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02 arte SÁBADO/DOMINGO, 14 e 15 de julho de 2018 FolhadePernambuco FolhadePernambuco SÁBADO/DOMINGO, 14 e 15 de julho de 2018 arte 03

HENRIQUE GENECY/ARQUIVO FOLHA


O governo federal, um dos maiores compradores de livros no Brasil, cancelou ou reduziu a aquisição desde 2014

Além do

HENRIQUE GENECY/ARQUIVO FOLHA


baixo poder
aquisitivo, as
pessoas não têm
Para fomentar novos leitores
Meta de quem atua soas em seus momentos de lazer. Primei- civil e o governo estadual”, conta o em-
onde comprar no mercado livreiro
ro vem assistir à televisão, navegar na in-
ternet, ouvir música... ou seja, o livro no
presário Rogério Robalinho, coordenador
da Bienal do Livro de Pernambuco. “Es-


á uma semana, o Recife tomou to em que o Brasil estava experimentando
livros” Brasil realmente não é um produto de pri- tamos nos reunindo há quase dois anos

Em fase de H
um susto: foi anunciado o fecha- um crescimento extraordinário, onde sur- é conseguir reverter meira necessidade”, critica. para criar um Plano Estadual de Fomento
mento da filial da Livraria Cultura giam fenômenos que vendiam mais de um LUIS ANTONIO TORELLI, a curva de leitura Enquanto estudiosos do segmento dis- ao Livro, à Leitura, à Literatura e às Bi-
do Shopping Paço Alfândega, no milhão de exemplares. Nós éramos a vedete presidente da Câmara Brasileira do Livro cutem a disputa de espaço entre as livra- bliotecas, que deverá ser enviado à As-
Bairro do Recife. Era mais uma do mercado internacional. Todos queriam nacional e rias físicas e as plataformas online, os se- sembleia Legislativa até outubro. Será
dentre as várias livrarias que en- vender para o Brasil. Aí, houve uma apos- tores que produzem e comercializam as um planejamento para o setor, buscando
cerraram suas atividades na cida- ta adicional. Já que o mercado estava au- implementar ações obras estão mais preocupados com uma um modelo de Estado e não de governo,
de, nos últimos anos. Mas não era mentando, a indústria de varejo, ou seja, as crise que vai além do varejo. O governo fe- para estimular a leitura e buscar educação
uma livraria qualquer. Pelo seu livrarias, tomaram decisões de expansão. A
que deem suporte deral, que é um dos maiores compradores de qualidade”, adianta.
porte e localização, aquela unidade da Cul- rede Saraiva comprou a Siciliano, a maior da ao segmento de livros no país, cancelou ou reduziu a Em nível federal, um projeto de lei da se-
tura havia desenvolvido laços afetivos com época. E a Cultura, que vinha crescendo aquisição das unidades que deveriam nadora potiguar Fátima Bezerra (PT) que
seus (muitos) frequentadores, ao longo de num ritmo orgânico, mais contido, come- tualmente, existem cerca de 1.400 abastecer bibliotecas em todo o território estabelece a criação da Política Nacional

