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Síntese do Mito Gnóstico

Os caracteres que especificam claramente ao Mito Gnóstico, e que


mutuamente se complementam entre si são os seguintes:

1. Divindade Suprema.
2. Emanação e queda Pleromática.

3. Demiurgo Arquiteto.
4. Pneuma no Mundo.

5. Dualismo.

6. Salvador.

7. Retorno.

A Divindade Suprema Gnóstica é caracterizável como Agnostos


Theos, o Espaço Abstrato Absoluto, O Deus ignorado ou desconhecido,
a Realidade Una, da qual emanam os Elohim na aurora de qualquer
criação universal.

Mais tarde, tudo quanto parecer existir neste Universo, virá a ter
real existência no estado de Paranishpana.

Inquestionavelmente, as faculdades de cognição humana jamais


poderiam passar mais além do Império Cósmico do Logos Macho-
Fêmea, do Demiurgo criador, o Exército da Voz (o Verbo).

O divino Rabi da Galiléia, em vez de render culto a Jehová


Antropomórfico do bairro da judería, adorou a seu divino Macho-
Fêmea (Jah-Hovah), o Pai - Mãe interior.

Todas as Nações têm a seu primeiro Deus ou Deuses como


andróginos. Não podia ser de outro modo, posto que consideravam a
seus longínquos progenitores primitivos, a seus antecessores de duplo
sexo, como Seres divinos e Deuses Santos, o mesmo que fazem hoje os
chineses.

Em efeito, a concepção artificiosa de um Jehová Antropomórfico,


exclusivista, independentemente de sua própria obra, sentado lá em
cima em seu trono de tirania e despotismo, lançando raios e trovões
contra este triste formigueiro humano, é o resultado da ignorância,
mera idolatria intelectual.

Esta concepção errônea da Verdade, desafortunadamente se


apoderou, tanto do filósofo ocidental, como do religioso afiliado a
qualquer seita desprovida completamente dos elementos gnósticos.

O que os gnósticos de todos os tempos rechaçaram não é ao Deus


desconhecido, Uno e sempre presente na natureza, ou na natureza in
abscondito, senão ao Deus do dogma ortodoxo, à espantosa deidade
vingativa da lei de Talião (olho por olho e dente por dente).

O Espaço Abstrato Absoluto, o Deus incognoscível, não é nem um


vazio sem limites, nenhuma plenitude condicionada, senão ambas as
coisas ao mesmo tempo.

O Gnóstico Esoterista aceita a revelação como procedente de Seres


divinos, as vidas manifestadas, mas jamais da Vida Una não
manifestável.

A Deidade incognoscível é o Espaço Abstrato Absoluto, a raiz sem


raiz de tudo que foi, é ou será.

Esta Causa infinita e eterna encontra-se, por descontado,


desprovida de toda classe de atributos. É luz negativa, existência
negativa, está fora do alcance de todo pensamento ou especulação.

O Mito Gnóstico de Valentin, que de forma específica mostra aos


trinta Aeons pleromáticos surgindo misteriosos dentre o Espaço
Abstrato Absoluto por emanações sucessivas e ordenadas em casais
perfeitos, pode e deve servir como arquétipo modelo de um Mito
monista, que de forma mais ou menos manifesta se encontra presente
em todo sistema Gnóstico definido.

Finalmente, o Nous, Espírito ou Neuma, contém em si mesmo


infinitas possibilidades suscetíveis de desenvolvimento durante a
manifestação.

Entre os limites extraordinários do Ser e do não Ser da Filosofia se


produziu a multiplicidade ou queda.
O mito Gnóstico da queda de Sophia (a divina Sabedoria) alegoriza
solenemente a este terrível transtorno no seio de Pleroma.

O desejo, a fornicação, o querer ressaltar com o Ego, origina o


descalabro e a desordem, produz uma obra adulterada que,
inquestionavelmente, fica fora do âmbito divino ainda que nela é
apanhada a Essência, o Budhata, o material psíquico da criatura
humana.

O impulso até a unidade da vida livre em seu movimento pode


desviar-se para o Eu, e na separação, forjar todo um mundo de
amarguras.

A queda do homem degenerado é o fundamento da Teologia de


todas as nações antigas.

Os antropólogos gnósticos, em vez de rirem céticos - como os


antropólogos profanos - ante as representações de Deusas e Deuses
dos diversos panteões Asteca, Maia, Olmeca, Tolteca, Chibcha, Druida,
Egípcio, Hindu, Esquento, Fenício, Mesopotâmico, Persa, Romano,
Tibetano, etc., etc., etc., caímos prosternados aos pés dessas
Divindades, porque nelas reconhecemos ao Elojim criador do universo.
“Quem ri do que desconhece está no caminho de ser idiota”.

O desvio do Demiurgo Criador, a antítese, o fatal, é a inclinação para


o egoísmo, a origem real de tantas amarguras.
A Essência, a Consciência engarrafada no Ego, processa-se
dolorosamente no tempo em virtude de seu próprio condicionamento.

A situação, por certo não muito agradável, repetida


incessantemente nos relatos gnósticos do Neuma, submetido
cruelmente às potências da lei, ao mundo e ao abismo, resulta
demasiado manifesta para insistir aqui sobre ela.

O Gnóstico autêntico quer uma mudança definitiva, sente


intimamente os secretos impulsos do Ser, e daí sua angústia, rechaço e
embaraço, ante os diversos elementos desumanos que constituem ao
Eu.

Dois estados psicológicos se abrem ante o Gnóstico definido:

A - O do Ser, transparente, cristalino, impessoal, real e verdadeiro.

B - O do Eu, conjunto de agregados psíquicos personificando


defeitos cuja única razão de existir é a ignorância.

Auto-salvar-se é o indicado e isto exige plena identificação do que


salva e do que é salvo.

O Divino, que habita no fundo da Alma, a autêntica e legítima


faculdade cognoscível, aniquila ao Ego e absorve em sua Parousia à
Essência e, em total iluminação, a salva. Este é o tema do Salvator
Salvandus.

O Gnóstico que foi salvo das águas, fechou o ciclo das amarguras
infinitas, franqueou o limite que separa ao âmbito inefável do
Pleroma das regiões inefáveis do universo, escapou-se
corajosamente do Império do Demiurgo porque reduziu o Ego à
poeira cósmica.

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