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Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.

º 20 | Maio 2022

Mortalidade materna no Brasil, 2009 a 2020


Coordenação-Geral de Informações e Análise Epidemiológica do Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis da Secretaria de
Vigilância em Saúde (CGIAE/DASNT/SVS).*

Introdução Método
A vigilância da mortalidade materna, por meio do Este estudo descritivo foi realizado a partir de dados do
registro, da investigação e da classificação dos óbitos Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e
maternos, é um instrumento essencial para subsidiar do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), no
ações direcionadas para a redução desse que continua período de 2009 a 2020. Os dados do SIM e do Sinasc,
sendo um grande desafio da saúde e da equidade até o ano 2020, são considerados finalizados.
social, de gênero e de raça.
Para análise do Sinasc, no período de 2019 a 2020,
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram considerados o número de nascidos vivos,
foram lançados em 2015 e estabelecem uma série trimestre de início do pré-natal e número de consultas
de metas a serem atingidas no período de 15 anos, de pré-natal realizadas. O óbito materno, no SIM, foi
ou seja, até 2030. Entre os 17 ODS, os fatores diretos analisado segundo as causas de morte, faixa etária e
relacionados à saúde estão incluídos no ODS 3: raça/cor. De acordo com a 10ª Classificação Estatística
Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar Internacional de Doenças e Problemas Relacionados
para todas e todos, em quaisquer idades. A meta 3.1 é de com a Saúde (CID-10), o óbito materno é definido como
que a razão de mortalidade materna (RMM) global seja a morte de uma mulher, ocorrida durante ou até 42
inferior a 70 mortes por 100.000 nascidos vivos. O Brasil dias após a gestação, independentemente da duração
se comprometeu a reduzir para, no máximo, 30 mortes ou da localização da gravidez, e desde que seja por
maternas por 100.000 nascidos vivos até 20301. causa relacionada com ou agravada pela gravidez ou
por medidas ligadas a ela, mas não associada a causas
Em 2020, foi declarada a pandemia de doença causada acidentais ou incidentais3,4.
pelo coronavírus SARS-CoV-2, denominada covid-19.
A gravidez e o pós-parto, por si só, são importantes Para fins de avaliação da mortalidade materna,
fatores de risco para morte, complicações e admissão foram consideradas as mortes com causas básicas
na UTI em relação a mulheres diagnosticadas com classificadas no Capítulo XV da CID-10, com exceção
covid-19 em idade reprodutiva2. A covid-19 (CID10: B34.2) dos códigos O96 e O97 (Morte Materna Tardia e Morte
foi responsável por 212.706 óbitos em 2020, notificados por Sequela de Causa Obstétrica Direta). Algumas
ao Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), doenças que não constam no Capítulo XV também
o que, por sua vez, torna importante conhecer as foram ser consideradas: tétano obstétrico (cód. A34,
principais características dos óbitos maternos e Cap. I); osteomalácia puerperal (cód. M83.0, Cap. XII);
nascidos vivos, comparando os anos de 2019 a 2020, ano transtornos mentais e comportamentais associados
que marcou o início da pandemia de covid-19 no mundo. ao puerpério (cód. F53, Cap. V); necrose pós-parto da
hipófise (cód. E23.0, Cap. IV), mola hidatiforme maligna
Assim, neste Boletim, a mortalidade materna e as (cód. D39.2, Cap. II); doenças causadas pelo vírus da
características referentes aos nascimentos, como imunodeficiência humana (cód. B20 a B24, Cap. I). Nos
o início e o número de consultas de pré-natal, no últimos três casos, deve ficar comprovada a relação com
Brasil, em Grandes Regiões e unidades da Federação o estado gravídico-puerperal e o óbito deve ter ocorrido
(UF), foram estimadas para o período de 2009 a 2020, até 42 dias após o parto5.
com ênfase no ano 2020, marcado pela pandemia de
covid-19. Pela definição de morte materna estabelecida pela
Organização Mundial de Saúde, existem os seguintes
tipos de causas6,7:

