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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Faculdade de Economia, Administração, Contábeis e Atuariais


Departamento de Administração

COMPACTAÇÃO DAS CADEIAS PRODUTIVAS – IMPRESSÃO 3D.

Prof. Marcelo Graglia

O modelo tradicional de cadeias produtivas ou de fornecimento está


baseado numa lógica linear e sequencial. Envolve diferentes empresas, desde a
produção da matéria prima necessária para um determinado produto, a
fabricação de partes ou componentes, o transporte, a montagem do produto, sua
distribuição regional, distribuição local e venda ao consumidor ou cliente. Cada
segmento de mercado acaba tendo sua própria cadeia produtiva. Em alguns
casos há o compartilhamento de elos, como no grande varejo, onde uma
diversidade de produtos de cadeias diferentes como alimentos, fármacos,
móveis e eletrodomésticos convergem para a venda nos mesmos locais. Mas,
via de regra, estas cadeias também possuem seus pontos de venda específicos:
supermercados, farmácias, lojas de departamentos e redes de venda de
eletrodomésticos. Cada elo destas cadeias é atendido por uma ou mais
empresas concorrentes e, até chegar ao cliente final ou consumidor, os produtos
percorrem os elos das cadeias onde seu valor vai sendo agregado. A
compactação das cadeias produtivas se viabilizará pela combinação de
possibilidades geradas por algumas das novas tecnologias, especialmente
impressão 3D (ou manufatura aditiva), computação em nuvem, simulação,
realidade virtual e aumentada e escaneamento digital. As tecnologias disruptivas
estão transformando todas as etapas de ponta a ponta na produção e os
modelos de negócios na maioria dos setores da economia. As cadeias de
suprimentos globais estão sendo reformadas em um ritmo e grau sem
precedentes.

A ruptura através da fabricação aditiva.


Nos processos de fabricação tradicionais, a forma de um objeto sólido é
tipicamente conferida a partir da subtração de material, através de processos
como usinagem ou fresagem. Há também os processos que envolvem a

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aplicação de material sob pressão em moldes, como a fundição. Na chamada


impressão 3D ou manufatura aditiva, como o próprio nome diz, os produtos ou
peças são fabricadas a partir da adição de material até se atingir a forma
desejada, através de equipamentos conhecidos como impressoras
tridimensionais ou impressoras 3D e a impressão se dá por camadas, através
de uma técnica conhecida por sinterização. A concepção e o desenho do produto
são feitos com o uso de programas computacionais do tipo CAD – computer
aided design - e as máquinas, ou impressoras, podem ser controladas por
sistemas tipo CAM – computer aided manufacturing - ou manufatura assistida
por computador. A fabricação aditiva pode ser feita utilizando-se materiais
metálicos, cerâmicos e poliméricos e mesmo orgânicos.
A grande ruptura que a manufatura aditiva traz é que, para determinados
produtos e volumes, já é possível ao cliente ou usuário “imprimir” o produto
desejado em seu próprio equipamento ou em alguma central de impressões,
como ocorre atualmente na impressão de documentos ou fotos. Praticamente
toda a estrutura convencional da cadeia produtiva relacionada ao produto em
questão é tornada obsoleta, neste caso. À medida que novos materiais são
viabilizados para impressão, a tendência é a disseminação deste modelo, já que
os preços das impressoras 3D vêm caindo de forma acentuada. A cultura de
utilização desta tecnologia está se popularizando, especialmente entre as
gerações mais novas. Na cidade de São Paulo, uma iniciativa da prefeitura
municipal criou uma rede de laboratórios públicos chamada Fab Lab Livre SP.
São espaços para desenvolvimento e construção de projetos a partir do uso de
ferramentas de fabricação digital como impressoras 3D, cortadoras a laser,
plotter de recorte, fresadoras CNC (comando numérico computadorizado),
softwares CAD, equipamentos de robótica e outros convencionais. Também
realizam oficinas, palestras e cursos com o intuito de disseminar o conhecimento
desta tecnologia; são doze laboratórios espalhados em todas as regiões da
cidade.

A compactação através das fábricas inteligentes.


