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Em 1950, em sua encíclica Humani Generis (Sobre a Pessoa Humana), o Papa Pio XII

expressou preocupação de que a teoria da evolução não fosse adotada de forma


acrítica. Ele pediu mais pesquisas, mas não condenou a teoria. Em 1996, o Papa João
Paulo II abordou o assunto perante a Pontifícia Academia das Ciências. Ele
sancionou a aceitação da evolução, mas lembrou a seus ouvintes que questões
espirituais como a natureza da alma e seu relacionamento com Deus estão além do
domínio da ciência.
Em primeiro lugar, muitas pessoas simplesmente assumem que a Bíblia ensina que a
evolução é falsa, ou, em segundo lugar, que a evolução é incompatível com séculos
de ensino da Igreja. Nenhum destes é, de fato, o caso. Finalmente, muitas pessoas
acreditaram no mito de que ciência e religião estão necessariamente em desacordo.
Isso, é claro, geralmente segue os dois primeiros erros.
Quanto à primeira questão, a Bíblia não faz nenhuma afirmação sobre teorias
científicas relacionadas ao desenvolvimento da vida humana (ou outra). As histórias
bíblicas da Criação pretendem transmitir a verdade sobre a relação entre Deus e a
humanidade, a relação da humanidade com o resto da Criação, o impacto do pecado em
nosso mundo. os editores teriam sentido a necessidade de harmonizar Gênesis 1 (onde
homem e mulher são criados ao mesmo tempo) com Gênesis 2 (onde o homem é criado
primeiro e a mulher é criada a partir do homem).

Assim, além da elevação à ordem sobrenatural, os nossos primeiros pais gozavam dos
dons preternaturais, não exigidos pela natureza, mas congruentes com ela:
aperfeiçoavam-na na linha natural. Concretamente, estes dons suponham que não havia
morte, nem sofrimentos, as “paixões” humanas estavam dominadas pela inteligência, e
a vontade dirigia-se diretamente ao bem. Os dons preternaturais acompanham e são
reflexo dos dons sobrenaturais, como o põe de manifesto o fato de, com o pecado,
desaparecerem ambos.
Este dom da imortalidade comporta a possibilidade de não morrer e não a
impossibilidade de morrer, é um dom. Ela é um efeito, o dom preternatural é um
efeito, ou seja, ele é uma consequência da comunhão que o homem tinha com Deus.

Os dons que o homem recebe são ao mesmo tempo funções e tarefa. É importante
entender o mandamento endêmico: não comereis da árvore do centro do Jardim . Com
isso, Deus dá ao homem a liberdade, porque se o homem não fosse livre Deus não
precisaria dar a ele um mandamento. O homem é livre, pode escolher. Ele tem também
o poder de desfrutar de todas as árvores, mas essa liberdade não é absoluta porque
Ele não é Deus. Essa possibilidade é de grande importância, o homem como
colaborador de Deus no mundo, tem a tarefa de aperfeiçoar-se, Deus quer que o homem
cresça e se desenvolva em todas as suas qualidades, o homem pode desfrutar do
jardim.
Quanto mais cresce na relação com Deus, mais o homem se realiza como criatura. Deus
quer que o amemos, porque sabe que amando-o nós vamos crescer. São evidenciadas
então, as duas árvores, da vida e do conhecimento do bem e do mal, seriam uma
espécie de dons.
Algumas interpretações sobre elas, para alguns a árvore da vida é destinada a
conservar a vida, curando doenças e preservando o homem da morte. Se o homem não
tivesse pecado, não morreria. Teria os dons preternaturais (imortalidade), se ele
não morreria, também não teria doenças (impassibilidade), se não tem a morte, então
também não teria as consequências da morte também. Essa árvore da vida, simbolizava
a vida que o homem teria.
E a árvore do conhecimento do bem e do mal, não é o conhecimento intelectual, mas
um prático, que diz respeito a sabedoria, diz respeito aos efeitos, o bem que quem
comeria pensaria obter e o mal seria o efeito de fato que se obteria.
Para outros, essas duas árvores descreveriam a imagem de Deus, quem é a origem da
vida? Deus. A árvore da vida designa Deus enquanto origem do sopro da vida, a outra
o designa como o único capaz de legislar a vida que dele procede. Essas duas
árvores que são atributos divinos vigora o princípio da coexistência e da
comunicação perfeita em Deus dos seus atributos.
Comer o fruto de uma das duas árvores é atentar contra Deus, é tentar assumir uma
função que somente de Deus pode fazer, o da primeira é decidir o que seria o bem e
o mal, o da segunda, que só Deus pode dar a vida. Se só Ele é o fundamento da vida,
é óbvio que só Ele é o fundamento das normas que regula essa vida. Comer o fruto da
primeira árvore significa que o homem quer definir o que é bem e o mal. É essa
autonomia que o homem quer para si. Se Ele é o fundamento do ser, é também o
fundamento do agir.
Seria o conhecimento objetivo do que é o bem e do que não é, do que distancia o
homem de Deus rompendo a relação pai e filho, esse é o significado da árvore do bem
e do mal, é aquilo que aperfeiçoa a relação do Criador com a criatura.