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Causas obstétricas diretas (Cód. O00-O08, A RMM Vigilância foi calculada a partir da aplicação de
O11-O23, O24.4, O26-O92, A34, D39.2, E23.0, F53 correções baseadas em indicadores da vigilância do
e M83.0): resultam de complicações obstétricas óbito de mulheres em idade fértil, sobre a RMM direta9.
na gravidez, parto ou puerpério atribuídas a
intervenções, omissões, tratamento incorreto ou a Todos os cálculos e gráficos foram realizados com o
uma cadeia de eventos resultantes de quaisquer software estatístico R versão 4.1.3.
dessas causas mencionadas.
Causas obstétricas indiretas (Cód. O10, O24 –
exceto O24.4, O25, O98-O99, A34 e B20-B24): Resultados
resultam de doenças existentes antes da gravidez
ou de doenças que se desenvolveram durante
a gravidez e que foram agravadas pelos efeitos
Natalidade
fisiológicos da gravidez, desde que excluídas as O Brasil apresentou uma queda na natalidade no ano
causas obstétricas diretas. de 2020, sendo que, em 2019 e em 2020, foram noti-
ficados 2.849.146 e 2.730.145 nascimentos ao Sinasc,
A seguir estão relacionados os códigos da CID-10 das respectivamente. Em 2020, observa-se em todas as
principais causas de morte materna: Hipertensão: regiões uma diminuição de nascimentos em relação a
O110-O119, O130-O169; Hemorragia: O200-O209, 2019 (Figura 1).
O440-O469, O670-O679, O710, O711, O720-O729; Infecção
puerperal: O850-O869; Aborto: O030-O079; Aids:
B200-B249; Doenças do aparelho circulatório: O994;
Consultas pré-natal e início do pré-natal
Doenças do aparelho respiratório: O995; Doenças No Brasil, em 2019, 72,4% dos nascidos vivos foram de
infecciosas e parasitárias maternas: O980-O9895. mulheres que realizaram sete ou mais consultas de
pré-natal em 2019. Em 2020, esse percentual diminuiu
Para a mortalidade materna atribuída à covid-19 foram para 71,0%. O percentual de nascidos vivos de mulheres
considerados os registros com causa básica de óbito que iniciaram o pré-natal no 1º trimestre gestacional
com os seguintes códigos da CID-10 para covid-19: O98.5 aumentou ligeiramente, de 78,4% em 2019 para 78,5%
+ U07.1 (covid-19 confirmada); O98.5 + U07.2 (covid-19 em 2020 (Figura 2).
suspeita); O98.5 + U09.9 (condição de saúde posterior
à covid-19); O99.8 + U10.9 (síndrome inflamatória Em 2020, 7,8% dos nascidos vivos foram de mulheres
multissistêmica pediátrica de 10 a 19 anos); O98.5 + U92.1 que realizaram até três consultas de pré-natal, com
(reincidência de covid-19)8. grandes diferenças regionais (18% na Região Norte
e 4% na Região Sul), conforme Figura 3. Não foram
Foram considerados não apenas os óbitos maternos observadas alterações importantes nesses percentuais
declarados pelo médico no momento da emissão no período de 2019 a 2020.
da Declaração de Óbito (DO), mas também os óbitos
de mulheres em idade fértil que foram investigados
e confirmados como óbito materno pelas equipes
Morte materna
de vigilância do óbito. Essa vigilância se inicia pela No Brasil, em 2019 e em 2020, foram notificados 1.576 e
investigação dos óbitos de mulheres em idade fértil 1.965 óbitos maternos ao SIM, respectivamente. Após
(10 a 49 anos), com o objetivo de identificar óbitos aplicação do fator de correção oriundo da RMM Vigilância,
maternos não declarados inicialmente, bem como estima-se que tenham ocorrido 1.655 e 2.039 óbitos
apontar as circunstâncias e fatores determinantes que maternos em 2019 e 2020, respectivamente (Figura 4).
ocasionaram as mortes5.

