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o reino das idéias © tema da criatividade aplicada ao fazer publicitirio vem despertando interesse dos estudiosos, especialmente pelo fato de se exigir dos profissionais de criagio das agéncias de propaganda solugdes originais full-time, As duplas de criativos, formadas por um redator e um diretor ¢ — modelo mais adotado no mundo pelas corporagdes que oferecem ser- vigos publicitirios —, sio valorizadas de acordo com o talen to de gerar idéias inusitadas para a comunicacio dos clientes, E, no contexto atual, no basta ser dotado dessa capacidade geradora. Cabe is duplas produzir idéias em grande volume, para evitar proposigdes coincidentes, ¢ ainda fazé-lo com ra pidez, obedecendo a prazos cada dia mais exiguos — as vezes no mais que algumas horas, do momento em que recebem 0 pedido de servigo até a veiculagio nos mass media. Hi poucas contribuigdes académicas sobre o assunto € uma pequena bibliografia que se restringe a abordar bre vemente o proceso de produgio de idéias no aso especiti co dos publicitirios. Seguindo 0 ponto de vista de Rocha,! definimos esse tipo de profissional como um bricolewr, ji que sua missio € compor mensagens, preferencialmente de im- pacto, valendo-se dos mais diversos discursos que possi servir ao proposito de persuadir 0 piiblico-alvo, Os criatvos atuam cortando, associando, unindo ¢, conseqiientemente, editando informagées do repertério cultural da sociedade. A bricolagem, assim como pensamento mitico, é a operagio intelectual por exceléncia da publicidade, Essa posigio teo- rica € também a assumida pelo proprio mereado na figura do publicitirio brasileiro mais premiado internacionalmente, Washington Olivetto, que afirma ser o criativo um ‘adequa- dor’ de linguagen Como contribuigio a0 assunto, estudamos um dos métodos de criagio mais explorados no cotidiano das agéncias de propaganda: a associag3o de idéias.’ Por meio dessa prixis, uma idéia é ligada, mesclada ou nalgama- da a outra, gerando uma nova informagio — a resposta dos profissionais que elaboram 0s materiais publicitirios 3 Cone eosin de te alam popup CARRASCOZA, 2013 0 teino das idéias 0 desafio proposto em briefing. Apoiamos nossa argumen- ago inicialmente em Aristételes, para quem as idéias po- diam ser associadas por semelhanca, contraste © contigiidade No século XVIII, 0 filésofo David Hume acrescentou a essa classificagio a associagao por causa ¢ efeito € suprimiu a de contraste por julgé-la uma mescla entre a associagio por semelhanga © contigiidade.* Recorremos entio a exemplos similares dados por Hume para definirmos melhor cada um desses tipos de associagio: quando observamos uma paisagem reproduzida em um quadro, nossos pensamentos so conduzidos 4 cena original, 0 que € uma associagio por semelhanga. Quando se fala sobre um apartamento em determinado edifi pode-se pensar em outros existentes ali; a associagio se da entio por contigiiidade. Se pensamos em um ferimento, € quase impossivel nio nos lembrarmos da dor que ele provoca, por isso a conexio de idéias nesse caso & a de causa gfeito. Nio & por acaso que a associagio de idéias — e, sobretudo, a livre associagio —, vinculada 4 interpretagio dos sonhos, tornou-se uma das pedras funda mentais da técnica psicanalitica, ‘Vejamos em um antincio — pega mais representativa da publicidade impressa — os diferentes elementos culturais associados que compdem seu texto, aq adi entendido como iensio verbal e visua A proposigio expressa em seu titulo é “Use Valisére que © seu candidato fica para o turno” (Figura 1), Para chegar a ela, 0 redator associou 0 momento politico do pais, tio as _vésperas do segundo turno das eleigdes para governador, iid de que s6 com Foupas intimas atraentes uma mulher seria capaz de levar um homem (eu candidato) a uma segunda sessio de sexo ha mesma noite (causa ¢ efeito). No campo vist a foto de uma mulher vestindo uma lingerie provocante ao lado de um homem adormecido ratifica a proposigio verbal Outro exemplo de associagio de idéias em pega pu- blicitéria, agora por semelhanga, é 0 de um aniincio da Sony, no qual um fio é conectado a um brago, igual a uma sonda médica, como se 0 som reproduzido pelos aparelhos dessa marca fosse direto “na veia” dos ouvintes (Figura 2). Um terceiro exemplo advém de um exercicio de associagio de idéias aplicado em diversas turmas de estu- dantes de publicidade © propaganda na Escola Superior de Propaganda ¢ Marketing em Sio Paulo © na Escola de Comunicagdes ¢ Artes da Universidade de Sio Paulo, as- sim como em ofi inas de redagio publicitaria