Não se trata de uma morte física, como se os frutos fossem venenosos, mas a nível
teológico. É óbvio que é a perca da relação com Deus (mas não podemos negar também
a morte física, ela só não é a consequência principal / primeira).

O homem é livre para comer e para experimentar de todas as árvores do jardim, desse
modo haverá a vida. Então, comer da árvore do conhecimento do bem e do mal não se
refere nem a onisciência nem a um discernimento moral (se refere: a decidir o que é
bem e o mal por si mesmo, e reinvindicar uma autonomia moral, pelo qual o homem
tenta contra a soberania divina).
Essa revolta exprimiu concretamente pela transgressão de um preceito estabelecido
por Deus. A autonomia moral absoluta é um percurso errado e impossível para o
homem. O homem não pode definir por si mesmo o que é bem e o que é mal. Já está
inscrito em sua natureza que “matar é mal”.
Isso não fere a liberdade do homem, tanto é que ele pode obedecer ou não.
O mandamento de Deus não é um imperativo que deve-se obedecer cegamente, Deus dá a
razão do porquê. “Pode comer de qualquer árvore, mas não a do bem e do mal, porque
o dia que você comer, você vai morrer”. Cabe ao homem decidir se vai obedecer ou
não. E diante das consequências ele escolhe não obedecer.
O homem é criatura, limitado, infinitamente menor do que Deus, isso não é
menosprezo, mas o reconhecimento daquilo que se é.
O homem é elevado a um alto grau de dignidade, o que ele é, ele deve integralmente
ao seu Criador.

Os animais não tem o mesmo valor ontológico que o homem, por isso o homem está só.
A lógica da existência da mulher só sentido como auxiliar do homem, assim como o
homem também não estava encontrando sentido sem a mulher. Essa ajuda é entendida em
modo bem mais ampla, em todos os sentidos da existência.
A igual dignidade dos dois é afirmada implicitamente no fato de que em nenhum dos
animais o homem encontrou uma auxiliar que lhe correspondesse (Gn 2, 20).
Há um encontro de si.
O casal estava nu e havia a ausência de vergonha, estavam íntegros, havia uma
harmonia interior do homem. Corpo e alma, inteligência e vontade estavam em
harmonia, e a relação homem-mulher também, ninguém via o outro como objeto, mas
como pessoa.
Na Sagrada Escritura, dar o nome significa ter um certo domínio, no exorcismo há
essa relação também, perguntar o nome do demônio. O nome de YHWH era
impronunciável.
O cristianismo vai dar essa dignidade maior à mulher. Nos conventos vão ser as
próprias mulheres que vão mandar ali dentro.
Essa ausência de vergonha entre homem e mulher era por causa da harmonia entre eles
e da vida na graça que eles estavam.

