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10.11606/issn.2318-8863.discurso.2023.

213912

A ciência que sonha e o verso que


investiga: o filosofar erótico de Olgária
Matos

Aléxia Bretas
UFABC

RESUMO ABSTRACT
Olgária Chain Féres Matos é professora ti- Olgária Chain Féres Matos is a retired pro-
tular aposentada pelo Departamento de Fi- fessor at the Department of Philosophy at
losofia da Universidade de São Paulo e pro- University of São Paulo and professor at the
fessora titular no Departamento de Filosofia Department of Philosophy at Federal Uni-
da Universidade Federal de São Paulo. Sua versity of São Paulo. Her trajectory began in
trajetória tem início em fins dos anos , the late s when she entered as a student
quando ingressa como estudante na Facul- at the Faculty of Philosophy, Sciences and
dade de Filosofia, Ciências e Letras da Uni- Letters of the University of São Paulo, then
versidade de São Paulo, então situada à rua located at Rua Maria Antonia. Rousseau,
Maria Antonia. Rousseau, Marcuse, Marcuse, Adorno, Derrida and especially
Adorno, Derrida e principalmente Walter Walter Benjamin are some of her most im-
Benjamin são algumas de suas referências fi- portant philosophical references, from
losóficas mais importantes, a partir das quais which the philosopher composes a constel-
a filósofa compõe uma constelação de ideias lation of ideas animated by the affection and
animadas pelo afeto e pelo erótico. Tendo a the erotic. With utopia as a compass, devia-
utopia como bússola, o desvio como método tion as a method and cunning as a guide, her
e a astúcia como guia, seu esforço constante- constantly renewed effort is to illuminate
mente renovado é o de iluminar os clássicos the classics with the power of the ephemeral
com a potência do efêmero e o brilho ques- and the questioning brilliance of the extem-
tionador do extemporâneo. porary.
PALAVRAS-CHAVE KEY WORDS
Olgária Matos; filosofar erótico; musa da fi- Olgária Matos; erotic philosophy; muse of
losofia; humanidades; Departamento de Fi- philosophy; humanities; Department of
losofia da Universidade de São Paulo. Philosophy of University of São Paulo.
discurso, v. 53, n. 1 (2023), p. 40–59 

Semelhante aos deuses me parece


o homem sentado na tua frente;
de perto ele ouve teu doce
falar,
teu apetecível riso; e dentro do peito
treme meu coração.
Pois basta olhar-te um instante e já
minha voz não soa,
a língua se me quebra; e logo
um fogo sutil me corre à flor da pele;
nada vejo com os olhos, zumbem
os ouvidos,
um suor frio me percorre, e o tremor
me toma toda, mais verde do que a erva
e sem força bem perto de morrer
pareço estar...
Mas tudo é de suportar,
pois nada posso...
Safo de Lesbos, Fragmentos completos

Olgária Chain Feres (Matos) nasceu em Santiago, em  de junho de , no dia


mais curto do ano no hemisfério Sul – as noites longas são mais propícias aos poetas,
aos amantes e aos sonhadores sob cujos auspícios a filósofa veio ao mundo, com as
bênçãos da coruja de Minerva. Descendente de sírio-libaneses radicados no Chile,
sua aura é tão marcante quanto o seu primeiro nome: Olgária. Cifra de singular
beleza a designar – sem, contudo, decifrar – aquela que responde quando se chama
por ele. Olgária, quem é ela? Esfinge barroca pintada por Remedios Varo; sereia
atlântica cantada por Kazantzakis; Diotima benjaminiana exilada em São Paulo –
metrópole infernal no auge da crise do capitalismo, há muito privado de seu último
grande lírico, Charles Baudelaire. Leitora apaixonada de suas “flores doentias”, a
filósofa saúda o páthos destruidor do poeta-alquimista para o qual o mal é belo, e o
diabólico, sublime.
“Lesbos e Paris, Safo e Les damnées, a eternidade da beleza grega e a maquiagem
moderna dão a compreender o presente – mundo a um só tempo sem Deus, mas
tomado pelo terror divino. Pois não é uma das maiores astúcias do demônio fazer
crer ‘que ele não existe?’” (Matos, , p. ) Surreal e anticartesiana, ela está
sempre a nos surpreender, a colocar em suspenso nossas verdades pré-concebidas,
apressadas, talvez demasiado definitivas, as quais sutilmente desfaz e, de novo, refaz
com uma leveza e, por que não dizer, com um charme – no sentido mesmo de en-
canto ou de feitiço – e uma expertise toda sua. Tal Gala Gradiva – “aquela que
 Aléxia Bretas A ciência que sonha e o verso que investiga

avança”1 –, Olgária não segue caminhos já trilhados; antes, descobre – ou melhor,


inventa – passagens, desvios, atalhos ou vertiginosos buracos de minhoca ali mesmo
onde até então parecia haver nada além de um enorme – e instransponível – deserto
de gelo – o mesmo que teríamos que atravessar para ir além das abstrações concei-
tuais e chegar àquilo que Theodor W. Adorno se refere como “filosofar concreto.”2
E, convenhamos, essa não é uma tarefa fácil.
Ainda que, ao escutar suas palavras, até pareça. Diante de seu magnetismo pes-
soal, chego a duvidar de Walter Benjamin, quando diz que a figura do narrador está
extinta. Olgária é a própria encarnação do verbo profano, sendo uma storyteller vo-
cacionada, inspirada e inspiradora como a própria “musa da filosofia.”3 Para aqueles
e aquelas que já tiveram esta alegria e esta sorte, ouvi-la falar é uma festa. E também
um grande desafio. Pois para acompanhar seu pensamento mercurial – ágil, veloz e
ubíquo – é preciso calçar as sandálias aladas de Hermes e não ter medo de voos
rasantes. Geminiana, com e contra a astrologia, ela pensa e se expressa com a velo-
cidade de um lampejo, compondo com as palavras, qual aranha de Bourgeois, fios
de inefável geometria tecidos como vias de acesso para peritos ou armadilhas fatais
para incautos – sejam eles tolos ou simplesmente destituídos de recursos para acom-
panhar sua prosa sedutora, cativante e insubmissa.
Mas quem é ela, afinal? Madame Ariadne em um mundo desencantado pela téc-
nica? Ptonisa délfica inflamada pelo haxixe dos paraísos intelectuais? Nadja paulistana
perdida no labirinto florestal da cidade de pedra? Ela é múltipla, polifônica, inesgotá-
vel. Contraditória e gigante, ela contém multidões, como Walt Whitman4 – e, a seu
modo, também Fernando Pessoa. Olgária ou Olgárias? “Meu nome é legião, porque
somos muitos”5, diz Lúcifer – o Grande Vencido; seu igual, seu amante e seu irmão
na revolta de todas as revoltas contra a onipotência do Patriarca Absoluto. Como diz
Barthes (, p. ) em seus fragmentos amorosos, “o demônio é plural.” Olgária,
contudo, é invariavelmente olgariana: sempre ela e sempre outra. Permanentemente


