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BACHARELADO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

JOSÉ EDUARDO SANT’ANNA CLÓS

ESTUDO DE CASO COM ANÁLISE GERENCIAL DE INDICADORES


FINANCEIROS PARA AUXÍLIO AOS ADMINISTRADORES NA GESTÃO
FINANCEIRA E TOMADA DE DECISÃO

PORTO ALEGRE
Dezembro, 2022
1

JOSÉ EDUARDO SANT’ANNA CLÓS

ESTUDO DE CASO COM ANÁLISE GERENCIAL DE INDICADORES


FINANCEIROS PARA AUXÍLIO AOS ADMINISTRADORES NA GESTÃO
FINANCEIRA E TOMADA DE DECISÃO

Projeto de Pesquisa do Trabalho de


Conclusão a ser apresentado ao
Departamento de Engenharia de Produção
do Centro Universitário Ritter dos Reis,
como parte dos requisitos para obtenção
do título de Engenheiro de Produção.

Orientador: Fábio Yojiro Wakamatsu

PORTO ALEGRE
Dezembro, 2022
2

RESUMO

A pesquisa em questão expõe a importância do conhecimento aprofundado


dos principais indicadores financeiros, aplicáveis a quaisquer empresas, bem como
as correlações existentes entre si, para viabilizar uma gestão financeira eficiente com
decisões fundamentadas dos administradores, sócios e empresários acerca do
negócio. Para isso, demonstrou-se os resultados financeiros e números práticos de
uma empresa da indústria de papel e celulose, a fim de aplicar o conhecimento
discorrido e analisar as consequências correlacionadas entre os indicadores de
rentabilidade, lucratividade, endividamento, composição de capital e outros relativos
ao operacional do financeiro da empresa.

Palavras-chave: gestão financeira, indicadores financeiros, correlação matemática


dos indicadores financeiros.
3

ABSTRACT

The present article exposes the importance of in-depth knowledge about the
main financial indicators, applicable to any company, as well as the existing
correlations between them, to enable efficient financial management through reasoned
decisions by administrators and entrepreneurs about their own business. In view of
this, the financial results and practical numbers of a company in the pulp and paper
industry were demonstrated, in order to apply the knowledge discussed and analyze
the correlated consequences between the rentability, profitability, indebtedness,
capital composition and others related to the financial operations of the company.

Keywords: financial management, financial indicators, mathematical correlation


between financial indicators.
4

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Exemplo de estrutura elementar do balanço patrimonial ......................... 19


Figura 2 – Exemplo de estrutura básica da DRE ...................................................... 21
Figura 3 – Diagrama do método Du Pont .................................................................. 23
Figura 4 – Cálculo do fluxo de caixa livre .................................................................. 27
Figura 5 – Ilustração dos ciclos de caixa (financeiro) e operacional ......................... 28
Figura 6 – Balanço Patrimonial Simplificado do estudo de caso ............................... 42
Figura 7 – DRE simplificado do caso estudado ......................................................... 42
Figura 8 – Resultado dos indicadores aplicados ao estudo de caso ......................... 43
Figura 9 – Reflexos da medida A nos indicadores estudados ................................... 45
Figura 10 – Reflexos da medida B nos indicadores estudados ................................. 46
Figura 11 – Reflexos da medida C nos indicadores estudados................................. 47
Figura 12 – Aplicação das medidas ao caso prático ................................................. 48
Figura 13 – Impacto das ações nos indicadores aplicados ao caso .......................... 49
Figura 14 – Comparativo dos indicadores do caso antes e depois das ações .......... 50
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LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS

CC Ciclo de Caixa
CO Ciclo Operacional
COL Capital Operacional Líquido
CPV Custo do Produto Vendido
DL Dívida Líquida
EBITDA Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization
GA Giro do Ativo
GAF Grau de Alavancagem Financeira
IEG Índice de Endividamento Geral
ML Margem Líquida
PMPC Prazo Médio de Pagamento das Compras
PMRE Prazo Médio de Rotação de Estoque
PMRV Prazo Médio de Recebimento das Vendas
RSA Retorno sobre Ativos
RSCI Retorno sobre Capital Investido
RSPL Retorno sobre Patrimônio Líquido
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 8

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA ...................................................................... 10

1.2 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA .................................................................. 10

1.3 OBJETIVOS ............................................................................................... 11

1.3.1 Objetivo Geral............................................................................................. 11

1.3.2 Objetivos Específicos ................................................................................. 11

1.4 JUSTIFICATIVA ......................................................................................... 12

2 REVISÃO DE LITERATURA...................................................................... 14

2.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 14

2.2 HISTÓRICO................................................................................................ 14

2.3 CONTABILIDADE GERENCIAL ................................................................. 14

2.4 ESTRUTURA DE CUSTOS DAS EMPRESAS........................................... 16

2.4.1 Diferenças na Estrutura de Custos de Diferentes Empresas ............... 16

2.5 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS ............................................................. 18

2.5.1 Balanço Patrimonial (BP) ......................................................................... 18

2.5.2 Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) .................................. 20

2.5.3 Técnicas de Análise das Demonstrações Contábeis ............................ 21

2.5.3.1 Análise Vertical ........................................................................................... 21

2.5.3.2 Análise Horizontal....................................................................................... 22

2.5.3.3 Análise Du Pont .......................................................................................... 22

2.5.4 Objetivos da Análise ................................................................................ 24

2.6 INDICADORES ECONÔMICO-FINANCEIROS.......................................... 24

2.6.1 Definições Prévias .................................................................................... 24

2.6.2 Indicadores Financeiro-Operacionais .................................................... 28

2.6.3 Indicadores de Resultado ........................................................................ 29


7

2.6.4 Indicadores de Composição de Capital .................................................. 30

3 PROCEDIMENTO METODOLÓGICOS ..................................................... 34

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ......................................................... 34

3.2 DELINEAÇÃO DO PROPÓSITO DOS INDICADORES SELECIONADOS 34

3.2.1 Parte I – Indicadores Financeiro Operacionais ...................................... 35

3.2.2 Parte II – Indicadores de Resultado ........................................................ 35

3.2.3 Parte III – Indicadores de Composição de Capital ................................. 39

3.3 PROPOSIÇÃO DE CASO PRÁTICO PARA MELHOR ASSIMILAÇÃO E


EXEMPLIFICAÇÃO .................................................................................... 40

3.3.1 Estudo de Caso – Apresentação de Demonstrativos e Indicadores .... 41

3.3.2 Explanação Matemática dos Indicadores – Simulação de Cenário ..... 43

3.3.3 Aplicação do Cenário Simulado ao Estudo de Caso ............................. 47

3.3.4 Análise Financeira do Estudo de Caso .................................................. 51

4 CONCLUSÃO E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............. 54

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 56


8

1 INTRODUÇÃO

O cenário econômico atual e o conhecido hostil ambiente de negócios do


Brasil dificultam ainda mais a já incerta sobrevivência das empresas no mercado, haja
vista diversos fatores e questões estruturais do país, tais quais o sistema tributário,
fiscal, trabalhista, legislativo, jurídico, educacional, entre outros.
De acordo com o Banco Mundial que estudou dados de 2020 de diversos
países, publicados no relatório Doing Business, o Brasil ocupa a 124ª posição no
quesito Facilidade em fazer negócios. Este relatório é feito usando basicamente doze
indicadores que tem relação prática direta com quase todas as questões estruturais
supramencionadas. Dentre estes indicadores estão (traduzidos pelo autor):
começando um negócio; lidando com licenças de construção; conseguindo
eletricidade; registrando propriedade; acesso a crédito; proteção de investidores
minoritários; pagamento de impostos; negociações internacionais; execução
contratual; resolução de insolvência; contratação de empregados e; contratação com
o governo.
Através dos dados contidos no Mapa de Empresas divulgado pelo Governo
Federal, mais de 50% das empresas ativas no país são MEIs (MINISTÉRIO DA
ECONOMIA, 2021) e, conforme evidenciado na Pesquisa Sobrevivência de
Empresas, a taxa de mortalidade entre Microempreendedores Individuais entre 1 e 5
anos é de, aproximadamente, 29% (SEBRAE, 2020).
Não obstante, conforme as Estatísticas do Cadastro Central de Empresas
divulgado pelo IBGE referente ao ano de 2005 até 2018, verifica-se um crescente
saldo de empresas ativas negativo de um ano para o outro, desde 2014. Portanto,
desde 2014 houve um decréscimo no número de empresas ativas no país.
Em julho de 2022 o número de famílias inadimplentes atingiu a nova marca
recorde de 67,6 milhões (SERVIÇO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO, 2022), ou seja,
cerca de 40% da população adulta do país à época.
Como divulgado pelo trabalho conjunto do World Bank Development
Research Group e The George Washington University School of Business na pesquisa
Financial Literacy Around the World, e traduzido pelo autor, “sem um entendimento de
conceitos básicos sobre finanças, as pessoas não estão preparadas para tomar
decisões relacionadas à gestão financeira.” e, consequentemente, estas não têm “a
9

habilidade de tomar decisões financeiramente fundamentadas, tais como poupar,


investir, emprestar e outras.” (KLAPPER; LUSARDI; OUDHEUSDEN, 2014, p.4).
Os resultados da pesquisa supramencionada demonstram que, acerca da
alfabetização financeira da população adulta, existe uma diferença média de 37
pontos percentuais para países mais desenvolvidos (Australia, Canadá, Dinamarca,
Finlândia, Alemanha, Israel, Holanda, Noruega, Suécia e Reino Unido) para os países
emergentes (Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul), cuja taxa é, em média, de
apenas 28%.
Além dos problemas estruturais a nível país apresentados pelo relatório
mencionado Doing Business do Banco Mundial, dos motivos que justificam a
dificuldade com a prosperidade das empresas, certamente tem grande influência a
precária educação financeira do Brasil, conforme evidenciado na pesquisa Financial
Literacy Around the World.
Baseado no contexto exposto, a presente pesquisa visa desenvolver, com
viés mais prático, um manual dos principais indicadores que uma empresa deve ter
no seu gerenciamento financeiro, com uma explicação do indicador, exposição
matemática da correlação existente entre eles e alguns exemplos práticos para
simulação e melhor compreensão e assimilação, além de exemplos utilizando dados
reais de uma empresa do ramo de papel e celulose.
A escolha dos indicadores a serem desenvolvidos, será baseada em três
diferentes classificações – as quais dividirão o estudo em etapas – que contemplarão
pontos acerca de: informações financeiro operacionais, que retratam o funcionamento
de empresas, sendo esta a parte I; resultados financeiros, que medem a lucratividade
e rentabilidade de negócios, compondo a parte II do estudo e; finalizará com a parte
III que terá como foco o endividamento de organizações, medindo a capacidade
destas de cumprirem com suas obrigações em função de seus resultados, bem como
a composição de dívida e capital próprio.
Será utilizado o método de abordagem dedutivo para realização de estudo de
caso, através do procedimento monográfico, por meio de pesquisa bibliográfica.
Para tal fim, inicialmente, serão explorados os conceitos dos indicadores
financeiros e seus elementos de cálculo. Então, apresentar-se-ão os números de uma
empresa do ramo de papel e celulose, dados estes que servirão para o restante do
estudo, tanto a explanação teórica quanto aplicação prática. Pautadas na situação da
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referida organização, serão mencionadas possíveis medidas frente a situações de