A
mudanças
seus 14 anos de funcionamento. A notícia çou a abrir uma quantidade maior de lojas”. livrarias no Brasil. “Na verdade, o nacional. “Nossas bibliotecas estão suca- do Livro e da Escrita aguarda sanção do
gerou uma série de postagens nas redes so- Do ano passado para cá, a Cultura também número deve ser menor, pois não teadas, pois desde 2014 o governo não presidente Temer, após ter sido aprovado
ciais, de gente como o escritor paraibano tem procurado outros nichos de inserção, foi atualizado e muitas empresas cumpre essa obrigação prevista na Cons- no Congresso Nacional. “A gente espera
André Aguiar, que por muito tempo junta- tendo adquirido a operação brasileira da estão fechando”, lamenta o presi- tituição”, denuncia. “É uma situação mui- que isso aconteça até o dia 20 de julho,
va dinheiro para vir de João Pessoa até o Re- multinacional francesa Fnac e o conglo- dente da Câmara Brasileira do Li- to difícil. Há muita dificuldade para ler. porque ele tem prazo constitucional para
cife, de ônibus, apenas para passar o dia vas- merado online de sebos Estante Virtual. vro (CBL), Luis Antonio Torelli. Além do baixo poder aquisitivo, as pessoas analisar o projeto. A frustração é grande,
culhando a livraria, em busca de tesouros O problema, prossegue Veiga Pereira, é Para ele, o mais preocupante é que não têm onde comprar livros e não en- porque a cada governo, muda ministro,
escondidos nas prateleiras. “Fiquei choca- que esta década tem sido “muito sofrida” a maioria se concentra no eixo Rio-São contram uma biblioteca que os disponi- muda secretário e tudo que vinha sendo
do. Estou me sentindo órfão”, resume ele, para o mercado do livro. “Talvez, pensan- Paulo. “Quando se reclama que o brasileiro bilize”, pontua. A meta de quem atua no trabalhado vai por água abaixo. A lei visa
para quem a vivência de frequentar o espaço do retrospectivamente, isso tenha aconte- não tem o hábito de ler, a gente se depa- mercado livreiro é conseguir reverter a instituir uma política permanente de pro-
era salutar. “A gente não vinha apenas cido um pouco em função do surgimento de ra com o paradoxo do biscoito Tostines. curva de leitura nacional e implementar moção e universalização do direito de
comprar, tinha uma relação de investigar, novas mídias sociais e formas de entrete- Será que não temos leitores porque faltam ações que deem suporte ao setor. Isso in- acesso ao livro, obrigando o governo a rea-
de socializar, tomar um café com um ami- nimento. O fato é que a partir de 2014, quan- pontos de venda? Ou não temos mais li- clui projetos de lei, que estão sendo pro- lizar uma série de ações”, adianta Torelli.
go. Posso parecer idealista, mas esse tipo de do a crise econômica se intensificou, mes- vrarias por conta da ausência de leitores?”, postos em nível estadual e federal. “Na formação do brasileiro como povo,
MARIANA MESQUITA
troca não acontece quando você compra mo as livrarias de grande porte estão che- indaga ele, lembrando que na última pes- “O mercado editorial livreiro tem elos da nunca esteve incutido o compromisso
nessa coisa fria dos sites de internet”, critica. gando à conclusão de que só dá para man- quisa realizada pela CBL foi constatado cadeia produtiva que precisam ser de- com a busca pelo conhecimento. É preci-
Em meio à crise econômica, o mercado livreiro vem precisando A Livraria Cultura não quis se pronunciar ter as lojas que sejam rentáveis. Creio que que 40% dos entrevistados jamais tinha senvolvidos, e nesse sentido, aqui em so fomentar o crescimento de leitores e de
se adaptar no Brasil, onde os hábitos de consumo estão sobre sua decisão, mas há versões de que a foi isso que aconteceu com a filial da Cultura comprado um livro. “A leitura está em dé- Pernambuco, estamos integrando um nú- uma geração de novos conteudistas”, fi-
rede, além de sofrer com a crise nacional, no Recife. É algo que lamento e espero que cimo lugar no ranking da escolha das pes- cleo executivo que congrega a sociedade naliza Robalinho.
mudando. Livrarias pequenas e grandes vêm fechando suas perdeu muito com a queda nas vendas de seja possível reverter”, afirma. O crescen- Na formação do
portas, e o setor editorial encolheu 21% entre 2006 e 2017, CDs e DVDs, produtos que correspondiam te anúncio de fechamento de unidades de
embora venha mostrando sinais de recuperação nos últimos a cerca de 40% de seu faturamento. Além livrarias como a Saraiva (que em 2017 fechou brasileiro como ARTHUR DE SOUZA/ARQ. FOLHA
disso, está mergulhada num problema que pelo menos 13 lojas) e da própria Cultura
meses. Por outro lado, a dimensão de nosso país leva alguns atinge nosso mercado livreiro em geral. “O (que enxugou a rede em todo o país, cor- povo, nunca
sistema todo está passando por uma crise, tando espaços da Cultura em Brasília e São
otimistas a continuar investindo no setor, que tem espaço para
crescer tanto entre os livros de papel, como na oferta de
que vai das inovações tecnológicas que
substituem o livro impresso ao modelo de
Paulo e da Fnac em Porto Alegre, Belo Ho-
rizonte e Rio de Janeiro, entre outras cida-
esteve incutido LIVRARIA CULTURA
produtos digitais. Nesta série, que a Folha de Pernambuco vai negócio de distribuição desses livros”, des-
creve o publicitário e escritor José Nivaldo
des) atemoriza quem vive de livros. “Se você
juntar essas duas redes, que são as maiores
o compromisso FECHOU UNIDADE DO
publicar neste e nos próximos dois fins de semana, um pouco Júnior, para quem o problema se intensifi-
ca no Brasil, por conta da fragilidade do se-
em extensão física, vai ver que para algumas
editoras as vendas realizadas nelas corres-
com a busca pelo PAÇO ALFÂNDEGA, NO
mais sobre os rumos do livro no Brasil, ao tratar de um setor tor em nível nacional. pondem a 50% do faturamento. Com a re-
que congrega a fantasia do leitor e a construção de O presidente do Sindicato Nacional dos tração desse espaço, o impacto é danoso conhecimento” BAIRRO DO RECIFE,
ROGÉRIO ROBALINHO,
Editores de Livros (Snel), Marcos da Veiga para o setor como um todo”, aponta Luis
conhecimento. Na próxima edição, falaremos sobre os rumos DEPOIS DE 14 ANOS
Pereira, concorda e explica: “se voltarmos Antonio Torelli, presidente da Câmara Bra- coord. da Bienal do Livro de Pernambuco
do mercado digital e seu impacto sobre o livro impresso. dez anos no tempo, veremos um momen- sileira do Livro (CBL).
02 arte SÁBADO/DOMINGO, 21 e 22 de julho de 2018 FolhadePernambuco FolhadePernambuco SÁBADO/DOMINGO, 21 e 22 de julho de 2018 arte 03
O setor de

