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rmobilizados peo futurismo do regime moderno de hstoriidae, por esa inteigbilidade que vem do Fituro e que iamina o pasado. 0 lado dos escrtarec nos levarh de Balzac a Cormac McCarthy. 0 dos historiadores, pasando rapidamente pelo séeulo XIX, bem conlecido sobre 0 qual ef vea oportunidhde de eserever em ‘iris momentos, concentrar-s-d sobre os avatares ou as crises do fegime modemo de historicidade do fim do século XIX a€ hoje, tens seus efeitos sabre o conccito mademo de histiria, Divids, incerezas,refarmulagde anpliagio do quettioniro, nova histéia, ‘utr histria,micro-histria,hntéra conectada, stra global.) ‘ais sero algomas das atitudes e das proposgBes observadas Ente © nome, o conceit ea prtias da histéea, hi evident mente trocas¢ GirculagSes. Nio € evdente que os questioniros ea mane defer no repercutm sobre 0 conceto, mas tampouco {gue 0 canceito ao blizeo campo dss pritiasposves ou aida. ‘Quanto ae nome, deide que Herdowo 0 introduzu, ele comport, to bem quanto mal, coda essa carga. Ai esti sa tri hisrcal ‘Quanto ao historiader, a ele compete colocar um pouco de ordem na car ier triagem entre o que sna pode servir eo que parece fora de so, E, cle tema sorte de estar no lgar certo no momento certo, ele pode enriquecer 0 conceito, mula ondem das camadas sucenivas das quit ele 0 eesulado,e até mesmo acrescentar una. [A plavea ent, tal como a velha Clo de Péguy, pode prose 4 cera, com sa cesta bem amarrada is cosas, Por gum tempo. 20 A ascensdo das duvidas AAs condiges de exereicio do oicio de historiador mudaram f mudam rapidamente sob nossos olhos. A eémoda fmaula de trie apareceu sem demorae rapidamente se imps nos anos 1990: "cris da histéria, ow histéra “desorientada diseram, enquanto se iam motiicando nosas relagdes com o tempo.” © futuro se fechava, 0 pasado se obscurecia,o presente se impunha como nico horizonte* © que seria do lugar e da Fangio daquele que se hava defnido no séeulo XIX ~ quando a hiss, eomando-e uma evidénca, era extimada como cignca © se tha onginiado ‘em diciplina-, como o mediador especial entre pasado e pre~ sente, em toro deste objeto maior, sen tnica, di Nagio « do Fstado, num mundo que, privilegiando ded entdo a dimensio do presente, ¢ mesmo somente do presente, comegava, aqui e alia declararas mages ullapasadas ease proclamarglobaiado? Assim, a Alemanha, 0 menos até a reunifieagio, hava tteado a via do p6s-nacional ¢ tentado o pattiotismo da Constituigio, Por outro lado, o Estado, sob a forma de Estado-providéncis, ra fortemente convidado a se “repensir" 0s neoiberssencatregando-se dos re~ simes de emagrecimento Nio haviamos aprendido que historiador modemo, an- tes mesmo de comerar, devia esabelecer a clara separagio ene Lets exe, Ams, Mi, Soe Sie. 6 1995 NOIRE, 1996, > HARTOG, 2012, 5.257271 a pasado © presente (ands que, pata em seguia,rapidamente es ‘qvect-li)?Pois a hixGria nfo devia ser mais do que a cignca do pasado: uma ciéncia pura, como exigiaFustel de Coulanges, © seu servi, nio mais do que um olho decifiando os documentos no siléncio dos arquvos. Com Fermand Braudel ainda, em mea- dos do séulo XX, 0 historiador da longa durago se via dondo (ainda que implicitamente) de uma visio de cima. Na Europa, tum dos primeitossinais oa sincomas, logo pecebido e assinalido ‘por alguns historiadores, de que o mundo surgido do pés-querra se fendia fo, no Final dos anos 1970, a emergéncia da memra (© fandmen er a0 mesmo tempo uma expresio e uma respost a essa aicensio do presente. Com a nogio de “meméia coeti- 1", iniialmente eliborads pelo socilogo Maurice Halbwachs entre ax duss goers, ohisoriadordspunka de uma entrada priil- tiada onde, pelo context social da memévia, meméria esociedide se encontavam inerligadas "Em inhas ge, qua poses foram ocupads pelos historado~ res ao longo dor culos XIX e XX. Na Fangs ese pensou profet. {com Jules Michelet em ratnador do Povo, 3 exemplo do “vidente” ‘de Hiago); mais modesamente, ele se quis “ponte” “preceptor” {com Gabriel Monod e Emest Lvise:o hisariador € aquele que consi “ponte” ene a aga ea nova Frangs, que conta alent formagio di mago e nculea a Repibia). Hl reivinicow gualmente “o exguecimenta” previo do preseate, para se dedicar puramente 0 conhecimento do pasado: Fustel de Coulanges foi o que levou ‘mais Jonge esa nova posta. Hl isis, enfin, na necesidade de ranter juntas as ds ponts da dea: 0 pasado e 0 presente (com, ‘os fandadores dos Analo). Para Mare Bloch, a hist, “inca dos Ihomens no tempo", tem “incesantemente a neesidae de unir 0 ‘estudo dos mortos 0 dos vives", de se movimentar do pasado 20 sen do pens em dre 0 tm contnte movi Hoje, o historidar deve seater vomente 20 circu do pre scat, deste presente vast, novo teritério da meméria, Em 1867, ALOE, 197,» 6. 