedimentos são comparados na Tabela 3.1; e


uma discussão sobre projeto, implantação e operação de aterros manuais para pequenas
comunidades pode ser vista em detalhes nas seguintes referências bibliográficas: Lange et
al. (2003) e em Jamarilo e Zepeda (1991).

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 25
Manual Mecanizado
Efetivo para pequenos aterros recebendo até 40 Sem limitação quanto ao tamanho da
t/d. tonelagem diária do aterro. Serve para grandes
e pequenos aterros.
Resíduos de países ou regiões ricas têm O peso dos equipamentos mecanizados pode
3
densidades mais baixas (entre 0,1 e 0,3 t/m ). conferir densidades iniciais ao aterro mais altas
3
Resíduos de outras regiões têm densidades na (entre 0,6 e 1,0 t/m ) requerendo um menor
3
ordem de 0,4 a 0,5 t/m . volume de aterro.

A disposição de manual de resíduos leves, de A melhora da densidade conseguida em


baixa densidade é difícil e ocupa um volume inicial relação à disposição manual é menor para os
3
maior (p.ex., 0,3 t/m ). A disposição manual de resíduos mais densos das regiões de maior
resíduos em regiões de baixa renda é mais renda. Portanto, a vantagem conseguida com a
factível, com densidade no aterro de cerca de 0,5 melhor compactação por uso de equipamentos
3
t/m . mecanizados é menos importante.
A disposição e compactação manual de resíduos Equipamentos mecanizados requerem altos
tem custos relativamente mais baixos. Esta custos de combustíveis, peças e serviços de
vantagem desaparece quando os custos se elevam manutenção, e necessita de competência
e se aproximam dos custos da operação técnica para manter a operação.
mecanizada.

A operação manual do aterro aumenta o risco Requer maior treinamento para os operadores
potencial de doenças ocupacionais pelo contato dos equipamentos.
coma gentes perigosos presentes nos resíduos.
Trabalho manual adicional é requerido para Alguns equipamentos mecanizados fazem este
escavar o solo e espalhar o material de cobertura. trabalho em adição à disposição dos resíduos.
Fonte: Rushbrook e Pugh (1999)
Tabela 3.1 –Comparação entre aterramento manual e mecanizado de resíduos sólidos

3.3. Definição de aterro sanitário e de outros termos

Aterro sanitário é uma técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem
causar danos à saúde pública e à sua segurança, minimizando os impactos ambientais,
método este que utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos à menor
área possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-se com uma camada de
terra na conclusão de cada jornada de trabalho, ou a intervalos menores, se necessário
(ABNT NBR 8419/92).

A CETESB – Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental de São Paulo – define


aterro sanitário como um processo utilizado para a disposição de resíduos sólidos no solo,
particularmente os resíduos domiciliares, que fundamentado em critérios de engenharia e
normas operacionais específicas, permite uma confinação segura, em termos de controle da
poluição ambiental e proteção ao meio ambiente.

Aterramento dos resíduos é um processo pelo qual os resíduos sólidos são colocados no
aterro sanitário. O aterramento inclui o monitoramento dos resíduos que entram no aterro, a
disposição e a compactação dos resíduos, e a instalação de sistemas de monitoramento
ambiental e de sistemas de controle.

O termo célula é utilizado para descrever o volume de material colocado no aterro durante
um determinado período de operação, geralmente um dia (ver Fig. 3.1). Uma célula inclui os
resíduos depositados e o material de cobertura diária que os encobre. Cobertura diária
geralmente consiste de uma camada de 15 a 30 cm de solo local ou outro material
alternativo como composto ou entulhos da construção beneficiados que são colocados
sobre as frentes de trabalho ao final de cada jornada de trabalho.

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 26
Uma camada de resíduos do aterro é uma seqüência de células numa mesma altura do
aterro (ver Fig. 3.1). Aterros típicos são constituídos de várias camadas sobrepostas.
Bermas (ou terraços) são normalmente utilizadas quando a altura do aterro exceder 15 a 20
m. As bermas são utilizadas para manter a estabilidade dos taludes do aterro, para a
colocação de drenagem de águas pluviais, para a colocação de redes de drenos de biogás,
e para o trânsito de veículos e máquinas na manutenção futura dos taludes.

Camada de cobertura final


Camada

Berma
Célula (terraço)
final
Cobertura final do talude
Camada Camada

Altura da Altura da
camada célula

Célula 2: 1 a 3:1 declividade típica


Célula
Cobertura
intermediária
Célula Resíduos sólidos
Cobertura compactados
diária

Comprimento da
Cobertura célula
intermediária
Impermeabilização inferior

Figura 3.1 – Seção transversal de um aterro sanitário

A camada final inclui a camada de cobertura. A camada de cobertura final é colocada sobre
o aterro quando todas as operações do aterro estão completadas. Esta camada
normalmente consiste de várias camadas de solo e /ou geomembrana projetadas para
melhorar a drenagem superficial, diminuir a infiltração de água da chuva no aterro, controlar
e emissão de gases, e dar suporte a revegetação.

O líquido coletado no fundo do aterro é conhecido como lixiviado. Também chamado de


chorume ou percolado, os lixiviados são coletado em pontos intermediário em aterros de
maior altura. Estes líquidos provem da infiltração da água da chuva e da água contida na
forma de umidade dos resíduos. Os lixiviados contêm uma variedade de elementos e
compostos químicos derivados da solubilização dos materiais depositados no aterro e dos
produtos das reações químicas e bioquímicas que ocorrem no interior do aterro.

Biogás ou gás de aterro é uma mistura dos gases resultantes da decomposição anaeróbia
na matéria orgânica no aterro, sendo constituído principalmente de metano e gás carbônico
e outros gases em menores concentrações, como o nitrogênio, oxigênio, amônia e traços de
compostos orgânicos.

Impermeabilização da base tem a função de prevenir a migração de lixiviados e gases pela


base ou fundo do aterro, e é feita com uso de material argiloso compactado e/ou
geomembranas. Elementos de controle em aterros incluem impermeabilização da base,
sistemas de coleta e extração de lixiviados, sistemas de coleta e extração de biogás, e
camadas de cobertura diária e final.

Monitoramento ambiental envolve as atividades associadas à coleta e análise de amostras


de água e ar, usados para monitorar o movimento de lixiviados e biogás na área do aterro.
Encerramento do aterro é o termo utilizado para descrever os passos que devem ser dados
para encerrar em segurança um aterro que teve seu volume completado. Cuidados de pós-
encerramento referem-se a atividades monitoramento e manutenção de longo prazo do
aterro após o seu encerramento (usualmente 30 a 50 anos).

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 27

3.4. Métodos de aterros

Os principais métodos utilizados no aterramento de resíduos urbanos são: (1) células ou


trincheiras escavadas, (2) área, e (3) depressões ou meia encosta. As principais
características destes tipos de aterros, ilustrados na Figura 3.2, estão descritas abaixo.

• (1) Método da escavação de células ou trincheiras: é indicada para locais onde


há adequada profundidade de material para cobertura e onde o nível do lençol freático não
está próximo a superfície (veja Fig. 3.2a). Os resíduos são dispostos em células ou
trincheiras escavadas no solo. O solo escavado é usualmente utilizado para cobertura diária
e final. As células normalmente têm formato quadrado, enquanto que as trincheiras são
retangulares com relação de comprimento/largura da ordem de 10/1 a 20/1, e de 1 a 3 m de
profundidade. Em alguns casos, escavações abaixo do nível do freático podem ser feitas,
desde que seja providenciado o rebaixamento permanente deste nível.

• (2) Método da área: este método é utilizado quando o terreno não é apropriado
para escavações de células ou de trincheiras, geralmente em locais onde o nível do lençol
freático está muito perto da superfície (veja Fig. 3.2b). O material de cobertura deve ser
transportado de caminhão de áreas adjacentes ou de áreas de empréstimo. Em locais com
carência de material de cobertura, pode ser utilizado composto produzido de resíduos
domiciliares ou podas de árvores e material verde. Outra técnica que tem sido utilizada,
principalmente nos Estados Unidos e na Alemanha, é a utilização de coberturas removíveis
como solo e geomembranas sintéticas, que são removidas antes da colocação dos próximos
patamares.

Talude em terra
Greide da cobertura final

(a)

Talude em terra

Células de resíduos
Greide da cobertura final

(b)

Limite do aterro
Dreno pluvial
Greide da cobertura final

Nível original do terreno


(c)

Figura 3.2 – Métodos de aterro sanitário utilizados: (a) células ou trincheiras escavadas,
(b) área, e (c) depressão (Fonte: Tcobanoglous et al., 1993)

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 28

• (3) Método das depressões: depressões, áreas de escavações, saibreiras,


argileiras e pedreiras podem ser utilizadas para aterros (veja Fig. 3.2c). As técnicas de
disposição e compactação dos resíduos em aterros em depressões variam com a geometria
do local, as características do material de cobertura disponível, a hidrologia e geologia do
local, os sistemas de controle de lixiviado e de gases utilizados, e do acesso ao local. O
controle das águas superficiais normalmente é um fator crítico deste método. Como regra
geral, a disposição de cada camada ou patamar de resíduos inicia-se na parte de montante
da depressão e finda na boca ou parte mais baixa, de modo a evitar o acumulo de água
atrás do aterro. O preenchimento do aterro dá-se em múltiplas camadas, e o método de
operação é muito similar ao do método da área.

Aterros em pedreiras desativadas podem não dispor de quantidades suficientes de material


para cobertura diária, assim o material deverá ser importado de fora da área. Neste caso
composto produzido de resíduos domiciliares ou de material verde pode ser utilizado para
cobertura diária.

3.5. O ecossistema aterro sanitário

3.5.1. Degradação anaeróbia de compostos orgânicos

Para Gandolla et al. (1995), o aterro sanitário é uma tentativa do homem de confinar seus
resíduos numa área controlada, a fim de fixar e concentrar as substâncias perigosas. Mas,
ao mesmo tempo em que é uma criação artificial do homem, um aterro sanitário para
resíduos sólidos urbanos é também um sistema vivo, dentro do qual se desenvolvem
processos biológicos, similares aos que se encontram em certos ecossistemas particulares,
ricos em matéria orgânica e pobres em oxigênio, como os sedimentos, pântanos e solos
saturados em água.

Digestão anaeróbia é definida por Metcalf e Eddy (1991), como a decomposição de matéria
orgânica na ausência de oxigênio molecular, com a conversão deste material em metano
(CH4) e dióxido de carbono (CO2). Na digestão anaeróbia, a matéria orgânica complexa, na
forma de glicídios, proteínas, lipídios, etc., é convertida em compostos simples.

As reações bioquímicas envolvidas geralmente são reações enzimáticas. Como se sabe,


uma das características peculiares das proteínas é sua especificidade. Os compostos sobre
os quais agem quimicamente são denominados de substratos. A equação simplificada pode
ser expressa da seguinte forma (Pelczar et al., 1980):

SUBSTRATO + ENZIMA  COMPLEXO ENZIMA/SUBSTRATO  ENZIMA + PRODUTO

A enzima é sempre liberada enquanto que o substrato é transformado no produto da reação,


sendo esta outra característica essencial deste grupo de proteínas.

A utilização de compostos orgânicos por bactérias, exige que tais substâncias sejam
inicialmente hidrolisadas no ambiente externo antes que elas possam aproveitá-las. Para
este propósito é que as bactérias produzem enzimas localizadas na sua superfície (extra
celulares) que interagem com o alimento disponível no meio.

As enzimas são também responsáveis pelo processo de transferência de hidrogênio das


reações de oxidação. Os microrganismos anaeróbios produzem enzimas que preferem
compostos de carbono, nitrogênio ou enxofre como aceptores finais de hidrogênio.

Em geral, as enzimas possuem diversas características que afetam diretamente sistemas de


degradação da matéria orgânica: são inativadas pelo calor, dependem da temperatura, são

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 29
sujeitas a efeitos de toxicidade e são específicas para cada função.

Quando os resíduos são depositados em aterro sanitário, a biodegradação que resulta na


formação de metano não se inicia imediatamente. Um período que varia de meses até anos
pode ser necessário para que sejam estabelecidas as condições de crescimento adequadas
aos microrganismos específicos. As fases de decomposição anaeróbia de resíduos em
aterros, propostas por pesquisadores, variam de três a seis ou mais, dependendo dos dados
específicos utilizados e dos objetivos de cada estudo.

Trabalhos de Rees (1980), Rees e Viney (1982) e Lima (1985) apud Lima (1995), revelaram
um modelo de quatro estágios para expressar a metanogênese em aterro. Resumidamente,
este modelo é assim explicado:

 Fase aeróbia: após o aterramento dos resíduos os microrganismos aeróbios


encontram-se habitando o meio. A temperatura do aterro situa-se entre 40 e
45ºC. A duração desta fase varia com a quantidade de oxigênio disponível e com
o número de microrganismos. Segundo Rees (1980), a fase aeróbia dura entre 10
e 100 dias após o aterramento dos resíduos. Gandolla (1995) é mais explícito e
indica o final desta fase em 15 dias de aterramento. A atividade dos
microrganismos aeróbios resulta em produção de CO2, água e no aumento da
temperatura interna do aterro;
 Fase anaeróbia ácida: com a diminuição do oxigênio, o meio passa a ser
ocupado por microrganismos anaeróbios e anaeróbios facultativos. A glicose
resultante da primeira fase, é agora metabolizada. O resultado deste processo é a
formação de álcoois, ácidos e acetatos. Gases como o hidrogênio e o dióxido de
carbono são liberados para a atmosfera do aterro. A temperatura nesta fase
diminui um pouco, ficando na faixa de 37 a 40ºC. Esta fase tem uma duração
aproximada de 60 dias;
 Fase metanogênica instável: com o equilíbrio na segunda fase, álcoois, ácidos e
acetatos são agora decompostos por outro grupo de microrganismos
(microrganismos hidrolíticos e fermentativos). Ocorre grande produção de
acetatos, formiatos, hidrogênio e CO2, e pequenas quantidades de metano. A
temperatura permanece em torno de 37ºC. Em aterros, que são considerados
como meios heterogêneos, dificilmente existem as condições ideais, fato que
aumenta o tempo de retenção, fazendo com que a fase metanogênica instável
possa durar até 8 anos, ou mais;
 Fase metanogênica estável: finalmente, com a transformação dos acetatos,
formiatos e dióxido de carbono produzidos na terceira fase por microrganismos
metanogênicos, o processo se completa. Nesta fase, CH4 e CO2 são produzidos
em grandes quantidades. O biogás gerado tem uma composição de
aproximadamente 40% de dióxido de carbono e 60% de metano. Um aterro, em
regime natural, pode atingir a quarta fase 10 anos após o aterramento;

Pohland e Harper (1985) apud Gomes (1989), apresentam um outro modelo para
representar a digestão anaeróbia em aterros sanitários, e dividem o processo em cinco
fases, assim descritas resumidamente:

 Fase de ajuste inicial (I): é a fase de disposição inicial dos resíduos e acúmulo
preliminar da mistura. Ocorre uma sedimentação inicial e cada célula do aterro é
fechada. Variações nos parâmetros ambientais são detectadas e refletem o início
do processo de estabilização;
 Fase de transição (II): a capacidade de campo é superada, isto é, inicia-se a
formação do chorume ou lixiviado. A estabilização microbiológica sofre uma etapa
de transição: passa de uma fase aeróbia para uma anaeróbia. Nitratos e sulfatos
passam a ser, no lugar do oxigênio, os aceptores primários de elétrons. Surge
dióxido de carbono no biogás formado no processo. O meio começa a se tornar
redutor. Em análises do lixiviado já se encontram ácidos orgânicos voláteis;

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 30
 Fase de formação de ácidos (III): ácidos orgânicos voláteis intermediários
tornam-se predominantes com a continuidade da hidrólise e fermentação dos
resíduos e constituintes do percolado. Nutrientes como o nitrogênio e o fósforo
são liberados e utilizados como substrato para o aumento da biomassa. O
hidrogênio é detectado e sua presença afeta a natureza e o tipo de produtos
intermediários em formação;
 Fase de fermentação do metano (IV): produtos intermediários que aparecem
durante a fase de formação de ácidos, são convertidos em metano e excesso de
CO2. Potenciais de oxi-redução atingem os menores valores e os nutrientes
continuam sendo consumidos. A carga orgânica do percolado é bastante
diminuída, em correspondência aos aumentos da produção de biogás;
 Fase de maturação final (V): estabilização da atividade biológica e os nutrientes
começam a ser limitantes no processo. As condições naturais ambientais se
restabelecem, assim como a produção do biogás quase cessa. O oxigênio e as
espécies oxidadas podem reaparecer lentamente com o correspondente aumento
do potencial redox.

As fases metabólicas simplificadas e os grupos microbianos envolvidos no processo de


transformação anaeróbia dos resíduos sólidos orgânicos em bioestabilizados, em aterros
sanitários, com geração de metano, são apresentados na figura 3.3.

3.5.2. Microbiologia da degradação anaeróbia

Segundo Novaes (1986), participam do processo de digestão as seguintes bactérias com


suas respectivas funções:

 Bactérias fermentativas: exercem importante papel nos dois estágios iniciais da


digestão anaeróbia. São responsáveis pela produção de enzimas que liberadas no meio,
hidrolisam compostos de cadeia complexa (como celulose, hemicelulose, pectina, etc.) e os
transformam em compostos moleculares de cadeia simples. Estes últimos são fermentados
resultando numa variedade de produtos como etanol, butiratos, acetatos, propionatos, etc. O
substrato inicial e as condições do meio são fatores que regem os produtos do metabolismo
desse grupo. A maioria dos estudos desenvolvidos mostra a predominância de organismos
da família Streptococcaceae e Enterobacteriaceae, e dos gêneros Bacteroides, Clostridium,
Butyrivibrio, Eubacterium, Bifidobacterium e Lactobacillus;
 Bactérias acetogênicas produtoras de hidrogênio: consideradas essenciais à
degradação anaeróbia, fermentam ácidos voláteis de cadeia maior que a do metanol,
transformando-os em hidrogênio e acetato. Poucas espécies deste grupo de
microrganismos foram isoladas e portanto igualmente pouco se conhece sobre elas,
principalmente no que diz respeito às necessidades nutritivas. Verificou-se entretanto, a
influência exercida pelo H2, revelando o estreito relacionamento existente entre as bactérias
em questão e as correspondentes bactérias consumidoras de H2. A conseqüência relevante
desse fato é o balanceamento do H2 no meio ambiente desses microrganismos. Algumas
bactérias acetogênicas foram identificadas em trabalhos em que foram cultivadas
juntamente com metanogênicas consumidoras de H2. Desulfovibrio desulfuricans e
Desulfovibrio crilgaris produziram acetato, CO2, e H2, a partir de lactato na ausência de
sulfato, e na presença de Methano sarcina barkeri, que utiliza acetato e H2 na
metanogênese. Syntrophobacter wolinii, um organismo acetogênico, foi cultivado com
Desulfovibrio sp (consumidor de H2), produzindo acetato e, provavelmente H2 e CO2 a partir
do propionato.
 Bactérias acetogênicas consumidoras de H2 ou homoacetogênicas: fermentam
um amplo espectro de compostos de um carbono e ácido acético, precursor do metano.
Igualmente pouco se conhece a respeito desse grupo. O autor, no entanto, destaca que
Zeikus, em 1981, descreveu o metabolismo dessas bactérias como de alta eficiência
termodinâmica, como conseqüência da não formação de H2 e CO2 durante o crescimento de
compostos orgânicos de cadeia longa.

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 31

Resíduos sólidos
Resíduos orgânicos Resíduos inorgânicos
FASE I
(Aeróbia)

Celulose Proteínas Lipídios

Sais inorgânicos
Hidrólise
(Aeróbia)

H2O

FASE II
(Acidogênese)
Hidrólise e
Fermentação Bactérias redutoras Sulfetos
(Anaeróbia) de sulfato metálicos

Compostos solúveis intermediários


por ex.: ácidos voláteis e
nitrogênio amoniacal H2S

FASE III
(Acetogênese)
Acetogênicas CO2

H2

Acetato Formiato

Bactérias
homoacetogênicas

FASE VI
(Metanogênese)
Metanogênicas CH4

FASE V
(Aeróbia) Organismos
oxidativos do metano

Legenda CO2 H2O


Processo
Produto
Microrganismo

Figura 3.3 – Fases metabólicas e grupos microbianos envolvidos no processo de digestão


anaeróbia (Fonte: Adaptado de HMSO, 1995)

A bactéria Clostridium aceticum foi identificada na conversão de H2 e CO2 a acetato.


Bactérias homoacetogênicas que produzem acetato a partir do CO2 foram identificadas
como sendo a Clostridium formiaceticum, Clostridium thermoaceticum, Acetobacterium
woodii e Eubacterium limosum;

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Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 32
1
 Arquéias metanogênicas: formam um grupo especial composto de várias espécies
com diferentes formas celulares. Obtêm energia para o crescimento e formação do metano
através de mecanismos ainda não inteiramente conhecidos. São estritamente anaeróbias e
somente se utilizam de substratos específicos. No entanto, estudos comprovaram a
sobrevivência de determinada espécie (Methanotrix) exposta a oxigênio puro, onde não só
cresceram como igualmente produziram CH4. De um modo geral, desenvolvem-se em
ambientes cujo potencial redox varia em torno de -300 mV. Considerou-se que o pH ideal
para o seu crescimento e produção, situa-se numa faixa de 6,8 a 7,2, podendo contudo
variar entre espécies. A temperatura situa-se na faixa de 15 a 40ºC para microrganismos
mesófilos e de 55 a 65ºC para as espécies termófilas. As necessidades nutricionais foram
consideradas bastante simples, com o crescimento ocorrendo em presença de amônia,
sulfetos ou cisteína como fontes respectivas de nitrogênio e enxofre.
Yang e Okos (1987) citam mais as espécies metanogênicas Methanosarcina
mazei e Methanobacterium soehngenii que usam o acetato como substrato.
Segundo Foresti apud Gomes (1989), as principais características das das
metanogênicas são:
 apresentam grande variedade de forma;
 crescem em H2, CO2, formiato, acetato e metanol;
 necessitam de ambiente fortemente redutores, com valores de Eh variando
entre -300 e -400 mV;
 utilizam NH4+ (íon amônio) como única fonte de nitrogênio;
 utilizam cisteínas e sulfetos como fonte de enxofre;
 possuem algumas coenzimas específicas como F420, Co-M e fator B;
 não apresentam ácido murânico na parede celular;
 com relação a parede celular, apresentam estrutura lipídica peculiar;
 constitui-se, filogeneticamente, no grupo mais antigo entre os procariotes.
 Bactérias redutoras de sulfatos: freqüentemente associadas com as
metanogênicas em meios anaeróbios, produzem acetato, H2 e sulfetos que são utilizados
pelas metanogênicas. Essa interação ainda permanece duvidosa e este grupo representa
papel importante no processo, tendo em vista que podem agir tanto como bactérias
acetogênicas favorecendo a metanogênese, ou como bactérias competitivas inibindo o
processo, dependendo das concentrações do sulfato. Resumindo, são responsáveis tanto
pela produção como pelo consumo de acetato.

3.6. Partes constituintes do projeto de engenharia

Um aterro sanitário é uma obra de engenharia, e como tal deve ter um projeto executivo que
deverá ser obrigatoriamente constituído das seguintes partes:

 memorial descritivo;
 memorial técnico;
 cronograma de execução e estimativa de custos;
 desenhos ou plantas;
 eventuais anexos.

O projeto deve desenvolvido por profissional devidamente registrado no CREA – Conselho


Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. Todos os documentos e plantas relativas
ao projeto devem ter assinatura e número de registro no CREA do profissional, com
indicação da Anotação de Responsabilidade Técnica – ART.

1
Na década de 70 dois cientistas propuseram uma nova classificação para os seres vivos. Esta nova
classificação os divide em três domínios: arquéias, bactérias e eucariotes. Arqueias e bactérias são procariotes,
mas possuem, por exemplo, composição de parede celular diferente. Algumas características das arquéias são
similares aos dos eucariotes. Neste domínio arqueia estão agora classificados os microrganismos
metanogênicos e aqueles que habitam ambientes extremos. Pois isso que neste Manual, estamos falando de
arquéias metanogênicas e não de bactérias metanogênicas. Para saber mais entre no sítio
http://en.wikipedia.org/wiki/Archaea#History_of_archaean_microbiology.

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Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 33

3.6.1. Memorial descritivo

Entende-se por memorial descritivo as prescrições do projeto do aterro no que se refere à


sua concepção, abrangendo a origem e composição dos resíduos a serem dispostos, uma
descrição do sistema de gerenciamento de resíduos do município, uma caracterização da
área de implantação do aterro, e detalhadas descrição e especificação dos elementos do
projeto e operação.

Segundo a norma brasileira NBR 8419/92, um memorial descritivo deve abranger as


seguintes partes:

a) informações cadastrais;
b) informações sobre os resíduos a serem dispostos no aterro sanitário;
c) caracterização do local destinado ao aterro sanitário;
d) concepção e justificativa do projeto;
e) descrição e especificações dos elementos do projeto;
f) operação do aterro sanitário;
g) uso futuro da área do aterro sanitário.

Todos os elementos do projeto (drenagem superficial, drenagem e tratamento de lixiviados,


impermeabilização inferior e superior, drenagem de biogás, e operação do aterro) devem ser
detalhadamente descritos no memorial descritivo, de modo que quem for implantar e operar
o aterro não tenha dúvidas quanto à forma e detalhamento a ser executado. Sugere-se que
a itenização do memorial descritivo seja a mesmo do memorial técnico, facilitando a
consulta dos responsáveis pela execução do aterro em campo.

3.6.2. Memorial técnico

Podemos denominar de memorial técnico o conjunto de cálculos e planos dos elementos


constituintes do projeto, ou seja, o memorial técnico deve conter (segundo a NBR 8419/92):

a) cálculo dos elementos de projeto (mostrando dados e parâmetros de projeto


utilizados, critérios, fórmulas e hipóteses de cálculo, justificativas e resultados);
b) vida útil do aterro (prazo de utilização);
c) sistema de drenagem superficial;
d) sistema de drenagem e remoção de lixiviados;
e) sistema de drenagem de biogás;
f) sistema de tratamento de lixiviados;
g) cálculo de estabilidade dos taludes de terra e do maciço do aterro (resíduos).

No item 3.7 deste Manual se apresenta o cálculo e definição dos principais elementos de
projeto de um aterro sanitário.