FOTOS: ANDERSON STEVENS/FOLHA DE PERNAMBUCO


O faturamento e-books de
total com obras gerais
conteúdo digital vendeu cerca de
equivale a apenas
MARIANA MESQUITA

Os profetas do Apocalipse decretam 1,09% 2,4


milhões
de unidades
do mercado em 2016
o fim do livro de papel: gente como EDITORIAL
BRASILEIRO FATURANDO
os filósofos Walter Benjamin, nos
anos 1920, e Marshall McLuhan, na
R$ 24
década de 1960, já anteviam o
declínio do suporte. Mas isso é algo
que está longe de acontecer. Um
58%
obras gerais
milhões
aproximadamente

que correspondem
formato alimenta o outro, e durante a maior fatia
do mercado digital
o boom que o livro digital teve, há
uma década, as vendas dos livros
impressos também subiram. Neste 24%
científicos,
Alexandre Albuquerque, da Pluri, é entusiasta do formato virtual Eduarda Fernandes lê um livro online por semana

momento em que o mercado


técnicos e
R$ 10

Uma questão cultural


livreiro enfrenta uma retração, as profissionais
É o preço
obras em formato eletrônico médio de um
e-book geral
também sofrem. No Brasil, é apenas
1,9% do total de vendas. Isso, porém,
não desencoraja aqueles que sabem
13%são pelos
religiosos
R$ 36
É o preço médio
que o suporte é economicamente de um livro
científico,
viável e deve revolucionar o consumo Migrar para o livro digital é uma tendência sem volta, marcada pela sedução dos recursos técnico e
profissional
e a distribuição de livros. Nesta multimídias. Mas troca de hábitos parece estar demorando mais do que previsto
edição, a segunda parte da série
e engana quem acha que o livro di- “Nossa ideia é olhar para o livro do futu- eliminação dos custos de distribuição e es- diagramação e codificação para todos os apa-

