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A Concepção de Musicalidade para Licenciandos em Música de Uma Universidade Pública Do Sul Do Brasil
A Concepção de Musicalidade para Licenciandos em Música de Uma Universidade Pública Do Sul Do Brasil
CURITIBA
2022
1
ALINE CORRÊA FERNANDES
CURITIBA
2022
2
RESUMO
3
LISTA DE GRÁFICOS
4
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 6
2 MUSICALIDADE 8
2.1 O QUE É MUSICALIDADE? 9
2.2 MUSICALIDADE X HABILIDADES MUSICAIS 11
2.3 É POSSÍVEL APRENDER SER MUSICAL? 13
3 METODOLOGIA 17
3.1 MÉTODO 16
3.2 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS 16
3.3 PÚBLICO ALVO: DESCRIÇÃO DOS PARTICIPANTES 17
3.4 ANÁLISE 18
4 DISCUSSÃO DOS DADOS 19
4.1 PARTE I - PERFIL: CARACTERÍSTICAS DO GRUPO PARTICIPANTE 19
4.2 PARTE II - SOBRE MUSICALIDADE 24
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 39
7 REFERÊNCIAS 41
8 APÊNDICE 43
8.1 QUESTIONÁRIO - MUSICALIDADE PARA LICENCIANDOS
EM MÚSICA DE UMA IES DE CURITIBA
5
1 INTRODUÇÃO
7
2 MUSICALIDADE
1
Texto original: There is general agreement that music is a universal trait of humankind, that
Homo Sapiens as a species has the propensity for musical development and that musical potential is
as universal as linguistic ability (Blacking, 1995; Wallin, Merker and Brown, 2000; Morley, 2013)
2
Texto original: An going controversy persists, however, concerning the extent of individual
variability in musical potential and the degree to which observable differences in acquiring musical
skills result from social contexts that facilitate learning, genetic factors, or interactions between the
two.
8
Também Sacks (2007) reforça este ponto de vista ao escrever que o “talento
musical é muito variável, mas existem muitos indícios de que praticamente toda
pessoa é dotada de alguma musicalidade inata." (SACKS, 2007, p.103). Para
defender que a “musicalidade” é um traço humano, alguns autores utilizam
argumentos com base na psicologia evolutiva e as relações entre a musicalidade e a
fala.
O mesmo autor afirma, “Assim como nas origens de cada ser humano
encontramos evidências do quão inerente e constitutiva da natureza humana é a
musicalidade, nos primórdios da música encontramos semelhantes evidências.”
(QUEIROZ, 2003, p.15).
9
comum. [...] explicar o que é ser musical torna-se uma difícil tarefa.” (WIESE, 2011,
p. 11). Muitos autores têm diferentes definições sobre este termo, e às vezes
“musicalidade” é substituído por outros termos como “expressividade do discurso
musical” ou "talento''. Para Hallam (2006) não há consenso no uso deste termo:
O termo “musicalidade” refere-se ao estado de ser “musical” que, por sua vez,
é definido como gostar ou ser habilidoso na música. Na literatura,
“musicalidade” é frequentemente usada de forma intercambiável com uma série
de outros termos, incluindo “habilidade musical”, “aptidão musical”, “potencial
musical” e “talento musical”, embora o termo “musicalidade” seja
frequentemente adotado em relação a se ser musical é uma característica
específica da espécie dos seres humanos. No geral, não há definições
universalmente aceitas desses termos. Os significados são socialmente
construídos e refletem os fatores culturais, políticos, econômicos e sociais
pertinentes ao tempo e lugar em que são adotados. (tradução minha).
(HALLAM, 2006, p.67).3
3
Original: The term “musicality” refers to the state of being “musical” which, in turn, is defined as being
fond of, or skilled in, music. In the literature “musicality” is often used interchangeably with a range of
other terms including “musical ability,” “musical aptitude,” “musical potential,” and “musical talent,”
although the term “musicality” is often adopted in relation to whether being musical is a
species-specific characteristic of human beings. Overall, there are no universally agreed definitions of
these terms. Meanings are socially constructed and reflect the cultural, political, economic, and social
factors pertaining in the time and place that they are adopted
10
desse questionamento que se pode buscar resposta para a questão: De que
maneira o homem é musical?
