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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE DIREITO
DIRA 93 – PRÁTICA JURÍDICA CÍVEL I

TIPOS E FUNÇÕES DO CARTÓRIO

1) NOÇÕES GERAIS SOBRE OS SERVIÇOS NOTARIAIS E DE REGISTRO

O substrato material das atividades notariais e de registro emergiu do próprio campo social,
do qual decorreu a necessidade de criação de um sistema sofisticado de obtenção de certeza e
publicidade de situações jurídicas. Por essa perspectiva, há quem referencie as serventias
extrajudiciais como uma instituição pré-jurídica, cuja origem antecede a própria formação do
Direito e do Estado.1 Dessa maneira, em linhas gerais, a finalidade comum ao serviço
notarial e registral é, portanto, a documentação, o registro e a atribuição de validade e
eficácia a determinados fatos da vida, das relações e dos negócios, de modo a torná-los
conhecidos a terceiros e, ao cabo, lograr segurança jurídica, seja para interesse da
coletividade ou dos particulares.

Ab initio, relativamente à natureza jurídica, os serviços notariais e de registro são públicos,


inobstante, são exercidos em caráter privado, respectivamente, pelo notário e registrador por
delegação obrigatória do Estado, a partir de prévia aprovação em concurso público de provas
e títulos2. Nesse bojo, a previsão de concurso público para o ingresso na carreira, vedou a
antiga prática de transmissão das serventias de pais para filhos, que era ordinariamente

1
ERPEN, Décio Antonio. A atividade notarial e registral: uma organização social pré jurídica. Revista de
Direito Imobiliário, São Paulo, Revista dos Tribunais, n. 35/36, p. 37-39, jan./dez. 1995.
2
Art. 236, CF/88. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder
Público.
praticada. Em contrapartida, malgrado o desempenho de função pública, sublinha-se, o
notário e o registrador não identificam-se como funcionários públicos, mas como
“particulares em colaboração com a Administração”, na condição de delegados públicos,
conforme ensina Bandeira de Mello. 3

Entretanto, insta colocar em evidência as distintas funções desempenhadas por esses


profissionais. Desse modo, deslinda-se que o notário (ou tabelião) é conselheiro imparcial dos
particulares na realização dos atos e negócios mais importantes nas esferas patrimonial e
pessoal de suas vidas.4 Em suma, compete ao notário formalizar juridicamente a vontade das
partes, intervindo nos atos e negócios jurídicos, do qual se deve ou elas queiram dar forma
legal, bem como certificar e autenticar documentos. Diante disso, a Lei. nº 8.935/94, em seu
art. 7º, atribui aos notários a competência exclusiva para: I - lavrar escrituras e procurações,
públicas; II - lavrar testamentos públicos e aprovar os cerrados; III - lavrar atas notariais;
IV - reconhecer firmas; e V - autenticar cópias.

Lado outro, ao oficial de registro (ou registrador) cabe tornar conhecido dos membros da
comunidade determinados fatos e situações jurídicas de especial relevância. Dessa maneira,
nos informes do art. 13 da Lei n. 8.935/94, compete ao registrador, em caráter privativo: I -
quando previamente exigida, proceder à distribuição eqüitativa pelos serviços da mesma
natureza, registrando os atos praticados; em caso contrário, registrar as comunicações
recebidas dos órgãos e serviços competentes; II - efetuar as averbações e os cancelamentos
de sua competência; e III - expedir certidões de atos e documentos que constem de seus
registros e papéis. Inobstante, em embargo, como existe uma diversidade de registros, há,
igualmente, diversos tipos de registradores, com atribuições distintas, como será visto.

Sob outro ângulo, no que diz respeito aos direitos e deveres assumidos, o notário e o oficial
de registro são remunerados por emolumentos variáveis determinados por lei estadual e pagos
pelos usuários de tais serviços, de modo que, o inadimplemento enseja, salvo isenção legal,
parcial ou total, um direito de crédito, constituindo, pois, a certidão respectiva, como título
executivo extrajudicial. 5

3
MELLO, Celso Antônio Bandeira. Teoria dos servidores públicos,RDP, vol. I, p. 02
4
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos - Teoria e Prática. ed. 8. São Paulo: ed. JusPodivm, 2017.
p.48
5
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos - Teoria e Prática. ed. 8. São Paulo: ed. JusPodivm, 2017. p.
101
Entretanto, cumpre pontuar que a cobrança indevida ensejará o crime de excesso de exação
(art. 316, §1º do CPP), correspondente à exigência indevida e dolosa de tributo por agente
público. Sobre o tema, segundo a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, todavia,
não basta a cobrança indevida para configuração do referido delito. Com esse entendimento,
a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça absolveu titular de cartório do crime de
excesso de exação ao considerar que embora o réu tenha cobrado de forma errônea os
emolumentos, o fez por mero erro de interpretação da legislação tributária no tocante ao
método de cálculo do tributo, e não de forma criminosa.6

Nesse sentido, ainda sobre o prisma da responsabilidade, o notário e o registrador são


responsáveis pelos “riscos” da atividade notarial e de registro, assumindo os deveres
decorrentes do exercício de suas atribuições, visto que os cartórios são destituídos de
personalidade jurídica. Este é o entendimento pacífico nos tribunais de sobreposição,
conforme exemplifica a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, in verbis:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO


AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO
3 DO STJ. SERVENTIA EXTRAJUDICIAL. AUXILIAR/ESCREVENTE.
LICENÇAS-PRÊMIO NÃO GOZADAS. CONVERSÃO EM PECÚNIA.
DELEGAÇÃO DE SERVIÇO NOTARIAL OU REGISTRAL.
OBRIGAÇÃO DO NOVO TABELIÃO DE SATISFAZER AS
OBRIGAÇÕES TRABALHISTAS DO ANTIGO TITULAR.
INEXISTÊNCIA. AUSÊNCIA DE SUCESSÃO. ACÓRDÃO RECORRIDO
CONSONANTE COM A ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL DO STJ.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 83. AGRAVO INTERNO DO PARTICULAR
DESPROVIDO.

2. Nota-se, assim, que o aresto combatido guarda consonância com o


entendimento jurisprudencial do STJ, no sentido de que a delegação para o
serviço notarial e de registro é feita de forma originária", não herdando o
novo titular eventuais passivos (trabalhista, fiscal ou cível). Esta Corte
Superior de Justiça já se manifestou, em diferentes oportunidades, no sentido
de que os serviços notariais e de registro não possuem personalidade
6
REsp nº 1943262 / SC. Rel. Min. ANTONIO SALDANHA PALHEIRO. SEXTA TURMA, julgado em
05/10/2021, DJe 08/10/2021.
jurídica, considerando-se legitimado para responder pelos danos
causados por ato seu ou dos seus prepostos, o titular da serventia à época
dos fatos. (REsp 1340805/PE, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/06/2019, DJe
10/06/2019). (AgInt no AREsp 1525479 / SP. Rel. Ministro MANOEL
ERHARDT, PRIMEIRA TURMA, julgado em 30/05/2022, DJe 01/06/2022).

Ato contínuo, de acordo com a regulamentação legal das referidas atividades fornecida pela
Lei n. 8.935/94, o notário e o oficial de registro devem fixar o seu serviço no território do
Município para o qual recebeu delegação, devendo tratar-se de local de fácil acesso para o
público e que ofereça segurança para o arquivamento dos livros e documentos7. Além disso,
cada serviço deverá funcionar em um só lugar, sendo vedada a instalação de "sucursal", bem
como a atuação fora dos limites do território para o qual recebeu a competência.

Entretanto, diferente dos registradores, que estão sujeitos a uma limitação territorial, a
escolha do notário é livre, qualquer que seja o domicílio das partes ou o lugar de situação dos
bens objeto do ato ou negócio jurídico. 8 Em razão disso, a lavratura das escrituras públicas
pode ser feita em qualquer lugar do Brasil, no entanto, as partes é que deverão se locomover
ao seu serviço notarial.