3.6.3. Cronograma de execução e estimativa de custos

Faz parte do projeto do aterro a apresenta-se de um cronograma físico-financeiro para a


implantação e operação do aterro sanitário.

A estimativa detalhada dos custos de implantação, operação e manutenção do aterro devem


conter, entre outros, os custos de:

a) equipamentos utilizados;
b) mão-de-obra empregada;

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Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 34
c) serviços utilizados;
d) materiais utilizados;
e) instalações e serviços de apoio.

3.6.4. Desenhos ou plantas

O projeto de aterro sanitário pode variar de um local para outro, dependendo das
características intrínsecas de cada local. Após a discussão e aprovação do projeto básico ou
lay-out procede-se ao traçado do projeto executivo. As seguintes plantas são necessárias:

a) planta de situação e localização (escala entre 1:1000 e 1:2000);


b) planta de concepção geral do aterro (1:1000 e 1:5000);
c) planta baixa do aterro, ou vista superior com indicação das áreas de deposição
dos resíduos sólidos (não inferior a 1:1000);
d) planta do sistema de drenagem superficial (não inferior a 1:1000);
e) planta do sistema de drenagem de lixiviados (não inferior a 1:1000);
f) planta do sistema de drenagem de gases (entre 1:200 e 1:1000);
g) planta do sistema de drenagem de água subterrânea (não inferior a 1:1000);
h) planta do sistema tratamento de lixiviados (entre 1:100 e 1:1000);
i) planta com representação do aterro sanitário concluído (não inferior a 1:2000);
j) detalhes dos sistemas de drenagem de lixiviados e de gases (entre 1:50 e 1:200);
k) detalhes do sistema de tratamento de lixiviados (entre 1:50 e 1:200);
l) detalhes da execução das células diárias de resíduos no aterro (entre 1:50 e
1:200);
m) perfis longitudinais e transversais (entre 1:200 e 1:1000);
n) detalhes das áreas de emergência (entre 1:200 e 1:1000);
o) outros detalhes necessários para a perfeita compreensão do projeto;
p) plantas baixas e detalhes das instalações de apoio (entre 1:50 e 1:200).

3.6.5. Anexos ao projeto executivo

Pode-se colocar como anexos ao projeto do aterro sanitário laudos e documentos que autor
julgar necessários ou importantes. A fim de ilustração, citam-se os seguintes possíveis
anexos:

a) licenças ambientais ou outras licenças (como, p.ex., a Licença Prévia do aterro);


b) certificado de propriedade ou titularidade da área;
c) cópia da publicação da Licença Prévia em jornal;
d) laudos geológico e hidrogeológico da área;
e) laudo de qualidade das águas anterior à implantação do aterro sanitário;
f) especificações técnicas de equipamentos ou materiais especiais;
g) ART – Anotação de Responsabilidade Técnica;
h) outros anexos.

3.7. Principais elementos de projeto

3.7.1. Sistema de drenagem superficial (pluvial)

O sistema de drenagem superficial ou de águas pluviais tem como objetivos a coleta e o


esgotamento das águas de chuva, de forma a evitar a ocorrência de erosões nos taludes e
no sistema viário, bem como o aumento da quantidade de percolados por infiltrações
superficiais. Este sistema de drenos retira tanto a água da chuva que cai sobre as áreas do
aterro sanitário já concluídas e cobertas, como as águas que vêm da bacia de contribuição
de montante do aterro (na escolha da área e projeto do aterro, este bacia de contribuição de

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 35
montante deve ser a menor possível).

O sistema de drenagem deverá ser composto por canais construídos em argila compactada,
solo revestido em concreto, meia-cana ou tubos de concreto. Estes terão a função de captar
as vazões de cada sub-bacia, criada com a conformação topográfica final do
empreendimento, e encaminhá-las para o talvegue. No caso de existirem declividades
elevadas no local, deverão ser adotadas medidas de redução da velocidade das águas,
como curvas de nível ou escadas d’água, evitando a ocorrência de processos erosivos.

O topo das células deverá apresentar uma conformação que possibilite a divisão das águas
pluviais, de forma que as escadas de dissipação não apresentem seções muito grandes,
que dificultem o acesso de máquinas e veículos ao local.

Cálculo da vazão de projeto

No dimensionamento da rede de drenagem das águas pluviais pode-se utilizar o Método


Racional, válido para pequenas bacias (área até 50 hectares):

Q = C.ic . A (3.1)

onde Q = vazão a ser drenada na seção considerada (m³/s);


C = coeficiente de escoamento superficial (% do V precipitado que escoa sup.);
ic = intensidade de chuva crítica (m/s), (quando t = tc);
A = área bacia ou sub-bacia de contribuição (m2).

O coeficiente de escoamento superficial é função do tipo de solo, da cobertura do solo, e da


declividade do terreno, e para o presente caso, pode ser obtido da Tabela 3.2.

Solo Arenoso Solo Argiloso


Tipo de cobertura
Declividade < 7% Declividade > 7% Declividade < 7% Declividade > 7%
Áreas com matas 0,20 0,25 0,25 0,30
Campos cultivados 0,30 0,35 0,35 0,40
Áreas gramadas 0,30 0,40 0,40 0,50
Solos sem cobertura
0,50 0,60 0,60 0,70
vegetal
Tabela 3.2 – Valores do coeficiente de escoamento superficial (Fonte: Rocca et al., 1993)

A intensidade da chuva crítica é a que causa maior vazão na seção considerada e tem
duração igual ao tempo de concentração (t = tc). Rocca et al. (1993) sugerem a seguinte
equação para cálculo da chuva crítica:

ic (t c , T ) =
1
tc
[(0,21. ln T + 0,52).(0,54.t c0, 25 − 0,50).P( 60,10) ] (3.2)

onde ic = intensidade da chuva crítica (mm/min);


tc = tempo de concentração (min);
T = tempo de retorno (anos) – usualmente usa-se 5 ou 10 anos;
P(60,10) = precipitação com duração de 60 minutos e período de retorno de 10 anos
(mm), já ocorrida. Valores para algumas localidades brasileiras estão na
Tabela 3.12 do Apêndice 3.B.

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 36
O tempo de concentração, que corresponde ao tempo que a gota de chuva que cai no ponto
mais distante da bacia de contribuição leva para chegar à seção considerada, pode ser
calculado por uma das seguintes fórmulas:

L (3.3)
t c = 5,3.3
I

0 , 385
 L3 
t c = 57.  (3.4)
H 

onde tc = tempo de concentração (min);


L = comprimento do talvegue máximo da bacia (km);
H = altura máxima do perfil longitudinal do talvegue máximo (m);
I = declividade média do talvegue máximo (m/m) – I = H / L.

Dimensionamento do canal de drenagem

Conhecida a vazão de projeto, o dimensionamento do canal pode ser feito através da


seguinte equação (Chezy-Manning):

1 2 1
Q= .S .Rh 3 .i 2
n (3.5)

Onde Q = vazão (m3/s);


n = coeficiente de rugosidade das paredes do canal (tabelado, ver tabela 3.3);
S = seção molhada – área da seção transversal ocupada pelo líquido (m2);
Rh = raio hidráulico da seção, S/Pm (m), onde Pm é o perímetro molhado;
i = declividade do canal (m/m).

Os valores de rugosidade de Manning (n) são apresentados na Tabela 3.3.

Material de revestimento do canal Coeficiente n


Concreto 0,013
Terra 0,025
Brita 0,030
Tabela 3.3 – Valores do coeficiente de rugosidade (Fonte: Rocca et al., 1993)

No caso de canais trapezoidais ou triangulares, a inclinação dos taludes depende da


material constituinte ou de revestimento. Para cada tipo de material também existem
velocidades de escoamento máximas admissíveis para se evitar a erosão dos canais. Na
Tabela 3.4 apresentam-se alguns desses valores.

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Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 37
Inclinação dos taludes em Velocidades máximas nos
Superfície do canal
seção trapezoidal (V : H) canais (m/s)
Solo arenoso 1 : 1,5 0,60
Solo siltoso 1 : 1,5 0,70
Solo argiloso 1 : 1,5 0,80
Argila rija 1:1 1,00
Cascalho fino ou brita 1:2 1,20
Pedregulhos ou cascalho grosso 1:2 1,60
Concreto 1:1 3,00
Tabela 3.4 – Inclinação dos taludes e velocidades máximas (Fonte: Rocca et al., 1993)

O dimensionamento dos canais, através da Equação 3.5, é um procedimento iterativo, onde


após definir o tipo de seção do canal, vai-se atribuindo dimensões ao mesmo e verificando
se as velocidades, para a vazão de projeto, ficam dentro dos limites estabelecidos na Tabela
3.4.

3.7.2. Sistema de impermeabilização

A construção de sistemas de impermeabilização em aterros objetiva impedir a infiltração de


águas da chuva através da massa de resíduos, após a conclusão da operação de
aterramento (impermeabilização superior) e garantir um confinamento dos resíduos e
lixiviados gerados, impedindo a infiltração de poluentes no subsolo e aqüíferos adjacentes
(impermeabilização inferior ou da base).

Um sistema de impermeabilização deve apresentar as seguintes características:

 estanqueidade;
 durabilidade;
 resistência mecânica;
 resistência a intempéries;
 compatibilidade com os resíduos a serem dispostos.

Os materiais mais utilizados para a impermeabilização em aterro são as argilas


compactadas e as geomembranas sintéticas. Também são utilizadas, principalmente nos
Estados Unidos da América as membranas duplas de geotêxtil com uma camada
intermediária fina de argila bentonítica.

Segundo Rocca et al. (1993) um solo argiloso, para ser considerado adequado como
impermeabilização de aterros, deve atender às seguintes características:

 ser classificado como CL, CH, SC ou OH, segundo sistema unificado de


classificação de solo (ASTM D2487-00);
 apresentar uma porcentagem maior do que 30 % de partículas passando pela
peneira no 200 da ASTM (Análise de Granulometria por Peneiramento e
Sedimentação conforme NBR 7181/84);
 apresentar limite de liquidez maior ou igual a 30 % (conforme NBR 6459/84);
 apresentar índice de plasticidade maior ou igual a 15 (conforme NBR 7180/84);
 apresentar coeficiente de permeabilidade inferior a 10-7 cm/s quando compactado.

Para atingir o grau de permeabilidade desejada, as camadas impermeabilizantes de argila


devem ser executadas com controle tecnológico de compactação, com as seguintes
características:

 camadas compactadas de no máximo 20 cm de espessura;


 umidade em torno da umidade ótima obtida no ensaio de compactação com Proctor

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 38
normal;
 densidade de no mínimo 95 % da densidade máxima obtida no ensaio de
compactação Proctor normal;
 coeficiente de permeabilidade de, no máximo, 10-7 cm/s.

Geomembranas são membranas sintéticas feitas de borracha e plásticos e são


comercializadas em diversas espessuras, texturas e materiais. Entre os polímeros
atualmente utilizados para a confecção de membranas flexíveis incluem-se os seguintes
tipos: borracha butílica; borracha da epiclorídrina (ECO); borracha de nitrila; borracha de
etilo-propileno (EPDM); elastômeros termoplásticos; neopreno (borracha de cloropreno);
cloreto de polivinila (PVC); polietileno de alta densidade (PEAD); polietileno clorado (CPE);
polietileno clorossulfonado (CSPE); poliolefinas elastificadas (ELPO); e terpolímero de
etileno-propileno (EPT).

Na seleção de uma membrana sintética para aterro sanitário, o material a ser utilizado deve
atender aos seguintes requisitos:

 resistir satisfatoriamente ao ataque de todos os produtos químicos aos quais estiver


exposto, assim como às radiações ultravioleta e aos microrganismos;
 apresentar resistência às intempéries para suportar os ciclos de umedecimento e
secagem e de frio e de calor;
 apresentar adequada resistência à tração e flexibilidade e alongamento suficientes
para suportar os esforços de instalação e de operação, sem apresentar falhas;
 resistir à laceração, abrasão e punção de qualquer material pontiagudo ou cortante
que possa estar presente nos resíduos;
 apresentar facilidade para execução de emendas e reparos me campo, sob
quaisquer circunstâncias.

Na tabela 3.5 apresenta-se as características, vantagens e desvantagens de algumas


geomembranas sintéticas.

Material Características Vantagens Desvantagens


Baixa permeabilidade a vapor Baixa resistência a solventes
Copolímero de
d’água e gás; estabilidade térmica; de hidrocarbonetos e óleos de
isobutileno com
Borracha butílica resistência a intemperismo e à petróleo.
pequenas quantidades
ozona; resistência à tração; ruptura Difícil para emendar ou reparar.
de isopreno.
e punção.
Borracha de Família de terpolímeros Resistência à ozona, radiação Não é recomendada para
etileno-propileno de etileno, propileno e ultravioleta, ao envelhecimento, à solventes de petróleo e
(EPDM) hidrocarbonato não abrasão, à ruptura e a absorção e solventes halogenados.
conjugado. penetração de água; tolerância aos Difícil para emendar ou reparar.
extremos de temperatura. Alta
flexibilidade; resistência a
concentrações diluídas de
ácidos,álcalis, silicatos, fosfatos e
salmoura.
Cloreto de Polímero do monômero Resistência à tração, punção, É atacada por muitos
polivinila (PVC) de cloreto de vinila. absorção e alongamento; boa orgânicos, incluindo
resistência a inorgânicos; facilidade hidrocarbonetos, solventes e
para emendar. óleos. Não é recomendada
para exposição às intempéries
e a à radiação ultravioleta.
Polietileno de ata Polímero termoplástico Resistência a óleos e solventes; Sujeita a rachaduras e a
densidade(PEAD) baseado em etileno. baixa permeabilidade a vapores de punção.
água e gás; resistência às Difícil para manusear em
intempéries e a altas temperaturas. campo.
Família de polímeros Resistência à ozona, ultravioleta, Baixa resistência à tração.
Polietileno resultantes da reação de intempéries e aos extremos de Baixa resistência a óleos.
clorossulfonado polieitileno com cloro e temperatura; resistência a ácidos e
(CSPE) dióxido de enxofre. álcalis; resistência à punção;
facilidade para emendar.

Tabela 3.5 – Características, vantagens e desvantagens de determinas geomembranas


sintéticas (Fonte: Rocca et al., 1993)
Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)
Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 39

Embora a permeabilidade das geomembranas seja muito baixa, elas não são totalmente
impermeáveis. Além disso, as mantas têm permeabilidade seletiva, ou seja, o coeficiente de
permeabilidade é diferente para gases e líquidos, e também é diferente para diferentes
líquidos. A título de ilustração apresentamos a capacidade de transporte de água
(permeabilidade à água) e de cresol (um composto orgânico aromático) das geomembranas
de PEAD e de PVC (Vidal, 2003):

 permeabilidade à água do PEAD – 1,2 x 10-8 m3/(m2.d) ou 1,4 x 10-11 cm/s


 permeabilidade à água do PVC – 1,8 x 10-6 m3/(m2.d) ou 2,1 x 10-9 cm/s

 permeabilidade ao cresol do PEAD – 2,6 x 10-6 m3/(m2.d) ou 3,0 x 10-9 cm/s


 permeabilidade ao cresol do PVC – 9,1 x 10-7 m3/(m2.d) ou 1,1 x 10-9 cm/s

Os geocompostos bentoníticos podem ser definidos como uma barreira hidráulica


geossintética que consiste de argila bentonítica sódica encapsulada por geotêxteis unidos
somente nas bordas ao longo de toda a sua superfície através de agulhamento ou
ponteamento; podendo também ser aderida à geomembrana por adesivos químicos. São
apresentadas em bobinas de largura e comprimento em torno de 5 e 50 m, respectivamente,
e geralmente usadas como alternativa em substituição à camada de argila compactada ou
como camada complementar em sistemas compostos por vários geossintéticos mais
camada de argila compactada.

Quando hidratada sob confinamento, a bentonita expande-se formando uma camada de


baixa permeabilidade, que funciona como proteção hidráulica similar a vários centímetros de
argila compactada. A permeabilidade do geocomposto bentonítico com espessura de 5 mm
é da ordem de 10-9 cm/s para aqueles encapsulados em geotêxtil, e de 10-12 cm/s para os
aderidos a geomembrana.

Impermeabilização inferior

A NBR 13896/97 prevê a necessidade de implantação de uma camada impermeabilizante


na base do aterro quando no local não houver um solo homogêneo com coeficiente de
permeabilidade inferior a 10-6 cm/s e uma zona não saturada com espessura superior a 3,0
m. Entretanto, o órgão ambiental licenciador pode exigir, e normalmente exige como no caso
da Fepam no Rio Grande do Sul, que seja construída esta camada inferior mesmo que o
solo local atenda ao especificado acima.

Esta camada impermeabilizante inferior deve:

 ser construída com materiais de propriedades químicas compatíveis com os


resíduos, com suficiente espessura e resistência, de modo a evitar rupturas devido
a pressões hidrostáticas e hidrogeológicas, contato físico com o lixiviado ou
resíduo, condições climáticas e tensões da instalação da impermeabilização ou
aquelas originárias da operação diária;
 ser colocada sobre base ou fundação capaz de suportá-la, bem como resistir aos
gradientes de pressão acima e abaixo da impermeabilização, de forma a evitar sua
ruptura por assentamento, compressão ou levantamento do aterro;
 ser instalada de forma a cobrir toda a área, de modo que o resíduo o lixiviado não
entre em contato com o solo natural.

Os sistemas de impermeabilização inferior podem ser simples, compostos ou duplos (ver


figura 3.1). Sistemas simples são construídos com apenas uma camada, geralmente de
argila compactada (também pode ser com somente uma camada de geomembrana). Os
sistemas compostos são construídos por duas camadas sobrepostas de diferentes

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 40
materiais, geralmente uma camada de argila compactada mais uma geomembrana
sobreposta, supondo-se uma perfeita aderência entre geomembrana e a argila. Um sistema
composto funcionada como uma única camada. Já os sistemas duplos são construídos
com duas camadas espaçadas por material drenante (geralmente o material drenante é
areia ou uma geomalha) que tem por finalidade detectar e coletar os líquidos ou gases que
porventura venham a passar pela camada impermeabilizante imediatamente acima. Cada
uma das duas camadas dos sistemas duplas pode ser simples ou composta.

A decisão de qual sistema de base adotar num projeto de aterro sanitário depende
fundamentalmente das condições do solo e hidrogeologia do local, do tipo (periculosidade)
dos resíduos a serem dispostos e do tamanho e importância do aterro.

Daniel (1993) sugere a seguinte prioridade em termos de eficácia dos sistemas: melhor
desempenho, sistema composto argila compactada e geomembrana; depois sistema
simples de argila compactada; e o pior desempenho o sistema simples somente com
geomembrana. O autor cita ainda que a eficácia em termos de vazamentos pela base do
aterro, a vazão por hectare é cerca de 100 vezes menor em sistemas compostos do que
sistemas simples de argila ou de geomembrana.

Quanto maior o aterro, em termos de volume útil total ou capacidade de recepção diária, e
quanto mais sensível ambientalmente for o local de implantação do aterro, maior devem ser
os cuidados do projetista. Neste caso, pode-se adotar sistemas compostos ou até duplos de
impermeabilização. Em muitos casos, o próprio órgão ambiental licenciador estabelece as
condições a serem adotadas por ocasião da emissão da Licença Prévia (LP).

Legenda:
Resíduos sólidos
Dreno de areia
Geomembrana
ou Argila compactada
Solo natural

(a) Simples (b) Composto (c) Duplos

Figura 3.1 – Sistemas de impermeabilização inferior (simples, composto e duplo)

Em locais ambientalmente favoráveis, com camada espessa de material de baixa


permeabilidade e com nível profundo de lençol freático, sistemas simples de
impermeabilização podem ser adotados. Quando sistemas simples são adotados, deve-se
sempre preferir a impermeabilização com argila compactada à colocação de uma camada
simples de geomembrana. Isto porque a camada mineral tem melhor desempenho e
resistência a longo prazo. Daniel (1993) cita um estudo de estanqueidade feito nos Estados
Unidos em 19 aterros reais com impermeabilização com geomembrana, tendo sido
verificado vazamento de lixiviados pela base nos 19 aterros avaliados.

Na figura 3.2 apresenta-se uma sugestão de sistema de impermeabilização inferior para


aterros sanitários com grande potencial de impacto ambiental.

A camada de geotêxtil (geossintético filtrante) que é mostrada na figura 3.2, quando


colocada sobre o dreno de brita, em aterros brasileiros que contêm alto teor de matéria

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 41
orgânica pode levar a colmatação biológica do geotêxtil. Por isso, nestes casos não se
recomenda a utilização deste material.

As normas brasileiras de aterros sanitários não exigem a instalação de geomembranas na


base. Entretanto, como já referido anteriormente, muitos órgãos ambientais têm feito esta
exigência para o licenciamento de aterro em condições específicas.

Uso de geotêxtil não é recomendado em aterro


sanitário (possibilidade de colmatação). Usa-se
Resíduo Sólido em aterros resíduos industriais perigosos.

Geotêxtil Base Gramatura (Gb)


Dreno de Brita Db
Impermeabilização da Base

Argila proteção mecânica Apm


PEAD (PEADb) mm

Argila compactada Ab1

Dreno segurança - Areia Dsb


Espessuras:

Argila compactada Ab2 Db = mínimo 30 cm


Apm = 20 a 30 cm
PEADb = 1; 1,5; 2 ou 2,5 mm
Ab1 = 60 a 100 cm
Variável
Dsb = 15 a 20 cm
Solo Natural
Ab2 = 60 a 100 cm

Figura 3.2 – Sistema de impermeabilização inferior

A NBR 13896/97 – Aterros de resíduos não perigosos: Critérios para projeto, implantação e
operação – apresenta uma aparente contradição quando por um lado condiciona em seu
item 5.2.1 a implantação da impermeabilziação inferior ao não atendimento das condições
naturais do terreno estabelecidos pela própria norma (em seu item 4.1.1-b). Quer dizer, se o
terreno natural apresentar permeabilidade inferior a 10-6 cm/s e uma zona não saturada com
espessura superior a 3,0 m, pela norma acima não é necessária impermeabilização artificial.
No entanto, no item 5.2.6 da mesma norma, diz que sob o sistema artificial de
impermeabilização inferior deve haver um sistema de detecção de vazamento de lixiviados.
Ora, como pode uma hora exigir um dreno de segurança ou dreno testemunha (como o
mostrado na figura 3.2) e outra hora prescindir até mesmo de um sistema de
impermeabilização? Na nossa opinião, a escolha do tipo de sistema a adotar depende do
tipo de terreno, do tamanho do aterro e da exigência do órgão ambiental.

Instalação (construção) da impermeabilização inferior

A construção da camada de base do aterro é uma das partes importantes e sensíveis de


toda obra. É esta camada, se bem executada, que impede a contaminação das águas
subterrâneas por lixiviados e gases. Além disso, em aterro de médio e grande porte é
praticamente impossível fazer qualquer reparo nesta camada se houver alguma ruptura.

A instalação desta camada começa com a terraplanagem do terreno, retirando a vegetação,


rochas e outros materiais e deixando o terreno no greide definido pelo projeto. Nas figuras
3.3.a e 3.3.b pode-se ver trabalhos de terraplanagem de regularização do fundo de um
aterro sanitário. Em 3.3.a, ao fundo, vê-se a regularização do talude com argila para
posterior colocação da geomembrana; e em 3.3.b, o solo escavado é transportado para um

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Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 42
depósito provisório para posterior uso como material de cobertura.

Uma vez feita a terraplanagem, inicia-se a construção da camada de impermeabilização


inferior propriamente dita. A argila é espalhada no local, homogeneizada e compactada com
a utilização de equipamento de construção rodoviária como arados de discos,
compactadores pé-de-carneiro e trator-de-esteiras (ver figura 3.4). Em pequenos aterros, a
compactação pode ser feita manualmente ou com equipamento conhecido com “sapo
mecânico”. A compactação da argila deve ser feita em camadas não superiores a 25 cm de
espessura, na umidade ótima. Se argila estiver muito úmida, um arado de discos pode ser
utilizado para revolver o material a acelerar sua secagem. Este procedimento também é
utilizado para fazer a “conexão” entre as sucessivas camadas compactadas de argila.
Quando o material estiver abaixo da umidade ótima, deve-se fazer a aplicação de água
limpa com caminhão ou tanque pipa.

(a) (b)

Figura 3.3 – Terraplanagem em aterro (Aterro Sanitário da Extrema, Porto Alegre)

1a camada de
argila compactada

Solo natural

(a) (b)

Figura 3.4 – (a) Espalhamento e (b) compactação por rolo pé-de-carneiro das camadas de
argila (Aterro Sanitário da Extrema, Porto Alegre)

Caso o aterro tenha camada de impermeabilização composta, isto é, geomembrana


sobreposta a uma camada de argila, a superfície sobre a qual a geomembrana vai ser
disposta deve estar seca, lisa e livre de torrões de argila, pedras, raízes e qualquer outro
material orgânico. Preferencialmente a geomembrana deve ser instalada nas horas do dia
de temperaturas mais amenas, devendo-se evitar temperaturas muito extremas, devido às
dilatações que causam nas membranas. Nas figuras 3.5.a e 3.5.b pode-se ver a instalação
da geomembrana em campo, num sistema composto de impemeabilização de argila
compactada e manta de PEAD.

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Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 43

(a) (b)

Figura 3.5 – (a) Colocação da geomembrana de PEAD sobre camada de argila


compactada e (b) patamar impermeabilizado com PEAD
(Aterro Sanitário da Extrema, Porto Alegre)

Um detalhe importante a ser observado é que para uma maior eficácia do sistema composto
argila e geomembrana é que estes dois materiais devem ser justapostos de modo a se ter
um bom contato hidráulico (muitas vezes chamado de contato íntimo). Desta forma,
eventuais falhas na geomembrana, ou mesmo na camada de argila, terão menor
probabilidade de resultarem em vazamentos de líquidos ou gases pela base do aterro (ver
figura 3.6).

Adequado Não Recomendado

Defeito Geomembrana Defeito

Contato íntimo

Solo de alta permeabilidade


Vazamento limitado (areia) ou geotêxtil Vazamento extensivo

Argila compactada
de baixa permeabilidade

Figura 3.6 – Projeto adequado de sistema composto de impermeabilizacão com contato


íntimo entre geomembrana e a argila compactada (Adaptado de Daniel, 1993)

De modo a evitar escorregamento ou ação do vento sobre a geomembrana, esta deve ser
firmemente ancorada nas bordas superiores dos taludes do aterro sanitário. A canaleta de
ancoragem (ver figura 3.7) deverá ser escavada de acordo com as dimensões previstas no
projeto, e o reaterro deverá ser feito cuidadosamente para evitar danos a geomembrana.
Como material de reaterro pode-se utilizar o próprio solo escava ou concreto.