adversidade, bem como uma exposição exclusivamente matemática – uso das
variáveis de cálculo sem seu valor numérico – de seus potenciais reflexos nos
indicadores citados. Consolidado o conhecimento prévio necessário, os principais
indicadores fim do estudo serão melhor explorados e explicados com viés mais
gerencial, para além de sua definição estritamente financeira. Por fim, aplicar-se-ão
algumas das medidas apontadas ao caso já exibido, primeiramente demonstrando o
reflexo potencial imediato de cada ação nos indicadores através da condição ceteris
paribus e, posteriormente, contemplando as projeções tanto destas providências
quanto das premissas divulgadas para discorrer a análise técnica financeira do ponto
de vista gerencial.

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA

É de suma importância que qualquer empresa tenha clareza dos seus


resultados financeiros.
Tendo isso em vista, é necessário que se tenha não somente o controle das
finanças do negócio, mas também conhecimento de seus fundamentos e
mecanismos, para correta análise e gestão, as quais fundamentarão e darão as
diretrizes nas tomadas de decisão dentro da organização.
Considerando a relevância do exposto acima, este trabalho se propõe a
buscar por respostas para a seguinte questão de pesquisa: Considerando o crescente
saldo negativo de empresas ativas no país e a precária educação financeira da
população, como analisar os indicadores financeiros de modo que estes possam
auxiliar na tomada de decisão dos administradores considerando a situação atual e
da perspectiva das três classificações citadas.

1.2 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

Em qualquer decisão tomada dentro de qualquer empresa,


independentemente do porte ou mercado, existe um componente de finanças
corporativas. Tendo isto em vista e aliado ao objetivo deste estudo de auxiliar
administradores na tomada de decisão e gestão de seus negócios, os indicadores
11

selecionados são aplicáveis em organizações de qualquer tipo e tamanho,


eventualmente necessitando de pequenas adaptações, conforme abaixo.
A primeira parte será sobre indicadores financeiro-operacionais, composto
pelo Ciclo Operacional, Ciclo de Caixa e Giro do Ativo.
A segunda, delimitados pelos indicadores Grau de Alavancagem Financeira,
Retorno Sobre Ativos, Retorno Sobre Patrimônio Líquido e Retorno Sobre Capital
Investido, terá como foco a rentabilidade.
Por último, a Dívida Líquida por EBITDA, a Dívida por Capital Próprio, o índice
de Endividamento Geral e os Índices de Liquidez Geral, Corrente, Seca e Imediata,
formarão a terceira parte, que analisaram a composição de capital e endividamento.

1.3 OBJETIVOS

Os objetivos do presente trabalho são apresentados a seguir.

1.3.1 Objetivo Geral

Auxiliar os administradores das empresas do país nas tomadas de decisão


acerca do negócio através do emprego de uma gestão financeira técnica, repassada
por meio da explanação dos fundamentos e funcionamento de indicadores financeiros
chaves – comuns a qualquer negócio – e esclarecimento de eventuais correlações
existentes entre estes com ajuda de exemplos práticos provenientes de caso prático
a ser apresentado.

1.3.2 Objetivos Específicos

a) Explanar os conceitos básicos de indicadores relacionados cuja


apresentação é essencial como definições prévias;
b) Analisar conceitualmente os indicadores delimitados;
c) Verificar a correlação existente entre os indicadores através dos
componentes de cálculos mitigados e exposição matemática;
12

d) Evidenciar correlação entre os indicadores propostos e classificações


delineadas para auxílio na tomada de decisão fundamentada, através da
aplicação em caso prático.

1.4 JUSTIFICATIVA

Considerando o contexto adverso do país e a escassez dos recursos já


explicitada por Robbins, quando este afirmou que a economia é a ciência que estuda
o comportamento humano como uma relação entre fins e meios escassos que têm
usos alternativos (ROBBINS, 1932), as decisões acerca da alocação correta destes é
de suma importância, não só para garantir a sobrevivência de empresas, mas também
para consolidação e crescimento destas no mercado.
Nesta linhagem e em termos mais práticos, Ludwig Von Mises trouxe em suas
obras questões relevantes acerca do problema do cálculo econômico, defendendo a
alocação dos fatores de produção baseado no mercado, contrapondo o planejamento
econômico.
A evolução deste debate para datas mais atuais já reside acerca da
natureza do problema do cálculo econômico, se este seria computacional
(COCKSHOTT, 2000) ou epistemológico (HORWITZ, 1998). Portanto, nota-se que,
apesar do debate em questão, é de comum consenso que o problema acerca da
alocação de recursos é intrínseco a organização da sociedade.
Na obra “O que se Vê e o Que Não se Vê”, Frédéric Bastiat (1850) traz uma
importante reflexão sobre a alocação de recursos na sociedade, denominada “A
Falácia da Vidraça Quebrada”. Em sua teoria, apresenta, além dos reflexos
imediatamente visíveis acerca do emprego de determinado capital, a consequência
do seu não emprego para outro fim.
Destarte, partindo do consenso macroeconômico citado, fica evidente que a
essência desta discussão reside em questões microeconômicas sendo, em última
instância, a organização interna de cada agente econômico.
Toda decisão deve ser fundamentada e, para que exista clareza das
prioridades neste processo de decisão, uma gestão financeira adequada e a correta
análise financeira da empresa é questão primordial.
13

Uma empresa sem controle de suas finanças e indicadores certamente


apresentará lapsos acerca de seu juízo de valor sobre bens de ordem mais elevada e
projetos para investimentos e novos empreendimentos, além de dificuldades de
gestão e decisões estratégicas, táticas e operacionais dentro de suas próprias
operações já existentes.
Aliando estes fatos expostos às limitações educacionais do país,
especialmente no quesito finanças, pode-se deduzir que muitas empresas do país não
têm acompanhamento financeiro empresarial adequado ou, certamente, há muitas
oportunidades de melhoria.
14

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo serão apresentados os temas que dão embasamento à


pesquisa realizada, tais quais o histórico mais recente da contabilidade de custos a
partir da revolução industrial no século XIX; a apresentação dos conceitos de
contabilidade gerencial; apresentação dos princípios fundamentais de finanças
corporativas; relação do endividamento da empresa com suas operações, perfil e
objetivos e; apresentação conceitual dos indicadores delineados e suas variáveis de
cálculo.

2.2 HISTÓRICO

A Contabilidade de Custos e os primeiros sistemas de custeio de produtos


tiveram origem logo após a revolução industrial no século XIX (BERBEL, 2017). A
fabricação de um único produto com produção totalmente empurrada era a realidade
das primeiras fábricas que surgiram. Além disso, áreas e despesas mais ligadas a fins
administrativos como marketing, gestão de pessoas, treinamentos, atendimento de
clientes não existiam ou quase não possuíam estrutura relevante. As únicas estruturas
formuladas e estabelecidas eram a mão de obra direta e os materiais diretos, o que
tornava a contabilização dos custos muito mais simples e não justificavam a
necessidade de rateio de custos mais robusto.
Com o aumento da complexidade das operações das empresas, a
contabilidade gerencial do início do século XIX, cuja essência se limitava a mensurar
os custos unitários de produção de cada produto, demonstrou-se insuficiente para
atender a necessidade por mais precisas informações acerca das crescentes e, por
consequência, mais complexas operações das empresas (KAPLAN, 2012).

2.3 CONTABILIDADE GERENCIAL

A razão primordial que incentiva e justifica, em última instância, a existência


de qualquer empresa é a realização de lucros. Para tal, atualmente, a simples
15

obtenção de receita maior que os gastos da empresa, mensurando os resultados


estritamente pelo regime de competência, não é mais suficiente para que exista o
lucro. Hoje, não somente se deve reconhecer que o caixa é que influencia os
parâmetros das decisões da empresa também através da gestão de ativos e prazos,
mas ainda entender que a gestão de riscos aliada ao financiamento das operações é
o que pode alavancar a empresa para melhores resultados ou levá-la à insolvência.
Tendo isso em vista, a análise correta das informações financeiras da
empresa é de suma importância para o seu posicionamento estratégico, pois esta
deve ser a fonte das decisões acerca da alocação mais eficiente dos recursos e
também do entendimento do grau de risco o qual a companhia está exposta,
principalmente se considerarmos a concorrência do mercado a qual a empresa está
inserida, pois é partindo deste ponto que a empresa vai poder se posicionar de
maneira favorável frente aos outros players do mercado.
De acordo com o Institute of Management Accountants:

[...] o papel do contador gerencial deve ser mais diversificado em relação a


essa cadeia de valor, e deve incluir o mais alto nível - participando nas
principais decisões estratégicas como parte das equipes de tomada de
decisão de gestão. Contadores gerenciais (1) fornecem a estrutura conceitual
para converter dados em informações e (2) cumprem o papel de facilitadores
e parceiros de negócios estratégicos ao longo de toda a cadeia de valor da
informação (INSTITUTE OF MANAGEMENT ACCOUNTANTS, 2008, p. 2,
tradução nossa).