2 tu “Rela abe or ext itor ma Fran" conse seni quan ca oe por comple, © dann dan orto, pana, O presente toca’ police fur perone 1 Deis""© autor 380 deta, no entnto, dese spree 20 Ini, dena do elt, como um “eseeio eat" © Aue se exreve hoje 1 un min? Parse atid 90 epage Filo, econbecido a soceade cv io dee hisoraorse "presenti, por no, 6 “plz” ou se dec bitin mila? Baro precio dt coiss sce chamase hoje “epee”: deve ele apreenar come epee on cn amie "esponabidae"> Muto dames es pose de mead do pe ee tong sao vit isons do oe QUERRIEN, 1982 4 to de separ, cleger gare, objets, eventos “esquecos” a> eis de fre imps: toma-se una maneia de sitar ee encontrar asi meso, Ems ainda quando ameagase estende sobre © proprio fituro (o patio natural que a mquina infernal a Jnreveribidide fi aionada. Apica-se, eno, em protege o presente para, como se proclama, preserva o futuro. Esa é extenso recente Ins consderivel di nosio ques tora operate 20 mesmo tempo para pasado e par fituro, soba responsabilidad de um presente mega, fazendo duplamente a expergnca ca ped: ade um pas- Sado a de umn presente que ri asi mesmo. Voleremas a ese tema." Inventaiar os miltiplos usos atuais da nogdo de patriménio faz aparecerimedintament a pastcidade ea ehsticidae do temo. Isso € prprio a toda nogio que chega ao ponto de se tomar wma pula de Gpoca, Ela get consenso, tanto consenso que se pode ‘iti-la em sentide diferente. O mesmo para memoria, Nomear kguma coisa de ptrimSno fr sentido, qualsquer que possam sr 3 rmotivagBes pels quis age asi eos sigieados que se atibuer 4 palavra Decharar um lg, um eificio, um objeto patrimsnio ‘muda imediatamente oolhar que se porta sobre ele; permite proibe certs gests. Dispor-se a reconhecer seus empregos, lsifici-os, preenderas ambiguidades,dediar-e a proizir um modelo doque @fundamentalmente a patsimoilizacio em ui historia cultural dle fonga duragio € uma abordagem plenamente legitimae sti. ‘Mas limitemo-nor a revear a pliivocidade da noo. Para dizi-to nmito brevemente, 0 patiménio hoje se encontra preso entre ahistéria ¢a meméra, Ele perence uma ea utr, participa flo regime de uma e de outrs, mesmo se aualmenteesiver cada vex mais na exera de atagio da meméria. Da hiss, nos veio “o onuiento hisérico" ele encontou seu lugar em uma histra ‘concebids conto nacional ¢levou 2 uma administacio ds formas te aber ede intervengio que foram aquels, na Franca, do Servico {de Monumentos Histricos Palelamente, o museuretiraa os ob= |etos do tempo ordinirio para mostar— ecoricament, para sempre © Varina, Capt 4p 217-28, DAVALLON, 2006. ~ is gerade sucessivas, pots sua seleco os tenis, por defingso, inalieniveis. Mas hoje, em nome meso de una mtelhor gest das coleyes, interrogagdes surgem sobre exe ponto, Por que muse, {que deve valorizar seu patrimnio, e arecadar Fidos fizendo-0 ‘ico, no poderiaigualmente vender peas para comprar outra? Se esa primeira insergio do patrimeénio na elera ds histria ‘no foi em naa abandonada, veio juntas a ela + da retomaca pels memria, Tomado pulivia de época, patiménio ~ a exemple ‘de meméria, comemoragio e identidade ~ aponta para um mal- ‘ar do present eprocua taduzs, de certo modo, wa nova telagio «om o tempo. A do presetimo, Ors, 0 canceto mademo de his ‘ria, tal como j asinalamos,o de uma histia proces ¢desenvol- vimento, incorporvaa dimens do fituroe eabelecia, ov mesmo movimento, que o pasado era do psd. Ele era dinimico, Segundo fst perspectiva, o patrimdnio en antes concebid coao an bem a ‘transmit a preservar para poder eansmite. Mas pend da evidéncia sh histia etaduziu numa ascenso pid do patrimdaio (segunda ‘anc m parccule soba forma da “pauimonilizagio", Pores ‘perso, eno, visa-se menos preserva para tami do que para tomar mas habiivel o presente e“preservilo” por ele mesmo: pri- io, para seu préprio uso. Ness nova economia do patrimdnio, lems aimpresso de que o que se questions € propria tansmiso, Piso fturo mio esti mais 3 espera: doravante, a patimeonializacso sulstiei a histonzago, a0 mesmo tempo em que recor a td at tenieas podeross de presentifiasio, dss quis muses ¢ memoras fizem hoje um grande wo, tanto em suas cenografias quanto no Hlesenvolvimento de espagosineatives 0 Kidicos. Palavras e atores do presente ‘Meméria,patriménio, comemoragio, identidade, esa tede de phvras do presente se encontrsamplanente mabilizda por outos ores. Nese espago, onde eles so, ide longa dita, ocupuntes de pleno direito, © historiador nfo & mas do que um retardatiio. ses atores ou ocupantes, quem so els? O jomalita,o juz, 0 testemunho, © petito, a vitina, a ra desesta~ (© pope principal & ceramente o do joraita, para qu lidade &0 pio cotdiano. No entanto, es que ele seen Dilizado por esas dus formas de acelerago que io ainstantanede ‘casimlaneidide de td o que circala hoje cntinsamente. A onda se tomou flsxo, enguanto ganham em extenso em presenga iva sede sciis.O que acontece, ness condigées, com sea papel de ‘medias, encaregudo de escolher, dar forma, ordem e perpectiva? [Nio sera algo leviano de pare do hisoriador, que € plenamente ‘um mediador (um go-Seteen, um paseu..), querer se aproximar sempre mais do jomalita, no momento em que o liga e a angio dss limo se encanta fortemente questionadss? Ao longo dos Slkimos anos, a ere goral da mia impress testemnhou esas ‘uansfomagSes que ninguém ers capaz de controlar. Por outro ldo, _enquanto entramos em um tempo miditco de historicizao, nem ‘mesmo cotidana, mas instantinea do presente, pode o hstoniado, tle também, “Ener hitria a0 vivo”, sempre mai pido e auger imeditamente o ponto de via da posteridade em tum nore Ess comida, perdida de antemio, nlo desembocaria numa simago, 20 sentido prdprio, de aporia, ou sea, sem sida? Mas renunciara esa bbusea ndo€ entio sue da coredaeficar para tris? Ou sea, atingido pel obsolecncia antes mesmo de ter esrto a primes pala (© segundo ocupante de pleno dirito que o hisoriadaren- contra € 0 juiz. Com este iltimo, o enconto pode ser direto ou indteto, real ou metaSrico, Os juzes se veem, de fio, encae- tznos de decidir sobre (quae) rudo, ede “curat™ os mauspiblicos| « prividos, pasadose presentes, sitio mesino os que extio