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Universidade José Eduardo dos Santos

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Faculdade de Medicina do Huambo

Conferência Internacional sobre Sinistralidade Rodoviária

Tema: Factor Humano Consequências Neuropsicológicas da Sinistralidade Rodoviária

António Mendes Sambalundo, PhD.


“Prof. Associado”

Luanda, Maio de 2022


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Resumo
A presente investigação realizou-se com o objectivo de caracterizar as consequências
neuropsicológicas da sinistralidade rodoviária na cidade do Huambo. Segundo o paradigma
quantitativo a investigação consistiu no estudo transversal descritivo, incluindo 156 pacientes a
quem se fez a caracterização das principais afectações neuropsicológicas. Empregou-se a adaptação
da bateria neuropsicológica de A.R Luria realizada por E, Xomskays (1987). Na análise estatística
dos dados obtidos, predominou como pacientes afectados por TCE os jovens de género masculino,
presença dos TCE grave e moderados com percentagens significativas, o lóbulo frontal como área
cortical foi o mais afectado. Verificou-se o predomínio dos TCE abertos, pacientes com estadia
hospitalar igual ou superior a 11 dias. Como principais consequências neuropsicológicas da
sinistralidade rodoviária, notaram-se níveis de ansiedade de estado significativamente alto,
manifestação da depressão de estado alto. No resumo da bateria neuropsicológica aplicada aos
pacientes com TCE, destacam-se os transtornos de cálculo, da compreensão e semelhança e a lecto-
escrita, afectação da orientação do tempo, predomínio da afasia sensorial e semântica, alterações no
ouvido fonemático e análise auditiva, alterações no transtorno de execução intencional de um gesto
como consequência de uma lesão cerebral, amnésia de fixação ou anterógrada, seguida da
retrograda ou de evocação, existência de limitações do pensamento, relacionados com actividade
analítica-sintéctica, a síntese simultânea, a capacidade para planificação controlar e verificar acções
assentes na terceira unidade funcional de trabalho cortical, que tem sua base nas estruturas pré-
frontal e frontal do córtex.
Palavras-Chave: Traumatismo Craneoencefálico, Consequências Neuropsicológicas e
Sinistralidade Rodoviária

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Summary
The present investigation was carried out with the objectiv of Cracterizar the neurop-
sicological consequences of road accidents in the city of Huambo. According to the quantitative
paradigm, the investigation consisted of a descriptive cross-sectional study, including 156 patients
who were ca-racterization of the main neuropsychological allocations. The neu-ropsychological
battery adaptation of A.R Luria performed by E, Xomskays (1987) was used. In the statistical
analysis of the data obtained, male young men, the presence of severe and moderate TRE with
significant percentages, the frontal lobe as a cortonic area was the most affected as patients affected
by TCE. significantly high levels of state anxiety, manifestation of high sthene depression, were
observed. There was a predominance of open TOR, patients with hospital stay equal to or greater
than 11 days. As the main neurpopsychological consequences of road accidents, significantly high
levels of state anxiety were observed, a manifestation of high stem depression. In the summary of
the neuropsychological battery applied to patients with TOR, we highlight the disorders of calculus,
comprehension and similarity and lecto-writing, allocation of time orientation, predominance of
sensory and semantic aphasia, changes in the ear phonematic and auditory analysis, alterations in
the intentional execution disorder of a gesture as a consequence of a brain injury, fixation amnesia
or anterrrograde, followed by retrograde or evocation, existence of limitations of thought, related to
analytical-synthetic activity, simultaneous synthesis, the ability to plan to control and verify actions
based on the third functional unit of cortical work, which has its basis in the prefrontal and frontal
structures of the cortex.
Keywords: Craneoencephalic Taumatism, Neuropsychological Consequences and Road
Accident

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Introdução
Entre as contradições das condições actuais de existência da humanidade está o aumento
crescente de acidentes na maioria das nações do mundo, o que tem aumentado o número de mortes
e pessoas que sobrevivem com sequelas físicas, psicológicas e limitações para uma vida social
produtiva.
Vários estudos indicam que os acidentes de viação constituem a principal causa de morte em
pessoas com idades compreendidas entre os 10 e os 24 anos em todo o mundo e são responsáveis
por cerca de 15% de todas as mortes nos homens, (WHO, 2013, Huang, Miranda, Hyder, 2010;
Patton, Coffey, Sawyer, Viner, Haller, Bose, 2009).
A Organização Mundial da Saúde reconhece lesões cerebrais traumáticas como um grave
problema de saúde pública.
A elevada incidência dos traumatismos craneoencefálico (TCE) originados pela sinistralidade
rodoviária é causa de morte e de variadas sequelas em muitos seres humanos e afecta,
fundamentalmente, adolescentes e jovens.
A Organização Mundial da Saúde define a lesão cerebral traumática ou Traumatismo
Craneoencefálico (TCE) como aquela lesão da cabeça (por contusão, lesão penetrante ou por força
de aceleração-desaceleração) que apresenta, pelo menos, uma das seguintes condições: alteração da
consciência ou amnesia por trauma cerebral, mudanças neurológicas ou neuropsicológicas,
diagnóstico de fratura ou lesões intracraniais que se podem atribuir ao trauma cerebral, García-
Molina (2010), Tagliaferri, Compagnone, et al (2006).
Entre os acidentes provocados pela Sinistralidade Rodoviária reconhecem-se como principais
causas dos TCE, que são provocadas pelas motorizadas, seguidos dos atropelamentos e os choques
entre veículos. García-Molina (2010), Marchio (2006).
Em Angola, a realidade é igual em todo território nacional. Parte significativa dos ferimentos na
cabeça são causados pela sinistralidade rodoviária com realce aos mototaxista, provocando danos ao
motorista ou ao acompanhante simultaneamente. Geralmente, esses acidentes estão associados ao
excesso de velocidade, ao não uso de meios de protecção, aos jogos praticados na estrada, daí
resultarem em atropelamentos, comportamentos dissociais, ao consumo de álcool ou outras
substâncias, ao stress, aos conflitos familiares e sociais. (Anuário estatístico de saúde pública do
Huambo, 2011). Assim sendo, o presente estudo tem como objectivo: Caracterizar as consequências
neuropsicológicas da sinistralidade rodoviária na Cidade do Huambo;

Considerações teóricas sobre o Factor Humano e as Consequências Neuropsicológicas da