Há algumas outras dificuldades com o termo “musicalidade” e uma delas é a
tradução para o português, como aponta Wiese (2011):
4
Original: Historically, musical ability was conceptualized in terms of aural perception, which was
typically assessed by musical aptitude tests.
11
Considerando o aspecto cultural alguns autores criticam esses testes, por
exemplo, Blacking (1973), “segundo esse autor, os próprios testes que tentam medir
a habilidade musical falham por serem etnocêntricos, ou seja, consideram apenas a
música ocidental.” (WIESE, 2011, p.19); também todos esses testes a base é a
percepção auditiva, o que para Hallam não seria suficiente para prever o sucesso
em toda gama de atividades musicais:
Como visto, a percepção auditiva tem a sua importância para alcançar altos níveis
em muitas atividades musicais, mas não é suficiente, pois há outras habilidades
5
Original: The rationale underlying all of these approaches is that “musicality” has its basis in aural
perception. However, the predictive reliability of all of these measures is generally low (Hodges and
Haack, 1996; Winner and Marino, 2000). Using ability to sing as a means of assessing musical ability
is also problematic as the relationship between developmental tonal aptitude and use of the singing
voice can be very small (Rutkowski, 1996). Generally, it is now recognized that aural skills alone are
insufficient to predict future success across the full range of musical activities, especially those
involving motor skills (Gilbert, 1981) and creativity (Vaughan, 1977; Webster, 1988).
6
Original: While perceptual skills are important for reaching high levels of attainment in a wide range
of musical activities, they are not sufficient. As a result, there has been an increasing need to reframe
what constitutes musical ability. In addition, the rapid technological changes which have taken place
over the last 100 years have changed the nature of the music profession and the skills needed to be a
member of it, also impacting on conceptions of what it means to be musical.
12
envolvidas em diferentes atividades musicais, McPherson reconhece essas
diferentes habilidades para diferentes atividades musicais:
7
There has also been a recognition that different musical skills are required for different musical
activities. For instance, McPherson (1995/6) distinguished between visual (i.e., sight-reading,
performing rehearsed music from notation), aural (i.e., playing from memory and by ear), and creative
(i.e., improvising) aspects of music performance. He found that different musical skills were involved in
developing each of these ways of performing music, that there was no automatic transfer between
them, and that each needed to be developed separately and in combination to maximize potential.
There has also been increasing recognition of the importance of executive meta-cognitive skills,
concerned with the planning, monitoring, and evaluation of learning. These skills are crucial to all
music professionals and have been shown to develop over time as musical expertise is acquired (e.g.,
Hallam, 2001a,b; Hallam et al., 2012; McPherson & Renwick, 2001),
13
talentos musicais podem ser desenvolvidos por meio de práticas e treinamentos
sistemáticos:
8
Original: “McPherson and Williamon (2006, 2015) adapted Gagné’s (2009, 2013) “differentiated
model of giftedness and talent” to music as a means of defining the natural abilities, intrapersonal
factors and environmental catalysts that might impact on the development of musical skills. This
conception defines gifts (e.g., intellectual, creative, socioaffective, sensorimotor) as natural innate
potentials to achieve and talent as observable skills and proposes that a least eight distinct types of
musical talents (performing, improvising, composing, arranging, analyzing, appraising, conducting,
music teaching) can be developed through systematic practice and training [...] Six domains of natural
abilities (gifts) are identified: four mental (intellectual, creative, social, perceptual), and two physical
(muscular, motor control). The individual blending of these mental physical “natural” abilities (or
aptitudes) influence each of the eight types of musical talents that will eventually envolve.