1
O nome Gradiva (do latim, “aquela que avança”) foi atribuído pelo escritor alemão Wilhelm Jensen, em ,
à figura esculpida em um baixo-relevo romano, datado da primeira metade do século II, o qual representa
uma mulher que dança, levantando a barra de seu traje. Tal figura foi interpretada por Sigmund Freud na
obra O delírio e os sonhos na Gradiva de W. Jensen, de grande influência entre os surrealistas. Tanto que
Salvador Dalí se apropriou do nome como um dos muitos epítetos associados à sua mulher e musa das musas,
Gala Éluard Dalí. Também Roland Barthes faz alusão a ela como epítome do delírio do sujeito amoroso, no
verbete “A Gradiva”, de seus Fragmentos de um discurso amoroso. Ver Freud, ; e Barthes, “A Gradiva”,
, p. -.
2
Adorno; Benjamin, ; e Bretas, .
3
Epíteto atribuído à colega e amiga, com toda a justiça, por Massimo Canevacci (“Olgária, musa da filosofia”,
em Pinheiro Machado, ).
4
“Contradigo-me? /Muito bem, contradigo-me, / (Sou enorme, contenho multidões)”. (Whitman, “Canto de
mim mesmo”, )
5
Marcos : .
discurso, v. 53, n. 1 (2023), p. 40–59 

em movimento, ela é demoníaca sim, mas pela via grega de um daimon socrático em
trânsito ininterrupto entre o Olimpo da academia e o Tártaro do mundo da vida.
Como Eros, Hermes Trismegisto e Angelus Silesius () – o “peregrino querubí-
nico” – sua natureza inquieta, nômade e viajante se sente acolhida em cada uma de
suas derivas, errâncias e metamorfoses.6 Ela sabe que o caminho é a viagem, que o lar
é onde está o coração e, por isso, está sempre bem acompanhada em seus détourne-
ments pelo espaço geográfico, pelo tempo histórico e, não raro, também pelos hori-
zontes insondáveis do mito já quase submersos nas areias do esquecimento.
Desse modo, na Odisseia imaginária entre Troia e Ítaca, ela é o solerte Ulisses
bravamente escudado por Aquiles e Ájax,7 mas também Circe, Calipso e Penélope,
tecendo e destecendo a mortalha que a impede de dormir. Em combate, chora a
morte de Pátroclo, o guerreiro aqueu, mas também a sorte de Heitor, o príncipe
troiano. Com Cassandra, padece da incredulidade dos seus para, ao lado de Hécuba,
viver a experiência lancinante do luto entre as ruínas de uma catástrofe em perma-
nência. Mas vejam: sob o signo de Saturno, sua melancolia se transmuta em medi-
tação filosófica, depois em sabedoria prática e logo adiante em combustível para a
ação política. Assim, ao contemplar de novo seus “olhos garços”, nossa heroína ho-
mérica já é outra. Agora, assumiu as feições severas de uma Atená impassível a de-
bater com Dionísio o sentido do êxtase para a revolução8, porque sem ele não pode
haver transformação verdadeira. Jamais! Pois, não obstante o rigor, Olgária é passi-
onal, exclamativa; seu discurso é arrebatador, flamejante. Ainda que não use – ou
deixe usar – pontos de exclamação em textos filosóficos – sempre elegantes, bem
redigidos e em conformidade com a justa medida. Em sua fala, assim como em sua
escrita, Dionísio e Apolo dão-se as mãos e caminham juntos – assim como, segundo
Nietzsche, haviam feito tão bem na tragédia antiga.
Fina conhecedora dos escritos olgarianos, Leda Tenório é exata ao destacar em seus
ensaios o significado e a importância do cuidado com a forma filosófica, via de regra,
tão vilipendiada pela prosa antiestética dos filósofos profissionais no manejo estéril de
seus jargões da autenticidade: “Dir-se-ia que ali onde a Beleza foi injuriada – como
resumiu Rimbaud – Olgária Matos a apanhou e a sentou no colo, continuando a
revolta dos poetas malditos pela via contrária, a do culto do belo” (Tenório, ).
Culto não do Belo Ideal, mas de um belo precário, anômalo, dissonante, carente ou
excessivo, em todo caso, embebido no cotidiano da Utopia, nas coisas prematuras,
atrasadas ou já fora de moda reveladas pelo olhar de Midas da filósofa-alegorista.


6
Ver Matos, a.
7
Ver Matos, b.
8
Ver Matos, .
 Aléxia Bretas A ciência que sonha e o verso que investiga

Desse modo, a beleza cultivada por ela não se situa nas alturas inalcançáveis de
um Hiperurânio, senão nos lugares mais inusitados e comezinhos, normal e solene-
mente ignorados pelo escrutínio dos intelectuais de peso – seja entre as rugas e im-
perfeições da pessoa amada,9 seja no “farfalhar” de um vestido de tafetá vermelho
ou nas abissais Gemas da terra (Milan; Matos, ). Ora, mas deixemos finalmente
nossa sibila frankfurtiana se pronunciar. Pois, além de oradora cativante, seus talen-
tos como escritora não são menos admiráveis. Assim que, entre os poucos deleites
que o meio acadêmico vez ou outra nos concede sem parcimônia, está a leitura, a
um só tempo instrutiva e prazerosa, de seus ensaios filosóficos.

HUMANAS, DEMASIADO HUMANAS


Em seu ensaio ‘Filosofia e mestres’, Adorno escreve sobre o exame de filosofia para
o qual os alunos de cursos em Humanidades da Universidade de Hessen deviam
apresentar-se: um aluno escolheu ser examinado sobre Bergson e Adorno lhe per-
guntou se ele poderia estabelecer uma interrelação do filósofo com alguns pintores
seus contemporâneos, artistas que tivessem alguma afinidade com o espírito da filo-
sofia bergsoniana. Adorno observa a perplexidade do aluno que queria falar só de
Bergson, não conseguindo associá-lo ao impressionismo: “mas uma cultura viva”,
observa Adorno, “consiste justamente em reconhecer relações tais como aquela dada
entre a filosofia do élan vital e a pintura impressionista. Quem não entender isso
tampouco entenderá Bergson” (Matos, , p. -). Ao lado de tantos outros
“autores de inspiração” como Heráclito, Platão, Rousseau, Horkheimer, Benjamin
e Derrida – “todos eles filósofos poetas”–, Adorno chama atenção para um ponto
que se converterá em núcleo pulsante da trajetória de Olgária Matos: o sentido e a
importância da cultura, das artes e das humanidades para uma formação filosófica
não apenas técnica ou instrumental dentro de uma área específica do conhecimento,
senão como aprendizado e exercício de humanização – até certo ponto, como a pai-
deia dos gregos, a humanitas dos latinos e a Bildung dos alemães.
De onde os clássicos terem sido sempre tão importantes em sua vida filosófica –
sim, vida e não apenas “obra”, “trabalho” ou mesmo “experiência”. Pois filosofar,