Com o objetivo de proteger a geomembrana de danos que possam ser causados pela
colocação do sistema de drenagem (brita) ou mesmo dos resíduos sólidos (materiais
pontiagudos e cortantes), uma camada de proteção mecânica deverá ser colocada sobre a
geombrana. Esta camada, com cerca de 20 a 30 cm de espessura, poderá ser de qualquer
solo, não sendo necessário que seja argila, uma vez que a sua função não é de
impermeabilização, mas de proteção. Esta camada de solo também evita que a
geomembrana fique exposta à ação da temperatura e dos raios solares. Na figura 3.8
mostra a colocação desta camada de proteção mecânica.

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Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 44

Figura 3.7 – Dimensões mínimas da canaleta de ancoragem (Fonte:Vidal, 2004)

(a) (b)

Figura 3.8 – (a) Colocação e (b) nivelamento da camada de proteção mecânica da


geomembrana (Aterro Sanitário da Extrema, Porto Alegre)

Impermeabilização superior (cobertura final)

Sistemas de cobertura final são diferentes de sistema de impermeabilização da base por


que eles promovem uma barreira para a água e não para o lixiviado. A resistência química
requerida para a cobertura é, portanto menor que a requerida para sistemas de base.
Entretanto, sistemas de cobertura são mais suscetíveis a questões de durabilidade e
exposição a elementos, como a ressecamento da argila, erosão, escavação por animais, e
penetração de raízes. Também, devido à alta compressibilidade dos resíduos urbanos, os
sistemas de cobertura devem ser suficientemente flexíveis para resistir aos danos causados
por potenciais grandes adensamentos diferenciais.

Os critérios de projeto para um sistema de cobertura final devem ter por objetivo:

 minimizar a infiltração da água da chuva para dentro do aterro sanitário;


 promover uma boa drenagem superficial;
 resistir à erosão;
 restringir a migração do biogás ou melhorar a sua recuperação energética;
 separar os resíduos dos vetores como animais, insetos e roedores;
 melhorar o aspecto estético e paisagístico;
 minimizar a manutenção de longo prazo;
 por fim, proteger a saúde humana e o meio ambiente.

Na figura 3.9 apresenta-se uma proposta de configuração de sistema de cobertura final. A


camada de argila deverá ter uma espessura entre 50 e 60 cm, e ser compactada até uma
permeabilidade da ordem de 1 x 10-5 cm/s. No entanto, mesmo com uma compactação, a
camada de cobertura com argila está suscetível a fissuramento devido a recalque diferencial

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Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 45
da massa de resíduos que está abaixo. Neste caso, pode ser indicada a utilização de
barreiras mais flexíveis, como as camadas compostas de argila e geomembranas.

Solo cobertura Sc
Cobertura

Argila cobertura Ac

PEAD (PEADc) mm
Dreno areia - Gas Dc
Geotextil Cobertura Gramatura (Gc)

Resíduo Sólido

Figura 3.9 – Componentes básicos de sistemas de cobertura final

Sharma e Lewis (1994) colocam que as geomembranas utilizadas em cobertura de aterros


devem ser flexíveis, ter alta resistência ao puncionamento, resistência ao cisalhamento, e
ser duráveis frente às condições as quais são expostas. Os autores citam que, se um lado
as geomembranas de PEAD são mais utilizadas para impermeabilização inferior, em
sistemas de cobertura são utilizadas as geomembranas de PEMBD – polietileno de muito
baixa densidade – e de PVC, por sua flexibilidade a boa resistência à punção. A espessura
mínima recomendada para a geomembrana de cobertura é de 0,5 mm.

Para evitar o ressecamento e danos à camada de argila deve ser prevista uma cobertura
com solo vegetal. Esta camada de solo vegetal favorece um maior escoamento superficial e
protege contra a erosão. A vegetação a ser colocada deve ser resistente, auto suportada,
densa o suficiente para minimizar a erosão, e possuir raízes que não penetrem a camada de
baixa permeabilidade (camada de argila). Sugere-se que gramíneas de raízes radiais sejam
plantadas; e que seja evitado o plantio ou crescimento natural de espécies com raízes
pivotantes e profundas. A espessura desta camada vegetal deverá ser da ordem de 20 a 30
cm, com uma declividade entre 3 a 5 %.

Quando for utilizada camada de cobertura composta (argila + geoemembrana) é importante


que logo abaixo desta dupla camada seja instalado um dreno horizontal de biogás; com
espessura de 15 a 20 cm. Este dreno terá a função de captar os gases formados pela
decomposição dos resíduos e conduzi-los até os drenos verticais de gases. Caso seja
utilizada camada composta de cobertura sem colocação deste dreno, a pressão do gás
poderá gerar pontos localizados de elevada pressão de biogás no interior do aterro,
resultando em bolhas de gás, que podem causar elevação da camada de cobertura, ruptura
da camada, ou até instabilidade geotécnica do aterro. Em aterros energéticos, ou seja, onde
se deseja fazer a aproveitamento do biogás, ou a obtenção de créditos de carbono, para
maximizar o aproveitamento do biogás gerado, a camada composta de cobertura também
deve ser a preferida pelo projetista.

Em qualquer aterro, a camada mínima de cobertura deverá ter 50 cm de argila compactada


e uma cobertura de solo vegetal de 20 cm. Lange et al. (2006) apresentam a avaliação da
utilização de materiais alternativos para cobertura de aterro sanitário. Entre os materiais
avaliados citem-se os lodos de ETA e de ETE, a areia de fundição e os entulhos da
construção civil.

Na figura 3.10 apresenta-se um esquema de impermeabilização inferior e superior de aterro


sanitário com a utilização intensiva de geossintéticos.

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Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 46

Figura 3.10 – Sistema de impermeabilização inferior e superior com uso intensivo de


geossintéticos (Fonte: Daniel e Koerner, 1995)

3.7.3. Sistema de drenagem de lixiviados

Geração do lixiviado

Existe na literatura de língua portuguesa uma grande divergência acerca de qual


nomenclatura é adequada para expressar e denominar o líquido que emana dos aterros
sanitários. O termo na língua inglesa leachate é apresentado como sinônimo de lixiviate,
assim como o verbo leach é traduzido como lixiviar. No dicionário de termos técnicos de
Saneamento Ambiental – CETESB (1985), leachate é traduzido como chorume de resíduos
sólidos, leaching como lixiviação e remoção de material solúvel pela passagem de água.

Na comunidade científica tem-se empregado vários termos para tradução de leachate:


chorume, lixiviado, percolado, líquidos lixiviados e líquidos percolados. Luz (1983) apud
Lima (1995) define chorume como o líquido proveniente de três fontes principais: umidade
natural dos resíduos sólidos; água de constituição dos vários materiais, que sobra durante a
decomposição; e líquido proveniente da dissolução de materiais orgânicos pelas enzimas
expelidas pelas bactérias.

No entanto, os líquidos que chegam ao fundo do aterro provêm fundamentalmente de águas


que infiltram nos locais de disposição, tanto águas da chuva como outras infiltrações. Em
função disso, segundo Gomes (1995), muitos pesquisadores preferem os termos percolado
ou líquidos percolados, elegendo o termo chorume apenas para denominar o resultado da
atividade hidrolítica microbiana na degradação dos resíduos.

Wu et al. (1988) descrevem o lixiviado como o produto derivado da hidrólise dos compostos
orgânicos e da umidade do sistema, com características que variam em função do tipo de
resíduos sólidos, da idade do aterro, das condições meteorológicas, geológicas e
hidrológicas do sítio de disposição. Em geral, o lixiviado possui elevada carga orgânica,
fontes de nitrogênio, como a amônia, metais pesados e grupos microbianos.

Neste Manual, optou-se pelo termo lixiviado, uma vez que, na prática, seria impossível
distinguir as diferentes fontes de água dentro dos aterros sanitários. Além disso, o termo
caracteriza melhor os processos físicos e químicos ligados ao fenômeno de geração deste
Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)
Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 47
líquido, como a infiltração e percolação das águas pluviais e o arraste, ou lixiviação, dos
compostos solúveis do interior da massa de resíduos.

Entre os vários fatores que influenciam o volume de lixiviado gerado, destacamos os


seguintes:

 clima local (regime de precipitações pluviométricas, temperatura, velocidade e


direção dos ventos, umidade relativa do ar);
 tipo de cobertura dos resíduos (material, espessura, periodicidade);
 umidade dos resíduos no momento do aterramento;
 grau de compactação dos resíduos;
 capacidade dos resíduos em reter umidade;
 infiltrações subterrâneas (no caso de não haver impermeabilização inferior).

Para estimar a vazão de lixiviado gerado, os métodos mais utilizados são os embasados no
balanço hidrológico, existindo para tanto grande número de equações baseadas em
múltiplos modelos analíticos para quantificar os processos hidrológicos envolvidos. Um
exemplo de equação para balanço hídrico em aterros sanitários é apresentada abaixo (Lu et
al. (1985) apud Sharma e Lewis (1994)):

L = WP + WSR + WIR + WD + WGW − R − E − ∆S S − ∆S R (3.6)

onde: L = geração de lixiviado;


WP = entrada devido à precipitação;
WSR = entrada de água pluvial de fora do aterro;
WIR = entrada de irrigação ou recirculação;
WD = contribuição de água devido à decomposição dos resíduos;
WGW = infiltração pela base;
R = escoamento superficial;
E = evapotranspiração;
∆SS = variação da umidade armazenada no solo de cobertura;
∆SR = variação da umidade armazenada nos resíduos sólidos.

A equação 3.6 é uma das mais completas encontradas na literatura. Alguns dos parâmetros
desta equação podem ser desprezíveis, como WD; ou até mesmo iguais a zero, como WGW,
nos modernos aterros com impermeabilização inferior.

O Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos desenvolveu um modelo


computacional com base no balanço hídrico chamado de Modelo Hidrológico de Avaliação
da Performance de Aterros (HELP), que teve sua Versão 3 lançada em 1994, e é o modelo
mais utilizado atualmente (Peyton e Schroeder, 1993; Sharma e Lewis, 1994; Fleenor e
King, 1995).

Em aterros menores e mais simples ou na falta de dados para aplicação dos modelos de
balanço hídrico, metodologias simplificadas podem ser empregadas. Um delas é o Método
Suíço, descrito por Rocca et al. (1979), que estima a vazão de lixiviado de acordo com a
seguinte expressão:

1
Q = • P• A• K (3.7)
t

onde: Q = vazão média de lixiviado (L/s);


P = precipitação média anual (mm);
A = área do aterro (m2);
t = número de segundos em um ano (s);

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Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 48
K = coeficiente que depende do grau de compactação dos resíduos, com valores
recomendados a partir da observação experimental (ver tabela 3.6).

Peso específico dos resíduos no aterro K (adimensional)


3
0,4 a 0,7 t/m (pouco compactados) 0,25 a 0,5
3
> 0,7 t/m (bem compactados) 0,15 a 0,25
Tabela 3.6 – Fator K para aterros sanitários (Fonte: Rocca et al., 1993)

A utilização do Método Suíço para estimativa da vazão de lixiviados de um aterro resulta em


valores bastante confiáveis. Na verdade, a confiabilidade do resultado alcançado é função,
basicamente, da experiência do projetista na adoção ou definição do coeficiente K. Embora
na tabela 3.6 acima este coeficiente seja apresentado apenas em função do nível de
compactação dos resíduos no aterro, o tipo, espessura e integridade da camada de
cobertura final tem grande contribuição na definição deste coeficiente.

Dimensionamento dos drenos de lixiviado

O sistema de drenagem tem por objetivo coletar e remover o mais rapidamente possível os
lixiviados gerados do interior do aterro sanitário.

A segunda a norma brasileira, um sistema de drenagem de coleta e remoção de lixiviados


deve ser:

 instalado imediatamente acima da impermeabilização;


 dimensionado de forma a evitar a formação de uma lâmina de líquido lixiviado
superior a 30 cm sobre a impermeabilização;
 construído de material quimicamente resistente ao resíduo e ao líquido lixiviado, e
suficientemente resistente a pressões originárias da estrutura total do aterro e dos
equipamentos utilizados na operação;
 projetado e operado de forma a não sofrer obstruções durante o período de vida útil
e pós-fechamento do aterro.

Os drenos de lixiviados podem ser construídos na forma de colchão drenante, isto é,


cobrindo tudo o fundo do aterro, ou na forma de linhas de drenos. Na figura 3.11.a mostra-
se um detalhe de implantação de um dreno tipo colchão drenante em segundo plano e um
sistema de drenos em linhas em primeiro plano. Na figura 3.11.b vê-se o detalhe do colchão
drenante de brita (notar a espera para colocação dos drenos de gases).

Colchão drenante de brita

Colchão drenante
Espera dreno de gás
Linhas de drenos de brita

(a) (b)

Figura 3.11 – Sistema de drenagem de lixiviados (a) tipo colchão drenante e (b) tipo drenos
em linha (Aterro Metropolitano Santa Tecla, Gravataí, RS)

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 49
A rede de drenagem de lixiviados pode ter várias configurações em planta, sendo que a
opção a ser adotada no projeto depende fundamentalmente da topografia do local e da
geometria do projeto do aterro. Na figura 3.12 mostra-se algumas possíveis configurações.
Além de cobrir o fundo do aterro, os drenos devem também abranger parte dos taludes.

2% 2% 2% 2%
2%

2%

2 a 3:1 2 a 3:1

2% 2%
2%

2%
2%

2 a 3:1 2 a 3:1

Legenda: caixa de junção de drenos ou saída ou de bombeamento

Figura 3.12 – Planta baixa de vários sistemas de remoção de lixiviados

Em todos os sistemas mostrados na figura 3.12 o lixiviado flui por gravidade para as áreas
de acúmulo ou pontos de saída (identificados com um círculo branco na figura acima), onde
algum sistema de remoção é instalado. Algumas dessas opções de saída são:

 poço de visita que sobe através dos resíduos (e da cobertura final) para a remoção
por bombeamento do lixiviado;
 tubulação colocada sobre o talude impermeabilizado chegando até o local de
acúmulo;
 tubulação inclinada que passa através do talude e faz a descarga em ponto fora da
célula do aterro (normalmente feito por gravidade sem necessidade de bombas).

Sempre que possível, deve-se optar por fazer a descarga ou retirada do lixiviado do interior
do aterro sem a utilização de bombas, uma vez que o uso desse tipo de equipamento
sempre corresponde a uma fragilidade do sistema e leva a possibilidade de falhas. Quando
a impermeabilização inferior for feita com geomembrana, cuidados especiais devem ser
tomadas na passagem da tubulação de saída de lixiviados por esta camada. Na figura 3.13
pode-se ver um sistema de passagem adotado nestes casos.

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 50

Figura 3.13 – Detalhe de passagem de tubo com geomembrana (Fonte: Vidal, 2004)

O dimensionamento do dreno, quando for utilizada tubulação perfurada (ver figura 3.14.a),
pode ser feito través da equação 3.5 (mesma metodologia apresentada para drenagem das
águas pluviais). Quando for utilizado este tipo de drenagem recomenda-se a utilização de
tubos de PEAD que tem grande resistência química. Os tubos de concreto perfurados são
atacados pelo H2S gerado na decomposição anaeróbia dos resíduos, e podem se
desintegrar completamente.

Na Brasil, se utiliza muito os chamados drenos cegos (ver figuras 3.14.b e 3.14.c), ou seja,
drenos com seção sem tubo circular, somente com brita como meio drenante. Nestes casos,
a Lei de Darcy pode ser utilizada, adotando-se o gradiente hidráulico como sendo igual a
declividade do dreno.

Q = K ⋅i ⋅ A (3.8)

onde Q = a vazão de projeto para a seção do dreno de lixiviado considerada (m3/s);


K = coeficiente de permeabilidade do meio drenante (brita), conforme Tab. 3.7 (m/s);
i = declividade do dreno no trecho considerado (m/m);
A = área de contribuição do aterro para o dreno considerado (m2).

Da equação 3.8 isola-se A e calcula a área da seção transversal do dreno:

Q
A= (3.9)
K ⋅i

Com seção transversal do dreno calculada conforme a equação 3.9, defini-se a forma da
seção (normalmente retangular ou trapezoidal) e calculam-se suas dimensões (ver alguns
cortes típicos de seções de drenos de lixiviados na figura 3.14). Em drenos escavados em
argila (na base) ou na camada de resíduos (em drenos intermediários), a largura mínima
normalmente é de 40 cm (corresponde a largura das conchas de escavação de retro-
escavadeiras e é a largura mínima para a descida de um operário na vala).

Para permitir melhores condições de escoamento do lixiviado as declividades dos drenos


devem ficar acima de 1 ou 2 % (1 < i < 2 %, ou seja, 0,01 < i < 0,02 m/m).

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 51

O material de preenchimento do dreno preferencialmente deve ser feito com brita de rocha
magmática (granito ou basalto) por sua maior resistência, e com a utilização de britas 3, 4
ou 5. A porosidade desta britas varia de 40 a 50 %.

Material ou meio drenante Permeabilidade K (m/s)


o
Brita n 5 (até 75 – 150 mm) 1,0
o
Brita n 4 (até 50 – 75 mm) 0,8
o
Brita n 3 (até 38 – 50 mm) 0,45
o
Brita n 2 (até 25 – 38 mm) 0,25
o
Brita n 1 (até 19 – 25 mm) 0,15
o
Brita n 0 e Pedrisco (até 9,5 – 19 mm) 0,05
-3
Areia grossa (até 4,8 – 6,3 mm) 0,01 a 10
Tabela 3.7 – Coeficiente de permeabilidade K para alguns meios
drenantes (Fonte: Rhodia, 1991)

O regime do escoamento em drenos de brita verifica-se, em geral, na faixa de transição


entre o regime laminar, onde vale a Lei de Darcy, e o regime turbulento (Rocca et al,. 1993).
Nesta faixa, o número de Reynolds situa-se entre 1 e 3.000 (1 < Re < 3.000), devendo-se
utilizar o modelo de Wilkins, segunda a equação abaixo:

V = 52,45 ⋅ p ⋅ Rh0,5 ⋅ i 0,54 (3.10)

sendo que Rh é igual a:

p ⋅ Ds
Rh = (3.11)
6 ⋅ (1 − p )

onde V = velocidade média de percolação (cm/s);


i = declividade do dreno (m/m);
Rh = raio hidráulico do meio poroso considerado (cm);
p = porosidade da brita (0,4 < p < 0,5);
Ds = diâmetro equivalente (cm).

A equação 3.10 pode ser escrita, também, da seguinte forma:

V = C v ⋅ i 0,54 (3.12)

onde C v = 52,45 ⋅ p ⋅ Rh0,5 , cujos os valores estão mostrados na tabela 3.8.

Diâmetro Diâmetro Rh (cm) Cv (cm/s)


o
Brita n nominal equivalente p (porosidade) p (porosidade)
(cm) (cm) 0,4 0,45 0,5 0,4 0,45 0,5
2 2,0 1,52 0,17 0,21 0,25 8,63 10,75 13,21
3 2,5 1,91 0,21 0,26 0,32 9,65 12.02 14,77
4 5,0 3,80 0,42 0,52 0,63 13,62 16,98 20,86
5 7,5 5,46 0,61 0,74 0,91 16,33 20,35 25,00
Tabela 3.8 – Valores de Cv para rochas britadas (Fonte: Rocca et al., 1993)

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Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 52

Após o cálculo da velocidade V, é conveniente verificar se o número de Reynolds ficou


dentro da faixa de validade de equação de Wilkins (1 < Re < 3.000), sendo que:

V ⋅ Ds
Re = (3.13)
6 ⋅ δ ⋅ (1 − p )

onde δ = coeficiente de viscosidade cinemática considerado igual a 1,01 x 10-2 cm2/s.

Além disso, é necessário verificar se a velocidade de escoamento no dreno de brita ficou


abaixo da velocidade máxima para canais com pedregulhos ou cascalho grosso, que é de
1,6 m/s (Tabela 3.4).

Como segurança para compensar possíveis reduções na seção transversal do dreno devido
a problemas de colmatação física ou biológica, ou até mesmo de deslocamentos ou
recalques diferenciais, a seção deve majorada por um coeficiente de segurança no mínimo
igual a 2.

Dreno com tubo perfurado Dreno cego trapezoidal Dreno cego retangular

Brita

Brita

Tubo
perfurado

(a) (b) (c)


Figura 3.14 – Detalhes de seções transversais de drenos de lixiviados no interior do dreno

O espaçamento entre drenos, quando utilizado um dos esquemas de drenagem da figura


3.12 é calculado para que a altura da lâmina líquida de lixiviados sobre a base do aterro não
ultrapasse a altura máxima (hmax) desejada, por exemplo, os 30 cm estabelecidos pela NBR
13896/97. Neste caso, de acordo com Daniel (1993) a seguinte equação pode ser utilizada
para espaçamento de drenos como os da figura 3.15:

2 ⋅ hmax
L= (3.14)
 tan 2 φ   tan φ 
c ⋅   + 1 −  ⋅ tan 2 φ + c 
 c   c 

onde L = espaçamento entre drenos de lixiviados (m);


hmax = altura máxima da lâmina de lixiviado entre drenos adjacentes (m);
ø = ângulo de declividade entre os drenos (graus);
c = q/k (adimensional);
q = intensidade de infiltração/percolação (ou vazão específica) (m3/m2.s);
k = condutividade hidráulica (permeabilidade) dos RSU compactados (m/s).

A permeabilidade dos resíduos compactados no aterro apresenta grande variabilidade,


sendo função do tipo de resíduos dispostos; do grau de compactação inicial do aterro; da
altura do aterro (influi no grau de compactação na base); e do grau de estabilização ou
idade do aterro. No entanto, valores entre 10-3 e 10-4 cm/s são os mais comuns em aterros
no Brasil (Barros, 2004) e podem ser adotados para projeto.

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 53

Percolação do
lixiviado (q)

RSU


hmax
Dreno
Argila
Φ

L = espaçamento entre drenos

Geomembrana
impermeabilização inferior (a)

Percolação do
lixiviado (q)

Geomembrana ▼ RSU
impermeabilização inferior Dreno
hmax

Argila

L = espaçamento entre drenos

(b)
Figura 3.15 – Ilustração da lâmina de lixiviados que ocorre entre drenos:
(a) declividade uniforme entre os drenos; (b) crista (“divisor de
águas”) entre os drenos (Adaptado de Daniel, 1993)

3.7.4. Sistema de drenagem de gases

Composição do biogás

Um aterro sanitário pode ser entendido como um reator bioquímico, sendo os resíduos
sólidos é a água as maiores entradas, e tendo como principais saídas o gás de aterro (ou
biogás) e o líquido lixiviado. O material armazenado no aterro inclui matéria orgânica
parcialmente biodegradada e os outros materiais inorgânicos inicialmente colocados no
aterro sanitário.

A geração de metano (o denominado “gás dos pântanos”) resultante da decomposição


anaeróbia da matéria orgânica é um fenômeno presente na natureza ao longo dos tempos.
O biogás foi utilizado para aquecer água de banho na Assíria no século X a.C. e na Pérsia
durante o século XVI (www.biogasworks.com). Com o avanço da pesquisa científica, no

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 54
século XVII, Jan Baptista Van Helmont associou a geração de um gás inflamável com o
decaimento da matéria orgânica. Também Alessandro Volta, em 1776, mostrou que havia
uma relação entre a quantidade de decaimento da matéria orgânica e a quantidade de gás
inflamável produzido. Em 1808, “Sir” Humphry Davy demonstrou a produção de metano a
partir da digestão anaeróbia de esterco bovino (Lusk, 1997 apud Verma, 2002).

O biogás de aterro é composto por alguns gases que estão presentes em grandes
concentrações (os gases principais) e outros gases presentes em concentrações muito
baixas (os gases traços). Os gases principais são gerados pela decomposição da fração
orgânica dos resíduos urbanos. Alguns dos gases traços, também presentes em pequenas
concentrações, podem ser tóxicos e podem causar risco à saúde humana.

Os constituintes típicos do biogás de aterro sanitário são mostrados na tabela 3.9.

Componente Porcentagem (base volume seco)


Metano (CH4) 45 – 60
Dióxido de carbono (CO2) 40 – 60
Nitrogênio (N2) 2–5
Oxigênio (O2) 0,1 – 1,0
Gases de enxofre, mercaptanas, etc. 0 – 1,0
Amônia (NH3) 0,1 – 1,0
Hidrogênio (H2) 0 – 0,2
Monóxido de carbono (CO) 0 – 0,2
Constituintes traços 0,01 – 0,6
Tabela 3.9 – Constituintes típicos de biogás de aterro sanitário
(Fonte: Tchobanoglous et al., 1993)

As variações observadas na concentração dos gases de aterro sanitário são atribuídas às


diferenças de composição dos resíduos e ao estágio dos processos de decomposição
destes. Castilhos Jr. et al. (2003) citam que em um estudo que analisou gases de dez
aterros sanitários foi detectada a presença de organoclorados em concentrações próximas
de 250 mg/m3 em sete dos aterros. No mesmo estudo o composto mais tóxico encontrado
no biogás foi o cloroeteno.

O metano, principal componente do biogás, é um hidrocarboneto alifático (alcano)


constituído por um átomo de carbono e quatro átomos de hidrogênio, cuja molécula e
simétrica e apolar, portanto insolúvel em água. O gás metano é incolor, inodoro e insípido; e
não é tóxico. Na tabela 3.10 são apresentadas as principais propriedades físicas do gás
metano.

Propriedade Valor Unidade


Massa molar 16 g
Densidade específica 0,554 kcal/mol
3
Peso de gás seco 645 g/m
Peso do gás liquefeito 350 g/L
Inflamabilidade no ar 5 a 15 % em volume
3
Poder calorífico 8.900 a 9.700 kcal/m
o
Temperatura de ignição espontânea 573 C
o
Solubilidade em água a 20 C 3,38 % em volume de gás
o
Ponto de ebulição -116,7 C
Tabela 3.10 – Principais propriedades físicas do gás metano (Fonte: Castilhos Jr. et al., 2003)

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 55

Geração de biogás

O biogás é produzido a partir da bioestabilização da matéria orgânica. Poucos dias depois


da cobertura das camadas de resíduos, o oxigênio desaparece da célula de resíduos e as
condições anaeróbias se instalam. É aí que começam as transformações biológicas, já
descritas no subitem 3.5 deste Manual, e que refletem tanto na evolução quantitativa e
qualitativa do biogás quanto do lixiviado.