Deus não é, de modo algum, à imagem do homem. Deus não é nem homem nem mulher, mas
é puro espírito, no qual não há lugar para a diferença de sexos. Criados
juntamente, o homem e a mulher são, na vontade de Deus, um para o outro. Nenhum dos
animais pode ser este “par” do homem. A mulher que Deus “molda” da costela tirada
do homem e que apresenta ao homem, provoca da parte deste, uma exclamação
admirativa, de amor e comunhão . O homem descobre a mulher como um outro “eu”, da
mesma humanidade.
O homem e a mulher são feitos “um para o outro”: não é que Deus os tenha feito “a
meias” e “incompletos”; criou-os para uma comunhão de pessoas, em que cada um pode
ser “ajuda” para o outro, uma vez que são, ao mesmo tempo, iguais enquanto pessoas
e complementares enquanto masculino e feminino. No matrimônio, Deus une-os de modo
que, formando “uma só carne” (Gn 2, 24), possam transmitir a vida humana: “crescei
e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra” (Gn 1, 28). Transmitindo aos seus
descendentes a vida humana, o homem e a mulher, como esposos e pais, cooperam de
modo único na obra do Criador.

Cristo ao se encarnar se torna homem nos dois sentidos: homem enquanto humano e
homem enquanto do sexo masculino. Cristo é homem e se comporta como homem. As
diferenças sexuais embora sejam atributos físicos, transcendem o puramente físico e
tocam o próprio mistério da pessoa.

São Josemaria, entende que Cristo que passa, 6: “Os olhos da alma embotam-se; a
razão crê-se auto-suficiente para entender tudo, prescindindo de Deus. É uma
tentação subtil, que se apoia na dignidade da inteligência, que o nosso Pai Deus
deu ao homem para que O conheça e O ame livremente. Arrastada por essa tentação, a
inteligência humana considera-se o centro do universo, entusiasma-se de novo com o
'sereis como deuses', e enchendo-se de amor por si mesma, volta as costas ao amor
de Deus”.

O segundo relato da criação tem seu sentido ao fazer uma introdução ao capítlo 3 (a
queda). Assim, não vai relatar a origem do mundo, mas da origem do mal.

Vale ressaltar que muitas heresias surgem porque entendem a matéria como sendo má e
logo, Deus não poderia se encarnar no mau.

Porque o poligenismo não é aceito?


1- Teve algum casal que não possui o pecado original
2- Todos tem pecado original, mas isso não foi transmitido pela geração, cada um
recebeu a sua maneira
3- A palavra Adão iria se referir a um grupo de pessoas
4- Por fim, o pecado original nunca existiu

A personalidade corporativa não quer dizer que o homem individual não existiu. Quer
se referir a todo o povo também. Isso não quer dizer que Adão não existiu, mas se
usarmos a personalidade corporativa para negar a existência do homem Adão eu nego o
pecado original. O autor quer dizer que a humanidade é obra de Deus.
Poligenismo tem vários ramos (monofilético – de um tronco comum e o polifilético –
de vários troncos).
“Quanto... ao poligenismo, ...aos fiéis não é lícito abraçar uma opinião cujos
fatores ensinam que depois de Adão existiram na terra verdadeiros homens que não
tenham tido origem, por via de geração natural, do mesmo Adão, progenitor de todos
os homens, ou então que Adão representa um conjunto de muitos progenitores. Não se
vê de modo algum como estas afirmações se possam conciliar com o que as fontes da
Revelação e os atos do Magistério da Igreja nos ensinam acerca do pecado original,
que provém do pecado verdadeiramente cometido individualmente por Adão e que,
transmitido a todos por geração, é inerente a cada um como próprio” .
de sorte que negá-lo sem oferecer uma solução racional seria, ao mesmo tempo,
deturpar o sentido autêntico do depósito revelado. Em consequência, o monogenismo
vem a ser o que se chama “um fato dogmático”, isto é, uma verdade histórica,
contingente, que nunca foi definida pelo magistério da Igreja, mas que não pode ser
rejeitada sem perigo imediato de se cair em heresia. Filosoficamente, sem
considerar o magistério, a hipótese mais provável é a do monofiletismo
poligenético. O magistério abre espaço para o poligenismo desde que se adeque ao
dogma do pecado original.