Oportunamente, interessa, no momento, o estudo dos Cartórios Extrajudiciais, também


denominados de “Tabelionato”, “Serventias” ou “Ofício”, cuja função é a de garantir
publicidade, autenticidade e segurança de atos que resultem em criação, modificação ou
extinção de direitos. Em vista disso, a princípio é vedada a cumulação entre os serviços
notariais e de registro, porém, excepcionalmente, a acumulação de funções é permitida no
caso de municípios menores, que não possuam demanda e nem receita suficientes para
instalação de mais de um dos serviços (art. 26,caput e par. único. da Lei n. 8.935/94).
Ilustrativamente, em Ijuí (RS), os registros de pessoas naturais, de pessoas jurídicas, de
títulos e documentos e o tabelionato de protesto de títulos são acumulados numa única
serventia.9

7
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos - Teoria e Prática. ed. 8. São Paulo: ed. JusPodivm, 2017, p.
66
8
Ibidem, p. 83
9
Ibidem, p.21
Relativamente ao controle, os Cartórios Extrajudiciais encontram-se vinculados ao respectivo
Tribunal de Justiça estadual, que são responsáveis pela fiscalização por meio da
Corregedoria-Geral da Justiça. Além disso, a fiscalização também acontece através da
Corregedoria Nacional de Justiça (CNJ), desde, pelo menos, a Reforma do Judiciário de
2004.

Os Tribunais de Justiça são, também, responsáveis pela normatização infralegal que rege as
Serventias, a partir da edição do “Código de Normas e Procedimento”, que consiste em
normas extrajudiciais que pormenoriza as legislações que disciplinam os serviços notariais e
de registro. Assim sendo, ilustrativamente, no âmbito da Bahia, à normativa pertinente é o
Provimento n º CGJ/CCI - 009/2013, que dispõe sobre o “Código de Normas e
Procedimentos dos Serviços Notariais e de Registro do Estado da Bahia”. Pela referida
norma, o gerenciamento administrativo e financeiro dos serviços notariais e de registro é de
responsabilidade exclusiva do respectivo titular, inclusive no que diz respeito às despesas de
custeio, investimento e pessoal.

Sucede, porém, que tendo em vista a essencialidade do serviço, os cartórios deficitários


podem receber ajuda (dentre elas, financeira) dos Tribunais de Justiça. Nesse ensejo,
oportunamente, a Lei Estadual nº 12.352/11 criou, no estado da Bahia, o Fundo Especial de
Compensação (FECOM), que é uma entidade de cunho privado, cujo objetivo é promover a
compensação financeira às serventias notariais e de registro privatizadas que não atingirem a
arrecadação necessária ao funcionamento e renda mínima do delegatário. Ademais, vale
mencionar que, segundo levantamento do Colégio Notarial do Brasil (2022), a Bahia é o
estado com o maior número de cartórios deficitários no Brasil (77%). 10

Em finalização, questão interessante, diz respeito à possibilidade de realização dos serviços


notariais e registrais por meio eletrônico, assunto que ascendeu , sobretudo, a partir das
restrições de mobilidade impostas pela pandemia da covid-19. Desse modo, em face do
contexto pandêmico, o Conselho Nacional de Justiça editou o Provimento nº 94/2020 para

10
O que muda se o TJ-BA aprovar a proposta de cartório único na Bahia. Colégio Notarial do Brasil, 29 de jun.
de 2022. Disponível em: <
https://cnbba.org.br/2022/06/29/correio-o-que-muda-se-o-tj-ba-aprovar-a-proposta-de-cartorio-unico-na-bahia/#:
~:text=Bahia%20tem%20ao%20menos%2077%25%20de%20cart%C3%B3rios%20deficit%C3%A1rios&text=
A%20renda%20m%C3%ADnima%20deve%20servir,vagos%20recebem%20metade%20do%20valor.> Acesso
em: 24 de set. de 2022
permitir a virtualização de alguns serviços prestados pelas serventias extrajudiciais. Assim,
em alteração recente, o Provimento nº 136/2022, prorrogou até 30/12 a autorização para a
prática de atos por meio eletrônico pelos Cartórios. Com esse mesmo propósito, deve-se
evocar a Lei nº 14.382/2022, recentemente aprovada, que dispõe sobre Sistema Eletrônico
dos Registros Públicos (Serp), cujo objetivo é gerar menos burocracia e racionalizar os
serviços de registro pelo sistema eletrônico, bem como integrar os sistemas de registros
públicos do país.

2) BREVE VISITA AOS PRINCÍPIOS COMUNS E INFORMADORES DAS


ATIVIDADES NOTARIAIS E DE REGISTRO

Primeiramente, pelo princípio da legalidade, os notários e registradores somente podem


praticar os atos previstos por lei. Antes de tudo, porém, acerca da previsão constitucional, os
serviços notariais e de registros encontram-se previstos no art. 236 Constituição Federal de
1998. Inobstante, tais serviços têm contornos infraconstitucionais delineados pela Lei
6.015/73 e pela Lei n. 8.935/94, conhecida como a “Lei dos Cartórios" ou “Lei dos Notários e
Registradores" (LNR) que regulamentou o mencionado dispositivo constitucional. No que
refere-se a esta última normativa, dispõe sobre a natureza e fins dos serviços notariais e de
registro; trata dos titulares dos serviços , suas atribuições e competências; da forma de
ingresso na atividade; da responsabilidade civil e penal daí decorrente; das
incompatibilidades e dos impedimentos; , dos direitos e deveres funcionais; das infrações
disciplinares e respectivas penalidades; da fiscalização exercida pelo poder Judiciário; da
extinção da delegação ; e, por fim, da seguridade social.

De outra banda, da oportuna verificação do ordenamento jurídico pátrio, depreende-se que os


notários e os registradores são profissionais dotados de fé pública, que, conceitualmente,
pode ser entendida como a crença imposta pela lei, que confere presunção de veracidade aos
atos por esses profissionais, afinal, se lei atribui fé, o documento está dotado de certeza
11
jurídica. Dessa feita, o dito diz respeito ao princípio da fé pública, segundo o qual são
considerados autênticos e legítimos aos atos e negócios documentados ou levados à
publicidade registral, e, dessa maneira, até prova em contrário, os atos praticados pelo

11
RODRIGUES, Felipe Leonardo; FERREIRA, Paulo Roberto Gaiger. Tabelionato de Notas. São Paulo:
Editora Saraiva. Coleção Cartórios/coordenador Christiano Cassettari, 2013, p.21
12
tabelião e o registrador são considerados presumidamente verdadeiros. Por exemplo, a
escritura é documento dotado de fé-pública, fazendo prova plena do ato ou negócio jurídico
realizado.

