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VO U A P R EN D E R : Co mpre ens ão da Lei tur a

Dandy

Era uma vez um cão rafeiro* chamado Dandy. Descendia do rafeiro Asu e da rafeira
Ramina. Não podia, por isso, ser mais autenticamente rafeiro. O que não tem mal. Antes
pelo contrário. Através de estudos de importantes entendidos sabemos que os rafeiros
são inteligentes e habilidosos como os seus parentes fidalgos e que, às vezes, até os
ultrapassam. Pois Dandy tinha o pêlo dourado e a cauda branca. Fora oferecido, por
uma vizinha generosa, a um menino chamado Ferdinando e tinha, nessa altura, por aí
um meio ano de idade. Dandy e Ferdinando simpatizaram logo um com o outro. Mas
mal Dandy se viu em casa dos pais de Ferdinando tramou uma balbúrdia nunca vista.
Roeu os pés das cadeiras da sala e os chinelos da avó de Ferdinando, comeu o bâton da
mãe, despedaçou a caneta do pai, desfiou a colcha de croché, arrancou as franjas à
carpete, esfolhou a begónia na varanda e rasgou o livro escolar em que vinha a história
do Império Romano, e assim por diante. Os pais de Ferdinando ficaram desaustinados*
e, certo dia, o pai exclamou: “Basta!”
Dandy foi entregue a um lavrador que procurava um cão para lhe guardar a quinta.
Prendeu-o, com uma corda grossa, ao tronco dum castanheiro. O pobre animal ficou
triste e cheio de saudades de Ferdinando. Por isso, uma noite, quando o lavrador estava
ferrado no sono, resolveu roer a corda. Roeu, roeu e, por fim, conseguir cortá-la e soltar-
se. Fugiu a sete pés e quando, na manhã seguinte, Ferdinando saiu de casa, encontrou-o
deitado na soleira da porta.
A alegria dos dois foi grande. Os pais, primeiro, não viram com bons olhos que
Dandy tivesse voltado, mas depressa mudaram de ideias.
É que Dandy já não era o cachorro sem juízo. Amadurecido pela vida dura que levara
na quinta do lavrador, tornou-se um companheiro de se lhe tirar o chapéu. Começou por
pintar as cadeiras que tinha roído. Depois tomou a seu cargo vários trabalhos
domésticos: lavava a louça, remendava lençóis e toalhas; fazia compras no
minimercado. Para além de tudo isso deu-se ao luxo de estudar a História do Império
Romano.
“Um cão exemplar!” louvavam os pais de Ferdinando e os vizinhos.
“Um amor de rafeiro”, dizia Ferdinando. E assim ficaram muito felizes naquela casa.

É autorizada a reprodução deste material para efeitos de investigação e/ou de intervenção psicopedagógica. 1
VO U A P R EN D E R : Co mpre ens ão da Lei tur a

Ilse Losa, Dandy in “O Rei Rique e Outras Histórias”. Porto: Porto Editora, 2011.

*Glossário
Rafeiro. 1. Que pertence a uma raça própria para guarda; 2. Que não tem raça definida,
sendo resultado do cruzamento de diversas raças; 3. Que anda sempre atrás de outra
pessoa aborrecendo-a e adulando-a; 5. Que não presta, que é de má qualidade; que tem
mau aspeto.
Desaustinado. 1. Sem tino, desnorteado; 2. Precipitado; 3. turbulento.

Fonte: http://www.infopedia.pt

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