ministradas a profissionais de marketing e comunicagio de empresa pa- © teino das idéias blicas e privadas. O exercicio consistia em elaborar, com a ajuda de todo o grupo, um aniincio para um zool6gico que. na época, comemorava mais de um século de existéncia. Diante do desafio tinhamos, obviamente, duas coordenadas que possibilitariam associagdes criativas: a do mundo ani- mal (zooldgico) ¢ a da temporalidade (mais de um século) Solicitamos aos participantes que listassem, em uma coluna, a dos animais, aqueles capazes de atrair mais visitantes a0 zool6gico ¢, na outra, a do tempo, que sugerissem imagens relacionadas i longevidade, a do mundo animal, foram cita~ Na primeira colun: dos, sempre, o Ieio, 0 elefante,a girafa,a zebra, 0 macaco, 0 tigre, o jacaré, e, vez por outta, bichos menos conhecidos, como 0 ornitorrinco, o coala ¢ © canguru. Na segunda coluna, relicionada ao tempo, surgiram, como imagens recorrentes, gas, cabelos brancos, colina verte~ bral avariada, bengala, dentadura, clvicie, Gculos, entre outras Uma vez orientados para que buscassem associar os animais de uma coluna as imagens da outra, o resultado, em todos os exercicios realizados, tanto com jovens universiti ios quanto com executivos de marketing pouco afeitos a esse tipo de desafio, foi, com pequenas variagdes, e sem ins dugio de nossa parte, praticamente o mesmo: 1. Uso grisao. 2. Tigre apoiado em uma bengal 3. Elefante e suas miltiplasrugas 4. Girafacoma coluna vertebral torta 5. Macaco usando dentadura 6. Conuja de éculos 7. Leio calvo, Se selecionarmos a opgio 3 dessa lista de associagses — nugas do elefante —, teremos a mesma solugio eriativa de um dos aniincios premiados em Cannes, o mais importante festival de publicidade do mundo (Figura 3) Embora, de certa forma, nosso conhecimento a priori dos antincios do zoolégico (mas nio 0 dos participantes, evi- dentemente) tenha dado um norte a0 exercicio proposto, 0 resultado evidencia como se pode chegar a solugdes criativas ‘em propaganda por meio de simples associagio de idéias, Do mesmo mode, iniimeros exercicios que condu- zimos em salas de aula na ui iversidade, alicergados nesse método, resultaram, curiosamente, em solugdes que, a pos- teriori, vimos reproduzidas em antincios das mais premiadas agéncias brasileiras Eyletieel Ele publicitaria Diante de um job, as duplas de criagio sio. movidas pelo espirito bricoleur precisamente na hora do brainstorming — pritica em que o redator e o diretor de arte langam idéias livremente para depois aperfeigoa-las € encaixi-las nos mol- des do que thes foi solicitado, Para isso, é vital que tenham vvasto background cultural ¢ estejam empenhados constante- mente na ampliagio desse background, buscando no proprio estoque de signos de sua comunidade a matéria-prima para chegar 4 solugio mais adequada ao problema de comuni- cagio do anunciante. A rotina dos criatives exige, pois, que aperfeigoem a habilidade de combinar os variados discursos, por meio do jogo intertextual. Como a propaganda visa influenciar um pablico de- finido, ainda que formado por um contingente principal € outro secundirio, é recomendivel 0 uso de discursos ja co nhecidos desse target pela dupla de criagio no processo de te, & facilit bricolagem. O objetivo, obviam a assimilagio, dando-Ihe 0 que ele de certa forma ji conhece — embora haja um trabalho para vest esse conhecimento ji apreendido, que é a propria finalidade do ato c vo publicitirio, Esses materiais culturais, populares ou eruditos, sio utilizados como pontos de partida para a criagio das pe de propaganda, aparecendo sob a forma de citagio direta ow indireta, 0 que nos leva ao conceito de dialogismo, claborado por Bakhtin: um texto sempre dialoga com outros, sendo esse o principio constitutivo da linguag rem.! A trama de todo texto é, portanto, tecida com elementos de outros textos, revelando nese cruzamento as posi ideoldgicas de seu cenunciador, Essa tessitura @ obtida por meio da citagio, da alusio ou da estilizaga 10, 0 que nos le s parifrases (quando um texto cita outro para reafirmar suas idéias) e as parddias (quando um texto cita outro para contestar seu sentido), Hi casos em que a parddia se di apenas no plano ver- bal, como em um premiado antincio da Igreja episcopal nor te-americana, no qual temos a magem de Cristo na cruz e © titulo “O herdi morre no final”, © que contradiz o happy end dos filmes hollywoodianos — neles é sempre o bandido quem morte no final. A bricolagem publicitéria ‘Também hi casos em que a parédia se estabelece tanto no campo visual quanto no verbal. No antincio do