Porém, a estrutura e as operações de empresas de cada setor divergem


drasticamente, haja vista sua natureza operacional, o que torna os fluxos de custos
muito peculiares de uma organização para outra, impedindo uma padronização
absoluta do ponto de vista da contabilidade gerencial. Tal realidade também é
evidenciada por Kaplan, Atkinson e Mastumura (2012), quando estes expõem que:

Para calcular os custos dos produtos, os sistemas de contabilidade gerencial


devem refletir os fluxos de custos reais na organização. Organizações fabris,
de varejo e de serviços têm padrões de fluxos de custo muito diferentes,
resultantes de diferentes prioridades da contabilidade gerencial. (KAPLAN,
2012, p. 97)

Todavia, os indicadores, classificações e cenários delineados são de comuns


e relevantes a todos os tipos de empresa, consoante ao objetivo da presente pesquisa,
necessitando de pequenas adaptações a cada realidade.
16

2.4 ESTRUTURA DE CUSTOS DAS EMPRESAS

No presente tópico, evidenciar-se-á que, ainda que exista diferenças acerca


dos fluxos de custos dos diferentes setores trazida por autores supramencionados –
o que acarreta peculiaridades da estrutura de custos de cada tipo de operação –, os
indicadores selecionados dentro das classificações delimitadas são comuns a
qualquer tipo de empresa.

2.4.1 Diferenças na Estrutura de Custos de Diferentes Empresas

Os custos de produção são classificados, em geral, em um grupo de materiais


diretos, outro de mão de obra direta e, por último, despesas gerais de produção. Numa
empresa com processo produtivo, a matéria-prima possuí três estágios: em estoque,
em processo e produto acabado.
Do ponto de vista de todos os sistemas de custeio da produção, os custos são
acumulados à matéria-prima e ao produto à medida que estes são processados.
Já numa empresa varejista, o custo de aquisição de novos bens é agregado
à conta de estoque de mercadorias da organização. A problemática enfrentada pelos
métodos de custeio voltados para este tipo de operação é a mesma para empresas
com processo produtivo: a alocação de gastos de diferentes naturezas à atividade
principal, produto, departamento ou processo.
No caso de uma empresa de serviços, frequentemente o principal custo
existente é a folha de pagamento dos colaboradores. Neste caso, o grande desafio
consiste na dificuldade de estabelecer o custo de um projeto, apesar do foco destas
empresas dever residir nos custos de rentabilidade dos clientes, haja vista a forte
correlação existente entre a demanda de cada cliente e os recursos organizacionais,
diferentemente de uma empresa de manufatura, por exemplo.
No caso de empresas fabris, os custeios podem ser voltados aos produtos, já
que a variação dos custos está muito mais ligada ao processo de fabricação do que
às demandas de cada cliente, numa linha de produção com produtos majoritariamente
padronizados, por exemplo.
17

A diferença entre a realidade de empresas produtivas, varejistas e de serviço


é mais destacada quando se verifica que, nas operações de produção os “[...] itens de
despesas gerais, frequentemente, representam metade do custo total de produzir os
bens, os custos das mercadorias nas organizações de varejo podem exceder 80% do
custo total de compra e venda dos bens.”. Já nas organizações cuja principal atividade
econômica reside em serviços, cerca de 80% do custo total do projeto reside em
salários e encargos, como também escrito por Kaplan, Atkinson e Mastumura (2012).
Portanto, fica evidente a diferença de potencial de distorção da contabilidade
gerencial de uma mesma situação ou problema, para cada tipo de empresa.
Entretanto, o acompanhamento dos indicadores estudados são imperativos aos
diferentes setores de atuação das empresas.
Se por um lado o fluxo de custos de uma organização fabril está fortemente
relacionado à matéria prima e sua transformação – seja em processamento ou
estoque de produto acabado – em empresas de comércio os custos estão ligados à
compra e revenda dos produtos.
Em ambas as situações existe um processo que exige a compra e
recebimento dos produtos ou matérias primas, o pagamento destas, a venda dos
produtos acabados e o recebimento destes valores.
Neste processo, do ponto de vista financeiro, é necessário o controle dos
prazos de pagamento e recebimento, consequentemente do gerenciamento das
dívidas de longo e curto prazo – a depender da política de financiamento de ativos
circulantes.
Isso afeta, por exemplo, diretamente os indicadores citados nas classificações
“Parte I – Indicadores Financeiro Operacionais”, tais como Ciclo Operacional, Ciclo de
Caixa e Giro do Ativo; “III – Indicadores de Composição de Capitais”, quais sejam os
Índices de Liquidez e Índice de Endividamento Geral; e, por efeito, “II – Indicadores
de Resultados”.
Mister ressaltar que indubitavelmente haverá diferenças significativas entre os
valores numéricos de cada indicador dependendo do segmento de atuação de cada
entidade. Entretanto, analisando-os separadamente dentro de cada companhia,
excluindo questões de natureza operacional, resta comprovado a relevância destes,
apesar das diferenças finais numéricas entre cada tipo de empresa.
18

Ainda que geralmente em menor escala em função do menor estoque de


materiais necessários ou até mesmo a ausência destes, os negócios voltados à
prestação de serviços também estão expostos à lógica explanada ao comércio e
indústria, uma vez que necessitam de ativos para seu funcionamento. Logo, os
indicadores mencionados, especialmente os voltados à mensuração do resultado,
serve-os.

2.5 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Para além das questões legais e informacionais aos usuários interessados


nos resultados de uma empresa, as demonstrações contábeis possuem a finalidade
de explicitar a solidez e prover um direcionamento sobre os potenciais riscos e
retornos desta, consoante ao explanado por Silva (2018).

2.5.1 Balanço Patrimonial (BP)

Segundo Silva (2018) “A leitura do balanço patrimonial permite a


compreensão da situação patrimonial da empresa a partir da identificação dos seus
bens e direitos e também de suas obrigações”, cujo objetivo básico consiste em
“apresentar o patrimônio da entidade, isto é, seus ativos, passivos e patrimônio líquido
em determinado momento”, de acordo com Perez Júnior (2015).
A estrutura de um balanço patrimonial é composta pelas contas do Ativo de
um lado e, no outro, pelas contas do Passivo mais o Patrimônio Líquido, conforme
figura 1 abaixo. O somatório destes dois últimos deve ser igual aos ativos.
As informações do balanço patrimonial formam componentes das variáveis de
cálculo de diversos indicadores financeiros, os quais serão utilizados no decorrer da
pesquisa.
19

Figura 1 – Exemplo de estrutura elementar do balanço patrimonial

Fonte: Silva, 2018.

Ainda segundo Perez Júnior (2015), os ativos totais são recursos


administrados – não necessariamente a propriedade sobre estes – pela organização
os quais existe a expectativa de geração de benefícios econômicos, dispostos por
ordem de liquidez, a começar pelo ativo de maior liquidez até o de menor liquidez.
Sua divisão é feita em duas Ativo Circulante e Ativo Não Circulante. Acerca
do primeiro, a expectação de realização de venda ou consumo seja baseada em até
um ano após a data de divulgação do balanço, além do propósito consistir em
essencialmente ser negociado. Já no segundo, consiste na realização a longo prazo,
20

enquadrando os ativos que, ao final do próximo Exercício Social ou Ciclo Operacional


– o que for maior –, ocorram seu prazo de realização.
Sobre o Passivo Total, separado em Circulante e Não Circulante, que são
basicamente as obrigações da entidade para com terceiros, seu critério de divisão
reside exclusivamente na data de vencimento da obrigação, classificando-as como
Passivo Circulante as obrigações cuja data de vencimento ocorrem antes do término
do exercício social consecutivo e, senão, como Passivo Não Circulante, como também
explicado por Perez Júnior (2015).
O mesmo autor supracitado define o Patrimônio Líquido como “a riqueza
pertencente aos proprietários (bens mais direitos menos obrigações que constituem
direito comum desses proprietários)” ou, Ativos menos Passivos igual a Patrimônio
Líquido.

2.5.2 Demonstração do Resultado do Exercício (DRE)

Acerca da Demonstração de Resultado de Exercício:

“A empresa deve informar a terceiros interessados como foi obtido o resultado


do exercício, lucro ou prejuízo, transferido para a conta de lucros ou prejuízos
acumulados.
Essa informação sobre o resultado do período é fornecida, em sua maior
parte, pela Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), que nada mais
é do que a apresentação das contas de receitas e despesas, de modo
ordenado.
Tal ordenação consiste, basicamente, na separação das receitas, custos e
despesas operacionais e não operacionais e em sua apresentação na forma
indicada pela legislação vigente, de forma vertical e dedutiva.” (PEREZ
JÚNIOR, 2015, p. 164).

A título de melhor exemplificação, abaixo segue modelo de DRE, onde o


“Resultado líquido do exercício” equivale ao lucro líquido do exercício em questão:
21

Figura 2 – Exemplo de estrutura básica da DRE

Fonte: Silva, 2018.

2.5.3 Técnicas de Análise das Demonstrações Contábeis

Dentre as diferentes técnicas de análise das demonstrações contábeis, o


presente estudo focará na Análise Vertical, Análise Horizontal e Análise Du Pont.

2.5.3.1 Análise Vertical

O cálculo desta técnica de análise consiste em medir o percentual de uma


conta em relação ao todo do grupo o qual está inserida.
Alcantara da Silva (2017) menciona que, dependendo do foco da análise em
questão, na Demonstração de Resultado, “[...] o montante de cada componente dessa
demonstração com as respectivas receitas e despesas. [...]” e, já no Balanço
22

Patrimonial, evidencia “[...] a real importância de uma conta dentro do grupo de contas
na qual está inserida. [...]”.

2.5.3.2 Análise Horizontal

Nesta técnica de análise, a comparação é realizada de um período para outro


entre as mesmas contas e grupos de contas, evidenciando, assim, a evolução destas.
Seu cálculo revela o percentual de alteração da conta analisada ao longo do
tempo.
De acordo com Alcantara da Silva (2017), esta metodologia contribui não
somente para a análise de tendências, mas para a simulação de cenários, também
explicando a relevância desta técnica de análise ao evidenciar que, através desta, é
possível “[...] descobrir e avaliar a estrutura e composição de itens das demonstrações
e a sua evolução no tempo, evidenciando os caminhos até então trilhados pela
empresa e servindo para a construção de uma série histórica [...]”.

2.5.3.3 Análise Du Pont

A abordagem Du Pont, a partir do Retorno sobre Ativo (RSA) e Retorno sobre


Patrimônio Líquido (RSPL), permite o estudo do retorno do capital em diferentes
dimensões, através da divisão em três elementos elementares, sendo estes a margem
de lucro líquida, a alavancagem financeira e o giro dos ativos da empresa.
Em essência, o RSA mede a lucratividade da organização através dos seus
investimentos totais, independente do capital que financiou este ativo – se capital
próprio ou de terceiros –, cujo equação básica consiste na divisão do lucro líquido pelo
ativo total. Como exemplificado por Silva (2018), o método Du Pont analisa o RSA a
partir da multiplicação entre a Margem Líquida (ML) e o Giro do Ativo (GA), conforme
decomposição de cálculo explicitado na figura 3.
23

Figura 3 – Diagrama do método Du Pont

Fonte: Silva, 2018.