9
“Se é verdadeira uma teoria que diz que a sensação não se aninha na cabeça, que não sentimos uma janela,
uma nuvem, uma árvore no cérebro, mas sim naquele lugar onde as vemos, assim também, ao olhar para a
amada, estamos fora de nós. Aqui, porém, atormentadamente tensos e arrebatados. Ofuscada, a sensação
esvoaça como um bando de pássaros no esplendor da mulher. E, assim como os pássaros buscam proteção
nos folhosos esconderijos da árvore, refugiam-se as sensações nas sombrias rugas, nos gestos desgraciosos e
nas modestas máculas do corpo amado, onde se acocoram em segurança, no esconderijo. E nenhum passante
advinha que exatamente aqui, no imperfeito, censurável, aninha-se a emoção amorosa, rápida como uma seta,
do adorador”. Benjamin, , p. .
discurso, v. 53, n. 1 (2023), p. 40–59 

para a autora, é não apenas uma profissão, um ofício ou um anódino meio de so-
brevivência, senão também uma escrita de si, criadora e performativa. “Inventores
da palavra filosofia, os gregos não teriam se enganado: se é preciso pensar bem é para
viver melhor. Busca da justa vida e do bem viver, questões tornadas incongruentes
na modernidade científica, tecnológica e contra-humanista” (Matos, , p. ).
Assim, em sua atuação filosófica dentro e fora da academia, docência, pesquisa e
extensão compõem os três vértices de uma formação verdadeiramente comprome-
tida com a tarefa de cultivo e de educação do espírito como prática de humanização.
Paideia, formação do espírito, humanismo. Paideia é o respeito pelos valores
morais e “aquela graciosa mistura de erudição e civilidade que só podemos
circunscrever com a palavra, já muito desacreditada, cultura”. Foi Cícero
quem criou a palavra humanitas para falar do povo romano que alcançou sua
identidade através do cultivo das letras e da filosofia grega, tornando-se, atra-
vés dela, “fino, morigerado e humanus”. Na Idade Média, a humanidade era
algo que se opunha à divindade. A ela, pois associavam-se a fragilidade e a
transitoriedade: humanitas fragilis, humanitas caduca. Panofsky chama a
atenção para a ambiguidade da humanitas (no sentido romano e cristão) e o
significado, que daí resulta, para o Renascimento, de responsabilidade e tole-
rância. (Matos, , p. -)

Embora parta de uma ideia de civilização profundamente enraizada no solo cul-


tural do Ocidente – isto é, herdeira de uma dupla ascendência, a greco-romana e a
judaico-cristã –, Olgária não se furta a valorizar e a acolher intersecções também
com outros repertórios, tradições e histórias. Se assim não fosse, ela não teria acei-
tado a grande honra de coordenar a Cátedra Edward Saïd de Estudos da Contem-
poraneidade, inaugurada pelo Instituto da Cultura Árabe junto à Universidade Fe-
deral de São Paulo, em . De origem palestina, Saïd se celebrizaria como um
eloquente defensor da figura do intelectual público orientado por princípios éticos
e valores democráticos, que não excluam ou depreciem como “bárbaras”, “inferio-
res” ou “subalternas” às contribuições das culturas não ocidentais, de ascendência
árabe-mulçumana, mas também ameríndia, africana ou afrodiaspórica.
Assim, a “atitude humanista” de que nos fala Olgária começa a ganhar corpo pela
escuta sensível dos “ecos das vozes emudecidas” do outro – em sua irredutível hete-
rogeneidade. Não podendo ser adquirida nem como um patrimônio imaterial, nem
como um signo de status, ela é indissociável de uma consideração equânime pela
vida não apenas de todos os seres humanos, senão também de cada ser sensível pri-
vado de palavra – incluindo aqui os animais. Ao tratar da violência da guerra – seja
a da Guerra de Troia, seja a da segunda guerra mundial –, a filósofa distingue a
violência antiga da moderna à luz do primado da técnica na origem dos traumas
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que deixaram mudos os soldados que voltaram das trincheiras. Contudo, enquanto
o próprio Benjamin chegara a defender o que chamou de “violência revolucionária”
– ou “divina” – no controvertido ensaio sobre “A crítica da violência” de , Ol-
gária assume um posicionamento expressamente humanista, antiespecista e não vi-
olento. Lendo Gandhi com Simone Weil e Lyotard, a filósofa explicita seus argu-
mentos em prol do cuidado pelos animais como lição de humanidade:
Para Gandhi, é preciso atenção com os animais aos quais se deve afeição, uma
exigência de humanidade que requer uma revolução cultural. Nesse sentido,
a deferência à “vaca sagrada” simboliza o apreço a todo ser sensível privado de
palavra. Refletindo sobre a condição animal, Lyotard, por sua vez, observa:
“Porque o animal está privado de testemunhar o dano que sofre, todo dano é
uma injustiça que faz dele uma vítima ipso facto. Pois, se não há como teste-
munhar, não há sequer dano, ou pelo menos ele não pode ser estabelecido. –
Eis por que o animal é o paradigma da vítima”. (Matos, )

Em todo caso, devido à sua “fama” ou “sobrevida” (Überleben) (Benjamin, ,


p. -), Olgária sugere que o Humanismo foi menos um movimento, do que uma
visão de mundo (Weltanschauung) – por sinal, em franca oposição ao novo ethos das
massas que se encorpa e se espraia por todas as partes sob os augúrios da indústria
cultural. Reportando-se a Adorno, a filósofa destaca a glosa às Magna Moralia de Aris-
tóteles pela perspectiva negativa de suas Minima Moralia: reflexões sobre a vida lesada:
Mundo de mínimas morais, a atualidade testemunha a crise espiritual das soci-
edades contemporâneas e a racionalidade fundada no valor de troca: este mundo
não é propriamente humano, mas o do Capital. O mercado é o agente subor-
dinador de todas as esferas da vida ao fator econômico. E a indústria cultural é
a expressão mais patente da insolvência da educação formadora (Bildung) sob o
impacto de valores empresariais, da competição, do lucro e do sucesso. Para
tratar da educação entendida como mercadoria e impregnada pelos valores pró-
prios à administração total, Adorno cunha o conceito Halbbildung – que pode
ser entendido, a um só tempo, como semiformação e pseudocultura – com o
que reflete sobre a educação na sociedade de consumo. (Matos, , p. )

Portanto, contra a monetização da educação e sua liquidação como “semiforma-


ção” e “pseudocultura”, Olgária confirma sua adesão a uma Teoria Crítica atenta
aos perigos, ameaças e contradições do presente, mas também às suas chances de
resistência, enfrentamento e superação. Nas palavras de Leda Tenório:
De fato, enquanto herdeira que é da fina inteligência egressa do Instituto de
Pesquisa Social, a filósofa não cessa de remeter infinitamente a questão da vida
danificada às réplicas que lhe fizeram os escritores e os poetas. De tal sorte que
se pode arriscar dizer que sua forma mais pertinente de se apropriar da herança
é tomá-la pelo lado do sublime benjaminiano. Isto é: responder à catástrofe
discurso, v. 53, n. 1 (2023), p. 40–59 

com linguagem e pensamento, à historicidade trágica, com as forças da cria-


ção. (Tenório, )