9
Original: The processes that underpin learning in music are shared across cultures and are part of
natural learning processes. Human beings are pre-programmed to learn. This can occur deliberately
and intentionally, or incidentally (without our conscious awareness) (Blakemore & Frith, 2000). Musical
expertise begins to develop without conscious awareness in the womb and continues through infancy
as the individual is encultured into the musical language of his or her particular culture. The
enculturation process means that the prerequisites for the development of expertise in music in its
many forms begin long before engagement with active music-making.
14
Os seres humanos têm esse “talento” em comum, somos pré-programados
para a aprender, sendo assim, todos deveriam ter acesso a experiências na música
que poderiam ampliar o seu potencial: “Todas as crianças são inerentemente
musicais e merecem acesso aos tipos de experiências formais e informais que
maximizarão seu próprio potencial musical individual.” (HALLAM, 2008, p.443). 10
Temos na educação musical (formal ou informal) uma porta de acesso para
que o indivíduo tenha uma experiência musical que poderá ampliar seu potencial
nesta área, mas há indícios que se o professor tem a concepção que só algumas
pessoas têm talento/musicalidade isso provavelmente afetará o ensino de música.
Por que “o que compreendemos como música tem sua relação com o que
compreendemos sobre musicalidade, refletindo-se nas formas de ensinar”
(MAFFIOLETTI, 2001, p.53). Por isso, “muitos professores de instrumento
desenvolvem uma atitude passiva característica, pois ao considerarem que
determinado aluno não é musical, não se esforçam para tentar ajudá-lo a se
desenvolver musicalmente, depositando toda a culpa no aluno.” (WIESE, 2011.
p.26). Portanto, vale a reflexão sobre o que significa musicalidade para
professores/futuros professores de música.
10
Original: All children are inherently musical and deserve access to the types of informal and formal
experiences that will maximize their own, individual musical potential.
15
3 METODOLOGIA
3.1 MÉTODO
16
As perguntas abertas: “também chamadas livres ou não limitadas, são as que
permitem ao informante responder livremente, usando linguagem própria e emitir
opiniões." (MARCONI e LAKATOS, 2002, p. 101). As perguntas fechadas: “ também
denominadas limitadas ou de alternativas fixas, são aquelas em que o informante
escolhe sua resposta entre duas opções: sim e não.” (MARCONI e LAKATOS, 2002,
p. 101) e as perguntas de múltipla escolha: “são perguntas fechadas mas que
apresentam uma série de possíveis respostas, abrangendo várias facetas do mesmo
assunto.” (MARCONI e LAKATOS, 2002, p. 103)
O questionário utilizado neste trabalho foi baseado em instrumentos
elaborados por Wisie (2011), Addessi et al. (2010) e Hallam e Prince (2003). As
perguntas baseadas em Wiese (2011) estão no questionário de sua dissertação
intitulada “O(s) conceito(s) de musicalidade na perspectiva de experts, professores
e bacharéis da área de flauta doce”, deste trabalho as perguntas usadas como
referência foram as sobre o perfil dos participantes e a última pergunta aberta do
questionário: 3.1 “Defina o que você entende por MUSICALIDADE com suas
palavras”. De Addessi et al. (2010) foram usadas como referência as categorias que
as autoras fizeram a partir das respostas dos participantes de sua pesquisa; as
categorias foram traduzidas, adaptadas e utilizadas como alternativas na pergunta
de múltipla escolha 2.1: “Assinale a alternativa (pode ser mais de uma) que
representa melhor as características de uma pessoa musical para você”. E as
alternativas da pergunta fechada 2.2: “Assinale dentre as opções abaixo qual
representa melhor o que significa musicalidade para você” foram baseadas nas
respostas da pesquisa de Hallam e Prince (2003), que pediram a uma amostra de
músicos, estudantes de música, educadores e público em geral (n = 411) que
completassem a afirmação “habilidade musical é”, as respostas foram traduzidas,
selecionadas e utilizadas como alternativas nesta pergunta.
O questionário foi elaborado no formulários google. Nesta plataforma foi
gerado um link que foi enviado para os participantes da pesquisa preencherem o
formulário.
