De acordo com as intenções comunicativas e os recursos linguísticos que se destacam, determinadas funções são atribuídas à linguagem. A função que predomina nesse texto é a conativa, uma vez que ele a) atua sobre o interlocutor, procurando convencê-lo a realizar sua escolha de maneira consciente. b) coloca em evidência o canal de comunicação pelo uso das palavras “corrige” e “confirma”. c) privilegia o texto verbal, de base informativa, em detrimento do texto não verbal. d) usa a imagem como único recurso para interagir com o público a que se destina. e) evidencia as emoções do enunciador ao usar a imagem de uma criança. QUESTÃO 2 Aprenda a chamar a polícia Eu tenho o sono muito leve, e numa noite dessas notei que havia alguém andando sorrateiramente no quintal de casa. Levantei em silêncio e fiquei acompanhando os leves ruídos que vinham lá de fora, até ver uma silhueta passando pela janela do banheiro. Como minha casa era muito segura, com grades nas janelas e trancas internas nas portas, não fiquei muito preocupado, mas era claro que eu não ia deixar um ladrão ali, espiando tranquilamente. Liguei baixinho para a polícia, informei a situação e o meu endereço. Perguntaram-me se o ladrão estava armado ou se já estava no interior da casa. Esclareci que não e disseram-me que não havia nenhuma viatura por perto para ajudar, mas que iriam mandar alguém assim que fosse possível. Um minuto depois liguei de novo e disse com a voz calma: — Oi, eu liguei há pouco porque tinha alguém no meu quintal. Não precisa mais ter pressa. Eu já matei o ladrão com um tiro da escopeta calibre 12, que tenho guardada em casa para estas situações. O tiro fez um estrago danado no cara! Passados menos de três minutos, estavam na minha rua cinco carros da polícia, um helicóptero, uma unidade do resgate, uma equipe de TV e a turma dos direitos humanos, que não perderiam isso por nada neste mundo. Eles prenderam o ladrão em flagrante, que ficava olhando tudo com cara de assombrado. Talvez ele estivesse pensando que aquela era a casa do Comandante da Polícia. No meio do tumulto, um tenente se aproximou de mim e disse: — Pensei que tivesse dito que tinha matado o ladrão. Eu respondi: — Pensei que tivesse dito que não havia nenhuma viatura disponível. Luis Fernando Veríssimo Disponível em: https://armazemdetexto.blogspot.com/2020/07/cronica-aprenda-chamar- policia-luis.html. Acesso em: 22 jul. 2021. Predomina nesse texto a função da linguagem que se constitui a) na organização da mensagem a partir de critérios estéticos que objetivam envolver os leitores na narrativa. b) no retrato das distintas condutas assumidas pelo referente em situações diversas. c) no intento de se escrever uma crônica tendo como objeto referenciado a própria crônica. d) no uso de interjeições que destacam, no texto, o ato comunicacional. e) no registro de uma experiência pessoal, sob uma visão parcial dos fatos. QUESTÃO 3 Deficientes visuais já podem ir a algumas salas de cinema e teatros para curtir, em maior intensidade, as atrações em cartaz. Quem ajuda na tarefa é o aplicativo Whatscine, recém-chegado ao Brasil e disponível para os sistemas operacionais iOS (Apple) ou Android (Google). Ao ser conectado à rede wi-fi de cinemas e teatros, o app sincroniza um áudio que descreve o que ocorre na tela ou no palco com o espetáculo em andamento: o usuário, então, pode ouvir a narração em seu celular. O programa foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade Carlos III, em Madri. “Na Espanha, 200 salas de cinema já oferecem o recurso e filmes de grandes estúdios já são exibidos com o recurso do Whatscine!”, diz o brasileiro Luis Mauch, que trouxe a tecnologia para o país. “No Brasil, já fechamos parceria com a São Paulo Companhia de Dança para adaptar os espetáculos deles! Isso já é um avanço. Concorda?” Disponível em: http//veja.abril.com.br. Acesso em: 25 jun. 2014 (adaptado). Por ser múltipla e apresentar peculiaridades de acordo com a intenção do emissor, a linguagem apresenta funções diferentes. Nesse fragmento, predomina a função referencial da linguagem, porque há a presença de elementos que a) buscam convencer o leitor, incitando o uso do aplicativo. b) definem o aplicativo, revelando o ponto de vista da autora. c) evidenciam a subjetividade, explorando a entonação emotiva. d) expõem dados sobre o aplicativo, usando linguagem denotativa. e) objetivam manter um diálogo com o leitor, recorrendo a uma indagação. QUESTÃO 4 “Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar, porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir.” Cora Coralina No texto, a função emotiva da linguagem pode ser identificada por meio da característica indicada em a) objetividade da informação transmitida, ausentando-se juízo de valor sobre o tema. b) emprego de formas verbais no pretérito, mantendo uma relação comparativa entre o eu passado e o eu presente. c) evidência do código reproduzido por meio dele próprio, esclarecendo o assunto principal. d) mensagem centrada no emissor, deixando claros seus