Igualmente, tem-se o princípio da publicidade, que é o cerne dos serviços notariais e de


registro, pelo qual almeja tornar cognoscível a terceiros situações e atos jurídicos. Nesse
ponto, cabe a distinção entre a publicidade material e formal. No aspecto material, a
13
publicidade corresponde aos efeitos substantivos no direito que acede ao registro. Por
exemplo, a inscrição no ato constitutivo no Registro de Imóveis torna-se eficaz e oponível a
terceiros. Por outro lado, no aspecto formal, a publicidade corresponde à possibilidade de
consulta ao registro. Com isso, qualquer pessoa poderá solicitar certidão daquilo que consta
nos livros da serventia, sem justificar as razões do seu pedido, salvo proibição legal, como no
caso de ação ou programa de proteção de testemunha. 14

Não menos importante, pelo princípio da impessoalidade, a atuação do notário e do


registrador deve se pautar pela busca dos interesses da coletividade, não visando beneficiar
15
ou prejudicar ninguém. Reflexo patente deste princípio, por exemplo, é a própria exigência
de concurso público para ingresso na carreira. Todavia, tal princípio toma forma mais
definida no caso do serviço notarial, visto que o notário, por ter a função de formalizar a
vontade de particulares, deve tratar ambas as partes de forma imparcial. Em suma, deve, este
profissional, exercer seu papel de terceiro de confiança entre as partes, não devendo legitimar
atos ilegais, para benefício de qualquer das partes. 16

Considerações introdutórias postas, a partir deste momento serão objeto de estudo do


presente trabalho as diversas espécies de Cartórios, quais sejam: O Cartório de Registro Civil
das Pessoas Naturais; O Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas; O Cartório de
Registro de Títulos e Documentos; O Cartório de Registro de Imóveis; O Tabelionato de

12
MATOS, Carolina Meneghini Carvalho; SALLES, Diana Nacur Nagem Lima. Direito Notarial e Registral.
Paraná: Editora e Distribuidora Educacional S/A. p. 88
13
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos - Teoria e Prática. ed. 8. São Paulo: ed. JusPodivm, 2017, p
456
14
PADOIN, Fabiana Fachinetto. Direito Notarial e Registral. Rio Grande do Sul: ed. Unijuí, 2011, p. 94
15
MATOS, Carolina Meneghini Carvalho; SALLES, Diana Nacur Nagem Lima. Direito Notarial e Registral.
Paraná: Editora e Distribuidora Educacional S/A. p.03
16
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos - Teoria e Prática. ed. 8. São Paulo: ed. JusPodivm, 2017, p
1.030
Notas; e o Tabelionato de Protesto. Não será objeto deste estudo, porém, o Registro Público
de Empresas Mercantis e Atividades Afins, cujo registro é realizado nas Juntas Comerciais. 17

3) O CARTÓRIO DE REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

Relativamente ao Registro Civil das Pessoas Naturais, este acompanha a vida da pessoa física
ou natural, o sujeito de direitos e obrigações, visto que, do nascimento até a morte, há uma
série de fatos e negócios jurídicos que demarcam a vida da pessoa natural, competindo ao
18
registrador civil o registro e publicidade de tais fatos. Sobremaneira, referem-se estes aos
fatos jurídicos que têm por objeto o denominado “estado das pessoas”, traduzido no conjunto
das qualidades de um indivíduo que a lei toma em consideração para estabelecer certos
efeitos jurídicos, a exemplo do nome, da filiação, da idade, da capacidade civil, do casamento
19
e da viuvez, conforme preleciona Loureiro. Inexoravelmente, o ensinamento, retro, leva a
conclusão de que o objetivo do registro civil das pessoas naturais é, sobretudo, fazer prova
dos fatos e atos jurídicos pertinentes à identidade e ao estado civil dos indivíduos. 20

Dessa forma, os Cartórios de Registro Civil das Pessoas Naturais são responsáveis pela
prática de atos de registro, concernentes ao estado civil, como o nascimento, o casamento, o
óbito, a interdição, a emancipação, a opção de nacionalidade, entre outros, além de
averbações, anotações, retificações e fornecimento de certidões desses atos.21 Conforme
disposto na Lei n. 6.015/73, o registro deverá ser escriturado nos respectivos livros, de
acordo com a sequência cronológica das declarações, tendo cada assento o seu número de
ordem. Nessa conjuntura, conforme legislação, retro, em cada cartório haverá os seguintes
livros para registro: “A” (registro de nascimento); “B” ( registro de casamento); “ B auxiliar”
(registro de casamento religioso para efeitos civis); “C” (registro de óbito); "C Auxiliar" - de
registro de natimortos; "D" (registro de proclama).

17
Art. 974, § 3º (CC/2002). O Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais deverá
registrar contratos ou alterações contratuais de sociedade que envolva sócio incapaz, desde que atendidos, de
forma conjunta, os seguintes pressupostos: (Incluído pela Lei nº 12.399, de 2011)
18
DINIZ, Maria Helena. Direito Civil Brasileiro. 1º volume – Teoria Geral do Direito Civil. 29. Ed. São Paulo:
Saraiva, 2012. p. 162
19
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos - Teoria e Prática. ed. 8. São Paulo: ed. JusPodivm, 2017,
p.130
20
Ibidem, p. 85
21
MATOS, Carolina Meneghini Carvalho; SALLES, Diana Nacur Nagem Lima. Direito Notarial e Registral.
Paraná: Editora e Distribuidora Educacional S/A, p.139
Em contrapartida, ao lado dos atos de registro, existem as averbações (ou atos averbáveis),
que consistem em modificações no teor do registro existente. Assim, por exemplo, no
registro de nascimento são averbadas as retificações de nome do registrando e o
reconhecimento de paternidade, enquanto que no registro de casamento são averbadas as
separações judiciais e os divórcios. Nesse bojo, devem ser são objeto de averbação no
Ofício de Registro Civil, exemplificadamente, as sentenças e escrituras públicas de
separação, divórcio, anulação e nulidade de casamento, e restabelecimento da sociedade
conjugal, bem como, atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou reconhecerem a
22
filiação. Ademais, tratando-se de sentença judicial que determina a adoção, esta será objeto
de registro no Serviço de Registro Civil das Pessoas Naturais do domicílio dos adotantes, e
não de averbação23.

Em razão da importância atribuída a este tipo de serventia cartorial, deve haver, ao menos,
um Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais em cada município (art. 44, §2º, LNR). Na
mesma sintonia, no caso de municípios maiores a implantação é de acordo com a demanda, o
que significa dizer que uma mesma cidade pode contar com mais de Ofício de Registro
Civil (art. 44, §3º, LNR). Além disso, por se tratar de eventos urgentes e relacionados à
existência humana, é o único serviço de registro que funciona de forma contínua, de modo
que podem ser lavrados registros desta espécie em qualquer dia e horário, inclusive aos finais
de semana, não ensejando nulidade ou irregularidade dos assentos.24

Dado o contexto, em breve referência a registros desta espécie, há o registro de nascimento,


que, ilustrativamente, pode ser compreendido como instrumento de realização mínima da
cidadania, já que, juridicamente, o indivíduo existe somente após ser registrado. Sendo assim,
todo nascimento deverá ser registrado, mesmo o referente a natimorto. Nessa trama, nos
termos da Lei 6.015/73, o nascimento deverá ser registrado no lugar em que tiver ocorrido o
parto ou no lugar da residência dos pais, sendo indispensável a apresentação para registro do
documento de identificação dos pais e a Declaração de Nascido Vivo, fornecido pelo
25
estabelecimento hospitalar onde ocorreu o parto. Quanto aos custos, tanto o registro de

22
MATOS, Carolina Meneghini Carvalho; SALLES, Diana Nacur Nagem Lima. Direito Notarial e Registral.
Paraná: Editora e Distribuidora Educacional S/A, p. 139
23
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos - Teoria e Prática. ed. 8. São Paulo: ed. JusPodivm, 2017, p.
320
24
Ibidem, p. 148.
25
PADOIN, Fabiana Fachinetto. Direito Notarial e Registral. Rio Grande do Sul: ed. Unijuí, 2011, p.41
nascimento e como o de óbito são totalmente gratuitos, bem como a expedição da primeira
certidão respectiva.

Sobre o assunto, havendo duplicidade de registros de nascimento, em regra, considera-se


válido o primeiro registro, salvo se eivado de vício, conforme o entendimento colacionado a
seguir.