17
Como este trabalho busca investigar a concepção de licenciandos sobre
musicalidade, então os participantes desta pesquisa são alunos de licenciatura em
música de uma IES localizada em Curitiba (Paraná); podemos dividir esses alunos
em duas duas categorias, primeira: alunos de licenciatura do primeiro ano; e
segunda: alunos de licenciatura do quarto ano.
Esta pesquisa obteve 27 respostas somando as respostas das duas turmas,
sendo 20 respostas do primeiro ano (LM1) e 7 respostas do último ano (LM4).
3.4 ANÁLISE
Optou-se dividir a análise em duas grandes partes: Parte I - Perfil:
características do grupo participante e Parte II - Sobre musicalidade (ver quadro 1).
18
4. DISCUSSÃO DOS DADOS
11
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade
incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
19
A maior parte dos participantes é composta por um público masculino,
totalizando 59,3% da amostragem. O público feminino totaliza 40,7% (ver gráfico 2).
20
A maioria dos participantes estão cursando o primeiro ano de licenciatura em
música (74,07% - 20 pessoas) e os demais (25,93% - 7 pessoas) estão cursando o
quarto ano (último ano).
21
Dos que atualmente lecionam música a resposta mais frequente foi que estão
ensinando há menos de 1 ano (47,37%), há alguns meses e até algumas semanas,
mas também as respostas dos que ensinam há 1 ano até 4 anos também foram
frequentes (36,84%); a minoria ensina há mais de 4 anos (15,79%). (Ver gráfico 6).
Dos que atualmente não estão lecionando, a maioria já teve alguma experiência
lecionando (75%), e a minoria não está lecionando atualmente e ainda não teve
nenhuma experiência lecionando (25%). (ver gráfico 7).
22
Como citado anteriormente, a grande maioria dos participantes já lecionam
música, e espera-se que um aluno que está cursando licenciatura em música se
torne um professor de música futuramente. Se estes professores/futuros professores
têm a concepção de que talento/musicalidade é algo inato, isso provavelmente
afetará sua maneira de ensinar. Addessi et al. (2010) também acredita que esse
conhecimento implícito dos professores/futuros professores a respeito de
Musicalidade (mas não só musicalidade) pode afetar a forma de ensinar
12
Original: In particular, we found an interesting relationship between the implicit conceptions of
'music', 'musicality", "musical child' and the concept and the practice of music education. [...] We
believe that teaching and learning to teach may change according to the implicit meaning given to
these concepts.[...] the teachers' implicit knowledge which influences their own didactic practice.
23
Por outro lado, quando se tem a concepção de que a musicalidade pode ser
desenvolvida, é natural que o professor busque estratégias para resolver o problema
que o aluno está tendo, seja no ritmo, melodia, afinação, técnica do instrumento,
entre outros.
Então qual seria a concepção sobre musicalidade dos alunos de licenciatura
em música que participaram desta pesquisa? Será que há uma diferença de
concepção dos alunos que estão no primeiro ano dos que estão no quarto ano? A
parte II deste capítulo analisará as respostas diretamente ligadas à musicalidade.
24
● Atraída: A pessoa atraída por sons e música, particularmente interessado
em atividades musicais. Algum exemplo de respostas: “acompanha com
interesse as atividades musicais”, “ele/ela tem curiosidade sobre música e
sons”;
● Movimento: a pessoa dança mais musicalmente e usa seu corpo ao ouvir a
música e ao fazer-música: “ele/ela dança enquanto ouve música”, “dança,
pula e se move no tempo";
● O Musicmaker: a pessoa mais musical é caracterizada por palavras que
indicam fazer música: “gosta de cantar e tocar”, “tem uma boa voz para
cantar”;
● Os Ouvintes: a pessoa mais musical é caracterizada pelas palavras que
indicam ouvir sons e música: “ouve música”, “está atento aos sons”.
