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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO

PROFESSOR CARLOS ALBERTO REYES MALDONADO


SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
CAMPUS UNIVERSITÁRIO JANE VANINI – CÁCERES
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS
CURSO DE DIREITO

VERIFICAÇÃO DE LEITURA1
Kedma Estefani Gomes2
Taynara Alves de Miranda3

I. Deveres e responsabilidade no tratamento e na promoção do consumidor


superendividado – Fernando Rodrigues Martins e Claudia Lima Marques.

Problema: Diante da Lei nº 14.181/2021, quais são as responsabilidades e os deveres dos


fornecedores frente ao superendividamento dos consumidores?

Os autores iniciam com os princípios basilares do Código de Defesa do Consumidor,


dos quais cita-se a boa-fé, que se desdobra em diversos outros deveres anexos. A seguir,
destacam que a Lei do Superendividamento introduz três espécies de proteção ao consumidor:
a tutela preventiva, a fim de evitar o superendividamento (ex ante); a tutela restauradora, que
visa tratar das dívidas do consumidor e possibilitar um recomeço sem que haja a
desvinculação do dever de adimplemento (ex post); e a tutela potencializadora da garantia e
defesa do mínimo existencial do consumidor (ex supra).
Os deveres impostos aos fornecedores devem ser efetivamente observados, sob pena de
nulidade de práticas, cláusulas ou até mesmo do contrato, possibilitando a aplicação de sanções
e da responsabilidade civil. Dentre os deveres introduzidos pela Lei nº 14.181/2021,
mencionam-se a educação financeira e ambiental, a prevenção ao superendividamento, o de
tratamento ao superendividado e a não exclusão social do consumidor. Assim, os fornecedores
de crédito devem esclarecer ao consumidor sobre as expensas do crédito e as consequências do
não cumprimento da obrigação.
Ademais, o fornecedor tem o dever de não omitir quaisquer informações que
possibilitem o superendividamento do consumidor, não deve compeli-lo a contratar o

1
Trabalho apresentado à disciplina de Direito do Consumidor, ministrada pela docente Juliana Sales Pavini,
no semestre letivo 2023/2;
2
Acadêmica do curso de bacharelado em Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT;
3
Acadêmica do curso de bacharelado em Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT.
fornecimento de produto ou serviço, não deve vincular a iniciativa de renegociação à
desistência ou renúncia de processos judiciais, e sobretudo, deve cooperar para que os
consumidores superendividados realizem o adimplemento de duas obrigações, sendo possível
quando observado o aludido princípio da boa-fé.
Além de princípios e deveres, a Lei do Superendividamento também inseriu “direitos
básicos” ao Codex Consumerista, quais sejam a prática de crédito responsável, educação
financeira, prevenção e tratamento ao superendividamento, preservação do mínimo existencial
e informações dos preços por unidade de medida.
Dessa forma, se o fornecedor não os observar, comete ato ilícito, o que resultará na
responsabilização civil uma vez que o parágrafo único do artigo 54-D do CDC estabelece que
os fornecedores têm a obrigação de fornecer informações específicas sobre crédito, riscos e
restrições aos consumidores, e em caso de não cumprimento dessas obrigações, os
consumidores têm direito a uma indenização por danos materiais e morais. Isso não exclui
outras sanções, levando em consideração a gravidade das ações.
Além disso, essa cláusula geral de responsabilidade está ligada ao dever de prevenir o
superendividamento e tem caráter sancionatório, especialmente em relação aos órgãos de
proteção ao consumidor. Essa abordagem vai além da simples compensação e reparação e busca
incentivar os fornecedores a cumprir deveres éticos e solidários relacionados ao crédito,
promovendo a "função social do crédito".
Somando a isso, o CDC, por meio de sua atualização, introduziu um novo tipo de dano:
o dano de assédio de consumo, conforme o inciso IV do art. 54-C. Esse dano está relacionado
a práticas proibitivas por parte dos fornecedores, que assediam ou pressionam os consumidores
a contratar produtos, serviços ou crédito. O dano de assédio é de natureza extrapatrimonial e
ocorre quando há lesão a interesses jurídicos tuteláveis do consumidor, como crédito
responsável e prevenção ao superendividamento. Os fornecedores são obrigados a indenizar o
consumidor, e o nexo de imputação é objetivo, sem a necessidade de comprovação de culpa.
Ademais, o assédio de consumo está relacionado às relações de consumo e às pressões
realizadas por agentes do mercado sobre os consumidores. Não se refere a qualquer forma de
assédio, mas sim a condutas reiteradas, ambiência de mercado e ofertas relacionadas às relações
de consumo. É possível cumular os danos de assédio com os danos que afetam a paz e
tranquilidade do consumidor, uma vez que os bens jurídicos protegidos são distintos.
Cabe ressaltar que existem casos em que o assédio de consumo é evidente, como fraudes
cometidas por instituições financeiras que usam informações pessoais de pensionistas e
aposentados para realizar contratos de crédito consignado sem o devido consentimento dos
consumidores. Isso constitui um dano autônomo e ressarcível, prejudicando a dignidade do
consumidor e, indiretamente, a coletividade e as diretrizes econômicas.
É importante ressaltar também a existência do dano de assédio qualificado, que ocorre
quando o titular do bem jurídico tutelado é um consumidor idoso, analfabeto, doente ou em
estado de vulnerabilidade agravada. No contexto da responsabilidade civil do CDC, o
fornecedor tem o ônus da prova quanto à ausência de dano de assédio e à inexistência de defeito
na prestação de serviços. Não é suficiente alegar a culpa de terceiros quando estes terceiros
fazem parte da cadeia de fornecimento ou não são devidamente investigados para evitar o
assédio.
Destarte, os autores asseveram que os deveres disciplinados para evitar o
superendividamento se fazem presente nas fases pré-contratuais, contratuais e pós-contratuais.
Ademais, os princípios e deveres não devem ser encarados como meras regras interpretativas,
uma vez que viabilizam a resolução de conflitos normativos, suprem eventuais lacunas e
dispõem de função vinculante, e junto à responsabilidade civil, perfazem-se para proteger os
vulneráveis e hipervulneráveis em face da “sociedade digital de crédito”, visto que a tecnologia
e a inovação é marcada pela aceleração da globalização, a qual impulsiona um mercado
econômico de profunda aproximação virtual através de funções de investimento e incentivo à
comercialização, o que propicia a ocorrência do superendividamento do consumidor. Portanto,
os deveres e a responsabilidade civil aqui mencionados são imprescindíveis para o tratamento
do consumidor superendividado.