S
Livro digital corresponde
sobre o livro no Brasil. Na próxima gital é novidade: ele foi criado em ro. Se a gente conceber o livro eletrônico toque e menor impacto ecológico. Ele refuta relhos e dispositivos de leitura”, resume.
a apenas 1,9% das vendas reportagem, os sebos e caminhos das 1971, quando o americano Michael como uma cópia do livro impresso, vai per- a ideia da dificuldade de manuseio dos apa- Fabiola acredita que não adianta analisar o
no Brasil Hart montou a primeira biblioteca di- der muito da potencialidade que tem. É relhos leitores. “Algumas pessoas alegam fa- mercado do livro digital pelas vendas. “O li-
pequenas livrarias para sobreviver. gital do mundo, o Projeto Guten- preciso transformá-lo em algo mais intera- diga ocular, mas ela é mais cultural que efe- vro impresso já vende pouco no Brasil, e o e-
ARTHUR DE SOUZA/ARQUIVO FOLHA berg. Em quase cinco décadas, o pro- tivo, com vídeos, fotos, áudios e links”, afir- tiva. Minha mãe, Regina, tinha mais de 80 book ainda menos. Mas, para avaliar o uso e
cesso de inserção desse novo forma- ma. Alexandre diz que, através da platafor- anos quando ganhou um Kindle. Ela adora- a leitura de e-books, a principal variável deve
to no mercado passou por momentos ma, as próprias editoras podem enriquecer va o fato de poder ampliar as letras”, lembra. ser o público. Com um e-book certificado,

795
Estímulo em conjunto
e adaptações, mas ainda não alcançou o pa- seus arquivos originais, e depois criptogra- Outra empresa recifense de livros digitais é você atinge pessoas a quem nunca imaginou
tamar que seus defensores pretendem. “É far e colocar à venda. “Esses materiais são a Paradoxum, editora que foca em e-books. “O chegar. E vai ler em qualquer lugar, sincroni-
uma questão cultural, e por isso está levan- formatados para qualquer ambiente, como objetivo da gente é facilitar a vida, tanto zado com o celular, computador. O brasilei-
editoras
do mais tempo do que a gente imaginava”, e-book, Android ou IOS”, descreve. para autores novos como aqueles que já estão ro não lê, e infelizmente não há nenhuma no-
consultadas conta o engenheiro eletrônico Alexandre Al- O empresário vê o setor didático como um no mercado”, descreve a gerente-executiva vidade nisso. Só que, dentro do universo
e apenas
buquerque, diretor e proprietário da Pluri Edu- filão interessante a ser explorado, pois no Fabiola Blah. O e-book certificado é “de ver- dos brasileiros que leem, a migração para o di-
cacional, empresa do Recife que atende a edi- caso dos livros digitais de literatura há me- dade”, ou seja, não se trata de um arquivo que gital caminha a passos rápidos. Quem migra
toras de todo o Brasil (como a FTD, a Moder- nos o que agregar à obra. “A única vantagem, foi “transcrito” ou “exportado” do papel. para a leitura digital, não volta mais. Então, é

294
produzem e
comercializam
na e a Somos - que congrega a Saraiva, a Áti-
ca e a Scipione, entre outras) e oferece uma
plataforma de produção de material digital.
nesse caso, é não acumular vários livros
numa estante. Num tablet, cabem mais de
mil obras”, destaca. Ele cita vantagens como
“Segue todas as normatizações técnicas in-
ternacionais, com direitos autorais e sistema
de proteção contra cópias não-autorizadas,
um processo que demora e que ainda está em
expansão, mas é que tem uma sobrevida
imensa, um público enorme a abraçar”.