anseios e suas percepções sobre a própria vida. e) presença de marcas de interlocução, legitimando o canal de comunicação. QUESTÃO 5 TEXTO I Fundamentam-se as regras da Gramática Normativa nas obras dos grandes escritores, em cuja linguagem as classes ilustradas põem o seu ideal de perfeição, porque nela é que se espelha o que o uso idiomático estabilizou e consagrou. LIMA, C. H. R. Gramática normativa da língua portuguesa, Rio de Janeiro José Olympio, 1989 TEXTO II Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie — nem sequer mental ou de sonho —, transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta de outros. Estremeço se dizem bem. Tal página de Fialho, tal página de Chateaubriand, fazem formigar toda a minha vida em todas as veias, fazem-me raivar tremulamente quieto de um prazer inatingível que estou tendo. Tal página, até, de Vieira, na sua fria perfeição de engenharia sintáctica, me faz tremer como um ramo ao vento, num delírio passivo de coisa movida. PESSOA, F. O livro do desassossego. São Paulo: Brasiliense, 1986. A linguagem cumpre diferentes funções no processo de comunicação. A função que predomina nos textos I e II a) destaca o “como” se elabora a mensagem, considerando-se a seleção, combinação e sonoridade do texto. b) coloca o foco no “com o que” se constrói a mensagem, sendo o código utilizado o seu próprio objeto. c) focaliza o “quem” produz a mensagem, mostrando seu posicionamento e suas impressões pessoais. d) orienta-se no “para quem” se dirige a mensagem, estimulando a mudança de seu comportamento. e) enfatiza sobre “o quê” versa a mensagem, apresentada com palavras precisas e objetivas. QUESTÃO 6 Diálogo de todo dia — Alô, quem fala? — Ninguém. Quem fala é você que está perguntando quem fala. — Mas eu preciso saber com quem estou falando. — E eu preciso saber antes a quem estou respondendo. — Assim não dá. Me faz o obséquio de dizer quem fala? — Todo mundo fala, meu amigo, desde que não seja mudo. — Isso eu sei, não precisava me dizer como novidade. Eu queria saber é quem está no aparelho. — Ah, sim. No aparelho não está ninguém. — Como não está, se você está me respondendo? — Eu estou fora do aparelho. Dentro do aparelho não cabe ninguém. — Engraçadinho. Então, quem está fora do aparelho? — Agora melhorou. Estou eu, para servi-lo. — Não parece. Se fosse para me servir já teria dito quem está falando. — Bem, nós dois estamos falando. Eu de cá, você de lá. E um não conhece o outro. — Se eu conhecesse não estava perguntando. — Você é muito perguntador. Pois se fui eu que telefonei. — Não perguntei nem vou perguntar. Não estou interessado em conhecer outras pessoas. — Mas podia estar interessado pelo menos em responder a quem telefonou. — Estou respondendo. — Pela última vez, cavalheiro, e em nome de Deus: quem fala? — Pela última vez, e em nome da segurança, por que eu sou obrigado a dar esta informação a um desconhecido? — Bolas! — Bolas digo eu. Bolas e carambolas. Por acaso você não pode dizer com quem deseja falar, para eu lhe responder se essa pessoa está ou não aqui, mora ou não mora neste endereço? Vamos, diga de uma vez por todas: com quem deseja falar? Silêncio. — Vamos, diga: com quem deseja falar? — Desculpe, a confusão é tanta que eu nem sei mais. Esqueci. Tchau. ANDRADE, Carlos Drummond de. Diálogo de todo dia. In: Para gostar de ler Júnior. v. 3. São Paulo: Ática, 2001. p. 21–22. Na crônica de Carlos Drummond de Andrade, a confusão entre os falantes é desencadeada por um trecho em que predomina a função da linguagem a) conativa, pois pretende-se saber com quem se fala e, por isso, o emissor se direciona ao receptor. b) fática, pois a pergunta sobre quem fala inicia o diálogo ao abrir o canal de comunicação. c) poética, pois ressai a intenção de construir uma narrativa humorística a partir de um jogo de linguagem. d) fática, pois o autor vale-se de marcas de oralidade ao longo do diálogo, como “Ah, sim”, “engraçadinho” e “bolas!”. e) emotiva, pois emprega-se uma linguagem predominantemente figurativa, o que atribui ao texto um caráter de intimidade. QUESTÃO 7 Perder a tramontana A expressão ideal para falar de desorientados e outras palavras de perder a cabeça É perder o norte, desorientar-se. Ao pé da letra, “perder a tramontana” significa deixar de ver a estrela polar, em italiano stella tramontana, situada do outro lado dos montes, que guiava os marinheiros antigos em suas viagens desbravadoras. Deixar de ver a tramontana era sinônimo de desorientação. Sim, porque, para eles, valia mais o céu estrelado que a terra. O Sul era região desconhecida, imprevista; já o Norte tinha como referência no firmamento um ponto luminoso conhecido como a estrela Polar, uma espécie de farol para os navegantes do Mediterrâneo, sobretudo os genoveses e os venezianos. Na linguagem deles, ela ficava transmontes, para além dos montes, os Alpes. Perdê-la de vista era perder a tramontana, perder o Norte. No mundo de hoje, sujeito a tantas pressões, muita gente não resiste a elas e entra em parafuso. Além de perder as