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Educação Literária
Unidade 2 | Crónica de D. João I, de Fernão Lopes

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Porto Editora
CAPÍTULO CXV
Per que guisa estava a cidade corregida pera se defender,
quando el-Rei de Castela pôs cerco sobr’ela.
Onde sabee que como o Meestre e os da cidade souberom a viinda del-Rei de Castela, e
esperarom seu grande e poderoso cerco, logo foi ordenado de recolherem pera a cidade os
mais mantiimentos que haver podessem, assi de pam e carnes, come quaes quer outras
cousas. […]
E ordenou o Meestre com as gentes da cidade que fosse repartida a guarda dos muros
5 pelos fidalgos e cidadãos honrados; aos quaes derom certas quadrilhas1 e beesteiros e
homẽes d’armas pera ajuda de cada uũ guardar bem a sua. Em cada quadrilha havia uũ sino
pera repicar2 quando tal cousa vissem, e como cada uũ ouvia o sino da sua quadrilha, logo
todos rijamente corriam pera ela; por quanto aas vezes os que tiinham cárrego 3 das torres
viinham espaçar pela cidade, e leixavom-nas encomendadas a homeẽs de que muito fiavom;
10 outras vezes nom ficavom em elas senom as atalaias 4; mas como davom aa campãa, logo os
muros eram cheos, e muita gente fora.
E nom soomente os que eram assiinados em cada logar pera defensom, mas ainda as
outras gentes da cidade, ouvindo repicar na See, e nas outras torres, avivavom-se os corações
deles; e os mesteiraes5 dando folgança a seus oficios, logo todos com armas corriam rijamente
15 pera u diziam que os Castelãos mostravom de viinr. Ali viriees os muros cheos de gentes, com
muitas trombetas e braados e apupos esgremindo espadas e lanças e semelhantes armas,
mostrando fouteza contra seus ẽmigos. […]
E nom embargando6 todo isto, o Meestre que sobre todos tiinha especial cuidado da guarda
e governança da cidade, dando seu corpo a mui breve sono, requeria per muitas vezes de noite
20 os muros e torres com tochas acesas ante si, bem acompanhado de muitos que sempre
consigo levava. Nom havia i neuũs revees dos que haviam de velar, nem tal a que
esqueecesse cousa do que lhe fosse encomendado; mas todos muito prestes a fazer o que lhe
mandavom, de guisa que, a todo boom regimento que o Meestre ordenava, nom minguava
avondança de trigosos executores7.
Teresa Amado (apres. crítica), Crónica de D. João I de Fernão Lopes, Lisboa, Editorial Comunicação, 2.ª edição, 1992, pp. 170-173
(texto com supressões)

NOTAS
1 5
quadrilhas – locais de muralha onde estavam os vigias. mesteiraes – artífices.
2 6
repicar – fazer os sinos produzir sons agudos e repetidos. E nom embargando – e não sendo suficiente tudo isto.
3 7
cárrego – carga, peso. trigosos executores – apressados executores.
4
atalaias – sentinelas.

1. O texto coloca em destaque um herói individual. Identifica-o, evidenciando as suas características.

2. Expõe duas atitudes do povo que demonstrem o seu apreço pelo Mestre e pela defesa da pátria.

3. Explicita o sentido das linhas 12 e 13.


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Crónica de D. João I, de Fernão Lopes

1. O herói individual apresentado no texto é o Mestre de Avis, que se caracteriza pela capacidade de liderança, organizando os
cercados e colocando-os na posição correta para a defesa das muralhas. Por fim, no último parágrafo, demonstra estar
constantemente em alerta, revelando que a defesa da cidade era a sua prioridade.

2. O povo, que se encontrava cercado juntamente com o Mestre, sempre que ouvia o sino a tocar, de imediato acorria ao seu posto e
mostrava-se preparado para lutar contra os castelhanos. Além disso, todos se encontravam dispostos a cumprir escrupulosamente as
ordens do Mestre de Avis.

3. A frase transcrita significa que não só os que tinham um posto específico para a defesa da cidade mostravam coragem e força para
lutar contra os castelhanos, mas também os restantes, sempre que ouviam o repicar do sino.

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