A geração de biogás em aterros sanitários é afetada por diversas variáveis, entre quais se
pode citar:

 natureza dos resíduos;


 umidade presente nos resíduos e no interior do aterro;
 tamanho das partículas dos resíduos;
 potencial hidrogeniônico (pH);
 temperatura;
 nutrientes;
 capacidade tampão;
 taxa de oxigenação (entrada de ar no aterro).

Durante a primeira fase de vida do aterro, o meio torna-se ácido, e por um curto período de
tempo o gás produzido é constituído principalmente por hidrogênio. Em seguida, depois de
um período de latência, cuja duração depende fortemente das condições locais (umidade,
temperatura, compactação, entre outras), e onde a produção de gás é mínima e este é
constituído quase inteiramente por gás carbônico, uma flora metanogênica estável se
instala. A partir daí, a exalação de biogás torna-se regular e sua composição se estabiliza
em torno dos valores típicos (aproximadamente 45% de CO2 e 55% de CH4). Este período
pode durar vários anos, diminuindo depois progressivamente, na medida que a matéria
orgânica for sendo estabilizada (ver figura 3.16). Todavia, a relação entre metano e gás
carbônico permanecerá constante por muito tempo ainda.

Figura 3.16 – Alteração na composição do biogás de aterro sanitário nas


diferentes fases da digestão anaeróbia (Fonte: HMSO, 1995)

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 56

A produção máxima de metano pela digestão anaeróbia pode ser prevista


estequiometricamente a partir da seguinte equação (Tchobanoglous et al., 1993):

CaHbOcNd + (a-b/4-c/2+3d/4)H2O → (a/2+b/8-c/4-3d/8)CH4 + (a/2-b/8+c/4+3d/8)CO2 + dNH3 (3.15)

Na equação (3.15) CaHbOcNd representa a composição elementar do substrato degradável


anaerobiamente. C68H111O50N pode ser usado para descrever a fração facilmente
biodegradável dos resíduos sólidos urbanos; e para a fração difícil ou lentamente
biodegradável, pode-se usar C20H29O9N.

A taxa de geração de biogás em um sistema anaeróbio conforme modelo de Simpson


(1960) apud Lima (1995) é dada por:

dy
= K ⋅ (G − Y ) (3.16)
dt

onde: dy/dt = taxa de produção de biogás (Nm3/d);


Y = total de biogás produzido no tempo t (Nm3);
G = total global de gás gerado no processo (Nm3);
K = constante (0,3/d).

Segundo Castilhos Jr. et al. (2003) modelos matemáticos foram desenvolvidos para
descrever a geração de biogás em aterros sanitários. Esses modelos são formulados
essencialmente sobre técnicas de ajuste de curvas teóricas sobre resultados experimentais.
Um desses modelos descreve a geração acumulada de biogás por unidade de massa
segundo uma cinética de primeira ordem, como abaixo (resultante da integração da equação
3.16):

Gt = Gc ⋅ (1 − e − k ⋅t ) (3.17)

onde: Gt = geração total de gás no tempo t;


Gc = a geração máxima de gás;
t = tempo (anos)
k = constante de degradação.

Para fins de projeto pode-se adotar modelos matemáticos para prever a geração do biogás
(como os de Findikakis e Leckie, 1984; e de Lu e Kunz, 1981 apud Castilhos Jr. et al., 2003),
fazer a previsão com base no modelo estequiométrico (conforme descrito em
Tchobanoglous et al. 1993) ou fazer uso de valores empíricos com base na experiência de
outros aterros. Em aterros pequenos e médios, e principalmente quando não se objetiva a
recuperação energética do biogás, esses últimos são os mais utilizados para previsão da
geração de biogás.

Conforme Lima (1995) estima-se uma geração de 370 a 400 Nm3 de biogás por tonelada de
matéria seca digerida dos resíduos sólidos. Estes valores têm sido freqüentemente
utilizados em projetos de aterros brasileiros.

Importante notar, no entanto, que esta geração de gás não se dá instantaneamente nem de
forma uniforme ao longo do tempo. Em condições normais a taxa de decomposição, medida
pela geração de gás, atinge um pico nos primeiros dois anos e diminui gradativamente,
continuando em muitos casos em períodos superiores a 25 anos.

Como é mostrado na figura 3.17 as taxas de decomposição para os materiais facilmente e


os moderada e lentamente biodegradáveis estão baseadas em um modelo triangular de

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 57
geração de gás, cujos picos de geração de gás ocorrem em um e cinco anos,
respectivamente, após o início da geração de gás. Assume-se que a geração de biogás
(metano + dióxido de carbono) inicia ao final do primeiro ano de aterramento. A área sob o
triângulo é igual a metade da base multiplicado pela altura, portanto, a geração total de gás
dos resíduos dispostos no primeiro ano de operação é igual a:

Total de gás gerado, m3/kg

= ½ (base, anos) x (altura h, pico da geração de gás, m3/kg · ano) (3.18)


Taxa de geração de biogás (m3/ano)

¾h

½h

¼h

0 1 2 3 4 5
Tempo (anos)

Figura 3.17 – Modelo teórico de geração de gás com o tempo para a fração
facilmente biodegradável (Fonte: Adaptado de Tchobanoglous, 1993)

Para a fração moderadamente biodegradável o modelo triangular da figura 3.17 tem seu
pico em 5 anos e a geração tem uma duração de 15 anos.

Usando o modelo de geração triangular, a geração total de gás de um aterro no qual os


resíduos foram depositados por um período de 5 anos é obtida pela soma das gerações das
frações facilmente e moderadamente degradáveis dos RSU depositados a cada ano (ver
figura 3.18).

Total

Gás gerado da fração


rapidamente degradável de
Gás gerado (m3/ano)

material depositado no ano 5

Gás gerado da fração


lentamente degradável de
material depositado no ano 5

Ano

Figura 3.18 – Representação gráfica da geração de biogás das frações fácil e


moderadamente biodegradáveis colocado em um aterro sanitário ao longo do
período de cinco anos (Fonte: Adaptado de Tchobanoglous, 1993)

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Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 58
Dimensionamento dos drenos de biogás

Podem ser utilizados tanto drenos verticais quanto horizontais para a retirada do gás dos
aterros. Os drenos verticais de gás são os mais utilizados, sendo que neste caso sempre
são interligados com os drenos horizontais de lixiviados. Na verdade o sistema funciona
como sendo um sistema misto. Os drenos horizontais que drenam os lixiviados também
conduzem, na sua parte superior, os gases. Quando os drenos de lixiviados interceptam os
drenos de gás, o biogás sobe por estes últimos. Da mesma forma, quando os drenos
intermediários de lixiviados das camadas mais superiores do aterro interceptam os drenos
verticais de gás, o lixiviado desce por estes drenos até chegar ao fundo do aterro e ser
conduzido para fora pelo sistema de drenos de fundo.

Para dimensionar o dreno vertical pode-se utilizar equações de fluxo de fluídos (neste caso
um gás) em meios porosos (brita) ou mesmo em tubulações. Mas pelas vazões
relativamente baixas nos drenos verticais; e como é desejável manter-se pequenas
pressões e baixas velocidades no interior dos drenos, de modo a permitir que o lixiviado que
chega aos drenos verticais desce ao fundo do aterro em vez de ser arrastado até a
superfície pela velocidade ascendente excessiva do biogás; normalmente adota-se um
dimensionamento empírico do sistema vertical de drenos. Neste caso, adotam-se grandes
diâmetros que resultam numa velocidade ascensional mais baixa. Os diâmetros adotados
em projeto variam de 50 a 100 cm, sendo preenchidos com rocha brita 3, 4 ou 5. Aterros
maiores e de maior altura podem possuir drenos verticais de até 150 cm de diâmetro.

No interior dos drenos verticais pode-se colocar tubulação perfurada de PVC ou de


polietileno com diâmetros variando entre 100 e 150 mm. Ver detalhe de execução de dreno
na figura 3.18 (no caso desta figura, o queimador apresenta grande diâmetro).

Dreno Vertical e Queimador de Biogás


Detalhes de execução

0,5m

Queimador de biogás
Tubo ferro Ø 50cm
2m
Cobertura final
solo orgânico e
grama de campo
0,3m
Geomembrana
PEAD 1mm 1m Tubo em concreto Ø 30cm
Cobertura primária Ligação entre o dreno vertical
0,5m
com solo local e o queimador de biogás

RSU
Dreno vertical de biogás (rachão)
Ø 60cm no último patamar

Figura 3.18 – Detalhe de dreno vertical de gás (Cortesia de Eng. Marcelo Hoffmann)

Outra concepção de queimadores de biogás, queimadores com diâmetros menores, também


é muito utilizada nos aterros brasileiros. Na figura 3.19 apresenta-se este tipo de queimador
ou flare.

No projeto, a distribuição em planta dos drenos verticais de gases é feita considerando um


raio de influência, ou de captação de biogás, de cada dreno variando entre 15 a 30 m.
Sugere-se que quanto maior for a altura menor seja o raio de influência de projeto de cada

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 59
dreno. Uma vez definido raio de influência de cada dreno, o projetista faz a distribuição dos
drenos verticais em planta de modo a haver sobreposição dos raios de influência (ver figura
3.20). Cabe lembrar, novamente, que os drenos verticais devem ficar conectados com os
drenos de lixiviados colocados na base do aterro. Assim, pode haver a necessidade de
ajustes da posição em planta dos drenos de modo a sempre garantir esta interconexão.

Figura 3.19 – Detalhe de queimador de gás ou flare

Perímetro do aterro

Dreno vertical de gás Raio de influência

30o

x = 2r cos 30o

Figura 3.20 – Distribuição triangular eqüidistante para drenos verticais de gás


(Fonte: Adaptado de Tchobanoglous et al., 1993)

3.7.5. Plano de disposição de resíduos

Uma vez definido o layout geral do aterro sanitário será necessário escolher o método de
disposição a ser utilizado e o layout e dimensões das células individuais de resíduos. O
método específico escolhido para disposição dos resíduos e preenchimento do aterro
depende das características do local, como a disponibilidade de material de cobertura, a
topografia, e a hidrologia e geologia locais. Deverá ser elaborado um plano detalhado da
seqüência de preenchimento das células do aterro sanitário. A seqüência de preenchimento
ou disposição dos resíduos deve ser estabelecida de modo que a operação do aterro não
seja interrompida em condições climáticas severas, como períodos de fortes chuvas. Na
figura 3.21 apresenta-se um exemplo típico de preenchimento das células de um aterro em
área com múltiplas camadas.

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 60

4 5 6

A A

Em planta

Etapa 4 Etapa 5 Etapa 6

Camada 2

Camada 1

Etapa 2
Seção A – A

Figura 3.21 – Plano típico de disposição de resíduos em células de aterro


(Fonte: Adaptado de Tchobanoglous et al., 1993)

Na definição do plano de disposição de resíduos ou de avanço do aterro, devem ser


considerados os seguintes aspectos importantes:

 sincronizar o avanço das células (tanto horizontal quanto verticalmente) com o


cronograma de implantação do aterro (etapas de implantação). Isto implica em
implantação escalonada e necessidade de recursos financeiros mais distribuída ao
longo da vida útil do aterro;
 permitir a fácil drenagem das águas pluviais à montante da frente de serviço;
 deixar a frente de serviço “de costas” para a entrada do aterro, das instalações de
apoio, e de estradas (isto implica em menores impactos visuais, uma vez que a
frente de disposição diária de resíduos não estará visível àqueles que estão fora do
aterro;
 sempre que for possível, partes do aterro devem ser aterradas até a sua cota final
(ver figura 3.22), com colocação da cobertura final, implicando numa menor geração
de líquidos lixiviados;
 tentar manter a frente de serviço “de costas” para a direção dos ventos preferenciais,
diminuindo o espalhamento de materiais leves pelo vento.

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 61

Figura 3.22 – Etapas de implantação de um aterro sanitário


(Fonte: D’Almeida e Vilhena, 2000)

Na figura 3.23 mostra-se etapas de implantação e de avanço da disposição de resíduos


sólidos no Aterro Estrema, em Porto Alegre.

Frente de serviço

Implantação drenos de lixiviados

Área sendo preparada para


implantação do próximo
patamar/célula

Figura 3.22 – Detalhe de implantação e disposição de resíduos em aterro


(Aterro Sanitário da Extrema, Porto Alegre)

No caso de aterro para município de pequeno porte, o método de aterro mais adotado é
aterro em valas ou trincheiras, o plano de implantação das valas e disposição dos resíduos
deve ser feito de modo a que cada vala tenha uma vida útil entre 2 e 4 meses (Gomes e
Martins, 2003).

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 62

3.7.6. Análise de estabilidade

Tanto a estabilidade dos maciços de terra (no caso de escavações) como da massa de
resíduos aterrados deve ser avaliada. No caso dos maciços de terra, deverão ser utilizados
os métodos da mecânica dos solos, mas no caso dos resíduos sólidos, estes métodos
devem ser utilizados com algumas restrições.

A estabilidade de um aterro sanitário é influenciada por alguns fatores, que interagem entre
si, sendo os mais importantes:

 propriedades geotécnicas dos resíduos in situ, (dependendo da composição inicial,


dos métodos de disposição e compactação, das condições físico-químicas da
estabilização dos resíduos, período de utilização do aterro);
 propriedades geotécnicas das camadas de cobertura intermediária e final;
 inclinação e altura do talude;
 presença de gás no aterro;
 presença de água infiltrando no aterro e o regime de escoamento sob pressão em
meios porosos.

Quando conceitos teóricos e procedimentos experimentais da mecânica dos solos clássica


são estendidos aos resíduos, as seguintes diferenças são importantes:

 componentes minerais do solo natural têm sido submetidos ao processo de


intemperização por longos períodos, de milhões de anos, indicando que estas
modificações ocorrem lentamente em tempo geológico;
 em contraste, muitos materiais que compõem os resíduos sólidos urbanos, são
química e biologicamente ativos e, podem mudar a sua natureza e propriedades em
curto espaço de tempo (da ordem de décadas ou menos).

Outros fatores devem ainda ser considerados, como a heterogeneidade, natureza e


dimensões dos vários componentes dos resíduos sólidos urbanos.

Em aterros de grande altura ou com risco elevado de causar graves danos ambientais ou
humanos em caso de instabilidade ou ruptura, recomenda-se a utilização de métodos
geotécnicos como os métodos de Bishop ou de Janju (métodos referenciados na bibliografia
geotécnica específica), utilizando os parâmetros listados na tabela 3.10 ou outros baseados
em bibliografia específica, e fazendo uso de programas computacionais.

Esses métodos, em síntese, consistem na determinação do fator de segurança (FS) de um


dado círculo de ruptura hipotético passando pelo maciço compactado (solo e/ou RSU) e sua
fundação (ver figura 3.23). Os FSs são determinados através da relação entre os momentos
causados pelas forças resistentes (momento estabilizante ou resistente) e os momentos
causados pelas forças atuantes (momento atuante ou de ruptura) em lamelas (fatias) do
talude e da fundação. Os momentos são calculados em relação a um círculo com centro
conhecido.

De acordo com Benvenuto et al. (1994), os parâmetros mecânicos dos resíduos sólidos,
como compressibilidade, resistência ao cisalhamento e permeabilidade, podem variar em
cada célula em função da variação nas proporções de lixiviado, gases e matéria sólida, o
que dificulta a formulação de modelos de análise do seu comportamento.

Os parâmetros de resistência ao cisalhamento são mostrados na tabela 3.11; e as


densidades dos resíduos em aterro são as seguintes:

 de 0,15 a 0,3 t/m3 – resíduos sem compactação;

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 63
3
 de 0,35 a 0,55 t/m – resíduos com compactação leve;
 de 0,7 a 1,0 t/m3 – resíduos com compactação forte;
 de 1,0 a 1,3 t/m3 – resíduos com compactação muito forte.

Tipo material na Coesão Ângulo de atrito interno


2
superfície de ruptura c' (kpa ou kN/m ) ϕ' (°°)
RSU recente 30 – 50 38 – 40
RSU decomposto 5 – 30 17 – 27
Geomembrana PEAD / RSU 0 17
Geomembrana PEAD / Argila 8 26
Geomembrana PEAD / Geotêxtil 0 14

Parâmetros mais utilizados para RSU 10 – 14 20 – 22


Tabela 3.11 – Parâmetros de resistência ao cisalhamento
(Fonte: Adaptado de Benvenuto et al., 2003; Kaimoto e Cepollina, 1996; Daniel, 1993)

Resíduos

(a)

Resíduos

Geomembrana
(b)

Resíduos

Solos moles

(c)

Figura 3.23 – Linhas de ruptura em aterro acima da superfície: (a) linha de ruptura circular
na massa de resíduos; (b) linha ruptura mista: circular na massa de resíduos e ao longo da
geomembrana na base; (c) linha ruptura abaixa na base do aterro sobre solos moles
(Fonte: Daniel, 1993)

Benvenuto et al. (1994) apontam algumas conclusões sobre estabilidade de aterros


sanitários, conforme a seguir:

 os estudos de estabilidade de taludes em aterros sanitários configuram situações


complexas, sendo que, estes não poderão ser analisados como taludes
homogêneos;

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 64
 a adoção de parâmetros bibliográficos de resistência deve ser feita com muito
critério e, considerando-se como foram obtidos;
 apesar de indicações de que as rupturas superficiais sejam mais prováveis de
ocorrer, do que rupturas profundas, não se pode considerar que estas sejam
conclusivas, de forma que este assunto deve ser mais estudado;
 devido ao material em decomposição contido nos aterros sanitários é fundamental
que seja feita uma previsão dos parâmetros de resistência em função do tempo e
se reavalie as condições de estabilidade. Dados apresentados sugerem uma
redução de resistência com o tempo;
 a implantação de sistemas de drenagem de líquidos e de queima de gases são
indispensáveis ao bom desempenho geotécnico dos aterros.

Estas conclusões demonstram a complexidade que envolve a questão e, seria importante


incorporar mais algumas considerações para aumentar na estabilidade geotécnica do aterro
sanitário:

 a altura dos aterros, ou seja, o número de camadas de resíduos, deverá ser limitado
no projeto, de forma a colaborar com a segurança dos mesmos;
 o controle de compactação dos resíduos é de fundamental importância para a
estabilidade do aterro;
 a drenagem dos líquidos e gases deve ser operada e mantida constantemente e, no
caso de gases considerar a exaustão forçada;
 a cobertura final com espessura de 0,60 m, com compactação que permita o
selamento da célula, deve ser considerada como um elemento de contenção da
massa de resíduos aterrada e de proteção à infiltração de águas pluviais, que
podem comprometer a estabilidade da estrutura;
 implantar um sistema de drenagem de águas pluviais que permita o rápido
escoamento das águas de chuvas, evitando a infiltração e erosão dos taludes.

Conforme mostrado na tabela 3.11 e na figura 3.23.b a interface de geomembranas


sintéticas com argila ou com os resíduos tem baixa resistência ao cisalhamente e se torna
um plano potencial para passagem de linha de ruptura. Por isso, cuidados especiais devem
ser tomadas no projeto de aterros com este tipo de impermeabilização, nunca coincidindo
em projeto uma interface de geomembrana com a linha de ruptura potencial do maciço.

Outra aspecto importante de frisar é que embora os parâmetros de resistência (c’ e φ)


diminuam com o tempo, o aterro vai recalcando, e assim a declividade final do aterro diminui
também (ver figura 3.24), compensando assim, de certo modo, a perda de estabilidade.

Em aterros de menor altura, quando não for possível a utilização de métodos mais
sofisticados de análise de estabilidade, e quando a fundação do aterro não for de solos
moles, geralmente a adoção da seguinte configuração dos taludes confere estabilidade ao
maciço do aterro: taludes com uma inclinação de 1:2 (V:H), em camadas de 5,0 de altura e
bermas com a largura de 5,0 m.

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 65

Figura 3.24 – Recalques verificados no Aterro da Extrema, Porto Alegre


(Fonte: Hoffmann et al., 2002)

A seqüência de preenchimento do aterro pode prevenir a maioria dos problemas de


instabilidade dos aterros durante a operação. A questão chave é maximizar a porção
“resistente” da superfície potencial de ruptura antes de aumentar a porção “atuante”. Na
figura 3.25 ilustra-se a atuação dos momentos atuantes e resistentes e a direção de
preenchimento da célula para garantir a estabilidade do talude.

Bloco Bloco LBR > 1,5 hBA


atuante resistente
hBA
Direção do
enchimento
Impermeabilização
LBR

Figura 3.25 – Blocos atuantes e resistentes na estabilidade do aterro


(Fonte: Adaptado de Sharma e Lewis, 1994)

3.8. Biogás de aterros sanitário e os créditos de carbono

O biogás gerado em aterros sanitários, por contar em sua composição com metano e
dióxido de carbono, é um dos gases formadores do fenômeno conhecido como efeito estufa
e que vem contribuindo para o aquecimento global. Estudos indicam que, considerando um
período de 100 anos, 1 grama de metano contribui 21 vezes mais para a formação do efeito
estufa do que 1 grama de dióxido de carbono.

Assim, o biogás gerado nos aterros sanitários deve ser drenado e queimado para mitigação
dos efeitos causados pelo seu lançamento na atmosfera, notadamente no que concerne a
potencialização do efeito estufa. A queima do biogás transforma o metano em dióxido de
carbono e vapor d’água.

Como o biogás tem alto poder calorífico, pode-se implantar no aterro uma unidade de
geração de energia elétrica. O biogás pode ainda ser utilização em sistemas de calefação
ou como combustível veicular, sendo que nesta última alternativa haverá a necessidade de
instalação de uma unidade de beneficiamento ou purificação para aumentar o teor de
metano.

A implantação de unidades de geração de energia elétrica em aterros sanitários deve ser


precedida de estudo de viabilidade técnica e econômica. Para que seja possível a
recuperação energética do biogás, um aterro sanitário deverá contar com os seguintes
sistemas:

 sistema de impermeabilização superior;

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 66
 poços de drenagem de biogás;
 rede de coleta e bombas de vácuo;
 grupos geradores.

Dentro da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, foi realizado
em 1997, na cidade de Kyoto, Japão, uma conferência que decidiu a adoção de um
protocolo segundo o qual os países industrializados reduziriam suas emissões combinadas
de gases de efeito estufa em pelo menos 5 % em relação aos níveis de 1990 até o período
compreendido entre 2008 e 2012.

O protocolo de Kyoto prevê a criação do chamado mecanismo de desenvolvimento limpo –


MDL -, que são projetos destinados à redução das emissões de gases formadores do efeito
estufa. Os países mais industrializados poderão utilizar as reduções certificadas através da
implantação de projetos de MDL em outros países, para contribuir com parte de seus
compromissos quantificados de limitação e redução de emissões.

Assim, a remediação de área de disposição a céu aberto e a implantação de sistema de


geração de energia elétrica em aterros sanitários pode ser viabilizada economicamente pela
venda dos chamados créditos de carbono, decorrentes da redução da emissão de carbono
para a atmosfera.

Para que o biogás possa ser explorado comercialmente através de sua recuperação
energética, o aterro sanitário deverá receber no mínimo 200 t/d de resíduos, ter uma
capacidade mínima de recepção da ordem de 500 mil toneladas e altura mínima de
carregamento de 10 m (Ministério das Cidades, 2007).

Para o cálculo teórico da geração de biogás para fins de MDL, pode-se usar o método US
EPA First Order Decay Model (Modelo de decomposição de Primeira Ordem da Agência de
Proteção Ambiental dos Estados Unidos) para estimar as emissões associadas ao resíduo
no caso de sua disposição em aterro sanitário.

A equação do Modelo é demonstrada abaixo:

LFG = Lo * R * (e-kc – e-kt) (3.19)

Sendo:
LFG = volume estimado de metano gerado no aterro num determinado ano (m3/h);
Lo = potencial de geração de metano do resíduo (m3/ton);
R = taxa de disposição de resíduos (ton/ano);
k = taxa de geração de metano (1/ano);
t = tempo desde que o início da disposição (anos);
c = tempo desde o fechamento do (c = 0 para aterros em operação) (anos).

A constante k, taxa de geração de metano, é definida pela fórmula:

k=ln(2)/t1/2 (3.20)

Sendo t1/2 o tempo médio para 50 % da decomposição, sendo usual variações entre 4 e 10
anos para resíduos sólidos municipais. Para climas úmidos, os valores de k podem variar de
0,1 a 0,35.

O potencial de geração de metano do resíduo – Lo – pode ser estimado utilizando-se a


equação:

Lo = MCF * DOC * DOCF * F * 16/12 (3.21)

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 67
Sendo:
MCF = fator de correção do metano (%)
DOC = fração de carbono degradável (kg C/ kg RSU)
DOCF= fração de DOC dissolvida
F = fração de metano no biogás
16/12 = conversão de C para CH4

MCF é um fator que varia em função das condições de gerenciamento do local de


destinação final dos resíduos. Aterros sanitários são gerenciados de modo a favorecer a
decomposição anaeróbia, e portanto o método indica MCF = 1.

DOC é calculado pela equação:

DOC = 0,4 * (A) + 0,17 *(B) + 0,15 * (C) + 0,30 * (D) (3.22)

Os fatores A, B, C e D, referem-se à caracterização do resíduo, e expressos em percentual,


sendo:

A = percentual de papel e tecidos;


B = Resíduo de jardins, parques e outros orgânicos não alimentares putrescíveis;
C = Resíduos de alimentos;
D = Resíduos de madeira e palha.

DOCF é um valor teórico, que pode ser calculado pela equação:

DOCF = 0,014 * T + 0,28 (3.23)

Sendo T a temperatura na zona anaeróbia dos resíduos.

O valor de F corresponde ao percentual de metano presente no gás gerado, e que


geralmente é adota como sendo 60%.

3.9. Para não esquecer /dicas importantes

Se quiser saber mais...

Sobre doenças ocupacionais e questões de saúde relacionadas ao manejo de


resíduos sólidos ver o texto de Sandra Cointreau: Occupational and Environmental Health
Issues of Solid Waste Management, with Special Emphasis on Developing Countries.
Disponível http://siteresources.worldbank.org/INTUSWM/Resources/up-2.pdf.

Curiosidade: O que são mercapatnas?

