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O QUE SÃO FORMAS FARMACÊUTICAS DERIVADAS?

As formas farmacêuticas derivadas representam o resultado do processo de


dinamização, que consiste, basicamente, na concentração decrescente de insumos
ativos por meio de diluições seguidas de sucussões ou de triturações sucessivas.
Para prepará- las empregamos as escalas decimal, centesimal e cinquenta
milesimal, e os métodos hahnemannianos, korsakovianos e de fluxo contínuo.

AS ESCALAS
Para a preparação das formas farmacêuticas derivadas, a farmacotécnica
homeopática emprega três escalas, de acordo com a proporção entre os insumos
ativo e inerte: a decimal, a centesimal e a cinquenta milesimal. Na escala decimal
a diluição é preparada na proporção 1/10, ou seja, uma parte do insumo ativo é
diluída em nove partes do insumo inerte, perfazendo um total de dez partes.
Essa escala, criada por Hering nos Estados Unidos da América e difundida
por Vehsemeyer na Alemanha, surgiu com o pretexto de diminuir as distâncias
entre as quantidades de insumo ativo e insumo inertes, tornando a diluíção mais
uniforme e fácil de preparar. É a escala mais empregada nos EUA e na Alemanha.
Os símbolos empregados nos diversos países para identificar a escala
decimal são: X (dez em algarismo romano) e D, ou ainda DH, que significa
dinamização na escala decimal de Hering preparada segundo o método
hahnemanniano. Assim, 1X, D1 ou 1DH correspondem à primeira dinamização
decimal. Uma 2X, D2 ou 2DH representam uma segunda dinamização decimal. No
Brasil, emprega-se o símbolo DH, antecedido da potência, sendo essa identificação
mais interessante, pois designa tanto a escala como o método empregado.

Exemplo de símbolos utilizados para identificar a escala decimal obtida a


partir da TM de Arnica montana:
1 mL da TM de Arnica montana + 9 mL de álcool 50% (100 sucussões)
Arnica montana 1X ou Arnica montana D1 ou Arnica montana 1DH.
Na escala centesimal a diluição é preparada na proporção 1/100, ou seja,
uma parte do insumo ativo é diluída em 99 partes do insumo inerte, perfazendo
um total de cem partes. Os símbolos conhecidos para identificar a escala
centesimal são: C, ª, nenhuma indicação ou CH. Assim, C1, 1ª, 1 ou 1CH
correspondem à primeira dinamização centesimal. Uma C2, 2ª, 2 ou 2CH
representam uma segunda dinamização centesimal. Pelo mesmo motivo
apresentado para a escala decimal, em nosso país é utilizado o símbolo CH para
designar a escala centesimal preparada pelo método hahnemanniano.
Exemplo de símbolos utilizados para identificar a escala centesimal obtida a
partir do dicromato de potássio, droga solúvel na água:
1 g de dicromato de potássio + qsp (quantidade suficiente para) 100 mL de
água destilada + (100 sucussões)
Kalium bichromicum C1 ou Kalium bichromicum 1ª ou Kalium bichromicum
1 ou Kalium bichromicum 1CH.
Na escala cinquenta milesimal a diluição é preparada na proporção
1/50.000, ou seja, sempre que uma potência é elevada, temos uma proporção de
1/50.000 entre o insumo ativo e o inerte. Os símbolos conhecidos para identificar
a escala cinquenta milesimal são 0/ ou LM. Assim, 1 0/ ou 1 LM significam primeira
dinamização cinquenta milesimal.

A SUCUSSÃO
Existem dois processos para a sucussão: o manual e o mecânico. O processo
manual é realizado golpeando-se fortemente o frasco cem vezes, contra um
anteparo semirrígido, em um movimento contínuo e ritmado, para promover
energia cinética constante. Nesse processo, realizado após cada diluição do insumo
ativo, seguramos fortemente o frasco, de tal forma que apenas o seu fundo bata
no anteparo. Com isso, evitamos o amortecimento do impacto e possíveis dores
na mão.
O processo mecânico é feito com auxílio de máquinas sucussionadoras,
também chamadas de braços mecânicos, capazes de reproduzir o movimento
manual. Esses braços mecânicos foram elaborados para substituir o processo
manual, tornando mais rápida a obtenção das potências medicamentosas, por
meio de um movimento oscilatório em arco, que proporciona impacto periódico do
frasco sobre um anteparo de poliuretano ou outro material semirrígido e parada
automática após cem sucussões.
São dois os processos básicos para a elaboração das formas farmacêuticas
derivadas:
• Diluição da TM ou droga solúvel em insumo inerte adequado, seguida
de sucussões (dinamização líquida).
• Trituração da droga insolúvel realizada em lactose (dinamização
sólida).