por i de julgar a Histria,e mesmo de fizerhistia, Atsalmene ‘Blase comumente de “terpi judicia. Donde, em hist, a reabertura de um dossi (na verdade, antigo), 0 da relagBes entre ‘0 juia eo historia, as niidas inerfexdncias entre o histrica € «0 jdiciso Se mis ninguém fla do ebuna da Histéia ou em seu nome, por outa lado restivaram-se a iterrgagies sobre o {sir eo hitorindor:aquele que dia semtenga, ou melhor, o ju de insaugdo. E éjustmente porque a Hiséria nde & mas es istincla Ye em Le Dio dnt “Ve jt, wnt ioe” (198,480, “2 superior que a questo do historiador como, ‘Asim, Pierre Vidul-Naquet se consierou requisitado, er 1958, 4 investigaro desaparecimento de Maurice Aun, Prew etorurado pelos paraquuistas durant a batalla de Alger, xe jovern matems tico, membro do partido conmunists angeino, no fos, como se abe, revisto em vids ese cadiver nes fo encontrado” Desse primo ‘mabalho,profindamente deyfaand,desivou, em Vidal-Naguc, um. ett estilo judicirio de hrs, totalmente eonscentee delbera- do, que mareou toda sa priica de historiador do coatensporineo. He reconhecia, de to, que tna “nascido” para a hist com a harativa do easo Dreyfus que lhe havia feito seu pa, no final de 1942.00 inicio de 1943. Com ele dessparecen o mais dfn dos historadores contemporineos, ot mest, num certo sentido, 0 fikimo “conternporineo” do aso." “Eu sre deyuant da mena Imancira que sereihistoriador”,escrevia ands naguela que Fi sta lima imtervensio pblics, «que ele havin inital "Meus casos Dreyfus” (°Mes affires Dreyfis")© Desmontaro embuste e ober jexiga por Aun: al er playa ‘de orem, Era mesa posigdo de hstriador pico que Vidsl-Na- quet se puna a wabalhar para faze justia, ou reparar ji, fazendo fou rehizendo, desde 1958, o trabalho de insrugio que justiga no havi eto ou bavia feito mal” Recentemente,desa confomtagio etre o juz eo historiador nasceram reflexbes sobre a prova ea ogo de contexto, evads, em particu, poe Carlo Ginzburg, Jobe os procesios¢ condenaeio, na lis, de Adriano Soi, pelo assasinaro de um delegado de policia em 1972, que ele sempre nnegou, Quando falta fontes ao histriador, cle recorre as dios ‘contextuais. Se escreve uma biografs, ode eno fizcr coms que © [personagem “vista o contexto”, quer dizer, ele pode “incorpor-lo” 0 contexto. Um tl procedimnento (aie produz verosimilhang) ‘no seria empreyado pelo juz, que deve “dstinguir um ato de seu surge ou resurge. 8 VIDAL-NAQUET, 1958. {DAL-NAQUET, 209, p27 A HARTOG, 2007 9.3031 9 contexto” e deve se eximir de reconstiuir, asim, um fto sabre 0 ‘ual, ais, ele no tem prova.E precisamente sobre essa confisio| que tata 0 esencial da demonstragio de Ginzburg sabre 0 cio Sofi. Os jute fizeram os veronsimeis contexts tuaen no papel de provas, confundindo, na operaio, justigsehistéria, esukando 1a condenagio do acusido 2 partir de provas que, jurdicamente, slo deveram ter sido aceite” Contrariamente, a questio do julgamento histrico pouco reteye aatenglo (exceto aquela notivel de Hannah Arend, leiara de Kan, ena sequéncia de sua experitncia do proceso Eichmann). “Exite un tl jlgamento? Em que consise de que modo ecifere de um julgamentojudica? No longo curso de sas reflex sobre 19 cao Dreyfus, Charles Péguy, defcard e justiceizo, se exist ‘um, iver © mérto de enfenarfrancamente questio, Par cl, 0 jurico se situ ao lado do descontinuo, pois o delta e pens sto ‘graduados. Ojulgamentourcico “no pode eno deve accnpanhar 2 realidad senio por um movimento descontinu [..] Ele no pode ‘eno deve se mover sendo depois de arealdade que ele acompana ter feito camiaho suficiente para justice, por asim dizer, wn al Adeencadeamento, um puso, unia mudanga de tatamento, uma agrevagio ou atenuagio”. Enquanto que o jalgamento histrico “deve acompanhar a realdade por wm movimento continuo, ele deve se dobrar a todas s maleabildades da realidade moved". ‘Tampouco existe “tanguildade” para 0 hisoriador, eu papel menos o de pronuncia os jugamentoshistricos do que 0 de RIOKEUR, 200, $1348, 2 propapago ca Reforma, ew imagino. Querendo ov nio, vet fiz “vinstragi." Febyrenio queria nena confisio entre @histo- Fiadore 0 juz, nem mesmo juz de instrugio (o que ee veuperava ‘como seignobofsmo integal); Bloch mantinha aapresimagio, mie a compreen, de fit, no sentido ape de investiga do enexto ( que reconduziia 3s eflexdes de Ginzburg, Mas ni extn antes ‘h induseriizagio do apagimento dos vetigion, O historiader testemunha eo perito (© cao Dreyfis eunia ma mesma arena atestemunh,ohitorador «© pet. Havia os pets ofcis Bertil, © mais conocido, cra ‘também o mais pérido). © hisoriador, por sua ver, ocupaa as es posipdes ao mesmo tempo, mas, desde o memento em que penetra © espuc judiciio,o nic lagi que o Citgo Penal Ihe tia era ‘ds estemunha. O que implica em presarjuramento @difeenca lo pesto) ¢ respeitr escrepulosimente o cater orl dos debates. Ese formato judo atbuido i san incervengio podria parecer priximo da judiializao contemporinea da nos vida, ant pea ‘quan privada, ov mesmo anuncié-la. Nio se tata dito, Poi, nas configuagSes contemporiness, procur-ac a peri, e hisorialor solctadoa ocupar um lugar de prio Base lembra odesenvol- ‘imento da Public Hisory na América do Nore e, em particular, 0: umerosos iigos sobre a propredade de tenas ances, onde 3¢ Prtesseasociamahistoradores. Quem possi o qv, desde quando © “aque ttalo?” Os procesos ocomidos por crimes conta humane (na Frana) nfo consteuem uma excegio propriamente dit, pois © historador, estemunho, sem dvds, é uma testemun de interes eral, encareyado de auilarosjurados a imaginar 0 gue era ea- lida do momento. Ele aparece, portant, pts fomecer cantexto, "Mas quando Gabriel Monod, 0 diretor ds Reve histori (Re- io stra), tomava a palava em Favor de Dreys, ea certamente = BLOCH: FEBVRE, 203 p38, 352, = DUMOULIN. 