25
Das características que representam melhor uma pessoa musical para os
participantes desta pesquisa, as alternativas mais selecionadas vão de encontro
com as ideias dos autores citados neste trabalho que escrevem sobre musicalidade.
Começando pelas alternativas mais selecionadas: natural: Todos nós somos
musicais; é algo intrínseco ao ser humano, segundo Hallam (2006):
Embora haja agora uma aceitação geral de que os seres humanos como
espécie são pré-programados para adquirir habilidades musicais da mesma
forma que são pré-programados para adquirir linguagem, continua a haver
debates acalorados sobre até que ponto existem diferenças individuais na
habilidade musical herdada. (HALLAM, 2006, p.68)13 (Tradução nossa).
Ou seja, somos atraídos pelos sons e até interagimos com eles antes mesmo
de nascermos, mas se é algo intrínseco do ser humano ser atraído por sons, por que
alguns têm mais “facilidade” ou são mais “atraídos” musicalmente ou são mais
atraídos por aula de música?
Segundo Sloboda “A habilidade musical é adquirida através da interação com
um meio musical. Consiste na execução de alguma ação cultural específica em
relação aos sons musicais.” (SLOBODA, 2008, p.257), ou seja, podemos supor que
esta pessoa é “atraída” musicalmente, pois esta “atração” natural pelos sons, que é
13
Original: While there is now a general acceptance that human beings as a species are
pre-programmed to acquire musical skills in the same way that they are pre-programmed to acquire
language, there continue to be heated debates about the extent to which there are individual
differences in inherited musical ability.
14
Original: Whatever the evolutionary purposes of music, the capacity for processing it develops very
early, three to four months before birth. After 28 to 30 weeks of gestation, fetuses can reliably react to
external sounds and their heart rates vary as a result of exposure to music (Parncutt, 2006). The
process of musical enculturation begins from the point at which brain development is influenced by
auditory stimulation.
26
intrínseco do ser humano, foi estimulada, ou foi proporcionada considerando
diversos aspectos relacionados a enculturação.
Considerando o recorte das respostas com o primeiro ano (LM1), as
alternativas mais votadas continuaram sendo “Natural” e “Atraída” (65% as duas
igualmente) (ver gráfico 9), mas não são as mais votadas quando observamos
somente as respostas do último ano (LM 4) (ver gráfico 10)
27
No LM 4 a alternativa mais selecionada foi a educada: Teve mais experiências
musicais, em família ou na escola, “uma pessoa que pode captar os aspectos
musicais que o professor pede enquanto ouve uma música” ou “todas as pessoas
podem se tornar, se estimulado o suficiente e da mesma forma. O que está ligado
também com “enculturação”, mas a educação musical aparece com mais ênfase
aqui, mais intencional, uma busca intencional pela educação musical mesmo de
forma informal, em um contexto familiar, por exemplo; podemos supor, então, que
por causa dessas experiências musicais essa pessoa tem facilidade em captar
aspectos musicais que o professor pede; Com essa alternativa dando ênfase na
educação musical ela também concorda que esse potencial musical faz parte do ser
humano e pode ser desenvolvido se estimulado.
A alternativa mais selecionada do LM4 aponta para uma outra concepção
sobre o que é musicalidade e como ela é interpretada. Se no LM 1 sobressai a
questão natural, no LM 4 existe uma tendência muito mais forte em salientar a
possibilidade de que musicalidade é algo que pode ser ensinado, esta alternativa
(Educada) concorda com conclusão de Hallam (2008) de que “Todas as crianças são
inerentemente musicais e merecem acesso aos tipos de experiências formais e
informais que maximizarão seu próprio potencial musical individual” (HALLAM, 2008,
p. 443).15
15
Original: All children are inherently musical and deserve access to the types of informal and formal
experiences that will maximize their own, individual musical potential.
28
● Ter habilidades auditivas;
● Apreciar música;
● Ser responsivo à música;
● Dom, talento natural, facilidade;
● Habilidade rítmica.