Nesse sentido, ela é clássica, mas também irredutivelmente contemporânea – ou


melhor, “extemporânea”. Assim como a sensibilidade moderna de Baudelaire estava
embebida na antiguidade grega, a filósofa se reporta aos clássicos para resgatar as
reminiscências do que foi reificado e, portanto, esquecido por uma cultura amnésica
privada de aura, testemunho ou experiência histórica (Erfahrung). Como Nietzsche
e Walter Benjamin, ela é também – ativa e insistentemente – “intempestiva”, uma
vez que a crítica ao Zeitgeist não é possível para aqueles que aderem totalmente a ele.
É, portanto, neste sentido que, em sua Segunda consideração intempestiva, de ,
Nietzsche afirma a importância de um pensamento que assume seu desencaixe com o
próprio tempo, a fim de manter uma distância justa – necessária tanto para a crítica,
quanto para a criação ou atualização da “força plástica” de uma cultura. Ainda nessa
obra de juventude, aquilo que o autor postula em relação à sua profissão de filólogo é
válido mutatis mutandis para pensar sobre o lugar e a finalidade da filosofia nos dias
atuais: “não saberia que sentido teria a filologia clássica em nossa época senão o de
atuar nela de maneira intempestiva – ou seja, contra o tempo, e com isso, no tempo
e, esperemos, em favor de um tempo vindouro.” (Nietzsche, , p. )
Em sua leitura benjaminiana de Nietzsche, Giorgio Agamben resume nos seguin-
tes termos a dialética entre o contemporâneo e o extemporâneo, tão condicionante de
sua própria experiência filosófica: “A contemporaneidade é, portanto, uma singular
relação com o próprio tempo, que adere a este, e ao mesmo tempo toma distância;
mais precisamente esta é a relação com o tempo através de uma dissociação e de um
anacronismo. Aqueles que coincidem muito plenamente com uma época, em todos
os aspectos, não são contemporâneos, porque, exatamente por isso, não conseguem
vê-la, não podem manter o olhar fixo sobre ela.” (Agamben, , p. )

PALÍNDROMOS DA HISTÓRIA
Contemporâneo e intempestivo, o último livro de Olgária Matos recebe, com a ma-
estria que lhe é peculiar, um título bastante instigante: Palíndromos filosóficos: entre
mito e história. Ao que tudo indica, a inspiração vem de um filme de Guy Debord
rodado em , cujo nome, grafado em latim medieval, é ele próprio um palíndromo
pensado como um enigma ou um jogo de adivinhação: In Girum imus et consumimur
igni – ao pé da letra, “nós giramos pela noite e somos consumidas pelo fogo”.10 Assim
como os vocábulos ou frases que podem ser lidas, sem modificação ou prejuízo de


10
A resposta do enigma: as mariposas.
 Aléxia Bretas A ciência que sonha e o verso que investiga

significado, da esquerda para a direita ou vice-versa, os capítulos deste livro multidi-


mensional podem ser apreciados na sequência preferida por seus leitores. Sem um
encadeamento fixo e pré-estabelecido de antemão, seus ensaios foram originalmente
concebidos como palestras ou conferências e apresentadas em congressos e seminários
entre  e .11 Conforme a leitura de seus textos confirma, o espaço de jogo
(Spielraum) que emerge da prosa filosófica da autora, o ir e vir, sempre em mão dupla,
do eterno ao efêmero, do mito à história, da arte à vida, “é estilema, traço de estilo.
Eis como entender o palíndromo, bela figura poética da dupla direção do sentido, no
título dessas novas benjaminianas” (Tenório, ).
Aludindo à obra Benjaminianas, de , Leda Tenório aponta uma característica
sem dúvida distintiva e fundamental na prática discursiva de Olgária. Não obstante,
o recurso ao palíndromo implica, além disso, algo talvez ainda mais decisivo em seu
modo de filosofar: o gesto, a um só tempo lúdico e irreverente, de criar perspectivas
ou vetores de sentido usualmente proscritos de uma ordem unilateral, quantitativa e
sempre idêntica sobre a qual se assenta a espaço-temporalidade progressiva, vazia e
desencantada das cronologias, calendários e relógios. De acordo com “a mais benja-
miniana das pensadoras”: “o palíndromo […] é um contradiscurso à continuidade da
alienação. Reversível, o fim e o início […] não coincidem nunca, cada acontecimento
é o primeiro e o último na álgebra do tempo” (Matos, , p. ).
Como em “O jardim dos caminhos que se bifurcam”, de J. L. Borges, suas narra-
tivas abrem janelas para paisagens complexas, multiformes e dispostas em camadas –
assim como os quatro níveis de leitura da Cabala12 ou o próprio tecido quântico do
espaço-tempo. Não por acaso, vários dos capítulos dos Palíndromos tratam, de um
modo ou de outro, deste, nas palavras de Caetano Veloso, “senhor tão bonito”, “com-
positor de destinos”, “tambor de todos os ritmos”, “tempo, tempo, tempo” – seja na
figura de Cronos ou na de Kairós.13 Contra a temporalidade hegemônica de uma so-
ciedade espetacular-mercantil para a qual time is money, Olgária segue, a contrapelo
dos cronômetros, em busca da reabilitação de uma experiência em vias de extinção na
era pós-aurática do capitalismo artista: a arte de “viver sem horas mortas”.


11
Dentre os quais se destacam aqueles promovidos por Adauto de Novaes, e boa parte dos quais disponibiliza-
dos no site Artepensamento. Disponível em: https://artepensamento.com.br. Acesso em: //.
12
Segundo o misticismo judaico, existem quatro dimensões ou níveis de interpretação da Torá. São eles: )
Pshat, o sentido literal; ) Remez, o significado alegórico; ) Drash, a interpretação erudita; ) Sod, o “segredo”
ou o significado místico, acessível apenas a exegetas, rabinos e estudiosos esotéricos da Cabala.
13
Vide os títulos dos seguintes capítulos, em especial: “A Guerra de Troia não acontecerá: pathos antigo e
tecnologia moderna”; “Pórticos e passagens: contratempo e história”; “Dialética em suspensão: da mens mo-
mentanea à imobilidade do instante”; “Exílios: a metafísica da saudade”; “Guy Debord: theatrum mundi e os
palíndromos do tempo”; “Em busca da delicadeza perdida: Proust e a Belle Époque” (Matos, ).
discurso, v. 53, n. 1 (2023), p. 40–59 