detergente Limpol (Figura 4),a imagem traz 0 garoto-propaganda Carlos Moreno travestido de Che Guevara (assoc io por seme- Ihanga) € 0 titulo “Hay que endurecer com la gorda sin perder fa ternura con las manos jamés!” criado a partir da célebre sentenga do guertilheiro “Hay que endurecer sin perder la ternura jamais” Outro exemplo é o espirituoso aniincio da TV Ban- deirantes para 0 debate entre os dois candidatos a prefeito em segundo turno das cleigdes de 2000 em Sao Paulo (Figura 5) ‘A chamada “Ao vencedor, a batata quente” alude & famosa mixima “Ao vencedor, as batatas”, de Quincas Borba, perso- nagem de Machado de Assis. No plano das imagens, vemos dois aparelhos de televisio em posi¢io similar 3 de lutadores ‘em um ringue: a tela de um deles exibe a foto de Paulo Ma lufia tela do outro mostra a de Marta Suplicy. A utilizagio de parddias se di também na elabora- Gio do slogan, que finaliza a mensagem verbal do anincio, asim como o titulo a inicia. Um bom exemplo é 0 das Logdes Dove, que se apropria da frase “O sol nasceu para todos”, alterando-a para uma nova assertiva: “O sol nasceu para todas”. Ou seja, todas as mulheres, j4 que o produto direcionado ao pablico feminino e o visual dessa campanha publicitaria mostra corpos que niio correspondem ao mo- delo oficial de beleza femin Outros tantos slogans, construsidos a partir de frases, Presses, formas fixas ou padries lingtiisticos presentes em nosso repertério cultural, podem ser aqui elencados. © daVasp,“A melhor distinc dois pontos”, teve como referéncia a sentenga matemitica “A menor distincia entre dois pontos € uma reta”. O slogan dos relégios Du- mont, “O primeito a cada segundo”, trabalha com 0 verso sen ico do produto relégio (segundo) e dialoga com tum clissico slogan do Reporter Esso, da década de 1960,“O primeito a dar as tiltimas” Da mesma forma, o slogan da Sul Am: quem iver”, faz referéncia explicita 4 expressio. popular “Sal se quem puder”. ‘Um slegan dos fertos de passar roupa Black & Decker, “A fera de passar”, remete obviamente 3 fibula A bela ¢ a fra Ironicamente, 0 slogan dos cigarros Charm,“ impor- tante € ter charme”, tem como inspiragio a frase “O impor- tante € ter satide”, A propria publicidade alimenta 0 repertério cultu- tal da sociedade com novas frases, que depois sio também Feaproveitadas. O slogan da Churrascaria Marius,“Porque nds A bricolagem publicitéria somos carnivoros”, por exemplo, € uma citagio do famoso slegan “Porque nds somos mamiferos”, do leite Parmalat. Isso sem contar 0s casos de estilizagio — de uso dos mesmos procedimentos gramaticais em uma espécie de ci~ tagio no nivel da forma —, como em “Lula li” —, que imi- ta 0 padrio lingitistico, com igual efeito de ressonancia, do célebre slogan “I like Ike”, de Eisenhower, candidato a pre- sidéncia dos Estados Unidos na década de 1960, conhecido entio como Ike. No plano do slagan podemos ainda ter a adogio de ready-mades — frases j prontas deslocadas de seu contexto original —, que estudaremos mais detalhadamente adiante. E 0 caso de um antigo slogan da agéncia de publici- dade J. Walter Thompson, “Pro que der e vier”. Ou do chi Matte Ledo, que traz literalmente a expresso “Use ¢ abuse”, depois invertida no slegan da C&A, “Abuse € use”, No campo visual,as citagdes nao estio apenas presentes na publicidade impressa, mas so um dos recursos de criagio ‘mais utilizados massivamente, assim como em toda a produ- 30 midistica (no cinema, na miisica, nas telenovelas etc.) Para nos determos em um caso instigante de citagio-cli- ché localizada no plano visual ¢ envolvendo distintos contextos cule is, selecionamos trés cartazes produzidos em diferentes 10 de soldados. para 0 exército norte-americano (Fig 6) alistamento pa servigo militar britinico (Figura 7) ¢ convocagio de volt rios para o movimento brasleity MMDC (Figura 8), A imagem que domina os trés cartazes é a de um indi~ viduo de fe pontando o dedo indicador para © Ieitor em uma nitida postura coercitiva, Na propagand wcorada no titulo “I wunt you for U.S. Army. Nearest Recruiting Station", esse individuo é o'Tio Sam; na bri- tania, que traz a chamada “Britons want you, Join your country’s army! God save the king”, & um. comandai brasileira, li- gado as frases “Voce tem um dever a cumprit. Consulte a sua consciéncia!”, um soldado, Mas a rede de significagio resultante da citagio de uma imagem fundadora’ pode ser bem mais complexa, como vere- sms nas trés figuras seguintes.A primeira delas & 0 Sleo sobre te de Manet, de 1863, Le dejeuner sur Pherbe (Figura 9). A segunda, © antincio da marca Yves Saint