APELAÇÃO CÍVEL. PRELIMINARES REJEITADAS. PEDIDO DE


CANCELAMENTO DE REGISTRO CIVIL DE NASCIMENTO.
REGISTRO EM DUPLICIDADE. CANCELAMENTO DO
SEGUNDO REGISTRO REALIZADO VINTE E CINCO ANOS
DEPOIS DO PRIMEIRO. RETIFICAÇÃO DA DATA DE
NASCIMENTO. O registro efetuado a posteriori é nulo, pois a Lei de
Registros Públicos (Lei n. 6.015/73), visando resguardar a
autenticidade, segurança e eficácia dos negócios jurídicos, veda a
duplicidade de registros de nascimento, razão porque o segundo
registro deve ser anulado. (Apelação n.
1.0392.19.000909-3/001/TJMG. Rel. Des.Washington Ferreira. 1ª
CÂMARA CÍVEL. julgado em 6/01/2021. DJe 29/01/2021)

Merece menção, também, o registro de casamento. Juridicamente, o casamento somente


existe enquanto casamento civil, que tem como requisitos o procedimento de habilitação e o
registro no cartório competente. Desse modo, ao casamento religioso poderá ser atribuído
efeitos civis, desde que haja a observância dos referidos procedimentos, ambos realizados no
Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais (art. 1.516, §2º, CC). Em definição,
denomina-se “habilitação”, o procedimento cujo principal objetivo é identificar as causas
impeditivas do casamento, mediante a publicação do edital de proclamas do casamento (art.
1.521, CC). Acerca dos custos, as pessoas cuja pobreza for declarada, serão isentas de selos,
emolumentos e custas nestes procedimentos (art. 1.512, parágrafo único, CC).

Além do dito, o Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais é também responsável pela
expedição de certidões dos atos levados à registro. De acordo com Hely Lopes Meirelles,
certidões "são cópias ou fotocópias fiéis e autenticadas de atos ou fatos constantes de
26
processo, livro ou documento que se encontra nas repartições públicas". Assim, não por
outra razão, os oficiais e os encarregados das repartições em que se façam os registros são
obrigados a lavrar certidão do que lhes for requerido, podendo qualquer pessoa pode requerer
certidão do registro sem informar ao registrador o motivo ou interesse do pedido (arts. 16 e
17 da Lei n. 6.015/73).

4) CARTÓRIO DE REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS

Assim como o Registro Civil de Pessoas Naturais documenta a história da pessoa física, o
Registro Civil de Pessoas Jurídicas acompanha a “vida” da pessoa jurídica. Em vista disso,
existem determinados grupos ou associações de pessoas previstos expressamente em lei que,
assim como os indivíduos, são dotados de personalidade. De acordo com Maria Helena Diniz,
pessoa jurídica é a unidade de pessoas naturais ou de patrimônio, que visa a consecução de
27
certos fins, reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direito e obrigações. Nesse
particular, a personalidade que o Direito reconhece, consiste em ficção legal cuja finalidade
é beneficiar a pessoa humana e, consequentemente, a coletividade.28 Para tanto, porém, para
fins de aquisição da personalidade jurídica, será necessário o registro no órgão competente.

Nesse sentido, no Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas é realizado o registro dos
atos constitutivos de pessoas jurídicas de direito privado, que não exerçam a empresa, quais
sejam, sociedade simples, associações, fundações, organizações religiosas e partidos
políticos, bem como as averbações respectivas. Além disso, neste Serviço também são
realizadas as matrículas de jornais, periódicos, oficinas impressoras, agências de notícias e
empresas de radiodifusão (art. 114 da Lei 6.015/73). Ressalta-se, nesse ponto, que a matrícula
tem a finalidade de tornar legal o exercício da atividade, evitando a atuação irregular dos
meios de comunicação, e não, ao contrário, limitar a liberdade de comunicação. 29

Desse modo, as pessoas jurídicas de direito privado deverão ser registradas no cartório de
Registro Civil de Pessoas Jurídicas para fins de aquisição da personalidade jurídica. Nos

26
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 42ª Edição. Atualizada por José Emmanuel
Burle Filho e Carla Rosado Burle. Malheiros Editores. São Paulo, 2015. p. 218
27
DINIZ, Maria Helena. Direito Civil Brasileiro. 1º volume – Teoria Geral do Direito Civil. 29. Ed. São Paulo:
Saraiva, 2012 p. 264
28
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos - Teoria e Prática. ed. 8. São Paulo: ed. JusPodivm, 2017, p.
362
29
PADOIN, Fabiana Fachinetto. Direito Notarial e Registral. Rio Grande do Sul: ed. Unijuí, 2011.
termos do art.44 do Código Civil são pessoas jurídicas de direito privado: I - as associações;
II - as sociedades; III - as fundações. IV - as organizações religiosas; V - os partidos políticos.
Todavia, é preciso dizer que existem pessoas jurídicas de direito público cuja inscrição é feita
nesse Serviço, como é o caso de matriz e dos órgãos regionais (filiais) do Serviço Social do
Comércio (SESC) e do SESI.30 Portanto, considerando o exposto, caberá ao registrador
deverá identificar a espécie de entidade cujo registro se requer.

No que diz respeito às associações, as fundações, as organizações religiosas e os partidos


políticos, o registro é feito no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme determinação do
art. 114 da Lei. 6.015/7331. Frise-se, porém, que, no caso dos partidos políticos, a lei impõe o
também o registro no Tribunal Superior Eleitoral, com finalidade cadastral e de
reconhecimento de validade de sua atuação, nos termos do §2º do art. 17 da Constituição
32
Federal. O mesmo não acontece, todavia, com os sindicatos, que adquirem personalidade
jurídica com o Registro Civil de Pessoas Jurídicas, sendo desnecessário o registro junto ao
Ministério do Trabalho, conforme observado na jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça, senão vejamos:

ADMINISTRATIVO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE ILEGALIDADE E


ABUSIVIDADE DE GREVE. SINTESP. ANÁLISE DE VIOLAÇÃO DE
DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. INVIABILIDADE NA VIA
RECURSAL ELEITA. ILEGITIMIDADE PASSIVA. INOCORRÊNCIA.
SINDICATO DEVIDAMENTE REGISTRADO NO CARTÓRIO DE
REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA. RECURSO ESPECIAL
PARCIALMENTE CONHECIDO E NESTA EXTENSÃO NÃO PROVIDO.

2. O Superior Tribunal de Justiça possui jurisprudência já pacificada no


sentido de que as entidades sindicais adquirem personalidade jurídica
pelo só registro no Cartório de Registro Civil. A eventual ausência de
registro no Ministério do Trabalho e Emprego é mera irregularidade, que
não obsta que a entidade figure no pólo passivo da demanda. Precedentes.

30
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos - Teoria e Prática. ed. 8. São Paulo: ed. JusPodivm, 2017, p.
363
31
Art. 114(CC). No Registro Civil de Pessoas Jurídicas serão inscritos: I - os contratos, os atos constitutivos, o
estatuto ou compromissos das sociedades civis, religiosas, pias, morais, científicas ou literárias, bem como o das
fundações e das associações de utilidade pública; II - as sociedades civis que revestirem as formas estabelecidas
nas leis comerciais, salvo as anônimas. III - os atos constitutivos e os estatutos dos partidos políticos.
32
Art. 17, § 2º (CF) Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil,
registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.
3. No caso em concreto, o Sindicato dos Trabalhadores em Saúde Pública em
Campo Grande - MS (SINTESP) detém inscrição no Cartório de Registro
Civil de Pessoa Jurídica competente e agiu de acordo com os interesses dos
trabalhadores filiados. Patente, pois, a sua legitimidade para figurar o polo
passivo da demanda, vez que possui personalidade jurídica. (REsp 1314602 /
MS. Rel. Ministro MAURO CAMPBELL. SEGUNDA TURMA. julgado
em: 15/05/2012 . DJe 23/05/2012).