Sinistralidade Rodoviária

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As considerações teóricas sobre o Factor Humano e as Consequências Neuropsicológicas da
Sinistralidade Rodoviária têm base na revisão assistemática da literatura na área da
Neuropsicologia. Assim, salienta-se que as lesões neurológicas que surgem no primeiro momento
diante de um TCE, centram-se naquelas que produzem sequelas motoras, sensoriais e sensitivas.
(Molas, Pérez-Bouton y Austí, 2007).
As lesões primarias são aquelas que produzem de forma imediata ao traumatismo. Incluem-se as
contusões, as lacerações cerebrais e a lesão axional difusa. Fernández, (2008), Fajardo y
Montenegro (2008).
As lesões primárias alteram o sistema altamente integrado, que carece quase totalmente de
capacidade funcional de reparação, a plasticidade, que é a habilidade de compensar um dano
estrutural é, também, limitada e provavelmente, embora seja mais limitada a medida que avança a
idade. Portanto, os efeitos das lesões primárias são, geralmente, irreversíveis.
Lesões secundárias, embora desencadeadas pelo impacto, manifestam-se num intervalo mais ou
menos prolongado de tempo depois do acidente. García-García (2009). São potencialmente
reversíveis, mas o tecido nervoso previamente danificado é extremamente vulnerável a elas.
As lesões terciarias incluem alterações neuroquímicas, “autodestrutivas” e / ou mediadores da
inflamação, e afectação dos factores neuroprotectores endógenos. Entre suas causas encontram-se
com frequência a Hipertensão intracranial, lesões com efeito de massa, vasoespasmo, hidrocefalia,
infecções, convulsões e anomalias do fluxo sanguíneo cerebral. Poca (2004), Orient-López (2004),
González et al. (1998).
A rotura do crâneo em fragmentos pequenos, algumas vezes origina desgarramento no cérebro e
isto proporciona uma porta de entrada de infecções. Estas fraturas por fendimento de acordo com a
sua localização vão dar lugar a signos neurológicos focais como são déficit motor e sensitivo de tipo
cortical, disfasia, defeito nos campos visuais, etc.. Nas fraturas deprimidas um ou mais fragmentos
do osso se tem fundido na massa encefálica comprimindo-a, sendo aberta em 85% dos casos, Mayer
y Rowland, (2000).
Dentro dos signos deficitários focais como da contusão se destacam: hemipressão, hemiplegias,
aparição de respostas reflexas anormais, sintomas de anestesias, transtornos da coordenação, ataxia,
entre outros. Como signos irritativos aparecem as convulsões: locais ou generalizadas, signos
meníngeos como a rigidez renal e a agitação psicomotriz. Em relação com a localização podem
causar perdida de força. (Hemiparesia), transtornos de linguagem (afasias), de campo visual
(hemionopsia) etc., mudanças de conduta e de memória que podem ser permanentes. Trías (2009),
Bernal-Pacheco (2009).
A epilepsia pós-traumática é uma das sequelas mais frequentes diante de uma incidência de um
TCE, produzindo-se ao redor de 5% de pacientes com traumatismos cerrados de crâneo e até em

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50% dos que têm sofrido uma ferida aberta do cérebro. Herrera (1998). Outra sequela importante é
a instabilidade nervosa pós-traumática, denominada síndrome post comocional. O sintoma central é
a cefaleia, generalizada ou localizada na parte golpeada. O doente é pouco tolerante ao ruído, a
excitação emocional.
Os traumatismos craneoencefálicos danificam com maior frequência as regiões orbitais, os polos
frontais e occipitais, o corpo caloso e o mesencéfalo, seja qual for o lugar do impacto e incluso em
ausência da fratura cranial. (Ibid).
Uma parte considerável dos pacientes com TCE morre antes de chegar aos hospitais, e 33% dos
que morrem nestes hospitais, tinham falado antes de entrar em coma, o que indica que a lesão difusa
primária não tem sido provavelmente operável. As causas principais da morte em TCE são os
hematomas, subdural agudo, a lesão axional difusa severa e o edema cerebral. Poca, (2004).
Nos TCE evidenciam-se, alterações neuropsicológicas, cognitivas e afectivas como déficit na
aprendizagem, na memorização, abstração, atenção, capacidades perceptuais, nas funções
executivas, motoras e da linguagem. Ardila y Ostrosky (2012), Ariza, Roser y Serra (2004),
Andrade, dos Santis y Bueno (2004).
Neste sentido, as alterações cognitivas da atenção afectam a qualidade de vida e o bem-estar das
pessoas, pois que não lhes permitem comportar-se como antes, pensar com um alto desempenho ou
fazer uso de alguma habilidade por completo. Depois de um TCE são frequentes os déficits para
dirigir a atenção a um estímulo, a incapacidade para manter essa atenção durante um período
determinado, o não controlo dos elementos de distracção, a incapacidade para mudar a atenção de
uma tarefa a outra ou realizar tarefas que exigem atenção dos elementos de forma simultânea,
Muñoz, Lapedriza et al (2001).
Os pacientes que têm apresentado TCE sofrem alterações cognitivas associados as lesões dos
lóbulos frontais e ao dano da substância branca, o que indica que o dano nesta área conduz a
debilidade da atenção sustenida, igual as lesões do lóbulo frontal, principalmente no hemisfério
direito, e dano no funcionamento normal do sistema reticular ascendente –lóbulo frontal. O que
provoca alterações nas funções como a atenção e a motivação. Cuervo y Quijano, (2008).
As lesões no lóbulo frontal alteram as formas superiores corticais de actuação produzidas com a
ajuda da linguagem ou em outras palavras, se alteram somente as formas superiores de atenção
voluntaria, De Almeida, (2010), Amado, (2005), Luria (1977).
De acordo com o modelo de Luria, em pacientes com dano frontal se observa a incapacidade
para manter a atenção e para resistir as distrações, se comportam como se sua conduta estivesse
totalmente controlada por respostas de orientação, apreciando-se reacções impulsivas a estímulos
irreversíveis que com frequência são socialmente inapropriados. Canto (2010).

