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BATTESTIN & GHIGGI v(3), n°3, p. 299 - 305, 2011. 299 Revista Eletronica em Gesto, Educacdo e Tecnologia Ambiental REGET-CT/UFSM — (e-ISSN: 2236-1170) (© QUE A FILOSOFIA TEM A VER COM A EDUCAGAO AMBIENTAL? REFLEXOES FILOSOFICAS Claudia Battestin’, Gomercindo Ghiggi~ * Doutoranda em Educacdo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) com apoio bolsa Capes. Integrante do Grupo Ge Pesquisa FEPraxis (Educacdo e Praxis Socal) audiabattestin@hotmailcom Professor do Programa de Pés-Gradua¢o em Educaco (Mestrado e Doutorad) da Universidade Federal de Pelotas Integrante da Grupo de Pesquisa FEPraxiS (Filosofia, Educagdo e Px Social) RESUMO: A pretensdo deste artigo, visa apresentar aspectos filoséficos histéricos acerca da relagdo do Homem com a Natureza, afim de explicitar a necessidade de uma mudanga sobre o meio em que vivemos, Se estamos vivendo uma possivel mudanca paradigmética; cercados de resquicios de uma ética antropocéntrica, incapaz de satisfazer as necessidades do nosso tempo, precisamos pensar sobre a problemética ambiental no mbito educacional, necessitando de uma investigagao filosdfica, critica, ¢ reflexiva. Palavras chave: Filosofia, Natureza, Educacdo. RESUMEN: El propésito de este articulo es presentar los aspectos histérico filoséfico de la relacién entre el hombre y Is naturaleza con el fin de aclarar la necesidad de un cambio en el medio ambiente en que vivimos. Si estamos viviendo un cambio de paradigma see posible, rodeado por los restos de una ética antropocéntrica, incapaz de satisfacer las necesidades de nuestro tiempo, tenemos que pensar sobre los problemas ambientales en la educacién, que requieren una investigecién filoséfica, critica y reflexive. Palabras clave: Filosofia, Naturaleza, Educacién (Una BREVE ABORDAGEM HISTORICA A Filosofia, estudo e origem seculer, possibilita uma investiga¢o/andlise sobre a relagSo do Homem com a Natureza no decorrer dos periodos histéricos vividos. Foram 0s fildsofos Pré- socraticos que iniciaram questionamentos profundos e filoséficos sobre as propriedades da natureza, ndo concebendo @ separagio entre Homem e Natureza. A denominacdo “Filésofos da Natureza” é designada aos primeiros pensadores gregos, pois foram eles os primeiros a constatar as transformacies que ocorriam no meio em que viviam, questionando o porqué das transformagies naturais da Natureza. BATTESTIN & GHIGGI v(3), n°3, p. 299 - 305, 2011. 300 Revista Eletronica em Gesto, Educacdo e Tecnologia Ambiental REGET-CT/UFSM — (e-ISSN: 2236-1170) AA Filosofia da Natureza é melhor entendida se retornarmos a Grécia Antiga, por volta do século VI a.C. quando os primeiros filésofos apresentaram as primeiras explicacdes naturais acerca dos elementos, Sgua, fogo, ar e terra Uma sintese feita por Giovanni Reale (2001) explicita que, Tales de Mileto foi o primeiro a afirmar que 2 causa de todas as coisas que existe ¢ a gua. Tales obteve suas constatacdes através do raciocinio, de observacdes e experimentos, no sendo por meio da mitologia ou imaginacio. O filosofo Pré-Socrético Aneximandro defendeu @ ideia de que o principio universal de todas as coisas era uma “substancia indefinida’, chamado o apeiron, que significaria o ilimitado, indeterminado, lgo abstrato, como por exemplo, o Planeta Terra. O fildsofo Herédclito problematizou a questo do devir, da mudanga; seu pensamento vinha a0 encontro da teoria de que 0 fogo é 0 tempo fisico, a inguietude, o desaparecer de outros, mas também de si mesmo. Anaximenes foi um fildsofo que teve como caracteristica basica, explicar a origem do universo a partir de uma substncia nica fundamental, chamada ar. Os quatro elementos analisados pelos pré-socréticos ainda encontram-se presentes em nosso periodo contemporéneo, porém, so analisados com rigor cientifico. 