Todavia, nem toda pessoa jurídica de direito privado é registrada perante o Registro Civil de
Pessoas Jurídicas. Neste termo, a sociedade empresária é registrada junto ao Registro Público
de Empresas Mercantis, a cargo das Juntas Comerciais. Do mesmo modo, as cooperativas, a
despeito de se caracterizarem como sociedades simples, também são registradas junto ao
33
Registro Público de Empresas Mercantis. Para mais, ressalta-se que, além do registro civil,
serão arquivados e averbados, no Registro Público de Empresas Mercantis, os pactos e
declarações antenupciais do empresário, o título de doação, herança, ou legado, de bens
clausulados de incomunicabilidade ou inalienabilidade (art. 979, CC).

De outra banda, somente admite-se o registro de entidades que possuam objeto lícito. Assim,
a inscrição registral é antecedida do prévio exame dos atos e acordos sociais, em que serão
examinados os requisitos formais e validade dos respectivos contratos e estatutos.34 Nessa
rota, ao receber um ato constitutivo de qualquer pessoa jurídica, o oficial registrador deve
verificar se estão presentes as seguintes informações: I - a denominação, o fundo social,
quando houver, os fins e a sede da associação ou fundação, bem como o tempo de sua
duração; II - o modo por que se administra e representa a sociedade, ativa e passivamente,
judicial e extrajudicialmente; III - se o estatuto, o contrato ou o compromisso é reformável,
no tocante à administração, e de que modo; IV - se os membros respondem ou não,
subsidiariamente, pelas obrigações sociais; V - as condições de extinção da pessoa jurídica e
nesse caso o destino do seu patrimônio; VI - os nomes dos fundadores ou instituidores e dos
membros da diretoria, provisória ou definitiva, com indicação da nacionalidade, estado civil e
profissão de cada um, bem como o nome e residência do apresentante dos exemplares. 35

33
O enunciado 69 das Jornadas de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal esclarece que “as sociedades
cooperativas são sociedades simples sujeitas à inscrição nas Juntas Comerciais”.
34
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos - Teoria e Prática. ed. 8. São Paulo: ed. JusPodivm, 2017,
p. 365
35
Art. 120 da Lei n. 6.015/73
Além disso, semelhante do que acontece com as pessoas físicas, a existência da pessoa
jurídica também está sujeita a vicissitudes, que deverão ser objeto de averbação no respectivo
registro. Com isso, as averbações serão concentradas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas
em que foi efetuado o registro do ato constitutivo, contrato social ou estatuto
(XVIII-NSCGJ). Assim, por exemplo, em caso de dissolução da pessoa jurídica “far-se-á, no
registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação de sua dissolução” (art.51, §1º,
CC). Todavia, deve ser dito que, nesse caso, somente com o cancelamento do registro da
pessoa jurídica, que tem natureza de averbação, é que haverá a sua extinção.36

5) CARTÓRIO DE REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

No que se refere ao Cartório de Títulos e Documentos, este tem a principal função de dar
publicidade aos direitos pessoais ou obrigacionais, bem como o registro de quaisquer
37
documentos para fins de conservação. Em suma, esta espécie de serventia extrajudicial
serve a publicidade e a conservação de documentos sem sentido amplo. Não obstante, o que
se registra, sublinha-se, não são exatamente os títulos, documentos e instrumentos privados, e
sim os direitos, atos ou relações jurídicas neles contidos.38 Aclara-se, nesses termos, que o
objetivo do Cartório de Títulos e Documentos não é a constituição, modificação ou extinção
de direitos reais imobiliários, função do Registro de Imóveis, e sim possibilitar a
oponibilidade de relações jurídicas a terceiros. Ademais, o Serviço de Registro de Títulos e
Documentos surgiu em 1871 e foi aperfeiçoado com a edição da Lei 6.015/73. 39

Em vista dessas considerações, nota-se que o Registro de Títulos e Documentos exerce papel
fundamental no que se refere à segurança jurídica necessária à celebração dos negócios
jurídicos, visto que propicia às pessoas a obtenção de informações importantes para
realização de negócios e contratos. Nessa medida, consequentemente, possibilita a proteção

36
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos - Teoria e Prática. ed. 8. São Paulo: ed. JusPodivm, 2017, p.
434
37
Ibidem, p. 439.
38
Ibidem
39
Ibidem, p. 463
dos interesses privados e da sociedade, sobretudo, dos credores, por exemplo, este saiba se o
devedor possui bens livres para garantir o crédito pretendido, ou mesmo, que interessados
tenham conhecimento sobre a existência de eventual gravame incidentes sobre determinado
bem móvel ou imóvel. 40

Destarte, nos termos da legislação competente, o Cartório de Registro de Títulos e


Documentos tem atribuição para o registro e respectivas averbações, na forma que se segue:
I - dos instrumentos particulares, para a prova das obrigações convencionais de qualquer
valor; II - do penhor comum sobre coisas móveis; III - da caução de títulos de crédito pessoal
e da dívida pública federal, estadual ou municipal, ou de Bolsa ao portador; V - do contrato
de parceria agrícola ou pecuária; VI - do mandado judicial de renovação do contrato de
arrendamento para sua vigência, quer entre as partes contratantes, quer em face de terceiros;
VII - facultativo, de quaisquer documentos, para sua conservação (arts. 127 e 128 da Lei n.
6.015/73). Deverá, nesses termos, o registro ser feito no Registro de Títulos e Documentos
do domicílio das partes contratantes, ou, de qualquer uma delas, quando residirem em
circunscrições diversas. 41

Além destes, de acordo com o art. 129 da Lei n. 6.015/73, também estão sujeitos a registro,
no Registro de Títulos e Documentos os contratos de locação de prédios; as cartas de fiança;
os contratos de locação de serviços não atribuídos a outras repartições; os contratos de
compra e venda em prestações, com reserva de domínio ou não e os contratos de alienação ou
de promessas de venda referentes a bens móveis; todos os documentos de procedência
estrangeira; as quitações, recibos e contratos de compra e venda de automóveis, bem como o
penhor destes; os atos administrativos expedidos para cumprimento de decisões judiciais,
sem trânsito em julgado, pelas quais for determinada a entrega, pelas alfândegas e mesas de
renda, de bens e mercadorias procedentes do exterior; os instrumentos de sub-rogação e de
dação em pagamento; a cessão de direitos e de créditos, a reserva de domínio e a alienação
fiduciária de bens móveis; e, por fim, as constrições judiciais ou administrativas sobre bens
móveis corpóreos e sobre direitos de crédito.

40
Ibidem, p. 442
41
Art. 130 (Lei n. 6.015/73). Dentro do prazo de vinte dias da data da sua assinatura pelas partes, todos os atos
enumerados nos arts. 127 e 129, serão registrados no domicílio das partes contratantes e, quando residam estas
em circunscrições territoriais diversas, far-se-á o registro em todas elas.
Ressalta-se, que admite-se o registro de qualquer documento, que deve ser entendido em
sentido amplo, no sentido de fazer referência a qualquer fato que possa comprovar ou
testemunhar algo, como é o caso de imagens e sons registrados em mídias digitais e
42
analógicas, mesmo porque o objeto de registro é o conteúdo do documento. Em tais, caso,
elucida-se, o registro será escrito, visto que trata-se de ato escritural, qualquer que seja o
instrumento ou técnica utilizada. Nesse sentido, caminhou o Provimento CG 12/2014, que
atribui aos Cartórios de Registro de Títulos e Documentos a competência para o registro do
conteúdo de papéis e documentos, de qualquer natureza, que poderão ser apresentados em
suporte papel ou sob qualquer outra forma tecnológica, incluindo microfilmes, mídias óticas,
analógicas, eletrônicas ou digitais.