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Segundo o modelo de Luria no caso de lesão cerebral que afecta a estrutura límbica (em especial,
do hipocampo) altera-se o sistema atencional; os pacientes apresentam a fatigabilidade,
incapacidade de manter uma meta ao longo do tempo e distratibilidade. García-Molina (2010).
Nestes problemas reflectem-se tipicamente as queixas dos pacientes sobre a incapacidade de
concentrar-se na hora de executar operações mentais complexas, na confusão e na perplexidade do
pensamento, na irritabilidade, a fadiga, e a incapacidade para fazer as coisas iguais ao período
anterior ao dano, o que afecta o seu desempenho na vida quotidiana. García-Molina et al. (2010).
A amnesia ou perda da memória dos feitos acontecidos durante a lesão apresentam-se quase
invariavelmente nos TCE que vão seguidos da perda da consciência. Pelo contrário, nas lesões mais
graves a amnesia é além demais retrógada e anterógrada. Esta perda da memória vai recuperando-
se de forma gradual, mas, geralmente, não recordam o próprio acidente e um período de tempo
variável permanecerá vedado para sempre.
As afectações nos lóbulos frontais são as que geram mais incapacidades dado que interferem na
habilidade dos pacientes para usar o conhecimento de forma fluída, apropriada ou adaptativa.
Muitas das pessoas que têm sofrido um TCE têm dificuldades para analisar, planificar e levar a
cabo a solução dos problemas ou tarefas complexas, enquanto que podem seguir realizando
correctamente as tarefas e actividades estruturais, que requerem pouca iniciativa ou direcção.
Assim, estes apresentam uma alteração da função executiva que inclui: a planificação, a
resolução de problemas, o pensamento abstracto, a flexibilidade mental, e o controlo e a regulação
dos procesos do pensamento e a conduta, García-Molina, (2010).
Têm-se descrito problemas na linguagem oral e escrita, assim como na repetição de orações e
afluência verbal.
Tanto as alterações emocionais como as condutais têm sua base orgânica principalmente nos
lóbulos frontal e temporal e nas estruturas subjacentes.
Entre as afectações, geralmente os TCE deixam sequelas físico-motoras que podem estar
acompanhadas ou não com traumatismos noutras partes do corpo. São frequentes as apraxias, as
dificuldades na marcha e a motricidade fina por dano cerebral. Cooper, Rosenfeld, Murray (2011).
Diante de um TCE, a ansiedade e a depressão são os transtornos mais comuns, enquanto que são
pouco habituais os transtornos mentais como o transtorno bipolar ou transtorno psicótico. Becerra,
Restrepo y Herrera (2006).
As complicações emocionais mais frequentes posteriores aos TCE são os transtornos ansiosos e
do estado de ânimo. É comum a depressão, a qual se tem observado em danos na parte anterior do
lóbulo cerebral esquerdo, principalmente nos gânglios basais e no córtex pré-frontal dorso lateral.
Nos últimos anos tem-se desenvolvido a hipótese do marcador semântico, o qual trata de explicar
a implicação de algumas regiões do córtex pré-frontal no processo de rassonamento e a tomada de

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decisão. Esta hipótese trata de dar resposta a uma série de observações clínicas em pacientes com
dano pré-frontal ventromedial.
As alterações neste grupo não se podem explicar em termos de defeitos em rassonamento, a
intelegência, a linguagem, a memória ou a atenção básica. Seus problemas apresentam-se no
funcionamento quotidiano, na emissão de juízos inadequados, assim como graves dificuldades no
desempenho pessoal e social. Na essência, trata-se de explicar o papel das emoções no
rassonamento para a tomada de decisões (Bechara, Damasio, 2005).
As mudanças mais frequentes são a apatia, e a perda da conduta explosiva, os problemas de
impulsividade, a desinibição e a euforia, a labilidade emocional, a conduta egocêntrica e infantil, a
supiscâcia, a intolerância e a frustração. Restrepo eHerrera (2006), Pelegrín, Gómez y Muñoz,
(2001).
Segundo sua localização topográfica assim se comportam as funções cognitivas do indivíduo. Na
actualidade, fala-se da importância do córtex frontal em processos como a memória, a atenção e as
funções executivas. O córtex temporal tem sido relacionado com a actividade da linguagem; o
occipital com a percepção visual e o parietal com a atenção percepção viso-espacial e a viso-
construção. Pérez (2012), Ardila y Ostrosky (2012).

Metodologia
A presente investigação parte do paradigma quantitativo que consistiu num estudo transversal
descritivo, que visou caracterizar as consequências neuropsicológicas da sinistralidade rodoviária
no Huambo. Dá-se ênfase às principais afectações neurológicas e neuropsicológicas aos jovens com
TCE internados no Hospital Geral do Huambo, no período de 1 de Julho a 31 de Dezembro de
2012.
Critérios de inclusão ao processo de investigação
 Estar diagnosticado como portador de um traumatismo craneoencefálico;
 Ser atendido no Hospital Geral do Huambo no período da investigação;
 Oferecer o consentimento informado para participar no estudo;
 Ter idade compreendida entre os 14 e 25 anos;
 Possuir o critério médico cujo estado clínico permite a aplicação das provas
neuropsicológicas;
 Possuir um nível escolar superior a 4ª classe.

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Critérios de exclusão ao processo investigativo
 Ter antecedentes de transtorno mental que afecte o funcionamento
neuropsicológico (psicoses, atraso mental, epilepsia ou outra condição clínica que
comprometa o sistema nervoso central);
 Manter recaídas no seu estado clínico que afectem o seu nível de vigília.

Critério de saída do processo de investigação


 Desejar voluntariamente abandonar a investigação.

Ao realizar-se o estudo transversal descritivo, partiu-se de um universo de 1056 pacientes, todos


atendidos no Hospital Geral do Huambo. Do universo seleccionou-se intencionalmente 156
pacientes correspondentes à 15,77%. Os demais pacientes não cumpriam com os requisitos.
Foram inclusos na amostra três (3) especialistas em neurocirurgia, dos quais dois trabalham no
Hospital Geral do Huambo, e o outro no Hospital da IV Região Militar, igualmente localizada na
cidade do Huambo. A investigação ficou conformada pelas seguintes técnicas:
 Bateria Neuropsicológica Breve de Huambo, adaptação da Bateria A. R. Luria
realizada por E. Xomskaya (1987);
 Inventário de Ansiedade de Rasgo-Estado;
 Inventário de Depressão Rasgo-Estado (IDERE).