As mercaptanas, mercaptans ou mercaptanos são os tióis. Em química orgânica, são


compostos que possuem um grupo funcional formado por enxofre e hidrogênio (-SH). Este
grupo funcional é chamado de grupo tiol ou grupo sulfidrila. O temo mercaptana vem do
latim "mercurius captans" (capturador de mercúrio), porque o grupo funcional tiol se liga
fortemente a átomos de mercúrio. O grupo tiol é um substituinte de um alcano. Por exemplo,
o derivado de metano é metanotiol (CH3SH: a nomeclatura antiga era metil mercaptano,
dada a síntese por álcoois). As de menor massa molar e, portanto, voláteis, também são
conhecidos pelo cheiro extremamente desagradável, como se fosse algo podre. As
mercaptanas, juntamente com o H2S (gás sulfídrico) são os grandes responsáveis
pelo odor desagradável do biogás (odor de ovo podre).

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 68
3.10. Exercício de cálculo de aterro sanitário

1. Considere um aterro sanitário ainda em operação, com área útil de 6 ha, recebendo
cerca de 400 t/d de RSU. Suponha que o aterro está localizado em Porto Alegre onde a
chuva média anual é de 1.400 mm/ano. Calcule (adote os parâmetros adequados e
justifique os valores adotados):
a) A vazão média de lixiviado gerado.
b) A vazão de dimensionamento dos drenos pluviais (seção máxima) que serão
construídos sobre o aterro.
c) A seção transversal do dreno de lixiviados (área e dimensões)
d) O espaçamento entre drenos de lixiviado (em planta) para que a altura máxima de
lixiviado no corpo do aterro seja de 30 cm.

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 69

APÊNDICE 3.A – Considerações sobre os custos

Todos os custos de implantação, operação e encerramento do aterro devem ser previstos


(ver tabela 3.11, um exemplo de custos de aterro sanitário), inclusive o monitoramento por
no mínimo 20 anos pós-fechamento. Para as condições brasileiras, a fase de implantação
do aterro corresponde a cerca de 25 a 30 % do custo total; sendo a operação do dia-a-dia a
maior parte dos custo.

Aterro Sanitário "UNIDOS VENCEREMOS"


Área em planta: 4 ha
Vida útil : 25 anos Custo
QTD de resíduos: 275.649 m3 ou 124.042 t un unitário QTD Subtotal Total por etapa

1. Infra-estrutura
Escritório m2 450,00 42 18.900,00
Cercamento externo (moerão de madeira c/ 5 fios de arame farpado) m 26,00 1.515 39.390,00
Acessos internos permanentes m 27,21 350 9.524,59
Portão de veículos (2 folhas e larg. 5 m) un 850,00 2 1.700,00
Cortina vegetal (mudas) un 10,00 1.555 15.550,00
Poço de monitoramento de águas subterraneas (execução) - Piezômetros un 6.000,00 5 30.000,00
115.064,59
2. Estação de Tratamento de Lixiviados
Terraplenagem -
Escavação e transporte até 2 km m3 2,08 28.052 58.304,68
Transporte interno m3 0,77 18.235 14.040,95
Impermeabilização de fundo e contensão -
Argila compactada s/ fornecimento m3 9,62 9.817 94.447,00
Geomembrana PEAD 1,5 mm (fornecimento e instalação) m2 15,00 6.270 94.050,00
Drenagem -
Drenagem pluvial externa - meia-cana de concreto DN 0,60 m m 27,00 414 11.178,00
Acessos/ Grama -
Acessos internos permanentes ( larg. 2,0 m) m 9,73 700 6.813,99
Plantio de grama m2 3,50 5.100 17.850,00
Sistema hidráulico -
Caixa de alvenaria de pedra com grade (interna ao aterro) vb 1.000,00 1 1.000,00
Caixa de alvenaria de pedra de saída (externa ao aterro) vb 1.200,00 1 1.200,00
Sistema hidraulico de saída e controle de nivel do filtro anaeróbio vb 3.000,00 1 3.000,00
Sistema hidraulico de ligaçao entre os modulos de tratamento vb 5.000,00 1 5.000,00
Filtro biológico -
Fornecimento de brita m3 33,85 320 10.831,35
Sistema hidráulico de distribuição vb 2.500,00 1 2.500,00
320.215,97
3. Implantação do aterro sanitario (célula)
Terraplenagem -
Escavação e transporte até 2 km m3 2,08 140.496 292.013,91
Transporte interno m3 0,77 20.000 15.400,00
Aterro de argila para o maciço de contensão m3 9,62 18.200 175.097,83
Impermeabilização de fundo -
Argila compactada s/ fornecimento m3 9,62 39.675 381.703,65
Geomembrana PEAD 1,5 mm m2 15,00 39.675 595.125,00
Proteção mecânica da geomembrana m3 0,85 11.903 10.129,86
Drenagem -
Drenagem de lixiviados de fundo (50 x 50 cm) m 11,95 950 11.350,38
Filtro anaeróbio (fornecimento de brita) m2 37,83 1.000 37.829,00
Drenagem pluvial externa - vala escavada em solo m 1,24 1.000 1.240,58
1.519.890,22
4. Operação do aterro sanitário -
Compactação dos resíduos m3 1,60 275.000 440.000,00
Cobertura diária m3 2,92 55.129 160.992,12
Acessos internos provisórios m 9,73 500 4.867,13
Pátio de descarga m2 4,87 500 2.433,57
Drenagem de lixiviados de patamar m3 11,95 1.000 11.947,77
Drenagem de gases (verticais) m3 177,13 594 105.212,84
Drenagem pluvial interna m 22,48 300 6.744,35
Monitoramento ambiental (análises fisico-quimicas)( 25 anos) mês 3.000,00 300 900.000,00
- 1.632.197,77
5. Encerramento do aterro sanitário -
Impermeabilização superficial -
Argila compactada esterada (esp 60 cm) m2 12,12 23.850 289.113,68
Plantio de grama m2 3,00 14.310 42.930,00
Drenagem Pluvial interna m 22,48 200 4.496,23
Drenagem Pluvial externa m 1,24 500 620,29
Bota-fora de solo excedente (10 km) m3 3,00 10.944 32.832,00
Monitoramento ambiental (análises fisico-quimicas)( 10 anos pós fecham) mês 3.000,00 120 360.000,00
729.992,20
6. Mão-de-Obra
Operários mês 1.200,00 4 1.440.000,00
Técnicos (nível médio) mês 2.000,00 2 600.000,00
Responsavel técnico (Engenheiro) mês 3.500,00 1 210.000,00 2.250.000,00
CUSTO TOTAL R$ 6.567.360,75
CUSTO UNITÁRIO R$ 23,70 por m3
R$ 52,66 por t

Tabela 3.11 – Exemplo de composição de custos de um aterro sanitário

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 3: Projeto e Implantação do Aterro Sanitário 70

APÊNDICE 3.B – Valores de P(60,10) para 80 localidades brasileiras

P(60,10) P(60,10)
Estado Cidade Estado Cidade
(mm) (mm)
RS Alegrete 62 RJ Alto Itatiaia 60
Bagé 49 Bangu 68
Caxias do Sul 54 Cabo Frio 50
Cruz Alta 65 Campos 55
Encruzilhada 48 Ipanema 72
Iraí 56 Jardim Botânico 67
Passo Fundo 43 Km 47 Rod. Pr. Dutra 78
Porto Alegre 64 Niterói 64
Rio Grande 68 Nova Friburgo 60
Santa Maria 62 Petrópolis 76
Sta. Vitória do Palmar 62 Pinheiral 64
São Luiz Gonzaga 64 Praça XV 74
Uruguaiana 56 Praça Saens Pena 60
Viamão 37 Resende 70
SC Blumenau 72 Santa Cruz 57
Florianópolis 70 Teresópolis 66
São Francisco do Sul 65 Vassouras 58
PR Curitiba 68 Volta Redonda 67
Jacarezinho 52 PB João Pessoa 50
Paranaguá 70 São Gonçalo 62
Ponta Grossa 54 CE Fortaleza 54
SP Avaré 64 Guaramirangá 54
Lins 52 Quixeramobim 66
Piracicaba 58 PI Terezina 90
Santos – Itapema 140 MA Barra do Corda 70
Santos 84 São Luiz 59
São Carlos 70 Turiassu 66
São Simão 51 PA Alto Tapojós 80
ES Vitória 56 Belém 62
MG Barbacema 58 Soure 86
Belo Horizonte 62 Taperinha 76
Passa Quatro 44 AM Juaretê 82
Sete Lagoas 52 Manaus 68
BA Salvador 60 Paritins 80
SE Aracaju 66 Vaupés 80
AL Maceió 55 RO Porto Alegre 72
PE Fernando de Noronha 70 MT Cuiabá 68
Nazaré 44 GO Catalão 60
Olinda 60 Formosa 57
RN Natal 58 Goiânia 70
Tabela 3.12 – Valores de P(60,10) para 80 localidades brasileiras
(Fonte: Adaptado de Rocca et al., 1992)

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 4: Operação do Aterro Sanitário 71

4. OPERAÇÃO DO ATERRO SANITÁRIO

4.1. Importância

A operação do aterro é uma etapa fundamental para o sucesso do empreendimento, ou


seja, para que a disposição dos resíduos seja feita minimizando os impactos ambientais e
sanitários. A disposição segura e bem organizado dos resíduos distingue um aterro sanitário
de uma disposição a céu aberto (lixão). Mesmo um aterro que tenha sido bem projetado e
bem implantado terá sérios problemas ambientais se for mal operado. Por outro lado, boas
técnicas de operação do aterro podem vir a compensar debilidades de locação do sítio ou
de projeto.

É fundamental que seja dada forte ênfase às boas técnicas de operação. Isto significa, em
muitos casos, a necessidade de aumentar as habilidades gerenciais e de engenharia do
pessoal que trabalha no aterro. Boa prática de operação do aterro não é conseguida se o
pessoal qualificado em gerenciamento e engenharia estiver locado, em todo ou em parte do
tempo, em escritórios longe do aterro. Um gerente de aterro qualificado, ou ao menos um
supervisor treinado e motivado, deveria estar baseado no aterro para coordenador
diretamente as atividades diárias. Este gerente deveria receber suporte e visitas regulares
do engenheiro responsável para garantir que o aterro seja implantado e operado de acordo
com o estabelecido no projeto e no plano de disposição dos resíduos.

Paralelamente a colocar um gerente com experiência encarregado pela operação do aterro,


este gerente deve ter o poder de tomar decisões sobre as questões de dia-a-dia da
operação do aterro, e deve ainda ter acesso a suficientes recursos físicos e financeiros.

O plano de disposição dos resíduos (ver Capítulo 3) deve servir como base ao gerente do
aterro sobre como organizar e conduzir o aterro. De modo resumido, o plano deve prover
uma detalhada explanação do seguinte:

 onde os resíduos serão dispostos em cada fase da vida útil do aterro;


 quais atividades de preparação do sítio e de engenharia serão necessários durante
a vida útil do aterro/
 como lidar com os problemas ambientais (p.ex.; pássaros, vento e materiais leves,
incêndios, gás, lixiviado);
 quais equipamentos, materiais, e pessoal serão necessários para operação;
 qual a documentação e administração serão necessárias;
 qual o monitoramento que será feito;
 quando e como cada parte do aterro será completada e encerrada.

4.2. Decisões fundamentais

O período de operação é a mais longa etapa na vida útil do aterro. Durante este tempo a
intervenção de gerente técnico sênior será requerida para resolver problemas e questões
que ficam aquém das capacidades do gerente alocado no aterro sanitário. Problemas
potenciais do aterro podem ser minimizados dando-se cuidado especial a duas decisões
fundamentais:

Quem irá operar o aterro?

Quando da implantação de um novo aterro sanitário, principalmente quando este for o


primeiro no município (isto é, quando o município esta encerrando a disposição a céu
aberto), deve-se decidir quem será o responsável pela operação deste novo aterro. Não há

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 4: Operação do Aterro Sanitário 72
razão para o decisor sênior permanecer automaticamente responsável pelo novo
empreendimento juntamente com seu pessoal. Neste caso é preciso fazer um pergunta: se
esta equipe tem a capacidade de tocar um aterro mais bem gerenciado, porque não o
fizeram antes? As razões pelas falhas do passado são muitas diversas e complexas. Ms é
preciso olhar para o futuro e decidir quem tem melhores condições de gerir o novo aterro.

O novo gerente pode ser um engenheiro que pode ser identificado dentro da municipalidade
ou do setor público. Um novo gerente local (residente no aterro) dever ser criado, ou quando
já existente, deve receber maior reconhecimento. Os melhores gerentes residentes são
aqueles aos quais são dados a autoridade e acessos a recursos para tomar decisões sobre
a operação no aterro, cujos julgamentos sejam aceitos pelos gerentes seniores. Os
melhores encarregados de aterro (uma espécie de mestre de obra) são muitas vezes
oriundos do setor de disposição de resíduos do município, e que foram treinados e
motivados para a nova forma de trabalhar em aterro sanitário.

Na implantação de um novo muitas vezes são necessárias alterações na estrutura


organizacional do município, bem como na delegação de poder. Uma melhor operação do
aterro necessita de decisões rápidas feitas pelo pessoal locado no aterro. Um bom
gerenciamento de aterro não pode sofrer as agruras de máquinas administrativas muito
burocratizadas.

Um julgamento franco deve ser feito sobre se o poder público vai operar o aterro ou se uma
empresa privada será contratada para realizar este serviço. No caso de contratação do
serviço de operação do aterro, a municipalidade continuará com a responsabilidade, e o
controle, do gerenciamento dos resíduos, mas terá a responsabilidade pela operação do dia-
a-dia do aterro. Mesmo na hipótese de contratar uma empresa privada, o município deverá
investir na no treinamento de pessoal próprio para fazer a fiscalização dos serviços.

Há dinheiro/orçamento à disposição o suficiente para financiar a operação do novo


aterro sanitário?

Aterros sanitários têm custos mais elevados de implantação e de operação do que


disposições a céu a aberto. Para o sucesso do projeto é absolutamente necessário que
estejam disponíveis recursos financeiros suficientes para a perfeita operação de um aterro
sanitário (que dura muitos anos). Além disso, devem ser previsto recursos financeiros para
as atividades de pós-fechamento do aterro.

As despesas previstas deverão ter a aceitação e aprovação dos controladores das finanças
do orçamento municipal, e isto deverá ser feito e confirmado anualmente. Somente a
disponibilidade de recursos garantirá as condições satisfatórias de operação do novo aterro
sanitário.

4.3. Instalações de apoio

As instalações de apoio são estruturas auxiliares que têm por objetivo garantir o
funcionamento do aterro, dentro dos padrões estabelecidos pelas técnicas da engenharia e
do saneamento ambiental. De forma geral, essas instalações são constituídas pelos
elementos descritos a seguir.

Isolamentos

O isolamento da área é fundamental para o bom andamento dos serviços. Toda a área do
aterro deverá estar cercada, com o objeto de limitar o espaço e impedir a entrada de
animais e de catadores ao local. O tipo de cerca a ser utilizada depende do local onde está
o aterro e de condições locais específicas. Pode ser de arame farpado, ou de tela, que

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 4: Operação do Aterro Sanitário 73
oferece uma proteção maior à entrada de pessoas e de animais terrestres.

No caso de Aterro Zona Norte de Porto Alegre (operado até 1999), a forma mais eficaz de
isolamento da área, foi a escavação de um canal de mais de 10 m de largura em redor de
toda a área, para evitar a entrada de catadores e animais de fazendas vizinhas. A cerca de
arame farpado, inicialmente colocada, além de, evidentemente, não evitar a entrado de
catadores, ainda era sistematicamente retirada por habitantes das vilas vizinhas, permitindo
assim a entrada dos animais (bovinos e eqüinos).

A construção de um cinturão verde, juntamente com outro tipo de cerca, também é uma
forma de isolamento.

Portaria

Tem a função de controlar a entrada e saída de veículos e pessoas no aterro. Como


qualquer outra obra, um aterro em operação oferece risco a pessoas não acostumadas com
este tipo de atividade. Assim, qualquer visitante deve primeiro ser enviado à administração,
e somente ter acesso ao aterro acompanhado de funcionário do local.

O controle da entrada de veículos se faz necessário para fiscalizar os resíduos que podem
ser depositados no aterro, de modo a não aceitar, por exemplo, resíduos perigosos que
possam causar danos aos operadores do aterro, ao processo de estabilização dos resíduos
no aterro, ou ao meio ambiente. Atualmente, em função do esgotamento das áreas de
disposição, muitos aterros sanitários não aceitam mais resíduos de podas ou resíduos da
construção/demolição (caliça). Este controle também é função da portaria.

Balança

A função da balança é de avaliar a quantidade de resíduos que entram no aterro. No caso


dos aterros (e dos serviços de coleta) empreitados, a pesagem é a forma mais indicada de
controle e remuneração dos serviços prestados. A instalação da balança rodoviária com
capacidade mínima de 30 t é recomendada para municípios com população acima de 100
mil habitantes. Para municípios menores o controle das quantidades de resíduos que
chegam ao aterro pode ser feito através do volume dos veículos coletores.

A pesagem constante dos resíduos fornece ainda dados estatísticos de grande valor na
avaliação da vida útil do aterro e da variação da produção de resíduos ao longo do tempo,
servindo como base para a elaboração de futuros planos de manejo de resíduos.

Escritórios

Serve como base de controle e gerenciamento de todo o aterro, contabilizando quantidades


de resíduos dispostos, materiais utilizados, controle de pessoal e fornecimento de elementos
para cálculo de custo. Dependendo do tamanho do aterro, poderá ser provido de telefone,
rádio transreceptor, aparelho faxsimile, computador, etc.

Refeitório, vestiário e sanitários

Instalações apropriadas para as refeições, à higiene pessoal e à troca de roupa antes e


após a realização dos trabalhos são fundamentais para o bom andamento dos serviços.
Estas instalações se tornam ainda mais importantes quando o município está implantando
pela primeira vez um aterro sanitário, uma vez que nos lixões estas instalações são muito
precárias, quando não, inexistentes.

Galpões para o abrigo de veículos

A lubrificação e lavagem, bem como pequenos reparos nos veículos e equipamentos,

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 4: Operação do Aterro Sanitário 74
podem ser realizados no próprio aterro. Por isso deve ser prevista a construção de um
galpão apropriado, que deverá ainda servir como abrigo deste equipamento nos períodos de
inatividade.

Pátio de estocagem de materiais

Os materiais de consumo no aterro, como brita, tubos, canos, terra e meias-canas de


concreto, deverão ficar convenientemente estocados em área especialmente reservada a
este fim. A movimentação constante pode acabar causando danos a estes materiais.

Acessos internos

Os acessos internos visam permitir interligação entre os diversos pontos do aterro. Estes
acessos devem resistir ao trânsito de veículos mesmo em dias de chuva, por isso devem
estar sempre em perfeitas condições. Para mantê-las pode-se utilizar saibro, brita ou até
mesmo caliça.

Os acessos internos podem ser permanentes ou temporários: os primeiros duram toda a


vida útil do aterro, e devem receber um pavimento mais reforçado, e serem construídas com
largura mínima de 8 m; os de uso temporário, que visam ligação à frente de serviço para
descarga dos resíduos no local adequado, mudam constantemente de lugar, devendo-se
evitar gastos elevados nestes acessos. A largura mínima dos acessos temporários é de 6 m.
Acessos para trânsito de veículos coletores carregados devem ter inclinação longitudinal
máxima de até 15%; e de 10 % e em caso de uso de carretas de grande volume.

Iluminação

Nos aterros operados em tempo integral, isto é, nos períodos diurno e noturno, é
indispensável a existência de um sistema de iluminação na portaria, acessos e,
principalmente, na frente de operação. Esta medida visa garantir condições de
operacionalidade e segurança tanto ao pessoal e aos equipamentos que trabalham no
aterro, quanto àqueles responsáveis pelo transporte de resíduos. A iluminação no interior do
aterro, junto a frente de operação, deve ser facilmente transposta para outros locais na
medida que o aterro for avançando.

4.4. Controle das operações

Os aterros sanitários são obras de engenharia extremamente dinâmicas, e se caracterizam


por ocorrerem variações diárias na condução das atividades. Um Manual de Operações
dever ser elaborado para nortear a operação do dia-a-dia do aterro sanitário.

As atividades de operação diária de um aterro sanitário podem ser classificados em três


grupos gerais:

(1) Recepção dos resíduos


 checagem dos veículos e suas cargas na entrada do aterro;
 separação das cargas;
 armazenamento temporário (p.ex.; entulhos para uso nos acessos temporários);
 registro e controle de dados de administração do aterro;
 controle do tráfego interno de acesso à área de descarga.

(2) Disposição dos resíduos


 disposição dos resíduos;
 compactação;
 escavação de material de cobertura;
 colocação do material de cobertura;

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Capítulo 4: Operação do Aterro Sanitário 75
 construção dos acessos internos temporários;
 terraplanagem.

(3) Controle e manutenção geral do aterro


 controle de espalhamento pelo vento materiais leves (papel e plásticos) e de
poeira;
 manutenção dos equipamentos, construções civis, cercas, e itens similares;
 manejo das águas pluviais;
 controle dos lixiviados;
 controle dos gases e odores;
 controle de vetores;
 monitoramento operacional e ambiental.

Os seguintes pontos devem ser observados na elaboração do manual.

Controle do acesso

O primeiro passa para controlar os resíduos que chegam ao aterro, e os tipos de resíduos
dispostos, é o controle de acesso ao sítio do aterro.

Na entrada do aterro deve haver uma portaria onde um apontador deve fazer o registro dos
detalhes de cada carga: placa de caminhão, tipo de resíduo, origem ou fonte do resíduo, a
quantidade. No caso de uso de balança a quantidade é medido pelo peso líquido de cada
descarga, em toneladas ou quilogramas; no caos de aterros sem balança, estima-se o
volume do veículo.

O controle de acesso garante que os resíduos somente serão aceitos no aterro durante o
horário de operação do aterro (ver figura 4.1). Isso garante que não descarregados resíduos
não permitidos. Durante o horário de operação deverá um porteiro e fora desses horários, u
ou dois guardas.

Figura 4.1 – Detalhe de inspeção de resíduos antes da descarga em aterro

Um segundo aspecto do controle de acesso é garantir que os veículos façam a descarga


dos resíduos no local correto (na frente se serviço), evitando a descarga desordenada. Em
grandes aterros, com alto fluxo de veículos, normalmente são utilizados um ou dois
encostadores de caminhão próximo a área de descarga e compactação (frente de serviço),
evitando a descarga caótica e interferências com os equipamentos que fazem a

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Capítulo 4: Operação do Aterro Sanitário 76
compactação dos resíduos depositados.

Disposição e compactação dos resíduos

A disposição cuidadosa dos resíduos no aterro deve seguir o plano de disposição (discutido
anteriormente), e é um aspecto essencial para uma operação adequado do aterro sanitário.
Deve ser feita de modo a garantir que todo o resíduo seja compactado para atingir a melhor
densidade possível no enchimento do aterro. Esta compactação reduz os vazios no interior
do aterro, diminuindo a entrada de água e a conseqüente geração de lixiviados; reduz os
adensamento; e confere maior estabilidade ao aterro diminuindo o risco de colapso.

Alcançar boa compactação dos resíduos no aterro corresponde a reduzir a probabilidade de


ocorrerem problemas futuros. Na maioria dos aterros utilizam-se equipamentos
mecanizados para fazer a compactação, em especial o tratator-de-esteiras. Equipamentos
“compactadores especiais para aterros sanitários”, com rodas metálicas, não são essenciais
para se conseguir uma boa compactação. Em aterro de operação manual (para pequenas
comunidades) equipamentos mais simplificados, como rolos compactadores de tração
humana, podem ser usados. Na figura 4.2 apresentam-se exemplos desses dois tipos de
equipamentos de compactação em aterros.

(a) (b)

Figura 4.2 – Equipamentos de compactação em aterros sanitários


(Fonte: (a) Lange et al. (2003); e (b) Foto do autor)

Os métodos de disposição dos resíduos variam; e são função do tipo de aterro e de sua
geometria. A maneira mais usual de disposição e compactação dos resíduos em aterros é
descrita a seguir e é representada na figura 4.3.

O veículo coletor descarrega o mais próximo possível da frente de serviço (figura 4.3.a).
Neste momento o funcionário do aterro (o encostador de caminhão) tem o papel importante
de orientar o motorista e não deixá-lo efetuar a descarga em qualquer lugar. Na seqüência
um trator-de-esteiras faz o espalhamento e a compactação dos resíduos em rampa (figuras
4.3.b e 4.3.c). A rampa deve ter declividade da ordem de 3:1 (H:V), otimizando a distribuição
do peso na roda motriz (roda de tração) do trator e conferindo uma maior compactação aos
resíduos. Rampas muito íngremes, além de levarem o trator-de-esteiras a patinar, também
causam problemas de lubrificação do motor do trator. O espalhamento deve ser feito em
camadas finas, que tenham entre 30 e 50 cm de espessura. Após o espalhamento destas
finas camadas, a compactação é feita pela passagem sucessiva do trator-de-esteiras (notar
na figura 4.2.b que o trator está com a lâmina frontal erguida, e está somente compactando,
sem estar fazendo o espalhamento dos resíduos). Geralmente são feitas de 3 a 5 passadas
de trator-de-esteiras no mesmo local, sendo que a máquina deve ter peso operacional maior
ou igual 14 t. Após a compactação dos resíduos faze-se a cobertura diária ou periódica dos
mesmos com uma camada de solo (figura 4.3.d.). Esta cobertura é feita colocando-se o solo

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 4: Operação do Aterro Sanitário 77
na parte superior da célula e a partir fazendo a cobertura da paste superior da célula e de
suas laterais.

3
1

(a)

(b)

Sentido de avança da rampa

(c)

(d)

(a) Descarga na frente de serviço; (b) e (c) Espalhamento de compactação


dos resíduos em rampa 3:1, indicando o sentido de avanço da rampa;
(d) Cobertura periódica dos resíduos compactados

Figura 4.3 – Espalhamento, compactação e cobertura dos resíduos em rampa


(Fonte: Desenho gentileza de Eng. Marcelo Hoffmann)

Em aterro de menor porte, e em especial em pequenos aterros em valas, onde normalmente


não se dispões de um trator-de-esteiras, uma retro-escavadeira pode ser utilizada tanto para
abrir as valas, como para fazer a disposição dos resíduos no interior da vala, fazer a sua
compactação (mesmo que a uma densidade menor, na ordem de 0,4 a 0,5 t/m3) e a
cobertura.