Ademais, o Cartório de Registro de Títulos e Documentos tem uma função anômala aos
registros públicos, correspondente à conservação de documentos particulares43. Como já
exposto, o serviço registral tem a finalidade de possibilitar que as situações ou relações
jurídicas tornem-se cognoscíveis dos terceiros. Todavia, a espécie, ora, analisada, permite
também a conservação de quaisquer tipo de documento para seja para preservar um
documento, para mera conservação de meio de prova ou, mesmo, para fixação da data do
documento, evitando a simulação. Por essa razão, prevê o dispositivo legal, tratar-se de
registro facultativo, na medida em que serve, primordialmente, a satisfação do interesse do
particular, não havendo qualquer efeito substantivo do ato de registro. 44 O motivo é histórico,
visto que a função conservatória é tradicionalmente de competência dos notários, através da
ata notarial de documentos. 45

Por fim, outra função conferida aos Cartórios de Títulos e Documentos é a notificação
extrajudicial. Ilustrativamente, se o devedor não quitar a dívida, o credor poderá notificá-lo
extrajudicialmente para que promova o pagamento do débito, enviando a referida notificação
por meio do Cartórios de Títulos e Documentos. Sobre o tema, em sede do sistema de
recursos repetitivos, o Superior Tribunal de Justiça fixou a tese, segundo a qual é válida a
notificação extrajudicial realizada por Registro de Títulos e Documentos de circunscrição

42
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos - Teoria e Prática. ed. 8. São Paulo: ed. JusPodivm, 2017, p.
479
43
Art. 127, VII, Lei n. 6.015/73 - facultativo, de quaisquer documentos, para sua conservação.
44
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos - Teoria e Prática. ed. 8. São Paulo: ed. JusPodivm, 2017,
p. 440.
45
Ibidem, p. 479
judiciária diversa da do domicílio do devedor, visto que não é ato tendente a dar
conhecimento a terceiros acerca de sua existência. É o dito, in verbis:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO.


CONTRATO DE FINANCIAMENTO DE AUTOMÓVEL COM
GARANTIA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. NOTIFICAÇÃO
EXTRAJUDICIAL REALIZADA POR CARTÓRIO DE
TÍTULOS E DOCUMENTOS SITUADO EM COMARCA
DIVERSA DA DO DOMICÍLIO DO DEVEDOR. VALIDADE.

1. A notificação extrajudicial realizada e entregue no endereço do


devedor, por via postal e com aviso de recebimento, é válida quando
realizada por Cartório de Títulos e Documentos de outra
Comarca, mesmo que não seja aquele do domicílio do devedor.
Precedentes.
2. Julgamento afetado à Segunda Seção com base no procedimento
estabelecido pela Lei nº 11.672/2008 (Lei dos Recursos Repetitivos) e
pela Resolução STJ nº 8/2008. (Resp 1184570/MG. Ministra MARIA
ISABEL GALLOTTI. SEGUNDA TURMA. Julgado em: 09/05/2012.
DJe 15/05/2012

6) CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS

Sucintamente, o Registro de Imóveis acompanha a “vida” do imóvel, na medida que serve de


repositório de informações sobre a propriedade imóvel e os negócios jurídicos a ele
46
referentes. Tecnicamente, é mecanismo que serve para proclamar oficialmente as situações
jurídicas e alterações relativas à propriedade imobiliária, entendida como o solo e tudo quanto
se lhe incorporar natural ou artificialmente (art. 79, CC). Dessa maneira, conceitualmente, no
Cartório de Registro de Imóveis é realizada a inscrição de direitos reais imobiliários e, ainda,
de determinados direitos pessoais que a lei atribui àquele serviço (art 167 da Lei 6.015/73).
A vista disso, a sua função precípua é a constituição, modificação ou extinção de direitos
46
PADOIN, Fabiana Fachinetto. Direito Notarial e Registral. Rio Grande do Sul: ed. Unijuí, 2011, p. 87
reais imobiliários, bem como a garantia da eficácia erga omnes de tais direitos e de
determinados direitos pessoais, bem como de eventuais gravames que recaem sobre os bens
imóveis.

A este tempo, aclara-se que o Registro de Imóveis, em primeiro plano, presta-se a garantir a
publicidade registral na transferência, limitação e afetação da propriedade imobiliária, dado
que é atividade dirigida a tornar cognoscível uma situação jurídica real. Isso ocorre porque,
considerando que os direitos reais são oponíveis erga omnes, diferentemente dos direitos
obrigacionais, para que as pessoas possam tomar conhecimento e não violá-los, devem tomar
ciência de sua existência, o que é tornado possível pela inscrição no Cartório de Registro de
Imóveis. Desdobra-se deste quadro, pois, a segurança jurídica essencial aos negócios
imobiliários, visto que informações sobre a situação jurídica do imóvel é imprescindível
47
para a proteção do crédito e seguridade do tráfico jurídico. Sem estas informações,
inexoravelmente, os negócios jurídicos referentes aos bens imóveis são inseguros, bem como
são criados empecilhos para a circulação de riquezas, afinal, o adquirente de um imóvel só
irá realizar a operação quando puder acreditar que ninguém irá perturbar a sua propriedade.

Outra finalidade primordial do registro imobiliário é a transferência da propriedade. No


sistema jurídico brasileiro, o registro é uma das formas de aquisição da propriedade imóvel,
que pode ser traduzida na expressão “quem não registra não é dono”. Esmiuçando, no Brasil,
o registro do título hábil no Cartório de Imóveis é responsável pela transferência da
propriedade imobiliária, de modo que, não havendo o registro, o alienante continua como
dono imóvel (arts. 1.228 e 1.245, CC). Não basta, portanto, o mero acordo de vontades,
sendo imprescindível o registro do título translativo na circunscrição imobiliária competente,
para que efetive-se a transferência da propriedade. Diferencia, nesse sentido, do Sistema
Francês, no qual o título (contrato) é suficiente para transmitir o domínio da coisa (solo
consensu).

Isso posto, antes de tudo, no Cartório de Registro de Imóveis é realizada a abertura de


matrícula do imóvel, que se tornou obrigatória a partir da Lei n. 6.015/73 (art. 167, caput),
com o objetivo de ser um assento cadastral do imóvel. A matrícula consiste, pois, em
documento que individualiza a propriedade imobiliária e confere ao bem caráter cadastral, no

47
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos - Teoria e Prática. ed. 8. São Paulo: ed. JusPodivm, 2017, p.
511
48
qual é descrito o imóvel com todas as suas características. Dessa maneira, todos os
registros e averbações, relativas ao imóvel, serão escriturados na sua matrícula, que é
identificada por um número. Salienta-se que a matrícula é obrigatória a partir do primeiro ato
relativo ao imóve, e, assim, em caso de imóvel do antigo regime de transcrição, será
necessário a abertura da matrícula.

Diante disso, em face da imprescindibilidade da matrícula, evoca-se precedente da Quarta


Turma Superior Tribunal de Justiça, segundo firmou o entendimento de que imóvel sem
matrícula própria não pode ser objeto de adjudicação compulsória. Nesse sentido, o processo
foi extinto sem resolução do mérito, sob o fundamento de impossibilidade jurídica do pedido,
visto que não é possível a reivindicação de lotes dentro de um todo maior, sem matrícula
própria no registro de imóveis. É o decidido, literalmente:

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. CONTRATO DE PROMESSA DE


COMPRA E VENDA DE PARCELA DE GLEBA RURAL NÃO
DESMEMBRADA. AUSÊNCIA DE MATRÍCULA
INDIVIDUALIZADA.AÇÃO DE ADJUDICAÇÃO
COMPULSÓRIA. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO
REGISTRO DO TÍTULO. CARÊNCIA DE AÇÃO DECLARADA.
RECURSO NÃO PROVIDO

2. Detectada, no caso concreto, a impossibilidade jurídica do pedido de


registro, haja vista a falta de prévia averbação do desmembramento
de gleba rural originária, e posteriores aberturas de matrículas
individualizadas das glebas desvinculadas e prometidas à venda
pelo réu. Ausente, portanto, de uma das condições específicas da ação
de adjudicação compulsória, na dicção do art. 16, § 2º, do Decreto-lei
n. 58/1937 - existência de imóvel registrável.

