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Disciplina: Medicina Legal

Professora: Luciana Gazola


Monitora: Thayná Maria

Aula: Documentos médico-legais: Pareceres, depoimento oral e declaração de óbito

DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS1: PARECERES, DEPOIMENTO ORAL E DECLARAÇÃO


DE ÓBITO

5) Pareceres: O parecer médico-legal é feito quando surgem divergências quanto a


interpretação de achados de perícia prévia. Neste caso, solicita-se um esclarecimento mais
aprofundado, segundo Hygino é uma consulta médico-legal que a autoridade pode fazer quando
tem dúvidas sobre uma perícia prévia, nomeando para tanto um perito parecerista. Como o perito
parecerista faz a perícia em um momento processual posterior, de forma indireta, sem contato
direto com os vestígios, não há como ter descrição neste documento. Portanto, a parte mais
importante do parecer é discussão e a conclusão. Lembre-se que o CPP também atribui o nome
parecer ao documento emitido pelo assistente técnico, art. 159, §5º, II.

Art. 181. No caso de inobservância de formalidades, ou no caso de omis-


sões, obscuridades ou contradições, a autoridade judiciária mandará suprir a
formalidade (consulta), complementar ou esclarecer o
do. (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)

Parágrafo único. A autoridade poderá também ordenar que se proceda a


novo exame, por outros peritos (parecerista), se julgar conveniente.

Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo,
no todo ou em parte.

São componentes do parecer segundo Croce, França, Palermo: Todas as partes já


vistas, menos a descrição. Para Hygino são quatro partes: Preâmbulo, exposição (quesitos,
motivos, etc), discussão e conclusão.
6) Depoimento oral: Declaração tomada ou não a termo em audiências de instrução e
julgamento sobre fatos obscuros ou conflitantes descritos no relatório da perícia. Oitiva durante a
AIJ, levada ou não a termo, podendo ou não responder a quesitos suplementares.

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por
perito oficial, portador de diploma de curso superior. (Redação dada pela Lei
nº 11.690, de 2008)

§ 5o Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à


perícia: (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

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Mais cobrados: Notificações, atestados, prontuários, relatórios (auto x laudo), pareceres, depoimento oral e
declaração de óbito.
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I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para respon-
derem a quesitos (suplementares), desde que o mandado de intimação e os
quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados com antecedên-
cia mínima de 10 (dez) dias (para intimar o perito e apresentar quesitos com-
plementares), podendo apresentar as respostas em laudo complemen-
tar; (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo


a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audiência. (Incluído pela
Lei nº 11.690, de 2008)

§ 6o Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de


base

7) Declaração de óbito: Documento que é a base do Sistema de Informações de


Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/MS). Possui as seguintes finalidades: Confirmar a morte,
determinar a causa médico-biológica (mecanismo biológico que diretamente causou a morte) da
morte, fornecer elementos e contribuir para a determinação judicial da causa jurídica da morte
(homicídio, suicídio ou acidente, não é o médico que determina a causa jurídica) e satisfazer
interesses de ordens civil, estatística, demográfica e de política sanitária. Preenchida em uma
sequência causal de eventos (causa básica para causa terminal de morte) pelo médico que atesta
a morte que, por sua vez, depende do tipo de morte, que está diretamente ligada à causa básica
da morte: Se for violenta ou suspeita, quem emite a DO é o médico legista do IML, se for morte
natural é o médico assistente ou o SVO (serviço de verificação de óbitos).

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Disciplina: Medicina Legal
Professora: Luciana Gazola
Monitora: Thayná Maria

Aula: Documentos médico-legais: Prontuários e relatórios

DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS1: PRONTUÁRIOS E RELATÓRIOS

3) Prontuários: Conjunto de documentos padronizados e ordenados onde são registrados


todos os cuidados profissionais prestados ao paciente em instituições de saúde ou consultórios.
Essas informações também são sigilosas, então apenas pessoas obrigadas ao sigilo profissional
podem ter acesso e manuseio. O prontuário pertence ao paciente, sendo o hospital/clínica e
semelhantes apenas seu depositário. Desta forma, se o paciente precisar das informações pode
solicitar cópias, até porque, mesmo após a alta o estabelecimento médico continuará tendo o
dever de guarda, a saber:

É VEDADO ao médico:

Art. 89 da Resolução 2217/18 (CEM): Liberar cópias do prontuário sob sua


guarda exceto para atender a ordem judicial ou para sua própria defesa, assim
como quando autorizado por escrito pelo paciente.