A altura de cada célula ou camada do aterro varia de 2 a 5 m. Em aterros de grande porte,

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 4: Operação do Aterro Sanitário 78
acima de 200 t/d, as alturas adotadas variam de entre 3 e 5 m, e em aterro menores, essas
alturas também são menores. Assim também ocorre com largura da frente de serviço. Esta
deve ser suficientemente larga para permitir a descarga dos veículos coletores; mas não
deve ser tão larga a ponto de dificultar a compactação e implicar na utilização excessiva de
material de cobertura.

Para a definição da largura da frente de serviço utiliza-se o critério de que a forma de célula
que implica na utilização de menor volume para cobertura diária é a célula quadrada. Assim,
tomando-se uma célula com a da figura 4.4, que tem altura h, largura da frente de serviço b,
e avanço diário da célula l; e sabendo-se a quantidade diária de resíduos dispostos, calcula-
se o volume da célula diária:

M rs
Vc = (4.1)
d rsc

onde: Vc = volume da célula diária compactada (m3/d);


Mrs = massa diária de resíduos sólidos dispostos no aterro (t/d);
dsrc = densidade dos resíduos sólidos compactados no aterro (t/m3).

b
h 1
3

Figura 4.4 – Dimensões da célula para uso mínimo de material de cobertura


(Fonte: Lima, 1995)

A área de cada célula será:

Vc
Ac = (4.2)
h

E tomando as dimensões mostradas figura 4.4, e fazendo l = b (célula quadrada), tem-se:

Vc
l=b= Ac = (4.3)
h

onde: l = avanço da célula (ou da frente de serviço) (m);


b = largura da frente de serviço ótima (m);
h = altura da célula diária (m);
Ac = área da célula diária (m2);
Vc = volume da célula diária (m3).

A compactação desejada em aterros que utilizam máquinas pesadas para a compactação


(como os tratores-de-esteiras) é da ordem de 0,7 a 1,0 t/m3. Uma densidade de
compactação entre 0,7 e 0,8 t/m3 é obtida com 3 a 5 passadas de trator com peso
operacional mínimo de 14 t (tipo D6 da Carterpillar ou similar). Na figura 4.5 mostra-se um

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 4: Operação do Aterro Sanitário 79
gráfico que representa o número de passadas com trator-de-esteiras para alcançar altas
densidades em aterros sanitários. O número necessário de passadas também depende da
umidade dos resíduos e da quantidade de material denso presente nos resíduos.

Densidade (t/m )
3
0,9

0,6

0,3

2 4 6 8 10
Número de passadas

Figura 4.5 – Número de passadas do equipamento compactador para conseguir boa


densidade de compactação em aterros sanitários
(Fonte: Rushbrook e Pugh, 1999)

Cobertura

Como comentado anteriormente é prática comum cobrir os resíduos com solos regularmente
(às vezes diariamente, ou com periodicidade maior em pequenos aterros), com uma camada
de 15 a 20 cm de espessura. Em locais com escassez de material de cobertura,
inevitavelmente uma camada mais fina de cobertura será utilizada, com uma periodicidade
maior. O espalhamento e compactação da cobertura diária são feitos normalmente com o
mesmo trator-de-esteira usado na compactação dos resíduos ou equipamento similar. Em
aterros menores pode-se utilizar retro-escavadeira ou até mesmo cobertura manual.

A cobertura pode ser feita com solos ou entulhos resultantes da construção civil, que são
armazenados em área específica do aterro para uso posterior; ou com solo escavado no
próprio local do aterro ou de áreas próximas. Jazidas fora da área do aterro, além de
implicarem em maiores custos de transporte (e de aquisição do material), devem elas
também ser alvo de licenciamento ambiental. Na figura 4.6 mostra-se detalhe de cobertura
de um aterro sanitário com a retirada do solo no próprio aterro.

Figura 4.6 – Cobertura intermediária dos resíduos (ao fundo, retirada de


material no próprio aterro) (Aterro Metropolitano Santa tecla, Gravataí, RS)

Alternativamente, a frente de serviço (rampa) pode ser coberta, a cada fim de jornada de
Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)
Capítulo 4: Operação do Aterro Sanitário 80
trabalho, por mantas geossintéticas leves que são removidas na manhã seguinte, na
retomada da disposição dos resíduos. Em aterro de grande porte, que operam nas 24 horas
do dia, parando somente nos domingos, a rampa, como está sempre em serviço, não
recebe cobertura diária (mas somente no final do expediente de sábado); sendo a cobertura
intermediária feita somente na parte superior da célula.

Com o objetivo de evitar a formações de bolsões de lixiviados entre camadas do aterro,


principalmente junto aos taludes, o que pode gerar instabilidade do maciço e possibilidade
de aparecimento de vazamentos de lixiviado nos pés do talude (o chamado “choro de pé de
talude”), procede-se a remoção de solos de baixa permeabilidade usadas na cobertura
intermediária antes da colocação de nova camada de resíduos. Isto permitirá uma melhor
movimentação dos lixiviados para a camada de resíduos mais abaixo.

Nos aterros sanitários da Extrema e Santa Tecla, respectivamente localizados em Porto


Alegre e Gravataí, e que foram operados pelo autor e equipe, foi realizada a remoção total
da cobertura intermediária antes da colocação de nova camada de resíduos. Isto, além de
permitir um melhor contato entre camadas de resíduos, resulta também numa grande
economia de uso de material de cobertura, uma vez que o material removido é utilizado na
camada superior subseqüente. Importante salientar, entretanto, que no processo de
remoção desta camada, alguns materiais dos resíduos também acabam sendo removidos,
“contaminando” o solo de cobertura (ver figura 4.7). Para melhorar o aspecto estético desta
cobertura intermediária com solo “reaproveitado”, coloca-se uma fina camada, de cerca de 5
cm de solo “virgem”.

Figura 4.7 – Reaproveitamento do solo de cobertura intermediária

Na figura 4.8 mostra-se um aterro sanitário já com os taludes na forma do greide final do
aterro, já com a camada de argila final e a colocação da cobertura vegetal de gramíneas
para controle da erosão. Na parte superior da figura, nota-se a frente de serviço ou de
operação do aterro sanitário.

Drenagem de gases e de lixiviados

A rede de drenagem de lixiviados da base do aterro, bem como o início da construção dos
drenos verticais de gases, deverá feita juntamente com a implantação do aterro. Como já
referenciado anteriormente, estes dois sistemas devem interligados, como mostrado na
figura 4.8.

Os drenos verticais de gás vão sendo construídos a medida que o aterro vai avançando e
subindo. Quando são usados canos perfuras de concreto para servir de guia para a

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 4: Operação do Aterro Sanitário 81
colocação da brita, estes vão sendo justapostos uns sobre outros até a altura de cada
camada. Pode-se também utilizar “formas de deslizantes” metálicas, construídas com chapa
metálica resistente com diâmetro de acordo com a especificação de projeto do diâmetro do
dreno de gás, e com 2 m de altura. A forma é colocada no local apropriado, sobre o dreno
de lixiviados, e preenchida com brita. À medida que os resíduos dispostos atingem a altura
da forma metálica (ver figura 4.9), essa é içada através da colocação de um cabo de aço em
sua extremidade superior e a utilização, de retro-escaveira, pá-carregadeira ou escavadeira
hidráulica.

Figura 4.8 – Vista área Aterro Metropolitano Santa Tecla, Gravataí

Figura 4.8 – Interconexão dos sistemas de drenagem de lixiviados e de gases


(Aterro no Japão)

Em aterros de múltiplas camadas, com altura total maior de 10 m, é recomendado instalar


drenos intermediários ou secundários de lixiviados. Estes drenos devem sempre conduzir os
líquidos até os drenos verticais de gases, onde o lixiviado desce até o sistema de drenagem
de fundo. Para ajudar a evitar o “choro de pé de talude” também se instalam drenos de
lixiviado ao longo da linha de talude, conforme mostrado na figura 4.10.

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 4: Operação do Aterro Sanitário 82

Figura 4.9 – Detalhe de colocação de forma deslizante para dreno de gás


(Aterro Zona Norte, Porto Alegre)

Como os drenos secundários de lixiviados são construídos concomitantemente com a


operação do aterro, a sua construção é feita sobre a camada do aterro já construída. Antes
do início da construção da camada seguinte do aterro, faz a escavação de valas dentro dos
resíduos da camada inferior, no local onde ficará o pé do talude da camada seguinte (ver
figura 4.10). Feita a escavação coloca-se a brita no interior dos drenos e preenche-se o
restante da cava com resíduos frescos. A declividade desses drenos deve ser entre 2 e 5 %;
e as dimensões mínimas da seção transversal de 40 por 40 cm.

Dreno secundário
de lixiviado
Dreno vertical de gás

Dreno de lixiviado na
base do aterro

Figura 4.10 – Interconexão dos sistemas de drenagem e drenos secundários de lixiviados


(Fonte: Jaramillo e Zepeda, 1991)

Plano de inspeção e manutenção

O plano de inspeção e manutenção tem por objetivo a identificação e correção dos


problemas de ordem funcional ou de acidentais que por ventura ocorrerem. Para tanto
deverão ser efetuadas inspeções periódicas e sistemáticas. Nos parágrafos a seguir
demonstram-se as rotinas de inspeção e manutenção.

a. Sistema de isolamento
A inspeção no sistema de isolamento tem por objetivo detectar problemas no cercamento da
área, manutenção dos portões, verificação da ocorrência de pragas ou moléstias nas mudas
da barreira vegetal. Deve ter a sua freqüência de inspeção realizada semanalmente,

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 4: Operação do Aterro Sanitário 83
devendo-se adotar como providência o reparo ou reposição de trechos de cerca e mourões,
manutenção dos portões, combate imediato às pragas e moléstias da vegetação, adubação
e irrigação.

b. Pátio de acesso e pesagem e área operacional


Neste item deve-se observar a correção dos acessos, limpeza da área, desobstrução do
sistema de drenagem pluvial. Sua inspeção deve ser realizada semanalmente. Devem ser
efetuados reparos nos acessos com reaterramento e compactação de depressões,
esgotamento de poças de água, varredura dos pátios e acessos, capina e limpeza das
canaletas de drenagem pluvial.

c. Sistema viário
O plano de inspeção e manutenção do sistema viário visa detectar a ocorrência de erosão,
buracos e empoçamento dos acessos. Sua freqüência deve ser diária. Deve-se tomar como
providências a execução de reparos, reaterramento com material especificado e
compactação do leito dos acessos permanentes, esgotamento de poças, capina e
desobstrução das canaletas de drenagem pluvial.

d. Sistema de tratamento de lixiviados


O plano para este item visa a detecção de problemas de mau funcionamento e vazamentos.
A inspeção deve ser efetuada diariamente, sendo efetuados eventuais reparos e
substituições de conexões defeituosas, conserto de motores, limpeza do reservatório de
bombeamento (semanal).

e. Sistema de monitoramento
Servirá para a detecção de danos ou mau funcionamento. Sua freqüência deverá ser
semanal. As providências a serem tomadas são reparos das caixas de alvenaria e proteções
sanitárias, substituição das tampas dos poços, desobstrução de entupimentos.

f. Cobertura impermeabilizante final e recomposição do relevo


Este item tem o objetivo de detectar vazamentos de líquidos pela camada de cobertura final,
ocorrência de erosão e funcionamento dos terraços. Sua freqüência deverá ser semanal. As
providências a serem tomadas são a execução de reparos na camada de argila de cobertura
final, recuperação das áreas erodidas com reaterro de solo fértil e replantio da vegetação
(sempre após a ocorrência de chuva), reparos e reforços nos terraços (sempre após a
ocorrência de chuva).

4.5. Plano de emergência

Deverá ser elaborado um Plano de Emergência para lidar com acidentes, imprevistos e
outras questões emergenciais que venham a ocorrer no aterro. Os coordenadores de
emergência – que deverão estar devidamente identificados – deverão receber treinamentos
específicos para cada uma das situações expostas neste plano. Em caso de sinistro
deverão adotar assim as medidas observadas nestes treinamentos, liderando o combate a
situação gerada.

Coordenadores de emergência

Com o objetivo de ter-se sempre pelo menos uma pessoa como coordenador do plano de
emergência no local, sugere-se-se constituir três coordenadores de emergência durante o
período diurno e um no período noturno (quando houver) atuando em ordem hierárquica
dentro do aterro. Para a ocupação deste cargo sugere-se o engenheiro responsável técnico,
o chefe do aterro e o encarregado geral.

A seguir apresenta-se o modelo de lista dos coordenadores de emergência que deverá

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 4: Operação do Aterro Sanitário 84
estar atualizada no aterro sanitário. Estas informações deverão estar permanentemente
atualizadas, e estar em local visível e de conhecimento de todos no aterro, de modo que
estas pessoas possam ser localizadas em caso de qualquer emergência que envolva o
aterro:

 nome;
 especialização;
 telefones de contato;
 endereços para ser localizado.

Órgãos públicos de emergência

Dependendo do sinistro e de acordo com o coordenador de emergência, os seguintes


órgãos podem ser contatados em caso de emergência no aterro (no plano específico do
aterro colocar telefones, celulares, nome de pessoa de contato, etc.):

 corpo de bombeiros;
 polícia militar;
 pronto socorro ou hospital mais próximo;
 secretaria municipal de meio ambiente;
 órgão estadual de controle ambiental;
 demais secretarias da prefeitura municipal.

Procedimentos de emergência

As situações de emergência que podem acontecer na implantação e na operação de aterros


sanitários são as seguintes:

 incêndios;
 explosões;
 vazamentos de lixiviados;
 vazamentos de gases;
 ruptura ou rompimento de taludes;
 tombamento e colisão de veículos ou equipamentos;

Para cada uma destas situações o plano de emergência deverá descrever os procedimentos
que orientam as atitudes que devem ser tomadas em curto prazo para minimizar os
impactos e retomar o controle da obra.

Em todos os acidentes com lesões corporais deve-se verificar a gravidade do mesmo,


efetuando os procedimentos de primeiros socorros e em seguida encaminhar o trabalhador
ao serviço médico.

Em todos os casos, os acidentes devem ser devidamente registrados no Diário de Obra do


Aterro Sanitário.

4.6. Para não esquecer /dicas importantes

Para o sucesso na implementação de um novo aterro sanitário,


todo o pessoal, tanto técnico quanto de operação, deverá ser bem
treinado e estar muito motivado.

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 4: Operação do Aterro Sanitário 85

Aterro sanitário, mesmo com o melhor dos projetos técnicos, se


for mal operado, vira “lixão” em uma ou duas semanas...
O contrário não é necessariamente verdadeiro!

Para garantir uma operação adequada, os equipamentos e os


recursos financeiros devem estar sempre disponíveis em
volumes suficientes...

4.7. Para discutir

Os resíduos urbanos das cidades brasileiras têm em média 50 % de orgânicos putrescíveis.


Esta é justamente a fração mais densa e compostável. Se um município implantar uma
unidade triagem e compostagem – UTC – e retirar boa parte desta fração orgânica, discuta
as implicações no processo de disposição e compactação diária dos resíduos que sobraram
(rejeito) para disposição em um aterro sanitário.

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 5: Tratamento de Lixiviados 86

5. TRATAMENTO DE LIXIVIADOS

5.1. Importância

O tratamento dos lixiviados gerados em aterros sanitários é provavelmente uns dos


aspectos mais importantes do projeto de um novo aterro. Sob o ponto de vista ambiental,
não resolve muito tomar todos os cuidados de implantação e operação descritos
anteriormente, como camadas de impermeabilização inferior e superior, drenagem de
lixiviados e gases, e um bom sistema de operação do aterro, se os lixiviados drenados não
forem efetivamente tratados antes de serem lançados no meio ambiente.

Como veremos a seguir, todos os métodos ou técnicas de tratamento de esgotos


domésticos ou efluentes industriais podem ser aplicados ao tratamento de lixiviados. No
entanto, como a composição físico-química e microbiológica dos lixiviados é muito distinta
dos demais efluentes citados, em especial dos esgotos domésticos, cuidados devem
adotados na utilização de parâmetros de projeto destes sistemas e nas eficiências de
tratamento esperadas.

No Brasil, ainda são muito poucas as publicações de resultados de pesquisas, estudos, e


eficiências de estações reais em tratamento de lixiviados. Muitas, das poucas existentes,
das estações de tratamento implantadas em aterros sanitários no Brasil não têm
apresentado as eficiências de tratamento desejadas, nem tão pouco atingido os padrões de
emissão estabelecidos pela legislação vigente. Um esforço inicial no sentido de estudar o
tratamento de lixiviados para a realidade brasileira foi feito pelo PROSAB – Programa de
Pesquisas em Saneamento Básico – Edital 4; e está sendo aprofundado em uma nova
etapa de pesquisas (Edital 5) que iniciou em 2007 (Finep, 2007).

Para uma descrição detalhada dos resultados dos projetos de pesquisa do Edital 4 do
PROSAB, ver Castilhos Jr. (2006).

5.2. Características do lixiviado

A composição do lixiviado varia de aterro para aterro e até mesmo dentro de um mesmo
aterro com o tempo. Na tabela 5.1 pode-se observar grandes variações nos resultados das
análises do lixiviado proveniente de diferentes aterros. As razões estão relacionadas às
características da população geradora dos resíduos (nível e características de vida sócio-
econômico-culturais), topografia e geologia do local do tratamento e/ou destino final dos
resíduos, formas de coleta dos resíduos, e ainda, às características hidrológicas e climáticas
da região.

A evolução do processo biológicos que ocorrem no interior do aterro, bem como sua idade e
a composição dos resíduos dispostos, influenciam nas características do lixiviado. Gandolla
et al. (1995) apresentam os principais parâmetros utilizados na caracterização do lixiviado,
descritos a seguir e que podem ser visualizados na figura 5.1:

 o conteúdo em matéria orgânica, expressa em termos de DQO e DBO5, é


inicialmente muito elevado, diminuindo depois em razão da degradação biológica e
dos processos de lixiviação. Uma fração considerável de DBO inicial é constituída de
ácidos graxos voláteis, cuja concentração é um bom indicador do estágio da
degradação anaeróbia;
 o pH ácido no princípio, torna-se em seguida levemente alcalino;

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 5: Tratamento de Lixiviados 87
 a relação DBO5/DQO, que indica o percentual da matéria orgânica que é
biodegradável, e que diminui a medida que o aterro evolui. Inicialmente esta relação
é de 0,5 a 0,8, passando a 0,07 a 0,08 após vários anos;
 a concentração de metais é elevada em aterros jovens, devido ao ambiente ácido
que favorece a solubilização dos íons metálicos. Esta concentração tende a diminuir
com o tempo, na medida em que o pH aumenta;
 o fósforo está presente em quantidades tão modestas que em certos casos há a
necessidade de correção de sua concentração para viabilizar-se o tratamento
biológico do lixiviado;
 o enxofre, que embora presente nos resíduos sólidos, só é emitido em quantidades
pequenas, pois se fixa no aterro sob a forma de sulfetos insolúveis, principalmente
de ferro;
 o nitrogênio está presente em nível significativo, encontra-se nas formas de
nitrogênio orgânico e nitrogênio amoniacal, em concentrações mais elevadas em
lixiviados de aterros jovens e velhos, respectivamente;
 os ácidos orgânicos voláteis são identificadores do grau de degradabilidade e do
andamento dos processos anaeróbios. Os principais ácidos voláteis encontrados em
degradação anaeróbia são: acético, propiônico, butírico, iso-butírico, valérico e iso-
valérico.

Figura 5.1 – Variação da composição do lixiviado com o tempo


(Fonte: HMSO, 1995)

Através da caracterização do lixiviado pode-se ainda dividir a degradação anaeróbia em três


macro fases, as quais permitem determinar a idade do aterro em termos de degradação
biológica:
 fase ácida: geração de ácido graxos voláteis e alto grau de carga orgânica (aterro
jovem);
 fase metanogênica: geração do gás metano, pH levemente alcalino e níveis mais
baixos nas concentrações do lixiviado (aterro velho);
 fase de maturação: as emissões diminuem até valores insignificantes (aterro
estabilizado).

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 5: Tratamento de Lixiviados 88

Tabela 5.1 – Variabilidade das características fisco-químicas dos lixiviados


(Fonte: Reichert, 1999)

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 5: Tratamento de Lixiviados 89

5.3. Processos de tratamento

Os lixiviados de aterros sanitários, que inicialmente apresentam elevadas concentrações de


poluentes, caracterizadas por elevadas DQO, DBO, NH4+ e baixo pH, tem grande
variabilidade em seus constituintes no tempo e no espaço, variando de aterro para aterro.

A determinação do melhor sistema de tratamento para os lixiviados não é uma tarefa


simples, pois a princípio todas as operações e processos de tratamento de águas
residuárias podem ser a eles aplicados; no entanto, as eficiências variam, processo a
processo, de lixiviado para lixiviado. Importantes fatores direcionam a seleção do tratamento
mais adequado: as características do lixiviado, a flutuação das vazões, a possibilidade de
tratamento conjunto com efluentes domésticos, as variáveis ambientais, os custos e a
disponibilidade de área para implantar a estação de tratamento, entre outros.

Resulta assim que o tratamento do lixiviado não deve ser abordado de uma maneira isolada,
e sim fazendo parte de uma proposta de gerenciamento amplo do aterro sanitário – como
uma das suas partes principais – onde, em função do rigor que se deseja no controle deste
efluente, da estação de tratamento em si, dos limites de emissão e dos custos de
implantação e operação, poderão ser previstos dispositivos à retenção em bacias de
detenção/equalização e recirculação de lixiviado para as células do aterro. Outro fator
importante é que o sistema de tratamento deverá continuar funcionando por vários anos
após o fechamento do aterro.

Passaremos a apresentar e descrever os principais processos aplicados em aterro


(conforme Reichert, 1999).

Tratamento biológico

O tratamento biológico – aeróbio e anaeróbio – de lixiviados é baseado no contato do líquido


com uma cultura de microrganismos que se desenvolvem ao usar a matéria orgânica
dissolvida como fonte de alimento e energia. Os métodos utilizados para otimização do
processo biológico incluem o controle dos níveis de oxigênio dissolvido, a adição de
nutrientes, o aumento da concentração de microrganismos e a manutenção das condições
ambientais ótimas, como pH, temperatura e mistura.

Alguns dos processos de tratamento que mais têm sido aplicados ao tratamento de
lixiviados são:

 lodos ativados;
 lagoas de estabilização;
 lagoas aeradas;
 contatores biológicos rotatórios (bio-discos);
 digestão anaeróbia.

Lodos ativados

No processo de lodos ativados, microrganismos são misturados com o lixiviado e o


crescimento microbiano se dá pela assimilação da matéria orgânica dissolvida (ou
suspensa) presente no afluente. Os microrganismos crescem na presença de oxigênio
dissolvido na água e são misturados por agitação mecânica. Neste processo há a formação
de flocos ou colônias de microrganismos, o lodo ativado propriamente dito.

Este processo é composto geralmente por reator de mistura completa e clarificador

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 5: Tratamento de Lixiviados 90
secundário (decantador), para reter o lodo ativado que sai do reator com o afluente tratado.
O sistema de lodos ativados tem duas concepções básicas: fluxo contínuo e sistema
seqüencial em batelada.

Operação em paralelo Operação em série


Parâmetro
Afluente Remoção (%) Afluente Remoção (%)
Tempo de detenção
1,9 – 2,0 –
hidráulica (d)
DQO (mg/L) 18.488 94,9 18.505 94,6
DBO (mg/L) 12.468 99,1 8.143 94,3
Relação DBO/DQO 0,674 – 0,440 –
Alcalinidade (mg CaCO3/l) 5.479 87,5 5.262 71,6
Sulfato (mg/L) 645 – 178 –
Fosfato (mg/L) 2,15 – 1,39 –
NTK (mg/L – N) 748 86,4 – –
SS (mg/L) 686 97,4 1.655 71,1
SD (mg/L) 13.563 58,0 13.091 44,7
3
Vazão (m /d) 79,92 – 38,04 –

Tabela 5.2 – Resultados do tratamento, em escala real, de lixiviado por lodos ativados
(Fonte: Reichert, 1999)

Lagoas de Estabilização

Lagoas de estabilização são bacias de grande volume e pequenas profundidades onde a


ação do vento e a atividade fotossintética das algas promovem a aeração, e uma mistura de
população microbiana autotrófica e eutotrófica decompões a matéria orgânica ao longo de
um grande tempo de detenção. A radiação solar ou intensidade luminosa é um fator
ambiental muito importante, uma vez que regula a produção de oxigênio pelas algas. Em
função da natureza da atividade biológica que nelas ocorre, as lagoas de estabilização são
geralmente classificadas em aeróbia, facultativa e anaeróbia. Nas lagoas facultativas ocorre
uma camada superior aeróbia, uma camada de fundo onde se desenvolvem processos
anaeróbios, e uma camada intermediária com mecanismos aeróbio-anaeróbios.

Lagoas de estabilização é um método relativamente barato para tratamento de lixiviado, que


pode ser utilizado como única forma de tratamento ou antes de disposição para tratamento
em ETEs (estações de tratamento de esgotos) ou recirculação dentro do aterro.

Lagoas aeradas

As lagoas aeradas são semelhantes às lagoas de estabilização, com a diferença de que são
providas de equipamentos de aeração mecânica, cuja principal finalidade é introduzir
oxigênio na massa líquida. Sua profundidade varia de 3 a 5 m. O sistema funciona como um
tanque de aeração, no qual a aeração artificial substitui a oxigenação natural através das
algas. A área requerida por este sistema é menor do que a requerida pelas lagoas de
estabilização, devido a sua maior profundidade e ao menor tempo de detenção necessário
para a estabilização da matéria orgânica.

Durante períodos de pequena vazão de lixiviados, a relação DBO/NH4+ pode cair


significativamente, até valores de 1 a 5 g/g. Estes valores são muito menores que o limite
requerido para uma eficiente remoção do íon amonium pela assimilação biológica, que varia
de 20 a 28 g/g para os métodos de tratamento aeróbio como as lagoas aeradas.

Contatores biológicos rotatórios (bio-discos)

O sistema consiste de uma série de discos ligeiramente espaçados, montados em um eixo


horizontal. Os discos giram vagarosamente em torno deste eixo e mantêm, a cada instante,

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 5: Tratamento de Lixiviados 91
cerca da metade da área superficial de cada disco imersa e a restante exposta ao ar. A
medida que os discos giram, a parte exposta aera uma película líquida em contato com o
bio-filme aderido ao disco. Com a passagem dos microrganismos aderidos à superfície dos
discos pelo líquido, estes absorvem uma nova quantidade de matéria orgânica, utilizada
como substrato. Quando a camada biológica atinge uma espessura excessiva, ela se
desprende dos discos e é mantida no meio líquido em suspensão, aumentando a eficiência
do sistema.