0 periodo Classico teve como principais pensadores, Sécrates, Platéo e Aristételes, esses filésofos simplesmente construiram parte da estrutura do nosso conhecimento. No apogeu da civilzacdo grega, Sécrates, Plato e Aristételes, influenciaram profundamente na mudanca do conceito de Natureza. Nesse periodo, iniciou-se a separacdo do Homem e Natureza, corpo e alma, sujeito e objeto, dando inicio & raiz do antropocentrismo, Um dos problemas que efligiu os fildsofos gregos foi o fluxo da Natureza. Para Plato, tudo 0 que podemos tocar e sentir na natureza tende @ fluir, sendo formado a partir de uma forma eterna e imutavel. Plato dividiu a realidade em duas partes, a primeira parte pertencia ao mundo dos sentidos a qual se chegaria a um conhecimento aproximado ou imperfeito e a outra parte pertencia ao mundo das ideias, na qual podemos ter um conhecimento seguro pelo uso da razgo. Aristételes também representou um avanco importante para a histéria de ciéncia, observou @ Natureza a partir de um ponto de vista sistemstico, desenvolvendo teorias habilidosas sobre muitas reas da ciéncia e da Filosofia. Segundo Grun (1996), a idela aristotélica da natureza, é como algo alegre e vivo, onde as espécies procuram realizar seus fins naturais sendo substituida pela idéia de uma natureze sem vida. Outro momento importante na histéria da humanidade apés 0 periodo Classico é 0 periodo Medieval. Durante 2 Idade Média as comunidades eram pequenas © viviam com a predominancia de que o tempo pertencia a Deus’. Esse periodo foi marcado por fortes mudancas e revolucdes, trata-se da fisica e da astronomia, e da grande revelacdo de Copérnico, Galileu € Newton, Pera Nicolau Copérnico, a Terra passou @ ser um planeta, deixando assim de ser o centro do universo. Galileu partiu do pressuposto de que somente a experiéncia poderd tornar-se uma fonte de conhecimento para explicar os fendmenos da natureza, Para Frijot Capra, 0 periodo Medieval era caracterizado da seguinte forma: Antes de 1500, visdo de mundo dominante na Europa, assim como na maioria das outras, ciulizagdes, era orginica. As pessoas viviamm em comunidades pequenas e coesas, © Vivenciavam a natureza em termos de relagies organicas, caracterizada pela interdependéncia dos fendmenos espirituais e materiais e pela subordinacdo das, necessidades individuals ds da comunidade. (.) A natureza da ciéncia medieval era muito 2 Nesseperioe a visio de mundo dominante era o Teocentrismmo, onde Deus era considerado 0 centro de tude, BATTESTIN & GHIGGI v(3), n°3, p. 299 - 305, 2011. 301 Revista Eletronica em Gesto, Educacdo e Tecnologia Ambiental REGET-CT/UFSM (e-1SSN: 2236-1170) diferente daquela da ciéncia contemporanes, baseava-se na razdo € na fe, e sua principal finalidade era compreender o significado das coisas © nao exercer a predicao ov 0 controle. Os cientstas medievals, ..) consideravarn do mais alto significado as questdes, referentes a Deus, a alma humana e aética (CAPRA, 2003, n. 43), Todas estas questées elencadas buscavam identificar as variéveis que ocorriam na relagéo do Homem com a Natureza. A fé que o homem depositava na ciéncia € nas suas grandes invengSes, provocou uma grande transformacdo sobre 0 modo de viver. Neste momento, a Netureza passou @ ser instrumentalizada e 0 desenvolvimento da técnica passou a ser predominante, buscando seu préprio método, desvinculando-se da reflexio filoséfica. A partir desta breve abordagem acerca da relacdo do Homem com a Natureza, podemos ‘observar as mudancas ocorridas no decorrer dos tempos. Porém, um dos momentos mais marcantes para a historia da humanidade, foi o Periodo Moderno. Freqiientemente os historiadores da Filosofia designam esse periodo como Filosofia Moderna, sendo aquele saber que se desenvolve na Europa durante o século XVI. Para outros pesquisadores, a Filosofia Moderna represents o comeco de uma auténtica busca pelo saber, pela técnica Consideramos importante ressaltar que esse periodo é caracterizado pelo desenvolvimento do método cientifico, tendo como precursor o pensador René Descartes (1596- 1650). Descartes buscou encontrar um novo método de pensamento para ser dado como certo, € a férmula foi: “Penso logo existo”, separando corpo e alma. Para Capra (2003) essa argumentacdo ‘causou grandes rupturas, pois o ser humano esqueceu de que forma pensar com 0s corpos, néo sabendo usé-los como agentes de conhecimento, Descartes (1994) apresenta tal posicéo dualista ‘como uma questo ontoldgica da Filosofia, sendo de um lado 0 pensamento e de outro 0 Ser, um principio material e outro espiritual. Descarte propunha-se a criar um novo método, que substituiria a Fé, pela razdo da ciéncia, Até entdo, as formas de pensamento, nunca tinham pasado por uma ruptura tdo grande ‘como a que Descartes definiu, “Em sue filosofia, o sujeito adquire um inédito grau de soberania: 0 eu passa @ ser considerado como Unico responsavel pelo direcionamento do pensamento e das ages préticas do individuo" (RIBEIRO, 1995, p.09). Capra apresenta a seguinte ergumentacéo: A divisdo entre espitito @ matéria levou a concepg3o do universo como um sistema ‘mecénico que consiste em abjetos separados .£ssa concepeSo cartesiana da natureza fo, além disso, estendida aos organismos vives, considerados maquinas consttuldas de pesas separadas. Veremos que tal concepedo mecanicista de mundo ainda est na base da rmaiotia das nossas cidnclas © continua a exercer uma enorme Infludncia em muitos aspectas de nossa vida, Levou a bem conhecida fragmentag3o em nossas dlsciplinas ‘académicas e entidades governamentais e serviu como fundo légico para o tratamento do ‘meio ambiente natural como se ele fosse formado de pecas separadas a serem exploradas por diferentes grupos de interesses (CAPRA, 2008, p. 37). Analisando a citacdo acima, poderemos observar claramente, como estamos imersos na concepso mecanicista. Para o educador Spinelli (1990), o reldgio foi o simbolo cartesiano, que BATTESTIN & GHIGGI v(3), n°3, p. 299 - 305, 2011. 302 Revista Eletronica em Gesto, Educacdo e Tecnologia Ambiental REGET-CT/UFSM (e-1SSN: 2236-1170) serviu de inspiraco para varias éreas do conhecimento, Descartes comparou 0 mundo como um grande relégio, onde as peces poderiam ser analisadas ¢ separadas pera @ compreenséo de sua totalidade. Hoje temos exemplos concretos em nossas universidades, onde os departamentos de ‘cursos s#o completamente divididos por reas do conhecimento. E por fim, 0 que de fato ocorreu @ ainda ocorre, é @ predominante separaco do Homem/Natureza, De um lado 0 ser humano, senhor de todas as coisas, do seu destino, possuidor da Natureza, passa a ter a natureza como recurso para atingir um fim. A viséo fragmentada e mecénica das estrutures vivas perpassou pela modernidade e continua impregnada, de forma oculta, na préxis humane atual.. Para Capra (2003), 0 objetivo principal de Descartes era usar seu método para formar uma definicSo racional completa de todos os fendmenos naturais em um tinico sistema, regido por principios mecénicos e mateméticos. O raciocinio e a teoria oferecidos como pensamento

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