Laurent (Figura 10), utiliza essa ‘mesma pintura como ponto de partida, resultando em um dis- urS0 com énfase em outros valores sociais.A terceira,o antincio da Women (Figura 11),também inspira no quadro de Manet,e oferece leitura dlstinta da reproduzida no aniincio daYSL. A bricolagem publicitaria Vejamos agora uma peca publicitaria que contém pari- frase tanto no plano visual como no verbal (Figura 12).Temos na imagem um automével Fusca visto de tris com o seguinte adesivo no vidro:"Meu outro carro é um Rolls-Royce”. Esse antincio paraffaseia outro, antol6gico, do proprio Fusca, cuja foto mostrava a traseira de um Rolls-Royce ¢ 0 adesivo no vidro: “Meu outro carro é um Fusca”, Ali, essa formula ‘cio lingitistica (“Meu outro carro é...") tornou-se clissica nna publicidade, gerando outros antincios como o do Jaguar, que exibia a foto desse mesmo automével com o titulo “Meu ‘outro carro é um helicéptero” (Figura 13). ‘Outro exemplo de parifrase dupla, em que 0 texto ver- bal e 0 visual trazem uma citagio, pode ser encontrado no antincio da Sabesp (Figura 14). Como imagem temos a foto de um sabonete Lux (0 produto é citado) ¢, no plano lingitis- tico, temos 0 titulo “Se nio existsse a Sabesp, 9 entre 10 es- trelas do cinema no tomariam banho”, que dialogn com 0 famoso slogan dessa marca de sabonete “9 entre 10 estrelas do cinema usam Lux”. Ha numerosos casos em que a parddia ow a parifiase resulta nfo apenas de uma citago no campo verbal ou da instineia visual do andincio, ou mesmo de ambos de forma concomitante, mas precisamente da interacio dessas duas di- mensdes. Exemplificamos essa situagio com um dos ant ios da campanha para restauragio do Parque Histérico do Pelourinho, em Salvador (Figura 15). O titulo “Os novos baianos” é uma refer conhecido grupo de miisi- cos da Bahia, mas a citagio g ovo sentido quando, no plano das imagens, em vez das fotos desses de trés personalidades mundiais (Paul Simon, Akio Morita ¢ Julio Iglesias), que haviam contribuido com doagdes para a causa do Pelourinho, como 0 texto esclarece. Sintomaticamente, 0 movimento dos Adbuster, que combate a publicidade dominante, se vale dos _mesmos procedimentos para ‘criticar’ as campanhas publicitérias de anunciantes globais, como as parddias e as pariffases nos pla~ nos verbal ¢/ou visual. Podemos exemplificar essa afirmagio com a consa~ grada campanha mundial da vodea Absolut, cujos an cios promovem associagio entre o formato diferenciado da garrafa da bebida ¢ as mais variadas referencias cultura como simbolos representativos de cidades, manifestagdes artisticas, eventos populares, comportamentos sociais ete. \Vejamos trés antincios dessa campanha: Absolut Pantanal, Absolut Integrity © Absolut ~ 40° (figuras 16, 17 © 18, respectivamente), A bricolagem publicitaria Imitando o layout € © conceito criativo da campanha da Absolut, 0 Adbuster criaram anéincios-parddias tendo como tema vitimas do Aleool (que buscam cura nos Alcoéli~ cos Andnimos), homens impotentes e suicidas (figuras 19, 20 © 21) —o que engrossa ainda mais o jf hibridissimo caldo de referéncias da cultura global contemporinea. E assim, como na propaganda impressa, a atividade de bricolagem tam bém esti presente no processo de criagio do material publicitirio feito para a veiculagio em meios eletrd- nicos. O redator ¢ 0 diretor de arte recorrem igualmente a esse método para criar as pecas de publicidade mais importantes de ridio — os spots e os jingles — e os comerciais de televisio, Como nos lembra Menna Barreto, em seu ja clissico livro Criatividade em propaganda, na elaboracio de filmes pu- blicitirios,a dupla de criativos faz uso “dos mesmos recursos forgas da criatividade publicitiria em geral”.’ As opges so basicamente as mesmas, a elas s6 se acrescenta © drama — a énfase em situagdes de tensio, que sio aliviadas, em seu des- fecho, pelo humor, pela emogio. Nio € por acaso que os comerciais de televisio se~ guem, predominantemente, nas tiltimas décadas, 0 formato de narrativas curtas — historias que se desenvolvem nos 30 segundos de durag “io dos filmes publici ios € buscam per- suadir 0 piiblico com tramas de ispecto emocional. Ou seja, 0s comerciais de televisio e as pegas para ridio exploram, na atualidade, mais o lado dionisiaco da cria © menos © da argumentacio apolinea, racional.! ‘Vejamos, no spot transcrito a seguir, que anuncia os fil- ‘mes da saga O Poderoso Chefdo em um canal a cabo de televisio, tum exemplo de fonograma no qual podemos notar facilmente 05 elementos associativos formadores de sua bricolagem Otelefone toca ‘tence uma voz feminina