Já no índice RSPL, sua equação é o lucro líquido dividido pelo patrimônio


líquido, que permite evidenciar o quanto de lucro os acionistas estão auferindo
considerando somente o capital próprio da empresa.
Entretanto, o resultado deste índice, a partir da abordagem Du Pont, pode ser
obtido através da multiplicação do RSA pelo Grau de Alavancagem Financeira (GAF)
da instituição, haja vista que a multiplicação entre a Margem Líquida (ML) e o Giro do
Ativo (GA) resulta no Retorno sobre Ativos (RSA).
O Grau de Alavancagem Financeira (GAF), como explicado por Perez Júnior
(2015), “[...] está vinculado à utilização do capital de terceiros oneroso para conseguir
um retorno mais significativo para os acionistas [...]”, através da análise entre o capital
próprio e o total investido na empresa, sendo, portanto, sua equação a divisão dos
ativos totais da empresa pelo seu patrimônio líquido.
24

2.5.4 Objetivos da Análise

O objetivo de uma análise econômico-financeira reside em fundamentar as


tomadas de decisões dos administradores e stakeholders (partes interessadas,
tradução livre) através de informações extraídas das demonstrações contábeis.
A resultante deste objetivo varia conforme o interesse do usuário, pois afetará
o processo de análise (Perez Júnior, 2015).
Para fins de exemplificação, uma análise cujo objetivo é mensurar a
capacidade de uma determinada organização em honrar com suas obrigações
financeiras certamente será do interesse de fornecedores e demais credores.

2.6 INDICADORES ECONÔMICO-FINANCEIROS

Acerca dos indicadores econômicos-financeiros, Silva (2018) os descreve


como “[...] são relações entre contas ou grupos de contas das demonstrações
contábeis, que têm por objetivo fornecer-nos informações que não são fáceis de
serem visualizadas de forma direta nas demonstrações contábeis”.
Esclarecido a supracitada definição, resta evidente sua indispensabilidade
para análises que de fato possibilitam uma visão ampla da situação da entidade nos
aspectos financeiros, patrimoniais e de rentabilidade, para que exista um fundamento
consistente na tomada de decisão dos administradores.

2.6.1 Definições Prévias

Os indicadores a serem explanados exigem o esclarecimento de algumas


definições prévias para viabilização do pleno compreendimento, motivo pelo qual se
destina o presente capítulo.

a) Prazo Médio de Rotação de Estoque (PMRE): ou prazo médio de


estoque (PME), trata-se do montante fiduciário equivalente em estoque
dividido pelo seu Custo do Produto Vendido (CPV) diário e representa
25

“[...] quantos dias, em média, os produtos ficam armazenados na


empresa antes de serem vendidos.” (Silva, 2018);
b) Prazo Médio de Recebimento das Vendas (PMRV): calculado através da
divisão das contas a receber pela receita líquida diária, “[...] indica
quantos dias, em média, a empresa leva para receber suas vendas.”
(Silva, 2018) e pode ser denominado com prazo médio de recebimento
(PMR) somente;
c) Prazo Médio de Pagamento das Compras (PMPC): ou somente prazo
médio de pagamento (PMP), “[...] indica quantos dias, em média, a
empresa demora para pagar seus fornecedores.” (Silva, 2018) e pode
ser calculado pela divisão das contas a pagar pelo custo de mercadoria
vendida (CMV) diário;
d) Realizável a Longo Prazo: ativo cujo prazo de liquidez é maior que um
ano;
e) Exigível a Longo Prazo: obrigações de uma empresa cuja liquidação
realização ocorrerá após o final do exercício financeiro seguinte;
f) Ativos Circulantes de Liquidez Imediata: caixa e seus equivalentes;
g) Custos Fixos: concernem aos gastos para obter um determinado serviço
ou bem e, uma vez que não variam conforme maior ou menor volume de
produção da empresa, sendo o aluguel mensal de uma máquina
produtiva um exemplo razoável;
h) Custos Variáveis: seguem a mesma lógica dos custos fixos
supramencionados, diferindo na questão da produção pois estes mutam
conforme alteração no volume de produção, por exemplo, as
embalagens de determinados produtos unitários. O custo variável
unitário corresponde ao custo variável dispendido em cada unidade de
produto produzido;
i) Dívida Líquida (DL): são os compromissos financeiros como
financiamentos e empréstimos menos a disponibilidade de dinheiro em
caixa de uma empresa;
j) Capital Operacional Líquido (COL): ou capital de giro operacional
líquido, segundo Brigham e Ehrhardt (2019), é “[...] o capital de giro
adquirido com fundos fornecidos por investidores.”, haja vista sua
26

equação consistir na dedução dos passivos circulantes operacionais dos


ativos circulantes operacionais;
k) EBIT ou LAJIR: os Lucros Antes de Juros e Imposto de Renda ou, do
inglês, Earnings Before Interest and Taxes, representa o resultado das
atividades operacionais da empresa que, apesar do nome “IR”, refere-se
o “[...] imposto de renda e a contribuição social sobre o lucro, ou qualquer
tributo que tenha como base de cálculo o lucro.” (Silva, 2018);
l) Net Operating Profit After Taxes (NOPAT): sendo sua tradução Lucro
Operacional Líquido Após Impostos, duas empresas com desempenhos
operacionais idênticos podem ter lucro líquido diferentes em função dos
valores diferentes de dívidas e despesas de juros. Portanto, o NOPAT
consegue evidenciar melhor o desempenho da gestão de uma empresa,
já que se trata do “[...] montante de lucros que uma empresa geraria se
ela não tivesse dívidas nem ativo financeiro.” (Brigham e Ehrhardt,
2019), consoante definição abaixo:

𝐍𝐎𝐏𝐀𝐓 = 𝐄𝐁𝐈𝐓 𝐱 (𝟏 − 𝐀𝐥í𝐪𝐮𝐨𝐭𝐚 𝐝𝐞 𝐢𝐦𝐩𝐨𝐬𝐭𝐨)

m) EBITDA: sua sigla em inglês, cuja tradução de Earning Before Interests,


Taxes, Depreciation and Amortization significa lucro antes dos juros,
impostos, depreciação e amortização (sendo LAJIDA sua sigla em
português), “[...] tem como principal finalidade mostrar se a empresa teve
lucro com o desenvolvimento de sua atividade antes de serem
consideradas as despesas financeiras, os impostos, as depreciações e
as amortizações.” (Padoveze; Benedicto, 2013). Ou seja, do enfoque
estrito dos resultados e produtividade das operações, é considerado
bastante satisfatório e, para objetivo do presente estudo, atende às
necessidades das questões propostas.

Entretanto, importante ressaltar que, em fontes mais atualizadas, Silva (2018)


afirma que se trata de um indicador “precário”, haja vista a desconsideração de seu
endividamento, já que não registra suas despesas financeiras, o que, por sua vez,
27

culmina na exclusão de um considerável fator de risco, mas que podem ser


contornados através de sua utilização em outros índices pertinentes.
Não obstante, no quesito lucro, ao desconsiderar a depreciação – uma vez
que não se trata de uma saída de caixa –, acaba por não vislumbrar o desgaste e
necessidade de reposição dos ativos produtivos.
Por fim, este indicador não reflete as consequências da política de gestão de
capital de giro do negócio, uma vez que, tanto a estrutura de capital e os resultados
podem ser consideravelmente afetados pela concessão de crédito e de prazos a
clientes, também podendo acarretar “[...] interferência expressiva na necessidade
líquida de capital de giro e nas perdas com inadimplência [...]” (Silva, 2018).
Como alternativa, Brigham e Ehrhardt (2019), pontuam assertivamente que
“[...] o valor intrínseco das operações de uma empresa é determinado pelos fluxos de
caixa que as operações irão gerar agora e no futuro [...]” dependendo estes de “[...]
todos os fluxos de caixa livre (FCL), definidos como lucro operacional após impostos
menos o montante de novos investimentos em capital de giro e ativos fixos
necessários [...]”, sendo seu cálculo viável através dos 5 passos descritos na figura 4.

Figura 4 – Cálculo do fluxo de caixa livre

Fonte: Brigham e Ehrhardt, 2019.


28

2.6.2 Indicadores Financeiro-Operacionais

O enfoque dos indicadores explanados a seguir é voltado a gestão das


operações com viés financeiro, os quais nortearão as decisões acerca de prazos de
pagamento e cobrança (concessão de crédito), gestão de ativos e auxílio na
precificação.

a) Ciclo Operacional (CO): descrito por Brigham e Ehrhardt (2019) como


“ciclo de capital de giro”, trata-se do período em que as empresas
realizam “[...] compras ou produzem o estoque, mantêm-no por um
tempo e, depois, vendem-no e recebem o pagamento.”, podendo ser
descritas como representação da fórmula abaixo e na figura 5:

𝐂𝐎 = 𝐏𝐌𝐄 + 𝐏𝐌𝐑

b) Ciclo de Caixa (CC): segue a mesma lógica do Ciclo Operacional supra


descrito, descontando-se apenas o prazo para pagamento dos fornecedores,
restando a fórmula abaixo e na figura 5:

𝐂𝐂 = 𝐂𝐎 − 𝐏𝐌𝐏

Figura 5 – Ilustração dos ciclos de caixa (financeiro) e operacional

Fonte: Silva, 2018.