Por outro lado, os atos de registro referem-se à constituição do direito de propriedade. Nesses
termos, relativamente ao objeto da publicidade registral imobiliária, nos termos do art. 167 da
Lei n. 6.015/73, são registrados no Cartório de Imóveis, dentre outros: a instituição de bem
de família; as hipotecas legais, judiciais e convencionais; as penhoras, arrestos e seqüestros
48
PADOIN, Fabiana Fachinetto. Direito Notarial e Registral. Rio Grande do Sul: ed. Unijuí, 2011, p. 88
de imóveis; as servidões em geral; o usufruto e do uso sobre imóveis e da habitação, quando
não resultarem do direito de família; os contratos de compromisso de compra e venda de
cessão deste e de promessa de cessão; a anticrese; as convenções antenupciais; as
incorporações, instituições e convenções de condomínio; os loteamentos urbanos e rurais; as
sentenças declaratórias de usucapião; a compra e venda pura e da condicional; a permuta e da
promessa de permuta; a dação em pagamento; a doação entre vivos; e a alienação fiduciária
em garantia de coisa imóvel.

Sob outra vista, a averbação faz referência aos fatos novos, consistente na modificação,
extinção ou retificação de informações do registro ou da matrícula. Nesses termos, serão
averbados no Cartório de Imóveis, dentre outros: as convenções antenupciais e do regime de
bens diversos do legal; a mudança de denominação e de numeração dos prédios, da
edificação, da reconstrução, da demolição, do desmembramento e do loteamento de imóveis;
a alteração do nome por casamento ou por desquite; a caução e da cessão fiduciária de
direitos reais relativos a imóveis; o restabelecimento da sociedade conjugal; as cláusulas de
inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade impostas a imóveis, bem como da
constituição de fideicomisso; o contrato de locação, para os fins de exercício de direito de
preferência; e o processo de tombamento de bens imóveis e de seu eventual cancelamento,
sem conteúdo financeiro.

Ademais, outra importante averbação digna de menção é prevista no art. 799, IX do CPC,
segundo o qual deve ser objeto de averbação ato de propositura da execução e dos atos de
constrição realizados, a exemplo da penhora, para conhecimento de terceiros. Assim,
ilustrativamente, sobrevindo propositura de ação de execução ou a fase de execução de título
judicial, o exequente pode requerer a certidão de que a execução foi admitida pelo juiz, para
fins de averbação (art. 828, CPC). Trata-se de averbação acautelatória, na medida que
destina-se, especificamente, a acautelar terceiros interessados em adquirir o imóvel ou
recebê-lo como garantia real, além de tutelar o interesse do credor exequente. 49

7) CARTÓRIO DE NOTAS (TABELIONATO DE NOTAS)

49
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos - Teoria e Prática. ed. 8. São Paulo: ed. JusPodivm, 2017, p.
948
O termo “tabelionato” advém de tabeliones, que, em Roma, eram os responsáveis por
50
instrumentalizar determinados negócios. O titular desta serventia é o tabelião ou notário,
que, conforme já mencionado, possuem a função de formalizar juridicamente a vontade das
partes, intervindo nos atos e negócios jurídicos a que as partes devam ou queiram dar forma
legal ou autenticidade, autorizando a redação ou redigindo os instrumentos adequados,
conservando os originais e expedindo cópias fidedignas de seu conteúdo.

Assim, o Tabelionato de Notas é a serventia responsável por pela lavratura de escrituras e


procurações, públicas, de testamentos públicos, de atas notariais, bem como é competente
pelo reconhecimento de firmas e autenticação de cópias (art. 7 da Lei 8.935/94). A lavratura
dos referidos atos notariais deve ser feita no idioma nacional, de acordo com a vontade das
partes. Sublinha nesse ponto que, malgrado, possa emprestar seu conhecimento jurídico, o
notário não interfere na vontade dos indivíduos, apenas capta essa vontade dando-lhe forma
jurídica, em observância aos requisitos legais.

Primeiramente, a lavratura de escritura pública é a principal atribuição do notário, a ser feita


no Tabelionato de Notas. Trata-se de documento público redigido pelo tabelião, seu
substituto ou escrevente por ele autorizado, para os atos e negócios jurídicos em que é exigida
forma especial, como é o caso da alienação de imóvel acima de 30 (trinta) vezes o salário
mínimo do país (art. 108, CC), ou quando o negócio é celebrado com a cláusula de não valer
sem instrumento público (art. 109, CC). Exemplificadamente, é ordinário a lavratura de
escritura pública de compra e venda, de doação e de permuta, bem como de união estável, de
pacto antenupcial, de emancipação, de revogação de mandato, de confissão de dívida, entre
outros exemplos. 51 Ademais, a partir da Lei n. 11.441/2007, o Tabelionato de Notas passou
a ser competente para realização de separação, divórcio, inventário e partilhas extrajudiciais,
por meio da lavratura de escritura pública.

No que se refere aos requisitos legais, dispõe o §1º do art. 215 do Código Civil que a
escritura pública deve conter a data e local de sua realização; a o reconhecimento da
identidade e capacidade das partes e de quantos hajam comparecido ao ato, por si, como
representantes, intervenientes ou testemunhas; o nome, nacionalidade, estado civil, profissão,
domicílio e residência das partes e demais comparecentes, com a indicação, quando

50
PADOIN, Fabiana Fachinetto. Direito Notarial e Registral. Rio Grande do Sul: ed. Unijuí, 2011, p.63
51
Ibidem, p. 66
necessário, do regime de bens do casamento, nome do outro cônjuge e filiação; manifestação
clara da vontade das partes e dos intervenientes; a referência ao cumprimento das exigências
legais e fiscais inerentes à legitimidade do ato; a declaração de ter sido lida na presença das
partes e demais comparecentes, ou de que todos a leram; e assinatura das partes e dos demais
comparecentes, bem como a do tabelião ou seu substituto legal, encerrando o ato.

Também é atribuição do Tabelionato de Notas a lavratura de procuração pública, que, ipsis


litteris, é definida como instrumento do mandato pelo art. 653 Código Civil. Sem embargo,
porém, a melhor definição é aquela que identifica a procuração como a outorga de poderes de
representação pelo mandatário ao mandante, visto que tanto o mandato como a procuração
52
podem ser feitos por instrumento público. Tratando-se, todavia, a procuração por
instrumento público é exigida em poucos casos, como nas situações de interesse de menores
relativamente incapazes, assistidos por seu representante legal. Cabe destacar, ainda, que o
substabelecimento não precisa acompanhar a forma da procuração, inclusive, como prevê o
art.655 do Código Civil, ainda que se outorgue mandato por instrumento público, pode
substabelecer-se mediante instrumento particular.

Por outro lado, por meio da ata notarial, o notário autentica fatos para valer como prova
pré-constituída. Em outras palavras, a ata notarial é instrumento público que faz prova da sua
formação e dos fatos que o escrivão, o chefe de secretaria, o tabelião ou o servidor
declararam que ocorreram em sua presença (art. 405, CPC). Sobre o tema, evoca-se
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça que considera inválidas as mensagens obtidas
por meio do print screen da tela do WhatsApp.53 Diante desse caso, a solução é a lavratura de
ata notarial, de modo a tornar válida essas mensagens, visto que, ao levar o aparelho celular
ao tabelião, dotado de fé pública, será obtido documento público que possui valor de prova e
que é presumidamente verdadeiro.