de secretiria eletronica: Voc# ligou para Corleone & Cotleone...Para falar com o setor de extorsdes, disque dois. Para furtos e roubos, disque nove. Para falsificacdes e contrabandos, disque oito.. Conhega tam. bbém nosso novissimo setor de seatiestros © execuyées. agora totalmente informatizado..Sua igacao é muito importante para és. Se voc# estépreso, procure o setor de subornos da Corleo- ne & Corleone, Basta discar 0 cédigo. A bricolagem publicitaria Entra a trilha de O Poderoso Chefio. Locugae: Para les. o crime era um negocio como outro qualquer. Trilogia (0 Poderoso Chefdo, dia 18, no Telecine Action, Esse spot é resultado da associagio dos crimes come- torsdes’, ‘furtos’, ‘roubos’, ‘fabificagdes’, tidos pela mifia (' “execugdes’ ete.) com as expressdes usuais de atendimento eletrdnico por telefone, tipicas de nossa sociedade contem- porinea, em qué a vor gravada orienta as pessoas a fazerem igou para”,“para falar com o setor... dis- sua escolha (“voce que..”,"“sua ligagio € muito importante para nés” ete). de Seguimos agora com outro spot cuja criagio advé ‘uma montagem de elementos culturais relacionados a0 pro- duto (am automével), na forma de uma viagem de carro em familia, € a0 approach, nesse caso © ensino escolar (especifica- mente a redagio solicitada na disciplina de lingua portuguesa, quando os alunos voltam as aulas): ‘Menina lendo sua redacao sobre as férias: Minhas fis. Minhas fia foram bem legais, Pensel que ia para uma fazend cheia de bichinhos. €,mas acampamos na estrada mesic Também tinha bicho: pernilongo, sapo;tinha até cobra, 'No final, veio um carto grande com anzole pescou nosso, Adorel minhas feria! Locusio: IB Na0 passe suas férias na estrada, Antes de viajar, fagarevisdo de férias Fiat. Toda a linha Fata partir de uma mais és de 35 reais, Aproveite! Vejamos agora a letra de 1 jingle feito para o amor- tecedor Turbogis Cofap, produto transformado metafori- camente, por meio das pegas de antolégica campanha publicitiria, em um cio (da a dachshund), que, por ser 0 melhor amigo do homem, zela por sua seguranga: ‘Agiiento solavancos, tantos trancos Es buracos do caminho Sou o que voce sempre quis. Agiiento, al Eu subo e desco morro A bricolagem publicitaria Levo vida de cachorro 6 pra ver vocé feliz ‘Ah Eu sou cachorto, sim Pde confar ern mim Locugao: “amortecedor Turbogis Cofap. ‘© melhor amigo do carro. Edo dono do carro Eis um esmerado trabalho de bricaleur, que toma ex- presses comuns a assuntos associados aos universos técnicos 1 Nesse € temiticos do produto e as combina em uma mis caso, temos ento, misturadas no jingle, as redes de significa~ do do campo semintico de automével (‘trancos’, “buracos do caminho",‘subo',‘desco’), de cachorto (“levo vida de ca~ chorro”,“‘melhor amigo”) e de miisica (0 verso “eu sou ca- chorro, sim” refere-se ao chissico da mts a brega Eu io sou «cachorro nio, de Waldick Soriano) Outro exemplo de jingle resultante da utilizagio do ma terial cultural que os criativos tém a mio, e que \arcou época nna propa € 0 célebre “Pipoca com gu ) EROS A CRIAGAG PUBLICITARIA Pipoca na panela Comecaa arebentar paca com sal Que sede quedd Ppocae quarand Que programa egal Soeuevoce Esem pied que tal? -u quero ver pipoca pular Ppocacom guaran Feu quero verpipocapular Pipoca com guarand Eu quer verpipocapular Soy loca por pipoca eguarand Antarctica ‘Associando comida (pipoca), bebida (guaran) ¢ com- panhia (um casal apaixonado), a letra traz uma bricolagem esses trés campos semanticos: pipoca (‘panela’,‘arrebentar’, “pular’,‘sal’), guarana (‘sede’, “Antarctica’) ¢ casal ("s6 eu € ”) Hi casos em que 0 fonograma é um mix do formato voce”,“que programa legal”, soy loca por. de spot (narrativa ilustrativa dos beneficios do produto) ¢ do ma jingle (mdsica com essa me nalidade), como" Volare” da cotveja Nova Schin Comega com a conhecida musica Volare. Sobe 0 volume da misic:"Volare: 6 locutor, no esto FM, com a vor empostads, entra sobre a sca, reduzindo a letra, mas mantendo o fitmo:"Vou Vola a misic:"Oh, oh, oh of: O locutor segue a tradugao:"0 6 8,6" Mais um trecho da rnsica“Cantare. CO focutor segue a tradugdo"Experimentar’ Volta a misica:"Oh, oh, oh of Olocutor segue a radur"O, 6 8,6 Mais um rectos"Ne bl, pinto lr Tradugao"Experimentay, 6 eu eu ‘Outro twechoFlice stare lassi O locutor traduz “Feliz com a cena de tu: (0 som cal pare background Entra. um segundo locutor, com vinheta especial “Desde que chegou a Nova Schin, no se fala erm outa cobs experimenta! Locutor "Experimenta, baby: Locutor 2:"Beba com moderacao Além de mesela dos formatos, essa pega