nos convida, finalmente, a uma conversão ecológica "na qual os efeitos do encontro
com Jesus Cristo se tornem evidentes na relação com o mundo ao nosso redor. Viver
nossa vocação de ser protetores da obra de Deus é essencial para uma vida de
virtude; não é um aspecto opcional ou secundário da nossa experiência cristã"
( Laudato si' , n. 217).
Em suma, a Igreja está interessada na relação do homem com a natureza, assim como
está interessada em todos os aspectos da vida do homem e da sua relação com Deus:
"A natureza é a expressão de um plano de amor e de verdade. Ela nos precede e nos
foi dada a nós por Deus como esfera de vida, fala-nos do Criador (cf. Rm 1,20) e do
seu amor pela humanidade, destinada a encontrar a «plenitude» em Cristo no fim dos
tempos (cf. Efésios 1:9-10; Colossenses 1:19-20). Também, portanto, é uma
'vocação'" ( Caritas in veritate , 48). A natureza não é mais importante que o ser
humano, mas faz parte do plano de Deus e, como tal, deve ser protegida e
respeitada.

O mundo criado é, em virtude da origem, uno (contra o dualismo metafísico).


Consiste, porém, pelo menos no ser humano, na dualidade de princípios
essencialmente diferentes, o espírito e a matéria; a alma-espírito é o princípio
unificador (contra o monismo metafísico).
O ato da Criação feito por Deus revela sua bondade e força onipotente não para
aumentar sua bondade e beatitude, mas afim de manifestar a sua perfeição pelos bens
que prodigaliza.

Com o entendimento da Criação com o tempo vai contra o entendimento mitológico,


pois tais relatos colocam “os deuses” como elementos da natureza, sendo que esses
elementos são criaturas de um único Deus. Onde tais deuses existiram antes da
Criação e toda a formação do mundo deve-se a relação de deuses.

São João Crisóstomo no Sermão sobre o Gênesis, afirma: “Qual é, pois, o ser que vai
vir depois da existência, rodeado de semelhante consideração? É o homem, grande e
admirável figura vivente, mais precioso aos olhos de Deus que toda a Criação; é o
homem, para ele existem o céu e a terra e o mar e a totalidade da Criação, e Deus
deu tanta importância à sua Salvação que não poupou seu Filho de fazer todo o
possível para que o homem subisse até Ele e se sentasse à sua direita”.Missão A
capacidade ordenadora do espírito humano, suas configurações e criações culturais
não o convertem em rival do criador, mas são “sinais da grandeza de Deus e o fruto
de sua decisão insondável”. Pois o ser humano recebeu a missão.

Contudo, uma criatura pode ser objeto de uma ação para o bem ou para o mal, ou
seja, as coisas são boas em si porque foram criadas, mas podem ser usadas para o
bem ou para o mal.
Na Criação não há nada de novo, porque Deus terminou a obra da Criação, mas a sua
obra continua conservando as coisas no ser. Trabalho de sustentação, manutenção do
cosmos. Deus age de modo imediato na Criação, mas na conservação ele se serve da
ordem estabelecida. Os seres criados são contingentes na qual, chamados ao Ser, são
dependentes de Deus.
Isso vai contra a noção filosófica do Deísmo – acredita que Deus existe e criou,
mas que foi embora (comparação de Deus como relojoeiro que apenas cria e depois
abandona ao acaso). Deus só não permitiria que as coisas fossem destruídas, essa
noção leva ao desespero – estamos abandonados e jogados à nossa própria sorte –
Deus abandonou o mundo.
está em conexão com a doutrina de que Deus está imanente na sua Criação, ou seja,
presente no ser da Criação, mas ao mesmo tempo a transcende. De outro modo, não se
pode afirmar isso acontece de uma maneira total que anule a transcendência de Deus.
Como também não posso exagerar na transcendência de Deus. Assim,
O deísmo e panteísmo não são as únicas erradas, mas também aquela que acha que Deus
age na Criação de modo arbitrário, negando a coerência.