16
Original: “Because music is an “aural art form”
29
habilidades motoras (Gilbert, 1981) e criatividade (Vaughan, 1977; Webster,
1988). (HALLAM, 2008, p.438) (Tradução minha)17
Outra crítica a esses testes é que “os próprios testes que tentam medir a
habilidade musical falham por serem etnocêntricos, ou seja, consideram apenas a
música ocidental.” (BLACKING apud WIESE, 2011, p. 19).
Também quando vemos musicalidade somente como habilidade e focamos
somente na percepção auditiva, a tendência é pensar que essa habilidade por si só
é suficiente; de forma nenhuma a habilidade auditiva é descartada ou
menosprezada, ela é muito importante na música, mas por si só não é suficiente
para garantir o “sucesso” do aluno de música (sucesso não como sinônimo de fama,
mas de ter resultados satisfatórios)
17
Original: The rationale underlying all of these approaches is that “musicality” has its basis in aural
perception. However, the predictive reliability of all of these measures is generally low [...] Generally, it
is now recognized that aural skills alone are insufficient to predict future success across the full range
of musical activities, especially those involving motor skills (Gilbert, 1981) and creativity (Vaughan,
1977; Webster, 1988).
18
Original: In order to become a successful musician, individuals also need to develop social skills
(being able to work with other musicians, promoters, the public), planning and organizational skills
(planning practice schedules, programs, travel arrangements) and time management skills (being
punctual, meeting deadlines). These are clearly required for developing expertise in a range of
professions and while necessary are not exclusively “musical”.
19
Original: While testes of musical aptitude may assess current aural skills, musical potential is a
complex phenomenon that involves many factors. While aural abilities are important, they do not
provide the basis from which to accurately assess a child’s current or future musical potential.
30
Uma outra alternativa bastante selecionada foi “ser responsivo à música”
(25,9%) (Ver gráfico 11). Esta alternativa se aproxima mais da definição de
musicalidade adotada por este trabalho, que é a mesma adotada por Wiese (2011):
Por que, de certo modo, nós (seres humanos) somos responsivos a sons
antes mesmos de nascer, e é por este motivo que alguns autores defendem que
nossa enculturação musical também começa antes de nascer.
20
Original: The seeds os musical potential are sown early because the human auditory system is
functional 3-4 months before birth. After 28-30 weeks of gestation, fetuses can reliably react to
external sounds (Parncutt, 2006; see also Parncutt, Chapter 23, this volume). The process of musical
enculturation begins from the point at which brain development starts to become influenced by
auditory stimulation.
31
Gráfico 11:
A seguir será exposto se houve diferença nas respostas do LM4 e LM1 desta
mesma pergunta (2.2 Assinale dentre as opções abaixo qual representa melhor o
que significa musicalidade para você).
A alternativa mais selecionada da turma do último ano (LM4) foi Ser
responsivo à música (42,86%) (ver gráfico 12) e a segunda mais selecionada foram
duas alternativas com a mesma porcentagem: Ouvir e compreender música
(28,57%) e Ser capaz de tocar um instrumento musical ou cantar (uma habilidade
prática) (28,57%).
Por outro lado, a alternativa mais selecionada do primeiro ano (LM1) foi Ouvir
e compreender música (35%) (ver gráfico 13) e a segunda mais selecionada foi Ser
responsivo à música (20%). O que nos mostra que as alternativas mais selecionadas
foram basicamente as mesmas nas duas turmas, somente mudando a ordem de
mais votada, enquanto no LM4 Ser responsivo à música foi a mais selecionada, no
LM1 essa foi a segunda mais votada, por exemplo.
32
Categoria 6. Definição de musicalidade
33
Expressão no discurso musical (11,11% - 3 pessoas), Dom e talento (3,70% - 1
pessoa) e A música como parte do indivíduo (3,70% - 1 pessoa). (ver gráfico 14).