2. Esperia" Sails tmp 3,200, ROUSSO, 202, 58-7; FLEURY; WALTER, 25,9 276, ®DUMOULIN, 283, p79 hittindr ns una ame), 5 Porque ele havia consegida decifar 0 fako ncritninante, como cle teria feito de um fora medieval, mas, sobretudo, porque ee et condusido por “uma necesidade pesoal de conseignca, um puro scripulo de justia”. " O exo juicirio de Vidl-Naguet era, da mesma manera, sustentado por uma exigéncia moral, mas er, na ‘verdad, perpendicalae 31m intervensiadirta dos juies ma his ‘6a, contra a qual ele estava, assim como Madeleine Rebérixoux, em consante oposgio antes mesmo do voto da lei Gaysst, em 1990), Que fose para dié-a,precrevé-a ou mesmo para cieat ‘uma fora def. A juicazago presente coloca, em temas siftents, a questio da Telages entre o juz €o histonador este ‘ikimo & convidado a responder a uma questio que no fi ele que ormiloa ou que cle nio formlsria nos temos que, necessriamen- te, slo os do direito, pois a qualificagZo de um fito € unicamente da competéncia do ju Para além dewsa pasticulaidade drefusarde do historindor como tetemanho de jstca, © que mudou completamente entre 1906 « 2006 foi o prdprio ligar da tetemunha no expaco pabli co. Péguy, anda sob ese aspect, & wma etapa elucidativa, Uma festemunha, le ecreve em 1912 na Clo, acredita que, para ser vuma boa estemunha, deve filar como um historador. “Voce cencontrs esse ancifo. Intantaneamente, ele nio & mais do que ‘um historiador. Intananeamente, ele wos rcita um pedago da histria da Frana.lnstntaneamente, ele € lito ele vos ecita um pedigo de livro".” Tio forte & eneio 0 pode da hinéra, do que clenomeia 0 “sufrgio univeral hstérico”! Ese ance &0 proprio ‘exemplo da “meméria histrica” que Halbwachs descreveri un ppouco mais tarde como ums moldura vaia ou atfcal."” Mas vocé mesmo, prossegue Péguy, nio é sobre a histéria que voce The perguntari? “A sua demands por hist, ele responde de ito por histsa". Por gue ele fri, pars voc8, uma “rememoras30"? A a difcll “operagdo da meméria", que consse em "mergulhar”, ‘ REBERIOUX, 197 p. 1% DUCLERT, 1996p ats S PEGUY, 192, tp. 118 sa arse em sua meni, ele preere © ape alban ‘uma rememoragio onginica ee peefere um tragado histérico, Ou seja, como todo mundo, & preciso dizer, ele prefere pegar 6 rlho. A histria é esse longo trilho longitudinal que pasa 30 longo da costa (mas a uma cera distinc), « que para em todas asestagdes que se queira. Mas ele no segue a costa, no coincide com a costa”. Em resumo, a textemunha devia falar como ui historiador, enquanto hoje, desde que entramos na “era da tes temuna”, sera antes o contri 0 historiador deveria comegar por ilar como uma testemunha, Sobretudo nfo como um liveo, nas a0 vivo, on-line! Esa testemunha, paraa qual pouco pouco se abriuespago,assumiu princpalmence a imagem de wma vic, de um sobrevivente, sua presenga fo inseparivel da ascensio da meméria. A gual es dew ama vor © um rosa, Péguy no admiva que o caso Dreyfus passe ds meméria (no sentido que ele Tne atu) isebea, e que re tomas im cio ps historiadores, uma lembranahisrics. Ele esti “i beta do limite”, ota, ainda em Clio. “Acreita-se que ele & anda texto © matéia para uma rememoragio, para a meméris [...] acredita-se que cle Ino se tomou histérco. Asteguremo-no ele ext bem moro, tle no nos divide mais”. Pos todo o tabalho dos politicos foi fo de “nos reconciliar com relagio a esse cao”, de nos fazer perder premature arificialmenteo sentido deste caso, quer dizer, "de nos transformar prematura earificiaimente em histaiadores”. Péyuy Aesejava no ter que se tomar historiador.E 0 que ele repreende ‘em Dreyfus éjutamente que le tenha sido “o primero a asumie ‘sn posigdo de historiador. Ele poderia nos ter feito ete favor de pelo menos assumi-Ia por éiimo"! “Quem diz econciiagio nese fentidohistorador" diz “paciicagio e mumiieao™ "A hiséria, tna segundo Péguy, & “Tongitadnal”, ea consite “ewencialmente fm pasar 20 lado do acontecimento”, enquanto que a meméria vertical’, eando dentro do acomteciment, elt consist “antes Prkcuy, woo p19 ricty. io 198 4 tado ca no sar dele, em permanecer nl, e em recuperar de dent”. Maurice Halbwachs no dit otra co guy queda no ter dodo io Dyfi, meso eben que craimposivel A reoneingo et a ahistra segue ade. Como ppemanecer do a da rememoraco, sem nar odo a hiséra, qe ignora mea eo mais para 0 furro. Esa Fake mostra laure dina entre hrs em 1906 ec 2006. "Naa & ‘ma alegre do que a historic, di ele. “Ay, requete gue ‘ada sja mis alegre do que wm coveio. E € 0 mesma oo” © tisoriador tem por aici enerar 0 pasado e se, 20 menos rofisionlmente, alegre asim que ele enxeg, Para abrir epg 2s vivs, cle dev limpar vod. curios que Péguy aio pense, 2g, em Jules Michele (quem cle ent enaltce agus gine dante: ele €0 proprio contaexemplo. Mckee pretend fo, 0 incasvel vista don tmulos econcebeu hisorador como homem da vid em ela aos motion. Ma e620 mes ‘mo tempo, 0 mago do Rove ot da Fata, saminando 0 pasado om a luz do fur. Encamcgado do ital deh, cle acaima 0s ‘ores e enconts a palit que no foram ow nfo puderam ser dius. Seu oo no second em nas, portato, como taba- Tho totimemte exter de aphinar a tea eliza pelo eoveio ‘Retomada por Michel