Deus é infinitamente maior do que todas as suas obras: “A vossa majestade está
acima dos céus” (Sl 8, 2), “insondável é a sua grandeza” (Sl 145, 3). Mas, porque
Ele é o Criador soberano e livre, causa primeira de tudo quanto existe, está
presente no mais íntimo das suas criaturas: “É n'Ele que vivemos, nos movemos e
existimos” (At 17, 28). Não existe nenhuma criatura que pode esconder-se diante de
Deus, mas na sua presença tudo é nu e descoberto .
Deus governa o mundo com as leis que Ele estabeleceu, ou seja, com a razão, com
coerência, de modo que toda a ação das criaturas depende de Deus. Toda a ação do
homem depende de Deus, mas ao mesmo tempo esta ação de Deus não retira a liberdade
humana.
Deus é sempre a causa primeira, existe sempre uma conjunção da causa primeira e das
causas segundas e este forma o único princípio de ação. A atividade da criatura não
torna supérflua à ação de Deus e vice-versa.

É oposto ao fatalismo, encontrado em religiões pagãs, que concebem o destino


cósmico que determina arbitrariamente o destino das ações humanas. O homem não está
à mercê das forças cósmicas, mas da força divina.

No entanto, muitos dos nossos contemporâneos parecem temer que a íntima ligação
entre a atividade humana e a religião constitua um obstáculo para a autonomia dos
homens, das sociedades ou das ciências.

Se por autonomia das realidades terrenas se entende que as coisas criadas e as


próprias sociedades têm leis e valores próprios, que o homem irá gradualmente
descobrindo, utilizando e organizando, é perfeitamente legítimo exigir tal
autonomia. Para além de ser uma exigência dos homens do nosso tempo, trata-se de
algo inteiramente de acordo com a vontade do Criador. Pois, em virtude do próprio
facto da Criação, todas as coisas possuem consistência, verdade, bondade e leis
próprias, que o homem deve respeitar, reconhecendo os métodos peculiares de cada
ciência e arte. Por esta razão, a investigação metódica em todos os campos do
saber, quando levada a cabo de um modo verdadeiramente científico e segundo as
normas morais, nunca será realmente oposta à fé, já que as realidades profanas e as
da fé têm origem no mesmo Deus.
Antes, quem se esforça com humildade e constância por perscrutar os segredos da
natureza, é, mesmo quando disso não tem consciência, como que conduzido pela mão de
Deus, o qual sustenta as coisas e as faz ser o que são. Seja permitido, por isso,
deplorar certas atitudes de espírito que não faltaram entre os mesmos cristãos, por
não reconhecerem suficientemente a legítima autonomia da ciência e que, pelas
disputas e controvérsias a que deram origem, levaram muitos espíritos a pensar que
a fé e a ciência eram incompatíveis.
Se, porém, com as palavras “autonomia das realidades temporais” se entende que as
criaturas não dependem de Deus e que o homem pode usar delas sem as ordenar ao
Criador, ninguém que acredite em Deus deixa de ver a falsidade de tais assertos.
Pois, sem o Criador, a criatura não subsiste. De resto, todos os crentes, de
qualquer religião, sempre souberam ouvir a sua voz e manifestação na linguagem das
criaturas. Antes, se se esquece Deus, a própria criatura se obscurece. Não é uma
autonomia absoluta independente da ética, da moral – isso seria uma negação de Deus
e ir contra o próprio ser humano. A fé não é para ser restringida à sacristia.

O homem deve tributar a Deus, consciente e voluntariamente, a glória que lhe


rendem, de modo objetivo e inconsciente, o resto das criaturas visíveis. A adoração
do homem a Deus supõe colocar Deus no centro da vida. O fim das criaturas livres
corresponde ao fim do Criador.
Acreditamos que Deus criou o mundo segundo a sua sabedoria. O mundo não é fruto de
uma qualquer necessidade, de um destino cego ou do acaso. Acreditamos que ele
procede da vontade livre de Deus, que quis fazer as criaturas participantes do seu
Ser, da sua sabedoria e da sua bondade”. A existência dos seres diz-nos do amor de
Deus. O homem é fruto de uma decisão providencial de Deus, que quer o melhor para
ele. A razão de fundo é esta natureza amorosa e sapiente de Deus, que, ao criar,
não está condicionada por nada.