LIVROS ARTHUR DE SOUZA/ARQUIVO FOLHA


eitora voraz, a jornalista uma obra por dia, optar pelo formato to é mais barato, o armazenamento é um “teto” para consumo desse tipo de

L
DIGITAIS Eduarda Fernandes sempre foi libertador. “Na Amazon, existe um mais compacto, o aparelho é leve e fá- obra. Mesmo nos EUA, onde o livro di-
gostou do cheirinho de livro
novo. Sua transição para o meio
digital se deu aos poucos. Pri-
meiro, aderiu às compras onli-
sistema de assinatura, o Kindle Unli-
mited. Compro por R$ 3 ou 4 um livro
que, se fosse na forma impressa, cus-
taria R$ 30”, exemplifica.
cil de carregar e ainda é possível ajus-
tar detalhes, como o tamanho da letra
e cor do fundo do texto. “Morria de
medo, mas hoje meu consumo está
gital mais se popularizou, não se con-
seguiu superar um patamar de 15% do
mercado. No Brasil, o Censo do Livro
Digital - pesquisa em conjunto da
O livro como chamariz para as vendas
ne, virando freguesa da Estan- Este é um dos motivos que explica o sendo 100% digital”, afirma. Ela admite Snel, Câmara Brasileira do Livro (CBL) Enquanto as vendas do livro digital ainda EUA”, destaca o presidente da Câmara Bra- compra, mas prejudicam o mercado. Os pe-
te Virtual, conglomerado de fato de que as pessoas passaram a ler que o formato só é interessante para e Fundação Instituto de Pesquisas se consolidam, o consumo online se destaca, sileira do Livro (CBL), Luis Antonio Torelli. quenos livreiros de outros países contam com
Fonte:
sebos de todo o Brasil. Em no- mais, nos países em que o livro digital quem lê muito. “Se é um leitor espo- Econômicas (Fipe) - mostrou que me- para os impressos e e-books. “Acho que o Segundo ele, os dados sobre venda à dis- a proteção do governo, na França, Alemanha,
Censo do Livro
vembro passado, durante uma tem inserção. Pesquisa de 2016 da Pew rádico, melhor não gastar com um nos da metade das editoras entrevis- mundo todo caminha para o ambiente vir- tância de livros não são precisos no país, por- Itália, Portugal e Espanha. “Eles protegem o
Digital 2016 promoção, comprou um kindle (dis- Research Center, nos EUA, diz que a aparelho caro”, adverte. tadas está investindo no segmento, e tual. É algo que afeta o varejo inteiro”, diz o que a Amazon, a maior plataforma de vendas, varejista, impedindo uma distorção que
Fundação Instituto de positivo eletrônico de leitura de textos maioria dos norte-americanos prefere O perfil de Eduarda é o que Marcos que o livro impresso ainda é respon- presidente do Sindicato Nacional dos Edito- tem a prática internacional de não divulgar acontece no Brasil. Lá, é proibido vender lan-
Pesquisas Econômicas lançado pela Amazon em 2007). De lá os livros impressos, mas que os leito- Pereira da Veiga, presidente do Sin- sável por 98,91% das vendas. O for- res de Livros (Snel), Marcos Pereira da Veiga. seus números. Apesar disso, ele acredita çamentos com descontos abusivos. Aqui, as
(Fipe) para cá, baixou mais de 400 obras e já res de e-books tendem a consumir dicato Nacional dos Editores de Livros mato digital chegou ao Brasil em “É bastante prático comprar online, mas a loja que as vendas pela internet, apesar de terem grandes redes oferecem percentuais que sig-
Câmara Brasileira
do Livro (CBL)
leu 80. “Em dois meses, já tinha pago mais obras do que aqueles que limitam (Snel) e da editora Sextante, vê nos li- 2009, mas teve suas vendas ampliadas física ainda é muito importante. Um dado cu- crescido, ainda são inferiores às da venda em nificam que não vão ter nenhum lucro ou,
Sindicato Nacional o valor do aparelho, que custou cerca sua leitura aos livros de papel: 24 títu- vros digitais. “Só funciona para leito- em 2012, após a entrada de grandes rioso e significativo é que a Amazon, a maior pontos físicos, que em 2017 tiveram um vo- até, prejuízo, oferecendo o livro como um
dos Editores de de R$ 350”, comemora Eduarda. Para los por ano, contra 15 consumidos pe- res assíduos”, frisa. Segundo Veiga, a corporações no mercado (como a Li- vendedora de livros pela internet, está indo lume de 4.477.844 unidades. chamariz, porque o custo da captura do
livros (SNEL) ela, que lê semanalmente pelo menos los leitores tradicionais. Sobre o livro di- experiência internacional tem mos- vraria Cultura, que vende o Kobo, e a na contramão da teoria que diz que as livra- Na briga pelos clientes, os grandes des- cliente compensa. Isso é concorrência des- Vendas pela internet cresceram, mas
um livro e nas férias chega a consumir gital, Eduarda só vê vantagens: o cus- trado que até um momento existe já citada Amazon). rias vão acabar e abrindo lojas presenciais nos contos ofertados na internet agradam quem leal”, critica Veiga Pereira. são menores do que nos pontos físicos
02 arte SÁBADO/DOMINGO, 28 e 29 de julho de 2018 FolhadePernambuco FolhadePernambuco SÁBADO/DOMINGO, 28 e 29 de julho de 2018 arte 03
Samarone Lima precisou pra-