estribeiras, perde a tramontana... COTRIM, M. Língua Portuguesa, n. 15, jan. 2007. Nesse texto, o autor remonta às origens da expressão “perder a tramontana”. Ao tratar do significado dessa expressão, utilizando a função referencial da linguagem, o autor busca a) apresentar seus indícios subjetivos. b) convencer o leitor a utilizá-la. c) expor dados reais de seu emprego. d) explorar sua dimensão estética. e) criticar sua origem conceitual. QUESTÃO 8 Soneto da fidelidade Vinícius de Moraes De tudo, ao meu amor serei atento antes E com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento E assim quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa lhe dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure Disponível em: <https://www.letras.mus.br/vinicius-de-moraes/86563/>. Acesso em: 22 jul. 2021. No texto de Vinícius de Moraes, o poeta emprega figuras de linguagem como um recurso de subjetividade da mensagem. Considerando essa característica, a função da linguagem que predomina nesse poema é a) emotiva, pois focaliza os sentimentos do emissor da mensagem e não depende de um planejamento para a construção estrutural do texto. b) conativa, pois direciona a mensagem ao receptor dela e busca tocá-lo sentimentalmente. c) fática, pois são recorrentes marcas de interlocução que revelam o caráter dialógico do texto. d) poética, pois a construção da mensagem tem como objetivo valorizar a estética textual associada ao sentimentalismo do eu-lírico. e) referencial, pois os verbos articulados na terceira pessoa permitem que o foco recaia sobre o contexto de comunicação. QUESTÃO 9 Vou-me embora p’ra Pasárgada foi o poema de mais longa gestação em toda a minha obra. Vi pela primeira vez esse nome Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. [...] Esse nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas” ou “tesouro dos persas”, suscitou na minha imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias, como o de L’invitation au Voyage, de Baudelaire. Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda sensação de tudo o que eu não tinha feito em minha vida por motivo da doença, saltou-me de súbito do subconsciente este grito estapafúrdio: “Vou- me embora p’ra Pasárgada!”. Senti na redondilha a primeira célula de um poema, e tentei realizá-lo, mas fracassei. Alguns anos depois, em idênticas circunstâncias de desalento e tédio, me ocorreu o mesmo desabafo de evasão da “vida besta”. Desta vez o poema saiu sem esforço como se já estivesse pronto dentro de mim. Gosto desse poema porque vejo nele, em escorço, toda a minha vida; [...] Não sou arquiteto, como meu pai desejava, não fiz nenhuma casa, mas reconstruí e “não de uma forma imperfeita neste mundo de aparências”, uma cidade ilustre, que hoje não é mais a Pasárgada de Ciro, e sim a “minha” Pasárgada. BANDEIRA, M. Itinerário de Pasárgada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Brasília: INL, 1984. Os processos de interação comunicativa preveem a presença ativa de múltiplos elementos da comunicação, entre os quais se destacam as funções da linguagem. Nesse fragmento, a função da linguagem predominante é a a) emotiva, porque o poeta expõe os sentimentos de angústia que o levaram à criação poética. b) referencial, porque o texto informa sobre a origem do nome empregado em um famoso poema de Bandeira. c) metalinguística, porque o poeta tece comentários sobre a gênese e o processo de escrita de um de seus poemas. d) poética, porque o texto aborda os elementos estéticos de um dos poemas mais conhecidos de Bandeira. e) apelativa, porque o poeta tenta convencer os leitores sobre sua dificuldade de compor um poema. QUESTÃO 10
Acesso em 22 jul. 2021. A agência Loducca criou um anúncio comestível para divulgar a pesquisa Dossiê Universo Jovem da MTV. A proposta é ser um anúncio autossustentável, já que o tema da pesquisa é sustentabilidade. Considerando suas finalidades comunicativas, pode-se afirmar que o cartaz a) alcança os interlocutores a partir de uma estratégia persuasiva centrada no modo verbal. b) utiliza o código como uma forma de estimular o consumo do produto divulgado na publicidade. c) foca nas intenções do emissor da mensagem para comunicar a importância da sustentabilidade. d) emprega a linguagem conotativa para despertar o interesse pelo assunto divulgado. e) mantém o compromisso com o caráter informativo da mensagem com objetividade na apresentação do tema. QUESTÃO 11
DOEDERLEIN, J. O livro dos ressignificados. São Paulo: Parábola, 2017.
Nessa simulação de verbete de dicionário, não há a predominância da função metalinguística da linguagem, como seria de se esperar. Identificam-se elementos que subvertem o gênero por meio da incorporação marcante de características da função a) conativa, como em “(valeu, galera)!”. b) referencial, como em “é festejar o próprio ser.” c) poética, como em “é a felicidade fazendo visita.” d) emotiva, como em “é quando eu esqueço o que não importa.” e) fática, como em “é o dia que recebo o maior número de ligações no meu celular.”