Descrição da Bateria Neuropsicológica


Na presente investigação empregou-se a adaptação da Batearia Neuropsicológica de A. R. Luria
realizada por E. Xomskaya (1987). A mesma é tomada da adaptação realizada por Christense em
(1980).
Fez-se uma selecção dos principais elementos do exame neuropsicológico, e se sintetizaram os
componentes fundamentais em correspondência com a necessidade de alcançar uma exploração
dinâmica, rápida e precisa de acordo com as particularidades dos pacientes com TCE.

Resultados
Distribuição dos pacientes com TCE por idade e Género
Idade Género
Masculinos Femininos
N % N %
14 -19 64 48,85 10 40,00
20-25 67 51,15 15* 60,00
Total 131 100 25 100

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Fonte: Base de dados de estudo.X2 = 0.353 p≤0.552*. -Significa diferenças significativas. (P≤ 0.05) entre grupos
de idades do mesmo género. %. - Determinam-se sobre a base do total de pacientes de cada género.

Na tabela acima pode-se observar a distribuição porcentual dos pacientes com TEC segundo o
género e os grupos de idade. Em geral incluíram-se 25 mulheres e 131 homens, facto que revela que
os TCE afectam mais ao género masculino. A aplicação do teste de proporções permitiu perceber
que os pacientes do género masculino se encontraram em percentagens similares nos dois grupos de
idade em relação ao total dos mesmos, o qual se manifesta de forma diferente entre as mulheres,
pois que uma percentagem significativamente superior, de pelo menos P<0.05 pertence ao grupo de
idade de 18-23 anos. Por outro lado, ao comparar a proporção em que se distribuem os pacientes
dentro dos grupos etários por género em relação aos seus respectivos totais não se encontraram
diferenças significativas.
Finalmente se destaca que a proporção de pacientes com TCE sobre a base do total é
significativamente superior p<0.001 nos masculinos em relação aos femininos; não se encontrou
associação significativa entre a distribuição dos pacientes por grupos de idade e género. Esta
informação confirma que os rapazes são mais propensos em contrair TCE que as meninas, como se
tem observado nos estudos de. Huang, Lunnen, Miranda; Hyde (2010), Canto (2010), Nolan
(2005).
Destaca-se que 96 pacientes correspondendo a 61,53 %, já haviam sofrido um TCE, e 18,
equivalente a 11,53 % de casos, haviam passado por dois episódios deste tipo. A cifra assinalada
anteriormente refere-se às pessoas que receberam atenção médica por TCE, pois também na
amostra existiram 32 casos correspondente a 20,51% em que registaram caídas, golpes na cabeça e
feridas, antes do Traumatismos actual e que não foram avaliados clinicamente.
Como se pode apreciar, 146 pacientes equivalente a 93,58%, são reincidentes, aspecto que
denota a enorme importância prática de fortalecer as acções de prevenção nos três níveis de atenção
sanitária.
Resultados obtidos na Escala de Coma de Glasgow
GCS N %
Leve 11 7,05
Moderado 90 57,70
Grave 55 35,25
Total 156 100

A Escala de Coma de Glasgow foi aplicada na amostra objecto de estudo, como chave
determinante para a classificação da gravidade dos TCE, seguindo as pautas internacionais para
estes efeitos. De acordo com afirmações de especialistas, os casos que foram classificados como
leves (11), equivalente a 7,05 %, corresponderam a pacientes lesionados no crâneo que sofreram
uma perda de consciência de menos de 5 minutos e que apresentaram uma amnesia pós-traumática
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também de igual brevidade.
Ao chegar no banco de urgência ou pouco depois permaneceram consciente e orientados,
procuraram mover as extremidades, caminhar e ter força normal nos braços e nas pernas com um
resultado de 15 pontos na escala de coma de Glasgow (ECG). São pacientes que não apresentaram
fraturas carneais, cujos sintomas foram fundamentalmente cefaleias, náuseas e vómitos não
persistentes.
Os pacientes com traumatismos "moderados" foram tratados de acordo com o seu diagnóstico,
tendo em conta que sempre podem apresentar deterioramento no seu estado neuropsicológico e
devem ser reavaliados. Os traumas moderados, que resultam como sendo maioritários na amostra na
proporção de 90 que corresponde à 57,70% compreendem àqueles casos que apresentaram,
inicialmente, alterações moderadas da consciência. No caso em que se encontraram por debaixo dos
efeitos do álcool, resultou difícil precisar, por exame clínico, se a alteração da consciência foi
devida a contusão, compressão cerebral ou outros factores como a isquemia cerebral ou o próprio
estado de embriaguez. Deve destacar-se que da amostra 8 pacientes estiveram dentro desta categoria
e foi necessária a intervenção cirúrgica por complicações nas 72 horas posteriores ao internamento.
Os pacientes avaliados como graves na escala correspondem com 55 que representa 35,25% das
pessoas hospitalizadas. Todos precisaram de intervenção cirúrgica. Entre os critérios médicos para
avaliação contemplou-se a presença de fraturas deprimidas e hematomas intraparequimatosos que
desviavam as estruturas da linha media em mais de 0,5 cm.
Do total dos pacientes considerados graves, 35,25 % apresentaram alterações importantes do
nível de consciência, não abriam os olhos e ao fazê-lo era somente na chamada ou ao estímulo
doloroso, não falavam ou apresentavam uma linguagem incoerente.
Muitos pacientes manifestaram defeitos motores numa ou mais extremidade, sem, por isso,
confundir-se com impotência funcional por fraturas ou lesões articulares, assim como cefaleias
intensas ou progressivas e/ou vómitos repetidos.
Alguns pacientes apresentaram penetração intracranial do corpo estranho ou fraturas craniais que
se tornam visíveis através da ferida ou uma radiologia do crâneo, deformidade cranial evidente,
otorragia, alterações de nervos craniais (por exemplo paralexias facial) e quadros convulsivos,
agitação psicomotora ou rigidez da nuca pós-traumático tratamento inicial e fectuou-se tendo em
conta esta classificação e o tipo de lesão que se determinou nos exames complementares de imagens
diagnóstica (Rx de crâneo simples TAC), o que, por sua vez, nos mostra a localização das lesões.
Os pacientes com Glasgow de 8 ou menos, foram intubados, receberam sedação, relaxantes
musculares e logo foram postos em respirador, posteriormente foram transladados para a unidade de
cuidados intensivos para tratamento e uma vez indicado este, praticou-se monitorou-se da pressão
intracraniana, além do tratamento das respectivas lesões.