publicitaria Parodia os programas de ridio que traduzem letras de can~ Ges estrangeiras © © estilo de scus locutores, citando uma particularidade da cerveja, a cidade de origem (Itu), para ri- mar com ‘di blu’, ‘eu e tu’ lassi. Da mesma forma que ocorre nas pecas publicitirias de midia impressa ¢ de ridio, nos comerciais de televisio tam- bém podemos notar os elementos culturais constituintes da associagio de idéias. Em um poético comercial sobre a pontualidade dos 10 € sua itm’ ‘v60s das Aerolineas Argentinas, vemos um me capturarem a sombra de um aviio conse- giientemente, a prépria aeronave, remetendo-nos ao mundo onirico de Peter Pan e aos episédios mitologicos de roubo de sombras (Figura 22). Convencidas por um representante da companhia aérea, as criangas abrem a lata e soltam 0 aviio — um evento que se assemelha 4 abertura de uma gaiola, com a libertacZo simbélica de um pissaro. A bricolagem ¢ também facilmente perceptivel no comercial da Folha de S, Paulo, eleito um dos cem melhores filmes publicitarios do século XX. Seus criadores, de posse das informagdes sobre os primeiros anos do governo de Hitler disponiveis em livros de histéria — até mesmo os es- A bricolagem publicitaria colares —, utilizam-nas para impor uma linha de raciocinio que demonstra os cuidados do jornal com as informagSes cemitidas (Figura 23) Enquanto um rosto vai se formando na tela, quadro @ quadto, 0 locutor fala: I Este homem pegou a nacio destrulda, recuperou sua economia e-devolveu oargulho a seu povo.£m seus quatro primelios anos de governa, o nimero de desempregados cau de ses mihoes para 900 mil pessoas. Este homem fe 0 produto interno produ to crescer 102 por cento ea renda per capita dobrar.Aumentou 0 lucros das empresas de 175 mihées para cinco bihoes de marcos. reduziu uma hiperinlagio de 103 por cento 20 ano. Este homem adorave mii pintua, e quando jovem imagh ava seguir careia antstica A cémera se afasta e vemos que 0 ocutor falava de Hitler, O locutor, em off, continua: IBS. E possivelcontar um monte de mentiras dizendo sé a verdade Por sso, € preciso tomar muito cuidado com a informagao e 0 Jornal que vocé recebe. Fotha de S Paulo. 0 jornal que mais se compra é 0 que nunca se vende. Temos nese exemplo uma simples associagio de in~ formagdes, ja presentes no repertirio cultural da sociedade, com a missio do jornal — mas o resultado & marcante. ‘Outro caso em que notamos nitidamente a jungio do ma- terial proprio de nossa cultura com as qualidades de um produto, somada ainda ao linguajarespecifico de um personagem estereo- tipado, é 0 comercial “Macho Man’ da Panex (Figura 24) Vernos um macho na cozinha Machao: A,eu ainda vou dar uma bia nesse done da Pane. (Onde € que jase vi fazer uma panela dessas, meu immo? Panela bonita, vs, Agora, panela que no da trabalho pra limpar, vate cata A. tem Teflon por dentro e pot fora, Ala patioa acaba logo de lavar as panels eva fica fazendo o que? Vai queter passear, vai achar que tem tempo pra trabalhar fora, 2 6 falta furar. Qual 6? Derruba todas as panelas da pia Assinatura: Hot Line da Panes, A panela que liberou beleza, berou impeza,liberou geral A bricolagem publicitaria ‘Temos, na construgio dessa bricolagem,a mescla da re- presentagio exagerada do éthes — 0 modo de ser, incluindo as caracteristicas fisicas e psicolgicas — de um tipo social (0 machio) com 0s atributos do produto (“panela bonita”,"com Teflon por dentro ¢ por fora”,“ficil de limpar”) ¢ a giria do personagem (“ai”, “dar uma bifa”, ‘onde é que ji se viu",“meu irmio”,“patroa”, “qual é”). Presente na atitude truculenta do machao ao derrubar as panelas esta também subjacente o tema da opressio © da censura contra movimentos libertirios (da mulher, nesse filme, que entio se livraria do servigo dificil de limpar panelas), 0 que é ratificado pelo verbo ‘iberar’ na locu- gio final (“liberou beleza, liberou limpeza, iberou geral”) Um comercial pode também ser criado com apenas a jungao de elementos proprios da cultura do produto ¢ re sultar em uma solugio criativa original, como “Dois vistos”, da Volkswagen, premiado com 0 Leio de Ouro em Cannes, ‘que associa a etapa de controle de qualidade na produgio de automéveis com a logomarca do anunciante (Figura 25): ‘Uma mao assinala com um visto cada item da planitha de controle de qualidade. Locugio em off: T Toda montadora tem algum tipo de controle de qualidade Toda montadora confere os catros que faz "Mas existe uma marca que leva iso 850 a sério. que desenvolveu ‘.contiole de qualidade mais rigotoso do mundo. Tudo ¢ cuidadosamente conferido e, depois, conferido