de Cera, depois po Paul Rica (qu faz deta expresso o lame ene a meni 3 ht), e por outros tums, defn do papel do historadr et, por auto ad, bastnte presente hoje. Nao, ohitoriador no & um coir, mae aquele que aos momo, ou mesmo que os evocs, No a mesma tari rate viconeeteesconteipertnae! Commo fe uns outros, com diferentes reqs, fiesem seu antigo ritual da chi, do chamado dos moror hométco, que Verna asocava 1 Fangio de Maemo ‘Uns outa dint aparece em rig prépri abana di pala memes Part Péguy, cla doa uma meméra viva, Indvidal, que we iscreve no fuxo da durapSo. Ela parece nfo ‘onhecer 3 siepress do reconhecimento (ese tempo perdido ¢ pec, 192,p. 149. reencontrado sobre o qual Proust medtou)¢ ni encontrar aques- to dh sua transmisso, Ela se deteriora na hstra, Consentind, © testemunho se transforma em historiador, e em anciso, Hoje, situagio se invert. Enquanto 3 meméria se impunha, as dvds relatvas 3 histéria no cesaram de crescer. Ete expagamento de uu evidéncia, ainda hoje pouco discus, & o objeto desis pgi- tas A histria, ado regime modeme de histriidade, com vin H. aitsculo ov un h minGsculo, inka no progreso, mara et ires30 a0 futuro € remetia com seguranga © patsido 20 pasado, Fle haviaceramente de pasar. Iso acabou, enés nos eneontramos Frente a frente com a meméris eo present, 36. ‘Recosdemos ainda, para finalza, a dstncia entre a magrera do centenirio do caso Dreyfus, tl como foi comemorado ou, me~ thor, nio comemorado em 1994, eo vigor daguele de 2006, £ um festemunho a mais das transfrmagdes da conjuntura. A Delegagio ths Cetebragdes Nacionis, defo, nia o havi inscrito em suas placas de 1994." Tudo mudow em 2006. A Repiibicaentio fla de meméria, aplica-se ao dever da meméria, dé haga 3s visas, econieceu, em julho de 1995, tr “cometido o itepaivel thnrazia de Ved Hiv." Para o historadar, envolvido nessa nova onjuntura, fia ocasio de volar 20s arqivos, de encontrar outros fede reabrir o passado do caso Dreyfus. Assim, aleitura da corres [pondénciatrocada durante ox cincos anos de separa entre Dreyfis fest esos, Lucie, onde estio em questo amore resistncia, fae Surgir um homem plenamente ator de se cio, ue jamais eden fem detrimento da sua honra: uma vtima, sem did, "apesar de si" ceramente, masque soube mobilizr, oisolamenta eo infor Kini, um obstinadoheroismo cocidiano." Vtina e her. Easim ‘0 cavo Dreyfus ainds “prova". E bem esse o sentido da campanha ‘nto nga por alguns, entre eles Vincent Ducler, para pedi 20 Pep sOUr, 2012p. 96-192 apsonnet de cece 1 meen, reinda em Piste Sep Gh Male 117 deo de 1982.1) pREYFUS, DREYELS, 2, ciao estos morta de Aled presidente da Replica ase Dreyfis a0 Panteo, tl de aqueles¢ todas aqueas que, nas condigbes mais terives, Inara para preservaro que faz a dgmade ea humanidade do homer." "Herd comm", por certo, mas verdadsramente her6i, Outtos se opusera, recusand Tevar 20 limite esa inversio da vitima em herd. Para ess, 0 Panto deve permanecer 0 “lugar dos hens da Replies”. lis, acrescentam, Zola, 0 “herd” do caso Dreyfus, jfiseencontra no Pantelo. A demands ndo se concretizou. A testomunha e o vitima TIntroduzamos anda dois outos ocupantes dese terreno do con= tempotineo, igialnente angidos em primeiro plano a testemunk © a vitima, Ou, mais precsamente, uma pesoa em dus: atestemunhs ‘como vitima, © uso pdblico do passado intensficos-e, segundo «| frmula empregada em 1986 por Jirgen Habermas, no momento dda qerels dos histriadores alemes sobre o nazis a histria sem, que foi objeto de uma controvésia pblica nos prncipais jomuis do pa!” Uso do passado, quer dizer, bom uso do pasado? Hija vista que se tatou, antes de tado, desse pasado recente que, segundo a expresso que ve tomou cortente, “ndo pasa”: io €, dleses anos eativos a0 que ot histriadores fanceses nomearam a “isa do tempo presente”. Ora, para 0 estabelecimento dessa histria, miiplos so on ators eos detentores de direco. Ene cles, 2s testemunkasasuniram tm espagocrescente, a ponto dea historadora Annette Wieviodka ter podido retagar a ascensio do ‘que ela nomeia a “ea da testemanba"sinicion-se, em 1961, com 2 relzagio do proceso Eichmann, em Jeruslém." Posicionar as testernanhat, os veteranos, os sobreviventes na primeira fila fo um ago comum das iia grandes comemoracBes & Segunda Guerra Mundial, Em 2004, na ocasio do sexaéximo sniversiro do Desembargue na Normand, o veteranos evar di eri comun,encarnando todos ‘DUCLERT, a7, p 39-80 SN WIEVIORKA, 1986; HARTO, 2, p. 236266. se postosna primeira fil, Ulin tezemunkos dro dss paso, cles ‘ram unbém os prieirs expectdores des cerimdnias destinaas aes homenageare a evocar a lembranga de too oF que haviam morro. Mas, pegos pela mayuinaia dese espeticlo cone pra televise, les se tomavam também atores de hoje nes represen ‘apo. les, que logo iam despsrecer, eraram a autenticidde a ‘emocio. Do mesnio modo, em 2005, 3 comemaraio daliberago tds campos eunia em Auschwsit-Birkena, a0 lado de um milo \desobrevivenese de restermunhes dzetos, os drigente de 4 pases. sas celebraes vieram ritmar 2 vids pbc, unindo menirias (esquecidas, eencontadas,provocidas, ef.) e agendas politics, [Nessis ocasibes, 0s homens da politica falam de “mieméria comparihada”, preocupan-se com trnsmisio econ lig, Una rtsolucio do Patamento europea evoca os “ersinamentos a tat lo Holocaust”. Como se espersierestaora 0 antigo modelo da iso magia vite esa retéica do exemplo, como x pudese set Featvato o antigo regime dehistoricidade, enquanto que mesmo 0 ‘Tegime