São João Paulo II manteve a compreensão mais antiga do mandamento de Deus no livro
de Gênesis como uma justificativa para dominar o resto do mundo natural. Em
Centesimus Annus, João Paulo fez um contraste entre a ecologia natural e o que
chamou de 'ecologia humana', com a sugestão de que esta última é mais importante.
Voltarei a esta questão na segunda parte deste artigo. No entanto, São João Paulo
II fez uma contribuição muito valiosa para a Doutrina Social Católica, colocando
uma forte ênfase nas questões ecológicas. Um dos aspectos mais significativos de
seu ensino veio quando afirmou sobre a necessidade de os humanos terem uma
'conversão ecológica'.

Bento XVI estava profundamente empenhado em conscientizar sobre a urgência de


encontrar soluções para os problemas ecológicos e promover um estilo de vida
ecologicamente respeitoso. Mas, talvez ainda mais fortemente do que João Paulo II,
ele contrastou 'o ambiente humano' com o ambiente natural. Ele insistiu que há uma
ligação inseparável entre os dois, mas sustentou que o primeiro é 'mais sério' e
deve ter prioridade.

Papa Francisco dedicou uma pequena seção da Evangelii Gaudium ao tema da ecologia,
quando ele diz que “o que é frágil, como o meio ambiente, está indefeso diante dos
interesses de um mercado divinizado” . A família humana recebeu do Criador um dom
comum: a natureza. A visão cristã da Criação inclui um julgamento positivo sobre a
legitimidade das intervenções sobre a natureza se estas forem benéficas e forem
realizadas com responsabilidade, ou seja, reconhecendo a 'gramática' inscrita na
natureza e usando sabiamente os recursos em benefício de todos, com respeito pela
beleza, finalidade e utilidade de cada ser vivo e seu lugar no ecossistema.
A relação do homem com o mundo é um elemento constitutivo da identidade humana. É
uma relação que nasce como fruto da união ainda mais profunda do homem com Deus .
Deus, ao criar o homem, deu-lhe a responsabilidade de cuidar da natureza e confiou-
lhe a tarefa de contribuir para a plenitude da Criação através da sua obra (Gn
1,26-29).
Os cristãos são chamados a trabalhar pelo Reino dos Céus a partir das realidades
temporais, convictos de que quanto mais aumenta o nosso poder, maior é a nossa
responsabilidade individual e coletiva

Bento XVI também desenvolveu o tema em sua encíclica Caritas in veritate (n. 48-
52), na qual recorda que "a proteção do meio ambiente, dos recursos e do clima
exige que todos os decisores internacionais atuem em conjunto e demonstrem agir de
boa fé, em respeito à lei e em solidariedade com as regiões mais débeis do
planeta."
Recentemente, o Papa Francisco dedicou um grande esforço à promoção da consciência
ecológica, tanto por meio de sua encíclica “Laudato si”, sobre o cuidado da casa
comum, quanto por meio de inúmeras audiências e discursos. Nela, o Papa Francisco
aborda temas como as mudanças climáticas, a questão da água, a perda da
biodiversidade, a degradação social, a tecnologia, o destino comum dos bens, a
globalização, a justiça entre gerações e o diálogo entre religião e ciência. Além
disso, o Papa propõe que pensemos nos vários aspectos de uma ecologia integral, que
incorpore claramente as dimensões humana e social (cf. Laudato si' , n. 137 - 162).

Preocupado com a complexa ligação entre crise ambiental e pobreza, já que a


degradação ambiental afeta principalmente os mais desfavorecidos, o Papa destaca a
necessidade de se orientar por critérios de justiça e caridade nas esferas
ambiental, social, cultural e econômica.

Aqui o homem é definido como imagem e semelhança de Deus, sendo que “imagem”
refere-se à natureza humana (é o que foi doado por Deus sem o que o homem deixa de
ser homem - ontologia) e “semelhança”, à graça (condição sobrenatural presente no
homem, que pode ser levado à plenitude, à medida que o homem se conforma a Deus, em
termos morais).

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