Este, a propósito, seria um dos muitíssimos slogans que deixariam as oficinas, os


ateliês e as universidades para ocupar os muros e as ruas parisienses no famoso Maio
de  – um dos eventos mais emblemáticos do crescente protagonismo assumido
pelos estudantes em uma revolução total por modos de vida mais vivíveis. Não é,
pois, fortuito, que Herbert Marcuse tenha sido um dos primeiros filósofos a se jun-
tar ao clamor dos “jovens em cólera” por um “princípio de realidade” calcado não
no desempenho do trabalho alienado, senão na beleza, no prazer e na vida compar-
tilhada como pedras angulares de uma civilização não repressiva e erótica.14 Nas
palavras de Olgária, “o Maio de  convidava a poetizar a existência, revolucionando
o cotidiano, realizando a arte nas ruas e o urbanismo lúdico para si mesmo e para
todos, a partir da crítica da sociedade fundada na difusão e colonização de nossas
mentes pela publicidade e pelo consumo.
Advertia o mundo unidimensional na uniformidade dos sonhos e dos desejos – ao
que respondia com o lema ‘tome seus desejos por realidade, e crie-a na realidade de
seus desejos’” (Matos, “Tardes de maio”, , p. ). Apesar do fartamente cele-
brado legado da “Comuna estudantil”,15 aquilo que viria a singularizar o “Evento ”
seria não tanto suas consequências, senão o caráter espontâneo, suprapartidário e fes-
tivo com que foi percebido o esgotamento do sistema capitalista enquanto modo de
produção – de bens e de mercadorias, mas também de vivências e de subjetividades.
Em meio a este movimento essencialmente disruptivo de mobilização do jogo e da
sensibilidade como potência política, percebeu-se a urgência de uma transformação
radical nas estruturas, valores e experiências sensíveis, em condições tornar efetivo,
inclusive materialmente, um emprego do tempo mais condizente com as potenciali-
dades e anseios humanos, para além de resultados instrumentais tidos como satisfató-
rios de acordo com critérios econômicos, exclusivamente.
Lendo os Manuscritos de Marx, com Rimbaud e com Debord, chegava-se, de
novo, à conclusão: a transformação de todos os sentidos humanos é a razão de ser
da revolução.16 Malgrado o reiterado elogio à celebração do lúdico e do onírico


14
No Ensaio sobre a Liberação, o então proclamado “guru da New Left” constata: “Os grafites da ‘jeunesse en
colère’ uniram Karl Marx e André Breton; o slogan ‘l’imagination au pouvir’ respondia a ‘les comités partout’;
um pianista tocava jazz sobre as barricadas, e a bandeira vermelha ornava a estátua de Victor Hugo; os estu-
dantes de Toulouse em greve pediam o renascimento da linguagem dos trovadores e dos albigenses. A nova
sensibilidade tornou-se força política, ultrapassando as fronteiras entre os blocos capitalista e socialista; ela é
contagiosa porque o vírus se encontra no próprio meio ambiente, no clima das sociedades estabelecidas.”
(Marcuse, , p. ).
15
A despeito das controvérsias, o “Maio de ” é celebrado, efusivamente, a cada dez anos: . . .
. . Nesse caso, é preciso lembrar, com Olgária Matos, que “comemorar significa: dar vida, nascer de
novo em cada aniversário, sendo ocasião para reinterrogar acontecimentos. Compreendê-los sem ceder à fa-
cilidade de explicações definitivas é acolher sua surpresa, pois toda revolução ancora-se no contingente”.
(Matos, “Tardes de maio”, , p. ).
16
Ver Bretas, .
 Aléxia Bretas A ciência que sonha e o verso que investiga

como elo social decretado por um “Estado de surpresa”, a filósofa alerta para seus
limites e desdobramentos políticos: “Quando os muros da cidade tomaram a pala-
vra, suas inscrições recusavam a sociedade da opulência e a pobreza espiritual das
modernas democracias – cujo descompasso é preenchido pela tecnocracia e seus
correlatos. […] Afastando-se desta lógica – a do mercado e da circulação das mer-
cadorias –, tal recusa transforma-se em metáfora ao questionar a ética taylorista do
trabalho, o valor do sacrifício e a racionalidade tecnocientífica que a sustenta. Evi-
denciava o que estava por vir: o mercado mundial na forma neoliberal e a globali-
zação” (Matos, “Tardes de maio”, ).
Enquanto isso, no Brasil… o clima de protesto era bem outro. Estávamos em
plenos “anos de chumbo” – que, para Olgária, foram também, entre  e ,
“anos de formação”. Nas palavras do marcusiano Silvio Carneiro: “E que período!
Para o biógrafo que escreve anos depois sobre aquele tempo, é fácil descrever as
experiências daquela geração como o olho do furacão de mudanças. Mudanças po-
líticas para quem iniciou sua formação na paulistana Rua Maria Antônia; mudanças
teóricas, para quem percebe as transformações radicais que a ditadura militar inflige
sobre o currículo acadêmico” (Carneiro, ).
Vejamos as efemérides locais: em abril de , o Conselho Federal de Educação
propõe o início de uma “reforma universitária” seguindo as diretrizes do Acordo
MEC-USAID. Os estudantes contestam: “Fora a universidade elitista e de classe!
Pela universidade crítica, livre e aberta!”. Em maio de , o Marechal Castelo
Branco inicia uma cruzada junto ao MEC contra uma “minoria esquerdista e ins-
truída” que estaria dominando a União Nacional dos Estudantes. A reação dos
jovens é imediata, culminando na criação da Universidade crítica em diversas cida-
des do país: seminários, mesas-redondas, palestras, cursos e grupos de estudo leem
Marx com Sartre e Marcuse ao som de É proibido proibir. Em retrospecto, Marilena
Chauí vislumbra ali uma ética libertária em processo de fermentação: “Pensar e vi-
ver, subitamente reconciliados numa ética libertária, fazem da universidade um es-
paço livre para uma experiência sem precedentes: suas paredes se tornam vitrais,
ganham transparência para receber a luz vinda de longe e emitir lampejos do que
imaginava ir além do possível, cumprindo a marcha do tempo: ‘Sejamos realistas,
peçamos o impossível’” (Chauí, , p. -).
Pois é, não deu. Em junho de , acontece a “Sexta-feira sangrenta”, quando
 manifestantes foram mortos na batalha da UNE, e em seguida enlutados e cho-
rados pela Passeata dos  Mil. Outubro de : a “batalha da Maria Antônia”
deixa um morto e o prédio da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
discurso, v. 53, n. 1 (2023), p. 40–59 

da USP em chamas.17 Não obstante a truculência desmedida da reação policial, “as


consequências deste episódio não se limitam apenas à violência física. Desde então,
a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas seria um dos principais alvos
do governo ditatorial, que interviria na própria estrutura curricular dos departamen-
tos uspianos, ressaltando cada vez mais a figura do especialista, em detrimento da
formação humanista que até então era privilegiada” (Carneiro, ).
Essa modificação estrutural foi percebida, desde o início, como um risco e uma
perda indelével do ponto de vista das ciências humanas. Na medida em que critérios
instrumentais passam a ser utilizados para avaliar e quantificar os conteúdos e os
resultados da formação escolar – e universitária, em particular – tende-se a negli-
genciar os valores e os fins que deveriam pautar seus conteúdos, seus currículos e
seus programas de ensino, impactando não apenas professores e alunos, mas a soci-
edade em seu conjunto. Ciente disso, e empenhada em restituir o discurso filosófico
ao espaço público, Olgária, desde muito cedo, procurou ultrapassar a soleira dos
gabinetes universitários para se comunicar com as mais diversas plateias, exercendo
seu ofício, teórica e praticamente, como atividade crítica, dialógica e aberta ao de-
bate sobre as inquietações que nos afetam e nos tocam enquanto seres sensíveis,
sociáveis e políticos. Carneiro ressalta o compromisso da filósofa com a vocação
formativa das humanidades, chamando atenção para seu papel tanto dentro quanto
fora das salas de aula, seja como professora, seja como pesquisadora e/ou intelectual
pública envolvida com as questões sociais. “Olgária Matos é a teórica das ciências
humanas que procura estabelecer uma pauta de discussão para a sociedade. Neste
sentido, faz com que os conceitos circulem, de modo que se tornem vivas as críticas
sociais nos momentos mais sensíveis que necessitam de resgate do pensamento
(como a banalização da violência, as perversões de uma sociedade de mercado, os
significados utópicos dos movimentos sociais)” (Carneiro, ).