modemo (que sabia detxar o pasado aris de s para ir em dlitego 20 futuro) nio é mais operatéio, Claramente, os historia~ ores rio sio mestes nem do calendirio nem mess dae questbes fou dos termos dos debates que esas manifetagaes sci, ss hs fm, indubitavelmente, uma incidéncia sobre as ovientagbes da Pesquisa © programas de edicio, sobre a mobiliagio miditica e, [porento, sobre a percepeo do lugar do hisoradar no expayo p= Ico. Torou-se ele us comentador atoriado, convocado, pes Tose televises, para comemora esses “eventoe": um especialita fquipado de um fone de ouvido ede um microfone,encarregado, fm sma, de trazer um equitalente oral dis noes de rodapé? A mutoséo de vitima Bore is notre ona tute eet unio pla irs vi. A cu pit, oatctndos del dese de BOD cream upped elo esp, Na igo iis «via spars no cone do ciclo ofreeo + ivndae_ Oram digeladeem exon io do ange gut nome, Na Git em pec bcs #° ania do animal anes do sew abate em homenayer ao deus"? ‘As mumerossteorias modemas do sacificio debrugarams sobre © cexatato da vtima. Chegou-e, a0 longo do século XIX, a recoreer 2 categoria mais ampla e mais vaga de sgrado:witims © sagrado. ‘Ao meso tempo, osgrado pd deslizar ficilmente em dre,30 3 itr, pla qual ers lpia eglriow se srifca. A retiicablica a primeira metade do século XX cantou-o e proclamov-o." A pera est em se direito dereclamaro sacificio de suas ciangas, ‘quetnclarecouhece, em contrapartia, na ocaso ds homenagens Finebres, qualidade de herbs, Enconta-se af algo do velho con rato vigente desde a época homérica: a morte (ade reesbids) do ‘guercro contr a “glia que no perece”. Exceto que na linda, ‘0 caso se restringia aos préprios gueretose a0 poeta, e unca num ccantexta de stctfcio. Morria-se sob os olhos de seus pares ¢ no ‘ara a cara do combate singular. Mais tarde, quando, no ambito dl cidade, Périclespronuncia o dscurso usual em hontenagem 20s ‘moos do primeira ano da guera do Peloponeso, ele se ence, na verdade, a um louvor Aten." Morrendo por els, cus cidadios no fizeram nada além do que cumpre seu dever ‘A gucira de 1914 fo uma grande consumidors de sscrifcos, 10 mesmo tempo operando um delzamenco de nocivel conse~ ‘guéncia, Pasa, de ft, 20 primeito plano igua do aurosacrifcio. Ese soldados-cidadios, observa Marcel Gauche, “deixam de ser simplesmente os stcrificados da pStria em perigo; cles se tomar, ‘08 olhos de todos, tanto quanto aos seus propos oll, aqueles {que se sacrficam deliberadamente para a slvacio da pita e que encontram, nes doacio de si mesos, af esi © ponto crucial, a confirmagio, 3 realizg3o de sua existéncia como individuos”.”* Instaurase, assim, wma rigio civil do scrifcio, que se tornari tama “fornidvel escola de servo voluntiria” e, em decorténci, tum tern fra para 0s futures totltarsmos. "DETIENNE; VERNANT, 1979. LORAUX, 18 GAUCHET, 2010, p40 ‘Mas, depois de 1945, tanto a economia d glia quant a reti- {io civil do autossacicio no podem masse manter inact Esa Figura da vtima sob ostragendaquele ou daguea que se sacrfcava, ino & que até certo ponto exolhia morer, simplesmente no se sustenta dante de dezenar de milhdes de mortos¢ desparecce, fefigiados ¢ sobreviventes desesperados a quem ninguém jamais cogita pedir opinido sobre a questio, Mais preciamente,cavarie lum distncia entre a vitima e © hers que, até entio, andavam (oficialmente) de mos dads e Rindavam umn culto aos mottos, ‘Sempre exitem, em divida, vitnas heroicas (necesita) e depois 1 outras, incontives vias, lasimadss, mas que soferam, nada pera além de softer, nada fizerm além de softer. Ei sma, ate fio ativae postva, a nogio de vicima astume uma conotagio pasivae, até certo pomo, negitiva. Prefee-seflar 9 minias pos sivel A expresio de entio, to corrente, sabre os judeus levades 0s campos "como oveas a0 abutedoura” dso a expresio 20 mesmo tempo mais conformista ea mais era. Sea vita tendia a se fandi, ela também, noe silos do ps ern, virios elementos novos tomaram possvel, com o tempo, feansformar sua condo. Primero houwve of process: a comecar pelo de Nuremberg, elaro, como esabelecimnto do rime conta 3 Thumanidade, mas também e i com peseng de ganas texte hs. Tal como Marie-Claude Vailant-Couturer, ex deportda de Ravensick, qu, vindotextemunhar, queria obrigar ox és lil, TBsubelecend repaages mori e materia, a Alemanha do chancler ‘Adenauerreconhece,o que € novo, pencipo das repays indvi- thts, mio mais somente enre Eades, do vencdo a0 vencedor." Deide a Cara do tribunal de Nuremberg, a ago pla tor- Inow-se, como se sabe, impreserivel nos cauos de crime conta 4 Inumanidade. Inseritofewkmente no Cédigo Penal lanes em 1994, PSl Finder (97, p 168) cota mm aobingtin ue et as pr mc por wm mer em, ud de pry de wow colo As, arse on. nZAN, 207, 527-28 o se regime de imprescrtidade & hoje reconhecido pel grande tmairia dos Eades: desde a nangrag da Comte Penal lternacional «em 208, Impresrvel quer dizer que, neste aso, 0 emo preci, ‘que & 0 ordinirio da justia, ovale. No mis do que o principio de no retroativiade da li, Como hava notado o grande jurists Yan “Thomas, “o contenido imprescitivel mio €0 tempo que pass, mas © tempo presto": um ¢ out so igualmente consruidos™ Im- prscrsvel que dizer que ocrminoso contin ser conemporineo ‘dese crime até sus morte, da mesma manera que nésconsinuamos a ser ow nos tamamos conternporineos dos fs jugados por crimes, Contra hutnanidade, Lembremo-nos do julgamento de Maurice Papon, exsecrctrio ger da preima de Gironde, onde nenhum dos jarados hava conhecido dreamente a goer "A questio nila & quae si os efeitos do tempo? Mas: quais feos ns eidimos abu tempo”, Jamis oe cast ‘endo uma “operasio politio-juriiea sobre 0 tempo”."