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Moçambique
Moçambique
Apresentação: o País
Introdução
1. Estratégias de Desenvolvimento do país nos campos político, económico
e social
1.1. O legado colonial
1.2. Transição e consolidação da independência nacional (1974-1977)
1.3. A construção do socialismo (1977-1983/4)
1.4. A abertura da economia e para uma transição política (1984-1992)
1.5. Reconstruindo uma nova sociedade (1992-1999)
2. Produção do conhecimento científico: as ciências sociais
Notas
Bibliografia
Apresentação: o País
País: Moçambique situa-se na zona austral e na costa oriental de África. Com uma
supefície de 799.380 quilómetros quadrados, faz fronteira a norte com a Tanzania, a
ocidente com o Malawi, Zambia, Zimbabwe e África do Sul, e a Sul com a
Swazilandia e a África do Sul. A sua faixa costeira, na zona este do território, é
banhada pelo oceano Indico, numa extensão de 2.515 quilómetros.
INTRODUÇÃO
Com este perfil, pretendemos apresentar um resumo informativo sobre a evolução dos
acontecimentos políticos, económicos e sociais em Moçambique, no período pós-
independência, e os desenvolvimentos no campo científico, particularmente nas
Ciências Sociais, que acompanharam estes processos.
Existe hoje uma extensa bibliografia em Português e em Inglês (1) sobre o assunto
que estamos a tratar, utilizando periodizações semelhantes, ou mais ou menos
diferenciadas, o que reflecte também diferentes orientações e interpretações dos
impactos dos diversos acontecimentos internos ou externos, sobre o desenvolvimento
do país. Com este conjunto de informações, cuja análise resulta do trabalho sobre
fontes secundárias e não sobre dados empíricos provenientes do nosso trabalho de
pesquisa, pretendemos apenas trazer a vosso conhecimento alguns pontos que
consideramos importantes para contextualizar o desenvolvimento da pesquisa em
Moçambique, no âmbito do projecto ‘Reinventing Social Emancipation: exploring the
possibilities of counter-hegemonic globalization’, do qual todos nós fazemos parte.
Muito embora o nosso enfoque se concentre num passado mais recente, começaremos
a nossa apresentação por introduzir o período colonial, uma forma de introduzir os
problemas de transição do colonialismo para a independência.
i)1885-1926: com uma economia dominada por grandes plantações exploradas por
companhias majestásticas não portuguesas onde se praticava a monocultura de
produtos de exportação (sisal, açucar e copra), no centro e norte do país, com base em
mão de obra barata. As companhias, por sua vez, também controlavam o mercado da
venda de força de trabalho para países como a Rodésia, Malawi (Niassalândia),
Tanganhica, Congo Belga e em alguns casos a África do Sul (WUYTS, 1980:12-13). No
sul, predominava a exportação de mão de obra para alimentar o capital mineiro da
África do Sul. Os acordos assinados entre Portugal e a África do Sul para a exportação
da mão-de-obra, traziam rendimentos específicos ao Estado colonial, quer através de
impostos, quer da utilização dos caminhos de ferro que ligavam o porto de Lourenço
Marques à África do Sul, quer ainda através da utilização do próprio porto, para o
trânsito de mercadorias;
A reacção à dominação colonial havia sido marcada por vários tipos de contestação,
através da literatura, arte e greves de trabalhadores, movimentos esses que assumiram
aspectos mais radicais com o desenvolvimento dos movimentos nacionalistas em
finais da década de 50 e inícios da década de 60. Nos anos 60, a FRELIMO, Frente de
Libertação de Moçambique, fundada no exílio, inicia a luta armada de libertação
nacional (1964), que só veio a culminar 10 anos depois.
O hiato provocado pela saída massiva dos portugueses que haviam preenchido a maior
parte dos lugares do quadro da administração e do aparelho económico, depois da
proclamação da independência nacional, teve que ser preenchido e assumido pela
FRELIMO. As mudanças operadas em Moçambique pelo sistema de administração
portuguesa em finais do período colonial, não foram suficientemente abrangentes de
molde a criarem uma élite negra educada. Na altura da independência, Moçambique
tinha uma população com um percentagem de 90% de analfabetos, um número
reduzido de técnicos e pessoas com formação superior. No geral, havia poucas
pessoas preparadas para preencherem os lugares abruptamente deixados pelos
portugueses. É importante registar que o êxodo de portugueses e de alguns indianos
neste período entre a transição e o pós-independência, foi acompanhado por uma
‘sabotagem’ da economia de Moçambique, que pode ser caracterizada pelo
esvaziamento das contas bancárias, fraudes na importação de mercadorias e
exportações ilegais de bens (carros, tractores, maquinaria,etc). Na mesma altura,
empresas e bancos portugueses procederam ao repatriamento do activo e dos saldos
existentes, criando assim um rombo na economia de Moçambique
Duas das grandes áreas de investimento na área social, foram a saúde e a educação.