de novo" ‘A.mao volta ao topo da lista e coloca mais um visto sobre cada um, Os dois vistos juntos formam a marca VW. Em suma,os exemplos de bricolagem, de procedimen- to citativo e de utilizagio de ret feréncias culturais se acumu- lam na esfera publiciearia, Reencenando © passado em suas pecas de midia im- pressa ¢ eletrén ca, por meio da intertextualidade (parifrases ¢ parédias), a publicidade o atualiza com um novo sentido que, no entanto, nio prescinde daquele que the dew origem © se tornou tradicional, Convém, por nto, investigar com mais profundidade seu proceso criativo, tio similar a de ou tos produtos midiaticos, que, somados, vém tecendo a trama caética das identidades contemporineas. aminaea ferramenta © jogo intertextual & elemento constitutive da arte literiria, Como toda obra artistica € um olhar novo sobre © {jf conhecido — portanto, uma releitura no plano estrutural € simbélico —, ese jogo se di no tabuleiro semintico do discurso em que as referéncias frasais sio pecas dialogantes. Vejamos, entio, um exemplo singular de intertextuali- dade na literatura para, em seguida, apontar as relagdes entre textos na instincia verbal de um antincio. Excolhemos um trecho de “Procura da poesia”, poema do livro A rosa do povo, representativo de um dos momentos ‘ais altos da obra poética de Carlos Drummond de Andrade. ia) Penettasurdamente no reino das palavas. Ld estd0.0s poemas que esperam serescritos. £std0 paralsados, mas ndo hd desespera, hd calma efrescura na superficie intata. ios 3s e mudos, em estado de diciondrio i) Chega mais pertoe contemplas as palavias Cada uma tem mi faces secrets soba face nevtia «ete pergunta, sem interesse pela resposta pobre ou terrivel,que the ders: Trourestea chave? Agora, reproduzimos win uccho do livre O menino quadradinko, de Ziraldo. De repente, o menine quadtadinho descobriy que tina vindo patar do lado de fora dos seus quacknnos colridos Sern saber conde fcava a sada, Sem saber onde fcava a entrada. sibto, cle ouve ums vor que the dizTrouxeste a chave?" Assim mesmo: troureste a chave? Que chave, meu Deus, se ele nem sabia que havia ports? Val ver, era chave para abvira porta do Reino das Falavras, onde ele fl penetrando,assustado e caladinho. Ae solveu responder que no sabia de que chave estavam flando e coisa e tal Mas natou logo que nao havia 0 menor interesse por A mina e a ferramenta sua pobre resposta. "Quem séo vocés?"— ele perguntou. Quatro plaas se juntaram a sua frente e csseram: Nés Somos as pa lavas Logo em seguida surgram outras © mais outas. fram. explicando que elas estavam allem estado de dcionério. Que ele, agora, pada convocs-as para comecar a conviver com elas: Lidos os dois textos, notamos claramente que a prost de Ziraldo dialoga com o poema de Drummond, citando in- lusive, quase ipiss liters, varias palavras ou expresses cunha- das pelo poeta: rouxeste a chave, eino das palavras, penetrande, 0 menor interese por sua pobre resposta, em estado de dicionério. Na seqiiéncia desse texto, Ziraldo brinda © menino quadradinho, ¢ 0s leitores, com essa bela defini¢io do ato de comunicar-se verbalmente: Logo em sequide, uma vorthedlsse:"Pegue apalawa,fova;peque ‘ palava elo tom, o menina sent que estavam entrega doaele uma coisa de muito cuidado. Assim: laviae pd. A primeira our € peda preciosa, ¢ mina: awa. segunda €o instrument « feramenta pA polaa& pois, mina feramenta ao mesmo tempo, palavra? Aqui podemos dizer que, se 0 leitor conhece © poema de Drummo portanto, se ele fem gravado em seu repertirio. "encontrar no texto de Zi- 08 versos de “Procura da pos raldo uma mina de significados mais preciosa, uma ‘lavra’ com chances maiores de encanti-lo. Igualmente,se os crativns da propaganda 6 © mundo cultural do pablico-alvo para o qual estio claboran= do um angincio, tém nas mos uma ferramenta, uma pa que pode abrir melhor o nho da persu: E € 0 que de fato se di no processo da criagio pu- de Dlicitaria, resultante, como dissemos, de u udaptacak referéncias culturais, por parte dos criativos, pautada invaria- velmente no repertério do piiblico-alvo da mensagem. A fim de demonstrar tal adaptagio, reproduzimos a se- guir o texto de um aniineio da tat Seguros (Figura 26) & verificaremos, em sua instincia verbal, presenga de elemen= tos lingiiistico-culeurais: Quem matou Odete Roitman? Voc sabe aresposta? (@) Maniaco do Parque © tela (@)_Bandido da Luz Vermetha A mina ea ferramenta Se voc# acertou, deve ter mais de 35 anos. Eo seuseguroltaucar pode ear até 45% mals barto. O fraucar€0 seguro deautommével que varia de prego dependen- do das