* Aim- preseribilidade “por natureza" do crime contra a humanidade funda uma “atemporslidade jridica” em vieade da qual 0 cxi- ‘minoto fo, &¢ser8contemporineo de seu crime até seu élkimo suspiro Se, na geasifo de um proceso, historador entra ness stemporaidide, o Ginico lugar que o diteto penal francés Ihe ‘concede € 0 de uma testemunba para a qualse solicta oralmente, como prevé o cbigo o depoimento, Dese pont de vista, 0 caso Dreyfisteve o papel inaugural que acabamos de ver. Mas, além da afer do diteto por s 36, deslzamentos operaram-se entre 0 tempo do dreto « o tempo socal, e mesmo trocas entre os dois fem nome da responsabilidade, a ttlo de dever de meméria edo trependimento, Uma retomada no expago piblico do regime {de temporalidade do imprescriivel & de fo, uma das marcas a judicializagio deste exparo, que & um dos principals tagos do rnoso contemporineo, com as dficuldades dal decorrentes. Bast levoca sx controvéris, recentementeabertas, sobre a meméria da ‘seravidio e a questio das repaagSes, que foram um dos pontos OMAS, 201, p. 26027 THOMAS, a0, p. 29 o Alfces da Conferéncia de Durban, em 2001. A Organiza das ages Unidas para a Educagio, a Ciéncia ea Cultura (Unesco) declaroxo ano de 2004 come o Ano Intemacional de Comemora- ‘0 dh Luta Contra a Escrvidio eda sua Aboliio. Comemorayao & uma coisa, exigit teparagio & outa, Desde © proceso Eichmann, em 1961, testemunbas €viti- thas, quer dizer, as westernunhas como vite, viens &plena iz AN autoridade da primera encontra-serefogada pela qualidade da segunda. Durante os depeimentor, o acuta fica de frente para ljunas de suas vikimas, Pela primeira ver de fit, a testernanhas, quer dizer, vtimas, ram chamadasa depor nfo sobre Eichmann, ‘qu cls evidentemente nunc inks vist, mas sobre o que elas Dnviam sofrido. Uma tetemunba se tomava em primeito hagar ‘yor © o rosto de uma vitima, de um sobrevivente que se escuta, que se faz ilar, que se gravae que se filma.”” Nese sentido, a ag30 Fecente mais noeivel foi aque langida pela Fundagio Spelbere, ‘om 0 objetivo de recother rods 0 depoimentor de Jods 0 10- Inevivents dos campos nazisas, ede er asim “4a vivo” (on-line) tverddirahistria da deportagio pela vor dis vitimas. Notemos que, num tal dipostivo, 2 medigio do hittoriadortomna-se nio Somente init, mas, pior, ociva Pos, idealmente, nada deve vie pant” o fice a face entre a testemunha e o xpectador, que & shhamsado ase tomar, por sea ver, ums testemuna da tester, ma testemunha delegad (vicarious itn). Na Franga, o reconhecimento piblico desseinteresse novo as vitimastraduziu-se, em 1985, por uma ei que ciou a men- "Morto em deportacio”. Até entio, nio eta questio venio ranga combatente”, comemorada desde 1945 no Monte alerinno, onde, cada 18 dejunho,o general De Gaulle erin para uma ceriménia simples eaustera. Nos anos 1990 a forte fensio ¢ a notoriedade da figura da vita foram determinadss ‘extensio da categoria do trauma. Formada a partir do con- io médico de ferimento corporal, ornada, no final do século IEVIORKA, 19, Gn lo via de Grande Goer, ver rochason 28, 117-187 o XIX, una categoria psicoligea, depos, no final do séeulo XX, tua eategoria da nosografiapsiqusiteica,o tama € desde enti tum fato socal de crite geal. Como tal, ele insiui “uma nova condo da vtima". Para se convence, basa prestaratengZ0 205, tliscursor proaunciados, 204 gestosrealizados a dspostivos de apoio pricologico etabelecidos depois das eaistofes. Ora, tam- bbém nese avo, a invero é recente. “Hi um quarto de séulo”, ‘serevem Diet Fassin e Richard Rechtman,“o trauma quase nio| fra recouhecido, pata além dos ctculos restetos da psiguatia € 4 pricologia. Reinava antes asuspeita (por deers da “nevrose” {0 soldado suspeitava-se a smlagio). Oa, pasou-se, em espago de alguns anos, da dvida 20 reconhecimento: o trauma & "eel vindicado” e a vicina “reconbectia™ ‘Com o eran surge una “nova linguagem do acontecimen- to", ma medida em que ela permite nomear (bem ou ma), “uma nova rela cam o tempo, com a meméria, com o luo, com a vida, com o infornio com os infortunados” Na privica da ‘comemoragio,pasti-se de “mores por” “mortos por caus de”: ‘nko mae pea Francs mas por causa dela" Até esa deciso recente, “annciads por cers fii de soldados lanceses mortosno Ae isto, de abr una apo judicial contra exéreito* Designar um acontecimento como traumico insaura uma relayZo imediata de cempatia com aque ¢aqueles que io suas "iim". A designagio vale stats com os “dretos€ deveres” corespondentes,compor- arse "como iki". © desenvolvimento instantneo de equipes de apoio psicolgico ea organiza de twas, em ceros casos em nome di nag inti, devem peemii s vitimas fer frente, © mais pido, 3 “catstro" vivid e se engi imediatamente nam, “uabalho de Into". Asim, esimase em nove milo niimero de "SFASSIN; RECHTMAN, 207,16, "FASS RECHTMAN, 207 p15. SSMARCELLIN, 201 0 ‘specialists em sae mental que intervieram em Nova York nos ths que se sequiiam ao atentado de 11 de setembro.” A caistote, om sua exremis midatiagio,reforgow ainda mai a visbildade © 4 centrale da vii, Vitime @ justia © presente tnico Para uma vtima, © dnico tempo dsponivel & muito prove Yelmente o presente: aquele do drama que acaba de acontec ‘ou, ainda, que aconteceu hi muito tempo, mas que, para ea, esti sempre presente. Seja