II. Publicidade comportamental, proteção de dados pessoais e o Direito do Consumidor –


Fernando Inglez de Souza Machado e Regina Linden Ruaro.

Problema: Quais os limites das atividades publicitárias em termos de utilização de dados


pessoais dos consumidores?

O artigo produzido por Machado e Ruaro traz considerações acerca da utilização de


dados pessoais dos consumidores sob o viés analítico da publicidade frente sua influência direta
no modo comportamental de uma pessoa. À priori, os autores tecem a respeito da origem da
publicidade, a qual, a partir da década de 20, ante a perspectiva do marketing, introduziu a
prática do consumismo, que por vezes, cria um desejo ilusório de necessidade no consumidor.
Dessa forma, a concentração de informações sobre o consumidor se torna um quesito
fundamental para a publicidade, haja vista que os dados coletados de forma direta ou indireta
de cada consumidor possibilita o direcionamento de produtos compatíveis com o seu perfil,
compelindo-o a consumir.
A problemática abordada é quanto à disparidade de informações que o fornecedor
possui sobre o consumidor e como as utiliza, pois enquanto aquele dispõe de dados obtidos
conforme o comportamento cotidiano deste a cada vez que acessa a internet ou efetua uma
compra, o consumidor tem acesso somente à informação disponibilizada pelo próprio
fornecedor do produto e, quiçá, a algum comentário ou recomendação de outro consumidor.
Nesse sentido, os autores salientam que uma hermenêutica extensiva é fulcral para abranger a
figura do fornecedor quanto aos bancos de dados pessoais referentes ao consumo.
Ainda, é mencionado que o histórico de navegação é integralmente considerado para a
realização de uma publicidade customizada e direcionada ao consumidor de forma individual,
o que possibilita identificar as pessoas que “merecem” atenção do mercado de consumo,
situação que fomenta um mecanismo discriminatório ao apartar os consumidores que podem
gerar lucros em potencial. Tal circunstância excede os limites das atividades publicitárias,
conforme afirmam os autores. Todavia, destaca-se que a personalização da publicidade não é
necessariamente prejudicial, uma vez que é profícua não apenas ao fornecedor que poderá
empregar melhor seus mecanismos publicitários, mas ao consumidor, que contará com um
conteúdo pertinente aos seus anseios.
Por fim, Machado e Ruaro elucidam a necessidade de impor limites à utilização dos
dados pessoais dos consumidores para fins publicitários, de modo a evitar danos e abusos, e
para solucionar esse impasse, faz-se mister a contenção da publicidade. À vista disso, os autores
asseveram que o controle da publicidade se dá de forma mista, através do CONAR (Conselho
Nacional de Autorregulamentação Publicitária) e a própria regulação estatal, tendo em vista
que incumbe ao Estado zelar pelos interesses dos destinatários da publicidade, sem que se
caracterize a censura, mas sim um “freio”, sendo tal controle exercido pelo Código de Defesa
do Consumidor.
Assim, os princípios compreendidos pelo Codex Consumerista visam garantir o
equilíbrio nas relações de consumo, instituindo uma série de condutas a serem seguidas pelo
fornecedor quanto à utilização dos dados pessoais dos consumidores, pois devem se pautar no
livre consentimento do consumidor, com o fim de proteger sua privacidade e possibilitar a
recusa de produtos ou serviços, sempre prezando pela transparência e devida informação em
suas ações. Ainda, os autores apontam mecanismos capazes de suprir a ausência de regras
eficazes na seara publicitária, como por exemplo o Plataform for Privacy Preferences, e
reforçam a necessidade de uma tutela mais extensiva e efetiva da privacidade dos consumidores
diante da influência que a publicidade exerce sobre suas condutas, mediante políticas públicas
que estimulem a conscientização e o empoderamento do consumidor.

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