Dom e talento:
Ç27: Caráter, qualidade, talento, sensibilidade
Z26: Musicalidade para mim é a resposta a estímulos musicais que todos nós
apresentamos
S19: Musicalidade seria algo natural da vida, não apenas restrita a humanidade
mas a toda natureza, animais e flora.. não apenas uma maneira de agir ou e se
expressar, mas algo intrínseco
P16: entendo como algo natural do humano porém de difícil acesso para
aprimorar
34
G7: Pra mim todo ser humano tem habilidades musicais, basta que alguem
com conhecimento trabalhe esse talento natural que todos nós temos. Mas de
um ponto de vista mais preciosista e arcaico, só quem toca ou canta é musical.
C3: Musicalidade é apreciar, entender, ouvir, sentir, e reagir à música. Fugindo
da ideia de dom e talento, mas sim, tendo consciência de que a musicalidade é
construção e de que é inato, todos nascemos com capacidades e
características musicais, podendo ser desenvolvidas à níveis diferentes.
Emoção e sentimento
Y25: Ao meu ver é sentir a música, atrelar ela a um sentimento. Buscar e ser
atraído por isso e ao mesmo tempo responder também, como criando novos
ritmos ou melodias, por exemplo.
T20: sentir a música em toda sua essência, rítmica e conceitual
M13: Apreciação musical, independente se pode produzir ou não, SENTIR
música
K11: É algo que vem de dentro com o sentimento . Tudo aquilo que vc passa ou
passou pode ser transferido dentro de uma música
I9: Sensibilidade
Habilidade musical
35
J10: Musicalidade é a capacidade de se expressar através do seu instrumento,
com base em sua percepção rítmica, melódica, harmônica, e o pleno domínio
do instrumento
F6: Capacidade de expressar emoção através da música, sensibilidade auditiva
e memória emocional. Sensibilidade e habilidade para tocar um ou mais
instrumentos musicais. Afinidade com a música.
D4: A capacidade da pessoa em se apropriar da música como linguagem,
sendo capaz de produzir música pela exploração dos elementos sonoros de
modo criativo e expontâneo, valendo-se da improvisação e apreciação e
também da expressão sonora.
36
A razão pela qual muitos de nós nos envolvemos em atividades musicais, de
composição, execução ou escuta, é que a música consegue despertar
emoções profundas e significativas. Estas emoções podem variar desde o
‘simples’ deleite estético diante de uma construção sonora e desde emoções
como a alegria ou tristeza que a música às vezes evoca ou alcança, até um
simples alívio da monotonia, tédio ou depressão que pode ser proporcionado
pelas experiências musicais cotidianas. (SLOBODA, 2008, p.3)
.
Comparando as respostas do primeiro ano com o último ano de licenciatura.
No último ano (LM4) temos as categorias Intrínseco ao ser humano (28,57% - 2
pessoas), Habilidade musical (28,57% - 2 pessoas) e Expressão no discurso musical
(28,57% - 2 pessoas) com a mesma frequência de respostas; e por fim Ser
responsivo a música (14,29% - 1 pessoa). (ver gráfico 15).
37
No primeiro ano (LM1) temos a categoria Emoção e sentimentos (25% - 5
pessoas) com mais frequência de respostas, em seguida temos Habilidade musical
(20% - 4 pessoas), Intrínseco ao ser humano (15% - 3 pessoas), Gosto e atração
pela música (15% - 3 pessoas) com a mesma porcentagem, Ser responsivo a
música (10% - 2 pessoas), e por fim Dom e talento (5% - 1 pessoa), Expressão no
discurso musical (5% - 1 pessoa) e Música como parte do indivíduo (5% - 1 pessoa)
com a menor frequência de respostas e com a mesma porcentagem (ver gráfico 16)
Nesta última pergunta há uma diferença significativa entre as turmas,
enquanto a categoria Emoção e sentimento é a mais votada no primeiro ano, no
último ano essa categoria não recebeu nenhuma resposta, mas o que há em comum
é que as categorias intrínseco ao ser humano e habilidade musical aparecem entre
as mais votadas nas duas turmas.