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Os casos que requereram intervenção cirúrgica foram maioritariamente as fraturas craniais (62
%) e alguns hematomas. Os que apresentaram colecções de sangue e que requereram cirurgia
tiveram intervenção imediatamente. Houveram aqueles que apresentavam um rápido deterioramento
neurológico antes de iniciar o procedimento cirúrgico, se lhes indicou o tratamento com manitol
0.250-1.0 g/kg enquanto se iniciava a cirurgia.
Localização do TCE segundo a área cortical afectada
Localização N %
Frontal 95* 60.90
Fronto-temporal 3 1.92
Fronto-orbital 2 1.28
Fronto-parietal 5 3.21
Parietal 14 8.97
Occipital 16 10.26
Temporal 21 13.46
Total 156 100
Fonte: Base de dados de estudo. *. -Significa diferenças significativas (p≤ 0.05) a respeito das restantes localizações.
%. - Determinam-se sobre a base do total de pacientes.

Pode-se observar a distribuição percentual dos pacientes segundo a localização do TCE. Os


pacientes com localização frontal 60.90 %, encontraram-se numa proporção significativamente
superior (p<0.001) as restantes, as quais apenas alcançaram uma percentagem a volta de 10 % para
localização parietal, temporal e occipital, enquanto que as frontotemporal, frontoorbital e
frontoparietal apresentaram a percentagem de 3 % ou menos.
Os resultados mostram que as áreas frontais são as mais danificadas em pacientes estudados,
aspectos que indica que a funções psíquica vinculada com a planificação e verificação das acções o
controlo emocional, a memória operativa e a tomada de decisão pode ter sido afectada. Os dados
coincidem com os aportes investigativos que indicam a presença de afectação nas funções
executivas em pacientes com TCE. Quijano y Arango at al. (2012), Noreña y Sánchez-Cubillo et al.
(2010).
Distribuição dos pacientes segundo as características gerais dos TCE
Tipo de TCC N %
Aberto 89 57,05
Cerrado 67 42,95
Total 156 100
Fonte: Base de dados do estudo. P.c.037 %. - Determinaram-se sobre a base do total de pacientes.

Os pacientes com TCE aberto encontraram-se numa percentagem de 57.05%, significativamente


superior (p<0.037), o que é indicativo de um alto risco para vida e necessidade de actividade
cirúrgica. A diferença significativa favorece em certa medida ao prognóstico dos TCE pelo
significado que têm os traumatismos abertos de melhor expectativa dada a possibilidade de

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recuperação que têm os pacientes. Segundo Bell (2008) o dano cerebral aberto chega a produzir
abertura traumática da duramate, o que leva ao risco do aparecimento de uma infecção secundária e
de epilepsia pós-traumática.
Estadia hospitalar dos pacientes com TCE
Estadia hospitalar N %
≤10 dias ou menos 68 43,59
≥11 dias ou mais 88 56,41
Total 156 100
Fonte: Base de dados de estudo. P=05 %. - Determinaram-se sobre a base do total de pacientes.

Apresenta-se a percentagem de pacientes com TCE segundo a estadia hospitalar. Os pacientes


com TCE que tiveram uma estadia hospitalar maior ou igual a 11 dias se encontraram numa
percentagem significativamente mais elevada (p < 0.05) que aqueles com estadia menor ou igual a
10 dias deve aproveitar-se para a atenção reabilitatória e o desenvolvimento de medidas preventivas
que incidam favoravelmente em pacientes e seus familiares.
Por outra, deve assinalar-se que uma curta estadia pode implicar que o paciente abandone a
instituição hospitalar num estado de saúde desfavorável. Também pode se aumentar as sequelas de
TCE ou produzir-se a morte. Esta informação faz pensar na importância de incluir nos hospitais
clínico-cirúrgico serviços de neuropsicológica, que em conjunto com a neurocirurgia, neurologia e
reabilitação permitam oferecer uma atenção mais integral possível ao paciente e aos familiares que
directamente vão vincular a sua recuperação.

Pacientes com TCE com intervenção ou não cirurgicamente


Intervenção N %
Sim 98 62,82
Não 58 37,18
Total 156 100
Fonte: Base de dados de estudo. P=001 %. - Determinam-se sobre a base do total de pacientes com TCE.

Apresentam-se as percentagens de pacientes com TCE que foram ou não submetidos a


intervenção cirúrgica. Destaca-se que a percentagem significativamente elevada (p<0.001) dos
pacientes portadores de TCE precisaram de intervenção cirúrgica, esta percentagem supera em
algumas unidades ao de pacientes com TCE abertos. Os dados incluídos na tabela acima
demonstram a gravidade dos pacientes acidentados, requerendo em 62,82 % de intervenções
cirúrgicas, favorecem a sobrevivência ao TCE. Muitas vezes deixam sequelas de ordem
neuropsicológica que requerem de atenção especializada.

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Níveis de ansiedade de estado e rasgo em pacientes com TCE
Nível de Ansiedade Ansiedade de Estado Ansiedade de Rasgo
N % N %
Baixo 11 7.05 28 17.94
Médio 45 28.84 77* 49.35
Alto 100* 64.10 51 32.69
Total 156 100 156 100
Fonte: Base de dados de estudo. X2 = 29.73 p≤0.001 *. - Significa diferenças significativas (p≤ 0.05) entre níveis de
ansiedade por tipo de ansiedade. %. - Determinaram-se sobre a base de total de pacientes com TCE.

Pode-se apreciar a distribuição porcentual dos pacientes com TCE segundo os níveis de
ansiedade de estado e rasgo. As porcentagens de pacientes com TCE com níveis baixos e médio de
ansiedade foram significativamente superiores (p<0.002) ao estado manifestando-se contrariamente
no nível alto de ansiedade de estado o que foi significativamente (p<0.001) superior em maior
percentagem de pacientes; isto indica como era de esperar, que como consequência da situação
acontecida os TCE aumentam-se as percentagens de pacientes com nível de ansiedade de estado
alto.
O tipo de ansiedade de estado ou rasgo se associa muito significativamente (p<0.001) ao nível do
mesmo. A aplicação do teste de proporções por tipo de ansiedade aportou que as percentagens de
pacientes com nível médio de ansiedade de rasgo foram significativamente maiores (p<0.05) que os
níveis baixos e altos. A percentagem dos pacientes com nível alto de ansiedade de estado foi
significativamente superior (p<0.001) aos da percentagem daqueles com níveis de ansiedade média
e baixa. Esta informação confirma que os acidentes que provocam o trauma e as manifestações
clínicas de TCE levam em maior ou menor medida a todos os pacientes a expressão da ansiedade.
Níveis de depressão de estado e rasgo em pacientes com TCE
Nível Depressão de Estado Depressão de Rasgo

N % N %
Baixo 14 9.09 33 21,15
Médio 36 23.38 72* 46.15
Alto 106* 67.94 51 32.69
Total 156 100 156 100
Fonte: Base de dados de estudo.X2 = 39.45 p≤0.001 *. - Significa diferenças significativas (p≤ 0.05) entre níveis de
depressão por tipo de depressão. %. - Determinaram-se sobre a base de total de pacientes com TCE.