Na educação, tentando contrariar as políticas coloniais, criam-se condições para a
entrada massiva de crianças nas escolas primárias, e priorizaram-se estratégias para
diminuir rapidamente os índices de analfabetismo e promover a educação de adultos.
Na área da saúde, criaram-se programas de saúde rural, tentando assim estender a rede
sanitária a todo o país e previlegiando a medicina preventiva. Uma leitura pelos dados
estatísticos sobre as áreas sociais, mostra-nos que em 7 anos o número de ingressos
nas escolas primárias duplicou e que no mesmo período, quadriplicou o número
de postos sanitários. No seu processo de intervenção, com vista à massificação dos
serviços sociais, o Estado procede à nacionalização da saúde, da educação, da
habitação e dos serviços de advocacia privada (1975), e mais tarde a outras
intervenções no campo económico.
Como diz Hanlon (1997), desde os anos 60, quando a FRELIMO iniciou a guerra,
pairava sobre ela a nuvem da guerra fria, com os Estados Unidos e a NATO ao lado
de Portugal, o que levou este movimento a aliar-se à União Soviética e à China. Nos
anos 70, o abrandamento da guerra fria trouxe novas esperanças à África Austral, e o
debate sobre a Nova Ordem Internacional havia mesmo criado ao ‘terceiro mundo’ a
esperança de acesso ao ‘financiamento internacional para os seus programas de
modernização’(4) . Em Moçambique, o novo governo tentava introduzir uma política
de desenvolvimento socialista. Depois da independência do Zimbabwe em 1980, os
regimes de maioria formaram a SADCC (hoje SADC), Conferência para a
Coordenação do Desenvolvimento da África Austral. Logo a seguir, com Reagan nos
Estados Unidos e Tacher na Grã-Bretanha, há um ‘volt-face’, e a guerra fria explode
de novo, com consequências no Afeganistão, Camboja, El Salvador, Angola e
Moçambique (NEWITT, 1997). O governo de Moçambique foi rotulado como comunista,
e entrou na ‘lista negra’ dos Estados Unidos da América, que em consequência disso
apoiou indirectamente e encorajou a guerra de desestabilização contra Moçambique,
através da África do Sul. A guerra que durou até aos anos 90 teve prejuízos
inestimáveis (HANLON, 1997: 14.):
das 5886 escolas do ensino primário do primeiro grau, 3498 (60%) foram
encerradas ou destruídas; na Zambézia, só 12% continuaram a funcionar até
ao fim da guerra;
A componente externa de apoio a esta guerra, se bem que não possa ser ignorada,
reflecte apenas uma parte das razões que levaram à sua manutenção. É também
necessário tomar em linha de conta os problemas internos do país e as políticas e
estratégias utilizadas pela FRELIMO como resposta à crise existente, que marcaram
um distanciamento entre o governo e a população, criando um descontentamento que
ajudou a alimentar o conflito armado.
A reestruturação radical da economia, através do modelo de economia centralmente
planificada pelo Estado, estava longe de solucionar os problemas advenientes da
tentativa de suprir a crise económica resultante da destruição da economia colonial (5)
e mostrou ser a menos adequada para a solução dos problemas económicos e sociais
existentes no país. As medidas económicas preconizadas pelo Estado, tinham
marginalizado os camponeses familiares a favor do desenvolvimento de uma
agricultura mecanizada, destruindo assim o sistema que havia garantido a maior parte
da produção para consumo interno e uma parte da produção para exportação deste
país. Era pois necessário repensar a estratégia e avaliar o papel a desempenhar pelo
Estado na gestão da economia (ADAM, 1997: 6-7).
Os estudos universitários foram apenas introduzidos nos anos 60, com a criação de
uma escola superior. Os cursos de Ciências Sociais e Humanas, estavam restringidos
apenas a algumas disciplinas, onde não havia lugar para estudos relativos à
Sociologia, à Antropologia e às Ciências Políticas. A táctica de ‘dividir para reinar’
que tão bem caracterizou vários processos de colonização no mundo, foi também
aplicada pelo governo colonial no direccionamento da produção intelectual em
Ciências Sociais, como o atestam as formas como o regime manipulou a produção
científica nos campos da História e da Antropologia.
NOTAS
BIBLIOGRAFIA