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Leitura Estrutural Consumidor Av2
Leitura Estrutural Consumidor Av2
VERIFICAÇÃO DE LEITURA1
Kedma Estefani Gomes2
Taynara Alves de Miranda3
1
Trabalho apresentado à disciplina de Direito do Consumidor, ministrada pela docente Juliana Sales Pavini,
no semestre letivo 2023/2;
2
Acadêmica do curso de bacharelado em Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT;
3
Acadêmica do curso de bacharelado em Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT.
fornecimento de produto ou serviço, não deve vincular a iniciativa de renegociação à
desistência ou renúncia de processos judiciais, e sobretudo, deve cooperar para que os
consumidores superendividados realizem o adimplemento de duas obrigações, sendo possível
quando observado o aludido princípio da boa-fé.
Além de princípios e deveres, a Lei do Superendividamento também inseriu “direitos
básicos” ao Codex Consumerista, quais sejam a prática de crédito responsável, educação
financeira, prevenção e tratamento ao superendividamento, preservação do mínimo existencial
e informações dos preços por unidade de medida.
Dessa forma, se o fornecedor não os observar, comete ato ilícito, o que resultará na
responsabilização civil uma vez que o parágrafo único do artigo 54-D do CDC estabelece que
os fornecedores têm a obrigação de fornecer informações específicas sobre crédito, riscos e
restrições aos consumidores, e em caso de não cumprimento dessas obrigações, os
consumidores têm direito a uma indenização por danos materiais e morais. Isso não exclui
outras sanções, levando em consideração a gravidade das ações.
Além disso, essa cláusula geral de responsabilidade está ligada ao dever de prevenir o
superendividamento e tem caráter sancionatório, especialmente em relação aos órgãos de
proteção ao consumidor. Essa abordagem vai além da simples compensação e reparação e busca
incentivar os fornecedores a cumprir deveres éticos e solidários relacionados ao crédito,
promovendo a "função social do crédito".
Somando a isso, o CDC, por meio de sua atualização, introduziu um novo tipo de dano:
o dano de assédio de consumo, conforme o inciso IV do art. 54-C. Esse dano está relacionado
a práticas proibitivas por parte dos fornecedores, que assediam ou pressionam os consumidores
a contratar produtos, serviços ou crédito. O dano de assédio é de natureza extrapatrimonial e
ocorre quando há lesão a interesses jurídicos tuteláveis do consumidor, como crédito
responsável e prevenção ao superendividamento. Os fornecedores são obrigados a indenizar o
consumidor, e o nexo de imputação é objetivo, sem a necessidade de comprovação de culpa.
Ademais, o assédio de consumo está relacionado às relações de consumo e às pressões
realizadas por agentes do mercado sobre os consumidores. Não se refere a qualquer forma de
assédio, mas sim a condutas reiteradas, ambiência de mercado e ofertas relacionadas às relações
de consumo. É possível cumular os danos de assédio com os danos que afetam a paz e
tranquilidade do consumidor, uma vez que os bens jurídicos protegidos são distintos.
Cabe ressaltar que existem casos em que o assédio de consumo é evidente, como fraudes
cometidas por instituições financeiras que usam informações pessoais de pensionistas e
aposentados para realizar contratos de crédito consignado sem o devido consentimento dos
consumidores. Isso constitui um dano autônomo e ressarcível, prejudicando a dignidade do
consumidor e, indiretamente, a coletividade e as diretrizes econômicas.
É importante ressaltar também a existência do dano de assédio qualificado, que ocorre
quando o titular do bem jurídico tutelado é um consumidor idoso, analfabeto, doente ou em
estado de vulnerabilidade agravada. No contexto da responsabilidade civil do CDC, o
fornecedor tem o ônus da prova quanto à ausência de dano de assédio e à inexistência de defeito
na prestação de serviços. Não é suficiente alegar a culpa de terceiros quando estes terceiros
fazem parte da cadeia de fornecimento ou não são devidamente investigados para evitar o
assédio.
Destarte, os autores asseveram que os deveres disciplinados para evitar o
superendividamento se fazem presente nas fases pré-contratuais, contratuais e pós-contratuais.
Ademais, os princípios e deveres não devem ser encarados como meras regras interpretativas,
uma vez que viabilizam a resolução de conflitos normativos, suprem eventuais lacunas e
dispõem de função vinculante, e junto à responsabilidade civil, perfazem-se para proteger os
vulneráveis e hipervulneráveis em face da “sociedade digital de crédito”, visto que a tecnologia
e a inovação é marcada pela aceleração da globalização, a qual impulsiona um mercado
econômico de profunda aproximação virtual através de funções de investimento e incentivo à
comercialização, o que propicia a ocorrência do superendividamento do consumidor. Portanto,
os deveres e a responsabilidade civil aqui mencionados são imprescindíveis para o tratamento
do consumidor superendividado.