Indo onde ticar o desapego para passar


adiante livros de sua coleção

o leitor está
Entre as alternativas para
fazer com que as obras al-
cancem os leitores “ór-
fãos” de livrarias, estão as
vendas online (embora
prejudicadas pelo custo
proibitivo do frete no Bra-
sil) e as feiras de livros,
que atualmente ocorrem
em várias cidades do inte-
rior. Em Pernambuco, di-
versos eventos do gênero
têm sido organizados na
região metropolitana e em
cidades como Caruaru, Pe-
trolina, Pesqueira, Ipojuca,
Garanhuns, Limoeiro e Sal-
gueiro. Segundo Alventino
Lima (que já foi presiden-
te e hoje é o diretor de fei-
ras da Associação do Nor-
deste de Distribuidores e
Editores de Livros - Ande-
livros), as feiras trazem
oportunidades que vão
além da venda de livros.
“Há palestras, concursos li-
Wellington de Melo cita as PAULLO ALLMEIDA
terários, atrações que po-
“indie bookstores”, que dem acrescentar à cultura

Convite aos encontros


fomentam clubes de leitura local e regional”, enumera.
“As feiras proporcionam
GUSTAVO GLÓRIA/DIVULGAÇÃO
aos visitantes a chance de
uma experiência diferente.
rias físicas. Também trazemos a experiência das de Melo, proprietário da editora Mariposa

Em busca de
Lá, podem conversar com
feiras literárias que ocorrem em diversos mu- Cartonera e editor da Companhia Editora de autores e pegar seus autó-
nicípios pernambucanos e do sebo Casa Azul, Pernambuco (Cepe). “Fecharam muitas li- grafos, ou encontrar uma
em Olinda, que mobiliza dezenas de pessoas vrarias, e isso tem se intensificado nos últi- oferta abundante de livros
através das redes sociais e vem conseguindo tra- mos anos. A recessão que o Brasil enfrenta promocionais a um custo
zer diversos eventos culturais para o espaço, lo- faz com que o consumo de livros caia e au-
calizado no sítio histórico de Olinda. menta os custos operacionais a níveis insu-
de R$ 1, R$ 2, R$ 5. A feira
é emoção para a família,
No Sebo Casa Azul, em Olinda, venda de livros ganha caráter de
O jornalista e produtor cultural Samarone portáveis. Paralelamente, o mercado passa
Lima era frequentador assíduo da Livro 7, es- por uma adaptação à chegada de novas tec-
que tem acesso a um lazer
diferente, e é comoção
experiência mais ampla, com saraus, recitais e oficinas artísticas
paço mítico que funcionou no centro do Re- nologias e às alterações nos hábitos de con- para a cidade e a região
cife entre 1970 e 1998. Hoje ele é proprietá- sumo. É uma situação de mudanças rápidas, onde acontece, pois movi- DIVULGAÇÃO
rio do sebo Casa Azul, em Olinda, e se diverte que põe à prova a capacidade de adaptação o passado, o Recife também con- ciativas independentes que retomama a