Spengel e Dzombak (1991) utilizaram contatores biológicos rotatórios no tratamento de


lixiviado de aterros velhos, com baixa DBO e alta carga de amônia. O sistema foi
intensamente investigado em escala de bancada, tendo sido usados três reatores; cada
reator foi composto por três estágios. A oxidação da amônia foi completa e se obteve uma
remoção máxima da DQO de 38 %.

Digestão anaeróbia

Boyle e Ham (1974) estudaram processos anaeróbios para tratamento de lixiviados. Usaram
reatores anaeróbios em escala de bancada em três fases distintas; na primeira fase foi
verificada a aplicabilidade do processo anaeróbio; na segunda fase, verificaram o efeito da
carga de orgânicos e do tempo de detenção na eficiência do processo e na terceira foram
avaliados os efeitos do controle de temperatura.

Na primeira fase, usando um lixiviado com DBO de 8.400 mg/L, relação DBO/DQO de 0,79
e tempo de detenção de 10 dias, os autores obtiveram uma redução média de 94 % da DQO
e de 98 % de DBO, confirmando a eficiência do processo anaeróbio no tratamento de
lixiviados.

Variando a carga de DQO aplicada de 0,432 a 2,16 kg/m3.d e o tempo de detenção de 5 até
20 dias, com uma relação DBO/DQO de 0,82 e mantendo a temperatura entre 21 e 23 °C,
os autores concluíram que existe uma correlação entre o tempo de detenção hidráulica e a
performance do processo; o mesmo não ocorrendo para carga orgânica e performance,
dentro das variações de carga testadas.

Os resultados de outra etapa do estudo mostram que dentro dos valores de tempo de
detenção estudados (12,5 e 20 dias) não foram observadas diferenças nas performances
para 23 °C, ficando a eficiência de remoção de DQO e DBO em 87 e 97 %,
respectivamente. Já, para temperaturas inferiores de 15 e 10 °C, e mantendo o tempo de
detenção em 12,5 dias, a eficiência da remoção de DBO caiu para 84 e 26 %,
respetivamente. Os resultados mostram ainda que a remoção da DBO é um pouco mais
sensível a temperatura do que a remoção da DQO.

De acordo com os autores este tipo de tratamento é viável como pré-tratamento, devendo
haver um tratamento em seqüência para obtenção de um efluente em condições de
lançamento no meio ambiente.

Tratamento físico-químico

Os tratamentos físicos baseiam-se na aplicação de forças físicas sobre o líquido, no intuito


de promover a separação de contaminantes da água.

Os tratamentos químicos baseiam-se no contato de produtos químicos com o líquido,


proporcionando a sua alteração química e conseqüentemente a remoção de alguns
contaminantes. É de se observar que processos químicos são usados, em geral, em
conjunto com operações físicas. Denominam-se estes processos de tratamentos físico-
químicos.

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 5: Tratamento de Lixiviados 92
Os tratamentos físicos mais comuns são a evaporação natural, floculação e sedimentação,
filtração e osmose reversa ou ultrafiltração. Os tratamentos químicos mais comuns são
coagulação e precipitação, carvão ativado, troca iônica e oxidação química.

Qasin e Chiang (1994) apresentam uma compilação dos principais tratamentos físico-
químicos utilizados, a nível internacional, com sucesso no tratamento de lixiviados. Estes
resultados são apresentados nas tabelas 5.2 e 5.3.

DQO afluente Remoção


DBO/DQO DQO/COT Sistema de tratamento Dosagem
(mg/L) DQO (%)
14.900 0,45 3,45 Cal 13 2.760 mg/L
9.100 0,75 – Cloreto férrico 16 1.000 mg/L
9.100 0,75 – Sulfato de alumínio 5 1.000 mg/L
10.800 0,74 – Cal 4 1.840 mg/L
Cal no tratamento de
558 0,27 – 8 2.700 mg/L
efluente anaeróbio
Cal no tratamento de
efluente anaeróbio
366 0,11 – 29 1.400 mg/L
seguido de polimento por
lagoa aerada
2.250 mg/L Al2(SO4)3 e
4.800 0,66 2,73 Sulfato de alumínio e cal 40
800 mg/L CaO
Ferrosulfato 13 2.500 mg/L FeSO47H2O
3.400 0,81 – Cal 0 1.000 mg/L
1.240 0,66 2,78 Cal e aeração 8 210 ml saturado
FeCl3 (200 mg/L) por
1.234 0,68 2,88 Ferro e aeração 0
litro de lixiviado
Sulfato de alumínio e
1.234 0,68 2,88 11 180 mg/L Al2(SO4)3
aeração
5.033 0,60 – Cal 24 1.350 mg/L
12.923 0,57 – Cal 26 1.200 mg/l
2.000 0,36 – Sulfato de alumínio 31 2.700 mg/L
2.820 0,65 2,89 Cal 26 450 mg/L
Sulfato de alumínio e 200 mg/L Al2(SO4)3 e
2.000 – 0,10 45
polímero catiônico 330 mg/L polímero

Tabela 5.2 – Resultados do tratamento de lixiviados por precipitação química


(Fonte: Qasin e Chiang, 1994)

Remoçã
DQO afluente
DBO/DQO DQO/COT Sistema de tratamento o DQO Dosagem
(mg/L)
(%)
330 0,07 2,57 Cloração 33 65 ml/l de amostra
Cloração com cálcio
1.500 0,75 – 8 8.000 mg/L
Ca(ClO)3 hipoclorídrico
7.162 0,75 – Ozonização 37 4 h, 7.700 mg O3/L.h
4.800 0,66 2,73 Cloração 22 2.000 mg Cl2/L
139 0,04 2,10 Ozonização 22 4 h, 34 mg O3/L.h
Ozonização de elfuente de
1.250 – 2,90 37 3 h, 600 mg O3/L.h
filtro anaeróbio
Ozonização de efluente de
627 – 2,50 48 3 h, 400 mg O3/L.h
lagoa aerada

Tabela 5.2 – Resultados do tratamento de lixiviados por oxidação química


(Fonte: Qasin e Chiang, 1994)

Outro processo físico-químico usado é lavagem de NH3, que consiste da passagem de


bolhas de ar através de uma coluna de lixiviado de modo a reduzir a concentração de NH3,
que passa da fase líquida (o lixiviado) para a fase gasosa (o ar). Para deslocar o equilíbrio
da amônia em meio aquoso para a direita (N na forma de NH3), é necessário trazer o pH do

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 5: Tratamento de Lixiviados 93
lixiviado para próximo de 11, o que é usualmente feito pela adição de cal.

As vantagens dos processos físico-químicos em geral incluem partida imediata, fácil


automação, o fato de serem insensíveis aos efeitos da variação da temperatura e na maioria
dos casos a simplicidade dos materiais e da planta. Em geral, no entanto estas vantagens
perdem para as desvantagens: a grande quantidade de lodo gerados pela adição de
floculantes, os elevados custos de implantação e operação da planta e dos produtos
químicos.

Como resultado, processos físico-químicos são normalmente usados somente para o pré-
tratamento ou polimento de lixiviado para complementar tecnologias de degradação
biológica. Assim, eles são especialmente úteis para tratamento de lixiviado de aterros velhos
e para a eliminação de poluentes perigosos específicos em determinados sítios.

Processos alternativas

Além dos métodos de tratamento de lixiviados de aterros sanitários anteriormente descritos,


muitos outros têm sido propostos e estudados, alguns dos quais serão abordados neste
item.

Evaporação

Quando a quantidade de lixiviado gerado é pequena podem ser usados métodos que
produzem potencial de descarga zero. Um destes métodos é a evaporação. A evaporação
natural ou solar requer grandes áreas e depende fundamentalmente das condições
climáticas, como: temperatura, velocidade do vento, e umidade. Segundo Qasin e Chiang
(1994) o tamanho de áreas para leito de evaporação pode ser reduzido usando a
recirculação do lixiviado para o interior do aterro nas épocas de condições climáticas
adversas. Neste caso, a recirculação funcionaria como armazenamento temporário do
lixiviado no corpo de aterro. A evaporação de lixiviado é factível usando como fonte de
energia a combustão do biogás do próprio aterro.

Aplicação no solo

Também considerado um método de tratamento com potencial de descarga zero de


efluente, a aplicação no solo de águas residuárias domésticas é uma tecnologia de
eficiência comprovada; propicia a reutilização de nutrientes e produz um efluente de alta
qualidade. O tratamento no solo inclui o uso de plantas, da superfície do solo e da matriz do
solo para remover os vários constituintes do lixiviado através de meios físicos, químicos e
biológicos. Há três métodos básicos de aplicação no solo: irrigação a baixa taxa; infiltração
rápida; e escoamento superficial.

Outra alternativa de tratamento de lixiviados são as terras úmidas ou banhados (na língua
inglesa denominados de wetlands), que são áreas de terra inundadas com profundidades
não maiores que 0,6 m e que suportam o crescimento de plantas aquáticas. Esta vegetação
serve como suporte de filmes de bactérias, ajuda na filtração e adsorsão dos constituintes
do lixiviado, transfere oxigênio para a água, e controla o desenvolvimento de algas pela
restrição à entrada da luz solar. Esta tecnologia é considerada, principalmente, para
polimento de lixiviado pré-tratado.

Tratamento combinando com águas residuárias

O tratamento combinado de lixiviado com esgoto doméstico em uma ETE (estação de


tratamento de esgotos) já existente é um método bastante conveniente. São requisitos para
tal: a capacidade de transporte até a ETE, a capacidade da estação em assimilar o lixiviado,
a compatibilidade do processo com as características do lixiviado, e facilidade em lidar com

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 5: Tratamento de Lixiviados 94
o aumento na produção de lodo.

Boyle e Ham (1974) demostraram que um lixiviado com DQO de 10.000 mg/L pode ser
tratado com 5 % em volume sem alterar a qualidade do efluente final. Henry (1985) sugere
que, quando possível, a adição de lixiviado a ETEs deveria ser o método de disposição
preferido. Segundo o autor, estudos demonstraram que lixiviados altamente concentrados
(DQO de 24.000 mg/L), quando combinados até 2 % em volume com águas residuárias
municipais, não causaram alterações significativas na performance das estações de
tratamento.

A literatura apresenta vários aterros reais que utilizam o sistema combinado para tratamento
de lixiviados (segundo Reichert, 1999): o aterro Fresh Kills, da cidade de Nova Iorque; o
aterro Tohbu Fushitani, de Fukuoka, Japão; o aterro Bandeirantes, de São Paulo; o aterro
da Extrema, de Porto Alegre; sendo também prática comum na Suécia.

Recirculação

Um dos mais inovadores e aclamados métodos de tratamento de lixiviado é a circulação do


lixiviado de elevada carga orgânica de volta ao aterro, de modo que ele possa percolar
novamente pela massa de resíduos. A recirculação usa o aterro essencialmente como um
grande digestor anaeróbio não controlado, que promove o efetivo tratamento anaeróbio do
lixiviado. O fluxo da umidade através do aterro estimula a atividade microbiana, pois
promove um melhor contato entre substratos insolúveis, nutrientes solúveis, e os
microrganismos.

Qasin e Chiang (1994) apresentam as principais vantagens da recirculação:


 aceleração da estabilização dos resíduos no aterro;
 redução substancial nos componentes orgânicos do lixiviado;
 possível redução do volume devido a evapotranspiração;
 atrasa o início da necessidade de outro tipo de tratamento;
 redução dos custos de tratamento.

A técnica da recirculação só é propícia para aplicação em aterros onde o balanço hídrico é


favorável, ou seja, onde a evapotranspiração é maior que a precipitação média anual (ou
somente pode ser utilizada em certos períodos do ano em que isto ocorra). Além disso,
outras questões ainda necessitam de um aprofundamento maior, como: a investigação do
modo mais adequado de reinjeção do lixiviado no aterro (irrigação superficial ou
subsuperficial); a possibilidade de colmatação dos sistemas de reinjeção; a necessidade de
manter a uniformidade da umidade da massa de resíduos; o espaçamento físico dos
sistemas de injeção, tanto vertical como horizontalmente; e o total de lixiviado a ser
recirculado, e com que freqüência. A forte compactação que é imposta aos resíduos nos
aterros modernos, e a retenção de umidade nas sacolas plásticas apenas parcialmente
rasgadas durante a compactação, diminuindo a permeabilidade do aterro, também é um
fator levantado pelo autor como limitante à utilização efetiva da recirculação.

Embora a recirculação apresente benefícios quanto a uma considerável redução tanto de


carga orgânica quanto do volume de lixiviado, o efluente final ainda não estará em
condições de emissão nos cursos d´água receptores, pois ainda pode apresentar elevada
DQO e principalmente, amônia. A recirculação deve, portanto ser considerada como o
primeiro estágio de um processo de tratamento mais amplo.

5.4. Adequação e aplicabilidade dos diferentes métodos

Em função da complexidade do problema de tratamento de lixiviado, o estabelecimento de


recomendações gerais de validade universal é muito difícil. Todos os métodos apresentam
vantagens e desvantagens inerentes em relação a certas facetas do problema. Nas tabelas

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 5: Tratamento de Lixiviados 95
as seguir são apresentadas a adequação e aplicabilidade dos diferentes métodos.

Matéria Orgânica
Poluen
Jovem Médio Velho Nitrogê tes Sólido
Processo de Tratamento Metais Ácidos
<5 5 – 10 > 12 nio Prioritá s
anos anos anos rios
Físico
Evaporação natural Bom Bom Bom Bom Bom Bom Bom Bom
Flotação NA NA NA Regular Regular NA Regular Bom
Bolhas de ar NA NA NA NA Bom Bom Regular NA
Filtração NA NA NA Bom NA NA Na Bom
Membranas Bom Bom Bom Bom Regular Bom Bom Bom
Químico
Coagulação/floculação Ruim Regular Ruim Bom NA Regular NA Bom
Oxidação química Ruim Regular Regular NA Regular NA Bom NA
Troca iônica Ruim Regular Regular Bom NA Regular NA Bom
Carvão ativado Ruim Regular Bom NA Bom NA Bom NA
Biológico
Crescimento aeróbio suspenso Bom Regular Ruim Bom Bom Regular Regular Regular
Aeróbio de leito fixo Bom Regular Ruim Bom Bom Regular Regular Regular
Crescimento anaeróbio
Bom Regular Ruim Bom Bom Regular Regular Regular
suspenso
Anaeróbio de leito fixo Bom Regular Ruim Bom Bom Regular Regular Regular
NA: não aplicável
Tabela 5.3 – Comparação da performance dos vários processos de tratamento de lixiviado
(Fonte: Reichert, 1999)

Combinado Lagoa de Físico-


Tratamento Recirculação Aeróbio Abnaeróbio
em ETE estabilização químico
Temperatura E Α + + + + Α
média M Α Α + Α + Α
B Α Α – – – Α
Precipitação E Α – – Α Α Α
M Α – – Α Α Α
B Α + + Α Α Α
Vazão de E – Α Α Α – –
lixiviado M – Α Α Α Α Α
B + + + Α Α Α
Concentração E – + Α – + –
do lixiviado M Α Α + Α + –
B + Α + + Α +
Idade do V + Α – – – +
aterro J – + + + + Α
Área E Α Α + + Α Α
disponível M Α Α Α Α + +
B + Α – – + +
Obs.: E: elevado; M: médio; B: baixo; /// V: velho, J: jovem; /// +: favorável; Α: indiferente; –: desfavorável.

Tabela 5.4 – Adequação de tratamentos em função de características específicas


(Fonte: Reichert, 1999)

5.5. Proposta de dimensionamento

Como visto no item anterior deste capítulo há vários processos e sistemas que podem ser
utilizados para tratamento de lixiviados, e a escolha do processo, ou dos processos em
seqüência não é uma tarefa fácil.

Apresentamos, na seqüência uma proposta de dimensionamento de três tipos de tratamento


muito utilizados nos aterro brasileiros:

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Capítulo 5: Tratamento de Lixiviados 96

 filtro anaeróbio de leito fixo;


 filtro biológico aeróbio;
 lagoas de maturação.

Filtro anaeróbio de leito fixo

Os filtros anaeróbios construídos com brita 3 ou 4 são responsáveis basicamente pela


remoção de matéria orgânica particulada ou dissolvida, em ambientes sem a presença de
oxigênio livre.

Ainda há muito a pesquisar sobre a melhor forma de dimensionamento destes filtros


anaeróbio, mas estudos feitos por Fernandes et al. (2006) apontam que as eficiências de
remoção de cargas orgânicas são maiores para lixiviados de aterros novos do que de
aterros velhos.

Fleck (2003), em um estudo piloto com lixiviado real, concluiu que a eficiência de remoção
de DBO para filtro anaeróbio é função do tempo de detenção hidráulica. Os estudos feitos
pelo autor mostram uma redução de 50 e 70 %da DBO para tempos de detenção de 10 e 20
dias, respectivamente.

Fernandes et al. (2006) apontam valores muito semelhantes que os encontrados por Fleck
(2003) para lixiviados novos; já para lixiviados de aterros velhos, as eficiências foram da
ordem 10 e 30 % respectivamente para 10 e 20 dias de detenção, com cerca de 50 % de
redução da BDO para 30 dias.

Importante colocar que estes resultados são preliminares e devem ser usados com extremo
cuidado e restrição para fins de dimensionamento. Sugere-se que uma eficiência média de
50 % de redução de DBO possa ser utilizada para dimensionamento, sendo que os tempos
de detenção hidráulica devem ser elevados, na ordem de 10 a 20 dias, no mínimo. Esses
tempos elevados implicam em volumes maiores de filtro.

O volume do filtro anaeróbio é dado a partir da vazão e do tempo de detenção adotado:

V = Q×t (5.1)

No aterro sanitário da Extrema, em Porto Alegre, foi construído um filtro anaeróbio na base
do aterro, no patamar de cotas mais baixas. O filtro tem 40 cm de altura e cerca de um
hectare de área, e um tempo de detenção hidráulica de 30 dias. As eficiências de remoção
de BDO são da faixa de 70 a 80 % (Reichert e Cotrim, 2000a; e Reichert e Cotrim, 2000b).
Este tipo de solução de construção do filtro parece ser uma solução interessante,
principalmente quando não se dispõe de grandes áreas para o sistema de tratamento.

Filtro biológico aeróbio

No filtro biológico aeróbio o lixiviado passa por um meio poroso normalmente constituído por
brita 3, onde na presença de ar atmosférico o líquido entra em contato com as bactérias
aderidas ao meio suporte (brita).

Em geral o dimensionamento destes sistemas é feito com base na taxa de aplicação


hidráulica ou carga volumétrica. As cargas aplicadas variam de 0,2 a 1,8 kg DBO / m3.d.

O volume do filtro é dado por:

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 5: Tratamento de Lixiviados 97
Q xS0
V = (5.1)
La

onde: V = volume do filtro (m3);


Q = vazão média afluente (m3/d);
So = DBOentrada (kg/m3);
La = carga volumétria ou taxa de aplicação (kg DBO / m3.d).

A profundidade dos filtros é variada, sendo que no tratamento de esgotos o usual é


profundidades de 0,9 a 2,4 m. Adotando-se uma altura de projeto, calcula-se a área
necessária e as dimensões do filtro.

Eficiência de remoção de DBO é:

1
E= (5.1)
w
1 + 0,443 ⋅
V

onde: E = eficiência de remoção de DBO;


w = carga orgânica aplicada (kg DBO/d);
V = volume do filtro (m3).

Lagos de maturação

Dimensionamento da lagoa anaeróbia

A lagoa anaeróbia tem menor volume e maior profundidade. Sua eficiência na remoção de
DBO é de 40% a 50%. A DBO remanescente é removida na lagoa facultativa.

A taxa de aplicação volumétrica Lv é função da temperatura do ar e varia entre 0,1 a 0,3


kg.DBO5/m3.d. Quanto maiores as temperaturas maiores as taxas que podem ser usadas no
projeto.

Conhecida a vazão de lixiviados a adotar, e a sua concentração em termos de DBO, pode-


se calcular a carga de DBO alfuente à lagoa anaeróbia:

Q xS0
L= (5.1)
1000

onde: L = carga afluente de DBO (kg DBO/d);


Q = vazão média afluente (m3/d);
So = DBOentrada (mg/L).

A seguir calcula-se o volume, como:

L
V = (5.2)
Lv

onde: V = volume da lagoa anaeróbia (m3);


L = carga de DBO aplicada (kg DBO/d);
Lv = taxa de aplicação volumétrica (kg.DBO5/m3.d).

O tempo de detenção hidráulica t (em dias) é calculado como segue:

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 5: Tratamento de Lixiviados 98

V
t= (5.3)
Q

A profundidade h das lagoas anaeróbias varia de 3 a 5 m. Adotando-se uma profundidade


de projeto, calcula-se a área A necessária para a lagoa:

V
A= (5.4)
h

As dimensões adotadas são tais que a lagoa tenha relação comprimento/largura de 1:1
(quadrada) ou 2:1 (retangular). Assim, conhecida a área e definida a relação de dimensões,
calcula-se a largura e o comprimento da lagoa anaeróbia.

A eficiência E das lagoas anaeróbias é da ordem de 50 %. Assim, calcula-se a DBO efluente


S:

S0 − S
E= x100 (3.5)
S0

Dimensionamento da lagoa facultativa

A lagoa facultativa tem pouca profundidade e grande área. A DBO solúvel é particulada e
estabilizada aerobiamente por bactérias dispersas no meio liquido e a DBO suspensa tende
a sedimentar, sendo estabilizada anaerobiamente por bactérias no fundo da lagoa. O
oxigênio requerido pelas bactérias aeróbias é fornecido pelas algas, através da fotossíntese.
A seguir temos a seqüência de cálculo do dimensionamento da lagoa facultativa.

Carga afluente à lagoa facultativa é dada por:

QxS 0
L= (3.6)
1000

onde: L = carga afluente de DBO (kg DBO/d);


Q = vazão média afluente (m3/d);
So = DBOentrada (mg/L) (= DBOefluente da lagoa anaeróbia).

Valores de Ls:
Regiões de inverno quente e elevada insolação: Ls = 240 a 350 kg DBO/ha.d
Regiões de inverno e insolação moderados: Ls = 120 a 240 kg DBO/ha.d
Regiões com inverno frio e baixa insolação: Ls = 100 a 180 kg DBO/ha.d

Área requerida é dada por:

L
A= (3.7)
Ls

onde: A = várea da lagoa facultativa (ha);


L = carga de DBO aplicada (kg DBO/d);
Ls = taxa de aplicação superficial (kg.DBO5/ha.d).

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 5: Tratamento de Lixiviados 99
A profundidade h da lagoa de facultativas para tratamento de esgotos varia de 1.0 a 2,0 m.
No caso de lixiviados, que têm concentrações muito mais elevadas que os esgotos
domésticos, e de modo a partir a entrada de luz solar nas lagoas, sugere-se que sejam
utilizadas alturas menores, na ordem de 0,6 a 1,2 m.

Adotando-se uma altura h calcula-se o volume V pela equação seguinte:

V = A⋅h (3.8)

Conhecido o volume V da lagoa facultativa, o tempo de detenção hidráulica é dado pela


equação 5.3.

A dimensões da lagoa facultativa variam de 2,5:1 até 4:1 (comprimento/largura).

A BDO efluente é dada por:

S0
Se = (3.9)
(1 + k .t )

onde: Se = DBOsaída (mg/L);


So = DBOentrada (mg/L);
t = tempo de detenção hidráulica (d);
k = coeficiente cinético (0,1 a 0,35 d-1).

Por fim calcula-se a eficiência E de remoção de DBO:

(S 0 − S e )
E= (3.10)
S0

Dimensionamento da lagoa de maturação

Com o objetivo de dar maior segurança ao sistema de tratamento de lixiviados, podem ser
adotadas uma ou mais lagoas de maturação em série, que tem por objetivo remover os
nutrientes e complementar a remoção da carga orgânica.

Esta lagoa de maturação para tratamento de lixiviados pode ser dimensionada como lagoa
facultativa, porem com uma taxa de aplicação superficial na ordem 100 kg.DBO/ha.d.

5.6. Para não esquecer /dica importante

Todas as técnicas de tratamento de esgotos domésticos podem


ser aplicadas ao tratamento de lixiviados de aterros sanitários.
Lembre-se, entretanto, que os parâmetros de projeto e as
eficiências alcançadas não são as mesmas.

5.7. Exercício dimensionamento sistema de tratamento

Faça o dimensionamento de um sistema de tratamento de lixiviados composto por um filtro


anaeróbio de brita, um filtro biológico, e um sistema de lagoas anaeróbia e facultativa (todo
o sistema em série, nesta ordem). Dados: Q = 0,95 L/s e DBO = 7.000 mg/L

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Capítulo 6: Monitoramento 100

6. MONITORAMENTO

6.1. Importância e objetivos

A implantação e operação de um aterro sanitário deverá ser acompanhada de um plano de


monitoramento, cujos objetivos serão:

 avaliação da eficiência da obra de engenharia no sentido da proteção dos recursos


naturais do entorno do sítio, detectar e determinar o grau dos impactos ambientais,
caso existam e, nesse caso, exercer as medidas corretivas que se façam
necessárias (Monitoramento Ambiental);
 verificar a eficiência do processo de biodegradação dos resíduos sólidos em função
do tempo, prever e detectar possíveis efeitos adversos à sua manutenção, tomar as
medidas preventivas e corretivas para o bom andamento do mesmo e buscar a
otimização dos fatores intervenientes (Monitoramento Operacional);
 avaliar continuamente a eficiência das unidades constituintes da Estação de
Tratamento de Lixiviados (Monitoramento Operacional);
 verificar o potencial de aproveitamento energético do biogás gerado no aterro
(Monitoramento Operacional).

Neste sentido, os resultados do monitoramento das águas de superfície e do lençol freático


do entorno da área de aterramento de resíduos sólidos, bem como os provenientes do
monitoramento dos líquidos percolados do aterro, em suas diferentes fases de tratamento e
dos gases produzidos pela digestão anaeróbia dos resíduos sólidos serão avaliados à luz do
conhecimento científico atual e comparados com os padrões para avaliação da qualidade
dos recursos hídricos e para a avaliação da eficiência dos processos biológicos, químicos e
físicos de estabilização dos resíduos sólidos e líquidos.