OS MÉTODOS
Existem três métodos de preparação das formas farmacêuticas derivadas:
hahnemanniano, korsakoviano e de fluxo contínuo.

O MÉTODO HAHNEMANNIANO (H)


Assim chamado por ter sido criado pelo fundador da Homeopatia, pode ser
subdividido em três outros métodos:
• Método Clássico ou dos Frascos Múltiplos, desenvolvido para preparar
formas farmacêuticas derivadas nas escalas decimal (DH) e centesimal (CH), a
partir de tinturas- mães e drogas solúveis.
• Método da Trituração, desenvolvido para preparar formas
farmacêuticas derivadas nas escalas decimal (DH) e centesimal (CH), a partir de
drogas insolúveis. Esse método é utilizado também na escala cinquenta milesimal,
a partir de drogas solúveis ou não.
• Método da Cinquenta Milesimal, específico para preparar formas
farmacêuticas derivadas na escala cinquenta milesimal (LM), a partir de drogas
minerais, animais e vegetais, estas duas últimas no estado fresco, ou,
excepcionalmente, a partir de tinturas- mãe.

O MÉTODO KORSAKOVIANO (K)


Também chamado de método do frasco único ou do fluxo descontínuo, foi
criado em 1832 por um oficial do exército russo chamado Korsakov para simplificar
o método de Hahnemann. Teve a ideia de realizar a dinamização em um único
frasco que, ao ser esvaziado, retinha nas suas paredes a quantidade de líquido
equivalente a um centésimo do volume anterior, sendo necessário acrescentar
mais 99 partes de insumo inerte e sucussionar a solução assim obtida para
alcançar a potência seguinte.
Vários fatores colaboram para a indefinição da escala (proporção entre os
insumos ativo e inerte), como a viscosidade da solução, o tamanho e a porosidade
do frasco, a força empregada na dinamização, etc. Portanto, o método
korsakoviano não apresenta escala definida como o hahnemanniano. Seu uso é
consagrado para preparar altas potências com mais rapidez e quando não há
número suficiente de frascos esterilizados. Todavia, como não se trata de um
método exato, sua utilização somente se justifica em casos de urgência médica.

O MÉTODO DE FLUXO CONTÍNUO (FC)


Surgiu com a introdução de altíssimas potências na Homeopatia, por
intermédio do médico americano James Tyler Kent, que, para obtê-las, projetou
um aparelho dinamizador. Mais tarde, esse aparelho foi aperfeiçoado por Skinner.
Segundo a Farmacopeia Homeopática Brasileira II, assim como o método
korsakoviano, o método de fluxo contínuo é empregado para a preparação de
formas farmacêuticas derivadas a partir da trigésima dinamização centesimal
hahnemanniana (potência 30CH). Devido às características do método, que
emprega fluxo contínuo e constante, este também não proporciona uma escala
definida.

MÉTODO HAHNEMANIANO PARA AS ESCALAS DECIMAL E


CENTESIMAL A PARTIR DA TINTURA-MÃE

OS INSUMOS INERTES

Para as três primeiras dinamizações centesimais e para as seis primeiras


decimais, utilizar o mesmo insumo inerte empregado na preparação da TM. Isso é
necessário para impedir que ocorra ruptura da estabilidade da solução. Para as
potências intermediárias e matrizes, utilizar etanol 70% (p/p). Para a última
potência, o insumo inerte a ser empregado vai depender da forma farmacêutica a
ser dispensada, se líquida (dose única e preparações administradas sob a forma
de gotas) ou sólida (dose única, glóbulos, comprimidos, tabletes e pós).