NOVOS RUMOS N
menta o comércio”, acres-
colecionando os selos, carimbos e marca-li- dos empresários”, aponta o presidente da As- centa por sua vez Bernardo tava com uma rica tradição de se- perspectiva de enxergar as livrarias como
vros que encontra dentro dos volumes que sociação Nacional de Livrarias (ANL), Ber- Gurbanov, da ANL. bos. Entre os vendedores de li- lugares de convivência”, conta Welling-
comercializa. “Por eles, dá para descobrir um nardo Gurbanov. “As feiras são livrarias vros usados havia nomes famo- ton. Ele se refere às “indie bookstores”,
pouco da história das livrarias que havia no O último levantamento do número de li- móveis, e de certa forma sos como Melquisedec Nasci- pequenas livrarias que fortalecem a ten-
Recife e que já não existem mais. Dá para per- vrarias no Brasil, segundo o presidente da Câ- aprofundam a atuação do mento, que atuava na Praça do dência de criar experiências em espaços
ceber que a cidade tinha toda uma gama de mara Brasileira do Livro (CBL), Luis Antonio vendedor itinerante de li- Sebo (por trás da avenida Gua- menores, como clubes de leitura.
ofertas, uma vida literária muito mais intensa Torelli, registra 1,4 mil empresas. Não há li- vros, aquele herói que vai rarapes) e Eurico Brandão, na rua Samarone mora e vende livros na
e cheia de opções”, aponta. vrarias em 73% dos municípios brasileiros, e de porta em porta, de bar- da Matriz. Ambos sucumbiram ao tem- rua Treze de Maio, 121, no sítio históri-
Saudosista, o antigo dono da Livro 7 (e hoje a maioria fica no eixo Rio-São Paulo. 56% das co, moto, bicicleta ou a pé, po e à decadência do mercado: Melqui- co de Olinda. Mas percebeu que não
editor de livros), Tarcísio Pereira, chega a livrarias brasileiras estão concentradas nas levando o acesso à fanta- sedec faleceu em 2011, com quase 90 conseguiria se manter apenas com isto.
comparar o bairro da Boa Vista nos anos 1970 regiões Sul e Sudeste. O Nordeste fica com anos, e Brandão se aposentou no início Hoje, a Casa Azul abriga oficinas, cur-
Livrarias físicas MARIANA MESQUITA
à argentina Buenos Aires, tida como a cida- 15% do total, enquanto o Norte concentra
sia. Ajudam a criar o hábi-
to da leitura, incentivam as deste ano, levando seu valioso acervo sos, mostras, exposições, apresenta-
s livrarias físicas vêm enfrentando di- de que mais concentra livrarias por metro apenas 3%. “É uma hiperconcentração gi- para Salvador (BA). O comércio de livros ções teatrais, saraus e lançamentos de