A Razão de Morte Materna (RMM) é o indicador utilizado


Razão de mortalidade materna
para mensurar a mortalidade materna, obtido a partir A Figura 5 apresenta as séries temporais da RMM de
da seguinte fórmula: 2009 a 2020, período que coincide com a vigilância
de óbitos, iniciada em 200910.O Brasil apresentou um
Número de óbitos de mulheres por causas aumento acentuado da RMM, variando de 57,9 óbitos
ligadas à gravidez, ao parto e ao puerpério maternos para cada 100 mil nascidos vivos em 2019 para
x 100.000 74,7 em 2020. Aumentos das RMM ocorreram também em
Número de nascidos vivos
todas as Regiões nos últimos três anos da série.

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Brasil Norte Nordeste

860.000
2.750.000 2.850.000 2.950.000

315.000
Nascidos Vivos

Nascidos Vivos

Nascidos Vivos

820.000
305.000

780.000
2010 2012 2014 2016 2018 2020 2010 2012 2014 2016 2018 2020 2010 2012 2014 2016 2018 2020

Ano Ano Ano

Sudeste Sul Centro−Oeste


1.180.000

240.000
Nascidos Vivos

Nascidos Vivos

Nascidos Vivos
390.000
1.120.000

230.000
370.000
1.060.000

220.000
2010 2012 2014 2016 2018 2020 2010 2012 2014 2016 2018 2020 2010 2012 2014 2016 2018 2020

Ano Ano Ano

Fonte: Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).

Figura 1 Nascidos vivos notificados ao Sinasc. Brasil e Grandes Regiões, 2009 a 2020
100

100

2019 2019
2020 2020
78.4 78.5
80

80

72.4 71
Nascidos Vivos (%)

Nascidos Vivos (%)


60

60
40

40

20.3 20.7
20

20

14.6 14.4

6.9 7.8
4.9 4.9
2.1 2.2
0

Até 3 4a6 7 e mais 1º trimeste 2º trimestre 3º trimestre Ignorado

Consultas pré−natal Início do pré−natal

Fonte: Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).

Figura 2 Consultas pré-natal e início do pré-natal. Brasil, 2019 a 2020

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2019 2020
100

100
Norte Norte
Nordeste Nordeste
Sudeste 82
Sudeste
Sul Sul 81
79 78
80

80
Centro−Oeste Centro−Oeste
72 71
68
66
Nascidos Vivos (%)

Nascidos Vivos (%)


60

60
54
50
40

40
32 32

24 25
21 22
18
20

20
15 17 16
14 15
8 9
7 7
5 4 5 4
0

0
Até 3 4a6 7 e mais Até 3 4a6 7 e mais

Consultas pré−natal Consultas pré−natal

Fonte: Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).

Figura 3 Consultas pré-natal. Regiões do Brasil, 2019 a 2020


2.000
1.500
Óbitos maternos

1.000
500

Direto do SIM − Sem fator de correção


Estimado − com fator de correção
0

2010 2012 2014 2016 2018 2020

Ano

Fonte: Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).

Figura 4 Óbitos maternos notificados ao SIM e estimados. Brasil, 2009 a 2020

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Brasil Norte Nordeste


80 100

80 100

80 100
RMM

RMM

RMM
60

60

60
40

40

40
20

20

20
0

0
2010 2012 2014 2016 2018 2020 2010 2012 2014 2016 2018 2020 2010 2012 2014 2016 2018 2020

Ano Ano Ano

Sudeste Sul Centro−Oeste


80 100

80 100

80 100
RMM

RMM

RMM
60

60

60
40

40

40
20

20

20
0

0
2010 2012 2014 2016 2018 2020 2010 2012 2014 2016 2018 2020 2010 2012 2014 2016 2018 2020

Ano Ano Ano

Fonte: Sistemas de Informações sobre Nascidos Vivos e sobre Mortalidade (Sinasc e SIM).

Figura 5 Razão de mortalidade materna. Brasil e Regiões, 2009 a 2020

A RMM aumentou em praticamente todas as unidades nos para cada 100.000 nascidos vivos foram observadas
da Federação (UF) entre os anos de 2019 e 2020. Neste em Amazonas, Roraima, Pará, Amapá, Maranhão e Piauí
último, estimativas de RMM acima de 100 óbitos mater- (Figura 6 e Tabela 1).