Mostra-se a distribuição percentual dos pacientes com TCE segundo níveis de depressão de
estado e rasgo. As percentagens dos pacientes com TCE de nível baixo e médio de depressão foram
significativamente superiores ao menos p<0.002 com respeito aos da depressão de estado,
manifestando-se contrariamente o nível alto de depressão de estado, o que foi significativo
14
(p<0.001) numa maior percentagem de pacientes, isto é lógico, pois como consequência da situação
acontecida se aumenta a percentagem de pacientes com nível de depressão de estado alto.
O tipo de depressão, ou seja, de estado se associa muito significativamente (p<0.001) o seu nível
nos pacientes com TCE. A análise por tipo de depressão tomando como base o teste de proporções
aportou que a percentagem de pacientes com nível médio de depressão de estado foi
destacadamente superior (p<0.001) a percentagem daqueles com níveis de depressão médio é baixo.

Resumo dos resultados obtidos por pacientes na Bateria Neuropsicológica.


Síndromes neuropsicológicos SI NO
N % N %
Funções de orientação 128 82.05 28 17.95
Apraxia e motricidade 118 75.64 38 24.36
Agnósia e percepção 118 75.64 38 24.36
Afasia e linguagem 111 71.2 45 28.8
Lecto-escritura 130 83.3 26 16.7
Recordação imediata 115 73,7 41 26,3
Recordação mediata 105 67,3 51 32,7
Semelhanças e compreensão 142 91,50%). 14 8.98
Cálculo 145 92.9 11 7.1
Atenção e memória operativa 113 72.4 43 27.6
Fluidez verbal 92 59 64 41
Fonte: Base de dados de estudo.X2 = 26.83 p≤0.01. %. – Determinaram-se sobre a base do total de pacientes com
TCE.
Pode-se apreciar a distribuição porcentual da presença ou não de diferentes tipos de transtornos
neuropsicológicos em paciente com TCE. Destaca-se que as percentagens de pacientes com TCE
que apresentaram os diferentes transtornos neuropsicológicos foram significativamente superiores
(p<0.001) àqueles que não os apresentaram.
Destas percentagens correspondem mais de 70%, assim o cálculo de 92,9 % seguido pelo
transtorno da compreensão e semelhanças 91,02 %, e a lecto-escritura 83,3 %, estiveram presentes
que apresentaram ou não os mesmos.
Ao aplicar o teste X2 encontrou-se uma associação muito significativa (p<0.001) entre tipo de
transtorno neuropsicológico e percentagem de pacientes que apresentaram ou não os mesmos.
Ao aprofundar a análise da orientação encontrou-se que a mais afectada foi a orientação no
tempo com 69,82 %, seguida da orientação no espaço com 61,54 % e por último a orientação
pessoal com 55,76 %. Na aplicação da entrevista notou-se paciente desorientados, incapacitados, e
inclusive com dificuldades para nomear dados autobiográficos. Estes dados coincidem com as
afirmações de Ardila y Ostrosky (2012), Canto (2010).
O comportamento nas diferentes categorias de orientação como se descreve deve relacionar-se
com as afectações na primeira unidade de Luria definida para a activação e regulação do tono

15
cortical, área especializada na vigília e a concentração, elementos que se danificam na pessoa com
TCE.
A afectação do nível de vigília reflecte na orientação e pode-se associar a presença de fármacos
como os anticonvulsivos, em todos os casos encaminhados a prevenção e ao tratamento das crises
convulsivas posteriores ao evento traumático que podem provocar efeitos como a sonolência, e isto
pode alterar os resultados obtidos durante a entrevista ou por estar abaixo de um regime hospitalar
onde, muitas vezes, se perde a noção dos eventos diurnos ou nocturnos, e isto poderia incidir em
alguns dos sujeitos que responderam incorrectamente as perguntas sobre a orientação alo-psíquica
embora uma percentagem menor comparado com a orientação auto-psíquica.
Pode-se referir que predominaram as disfunções de orientação com uma tendência ao aumento
da desorientação auto-psíquica o que evidência as dificuldades para os pacientes reconhecerem e
expressarem sua identidade. Na afasia verificou-se que a sensorial apresentou 74,36%, a semântica
72%, acústica mnésica 70,51%, motora aferente 68,59% e motora de broca 67,95%
respectivamente.
Encontraram-se alterações no ouvido fonemático e análise auditiva manifestando-se em
automatização da expressão verbal, a compreensão por exemplo quando se perguntava como se
chamavam as pessoas que vivem no Huambo, quase não entendiam o que significava e, por
conseguinte, ficavam sem respostas e outras demoravam em responder. Havia casos em que se
registou a desintegração gramatical e dificuldades na inter-relação das orações, o que justifica a
presença da afasia semântica.
Dificilmente compreendiam as frases largas. Notou-se a repetição das palavras em alguns
momentos e erros nas articulações fonemáticas. Por exemplo, nas palavras benignidade e
transcendência os pacientes equivocavam-se na pronunciação e dificilmente conseguiam articular as
letras ou fonemas das palavras.
Tratando-se detalhadamente da apraxia definida como um transtorno na execução intencional de
um gesto consequentemente a uma lesão cerebral, Ostrosky-Solís, Ardila, Roselli, Rosellí (2012),
Ardila, Ostrosky (2012) analisaram-se as categorias de apraxia ideacional, (67,30 %), ideomotora
(66,02 %) e construtiva (63,47 %).
Nos pacientes com TCE internados no Hospital Geral do Huambo notou-se uma falha enorme
dos gestos elementares das práxis manuais, como, por exemplo, o toque sucessivo do dedo polegar
sobre os demais dedos, a prova de imitação dos actos motores punho-dedos, o giro do rosto, encher
as bochechas e fazer como se apagar um fosforo. Estas afecções são indicativos da presença da
apraxia ideomotora. Também se notaram dificuldades gestuais, principalmente como pentear-se,
mostrar como alguém se aproxima. Estas afecções são indicativos da presença da apraxia
ideomotora. Se notaram limitações em alguns pacientes para desenhar um triângulo, um retângulo e