§ 1º Quando requisitado judicialmente, o prontuário será encaminhado ao


juízo requisitante.

Antes a redação era a seguinte: “ao perito médico nomeado pelo juiz”. Atualmente,
será encaminhado para ao juízo requisitante. Mas e o delegado, com fica? O CFM emitiu
o Despacho nº 315/15 usando como base a previsão do art. 2º, §2º da Lei 12.830/13 para ratificar
a impossibilidade de entrega do prontuário em razão do sigilo profissional. Os delegados usam em
sua defesa2 a lei federal (12.850/12) e o CFM, apesar de reconhecer que uma lei federal tem mais
força normativa que uma resolução, persiste no argumento de que o sigilo é um direito constituci-
onal e que se o delegado quiser acessar essas informações deve pedir autorização ao paciente
ou requisitar judicialmente, pois paira sobre esta questão uma reserva absoluta de jurisdição.
Atenção: A prova de Medicina Legal vai cobrar o posicionamento médico e não jurídico
sobre o tema, não erre por bobeira!

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Mais cobrados: Notificações, atestados, prontuários, relatórios (auto x laudo), pareceres, depoimento oral e
declaração de óbito.
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O enunciado 13 do II Encontro Nacional de Delegados de Polícia sobre o Aperfeiçoamento da Democracia e dos
Direitos Humanos diz que “o poder requisitório do delegado de polícia abarca o prontuário médico que interesse à
investigação policial, não estado albergado por cláusula de reserva de jurisdição, sendo dever do médico ou gestor de
saúde atender à ordem no prazo fixado, sob pena de responsabilização criminal.
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§ 2º Quando o prontuário for apresentado em sua própria defesa, o médico
deverá solicitar que seja observado o sigilo profissional.

É vedado ao médico:

Art. 90 Deixar de fornecer cópia do prontuário médico de seu paciente


quando de sua requisição pelos Conselhos Regionais de Medicina.

O médico não pode negar nem para os fiscais dos Conselhos e nem para outro médico,
pois ele também tem dever de sigilo e não configura quebra.
De acordo com o CFM, em que situações pode o médico entregar cópias do
prontuário? Para atender a ordem judicial, para sua própria defesa, quando autorizado por
escrito pelo paciente e para atender requisição do CRM.
4) Relatórios: Descrição minuciosa de uma perícia médica a fim de responder a
autoridade policial ou judiciária. Temos dois tipos de relatório, o laudo (redigido pelo perito depois
de finalizada a perícia) e o auto (as informações são ditadas ao escrivão de polícia durante a
realização do exame. Ex: Exame de exumação). São componentes de um relatório: Preâmbulo
(parte introdutória, onde consta a identificação do perito e das partes), quesitos (podem ser
obrigatórios, como os quesitos oficiais ou suplementares, quando formulados pelas partes,
autoridades), histórico3 (ou comemorativo, é a entrevista médico-legal – anamnese -, é o relato
do paciente, do periciando ou dos familiares), descrição (visum in repertum, descrição
minuciosa de todas as lesões observadas)4, discussão (debate, informação adicional, discussões
doutrinárias), conclusão (síntese diagnóstica), resposta aos quesitos (sempre de forma objetiva).

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Não gera responsabilidade para o perito se as informações não forem verídicas, pois é relato de paciente/familiares.
4
É o componente mais importante do relatório e serve para diferenciar o relatório do parecer.
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Professora: Luciana Gazola
Monitora: Thayná Maria

Aula: Documentos médico-legais: Notificações e atestados

DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS1: NOTIFICAÇÕES E ATESTADOS