2020

2020

O L
Até 20
20 a 40
S 40 a 60
60 a 80
80 a 100
0 500 1000 km
100 ou mais

Fonte: Sistemas de Informações sobre Nascidos Vivos e sobre Mortalidade (Sinasc e SIM).
Nota: RMM com fator de correção para 2020.

Figura 6 Razão de mortalidade materna por unidades da Federação, Brasil, 2020

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Tabela 1 Razão de Mortalidade Materna (RMM). Brasil, Regiões e unidades da Federação, 2010 a 2020

Região/unidade da Federação 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
Norte 78,4 74,7 73,2 83,8 93,6 76,0 84,5 88,9 80,8 82,5 98,9
Rondônia 83,2 58,3 64,1 94,2 87,7 57,7 56,4 87,3 47,8 59,6 78,1
Acre 48,8 33,7 53,9 58,6 46,7 58,9 69,7 48,9 54,4 49,1 33,0
Amazonas 119,5 84,6 85,0 81,6 120,8 78,8 84,7 75,6 108,4 84,8 101,8
Roraima 13,8 67,5 38,0 74,5 60,4 96,4 52,7 59,6 100,6 91,9 146,4
Pará 69,7 73,8 78,9 86,7 96,4 72,9 86,4 107,4 81,4 96,1 107,1
Amapá 26,8 53,3 54,1 119,7 66,0 110,8 141,7 45,5 88,3 32,6 102,5
Tocantins 76,8 112,6 53,3 61,2 60,1 85,6 92,2 96,3 31,6 71,4 79,2
Nordeste 83,3 77,9 72,7 82,4 77,9 75,3 78,0 73,2 67,1 63,6 91,8
Maranhão 133,7 109,8 96,1 123,8 100,9 116,5 122,2 101,8 90,6 80,6 108,9
Piauí 125,0 107,1 126,0 130,2 86,8 103,6 108,5 88,6 105,8 98,1 101,0
Ceará 70,6 68,4 69,4 74,5 65,3 49,1 63,4 65,7 68,4 58,1 97,6
Rio Grande do Norte 36,6 68,6 66,0 54,5 74,8 68,4 77,2 77,9 58,6 70,4 78,1
Paraíba 61,8 61,7 61,5 70,9 63,0 81,8 99,9 67,8 53,2 62,8 97,7
Pernambuco 61,9 57,5 56,0 64,3 63,4 67,6 58,1 63,3 59,2 48,0 70,8
Alagoas 74,4 66,8 56,3 71,6 104,1 59,1 51,9 37,7 49,5 58,2 82,7
Sergipe 71,1 83,0 70,4 67,2 66,9 51,6 55,9 56,1 58,8 36,7 97,5
Bahia 87,3 80,6 70,0 80,6 81,0 75,4 72,6 76,9 60,8 64,0 93,1
Sudeste 56,0 48,7 46,5 50,1 53,9 54,3 55,8 62,3 53,2 53,5 65,1
Minas Gerais 50,5 40,3 36,6 47,6 49,0 47,0 46,9 45,2 51,2 44,4 51,0
Espírito Santo 65,6 60,8 64,4 59,6 109,2 73,1 48,7 71,6 63,9 56,2 68,8
Rio de Janeiro 83,6 74,3 80,8 80,3 71,9 67,1 71,6 84,7 61,7 74,5 95,4
São Paulo 47,6 42,0 36,8 39,3 44,2 50,8 54,4 60,6 50,0 49,7 60,1
Sul 62,8 50,4 54,5 36,6 41,7 43,7 44,2 38,5 38,2 38,3 45,6
Paraná 65,4 52,7 38,4 41,7 41,3 51,7 50,3 31,7 38,4 45,5 52,6
Santa Catarina 38,1 30,7 45,4 31,4 30,2 30,9 31,5 40,7 35,1 30,6 31,7
Rio Grande do Sul 75,6 60,5 78,3 34,2 49,7 43,4 46,0 44,5 40,3 39,9 48,3
Centro-Oeste 77,2 68,2 64,3 62,5 60,2 65,9 67,3 56,9 64,9 59,0 77,0
Mato Grosso do Sul 113,8 92,4 73,1 66,7 79,3 88,2 80,1 60,3 84,9 64,5 48,8
Mato Grosso 76,9 83,9 58,5 71,6 63,7 82,9 78,5 61,1 58,0 64,6 91,8
Goiás 69,1 50,9 70,5 56,7 53,8 56,6 56,5 56,4 64,7 69,7 90,5
Distrito Federal 60,7 61,8 49,4 60,3 51,0 43,7 64,6 49,4 54,3 21,2 53,4
Brasil 68,9 61,8 59,3 62,1 63,8 62,0 64,4 64,5 59,1 57,9 74,7