O monitoramento ambiental objetiva verificar se as obras de drenagem e impermeabilização


cumprem com a função de isolar o entorno do aterro dos resíduos e efluentes com potencial
poluidor. O veículo da dispersão dos poluentes por excelência é a água. Portanto excluir a
possibilidade do contato das águas de superfície e do lençol freático com resíduos sólidos,
lixiviados e biogás é a função primordial dos trabalhos de engenharia.

Neste sentido a análise de amostras de águas de superfície do entorno do aterro e de águas


do lençol freático captadas no perímetro da área de aterramento, fazendo-se o comparativo
entre as características das águas de montante e jusante e a análise de parâmetros que
tipicamente indicam a presença de contaminação por líquidos percolados de aterro
cumprem o papel de verificar se a obra de engenharia cumpre sua função primordial de
proteção do ambiente do entorno.

Em todos os casos, tanto no monitoramento ambiental como no operacional, os parâmetros


a serem monitorados serão propostos pelo projetista e avaliados e confirmados pelo órgão
de controle ambiental no momento na análise e emissão da licença de instalação – LI – do
aterro. O órgão ambiental poderá aceitar a proposição do projetista ou exigir a inclusões de
novos parâmetros a serem analisados ou a adoção de periodicidades de coleta e análise de
amostras diversas das propostas.

Na seqüência apresenta-se uma sugestão mínima de parâmetros e periodicidades de


amostragem para um aterro de médio porte. Tanto a amostragem quanto a preservação e
análise das amostras deverão seguir padronização aplicável.

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Capítulo 6: Monitoramento 101
6.2. Monitoramento dos líquidos (lixiviado, águas superficiais e subsuperficiais)

Os pontos de monitoramento de lixiviados devem estar devidamente identificados em planta.


A localização dos mesmos deverá ser, preferencialmente, nas caixas de inspeção
localizadas na saída do dreno do aterro e entre as diversas etapas ou unidades do sistema
de tratamento adotado; além, é claro, de um ponto na emissão final do efluente.

Os parâmetros selecionados para o monitoramento de cada ponto devem cumprir quatro


requisitos básicos:

 permitir a avaliação da eficiência da unidade de que é efluente;


 permitir a avaliação da eficiência a ser requerida na unidade subseqüente;
 verificar as concentrações dos compostos e propriedades físico-químicas que
podem influenciar a eficiência das unidades de tratamento subseqüentes, permitindo
que se façam as intervenções necessárias à otimização do meio de tal unidade;
 no caso do efluente final, verificar se estão atendidos os padrões para lançamentos
do efluente em um corpo hídrico.

A periodicidade do monitoramento dos efluentes do aterro e das unidades de tratamento


obedecerá às necessidades operacionais do sistema.

O ponto de lançamento final do efluente tratado deverá ser monitorado para avaliação do
efluente final que será lançado no corpo hídrico. Estes resultados de análises deste ponto
deverão ser periodicamente enviados ao órgão de controle ambiental, para fins de
comparação com os limites máximos de emissão de efluentes líquidos de acordo com a
legislação de emissão de efluentes líquidos vigente.

Os parâmetros propostos para o monitoramento das águas superficiais foram escolhidos em


função de melhor e mais rapidamente representarem as condições sanitárias e a presença
de contaminação por lixiviados de aterros nessas águas.

As águas superficiais deverão ser coletadas em dois pontos: ambos próximos ao local de
lançamento dos efluentes líquidos tratados, sendo um à jusante do lançamento e outro à
montante.

As águas de lençol freático deverão ser coletadas em piezômetros construídos ao longo do


perímetro do sítio, sendo, no mínimo 3 piezômetros à jusante e um à montante,
considerando o fluxo preferencial do lençol freático.

Os parâmetros propostos para o monitoramento das águas de lençol freático, da mesma


maneira do que os parâmetros de monitoramento de águas superficiais, devem se constituir
nos melhores indicadores da qualidade dessas águas e, sobretudo, nos indicadores mais
precisos e rápidos de eventuais contaminações com lixiviados de aterros.

Na tabela 6.1 é apresentado uma proposta de periodicidade de coleta e análise, bem como
dos parâmetros a serem analisados para as águas superficiais, águas subterrâneas ou
subsuperficiais, lixiviados nas unidades de tratamento, e lixiviado no ponto de emissão final
pós-tratamento. Estes parâmetros e periodicidades são sugestivos, devendo a definição final
ser feita conjuntamente com projetista, empreendedor e órgão de controle ambiental, tendo
como base o porte do aterro e o grau de fragilidade da área de implantação do mesmo.

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Capítulo 6: Monitoramento 102
Meio Periodicidade Parâmetros
Temp; DQO; Condutividade; OD;
Águas superficiais Bimestral +
pH; NH4 ; NO3; Fe; Mn; Cl
Nível de água; Temp; pH;
Bimestral +
Águas subterrâneas Condutividade; OD; NH4 ; Cl
(subsuperficiais) Como bimestral mais: Mg; Fe; Mn;
Quadrimensal
Cd; Cr; Cu; Ni; Pb; Zn
Semanal Vazão; Temp; pH
Mensal (reduz para trimestral quando Como semanal mais: DQO;
+
condições estáveis se verificarem) DBO;NH4 ; Cl
Emissão final de
Como trimestral mais: SO4;
lixiviados tratados Trimestral
alcalinidade, Na; K
Semestral (reduz para anual quando Como trimestral mais: Fe; Mn; Cd;
condições estáveis se verificarem) Cr; Cu; Ni; Pb; Zn
Mensal Vazão; pH; DBO
+
Lixiviados nas Trimestral (reduz para anual quando Como mensal mais: Cl, NH4 ; SO4;
unidades de condições estáveis se verificarem) DQO; DBO; Na; K; Mg
tratamento Como trimestral mais: Fe; Mn; Cd;
Anual
Cr; Cu; Ni; Pb; Zn
Semestral (reduz para anual quando
CH4; CO2; N2; O2
Gases condições estáveis se verificarem)
Anual CH4; CO2; N2; O2
Semestral (reduz para anual quando
pH; Umidade; STV; ST
Resíduos aterrados condições estáveis se verificarem)
Anual pH; Umidade; STV; ST
Tabela 6.1 – Plano sugestivo de monitoramento de líquidos, gases e resíduos aterrados

Valores naturais ou “brancos” devem ser estabelecidos para todos os parâmetros de águas
(superficiais e subsuperficiais). Estes valores devem preferencialmente ser definidos antes
do início da operação do aterro. Por uma questão de representatividade estatística, o valor
natural deve ser estabelecido a partir de pelos menos quatro amostragens realizadas em
intervalos de três meses (ou seja, um ano antes do início da operação).

6.3. Descrição do piezômetro e métodos construtivos

Os piezômetros deverão ser construídos conforme critérios estabelecidos pelo projeto de


norma da ABNT NBR 13895/1997 "Construção de poços de monitoramento e amostragem”.
Os poços deverão ser perfurados em tempo seco.

O poço deverá ser perfurado com um diâmetro de 8" e com uma profundidade a ser
estabelecida pelo nível de água encontrado, devendo abranger toda a coluna de material
saturado e, se muito profunda, devendo estender-se até 2 metros abaixo do topo do nível de
água.

Todos os furos deverão ser revestidos com tubos de PVC rígido ou tubos geomecânicos de
diâmetro de 4" para a introdução de amostrador. O filtro do piezômetro será constituído por
PVC rígido e ranhurado com a finalidade de permitir a entrada das águas freáticas dentro do
poço. O comprimento da parte ranhurada do filtro deverá ser de no mínimo 50% da
extensão da zona saturada, porém não podendo ser inferior a 50 cm. As ranhuras do tubo
deverão ser de 2 a 3 cm vazadas e espaçadas em 1 cm. Os seus comprimentos deverão ser
um pouco menores do que a metade da circunferência da seção transversal do tubo.

A parte externa do filtro deverá ser envolvida por uma manta sintética de geotêxtil (OP-40)
em toda a parte ranhurada, cujo objetivo é evitar a interferência dos sólidos finos carreados
pelo sub-solo nas análises. A ponta final do piezômetro deverá ser vedada com um tampão

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 6: Monitoramento 103
fixo e sem ranhuras. Este tampão localizar-se-á a 20 cm do fundo do furo. O fundo do furo
deverá ser revestido com uma camada de 20 cm de areia grossa isenta de impurezas.
Devendo o tubo ter o comprimento suficiente para ficar 30 cm acima da superfície. O tubo
de PVC rígido deverá ser instalado no centro do tubo e em seguida ser adicionado o pré-
filtro entre as paredes do tubo e do furo. O pré-filtro será constituído de areia grossa lavada
de grãos quartzosos ou pedriscos de quartzo (inertes). O pré-filtro deverá preencher os
vazios do furo. É importante, portanto, frisar que a areia deverá ser colocada em camadas
de 20 cm, ocupando toda a altura da camada saturada e no máximo mais 30 cm.

Com o objetivo de constituir um selo cuja finalidade impedir a infiltração de águas, será
colocado material argiloso (de preferência argila bentonítica) no espaço anular e com o solo
da perfuração. A fim de evitar a infiltração de águas superficiais no furo e melhorar as
condições de fixação do tubo, deverá ser efetuada uma proteção nos 50 cm finais do tubo
com argamassa de cimento e areia preenchendo o restante do espaço anular. Na superfície
deverá ser confeccionado um piso de cimento com 5 cm de espessura e 30 cm de largura.
Na extremidade superior do tubo será colocado um tampão removível e rosqueado com um
orifício em sua lateral, efetuando assim um respiro e, conseqüentemente evitando
diferenças de pressão e deslocamento do tubo.

O piezômetro deverá ser protegido por uma caixa de alvenaria com tampa e trancada,
permitindo o acesso somente de pessoas autorizadas. Após construído o piezômetro, deve-
se fazer o preparo para o monitoramento. Tal preparo consiste em esgotar o poço tantas
vezes quanto for necessário até obter-se água com turbidez menor ou igual a 5 N.T.U..

6.4. Monitoramento de biogás

As concentrações relativas de metano, nitrogênio, gás carbônico e oxigênio indicam, além


do potencial energético do biogás, o estágio de estabilização em que se encontram os
resíduos sólidos, ou, em certos casos, a paralisação da metanogênese por algum efeito
tóxico ou de inibição. Em aterros de pequeno e médio porte do aterro, não é muito comum o
monitoramento regular dos gases gerados. Se houver interesse por parte da prefeitura em
monitorar os gases, no mínimo os parâmetros acima devem ser analisados (ver tabela 6.1).

6.5. Monitoramento geotécnico

Um aterro sanitário, mesmo bem compactado, sofre adensamentos da ordem de 20 a 30 %.


Aterros mal ou pouco compactados podem atingir até 50 % de recalque em relação a sua
altura inicial. Estes recalques ou adensamentos são causados por dois fatores básicos: a
diminuição dos vazios e assentamento residual dos materiais altamente deformáveis, devido
ao peso próprio e das camadas superiores; e devido à fluência e à decomposição da
matéria orgânica.

Estes recalques causam tanto movimentos verticais quanto horizontais do aterro, ou seja,
como se costuma dizer, “o aterro caminha”. Estas movimentações podem ser claramente
visualizadas na figura 3.24.

Com o objetivo de monitorar os recalques, os deslocamentos horizontais e o comportamento


do maciço do aterro sanitário com um todo, deverá ser prevista a instalação de placas de
recalques e marcos de superfície.

Placas de recalque

As placas de recalque são dispositivos instalados no interior do aterro, entre camadas, que
permitem o acompanhamento dos recalques por adensamento do aterro. Estes dispositivos

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 6: Monitoramento 104
têm as seguintes características:

 são instaladas no interior do maciço do aterro sanitário, em pontos estratégicos;


 são confeccionadas em material resistente à corrosão, com dimensões de 0,6 x 0,6
m e hastes de 2” de diâmetro;
 para permitir liberdade de movimentação da placa, a haste vertical deve ser
protegida com tubo de PVC rígido;
 as leituras periódicas deverão ser realizadas por nivelamento geométrico de
precisão; utilizando referências de níveis localizados em terreno indeformável fora da
área útil do aterro.

Marcos de superfície

Os marcos superficiais são instalados na camada de cobertura final do aterro após a


conclusão do mesmo, e têm o objetivo de medir os recalques e deformações horizontais.

Os marcos podem ser confeccionados em formato piramidal, utilizando concreto simples, e


instalados firmemente na superfície do aterro. As leituras periódicas deverão ser feitas de
maneira análoga às das placas de recalque.

6.6. Para não esquecer /dicas importantes

Devem ser instalados no mínimo dois pontos de monitoramento de águas


superficiais: um a montante e outro a jusante do ponto de lançamento do
efluente líquido tratado no curso d’água.
A distância do ponto de montante ao ponto de lançamento deve ser tal
que este não sofre influência do efluente (por advecção ou difusão) e que
não haja outras fontes pontuais ou difusas que cheguem ao curso d’água.

Os pontos de monitoramento de águas subterrâneas devem ter amostras


coletadas e analisadas antes do início da operação do aterro (no mínimo
4 amostras em um ano). Isto mostrará se há contaminação antes da
instalação do aterro.
PORQUE, DEPOIS DO ATERRO ENTRAR EM OPERAÇÃO, TUDO DE
RUIM QUE ACONTECER NA REGIÃO SERÁ CULPA DO ATERRO!

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Capítulo 7: Encerramento e Pós-Fechamento 105

7. ENCERRAMENTO E PÓS-FECHAMENTO

7.1. Importância e objetivos

A vida útil do aterro sanitário chega ao fim quando é alcançado o volume previsto de
resíduos a serem dispostos no local; ou, em outras palavras, quando o último caminhão
coletor efetuar a sua última descarga. Com isto o aterro terá a sua operação diária
encerrada, mas ainda necessitará de cuidados posteriores. Os cuidados de encerramento e
pós-fechamento (uma espécie de “aposentadoria ou seguro de terceira idade”) devem
considerar que um aterro pode gerar efluentes com potencial impacto ambiental por um
período de 20 a 50 anos, ou mais.

Infelizmente, os aterros sanitários não podem ser construídos para comportar-se


exatamente da maneira como foram concebidos ou projetados. Recalques não previstos,
debilidades na qualidade de construção, e a natureza por ela mesma irão comprometer,
invariavelmente, numa maior ou menor extensão, os sistemas de proteção ambiental
concebidos e construídos no projeto. Portanto, será necessário instituir programas de
inspeção e monitoramento e fazer qualquer manutenção ou reparo necessário no local.

Nos aterros projetados sem o uso de geomembrana na camada de cobertura final, o


lixiviado continuará a ser gerado na mesma proporção que as águas da chuva precipitarem
e infiltrarem pela superfície do aterro. Será, portanto, necessário manter e operar os
sistemas de drenagem e de tratamento de lixiviados até que o efluente atinja naturalmente
os padrões para emissão direta nos recursos hídricos superficiais ou subsuperficiais.

7.2. Decisões fundamentais

O plano de encerramento deve ser parte constituinte do projeto executivo do aterro. Quando
as atividades de operação do aterro chegam o ponto onde as primeiras etapas ou áreas
atingem suas cotas ou alturas finais, será apropriado ao operador ou gerente do aterro
considerar o seguinte:

Depois de tantos anos, o plano de encerramento ainda é aplicável?

No intervalo de tempo transcorrido, a legislação ambiental específica pode ter evoluído,


planos de uso do solo podem ter mudado; e o uso pós-fechamento inicialmente previsto
pode não mais ser apropriado. A disponibilidade de material para cobertura final pode ter
sofrido alteração pelo uso excessivo ou a menos de material para cobertura diária ou
intermediária.

Neste ponto, o plano de encerramento e uso futuro deverá ser revisto com especial
consideração sobre os recursos e os custos implicados. Neste mesmo momento, estarão
sendo tomadas simultaneamente as medidas para a preparação do próximo aterro sanitário,
que irá competir com o sítio atual por recursos e dinheiro. Isto leva naturalmente a uma
segunda questão fundamental:

Por quanto tempo deveria, e a que custo, pode um programa de


pós-fechamento ser sustentado?

Restrições orçamentárias podem levar ao gerente de disposição de resíduos a considerar


limitar não somente a duração do programa de pós-fechamento, como também o seu
escopo ou alcance. Neste caso alguns aspectos do plano necessitam ser priorizados pelo
gerente. O que é melhor, por exemplo, manter a integridade da camada de cobertura final,

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 7: Encerramento e Pós-Fechamento 106
ou gastar o orçamento em análises laboratoriais e no monitoramento das águas
subterrâneas? Deverá ser dada preferência ao preenchimento de pequenas falhas e
rachaduras na cobertura ou ao reparo do sistema de drenagem das águas das chuvas nos
taludes do aterro? Estas e outras questões serão aqui discutidas.

7.3. Princípios gerais

Planos de restauração de áreas de aterro devem considerar os seguintes aspectos:

 o tipo de cobertura final para o aterro finalizado;


 a drenagem do lixiviado do aterro para evitar contaminação das águas;
 os tipos de monitoramento de águas superficiais e subterrâneas que serão feitos;
 as novas obras e manutenção necessárias para continuar mantendo a água
superficial longe do depósito dos resíduos;
 os métodos de controle de erosão da cobertura final;
 as opções existentes para manter, ou instalar, os sistemas de coleta e tratamento de
gases e lixiviados;
 as condicionantes necessárias para manter a integridade de longo-prazo da
cobertura final, para controlar os recalques e fazer a revegetação;
 os meios de restringir o acesso ao sítio após o fechamento e a cobertura;
 os usos futuros potenciais da área.

7.4. Camada de cobertura final

O objetivo primeiro da camada de cobertura final e isolar os resíduos sólidos do ambiente, e


minimizar a infiltração de água da chuva e outras águas superficiais para dentro do aterro. O
dimensionamento e a construção desta camada já foram detalhados nos capítulos 3 e 4
deste Manual.

A camada superior deve ser suficiente flexível para se acomodar aos deslocamentos
verticais e horizontais que fatalmente ocorrerão no aterro. Quando os taludes de drenagem
são suaves, a adoção de largos canais revestidos em grama será adequada. Em
declividades mais acentuadas, com risco de erosão, pode ser necessária a adoção de
drenagem em espinha-de-peixe. Deve-se evitar o uso de tubulação de concreto para a
drenagem pluvial dos taludes uma vez que eles podem levar a arraste de material de
cobertura adjacente em caso de recalques diferenciais. Estruturas de dissipação de energia
(como as escadas) podem ser utilizadas; assim como o revestimento com gabiões (tela +
brita) que têm alta rugosidade e diminuem a velocidade de escoamento.

Falhas no sistema de drenagem superficial (pluvial) são a principal causa do aumento da


geração de lixiviados em aterros encerrados. Uma cuidadosa atenção no projeto destes
sistemas, adotando elementos de drenagem de baixa ou fácil manutenção (p.ex., canais,
caixas de passagens, e caixas de inspeção), resultará na melhor relação custo-benefício de
longo prazo (Rushbrook e Pugh, 1999).

7.5. Usos futuros

Usos futuros potenciais de aterros sanitários encerrados incluem os seguintes (Rushbrook e


Pugh, 1999):

 agricultura (solo arável, pastagem);


 florestamento (madeira, cercas verdes, reserva natural);
 paisagismo (espaço aberto, zonas de transição);
 recreação (parques, praças, complexo esportivos, trilhas, campos de golfe);

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 7: Encerramento e Pós-Fechamento 107
 habitação (estacionamento de trailers, jardins, praças, assentamentos de baixa
renda (sic));
 industrial (depósitos descobertos, estacionamentos, indústrias).

Entre as principais restrições à ocupação de áreas que foram aterros sanitários


anteriormente, mesmo após vários anos após o fechamento do aterro, citam-se:

 baixa capacidade de carga;


 recalques significativos (especialmente os recalques diferenciais);
 a presença de gases combustíveis e potencialmente explosivos;
 a corrosividade ao concreto e ao aço dos produtos da decomposição dos resíduos, e
a variada composição bioquímica do interior do aterro.

Adicionalmente aos fatores acima colocados, agregamos mais um que resulta em


dificuldade de definição da forma de uso futuro: o greide ou a topografia final do aterro.
Tomando por exemplo a figura 7.1, que representa a seção transversal típica de um aterro
sanitário concluído, adotando a geometria de taludes e bermas; pode-se notar que este tipo
de configuração do terreno resulta em grandes restrições para a maioria dos usos potenciais
acima apontados.

Figura 7.1 – Seção transversal final típica de um aterro sanitário


(Desenho gentilmente cedido por Eng. Marcelo Hoffmann)

De acordo com (Rushbrook e Pugh, 1999) os usos futuros dos aterros sanitários podem ser
divididos em três categorias gerais: espaços abertos e de recreação; agricultura; e
desenvolvimento urbano.

Espaços abertos e recreação

Esta é sem dúvidas de longe a que parece ser a forma mais indicada de uso futuro de sítios
de aterros sanitários. Os tipos de usos podem ser para a prática de esportes locais (como
campos de futebol), ao passo que parques e espaços mais abertos poderão ser de interesse
de um número maior de pessoas, e uma área verde, com trabalho paisagístico de
implantação de gramados, arbustos e árvores, pode trazer benefícios para a comunidade.
Adicionalmente, este tipo de uso não implica na construção de grandes estruturas no local,
apenas pequenas e leves construções, como prédios administrativos e sanitários públicos.
Estas pequenas construções devem ser, no entanto, construídas de modo a evitar o
acumulo e biogás na base ou no interior das mesmas e devem resistir aos recalques
diferenciais.

Agricultura

Aterros concluídos podem ser utilizados para pastagens ou plantações (de grãos, frutíferas,

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Capítulo 7: Encerramento e Pós-Fechamento 108
lenhosas, viveiros de mudas, etc.). Em ambos os casos a camada de cobertura deve ter
espessura suficiente de modo a garantir que as raízes não entrem em contato com os
resíduos dispostos. Na realidade, sugere-se que as raízes cheguem no máximo até a
camada de argila da cobertura final (para isso faz-se necessário a colocação de uma
camada mais espessa de solo nos locais do aterro onde se pretende fazer a plantação).
Este contato das raízes seria um fator limitante ao crescimento dos vegetais, mas também
seria uma via de introdução de substâncias nocivas na cadeia alimentar e no meio
ambiente. Outro aspecto negativo seria um aumento da infiltração de água da chuva (e fuga
de biogás) pela camada superior devido aos caminhos preferenciais causados pelo
enraizamento. Exemplos de profundidades de raízes são:

 gramíneas – 0,3 m ou mais para algumas espécies;


 cereais – até um 1 m;
 hortigranjeiros de raiz (tubérculos) – acima de 1 m;
 árvores com sistema radicular radial – 1 a 2 m;
 árvores com sistema radicular axial ou pivotante – até 4 m.

Desenvolvimento urbano

O uso de aterros sanitários encerrados como locais para construção, e particularmente para
o desenvolvimento urbano, de maneira geral deveria ser desencorajado devido às muitas e
severas restrições. Estas incluem provável movimento de gases, corrosão do concreto,
baixa capacidade de carga, e recalques diferencias associados à construção e utilização
das estruturas implantadas sobre o aterro. Em nossas cidades, devido à pressão imobiliária,
e à proximidade de aterros antigos (muitos deles que foram disposição a céu aberto) dos
centros urbanos, muitos desses locais foram utilizados para implantação de prédios
comerciais ou mesmo prédios de apartamentos, como foi o caso em Porto Alegre no final da
década de 1980 (Trindade e Figueiredo, 1982). Quando se construir habitações ou outras
estruturas em um aterro encerrado, o único recurso será adotar medidas extremas de
precaução para amenizar ou eliminar os efeitos nocivos acima citados.

7.6. Cuidados pós-fechamento

Os principais aspectos a serem acompanhados e monitorados no período de pós-


fechamento do aterro sanitário são:

 controle de erosão (inclui a manutenção do sistema de drenagem superficial/pluvial);


 acompanhamento dos recalques e possíveis deformações;
 monitoramento das águas subsuperficiais;
 drenagem, tratamento e monitoramento dos gases e lixiviados;
 dados meteorológicos;
 observação das condições da vegetação e presença de vetores e odores.

7.7. Encerramento do aterro

Os seguintes procedimentos são tipicamente propostos para o encerramento de aterros:

 cobrir todo o resíduo;


 permitir tempo suficiente para o adensamento de qualquer depósito recente de
resíduos. Embora a velocidade de adensamento varie, o maior grau de adensamento
ou recalque irá ocorrer nos primeiros 3 a 5 anos após a disposição da camada de
resíduos. Deverá ser dado o tempo suficiente para que a maior parte do
adensamento ocorra (inclusive antes de colocar a camada de cobertura final com
argila). Já no projeto inicial, ou agora no plano de encerramento, o greide do aterro

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 7: Encerramento e Pós-Fechamento 109
poderá ser refeito considerando os futuros recalques.
 colocar a camada de cobertura final de acordo com o estabelecido no projeto;
 implantar declividades da cobertura final entre 3 a 5 %. Quando declividade maiores
que 5 % forem utilizadas deverão ser implantados sistemas de controle de erosão e
de velocidade de drenagem;
 implantar um sistema permanente de drenagem pluvial sobre o aterro. Como os
recalques vão continuar com o tempo, esse sistema deve ser suficientemente flexível
para se acomodar esses recalques diferenciais da massa de resíduos no aterro;
 verificação do controle de erosão e geração de sedimentos fazendo as modificações
de acordo com qualquer alteração das declividades;
 desmontar estruturas temporárias (p.ex., construções na área) e área de
recebimento de resíduos que não serão mais necessárias para uso pós-fechamento
do aterro;
 aplicar a cobertura vegetal dos taludes, de acordo com espécies de fácil crescimento
na região, de preferência, gramíneas;
 fazer uma tabela/cronograma com um plano de inspeção de modo a assegurar que
os seguintes aspectos sejam inspecionados a intervalos regulares apropriados:
 recalques, integridade da camada de cobertura, e necessidade de refazer o
greide:
 sistemas de controle de erosão e sedimentação;
 controle de gases e lixiviados;
 medidas de prevenção de vandalismo e entrada de pessoas não autorizadas;
 vegetação;
 cercamento;
 sistemas de monitoramento.

7.8. Para discutir

1. Considerando os três perfis de aterro sanitário concluído abaixo, discuta as


possibilidades de uso futuro para as áreas.

(a) (b) (c)

2. Aponte as premissas de projeto, de operação e de encerramento de um aterro para que o


mesmo seja usado no futuro como área de recreação (parque ou praça).

Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitário - Reichert, G.A. (2007)


Capítulo 8: Referências Bibliográficas 110

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