A fábrica inteligente, ou smart factory, é uma das bases da Indústria 4.0.
Seu princípio de operação é baseado num alto grau de automação e robotização,

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com processos controlados e grande utilização dos sistemas ciberfísicos que se


conectam com a Internet das Coisas e dos Serviços. A fábrica inteligente
também se conecta a sua cadeia de valor, interagindo com outras empresas,
sejam clientes, fornecedores ou parceiros. O modelo das fábricas inteligentes
viabiliza unidades compactas e pouco dependentes de mão de obra, que podem
ser instaladas próximas aos seus mercados consumidores e ser totalmente
controladas de forma remota a partir de suas sedes, mesmo nos seus países de
origem, como pretende a Adidas com sua Speedfactory. A fábrica, instalada na
cidade alemã de Ansbach, conta com apenas 120 pessoas e produziu o primeiro
par do tênis esportivo Futurecraft M.F.G. no segundo semestre de 2016. A
Adidas pretende implantar speedfactories em outros grandes centros urbanos
do mundo, abandonando a produção em países como China, Indonésia e Vietnã
(pelo menos para o produto em questão). Foi anunciada a cidade de Atlanta nos
EUA, como a próxima a receber a unidade fabril. Deve empregar apenas 160
pessoas. Em termos da cadeia de fornecimento, este modelo favorece maior
verticalização da produção e deve reduzir o uso da estratégia de redes de
fornecedores especializados em partes, além de reduzir também a cadeia
logística envolvida.

Fabricação distribuída
A fabricação distribuída é um modelo de produção em rede, que tem como
princípios a proximidade de um produtor junto ao público consumidor e a
integração do cliente no processo. Pode ser representado por uma rede
descentralizada de impressoras 3D interligadas com os sistemas dos produtores
através da computação em nuvem, com cadeias de suprimentos físicas
substituídas por conexões eletrônicas de dados. Neste modelo, uma empresa
pode projetar novas versões de um produto, como óculos ou relógios de pulso,
por exemplo, envolvendo o cliente no design ao longo dos vários passos de
personalização e adaptação. Além disso, pode produzir os produtos
customizados localmente, mais perto dos consumidores. A empresa pode
contratar designers e fábricas diferentes com ferramentas adequadas e
capacidade suficiente para produzir os óculos ou relógios numa quantidade
reduzida, até mesmo em lotes de uma unidade. A fabricação distribuída pode

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levar a uma mudança de paradigma na fabricação. A produção em massa


centralizada será gradualmente substituída por descentralizados, ou seja, a
fabricação local de produtos personalizados.
A Adidas experimenta um modelo deste tipo de produção com uma loja-
conceito dentro de um shopping center em Berlim. A boutique faz parte de um
experimento corporativo chamado Storefactory e oferece um único produto:
blusas de lã merino tricotadas à máquina e feitas sob encomenda no local. Os
clientes se submetem a um processo de varredura corporal dentro do showroom
e depois trabalham com um funcionário para desenhar seus próprios pulôveres
personalizados. As blusas, que custam o equivalente a cerca de US$ 250 cada,
se materializaram atrás de uma parede de vidro em questão de horas. A fábrica
em miniatura atrás do vidro consiste basicamente de três máquinas industriais
de tricô capazes de produzir apenas dez peças por dia.

Plataformas
Neste modelo, uma plataforma de interação fornece as condições
tecnológicas para conectar várias partes e coordenar suas interações. As
plataformas podem atuar como um mercado que liga o fornecimento (operadores
e proprietários) com a demanda (compradores). A visão é desenvolver uma rede
de produção integrada onde as máquinas estão conectadas através da Internet
e as ordens dos clientes são produzidas de forma eficiente. Este modelo é uma
espécie de cloud manufacturing ou manufatura em nuvem; ou seja, um modelo
para habilitar o acesso via uma rede ubíqua, sob demanda, a um conjunto de
recursos de manufatura configuráveis (softwares, equipamentos etc.) e que
podem se rapidamente provisionados e fornecidos com pouco esforço gerencial
e pouca interação com o provedor de serviço. Envolve a noção de recursos
distribuídos ao extremo, dissociando não apenas as etapas dentro de uma
cadeia de fornecimento, mas utilizando uma estrutura em camadas, típica das
tecnologias da informação e comunicação. As diversas etapas do ciclo de vida
de um produto, desde o design, projeto, fabricação de protótipo, testes, produção
e transporte podem ser tratados como serviços disponíveis na nuvem, locáveis.
Produção como um serviço, ou manufatura orientada a serviço.

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Nas cadeias de abastecimento tradicionais, a informação viaja


linearmente, com cada passo dependente do anterior. Nas plataformas, ou redes
de suprimento digitais, as informações são integradas de diferentes fontes e
locais para dirigir o ato físico de produção e distribuição.

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