O que são? Qualquer documento produzido na atividade médica que tenha relevância
jurídica, de forma ampla.
1) Notificações: Comunicação obrigatória feita pelos médicos competentes às autoridades
competentes acerca de determinado fato2 profissional. Ex: Doenças infectocontagiosas (COVID-
19, sarampo, tuberculose, síndrome respiratória aguda grave), doenças/acidentes do trabalho,
morte encefálica, indícios ou confirmação de violência contra a mulher (Lei 13.931/19 – Neste
caso o médico deve notificar a autoridade policial no prazo de 24 horas).
O art. 73 do CEM – Código de Ética Médica traz as possibilidades em que o médico pode
“quebrar” o sigilo profissional sem que esta conduta configure ato ilícito, vejamos:
a) Se houver consentimento por escrito do paciente;
b) Se houver justa causa (motivo justo);
c) Se houver dever legal. O art. 269 do CP, que traz o crime de omissão de notificação de
doença, ilustra muito bem a questão do dever legal do médico.
Ainda com relação ao sigilo médico, devemos nos atentar à recém-editada Lei nº
14.289/22, que torna obrigatória a preservação do sigilo sobre a condição de pessoa que vive com
infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), das hepatites crônicas (HBV e HCV), de
pessoa com hanseníase e com tuberculose, entre outros casos, a saber:

Art. 2º É vedada a divulgação, pelos agentes públicos ou privados, de in-


formações que permitam a identificação da condição de pessoa que vive com in-
fecção pelos vírus da imunodeficiência humana (HIV) e das hepatites crônicas
(HBV e HCV) e de pessoa com hanseníase e com tuberculose, nos seguintes
âmbitos:

I - serviços de saúde;

II - estabelecimentos de ensino;

III - locais de trabalho;

IV - administração pública;

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Mais cobrados: Notificações, atestados, prontuários, relatórios (auto x laudo), pareceres, depoimento oral e
declaração de óbito.
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Não só doenças. Agressão contra a mulher, por exemplo, deve ser comunicada.
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V - segurança pública;

VI - processos judiciais;

VII - mídia escrita e audiovisual.

Art. 2º, Parágrafo único. O sigilo profissional sobre a condição de pessoa


que vive com infecção pelos vírus da imunodeficiência humana (HIV) e das hepati-
tes crônicas (HBV e HCV) e de pessoa com hanseníase e com tuberculose so-
mente poderá ser quebrado nos casos determinados por lei, por justa causa
ou por autorização expressa da pessoa acometida ou, quando se tratar de
criança, de seu responsável legal, mediante assinatura de termo de consenti-
mento informado, observado o disposto no art. 11 da Lei nº 13.709, de 14 de agos-
to de 2018 (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais - LGPD).

Apenas para deixar claro, a notificação das patologias continua sendo compulsória, o que
não vai acontecer é a revelação do acometido para pessoas que não as destinatárias oficiais,
como autoridades sanitárias, por exemplo.

Art. 5º Nos inquéritos ou nos processos judiciais que tenham como parte
pessoa que vive com infecção pelos vírus da imunodeficiência humana (HIV) e
das hepatites crônicas (HBV e HCV) e pessoa com hanseníase e com tuberculo-
se, devem ser providos os meios necessários para garantir o sigilo da informação
sobre essa condição.

O descumprimento das normas acarreta em sanções previstas na Lei Geral de Proteção


de Dados e indenização cível.
2) Atestados/certificados médicos: Documento particular de declaração pura e simples
de um fato médico verídico e suas possíveis consequências, normalmente feito a pedido do
paciente ou responsáveis. Qualquer médico pode elaborar. Os atestados podem ser classificados
de acordo com sua finalidade e de acordo com seu conteúdo.
De acordo com a finalidade, o atestado será administrativo quando servir ao interesse do
serviço ou servidor público, será judiciário quando for feito por solicitação da administração da
justiça e o atestado oficioso é aquele dado por requerimento do particular. Quando ao conteúdo,
o atestado idôneo é aquele correto, honesto. O atestado gracioso é o complacente ou “de favor”, é
antiético. O atestado imprudente é aquele feito de forma negligente, apressada, sem, por
exemplo, fazer o exame clínico do paciente. O atestado falso é o atestado objeto de crime doloso
contra a fé pública, com ciência do médico, vide art. 302 do CP3. É crime próprio quanto ao sujeito
ativo. Trata-se de uma falsidade de teor ideológico, pois o conteúdo é falso. Caso o médico seja
funcionário público, configura-se o crime do art. 301 do CP, também doloso. A pessoa que fizer
uso do atestado falso comete crime de uso de documento falso.
Pode haver revelação do diagnóstico do paciente no atestado? Seja na forma
codificada ou expressa só pode constar se o paciente autorizar.

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Se tiver uma finalidade lucrativa, aplicar-se-á a pena de multa além da de detenção. É um crime próprio.
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