29

c) Giro do Ativo (GA): este item “Estabelece uma relação entre as vendas
do período e os investimentos totais efetuados na empresa [...]”, além de
expressar “[...] a produtividade dos ativos da empresa em termos de
vendas [...]”, como descrito por Silva (2018), sendo sua fórmula descrita
abaixo:

𝐑𝐞𝐜𝐞𝐢𝐭𝐚 𝐋í𝐪𝐮𝐢𝐝𝐚
𝐆𝐀 =
𝐀𝐭𝐢𝐯𝐨 𝐓𝐨𝐭𝐚𝐥

2.6.3 Indicadores de Resultado

Os indicadores abaixo focam na mensuração dos retornos e resultados do


ponto de vista do acionista e das operações da empresa.

a) Margem Líquida (ML): evidencia o lucro auferido por cada real de vendas
(Brigham e Ehrhardt, 2019) e se calcula utilizando a seguinte fórmula:

𝐋𝐮𝐜𝐫𝐨 𝐋í𝐪𝐮𝐢𝐝𝐨
𝐌𝐋 =
𝐑𝐞𝐜𝐞𝐢𝐭𝐚 𝐋í𝐪𝐮𝐢𝐝𝐚

b) Grau de Alavancagem Financeira (GAF): Consoante exposto por


Alcantara da Silva (2017), este índice “[...] representa a proporção do
total de Ativos em relação ao total do Patrimônio Líquido.”. Considerando
que a fórmula do GAF é constituída pela divisão do Retorno sobre
Patrimônio Líquido (RSPL) pelo Retorno sobre Ativos (RSA), pode-se
deduzir a fórmula da seguinte maneira:

𝐋𝐮𝐜𝐫𝐨 𝐋í𝐪𝐮𝐢𝐝𝐨
𝐑𝐒𝐏𝐋 𝐏𝐚𝐭𝐫𝐢𝐦ô𝐧𝐢𝐨 𝐋í𝐪𝐮𝐢𝐝𝐨
𝐆𝐀𝐅 = =
𝐑𝐒𝐀 𝐋𝐮𝐜𝐫𝐨 𝐋í𝐪𝐮𝐢𝐝𝐨
𝐀𝐭𝐢𝐯𝐨 𝐓𝐨𝐭𝐚𝐥

𝐋𝐮𝐜𝐫𝐨 𝐋í𝐪𝐮𝐢𝐝𝐨 𝐀𝐭𝐢𝐯𝐨 𝐓𝐨𝐭𝐚𝐥


𝐆𝐀𝐅 = 𝑿
𝐏𝐚𝐭𝐫𝐢𝐦ô𝐧𝐢𝐨 𝐋í𝐪𝐮𝐢𝐝𝐨 𝐋𝐮𝐜𝐫𝐨 𝐋í𝐪𝐮𝐢𝐝𝐨
30

𝐀𝐭𝐢𝐯𝐨 𝐓𝐨𝐭𝐚𝐥
𝐆𝐀𝐅 =
𝐏𝐚𝐭𝐫𝐢𝐦ô𝐧𝐢𝐨 𝐋í𝐪𝐮𝐢𝐝𝐨

c) Retorno sobre Ativos (RSA): este índice “[...] indica a lucratividade que a
empresa propicia em relação aos investimentos totais representados
pelo ativo total médio.” (Silva, 2018) e segue fórmula abaixo:

𝐋𝐮𝐜𝐫𝐨 𝐋í𝐪𝐮𝐢𝐝𝐨
𝐑𝐒𝐀 =
𝐀𝐭𝐢𝐯𝐨 𝐓𝐨𝐭𝐚𝐥

d) Retorno sobre Patrimônio Líquido (RSPL): destina-se a medir o retorno


da empresa estritamente ao capital dos acionistas, sendo o lucro “[...]
o prêmio do investidor pelo risco de seu negócio.” (Silva, 2018), o que
é evidenciado conforme a fórmula a seguir:

𝐋𝐮𝐜𝐫𝐨 𝐋í𝐪𝐮𝐢𝐝𝐨
𝐑𝐒𝐏𝐋 =
𝐏𝐚𝐭𝐫𝐢𝐦ô𝐧𝐢𝐨 𝐋í𝐪𝐮𝐢𝐝𝐨

e) Retorno sobre Capital Investido (RSCI): constituído pela divisão do


lucro operacional líquido após os impostos (EBIT menos os impostos
sobre esse lucro) pelo capital operacional líquido (COL) e, segundo
Silva (2018), fornece “[...] o melhor cálculo do retorno sobre o ativo [...]”,
seguindo a fórmula abaixo:

𝐄𝐁𝐈𝐓 − 𝐈𝐦𝐩𝐨𝐬𝐭𝐨𝐬
𝐑𝐒𝐂𝐈 =
𝐂𝐎𝐋

2.6.4 Indicadores de Composição de Capital

Alinhado com a definição já explicitada na descrição constante no capítulo 2.6,


os indicadores de composição de capital visam evidenciar a capacidade de
pagamento das dívidas de uma empresa e, os indicadores de estrutura de capitais,
visam explicitar sua composição das fontes de financiamento. Segue abaixo a lista de
indicadores que serão utilizados neste estudo:
31

f) Dívida Líquida sobre EBITDA: este indicador está presente em


contratos de empréstimos como covenants, cuja tradução livre (autor)
é “acordos”, constituindo cláusulas restritivas em contratos de dívidas
que “[...] se originam do conflito de interesses entre credores e
acionistas, servindo como mecanismo de proteção a credores, visando
impedir sua expropriação pelos acionistas.” (ALBANEZ; SCHIOZER,
2020).
Apesar de ser utilizada a favor dos interesses dos credores, é uma
métrica interessante para que os administradores e acionistas das
empresas acompanharem, não só por eventuais obrigações
contratuais junto a instituições de crédito, mas também para aferir –
descontando o montante disponível em seu caixa –, em termos
temporais, a relação da dívida com a capacidade de geração de caixa
(obtido pelo EBITDA) ao longo do tempo.

g) Índices de Liquidez (IL): Segundo Alcantara da Silva (2017), “O objetivo


do estudo da liquidez é avaliar o grau de solvência da empresa, ou seja,
capacidade financeira para saldar seus compromissos.” Dentre os
índices que medem o objetivo supramencionado, destacaremos neste
estudo a lista abaixo:

i. Corrente (LC): Este índice permite avaliar a solvência da empresa


no curto prazo, portanto, trata-se de uma divisão conforme a
fórmula infracitada:

𝐀𝐭𝐢𝐯𝐨 𝐂𝐢𝐫𝐜𝐮𝐥𝐚𝐧𝐭𝐞
𝐋𝐂 =
𝐏𝐚𝐬𝐬𝐢𝐯𝐨 𝐂𝐢𝐫𝐜𝐮𝐥𝐚𝐧𝐭𝐞

ii. Seca (LS): Segundo Eliseu Martins (2020), esse índice “[...]
mostra quanto a empresa possui de Ativos líquidos para cada real
de dívida de curto prazo.” e desconsiderando o estoque da
empresa, além de evidenciado na fórmula a seguir:
32

𝐀𝐭𝐢𝐯𝐨 𝐂𝐢𝐫𝐜𝐮𝐥𝐚𝐧𝐭𝐞 − 𝐄𝐬𝐭𝐨𝐪𝐮𝐞𝐬


𝐋𝐒 =
𝐏𝐚𝐬𝐬𝐢𝐯𝐨 𝐂𝐢𝐫𝐜𝐮𝐥𝐚𝐧𝐭𝐞

iii. Imediata (LI): Focada no curtíssimo prazo, analisa a proporção da


dívida de curto prazo (Passivo Circulante) que poderia ser
imediatamente liquidado através do montante disponível em caixa
e seus equivalentes (Ativo Circulante Disponível), conforme
fórmula abaixo:

𝐀𝐭𝐢𝐯𝐨𝐬 𝐂𝐢𝐫𝐜𝐮𝐥𝐚𝐧𝐭𝐞𝐬 𝐝𝐞 𝐋𝐢𝐪𝐮𝐢𝐝𝐞𝐳 𝐈𝐦𝐞𝐝𝐢𝐚𝐭𝐚


𝐋𝐈 =
𝐏𝐚𝐬𝐬𝐢𝐯𝐨 𝐂𝐢𝐫𝐜𝐮𝐥𝐚𝐧𝐭𝐞

Observa-se que, o resultado da fórmula “[...] representa quanto a


empresa possui de disponível para cada real de dívidas vencíveis
no curto prazo.” (MARTINS, 2020).

iv. Geral (LG): Além de evidenciar, tanto a curto quanto a longo


prazo, a capacidade de pagamento de dívidas da organização,
Perez Júnior (2015) também explica que “Indica quanto a
empresa possui de ativos realizáveis no curto e longo prazo para
cada R$ 1,00 de dívida com terceiros.”. O mencionado autor
também chama a atenção para o prazo de vencimento dos
direitos e obrigações, haja a vista a possibilidade do vencimento
das dívidas serem menores que as contas a receber. A fórmula
deste índice segue abaixo:

𝐀𝐭𝐢𝐯𝐨 𝐂𝐢𝐫𝐜𝐮𝐥𝐚𝐧𝐭𝐞 + 𝐑𝐞𝐚𝐥𝐢𝐳á𝐯𝐞𝐥 𝐚 𝐋𝐨𝐧𝐠𝐨 𝐏𝐫𝐚𝐳𝐨


𝐋𝐆 =
𝐏𝐚𝐬𝐬𝐢𝐯𝐨 𝐂𝐢𝐫𝐜𝐮𝐥𝐚𝐧𝐭𝐞 + 𝐄𝐱𝐢𝐠í𝐯𝐞𝐥 𝐚 𝐋𝐨𝐧𝐠𝐨 𝐏𝐫𝐚𝐳𝐨

h) Índice de Endividamento Geral (IEG): Representa a proporção do Ativo


Total que subsidia as dívidas do negócio com terceiros, ou, segundo
Brigham (2019), “[...] mostra até que ponto os ativos de uma empresa
33

não são financiados pelo patrimônio.”, sendo representada pela


seguinte fórmula:

𝐏𝐚𝐬𝐬𝐢𝐯𝐨 𝐓𝐨𝐭𝐚𝐥
𝐈𝐄𝐆 =
𝐀𝐭𝐢𝐯𝐨 𝐓𝐨𝐭𝐚𝐥

i) Grau de Endividamento (GE): neste índice, divide-se o capital de


terceiros pelo patrimônio líquido da empresa, comparando, assim, a
cada um real de patrimônio líquido, quantos reais são financiados por
terceiros, de acordo com a fórmula explicitada por Alcantara da Silva
(2017):

𝐏𝐚𝐬𝐬𝐢𝐯𝐨 𝐂𝐢𝐫𝐜𝐮𝐥𝐚𝐧𝐭𝐞 + 𝐄𝐱𝐢𝐠í𝐯𝐞𝐥 𝐚 𝐋𝐨𝐧𝐠𝐨 𝐏𝐫𝐚𝐳𝐨


𝐆𝐄 = 𝑿 𝟏𝟎𝟎
𝐏𝐚𝐭𝐫𝐢𝐦ô𝐧𝐢𝐨 𝐋í𝐪𝐮𝐢𝐝𝐨

j) Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC): este índice se trata de


uma média ponderada dos retornos demandados tanto pelos
investidores quanto dos credores de uma determinada organização,
auxiliando na estipulação do custo de oportunidade do negócio ou
projeto e evidenciando o risco que este oferece aos investidores
externos. Para sua formulação básica, considera-se o custo de capital
próprio, de terceiros e o respectivo percentual que cada um deste
representa na estrutura de capital total investido na organização.
Podem ser incluídos fatores como eventuais abatimentos no imposto
de renda aplicáveis ao capital proveniente de empréstimos e também
uma pormenorização de cada custo, através da taxa de juros sobre
dívidas de curto e longo prazo, retorno sobre ações preferenciais e
ações ordinárias, por exemplo.
34

