Washington Humphrey Mafra de Freitas

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UERJ – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO

DEPARTAMENTO: FILOSOFIA
MATÉRIA: FILOSOFIA DA LINGUAGEM
PROFESSORA: CAMILA JOURDAN
ALUNO: WASHINGTON HUMPHREY MAFRA DE FREITAS

QUESTÕES SOBRE O TRACTATUS LOGICO-PHILOSOPHICUS DE LUDWIG


WITTGENSTEIN

1 – Com base nas aulas, comente a passagem 2.0211 do Tractatus, buscando justificar
em que sentido a substância do mundo pode garantir a anterioridade do sentido em
relação à verdade.
R: É necessária a anterioridade do sentido em relação a verdade, pois do contrário só
seria possível dizer a verdade, o que não condiz porque isso eliminaria o contingente, que
vejo como uma propriedade necessária para que se visualize de maneira clara o que é o
espaço lógico e o que é o mundo dentro do Tractatus. Afinal, é apenas o sentido
necessariamente contingente (bipolar) que supõem a substância do mundo. Como foi
apresentado no Dicionário Wittgenstein de Hans-Johann Glock com tradução de Helena
Martins, na explicação sobre significado: “As PROPOSIÇÕES se distinguem dos nomes.
São BIPOLARES- podem ser verdadeiras e podem ser falsas – o que equivale justamente
a dizer que possuem sentido.”. Esta última passagem colabora com a ideia de que o
sentido precisa ser anterior em relação à verdade. Do contrário não haveriam proposições
falsas, ou melhor dizendo: ter ou não ter sentido uma proposição, dependeria de uma outra
proposição. Entraria em conflito com duas situações: a primeira é adquirir uma
propriedade da lógica, que na necessidade de ser verdadeira, perde-se o sentido, e se vê
fadada a não dizer nada. Uma vez que ao dizer: “p é p”, não digo nada e isso é
necessariamente verdadeiro. E o que se segue a isso, é que já se entende que o sentido
não depende e/ou não pode depender da verdade, e sendo assim, o princípio da
anterioridade da semântica em relação a verdade permite ao mundo, ter substância. E o
caminho inverso que junta tudo isso é: o mundo precisa ter substância, porque o sentido
precisa ser anterior a verdade, ou seja, o sentido precisa ser contingente. Um sentido não
anterior a verdade seria um sentido necessário, aonde reconhecer uma proposição só seria
possível se eu já a compreendesse como verdadeira. Nesse caso não haveria anterioridade
do sentido em relação a verdade. Por isso apenas um sentido bipolar pode supor a
substância do mundo. Só assim haverá alguma coisa para cumprir o papel do final das
análises. Ainda que esse final não possa ser dito/descrito.

2- Em que sentido podemos compreender a passagem 2.025 do TLP, levando-se em


conta a passagem 2.0231?
R: A fim de entender a passagem em questão, creio que seja necessário buscar algo de
fora do TLP, para que ao passar essa ideia a leitura feita seja melhor compreendida. Ao
falar de substância, pode-se remontar e lembrar como Aristóteles compreendia esse
termo: pode ser considerado a matéria ou substrato material, forma ou essência, o
composto de matéria e forma, e o termo excluído é o universal, esse não é em nenhum
sentido para Aristóteles, substância. Atentando-se para o substrato material e o composto
do mesmo com a forma, será concebível chegar em uma leitura do porquê Wittgestein
escreve: “ A substância é forma de conteúdo”.
Aristóteles apresenta que deve haver elementos que a coisa em si é, tomando como
exemplo os quatro elementos (água, ar, fogo e terra), um exemplo que também funciona
e funcionará melhor ainda para a noção de substância para Wittgenstein seria como se os
elementos básicos fossem os itens que fazem parte da tabela periódica. Uma vez que em
uma análise, não há nada que não seja formado a partir de um dos elementos químicos.
Então, a coisa sempre será o resultado da junção dos elementos químicos, mas mesmo em
Aristóteles, não pode ser apenas isso, deve haver algo mais que não seja material. Assim
pode-se ler Wittgenstein: a gama de possibilidades de combinação dos objetos simples
montam fatos, mas não há apenas os objetos simples e os fatos, é necessário que haja
substância, que seria uma estrutura formal que os liga. Para o autor de TLP a substância
é simples, imutável e totalmente formal. Ele afirma isso na proposição 2.0231, então
como pode ele incluir na 2.025 conteúdos a substância? A não ser que esse conteúdo ao
qual Wittgenstein se refere seja como o que era para Aristóteles o substrato material.
Como a substância molda o formal por completo, portanto, está presente não apenas no
mundo, mas também no espaço lógico, ela molda tudo o que seja bipolar, mas não entra
propriamente no material. Posso dizer se é colorido ou não, se é afiado ou não, afinal tudo
o que pode ou não pode ser habita na substância, ela é detentora de todas as possibilidades,
portanto deve conter a forma e o seu conteúdo, tanto quanto esse último não seja uma
propriedade externa da coisa, algo material, mas sim uma propriedade interna, presa ao
âmbito formal. Afinal de contas, o material já é por si só complexo. E se a substância
além de simples e ao mesmo tempo imutável, deve conter nela a todo tempo a potência
máxima de possibilidades bipolares.
Assim como não é possível exemplificar um objeto simples na ideia a qual
Wittgenstein passa no TLP, não há como de maneira clara e distinta exemplificar o
conteúdo da substância simples e imutável, que também não se consegue exemplificar,
visto que tudo o que buscamos e dizemos, está originalmente no âmbito do complexo.

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