A TÉCNICA DE PREPARAÇÃO

1. Colocar sobre a bancada do laboratório quantidade suficiente de


frascos dinamizadores, devidamente identificados, para preparar a potência
desejada. O líquido a ser dinamizado deverá perfazer 2/3 da capacidade do frasco
para que ocorra um bom vascolejamento. Desse modo, por exemplo, para
dinamizar 20 mL usar um frasco com 30 mL de capacidade.
2. Nos três primeiros frascos, para a escala centesimal, e nos seis
primeiros, para a escala decimal, acrescentar, com o dispensador, 99 ou nove
partes, respectivamente, do insumo inerte de mesmo título da TM.
3. Para as potências intermediárias, assim como para as potências de
estoque (matrizes), adicionar 99 (escala centesimal) ou nove partes (escala
decimal) do etanol 70% (p/p). Na última potência utilizar etanol 30%, para as
formas farmacêuticas líquidas, ou etanol igual ou superior a 70%, para as formas
farmacêuticas sólidas. Usar os dispensadores para medir o volume dos insumos
inertes.
4. Acrescentar ao frasco designado pela primeira potência uma parte da
TM com uma micropipeta de capacidade adequada e executar cem sucussões,
batendo o fundo do frasco fortemente contra um anteparo semirrígido, num
movimento contínuo e ritmado. Está pronta a 1CH ou 1DH.
5. Com a micropipeta, transferir uma parte da primeira dinamização
centesimal ou decimal para o segundo frasco e executar cem sucussões. Está
pronta a 2CH ou 2DH.
6. Com a micropipeta, transferir uma parte da segunda dinamização
centesimal ou decimal para o terceiro frasco e executar cem sucussões. Está
pronta a 3CH ou 3DH.
7. Para as demais dinamizações, proceder de maneira idêntica até
atingir a potência desejada. A seguir, para facilitar o entendimento da técnica de
preparação das formas farmacêuticas derivadas a partir da TM, será dado dois
exemplos esquemáticos, um na escala decimal e outro na centesimal.
• Exemplo de medicamento preparado na escala decimal a partir da
TM:
Potência a ser preparada = 6DH
Capacidade do frasco dinamizador = 60 mL
No estoque = TM de Sabadilla
Teor hidroalcoólico da TM = 90%

Com o frasco dinamizador de 60 mL, podem-se preparar 40 mL, que


representam 2/3 da sua capacidade. Para obter a quantidade de insumo ativo
(uma parte), é necessário dividir o volume de 40 mL por 10, pois se trata da escala
decimal. Para obter a quantidade de insumo inerte (nove partes) que irá solubilizar
a TM de Sabadilla, é necessário multiplicar o volume do insumo ativo por 9 ou
diminuir o volume total (dez partes) do volume do insumo ativo (uma parte).
Assim, teremos:
4 mL da Sabadilla TM + 36 mL de etanol 90% + ↑↓ = Sabadilla 1DH
4 mL da Sabadilla 1DH + 36 mL de etanol 90% + ↑↓ = Sabadilla 2DH
4 mL da Sabadilla 2DH + 36 mL de etanol 90% + ↑↓ = Sabadilla 3DH
4 mL da Sabadilla 3DH + 36 mL de etanol 90% + ↑↓ = Sabadilla 4DH
4 mL da Sabadilla 4DH + 36 mL de etanol 90% + ↑↓ = Sabadilla 5DH
4 mL da Sabadilla 5DH + 36 mL de etanol 90% + ↑↓ = Sabadilla 6DH
• Exemplo de medicamento preparado na escala centesimal a partir da
TM:Potência a ser preparada = 6CH Capacidade do frasco dinamizador 30 mL No
estoque = TM de Nux vomica Teor hidroalcoólico da TM = 50%

Com o frasco dinamizador de 30 mL, podem-se preparar 20 mL, que


representam 2/3 da sua capacidade. Para obter a quantidade de insumo ativo
(uma parte), é necessário dividir o volume de 20 mL por 100, pois se trata da
escala centesimal. Para obter a quantidade de insumo inerte (99 partes), é
necessário multiplicar o volume do insumo ativo por 99 ou diminuir o volume total
(cem partes) do volume do insumo ativo (uma parte).
Assim, teremos:
0,2 mL da Nux vomica TM + 19,8 mL de etanol 50% + ↑↓ = Nux vomica
1CH
0,2 mL da Nux vomica ICH + 19,8 mL de etanol 50% + ↑↓ = Nux vomica
2CH
0,2 mL da Nux vomica 2GH + 19,8 mL de etanol 50% + ↑↓ = Nux
vomica3CH
0,2 mL da Nux vomica 3CH + 19,8 mL de etanol 70% + ↑↓ = Nux vomica
4CH
O,2 mL da Nux vomica 4GH + 19,8 mL de etanol 70% + ↑↓ = Nux vomica
5CH
0,2 mL da Nux vomica 5GH + 19,8 mL de etanol 30% + ↑↓ = Nux vomica
6CH

Nesse exemplo, se o medicamento for administrado sob a forma de gotas,


preparar a última potência em etanol 30%; se for administrado sob a forma sólida,
preparar a última potência em etanol de título igual ou superior a 70%. As três
primeiras dinamizações apresentam o mesmo título hidroalcoálico da TM e as
intermediárias são sempre obtidas em etanol 70%.

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