um presente fixo ou um pasado que nio sa Esa temporalidade propria da vitimainscrovesefortemente ‘mn configuraso prsentsta ma qual esamos; melhor, el a formals, strata e 2 Foralece De qual operagio sobre o tempo a justica wansicionl & ins ‘ipidora? Entende-se por justia tansiconal uma resposts juridica (poxtendo astamir diferentes formas) aos crimes de um regime pas sudo, Regime jurdico de transi, ela se desdobra entre ums antes um depois, © cra, asim, um tempo intemedirio que, por se DrGprio exercicio, ela se dppde 2 reduzi. Segundo os termos do Islatri final da Comisdo Verdade © Reconcligio da Attica do ‘Sul, esa jusiga, que se define como “restauradora, deve permitr {a "cormeugio de uma ponte” entre 0 pasado o futuro. El & ee ‘vo onde, no presente do fcea fice provocado entre vtima ese ‘aasco, podem-se eborara condigtes de um renicio do tempo, Criada em 1995, presdda pelo acebispo Desmond Tutu, “comissio buscou uma anisia sem amnésia. Ela “via vilagBes raves conta os dizetos do bomen la extva habiitadn a acondar Aan, dee que o earrscoreconbecese plenamente seus errs {fl dclsue: ela no tinha poder de constangimesto, Ao longo ‘ds audizncas, ela foi levads a ditinguie ea valdaevirostpos de “verdad: entre elit, a “verdad que cits” (wang), aqua que sulta da possbilidade para a visi de dizer publicamente o que fh soficu, 1s vezes, mas nem sempre, aa prosenga de seu carat, TASS; RECHTMAN, 2079.8 PPTUTU, 200; CASSIN: CAYLA: SALAZAR, 204 os 0 tbh de ecuperagio dl atoestin para vii ¢o trabalho de aceitacio de sua responsibildhde para o carrasco so panlelose coextensivos" Vinte mil tins vier estemunhar. A “curs” foi sempre sleangadi? Nio necessriamente, segundo alguns estudos realizados entre pesoas que testemunharam para, expondo seus soffimentorem pblico, contrbuir para cara ae “fends do corpo social”, Assis como o indica o prefbulo da nova Consiuig, 3 comisso foi concebida como o primeiroinsrumento para “curr 18 divises do pasado”. Devse modo, cla devia contibuir para tomar possivel uma reabertara do tempo para além do apartheid, pois, segundo aconvieeo profunda de Desmond Tutu, “nio existe futuro sem perdio”. ‘Muliplicaram-se, asim, ascomissbes Verdade, com os manda- tos compecénciasvaiiveis segundo ot pases. Contan-se was 40, ds quais algunas ainda se formando. A dima erada foi ado Brasil, (Gal de 2011), que deve se debrugar sobre a volagBes 20s deios| dda homem cometds entre 1946 ¢ 1988, El no tem competéncia ‘penal edevetrabulhar para a “reconciliagho nacional”, Awociani-e ‘sss comiste §justga transicionl. A primeira vita, no é mais 0 «e280 do Brasil Ou é preciso infee que o periado da dtadura, ndo tendo sido spurido, sina nio se encerrou? 'Na série de jlgamentos por crimes conta a humanidade que ‘corre na Franga, entre 1987 e 1998 (Barbie, Touvier, Paper), ‘ratava-se também do tempo, Pode, defo, consideré-los como ‘manifestagSestanlias ou defisadas de una justica tansicional,vindo| ‘encerar um tempo intermeelitio que se hava esticadoatéentio ‘oa que era percebido como tal newes anos, Conccbides como ‘momentos de meméria, cles deviam permit vkimas que sus ‘quexatfosem dias e escutadas, novamente ou finalmente,e de -receber uma fom de reparao. Mas ls deviam também operar, sobretado, permanecer com “intrumentos de histria os debates "GAMAPON 200 p24, Cede cps poi ei de ne it 2 lio eterna. "Ns Fe then Ringe: onde do Eo que con onc. 6 nos (pata ua fea transmis) Seua-se no registro sd histia como lig para 0 futuro. Esses procesos colocaram, lem dso, a questi expecta ~ e que cation debate ~ da pre= eng do hitoriador como testemunha,cestemunha 3 lo do se conhecimento, por certo, mas eahérn na forma “testemunka” 0 sentido do Codigo Penal fancés. Conwibuindo para manifetagio ‘hi verdade, ce prestajuramento ese situs nio somente no presente io jlgamento ele deve exprimit-se sem nota), mas também na yeemporalidade urea" do crime contra a humanidade. Personagem central dojulgamento, 0 acusado& "spriionado” ho imrescrtve: esse cempo suspens, esculpido para ele de core firma, um tempo que no pode pasar. Esquivarse ou excapar dle Aleve sero seu mais caro desejo. Mas, ara as vitimas amibém, 0 tempo, de uma mancea ou de outa, parou, mesmo que tonham Jrecsado de tempo para conseguir diré-o e pars que pudestem fr ouvidas. Entre rantos otros, 0 depoimento de Jean Any no deisa divides “O resentimento blogueia 0 aceso 3 dimensio Iiamana por excelénca:ofiraro"."E 20 final do julgamento de Papon, mess Touze,advogado das partes cvs, observa de ma- ‘era anilog: "Nos nio estamos nos debates histrics. As vitinas ‘oem. Somente depois & que vid a hist”, Ele queria dizer 0 ‘wmpo poder se reiniciar e 0 que pasion se tomar enim pasado, "o sofimento”, complementa Antoine Garapon,“sidera © por cle mergulha nio no pasado, mas num etzmo presente, do yal ndo & mais posivel se descole™ As policas memoriais (Os Gms anos asitram, em toda parte, 2 uma intensities Imervengio dos governos, das insituigdes internacionas, de les associnges em nome da meméria de uma emia por 0 1 cana disco Hise rani, 0 osama de 200, ua pare ges So amo de Rees Bo cn 05,0 de Mace Ppon contra outras porsua dee, seu reconheclmento, su tansmiso. Mensa impedida, meméria taumtica, meméra das vin As leis memoria” [Na Franga, 0 legilador mostrou-se 6 agente mas atento & ‘mais ativo. Objeto de presse de interveng8es mips, ele fexerceu usa grande aividade.™ Depois da lei “Gaysso", de 13,

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