Por fim, o Tabelionato de Notas possui também competência para autenticação de


documentos e reconhecimento de firma (art.7, IV e V da Lei 8.935/94), que consistem em
atividade certificadora típica do notário. Define-se a autenticação como o ato pelo qual o

52
SCHREIBER, Anderson. Manual de direito civil contemporâneo. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2019. p. 809
53
12. Recurso provido, a fim de declarar a nulidade da decisão judicial que autorizou o espelhamento do
WhatsApp via Código QR, bem como das provas e dos atos que dela diretamente dependam ou sejam
consequência, ressalvadas eventuais fontes independentes, revogando, por conseguinte, a prisão preventiva dos
Recorrentes, se por outro motivo não estiverem presos (RHC n. 99.735 - SC. Ministra LAURITA VAZ. SEXTA
TURMA. Julgado em: 27/11/2018.DJe 12/12/2018)
notário declara que determinado documento fotocopiado é igual ao documento original que
lhe foi apresentado, circunstância, na qual, a reprodução do documento público autenticado
54
pelo tabelião fará a mesma prova que o original. De outra banda, o reconhecimento de
firma consiste no ato pelo qual o tabelião declara como verdadeira a assinatura emitida por
pessoa física ou jurídica em determinado documento levado ao Tabelionato de Notas55.
Nesse bojo, somente é considerado autêntico o documento quando o tabelião reconhece a
firma de seu autor por autenticidade (art. 411, I, CPC). Nessa toada, destaca-se que, havendo
impugnação da autenticidade do documento, em processo judicial, incumbe ao apresentante
do documento o ônus da prova da autenticidade da assinatura. 56

8) CARTÓRIO DE PROTESTO

Consoante a Lei 9.492/1997, protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a
inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de
dívida. De modo simples, o ato de registrar uma dívida em cartório, é o que se denomina
“protesto”. Nesse sentido, o protesto tem a finalidade precípua de provar uma situação de
inadimplência, ou o não pagamento de um título. Assume, consequentemente, também,
função conservadora, na medida que interrompe o prazo prescricional, bem como função
informativa, já que constitui em mora o devedor. 57

Em consonância com isso, o Cartório de Protesto é a Serventia cuja atribuição é a


formalização do não pagamento de títulos ou documentos de dívida, ou, de outra forma, no
registro do protesto. Nesse viés, são considerados títulos sujeitos a protesto, os títulos de
crédito, a exemplo do cheque, da nota promissória, da letra de câmbio e das duplicatas, bem
como qualquer documento que comprove obrigação certa, líquida e exigível, como uma
58
sentença transitada em julgado e a confissão de dívida. Inclui-se, nesse rol, também as
certidões de dívida ativa dos entes federados e suas autarquias e fundações, cuja
59
constitucionalidade foi afirmada na ADI 5135/DF. Por fim, os títulos executivos
54
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos - Teoria e Prática. ed. 8. São Paulo: ed. JusPodivm, 2017, p.
1191
55
Ibidem
56
REsp 1313866 / MG. Ministro MARCO BUZZI. QUARTA TURMA. Julgado em 15/06/2021. DJe
22/06/2021
57
Ibidem, p. 1243
58
MATOS, Carolina Meneghini Carvalho; SALLES, Diana Nacur Nagem Lima. Direito Notarial e Registral.
Paraná: Editora e Distribuidora Educacional S/A, p. 207
59
Ementa: Direito tributário. Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 9.492/1997, art. 1º, parágrafo único.
Inclusão das certidões de dívida ativa no rol de títulos sujeitos a protesto. Constitucionalidade. 1. O parágrafo
estrangeiros podem ser também objeto de protesto, desde que satisfeitos os requisitos de
formação pela lei do lugar de sua celebração e quando o Brasil for indicado como o lugar de
cumprimento da obrigação (art. 784, § 3°, CPC).

Nesse bojo, o oficial do Cartório de Protestos denomina-se tabelião, a quem compete, nos
termos da Lei n. 9492/97, a protocolização, a intimação, o acolhimento da devolução ou do
aceite, o recebimento do pagamento, do título e de outros documentos de dívida, bem como
lavrar e registrar o protesto ou acatar a desistência do credor em relação ao mesmo, proceder
às averbações, prestar informações e fornecer certidões relativas a todos os atos praticados.

Acerca da protocolização, trata-se de procedimento a ser realizado pelo notário, consistente


no exame dos requisitos formais, a exemplo verificação da prescrição ou caducidade.
Ilustrativamente, no caso dos títulos de crédito, o tabelião deverá analisar, por exemplo, a
60
data da emissão, a indicação dos direitos e a assinatura do emitente. De outra banda,
tratando-se de título judicial, exige-se o trânsito em julgado e fim do prazo para pagamento
61
voluntário previsto na lei processual ou na decisão judicial. Com isso, apresentado o título
e tendo este atendido as formalidades a ele impostas, o tabelião promoverá sua protocolização
obedecendo à ordem cronológica de entrega (art. 5, Lei 9.492/97). Todavia, havendo
qualquer irregularidade formal, o Tabelião obstará o registro do protesto (art. 9, parágrafo
único, Lei 9.492/97).

Na sequência, deverá o tabelião intimar o devedor para que este tome ciência do protesto de
título ou documento de dívida de sua responsabilidade, e, a partir disso, compareça na
Serventia para quitar a dívida no prazo de 3 (três) dias (art. 12, Lei n. 9492). Tratando-se,
porém, de pessoa desconhecida, de localização incerta ou ignorada, ou se for residente ou
domiciliado fora da competência territorial do Tabelionato, ou, ainda, se ninguém se dispuser
a receber a intimação no endereço fornecido pelo apresentante, a intimação será por edital.
(art. 15, Lei n. 9492). Acentua-se que é de inteira responsabilidade do apresentante a
identificação e fornecimento do endereço da pessoa do devedor.62

único do art. 1º da Lei nº 9.492/1997, inserido pela Lei nº 12.767/2012, que inclui as Certidões de Dívida Ativa -
CDA no rol dos títulos sujeitos a protesto, é compatível com a Constituição Federal, tanto do ponto de vista
formal quanto material.
60
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos - Teoria e Prática. ed. 8. São Paulo: ed. JusPodivm, 2017, p.
1247
61
Ibidem, p. 1250
62
Ibidem, p. 1261
Dessa maneira, o pagamento deverá ser feito diretamente no Cartório de Protesto, situação na
qual o protesto não será realizado. Todavia, findo o prazo, sem a efetivação quitação, o
tabelião deverá promover a lavratura e registro do protesto, cuja data de vencimento será o
prazo de 3 (três) dias do protocolo. Nesse universo, a “lavratura”, certifica a ausência do
pagamento, enquanto o registro corresponde a inscrição do protesto lavrado nos livros da
serventia, para publicidade, autenticidade, segurança e eficácia do ato praticado63. Com isso,
ao fim, o instrumento de protesto será entregue ao apresentante do título ou documento da
dívida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DINIZ, Maria Helena. Direito Civil Brasileiro. 1º volume – Teoria Geral do Direito Civil. 29.
Ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos - Teoria e Prática. ed. 8. São Paulo: ed.
JusPodivm, 2017

MATOS, Carolina Meneghini Carvalho; SALLES, Diana Nacur Nagem Lima. Direito
Notarial e Registral. Paraná: Editora e Distribuidora Educacional S/A.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 42ª Edição. Atualizada por
José Emmanuel Burle Filho e Carla Rosado Burle. Malheiros Editores. São Paulo, 2015

PADOIN, Fabiana Fachinetto. Direito Notarial e Registral. Rio Grande do Sul: ed. Unijuí,
2011.

63
MATOS, Carolina Meneghini Carvalho; SALLES, Diana Nacur Nagem Lima. Direito Notarial e Registral.
Paraná: Editora e Distribuidora Educacional S/A, p. 216
SCHREIBER, Anderson. Manual de direito civil contemporâneo. 3 ed. São Paulo: Saraiva,
2019

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