16
separar os cubos com diferentes cores, o que denota a presença da apraxia construtiva. Ostrosky-
Solis, Ardila, Rosellí (2012). Estas alterações podem estar vinculadas com o dano focal e difuso.
A Agnósia também se teve em consideração no momento da exploração neuropsicológica, donde
se manifestou com percentagem maior na categoria de rostos 83,30%, pois resultou muito difícil
para os pacientes identificar numa série de fotografia, o rosto do actual presidente de Angola e
outras personagens importantes no cenário político e artístico.
A agnósia visual do sujeito foi a segunda mais afectada, com uma percentagem de 63 %, a de cor
53,85 %. Recorda-se que os pacientes ao nomear as diferentes partes das cores do consultório onde
se fez o diagnóstico, poucos descreveram conforme se apresentava na realidade. Esta informação
confirma a presença das alterações perceptuais descritas por autores entre eles, Pérez (2012),
Ostrosky-Solís, Ardila, Roselli (2012), Canto, (2010), Kolb (2006).
Os dados obtidos da exploração neuropsicológica e de maneira especial o aportado pela prova da
memória de Luria indica a presença de amnesia. Predominou a amnesia de fixação ou anterógrada
67,30 %, seguida da presença da retrograda ou de evocação 32,69 %. Os pacientes com repetição
em cinco ocasiões da série de palavras não elevaram significativamente a quantidade de elementos
retidos.
Nos 33 casos não se observaram tentativa de ractificar os erros cometidos nem crítica destes,
alguns nem fizeram esforço de memorizar uma palavra. Os 40,38% dos pacientes não conseguiram
nomear mais de duas palavras nas séries definidas. As menores pontuações obtidas na memória
imediata no trabalho concertado de sistemas funcionais vinculados com as áreas frontais do córtex
são necessárias para o bom desempenho das funções executivas: Canto (2010), Ríos y Muñoz
(2004).
Em 23,07 % pacientes encontram-se afectações mnésicas nos processos de fixação, conservação
e evocação do jogo mnésico, afectando-se a primeira unidade funcional, encarregada de activação
nervosa superior ou actividade psíquica, que inclui a função mnésica. Pérez (2012).
A compreensão e semelhança aportou dificuldades, em 91,50%. Os três exemplos aplicados
denotaram dificuldades, com maior nível de complexidade ao terceiro, ao estabelecer semelhanças
entre olhos e nariz. 62 dos casos não conseguiram estabelecer nenhuma relação, e manifestaram que
estes não pareciam em nada e se sentiam agastados ao fazer qualquer esforço para a resolução de
tarefas.
Esta informação confirma a existência de limitações nos processos básicos do pensamento nos
pacientes estudados, relacionados com a actividade analítico-sintética, a síntese simultânea, a
capacidade para planificar, controlar e verificar acções pertencentes a terceira unidade funcional de
trabalho cortical que, como bem é conhecida, tem sua base nas estruturas pré-frontal e frontal do

17
córtex e corrobora com os dados referidos por Ardila y Ostrosky (2012), Canto (2010) y Luria
(1982).
Na subprova de cálculo 86,54 %, ao aplicar os exercícios elaborados antes das respostas os
pacientes manifestavam que não podiam responder porque não gostavam de exercícios aritméticos
desde os primeiros anos de ensino. Na primeira tarefa observou-se a incapacidade para executar o
cálculo de forma mental, nestes casos requereu-se de recursos auxiliares como a contagem manual.
De forma geral, o resultado de cálculo demonstra lesões na segunda e terceira unidades funcionais
proposta por Luria, afectando-se as áreas temporais, parietais, frontais e pré-frontais.
Utilizou-se também a leitura. Esta tarefa compreende dois momentos fundamentais, o primeiro
correspondeu à leitura em voz alta e o segundo à análise ou compreensão do texto. Os resultados
obtidos durante o processo de leitura em voz alta denotam dificuldades isoladas quanto a entoação,
fluidez, as pausas requeridas devido ao não reconhecimento dos signos de pontuação e maior
lentidão no processo de leitura.
Ao analisar-se a fluidez verbal dentro dos processos da linguagem, o carácter destes sintomas
pode associar-se além do nível de desenvolvimento pré-mórbido de hábito (leitura), assim como ao
grau de automatização deste processo. Identificou-se o esgotamento e a diminuição do estado de
activação durante a realização da tarefa.
Um segundo momento correspondeu a compreensão do conteúdo do texto lido, com o objectivo
de submeter ao mesmo a uma análise, destacando-se elementos essenciais, relacionando-lhes entre
si e desta maneira compreender o seu sentido essencial. Neste momento, encontraram-se
dificuldades no processo de compreensão do texto 71,15%, por exemplo, quando se lhes perguntava
acerca do porquê se afogou a primeira minhoca ao que se refere ao fragmento manifestaram que se
afogou sem oferecer a razão e o outro se salvou porque saiu para fora.
Estes pacientes não conseguiram decifrar o sentido do texto, devido a impossibilidade de
destacar os seus componentes essenciais, compará-los entre si, inibir os juízos prematuros e sobre a
base deste trabalho analítico-sintético, compreender o sentido geral do fragmento. Recorda-se que
as dificuldades assinaladas não se manifestaram da mesma maneira em todos os casos.
Por exemplo: aqueles com maiores problemas para a retenção do volume do texto 27,56% dos
casos, depois de oferecer-lhes os níveis de ajuda correspondentes, como uma segunda ou terceira
leitura, conseguiram analisar correctamente o conteúdo do fragmento, embora quando se requerem
tentativas prolongadas para orientar-se no mesmo. A actividade destes pacientes conserva a sua
selectividade, e alcança o sentido geral, inclusive o aspecto abstracto do texto.
Pelo contrário, observaram-se outros dois casos onde, apesar de oferecer níveis de ajuda, a
análise substitui-se por suposições impulsivas que vão a surgir como consequência da captação de
fragmentos isolados, pelo que se torna muito difícil a assimilação do conteúdo geral da leitura.