Fonte: Sistemas de Informações sobre Nascidos Vivos e sobre Mortalidade (Sinasc e SIM).
Nota: RMM com fator de correção até 2020.

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Causas de óbito materno Em 2020, entre as Causas Obstétricas Diretas,


predominaram a hipertensão (317 óbitos), hemorragia
Entre 2019 e 2020, houve um ligeiro aumento dos (195 óbitos) e infecção puerperal (76 óbitos) e aborto
óbitos maternos decorrentes de Causas Obstétricas (57 óbitos). Entre as Causas Obstétricas Indiretas,
Diretas (de 1.034 óbitos para 1.041 óbitos) e um elevado predominam as doenças do aparelho circulatório
aumento das Causas Obstétricas Indiretas (de 479 (111 óbitos), doenças do aparelho respiratório (54
óbitos para 843 óbitos), relativamente às quantidades óbitos) e doenças infecciosas e parasitárias maternas
registradas nos anos anteriores desde 2009, conforme (variando de 45 óbitos em 2019 a 476 óbitos em 2020),
mostrado na Figura 7. conforme a Figura 8.
1.200

Diretas
1.000
800
Óbitos maternos

Indiretas
600
400
200

Não especificadas
0

2010 2012 2014 2016 2018 2020

Ano

Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).

Figura 7 Morte materna obstétrica. Brasil, 2009 a 2020

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Causa Obstétrica Direta Causa Obstétrica Indireta


500

500
Hipertensão AIDS
Hemorragia Doenças do aparelho circulatório
Infecção puerperal Doenças do aparelho respiratório
Aborto Doenças infecciosas e parasitárias
400

400
Óbito Materno

Óbito Materno
300

300
H1N1
200

200
100

100
0

0
2010 2012 2014 2016 2018 2020 2010 2012 2014 2016 2018 2020

Ano Ano

Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).

Figura 8 Principais causas de morte materna. Brasil, 2009 a 2020

Óbito materno associado à covid-19 No Brasil, com dados mensais a partir de janeiro
de 2020, os óbitos maternos associados à covid-19
Conforme apresentado na Figura 9, 17% (n=335) de alcançaram valores máximos nos meses de maio a
todos os óbitos maternos ocorridos no Brasil em 2020 agosto, popularmente designadas como uma “onda” de
tinham associação com a covid-19. A Região Sul foi a que mortes maternas associadas à covid-19. O pico dessa
apresentou o menor percentual (10%; n=16) de óbitos “onda” ocorreu em maio de 2020 (n= 74), conforme
maternos associados com a covid-19 em 2020. Figura 10.

2020
30
% Óbitos maternos associados à Covid−19

23
25

20
20

17 17
15
15

10
10
5
0

N NE SE S CO Brasil

Região

Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).

Figura 9 Percentual de óbito materno associado à covid-19. Brasil e Regiões, 2020 e 2020

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80

74

61
Óbitos maternos associados à Covid−19

60

51

42
40

28
23
19 18 19
20

0 0 0
0

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

Mês do óbito

Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).