A
enfrentam ficuldades em todo o mundo, e a si- quadrado no mundo. Ele desfia nomes: Im- gantesca e muito perigosa, e tão desigual
crianças de cinco, seis anos
a lerem. Em Garanhuns, usados persiste, concentrando-se na livros. “Toda sexta-feira, fazemos re-
tuação se intensifica no Brasil por peratriz, Nordeste, Síntese, Saraiva, Dom quanto a distribuição de renda que existe no há dois anos, uma profes- Praça do Sebo e na rua Corredor do Bis- citais de poesia”, descreve Samarone.
dificuldades. conta da crise econômica. No Reci-
fe, recentemente, dois lugares em-
Quixote, Livro 7, Labor, Mozart, José Olym-
pio, Artes Médicas... Várias empresas que
país e está interligada com o fato de menos
de 20% da população brasileira é de fato lei-
sora de escola rural con- po, na Boa Vista. A maioria, porém, de-
dica-se ao comércio de livros escolares.
Após a Casa divulgar convocatória pe-
las redes sociais, 47 pessoas fizeram
venceu os alunos a eco-
Sebos também blemáticos para os amantes da lite-
ratura fecharam suas portas: a Li-
funcionavam em paralelo, dentro de uma
realidade em que a internet não existia e o
tora, com capacidade de ler e formular tex-
tos”, lamenta Gurbanov.
nomizar o dinheiro do lan-
che para comprar na Bie-
Indo de encontro à tendência, chama
atenção a iniciativa da Casa Azul, em
propostas de eventos para junho e ju-
lho. Quinze foram selecionados.
vraria Cultura, no shopping Paço Al- centro da cidade vivia seu auge. Hoje, a A CBL está tentando incentivar a abertura Olinda, que vem se consolidando como “Faço uma boa curadoria do material
procuram novas fândega, e o sebo Brandão, na Boa maioria das unidades faz parte de grandes re- de novos pontos físicos de venda, com foco
nal. No dia em que a feira
abriu, foi emocionante ver espaço de encontro literário. Criado em que vendo. O mote da Casa é literatura,
Vista. Este último tinha quase 70 des e estão instaladas dentro de shoppings ou na especialização. “A gente criou um pro- março de 2017, o sebo de Samarone Lima encontros e lentidão e é isso que as pes-
formas para se anos de existência e seu espaço foi melan- em bairros de classe média-alta. Uma das ex- grama de formação para mostrar que é pos-
a alegria desses meninos
com R$ 5, R$ 10 no bolso, congrega as qualidades que Wellington soas vêm buscar aqui. O engraçado é
colicamente ocupado por uma ótica, como ceções é a Livraria Imperatriz, que do alto de sível empreender e ganhar dinheiro abrindo falando com orgulho sobre de Melo aponta como necessárias para que no começo coloquei à venda mui-
tornar viáveis uma espécie de recado final para os que não seus 88 anos de existência insiste em man- uma livraria”, diz Torelli. A iniciativa não é a autonomia de poderem transformar a visita a um espaço de ven- tos livros pessoais meus, e aqueles de É uma situação (...) que põe
conseguem enxergar a importância do tra- ter lojas funcionando no centro. fácil. “Livraria não é um negócio para abrir da de livros em uma experiência mais que eu tinha mais ciúme, às vezes eu
em um mundo balho que era ali realizado. “É muito difícil manter uma livraria de for- hoje e fechar amanhã. Sempre foi um em-
escolher e comprar seus
próprios livros”, conta Al- ampla. “O futuro está no passado, nos se- não conseguia vender. Mas uma amiga à prova a capacidade de
Nesta última reportagem da série sobre o ma sustentável no Brasil. O modelo de li- preendimento que precisa de tempo para se bos, nos cafés, nos bares, criando nesses disse para eu me decidir. Ri e pronto,
mercado de livros, falamos de passado e futuro vrarias físicas tende a desaparecer nos pró- firmar. Um livreiro pode amar o que faz, mas
ventino, emocionado.
microespaços maneiras de dar uma so- depois disso, liberei o acervo, e estou adaptação dos empresários”
conectado e da esperança que pode existir para as livra- ximos 30 anos”, analisa o escritor Wellington não pode ser amador”, destaca Gurbanov. brevida às livrarias. Nos EUA, existem ini- muito feliz”. BERNARDO GURBANOV, presidente da ANL

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