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Por exemplo, um deles, quando se lhe interrogava acerca da primeira minhoca, que corresponde
a primeira parte do fragmento, respondia que se afogou porque não sabia nada, e em relação a outra
minhoca, afirmou, igualmente, que se afogou porque se cansou, o que reflecte que o paciente
somente conseguiu captar fragmentos isolados cujas respostas denotaram o aparecimento de
estereótipos inertes, que surgem na operação da segunda unidade, pelo que em lugar da análise
selectiva do fragmento aparece uma série não selectiva de conexões fragmentadas, associações
secundárias e perseverados, que tornam impossível uma compreensão adequada. Observaram-se
pacientes com lesões nas áreas frontais que afectam directamente a compreensão.
A análise da escrita compreendeu dois elementos básicos: a escrita do ditado e a escrita por
cópia. Dos pacientes com TCE 66,02%, dos casos que apresentaram dificuldades na escrita, 57
cometeram erros na escrita por ditado e 89 por cópia. Na escrita por ditado as dificuldades estão
relacionadas com a mudança ou omissão de grafemas. Os erros na composição sonora da palavra
neste caso as omissões, denotaram dificuldades na análise e a síntese auditivo-articulatória.
Na escrita por cópia, igualmente encontraram-se as mudanças de letras (de l por n) e omissão da
letra s) na formação do plural, em 64 dos casos. 33 casos apresentaram uma deformação no carácter
das letras, onde alguns elementos isolados que conformam a mesma se inscrevem em relações
espaciais inadequadas. Estes pacientes apresentaram trauma cranial occipital, que se pode relacionar
com certas alterações viso-espaciais.
As alterações na habilidade caligráfica podem estar condicionadas, além disso, pelo nível de
desenvolvimento pré-mórbido de hábito da escrita, e do grau de automatização deste processo,
assim como a variação desta relação com o esgotamento que pode aparecer durante a prova, o que
pode influir numa forma de mudança ao tono geral da actividade cortical.
Em 26,92 % apreciou-se uma conservação dos movimentos finos que integraram a composição
da escritura, e donde existe além demais, uma conservação do ouvido fonemático, o que resulta da
essência para a análise da composição acústica da palavra, etapa inicial de toda escrita. Nestes
casos, encontram-se conservadas, igualmente, a ordem necessária dos sons, a qual desempenha um
grande papel na escrita, assim como, a sua última etapa, relacionada com a recodificação dos
elementos acústico destacados (fonemas) em elementos ópticos (grafemas) e com sua execução
motriz.
Ao estabelecer correlações com o emprego da estatística verificou-se que existe uma alta
correlação entre as funções de orientação e as manifestações de agnósias, obtendo-se um nível de
significação bilateral de 0.000. De igual maneira ao correlacionar-se as expressões de apraxia e
agnósias obteve-se um valor de 0.000.
Resultados similares encontraram-se ao correlacionar a análise das afasias e as agnósias e a
relação entre afasia e lecto-escritura com um valor de 0.000. Estas correlações expressam que se

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bem as síndromes têm uma expressão peculiar que se identifica, podem aparecer associados com
alta frequência. Estes resultados ilustram-se no seguinte gráfico da caixa e bigotes.
Gráfico nº 2 - Comparação entre indicadores de síndromes neuropsicológicos

Principais Consequências Neuropsicológicas da Sinistralidade Rodoviária


Eis as principais consequências neuropsicológicas da sinistralidade rodoviária comprovadas no
processo diagnóstico:
1. Lesões neurológicas que provocam sequelas motoras, sensoriais e sensitivas;
2. Com base na Escala de Coma de Glasgow: perda de consciência em menos de 5 minutos,
amnésia pós-traumática, alterações moderadas e graves da consciência, fraturas deprimidas e
hematomas intraparequimatosos, linguagem incoerente;
3. Defeitos motores, impotência funcional por fratura ou lesões articulares e cefaleias intensas;
4. Danos frequentes no lóbulo frontal, causando às pessoas acometidas com o TCE, problemas
de planificação e verificação das acções, controlo emocional, memória operativa e tomada
de decisão;
5. Elevação dos níveis de ansiedade e de depressão;
6. Transtornos de compreensão e de semelhança, lecto-escritura;
7. Afectação nas funções de orientação no tempo, no espaço e pessoal, bem como, a
desorientação auto-psíquica;
8. Afectação de apraxia e motricidade, agnósia e compreensão, cálculo, atenção e memória
operativa e fluidez verbal.

Deste modo, por áreas de afectação, eis as unidades neurofuncionais:


a) Unidade funcional de Luria definida para activação e regulação do tono cortical, área
especializada na vigília e a concentração, elementos que se danificam na pessoa com
TCE, provocando alterações na activação nervosa superior ou actividades psíquica que
inclui a função mnésica;

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b) Segunda unidade funcional proposta por Luria, afectando os lóbulos parietal, temporal e
occipital, provando dano no processo de recepção, análise e armazenamento das
informações;
c) Terceira unidade funcional de trabalho cortical, que tem sua base nas estruturas pré-
frontal e frontal do córtex, que afectam directamente a compreensão e o controlo da
conduta emocional.

Conclusões
Predominaram os TCE abertos, avaliados na escala de coma de Glasgow como moderados e
severos, que necessitam de uma hospitalização maior de 11 dias, requerendo, muitas deles,
intervenção cirúrgica e, observando maior afectações nos lóbulos frontais.
Detectou-se um predomínio de níveis altos de ansiedade e de depressão como estado e nível
médio de ansiedade e depressão como rasgo. Também se encontraram dificuldades para o cálculo,
para a compreensão, flexibilidade e actividade analítico-sintética e em menor proporção limitações
na lecto-escritura, orientação e actos motores voluntários.

Recomendação
Valorizando a presença de afectações neuropsicológicas nos pacientes com TCE deve-se
considerar a avaliação como elemento essencial em diagnóstico, atenção e reabilitação destes
pacientes, resultando uma necessidade actual a criação de serviços de reabilitação de psicologia
com especialistas em neuropsicológica nos Hospital Geral do Huambo e, por dedução, nas demais
unidades sanitárias de referência no país.

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