Figura 10 Óbitos maternos associados à covid-19 segundo mês de ocorrência

Características dos óbitos maternos (n=1.284) dos óbitos maternos foram de mulheres
negras, 54% de pardas e 12% de pretas. Apenas 13%
Conforme apresentado na Figura 11, no Brasil, em das mulheres que faleceram por causas maternas
2020, 56% (n=1.101) dos óbitos maternos foram de possuíam 12 anos ou mais de escolaridade (n=262),
mulheres com 30 anos e mais. Nesse mesmo ano, 65% e 30% eram casadas (n=593).

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Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.º 20 | Maio 2022

Idade Raça/cor
10 20 30 40 50 60

10 20 30 40 50 60
53.7
% de Óbitos maternos

% de Óbitos maternos
30
25
19.9 21.9
16.2
9.1 11.7
7.5
0.4 0.5 1.5 2.7
0
0

0
10−14 15−19 20−24 25−29 30−34 35−39 40+ Ignorado Branca Preta Amarela Parda Indígena Ignorado

Idade (em anos) Raça/cor

Escolaridade Estado Civil


10 20 30 40 50 60

10 20 30 40 50 60
48.6
% de Óbitos maternos

% de Óbitos maternos
44.8

30.2

19.5
13.3 14.8 13.5
7.6 7.7
0

Até 3 4a7 8 a 11 12 e mais Ignorado Solteiro* Casado Outro Ignorado

Escolaridade (em anos) Estado Civil

Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).


Nota: *Solteira, viúva e separada judicialmente.

Figura 11 Características das mulheres que faleceram de morte materna. Brasil, 2020

Considerações finais às equipes de Estratégia Saúde da Família e Saúde Bucal


mediante o alcance de três indicadores para a atenção
Observou-se um aumento importante da RMM no Brasil ao pré-natal, sendo respectivamente: Proporção de
em 2020, em decorrência da epidemia de covid-19. Em gestantes com pelo menos 6 (seis) consultas pré-natal
especial, nos estados da Região Norte, em que se en- realizadas, sendo a 1ª (primeira) até a 12ª (décima
contram maiores as barreiras de acesso para atenção segunda) semana de gestação; Proporção de gestantes
ao pré-natal de risco habitual e pré-natal de alto risco, com realização de exames para sífilis e HIV; Proporção
parece possível que tal fato esteja associado aos des- de gestantes com atendimento odontológico realizado.
fechos desfavoráveis às gestantes, às puérperas e aos
recém-nascidos. Para qualificar as equipes da APS na Região Norte, a Se-
cretaria de Atenção Primária lançou o curso de Qualifica-
Vale considerar que a Atenção Primária à Saúde – ção das Equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) na
APS assume papel imprescindível como porta de Atenção ao Pré-natal de Baixo Risco, nomeado Iniciativa
entrada, articuladora do cuidado e promotora das Força Pré-Natal SUS. Está estruturado em grandes temas:
ações de saúde. Nesse viés, o pré-natal propicia o Manejo clínico da gestação; Diagnóstico, tratamento e
estabelecimento de vínculos com a equipe de saúde, acompanhamento da sífilis na gestação; Prevenção e con-
prevenção e detecção precoce de agravos, tanto trole do câncer de colo uterino; pré-natal odontológico e
maternos como fetais, desenvolvimento saudável do Intervenção no território, com foco nas práticas de gestão
bebê e redução dos riscos de complicações durante a do cuidado integral e compartilhado.
gestação, o parto e o puerpério.
No que se refere à Atenção Ambulatorial e à Atenção
Na perspectiva de apoiar os processos de trabalho e a Especializada, destaca-se a publicação da recente
gestão do cuidado, a Portaria GM/MS N.º 102, de 20 de Portaria GM/MS N.º 715, de 4 de abril de 2022, a Rede
janeiro de 2022, instituiu o pagamento por desempenho de Atenção Materna e Infantil, que amplia recursos