3 PROCEDIMENTO METODOLÓGICOS

A humanidade, com intuito de ampliar seu conhecimento e entendimento nas


diferentes áreas de estudo, utiliza-se da pesquisa científica para levantar
questionamentos e melhor compreendê-los. Esta pesquisa é realizada através de
diferentes técnicas metodológicas a fim de que a proposição seja clara e devidamente
investigada ou respondida.
Para além das questões de pesquisa, imprescindíveis para estruturação de
um conteúdo agregador à sociedade, mister relembrar que a presente pesquisa se
propõe a ser um guia aos administradores e empresários brasileiros para melhor
gestão financeira do seu negócio. Em função disso, o presente capítulo foi estruturado
da seguinte maneira:

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

A natureza prática melhor descreve o estudo em questão, enquadrando-se na


fundamentação de Lakatos (2021), cuja descrição de tal natureza é definida “[...] por
seu interesse prático, isto é, que os resultados sejam aplicados ou utilizados,
imediatamente, na solução de problemas que ocorrem na realidade.”.
A abordagem utilizada na presente pesquisa é a quantitativa pois, consoante
ao exposto por Cauchick (2018), “[...] o ato de mensurar variáveis de pesquisa é a
característica mais marcante da abordagem quantitativa.” que, através da linguagem
matemática, garante a “[...] objetividade da pesquisa científica”.

3.2 DELINEAÇÃO DO PROPÓSITO DOS INDICADORES SELECIONADOS

Para cumprir com o propósito explicitado de auxiliar os administradores das


empresas do país nas tomadas de decisão acerca do negócio através do emprego de
uma gestão financeira técnica, faz-se necessário a explanação prévia da importância
e desígnio da classificação realizada dos indicadores selecionados para este fim.
35

3.2.1 Parte I – Indicadores Financeiro Operacionais

O grupo de indicadores relacionados na parte I, sobre o desempenho


operacional do ponto de vista financeiro das organizações, é composto pelo Ciclo
Operacional, Ciclo de Caixa e Giro do Ativo.
O Ciclo Operacional é constituído pela soma do PME (estoque divido por CPV
diário) e de PMR (contas a receber dividido por receita líquida diária), portanto, trata-
se de quantos dias a empresa leva do dia que compra e estoca um produto ou matéria
prima (investimento) até o dia que recebe pela venda (retorno) deste. Quanto menor
for este indicador, melhor, pois menos a empresa vai dispender menos dias apenas
desembolsando para custear a produção até a data que recebe pelo produto vendido.
Caso o PMP (contas a pagar dividido por CMV diário) seja maior que o Ciclo
Operacional, tem-se um Ciclo de Caixa negativo, evidenciando que o prazo médio
para pagamento dos fornecedores é maior que o tempo que leva para a empresa
armazenar um produto, vender e receber do cliente. Simplificando, a organização em
questão não gasta antes de receber pelo investimento. Logo, quanto menor o Ciclo
de Caixa, melhor.
Sobre a Giro do Ativo, essencial elucidar que, caso uma empresa não tenha
ativos suficientes para atender eventuais demandas, não realizará essas vendas, o
que, por sua vez, lesa a lucratividade do negócio e seu fluxo de caixa livre. Ao passo
que, caso seus investimentos em ativos sejam desmedidamente altos, seu fluxo de
caixa livre também é prejudicado, uma vez que, inutilmente seu capital operacional
será tão alto quanto, consoante Brigham (2019). Destarte, sabendo que a fórmula de
cálculo é a divisão da receita pelo total de ativos, evidencia-se que o GA mede a
eficiência do uso dos ativos, pois demonstra quanto cada real empregado nos ativos
geram de receita.

3.2.2 Parte II – Indicadores de Resultado

Esta parte da pesquisa é composta pelos indicadores de Retorno Sobre


Ativos, Retorno Sobre Patrimônio Líquido e Retorno Sobre Capital Investido, que será
melhor compreendida a partir do modelo de análise DuPont.
36

A lógica exposta no GA pode ser utilizada para examinar o RSA, pois


enquanto a primeira mede a receita gerada através dos ativos da companhia, a
segunda demonstra o lucro líquido realizado através destes ativos.
Em sua fórmula mais conhecida, o RSA consiste na divisão do lucro líquido
pelo ativo total. Entretanto, podemos atingir este mesmo resultado analisando os
indicadores de ML e GA.
Enquanto ao ML (lucro líquido dividido por receita) demonstra
percentualmente o quanto da receita de vendas foi convertido em lucro líquido, o GA
evidencia quanto de receita foi trazida à organização com um montante específico de
ativos. Percebe-se que, em ambos uma das variáveis é a receita líquida, portanto,
podemos estabelecer uma relação de equivalência conforme a formulação
matemática abaixo:

𝐋𝐮𝐜𝐫𝐨 𝐋í𝐪𝐮𝐢𝐝𝐨 𝐋𝐮𝐜𝐫𝐨 𝐋í𝐪𝐮𝐢𝐝𝐨


𝐌𝐋 [%] = ∴ 𝐑𝐞𝐜𝐞𝐢𝐭𝐚 𝐋í𝐪𝐮𝐢𝐝𝐚 =
𝐑𝐞𝐜𝐞𝐢𝐭𝐚 𝐋í𝐪𝐮𝐢𝐝𝐚 𝐌𝐋

𝐑𝐞𝐜𝐞𝐢𝐭𝐚 𝐋í𝐪𝐮𝐢𝐝𝐚
𝐆𝐀 = ∴ 𝐑𝐞𝐜𝐞𝐢𝐭𝐚 𝐋í𝐪𝐮𝐢𝐝𝐚 = 𝐆𝐀 𝐱 𝐀𝐭𝐢𝐯𝐨 𝐓𝐨𝐭𝐚𝐥
𝐀𝐭𝐢𝐯𝐨 𝐓𝐨𝐭𝐚𝐥

𝐋𝐮𝐜𝐫𝐨 𝐋í𝐪𝐮𝐢𝐝𝐨
= 𝐆𝐀 𝐱 𝐀𝐭𝐢𝐯𝐨 𝐓𝐨𝐭𝐚𝐥
𝐌𝐋

𝐋𝐮𝐜𝐫𝐨 𝐋í𝐪𝐮𝐢𝐝𝐨
= 𝐆𝐀 𝐱 𝐌𝐋
𝐀𝐭𝐢𝐯𝐨 𝐓𝐨𝐭𝐚𝐥

Consequentemente, pode se afirmar que, como o RSA é calculado através da


divisão do lucro líquido pelo ativo total, também pode ser calculado através da
multiplicação entre a ML (lucratividade) e o GA (eficiência). Ou seja, podemos dizer
que quanto mais lucrativa uma empresa for, maior sua capacidade de converter a
receita em lucro e, quanto mais eficiente, maior sua capacidade de atender muitas
demandas (vendas) com poucos ativos (pouco investimento). Logo, aumentando a
eficiência e a lucratividade, aumenta-se o RSA.

𝐑𝐒𝐀 = 𝐆𝐀 (𝐞𝐟𝐢𝐜𝐢ê𝐧𝐜𝐢𝐚) 𝐱 𝐌𝐋 (𝐥𝐮𝐜𝐫𝐚𝐭𝐢𝐯𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞)


37

Seguindo a lógica acima, podemos a utilizar para melhor compreender o


RSPL (lucro líquido dividido pelo patrimônio líquido) de um ponto de vista mais
aprazível aos empresários e acionistas. Entretanto, distanciando-se do ponto de vista
financeiro e adentrando a partir do olhar do empresário, do que mais é composto o
resultado da empresa senão pela sua eficiência e lucratividade, ante supracitado?
Para essa questão, imperioso relembrar que a organização não se resume ao
capital investido dos sócios, mas também é composta por capital de terceiros. As
contas do ativo de uma empresa são financiadas tanto pelas contas do patrimônio
líquido (sócios) quanto pelo passivo (dinheiro de terceiros, dívidas). Com isso, atendo-
se ao ponto de vista do empresário – que tem amplo interesse em entender o quanto
seu dinheiro empregado na empresa está rendendo –, resta evidente a necessidade
de mais uma variável de cálculo.
A lógica acima escancara a imposição de discernimento entre o dinheiro dos
sócios e de terceiro e, para isso, utiliza-se o indicador chamado GAF (ativo total
dividido pelo patrimônio líquido) que destrincha quantos reais existem na empresa
para cada real que o empresário investe.
Nesse ínterim, incluindo este último indicador explanado à lógica da eficiência
e lucratividade da empresa, tem-se o RSPL (dinheiro dos sócios), consoante
formulação matemática infracitada:

𝐑𝐒𝐏𝐋 = 𝐑𝐒𝐀 𝐱 𝐆𝐀𝐅

Percebe-se que o GAF intensifica o resultado do RSA, mesmo se estes forem


negativos (prejuízo).
Para melhor entendimento, em caso hipotético, uma empresa que diminui seu
preço de venda além de seus gastos para entrega destes, terá uma Margem Líquida
negativa. Hipoteticamente propondo de maneira simplista, provavelmente, poderá
intensificar suas perdas caso reponha os estoques na mesma medida que realiza as
vendas, já que o preço de oferta desta empresa – em tese – estaria abaixo do preço
de mercado, gerando aumento da demanda. Isso acarreta num maior GA, haja vista
aumento da receita ao passo que o ativo total se mantém (uma vez que os estoques,
neste caso, estariam somente sendo repostos). Sabendo do produto entre a
38

multiplicação do GA e da ML, essa combinação resultaria num RSA ligeiramente


negativo à medida que o giro do estoque aumenta. Por fim, esse resultado ainda seria
multiplicado pelo GAF, ocasionando graves prejuízos à empresa e aos sócios desta.
Por sua vez, o Retorno Sobre o Capital Investido segue raciocínio do RSPL,
mas considerando não só os recursos dos sócios, mas também os de terceiros.
Basilar examinar seus componentes de cálculo, quais sejam o lucro
operacional líquido após os impostos e o capital operacional.
As organizações devem manter o caixa com algum valor, pois entradas e
saídas de caixa dificilmente sucedem com exatidão. Essa diferença entre as saídas e
entradas é definida pelo capital operacional que, em termos técnicos, dependendo de
cada caso, pode ser obtido pelo próprio capital de giro operacional líquido (ativos
circulantes operacionais menos passivos circulantes operacionais1) ou pela soma
deste com o total de ativos operacionais de longo prazo, podendo este último ser
composto por terrenos, fábricas, edifícios, máquinas, etc.
Nas palavras de Brigham (2019), o “[...] capital de giro operacional líquido é o
capital de giro adquirido com fundos fornecidos por investidores.”.
Superado o elemento de cálculo capital operacional, uma das maneiras de
obter o lucro operacional líquido após os impostos, é deduzir do lucro operacional o
montante de impostos devidos. Basicamente, exclui-se a etapa de dedução das
receias e despesas financeiras na DRE uma vez que, por exemplo, valores diferentes
de dívida entre uma empresa e outra com operações idênticas possuem resultados
diferentes de lucro líquido.
Dessa forma, com as variáveis de cálculo do RSCI esclarecidas, seu cálculo
se dá através da divisão do lucro operacional líquido após os impostos pelo capital
operacional.
Ao comparar o valor obtido com o custo médio ponderado de capital da
organização, pode-se verificar se a empresa gera um retorno maior que seu custo de
capital, norteando os empresários acerca da viabilidade do negócio em questão. Isso
ocorre em função de que o custo do capital exceder o retorno sobre capital significa

1 Ativos e passivos circulantes operacionais são somente as contas que tem relação com a
consequência de suas operações (contas que geram juros, por exemplo, não se enquadram).
39

que a entidade não está remunerando o capital investido acima da expectativa mínima
e o custo de oportunidade dos investidores.

3.2.3 Parte III – Indicadores de Composição de Capital

A terceira parte trata dos indicadores Dívida Líquida por EBITDA2, Índice de
Endividamento Geral, Dívida por Capital Próprio e os Índices de Liquidez, quais sejam:
Geral, Corrente, Seca e Imediata.
EBITDA ou, do português, LAJIDA, trata-se do lucro operacional gerado pela
organização que assim se chama em função de ser o lucro antes de descontar os
juros, os impostos, a depreciação e a amortização. É uma medida interessante para
aferir a capacidade de geração de caixa de uma empresa pois, além de simples,
consegue de maneira razoavelmente satisfatória enxergar o quanto a operação
essencial do negócio consegue gerar de dinheiro, sem interferência de questões
tributárias, fiscais e eventuais decisões financeiras dos administradores.
A Dívida Líquida nada mais é que a soma do passivo circulante e não
circulante descontado o montante em caixa disponível da empresa.
Posto isso, a Dívida Líquida dividido pelo EBITDA mostra o tamanho da dívida
em relação à capacidade de geração de caixa das operações do negócio. Em geral,
recomenda-se uma Dívida Líquida não maior que três vezes o EBITDA a fim de não
comprometer a capacidade da organização em honrar com seus compromissos
fiduciários com terceiros.
A Dívida por Capital Próprio compara o montante de Dívida Líquida e o
patrimônio líquido da empresa.
Já o Índice de Endividamento Geral tem o objetivo de evidenciar o quanto a
companhia deve em relação ao seu investimento total, calculando-se através da
divisão da soma do passivo circulante e não circulante pelo ativo total. A lógica deste
índice é inversa a aplicada aos índices de solvência, mas tratam do mesmo tema pois,
numa entidade cujo IEG é maior que um, significa que o seu total de dívida é maior
que seus bens e direitos, caracterizando um estado de insolvência.

2 Tradução do autor de EBITDA (cuja sigla em inglês significa earnings before interest, taxes,
depreciation and amortization) para português: lucro antes de juros, impostos, depreciação e
amortização.
40

Seguindo no tema introduzido acima, os índices de liquidez possuem o


mesmo propósito de verificar a capacidade do negócio em pagar suas dívidas de
curto, médio e longo prazo.
Partindo do curto prazo, o Índice de Liquidez Corrente é constituído pela
divisão das contas circulantes (curto prazo) do ativo pelo passivo. Portanto, se este
índice apresentar valor menor que um, existem mais dívidas de curto prazo que bens
e direitos de curto prazo e, por sua vez, se a organização tentasse saldar todas suas
dívidas nessa data específica, faltaria dinheiro para pagar todos seus credores.
O Índice de Liquidez Seca segue o raciocínio da Liquidez Corrente, porém é
descontado o montante em estoques da conta de ativo circulante. Esta medida é
interessante pois a conversão do montante em estoques é, na maioria das vezes,
difícil de realizar imediatamente, salvo descontos agressivos que certamente
acarretariam prejuízos à instituição.
O índice de Liquidez Imediata prossegue a ideia dos dois anteriormente
citados, mas é mais rigoroso ainda. Isso pois, ao invés de considerar todos os ativos
circulantes ou somente descontar o montante fiduciário alocado à conta de estoques,
considera somente os ativos circulantes financeiros (em geral, caixa e seus
equivalentes, como aplicações financeiras de liquidez imediata, por exemplo) a ser
divido (comparado) à soma do passivo circulante e não circulante.
Por último, o Índice de Liquidez Geral propicia uma visão mais ampla da
situação da organização, podendo ser calculado através da divisão da soma dos
ativos circulantes e ativos não circulantes realizáveis a longo prazo (como, por
exemplo, tributos a recuperar ou valores pendentes de recebimento para o exercício
seguinte) pelo somatório do passivo circulante e não circulante.

3.3 PROPOSIÇÃO DE CASO PRÁTICO PARA MELHOR ASSIMILAÇÃO E


EXEMPLIFICAÇÃO

Exaurido os indicadores propostos desta pesquisa para maior acessibilidade,


neste capítulo, de maneira explanatória e exemplificativa, a fim de melhor aprofundar
os entendimentos e os consolidar, traz-se um caso hipotético adaptado para a
realidade mais comum do país. Assim, este caso se fundamenta numa empresa fabril
real do setor de papel e celulose para aplicação do conhecimento deliberado nesta
41

pesquisa, cujos dados foram adaptados para atender melhor ao propósito da


pesquisa.
Primeiramente são apresentados o BP e a DRE da supracitada empresa com
os indicadores já trabalhados e, agora, aplicados.
Para melhor compreensão do comportamento matemático dos indicadores
propostos, apresenta-se três medidas comumente utilizadas frente a situações de
queda no faturamento e, então, analisa-se o impacto que cada medida pode vir a ter
no rol destes indicadores.
A partir daí, as três medidas e a premissa de queda no faturamento são
aplicadas no estudo de caso em questão, mensurando-se as alterações numéricas
nos indicadores analisados e, posteriormente, averiguar-se-ão observações técnicas
acerca dos números do caso.

3.3.1 Estudo de Caso – Apresentação de Demonstrativos e Indicadores

Alinhado com alhures mencionado, para posterior análise e aplicação do


conteúdo até então estudado, segue BP e DRE, bem como cálculo dos indicadores
explanados com base nestas duas demonstrações.
42

Figura 6 – Balanço Patrimonial Simplificado do estudo de caso

Figura 7 – DRE simplificado do caso estudado


43

Figura 8 – Resultado dos indicadores aplicados ao estudo de caso

3.3.2 Explanação Matemática dos Indicadores – Simulação de Cenário

Com o intuito já exposto de expor o comportamento matemático dos


indicadores, propõe-se três medidas que podem ser tomadas frente a um cenário de
previsão de queda no faturamento.
Imperativo frisar que, apesar de se utilizar como fundamento o caso
mencionado para as ditas medidas, o objetivo aqui é única e exclusivamente entender
as interações matemáticas que essas ações podem desencadear. Portanto, a
aplicação numérica destas medidas no caso em questão é abordada em tópico
posterior a este.
Superado o acima exposto, considerando o alto grau de financiamentos e
empréstimos da empresa utilizada como exemplo – especialmente de longo prazo –
44

e concomitante queda no faturamento com uma ML já apertada, é natural cogitar a


possível redução das dívidas bancárias.
Isso pois, consoante ao já explorado no item 3.2.2. sobre os indicadores de
resultado, o GAF potencializa o RSPL, inclusive quando este é negativo.
Uma queda de faturamento abre espaço para a redução do CPV, haja vista
plausível redução dos custos variáveis, um dos elementos que compõe seu cálculo.
Entretanto, em geral, não se tem a mesma facilidade para uma redução rápida dos
custos fixos. Em verdade, a redução dos custos fixos, muitas vezes, trata-se de uma
decisão consideravelmente importante que deve considerar as expectativas de médio
e longo prazo do mercado, o que dificulta ainda mais sua precisão. Destarte, natural
assumir que, provavelmente, o CPV (componente do DRE) não terá redução
equivalente à redução no faturamento, o que, por sua vez, pressiona ainda mais a
perda do lucro líquido.
Isto exposto, caso o lucro líquido se converta em prejuízo, o RSPL negativo,
potencializado por um GAF considerável. Logo, a redução da dívida bancária parece
lógico.
Com redução no faturamento, há possibilidade de enxugar os valores
investidos em estoques e, como consequência, devido à fornecedores.
Com isso, chega-se as três possíveis medidas, bem como seus reflexos
(etapa por etapa) nos indicadores, quais sejam:

1. Medida A: Redução da dívida operacional por meio da redução da conta


de fornecedores, utilizando-se do enxugamento da conta estoques e
ativos não circulantes mantidos para venda;

2. Medida B: Diminuição da dívida financeira através da contração da conta


de empréstimos e financiamentos, empregando valores da conta caixa;

3. Medida C: Contenção da dívida financeira, reduzindo a conta de


empréstimos e financiamento, usando-se gradualmente da conta
estoque.
45

Figura 9 – Reflexos da medida A nos indicadores estudados


46

Figura 10 – Reflexos da medida B nos indicadores estudados


47

Figura 11 – Reflexos da medida C nos indicadores estudados

Observando as figuras acima, percebe-se que a alteração no resultado dos


indicadores depende, naturalmente, da relação entre cada elemento de cálculo do
indicador.
Mister frisar que os reflexos demonstrados foram estritamente matemáticos.