caractersicas do cliente Por exemple, se vocé tem mals ce 35 anos j val pagar menos € se ainda por cima for motorista cuidodoso, ue tem ga ragem em cas, no trabalho, possui alate € ainda for casado, seu Seguro pode ter um prego até 45% mais barate tem mas Otaucaracompanha automaticamente as va- viagdes de prego do seu automevel no mercado e ainda oferece seriga de assisténcia 24 horas, como socorto mecdico, roca de peus envio de combust entre outros. ara fazer um auc, ‘procure sua agéncia tai, seu corretor ou igue para 0800-164444, © titulo do antincio deixa explicito que sua clabora- io levou em conta o suposto repert6rio cultural do pabli- co-alvo, pessoas com mais de 35 anos. Tal contingente desconheceria a personagem Odete Roitman, vivida pela atriz Beatriz Segall na novela de grande sucesso da Rede Globo, Vile mdo. Assim, seriam de seu conhecimento o nome de quem a assassinou ¢ também fatos que marcaram sta, ge= ragio, como as agdes ousadas do Bandido da Luz Vermelha, easta Rogério Sganzerla,, ou 09 assay levado as telas pelo ci tos cometidos na cidade de Sio Paulo por um motoboy, alcunhado depois de 10 do parque” (local onde levava suas vitimas para passear ¢ as matava). No plano estritamente lingiiistico, 0 texto traz expres~ ses coloquiais, formas fixas ¢ conectores isot6picos fami- liares ao leitor: “voce sabe?”, “deve te ‘ji vai”, “ainda por cima”, “e tem mais” ete Da mesma forma que mostramos um exemplo de in- tertextualidade na instincia verbal de obras liter Arias, seguido de exemplo no Ambito da publicidade impressa, apresenta- mos a seguir 0 didlogo entre textos visuais, valendo-nos, nes- se caso, das artes plisticas como ponto de partida Selecionamos, para comparagio, a pintura Carmelina, de Matisse (Figura 27), © quadro Voyeur, de Mel Ramos (Figura 28), que 0 toma por referencia, como gatilho cria- tivo, € a ele conceitualmente se contrapde. Se em Matisse 0 nu é sem formas definiveis de sensualidade, em Ramos os -m 0 erotismo tio com tragos fortale nente explorado pela propaganda, © mesmo didlogo de ns podemos ver no quadro Corea, pintado por Picasso em 1951, que atualiza a cena dramitica retratada por Goya, em 1814, na tela Los fsi- lamientos del tres de mayo (Figuras 29 e 30) Um aniincio dos relgios Vagary, que exibe uma citagio no plano visual, ratifica nosso ponto de vista (Figura 31). Sua imagem dialoga com a cena d°A criagio de Addo, uma das mais célebres de Michelangelo, pintada tina do Vati- dar-the 0 cano: 0 dedo de Deus toca o dedo do homem pa dom da vida (Figura 32). No aniincio, onde originalmente es- taria o homem na obra clissica, temos uma mulher de lingerie A mensagem também pode ser € ndida pelo paibli- co que desconhece sua matriz cultural, mas ganhari a com- preensio plena de seu jogo intertextual somente quem a conhece, uma elite, certamente, com poder aquisitive para comprar essa marca italiana de reldgio. Allis, a estratégia dessa campanha esti toda fincada citagio de outras imagens findadoras, como Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, substituida em um anéincio por uma top model (Figuras 33 ¢ 34), ou a cena de O nascimento de Vé dle Botticelli, que emergiu das expumas do mar, substitu publicidade por outra modelo (Figuras 35 ¢ 36). Parddia ¢ parifrase sio, portanto, moeda corrente na criagio publicitiria, muitas vezes disseminadas por todo 0 texto, nao se restringindo ao titulo, ao slegan, A imagem ou na s6 parte do texto, Nao raro sio elas a principal forga motriz da mensagem. Um exemplo de imagem muito utilizada como part frase no ambito publicitirio é a capa do album dos Beatles, Abbey Road, em que © quarteto de misicos ingleses aparece de perfil atravessando a rua sobre a faixa de nalizagio (Fi- gura 37), Fonte de inspira de muitos antincios, dentre eles um da Cultura Inglesa (Figura 38), essa imagem tornou-se fumdadora de uma época ¢ vem sendo citada em diversas ma- nifestagdes artisticas, como a pintura, a charge (Figura 39) € a literatura, entre outras. No romance infanto-juvenil O rapa que nio era de Li erpool, de Caio Riter,o narrador da hist6ria,um adolescente que se descobre filho adotivo, descreve com precisio a ativi- dade de bricolagem & qual nos referimos, assim como © pro~ cesso de claboragio de uma parifrase visual, que hoje est a0 alcance de tantas pessoas gracas 4 revolugio da informatica: Andova navegando em busca de informagdo sobre o Beatles, Que ‘iadescobir algo novo para passa paraaD). Esta naquelafxe de impressionéa. quando via fot, capa do dco de 1969, 0s quatro

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