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de custeio para oferta de novos serviços como os Internacional de Doenças: décima revisão (CID-10). 4.
ambulatórios de gestação de alto risco, ambulatórios ed. v.2. São Paulo: Edusp; 1998.
de seguimento de recém-nascidos prematuros e as
maternidades de baixo risco. Essa nova portaria foi 5. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância
baseada na necessidade de atualização e ampliação da em Saúde. Departamento de Análise de Situação de
rede existente, trazendo os preceitos de segurança e Saúde. Guia de Vigilância Epidemiológica do Óbito
qualidade como pilares inerentes à humanização. Materno. Série A. Normas e Manuais Técnicos. Brasília:
Ministério da Saúde; 2009. Disponível em: https://bit.
Assim, os novos investimentos previstos na Rede de ly/3fUlTxx.
Atenção Materna e Infantil estão em consonância com o
compromisso assumido pelo Brasil e 192 países para a 6. Rede Interagencial de Informações para a Saúde.
redução das mortalidades materna e infantil na Agenda Fichas de Qualificação do Indicador Mortalidade
Global 2030, coordenada pelas Nações Unidas para o materna segundo tipo de causas - C.18 [Internet].
Desenvolvimento (PNUD). Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde; 2012.
Disponível em: https://bit.ly/3fXtID0.
Por fim, superar os desafios e avançar na qualificação
da atenção e da gestão em saúde materna requer forte 7. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância
decisão dos gestores do SUS, enquanto protagonistas em Saúde. Departamento de Análise de Situação de
do processo instituidor e organizador do sistema de Saúde. Boletim epidemiológico sobre mortalidade
saúde, com vistas à garantia dos investimentos e recur- materna no Brasil, 2009-2019. Brasília: Ministério da
sos necessários à mudança que potencialize a redução Saúde; 2021. Disponível em: https://bit.ly/3sFO4I5.
dos óbitos maternos no País.
8. Ministério da Saúde (BR). Orientações sobre novos
códigos de emergência para as causas de morte
Referências relacionadas a condições que ocorrem no contexto
da Covid-19. Brasília: Ministério da Saúde; 2021.
1. Ministério da Saúde (BR). Saúde Brasil 2017: Uma Disponível em: https://bit.ly/3Lm4DPE.
análise da situação de saúde e os desafios para o
alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 9. Ministério da Saúde (BR). Saúde Brasil 2017: Uma
[Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2009 [citado análise da situação de saúde e os desafios para
2022 mai]. Disponível em: https://bit.ly/3fSfjI3. o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde;
2. Gonçalves BMM, Franco RPV, Rodrigues AS. Maternal 2009 [citado 2022 mai]. Capítulo 2, Mortalidade
mortality associated with COVID-19 in Brazil in 2020 materna nas unidades da Federação, regiões e
and 2021: Comparison with non-pregnant women and no Brasil: uma análise de 2000 a 2015; p. 39-58.
men. PLoS ONE. 2021; 16 (12): e0261492. doi: 10.1371/ Disponível em: https://bit.ly/3fSfjI3.
journal.pone.0261492.
10. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria N.º 1.119, de 5 de
3. Rede Interagencial de Informações para a Saúde. junho de 2008. Regulamenta a Vigilância de Óbitos
Fichas de Qualificação do Indicador Razão de Maternos. Diário Oficial da União, Brasília (DF), 2008.
mortalidade materna - C.3 [Internet]. Brasília:
Organização Pan-Americana da Saúde; 2012.
Disponível em: https://bit.ly/3utkZO1.

4. Organização Mundial de Saúde. Classificação

*Departamento de Análise de Saúde e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis (DASNT/SVS): Giovanny Vinícius Araújo de França. Coordenação-Geral de
Informações e Análise Epidemiológica (CGIAE/DASNT/SVS): Marli Souza Rocha. Núcleo de Estatísticas e Indicadores: Denise Lopes Porto, Nahari de Faria
Marcos Terena. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas (Dapes/SAPS): Lana de Lourdes Aguiar Lima. Área técnica da Coordenação de Saúde das
Mulheres (Cosmu/CGCIVI/Dapes/SAPS): Camila Rosalia Antunes Baccin.

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