17
“Quem hoje passa pela Rua Maria Antônia, e nota o Centro Cultural Maria Antônia rodeado por barzinhos
por todos os lados, não imagina que, em , este ambiente boêmio teria sido o palco da ‘Batalha da Maria
Antônia’ – um momento sintomático das tensões do país em ebulição. Naqueles anos, Olgária Matos estu-
dava autores clássicos da Filosofia em meio aos protestos estudantis contra a ditadura militar no Brasil. A
mudança ocorreria quando, em outubro de , estudantes (ligados à União Estadual dos Estudantes) da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, situada naquele período
na Rua Maria Antônia, que protestavam contra a ditadura militar, sofreram retaliações dos estudantes da
Universidade Mackenzie (muitos deles ligados à FAC – Frente Anticomunista – e ao MAC – Movimento
Anticomunista). A divergência de opiniões levou à morte de um estudante da USP, e a reação foi a batalha
armada entre os dois polos, que culminou no incêndio do prédio da Filosofia” (Carneiro, ).
 Aléxia Bretas A ciência que sonha e o verso que investiga

AS NOVE MUSAS DA FILOSOFIA


Nesse sentido, em  de setembro de , no II Encontro do GT de Filosofia e Gênero
da ANPOF18, num gesto de sororidade e de reconhecimento não apenas pela carreira,
senão também pela história e pelas estórias19 das professoras do Departamento de Fi-
losofia da FFLCH-USP, Olgária Matos chama atenção para a “felicidade de ter tido
uma experiência erótica desde o início”.20 Ao relembrar seus primeiros anos como
estudante de filosofia neste Departamento, ela destaca as experiências estético-sensuais
proporcionadas pelas aulas, em especial, de três grandes mestras e musas filosóficas: as
professoras Maria Sylvia de Carvalho Franco, Gilda de Mello e Souza e a então jovem
ingressante no corpo docente desta instituição, Marilena Chauí.
Em entrevista a Claudine Haroche, publicada no dossiê Filosofia e Philia: home-
nagem à Olgária Matos, arcana do inteiramente outro, a filósofa reconstitui a genea-
logia desse dom e desse amor pela filosofia:
O “Eros” filosófico chegou a mim com a professora cujo encantamento foi ab-
soluto, com a professora Marilena Chauí́ que, muito jovem, já́ se destacava no
departamento de Filosofia por seu rigor nas aulas expositivas temáticas, pela
erudição dos seminários em história da Filosofia e pela dedicação devotada na
leitura, correções, sugestões e modelo de análise de textos para fundamentação
das leituras que fazíamos, em particular de Maurice Merleau-Ponty, Sartre, Es-
pinosa, Diderot, mas também dos trágicos gregos, como Ésquilo e seu Prometeu
acorrentado, em curso sobre história da Razão. Assim, a Filosofia veio a mim
como um dom e como Eros, sem o qual não poderia haver idealização e desejo
de conhecer (Haroche, In: Pinheiro Machado, , p. -).

Em seu segundo ano como estudante de filosofia, ainda em , Olgária relem-
bra o impacto causado por uma aula em particular de Gilda de Mello e Souza – aula
da qual nunca mais se esqueceria. Projetada na parede, a imagem de um quadro de
Corot com uma mulher trajando um vestido de tafetá vermelho só não lhe causaria
maior estupor que a fala de Dona Gilda sobre ele. Aficionada pelas artes e pioneira
dos estudos de moda no Brasil, a professora lançaria à classe um eloquente convite:
“Ouçam o farfalhar desse vermelho!”. Segundo sua jovem aluna, foi com a autora


18
Coordenado por Silvana de Souza Ramos, o II Encontro do GT de Filosofia e Gênero da ANPOF foi reali-
zado na FFLCH-USP, entre os dias  e  de setembro de . O evento de encerramento do Encontro
contou com a presença de nove das treze professoras que fizeram parte do Departamento de Filosofia desta
instituição, desde sua fundação em . São elas: Andréa Loparic, Maria das Graças de Souza, Silvana Ramos,
Scarlett Marton, Olgária Matos, Maria Lúcia Cacciola, Tessa Moura Lacerda, Otília Arantes e Marilena
Chauí. O vídeo com a transmissão on-line da Homenagem às professoras de Filosofia do Departamento de
Filosofia da USP encontra-se integralmente disponível no YouTube: https://youtu.be/lZGFXlkWY.
Acesso em: //.
19
Ver Hemmings, .
20
Ver o vídeo no Youtube: https://youtu.be/lZGFXlkWY. Acesso em: //.
discurso, v. 53, n. 1 (2023), p. 40–59 

da intempestiva tese doutoral O espírito das roupas: a moda no século XIX que ela
teria aprendido não apenas a ver, senão também a ouvir, tocar e ser tocada filosofi-
camente por seus objetos de estudo.21
Assim, sua iniciação nas técnicas de análise e leitura – sensível e formal – das
obras canônicas se deu por meio de um irresistível convite à sinestesia – aparentado
à busca de Rimbaud por um “verbo poético acessível a todos os sentidos”22 e, na
chave das vanguardas artísticas, às pesquisas em torno da expressão em A sonoridade
amarela: uma composição cênica, de Kandinsky, nominalmente dedicada a Schön-
berg (Schwartz, , p. -).
Desde o início, portanto, a experiência metódica, árdua e séria da filosofia pas-
sou, como queriam Schiller e Marcuse, pela via dos sentidos e da sensibilidade (Sinn-
lichkeit). Em um famoso tratado de estética do século X, Do sublime, Longino co-
menta nesses termos o poema de Safo, não por acaso traduzido na epígrafe deste
capítulo: “Não é espantoso como convoca ao mesmo tempo a alma e o corpo, os
ouvidos e a língua, os olhos e a pele, como se todas estas partes lhe fossem estranhas
e estivessem perdidas? E como, em movimentos contrários, sente frio e calor ao
mesmo tempo, sai da razão e mostra sensatez – pois ora tem medo ora está perto de
morrer – de tal forma que nela se manifesta não apenas uma emoção mas o encontro
de várias emoções? Tudo isto acontece a quem ama, mas, como dizia, foi a escolha
dos elementos mais extremos e a sua ligação numa unidade que alcançou a excelên-
cia. É precisamente isto, julgo eu, que faz o Poeta na descrição de tempestades: da-
quilo que lhes é próprio, escolhe os aspectos mais terríveis” (Dionísio Longino,
). Assim, o sublime, “espantoso”23 e tempestuoso filosofar olgariano se encontra,
desde os tempos aurorais, em flagrante contraste com o modo árido, insípido e mo-
nocórdio com o qual os decanos do curso se ocupavam em ler e ensinar filosofia,
em fins dos anos .24