3.3.3 Aplicação do Cenário Simulado ao Estudo de Caso

Adentrando no aspecto prático através da aplicação das medidas B e C, este


tópica se destina justamente à exploração dos reflexos destas medidas no caso
prático mencionado.
48

Para execução da medida B, arbitrou-se o valor de R$ 9.445 a fim de não


prejudicar exacerbadamente a liquidez da empresa e que representa quase um quarto
do montante da conta empréstimos e financiamentos de longo prazo.
Para a redução de mais 13% da mesma conta do passivo, baseando-se numa
expectativa de queda de 20% da demanda da empresa, utilizou-se das contas
estoques e ativos não circulantes mantidos para venda o mesmo percentual, que
equivalente a R$ 5.415.
Os procedimentos descritos, bem como seus reflexos nos indicadores,
constam visualmente nas informações da figura abaixo.

Figura 12 – Aplicação das medidas ao caso prático

A fim de evidenciar as alterações nos indicadores das medidas descritas,


considerou-se a condição ceteris paribus que, do latim, significado “todo o resto
constante”.
Ao computar tais mudanças e a condição ceteris paribus, à primeira vista,
seus efeitos nos indicadores se dariam da maneira descrita nas figuras abaixo.
49

Figura 13 – Impacto das ações nos indicadores aplicados ao caso


50

Figura 14 – Comparativo dos indicadores do caso antes e depois das ações

As reações provocadas pelas ações tomadas, levando em consideração


somente a primeira consequência matemática acerca das alterações das contas do
balanço, verifica-se a melhora de alguns indicadores em detrimento de outros.
Os indicadores relativos à parte mais operacional das finanças da organização
têm potencial de otimização geral, verificando à lógica ideal para cada um destes.
Os prazos de recebimento das vendas e pagamento das compras
permaneceram, haja vista a condição ceteris paribus relativo aos possíveis
desdobramentos projetados destas medidas nos resultados do exercício seguinte.
Por outro lado, o prazo de estocagem da matéria prima, o GA, o CO e CC da
empresa apresentaram melhora. Isso pois, o primeiro desdobramento da redução de
estoques também ocasiona diminuição do prazo médio de estocagem que, por sua
vez, otimiza o CC e CO. Como os estoques compõe a conta dos ativos, caso no
exercício seguinte à redução do faturamento seja, porventura, menor que a dos
estoques, ter-se-á uma evolução no giro dos ativos.
Seguindo na condição mencionada, com a redução dos estoques, portanto,
dos ativos e consequente potencial de otimização do GA, também existe um potencial
51

para otimização do RSA, uma vez que este se dá pela multiplicação entre o GA e a
ML.
Percebe-se uma redução, como primeira consequência, do Capital
Operacional Líquido, já que a conta de estoques – que compõe os ativos circulantes
operacionais – também reduz ao passo que o passivo circulante operacional se
mantém, tendo em vista que empréstimos e financiamentos não compõe a
classificação operacional, mas sim, a financeira.
O desdobramento deste efeito no COL é refletido no RSCI. Mantendo as
condições ceteris paribus, a primeira redução se verifica no divisor de sua fórmula
que, ao reduzir, naturalmente aumenta o resultado do RSCI.
Intuitivamente, os indicadores de endividamento apresentam uníssona
diminuição, apesar de em diferentes níveis.
Ao diminuir a Dívida Total, ocorre a queda da relação Dívida por Capital
Próprio e também a Dívida Líquida cai que, por sua vez, arrasta consigo a Dívida
Líquida por EBITDA.
Como as medidas alteram as contas do passivo e ativo, acarreta a redução
no IEG, GE e, por fim, no GAF que é um importante componente do cálculo da RSPL.
No caso, considerando os primeiros impactos imediatos, de natureza mais
matemática, o RSPL se mantém constante pois, a medida que o GAF (ativo total divido
pelo PL) cai, o GA aumenta na mesma proporção, uma vez que, no primeiro indicador
a conta ativo total é dividendo e, na segunda, divisor da equação.

3.3.4 Análise Financeira do Estudo de Caso

Superada a análise das primeiras alterações imediatas, de cunho mais


matemático, para esclarecimento do potencial de cada medida em cada indicador,
entra-se na questão de cunho financeiro mais prático com o intuito de aprofundar um
pouco mais a gestão técnica financeira.
Agora, desconsiderando a condição ceteris paribus e projetando os impactos
desta queda de faturamento no exercício seguinte, pode-se esperar uma queda nos
indicadores de resultado, principalmente.
Isso pois, essa queda na receita líquida reduz o Giro do Ativo (receita líquida
divido pelo ativo total), indicador este que afeta os indicadores de rentabilidade RSA
52

e RSPL. É verdade que a Margem Líquida tem como divisor (inversamente


proporcional ao GA) em sua formulação matemática a receita líquida, entretanto, a
redução do lucro líquido certamente será maior caso a única variável do cálculo que
mude seja a receita. O motivo para isso acontecer é que os custos fixos e de estoque
– que tendem a se manter sem alterações caso nenhuma outra medida seja tomada
– têm grande participação percentual no cálculo do CPV.
Além disso, os resultados financeiros não refletem os resultados operacionais
visto que, se a entrada de dinheiro for reduzida e, ao mesmo passo, seja mantida uma
alta despesa financeira (por mais que o montante seja o mesmo que o do exercício
anterior), seu desconto será proporcionalmente maior, uma vez que o EBIT terá um
valor final menor.
Neste aspecto, as medidas têm o potencial de amenizar os danos de uma
queda abrupta e significante no faturamento da empresa.
Como exemplo, caso a empresa não tome nenhuma ação frente ao esperado
decréscimo na receita, as únicas reações esperadas nas contas do DRE residem no
componente Custo Variável do CPV e nas deduções da própria receita bruta.
Utilizando como base os dados da empresa inicialmente apresentado de acordo com
a figura 7, a receita líquida cairia para R$ 129.667 (R$32.417 a menos) e o Custo
Variável para R$ 46.743 (R$ 11.686 menor ou menos 20%, proporcional à queda do
faturamento).
Portanto, as entradas diminuíram R$ 20.731 a mais do que os desembolsos,
ao passo que, caso a administração se mantenha inerte, todo o resto tende a não
diferir. Não havendo divergências nas demais contas do demonstrativo em questão,
o lucro líquido tende ao valor de R$ 367, resultando numa ML de 0,28% e não mais
os 5,9% anterior.
Entretanto, caso as medidas B e C sejam aplicadas, pode-se esperar uma
redução além das relatadas acima de R$ 11.686 dos Custos Variáveis e de R$ 32.417
da receita líquida. Dentre essas reduções, o CPV também seria ainda mais encolhido
por sua redução na componente de estoques e, a quitação de empréstimos e
financiamentos culminariam na atenuação das despesas financeiras, ocasionando um
lucro líquido menos impactado.
A título de exemplo somente, caso fosse descontando das despesas
financeiras a mesma proporção de 36,5% a qual as contas de empréstimos e
53

financiamentos foram quitadas, haveria uma atenuação de R$ 3.611 na referida conta


do DRE, o que, por sua vez, deixariam de ser descontados para o cálculo do lucro
antes dos impostos sobre o lucro e, consequentemente, também haveria um impacto
negativo ainda menor no lucro líquido da companhia.
54

4 CONCLUSÃO E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

A presente pesquisa objetivou contribuir à sociedade no desenvolvimento das


finanças empresariais do ponto de vista prático e gerencial, haja vista a condição
aquém da necessária em termos de educação financeira e, também, em observância
às condições desafiadoras do país para empresas e empresários.
Para isso, o estudo em questão proporcionou os entendimentos necessários,
desde os conceitos preliminares e basilares, transpassando para um aprofundamento
dos principais indicadores, com uma exposição do funcionamento destes indicadores
cujo viés não se limitou à visão técnica-financeira, mas também possibilitou aos
administradores e empresários uma perspectiva gerencial através do método de
análise DuPont.
Nesse sentido, utilizou-se de exemplos práticos com sugestão de medidas de
contenção, propiciando um entendimento matemático das reações de cada ação
proposta, bem como, posteriormente, uma análise técnica-financeira dos reflexos
dessas medidas e da premissa adotada.
O deslinde do estudo resultou na consciência do funcionamento prático de
uma gestão financeira fundamentada em noções, conhecimento e experiência prática
da área.
Todavia, apesar de os indicadores e conceitos estudados serem comuns a
qualquer negócio, do presente estudo se evidenciou que não existe um único modo
de analisar a situação financeira de uma empresa, tendo em vista os diferentes
possíveis cenários futuros de uma organização.
Isto porque, a correlação existente entre os indicadores, a imprevisibilidade
do mercado, o ramo de atividade empresarial e as características operacionais e
situacionais de cada empresa são diferentes e, qualquer menor alteração, gera
reflexos em diversos resultados e indicadores da organização, que, por sua vez, são
limitados e desenhados pelas peculiaridades operacionais e situacionais de cada
negócio.
Entretanto, o conhecimento primordial para a efetivação da gestão financeira
adequada e para uma tomada de decisão fundamentada e consciente, pode ser
extraído do presente trabalho, através dos pontos e temas esmiuçados nesta pesquisa
por meio do método de análise DuPont. Isso pois, o conhecimento da relação
55

matemática, o conhecimento do significado e comportamento gerencial dos


indicadores apresentados, a noção de que a inércia dos administradores frente a
mudanças de mercado – e seu desconhecimento e despreparo acerca desta, inclusive
– podem afetar substancialmente a saúde financeira da companhia, conforme
evidenciado na pesquisa.
Dito isso, atingido os fundamentos basilares da gestão financeira, restou
viável, agora, um aprofundamento em pontos também essenciais para o
gerenciamento técnico das finanças das corporações, porém mais avançadas e
complexas.
Como exemplo, é fundamental um planejamento financeiro do negócio que
exige uma capacidade mínima de projeção de cenários, apresentados de maneira
sucinta e sem explorar o caminho e métodos para tais projeções exclusivamente pelo
foco da presente pesquisa.
A fim de lapidar o presente estudo, sugere-se que sejam realizada pesquisa
complementar, com a) coleta de dados; b) mensuração das variáveis econômicas que
afetam o mercado; c) análise em torno destes dados levantados e suas potenciais
consequências às empresas e; d) aplicação de métodos para projeção do impacto
numérico nas finanças da empresa. Estes métodos auxiliares, certamente, não só
complementariam a presente pesquisa, mas avançariam e evoluiriam o tema aqui
discorrido.
56

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