38
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
39
Ainda sobre musicalidade, totalizando a respostas dos dois grupos,
constatou-se que para a maioria dos participantes a definição deste termo está
ligada às categorias: Intrínseco ao ser humano, Emoção e sentimento e habilidade
musical; mas quando separamos os resultados de cada grupo (LM4 e LM1) para a
maioria do último ano (LM4) a definição de musicalidade está mais ligada às
categorias: Intrínseco ao ser humano e Habilidade musical e para a maioria do
primeiro ano (LM1) é Emoção e sentimento. Quando para o último ano (LM4) a
definição de musicalidade está ligado com às categorias: Intrínseco ao ser humano e
Habilidade musical, essas duas categorias nos mostram uma visão de que
musicalidade pode ser desenvolvida e não está restrita a um certo grupo de
pessoas.
Portanto, a partir desta pesquisa notou-se que há uma certa diferença na
concepção de musicalidade dos alunos do último ano para os alunos do primeiro
ano que participaram desta pesquisa. Podemos supor que a formação ao longo do
curso de Licenciatura pode ter interferido de alguma forma na concepção sobre o
que significa musicalidade por parte dos alunos.
Por fim, constatou-se que musicalidade é um conceito muito importante para
educação musical que precisa ser mais pesquisado, ensinado e refletido.
40
REFERÊNCIAS
42
APÊNDICES
QUESTIONÁRIO - MUSICALIDADE PARA LICENCIANDOS EM MÚSICA DE UMA
IES DE CURITIBA
Seção 1 - Perfil
1.1 Idade
1.2 Gênero
● Masculino
● Feminino
● Prefiro não informar
1.3 Qual é o seu principal Instrumento?
1.4 Atualmente está lecionando música? (musicalização; instrumento; escola regular,
e outros) (sim ou não)
1.4.1 Se "sim", há quanto tempo?
1.4.2 Se "não", já teve alguma experiência ensinando música?
1.5 Qual ano está cursando de Licenciatura em música?
● Opção 1 - LM 1
● Opção 2 - LM 4
2.1 Assinale a alternativa (pode ser mais de uma) que representa melhor as
características de uma pessoa musical para você:
Opções:
● Natural: Todos nós somos musicais; é algo intrínseco ao ser humano;
● Dotada: Tendência particular para a música; tem dom ou talento;
● Educada: Teve mais experiências musicais, em família ou na escola,
“uma pessoa que pode captar os aspectos musicais que o professor
pede enquanto ouve uma música” ou “todas as pessoas podem se
tornar, se estimulado o suficiente e da mesma forma”;
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● Capaz: canta afinado, ouve com atenção, reconhece estilos musicais
e sobretudo mostra que possui boa habilidade rítmica;
● Criativa: Esta categoria concentra-se na criatividade; adora
experimentar e descobrir novos sons, ou inventá-los em muitas jeitos
diferentes;
● Alegre: A pessoa musical pode ser vista como uma que se diverte e
que gosta de música. Por exemplo: “canta, dança, fica feliz em ouvir
música” ou “que produz sons musicais, que toca e se diverte com a
música.”;
● Atraída: A pessoa atraída por sons e música, particularmente
interessado em atividades musicais. Algum exemplo de respostas:
“acompanha com interesse as atividades musicais”, “ele/ela tem
curiosidade sobre música e sons”;
● Movimento: a pessoa dança mais musicalmente e usa seu corpo ao
ouvir a música e ao fazer-música: “ele/ela dança enquanto ouve
música”, “dança, pula e se move no tempo";
● O Musicmaker: a pessoa mais musical é caracterizada por palavras
que indicam fazer música: “gosta de cantar e tocar”, “tem uma boa voz
para cantar”;
● Os Ouvintes: a pessoa mais musical é caracterizada pelas palavras
que indicam ouvir sons e música: “ouve música”, “está atento aos
sons”.
2.2 Assinale dentre as opções abaixo qual representa melhor o que significa
musicalidade para você:
3.1 Defina o que você entende por MUSICALIDADE com suas palavras
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