21
A tese doutoral foi defendida nos anos , mas publicada, extemporaneamente, apenas em ! (Souza, ).
22
“Inventei a cor das vogais! – A negro, E branco, I vermelho, A azul, U verdade. – Regulei a forma e o movi-
mento de cada consoante e, com ritmos instintivos, nutri a esperança de inventar um verbo poético que seria
um dia acessível a todos os sentidos. Eu me reservava sua tradução.
Foi, antes, simples estudo. Eu escrevia silêncios, noites, anotava o inexprimível. Fixava vertigens”. (Rimbaud,
, p. -).
23
“O espanto é, enquanto páthos, a arkhé da filosofia”. Aristóteles diz o mesmo (Metafísica, I, , b ss.):
“Pelo espanto os homens chegam agora e chegaram antigamente à origem imperante do filosofar (àquilo de
onde nasce o filosofar e que constantemente determina sua marcha)” (Heidegger, , p. ).
24
Não por acaso, figuras brilhantes e cultivadamente “marginais” como Otília Arantes, ex-orientanda de Gilda
de Mello e Souza, nunca se identificaram com o modo pelo qual a estética era concebida e ensinada aos alunos
– e, em nome da própria estética, acabaram se afastando do departamento.
 Aléxia Bretas A ciência que sonha e o verso que investiga

AFINIDADES AFETIVAS
Enquanto o “diálogo” entre Sócrates e seus discípulos é modelo para o filosofar aca-
dêmico, Olgária Matos segue um outro exemplo: o da “conversação” entre Safo e
suas amigas. Desse modo, a via de mão dupla aberta entre quem fala e quem escuta
estabelece um jogo de reciprocidade indissociável da philia pela qual a professora é
querida e admirada tanto por colegas quanto por alunos/as e orientandos/as das
mais diversas gerações. Em um artigo sobre Eros e o feminino – dois elementos
considerados como extrínsecos ou mesmo antagônicos à tradição canônica da filo-
sofia e sobre os quais a própria filósofa já chegou a dedicar alguns estudos25 –, Diego
Ramos avalia: “A disposição crítica e atenta de Olgária, bem como seu espírito ge-
neroso, aberto às mais diversas fontes, compõem um olhar penetrante e uma escuta
prodigiosa” – qualidade bastante rara no meio acadêmico, onde a objetividade ci-
entífica tende a minar o solo fértil das interações intersubjetivas, fundamental para
que suas sementes floresçam e deem frutos.
Afinal, saber é também sabor, como ensina Roland Barthes. A contrapelo de uma
vetusta tradição ascética, a relação entre Olgária e seus alunos se deu – e se dá! – sob
os auspícios de Eros, agraciada pela presença de Calíope e embalada pela lira de
Orfeu. Daí “a música, a poesia, a literatura, as artes plásticas e a atenção às dimen-
sões não-conscientes ou intencionais da linguagem também serem expedientes de
que a pensadora dispõe em benefício da criação filosófica, além de todo o instru-
mental clássico” (Ramos, In: Pinheiro Machado, , p. -).
Assim, se o próprio sentido originário do termo “filosofia” brota da fonte do
amor à sabedoria, sua prática se converte em exercício virtuoso de um vínculo sen-
sível prenhe de consequências nem sempre previsíveis. Ao descrever o percurso que
antecede seu encontro com Olgária – não raro em companhia de Benjamin, Proust
e Goethe –, Vinícius Canhoto pondera:
Vou em busca da delicadeza perdida no mundo desencantado, em busca da
philia pelas páginas dos livros grifados à caneta, do cuidado de si, dos seus e
da polis. Reencontro-me com a Bildung und Kultur que marcaram meus anos
de aprendizado e formação. Frases geniais e aforismos encantadores ditos de
forma livre e espontânea como uma jam session filosófica, que dispensa qual-
quer partitura, que eu quero anotar, porém faltam-me folhas, canetas e velo-
cidade o suficiente para registrar toda a fortuna crítica que é narrada de im-
proviso. Sei que a memória irá me trair nos pormenores como os fios desfeitos
do tear de Penélope, que madeleine alguma trará de volta o tempo redesco-
berto na pequena ética dos costumes, no esprit de finesse que se traduz em


25
Ver Matos, , p. -.
discurso, v. 53, n. 1 (2023), p. 40–59 

erudição e generosidade, gentileza e delicadeza. (Canhoto, In: Pinheiro Ma-


chado, , p. -)

Já Daniel Sampaio tece loas à amizade filosófica cultivada, ao longo de dez anos,
tanto na estufa do óikos, quanto no campo aberto da ágora: “A amizade é sempre um
lugar para morar, um modo de organizar o caos, uma forma de imitar o divino,
mesmo perdido. Nas palavras da professora, é ‘um valor de puro afeto, possibilidade
do amor social e político, lei essencial e elementar da sociabilidade, do respeito recí-
proco em um mundo compartilhado’” (Sampaio, In: Pinheiro Machado, , p.
-). Por último, mas não menos importante, Michel Amary ressalta o sentido
filosófico e político da philia enquanto experiência produtiva e transformadora de
nossas próprias condições de vida, especialmente em períodos de exceção: “Na urgên-
cia deste tempo, Olgária se mostra importante não apenas como a luz que clareia o
entendimento do presente, mas como um feixe de esperança para esses tempos som-
brios; em posse desse diagnóstico crítico e pessimista sobre a modernidade, a filosofia
de Olgária não deixa de reforçar pela philia a importância da vivência política e de-
mocrática para o presente” (Amary, In: Pinheiro Machado, , p. -).
Conforme se percebe pelo tom e pela voz de suas próprias testemunhas, filosofar
e, sobretudo, aprender a filosofar com esta professora titular em Teoria das Ciências
Humanas tem sempre muito a nos ensinar sobre a condição humana e a quase es-
quecida arte do bem viver. Fato que não passa despercebido ao colega e amigo Re-
nato Janine Ribeiro. Ao assumir a satisfação de fazer parte de seu círculo virtuoso
de interlocutores, envolvidos, amigavelmente, em animados dissensos afetivos, há
pelo menos cinquenta anos, ele observa: “Olgária Matos dedica sua vida a pensar a
vida. Desde seus primeiros trabalhos, o que falou e escreveu constitui uma longa
reflexão, por vezes um forte diálogo com inúmeros interlocutores, entre os quais me
orgulho de ter sido incluído não poucas vezes, sobre as formas de vida, suas mudan-
ças, seus riscos” (Ribeiro, In: Pinheiro Machado, , p. -). O filósofo relem-
bra seus tempos de “Méson” du Brésil, em Paris, enfatizando o sentido da sensibili-
dade e dos sentimentos nos primórdios da vida acadêmica da jovem pesquisadora,
no início dos anos , interessada nas origens da desigualdade em Rousseau –
tema que será recorrente em sua trajetória filosófica, ainda que desde os anos ,
fortemente influenciada pelo legado contemporâneo da Escola de Frankfurt.26


26
Ver a tese de doutoramento de Olgária Matos, vencedora do prêmio Jabuti de Ciências Humanas em :
Matos, ; além de sua tese de livre docência defendida em : Matos, .
 Aléxia Bretas A ciência que sonha e o verso que investiga

Em todo caso, no começo estava Rousseau. Por que logo ele? “Porque para Ol-
gária, e esse é um ponto que muito nos aproxima, o afeto é fundamental. Não ape-
nas porque ela seja uma das pessoas mais afetuosas que conheço, cativante mesmo
sem o querer, com uma nonchalance, uma naturalidade invejáveis: mas porque esse
pensador, a quem chamo um dos filósofos malditos da modernidade […], jamais
deixa de lado o papel dos sentimentos na vida” (Ribeiro, In: Pinheiro Machado,
, p. -). Ao lidar com temas e problemas tidos como secundários, periféri-
cos ou apenas lateralmente significativos para o cânone filosófico, o pensador gene-
brino, segundo Ribeiro, faria parte de um grupo de autores “menores” que tiveram
a má sorte de se dedicar à ética, à política e/ou à estética, isto é, a áreas afins para as
quais a discussão acerca do humano – inclusive em suas intersecções de classe, gê-
nero, sexualidade, etnia, raça e colonialidade – é condição fundamental.
Contra a desvalorização do que se refere como “segundo escalão” da filosofia, Re-
nato Janine observa: “Nos cursos de filosofia, estudam-se os grandes pensadores do
conhecimento e do ser, exilando-se para as estradas menos trilhadas […] os que tra-
taram da ação, individual ou coletiva, dos sentimentos a prevalecer sobre a razão, da-
quilo que a sensibilidade produz ou que a afeta. Mas é a esse segundo escalão que
Olgária consagra a maior parte de sua reflexão”. Chamando atenção para o sentido da
dissonância e da interdisciplinaridade em sua atuação intelectual, ele pondera: “Não
é fortuito que os amigos da Psicologia gostem tanto de ouvi-la: sua voz dissonante em
relação aos tempos presentes é sempre um convite ao pensamento, em especial sobre
o ainda, talvez sempre, iniciante conhecimento do ser humano” (Ribeiro, In: Pinheiro
Machado, , p. -). Entre tais fiéis interlocutores e “vizinhos” nas humanida-
des, está Maria Inês Assumpção Fernandes, colega da psicologia por longas décadas,
a constatar o encaixe perfeito entre vida e obra, teoria e prática, em suas biografias
compartilhadas: “Acompanhar-te, minha amiga, é dizer de uma experiência e uma
história na qual se expressa uma coerência atraente e constante entre o passado e o
presente, entre o dizer e o fazer, uma história pessoal inserida numa história social que
a encerra e lhe capta o sentido na qual a filosofia, a psicanálise e a arte magnificamente
se articulam. É dizer sobre uma atitude sempre aberta e crítica. Lucidez política, hu-
mana” (Fernandes, In: Pinheiro Machado, , p. -).
Sim, humana demasiado humana. Por isso, Olgária, por essa coerência, essa ati-
tude e esse páthos, também eu, em meu próprio tempo, fui ao seu encontro. Aos
trinta anos de idade, percorrendo o caminho de Zaratustra a contrapelo – como um
palíndromo? –, deixei as montanhas e os belos horizontes em direção à “capital do
Capital”. Ainda jovem, desassossegada e movida pelo desejo impetuoso de saborear,
com gosto, o fruto proibido da árvore do conhecimento. Pouco a pouco, obstinada-
mente, eu me aproximaria da órbita de seu círculo de iniciados e amigos, atraída
discurso, v. 53, n. 1 (2023), p. 40–59 

pelo “brilho questionador” e pelo “tom inquietante” de suas pupilas e de suas pala-
vras, que nunca se esquivaram de tatear, com as línguas e a linguagem, os temas
delicados e as aporias insolúveis.
Assim, há mais de quinze anos, eu escolhi a filosofia – e encontrei você. Naquela
época, sua figura despontava como a própria Estrela da Manhã, aureolada pelo dom
– que confirmaria ser verdadeiro apenas com a convivência e o passar dos anos – de
“fazer da realidade sua fonte de aprendizagem” sem nunca deixar de lutar “para que
a fantasia não desapareça”.27 Então, procurei você pelo amor à filosofia; mas também
para saber quem eu era – ou poderia me tornar. E hoje, depois de tantos anos de
aprendizado (Lehrjahre),28 reitero minha escolha, com amor e gratidão multiplica-
dos pelo tempo-do-agora (Jetztzeit), sem poder sequer imaginar minha vida filosófica
– que, para mim, é a própria vida – sem você. Seja próxima ou distante, no ir e vir
incessante do rio caudaloso de Heráclito, que tudo transforma, quero ter você sem-
pre comigo. Louca e santa, boba e séria, criança e velha, divertidamente a me lem-
brar, com Oscar Wilde, que a normalidade não passa de “uma ilusão imbecil e es-
téril”.29

Bibliografia
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ter Benjamin. Trad. José Marcos Mariani de Macedo. São Paulo: Editora
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nez de Aguiar. São Paulo: Martins Fontes.
Benjamin, W. () Rua de mão única: Obras escolhidas II. São Paulo: Brasiliense.


27
Atribuído a Oscar Wilde. Disponível em: https://tvcultura.com.br/videos/_eu-escolho-meus-amigos-
pela-pupila.html. Acesso em: //.
28
Ver Goethe, .
29
“Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, / mas pela pupila. / Tem que ter brilho
questionador e tonalidade inquietante. / A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. /
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. / Deles não quero resposta, quero meu avesso. / Que me
tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim. / Para isso, só sendo louco. / Quero os santos,
para que não duvidem das diferenças / e peçam perdão pelas injustiças. / Escolho meus amigos pela alma lavada
e pela cara exposta. / Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. / Amigo que não ri junto,
não sabe sofrer junto. / Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. / Não quero risos
previsíveis, nem choros piedosos. / Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendi-
zagem, / mas lutam para que a fantasia não desapareça. / Não quero amigos adultos nem chatos./
Quero-os metade infância e outra metade velhice! / Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no
rosto; / e velhos, para que nunca tenham pressa. / Tenho amigos para saber quem eu sou. / Pois os vendo
loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, / nunca me esquecerei de que ‘normalidade’ é uma ilusão
imbecil e estéril”. Atribuído a Oscar Wilde. Disponível em: https://tvcultura.com.br/videos/_eu-esco-
lho-meus-amigos-pela-pupila.html. Acesso em: //.
 Aléxia Bretas A ciência que sonha e o verso que investiga

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