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RACISMO E SEXISMO NA CULTURA BRASILEIRA

➔ Texto escrito por Lélia Gonzalez, que foi uma ativista, filósofa e antropóloga
brasileira. É referência nos estudos e debates de gênero, raça e classe, sendo
considerada uma das principais autoras do feminismo negro no país.

➔ O texto é dividido em três capítulos, o primeiro, intitulado “Cumé que a gente


fica?” começa expondo uma situação em que um grupo de pessoas negras é
convidado para uma festa organizada por brancos que estavam escrevendo um livro
sobre a experiência negra. Apesar de serem bem recebidos, eles são colocados
separados na mesa e não têm a oportunidade de se sentar junto com os brancos.
Durante a festa, uma mulher negra se levanta para reclamar sobre certas coisas
que estavam acontecendo, o que causa tumulto e briga, daí os brancos ficam
irritados com o comportamento do grupo negro e culpam a mulher negra por
estragar a festa.
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➔ A partir daí, texto discute o racismo e o sexismo na cultura brasileira,


questionando o mito da democracia racial e analisando como essas formas de
discriminação afetam a mulher negra. A autora utiliza as noções de mulata,
doméstica e mãe preta para explorar essas questões.

➔ A autora começa questionando por que o mito da democracia racial teve tanta
aceitação e divulgação no Brasil. Ela procura entender os processos que
contribuíram para a construção desse mito e o que ele esconde. Ela também analisa
como a mulher negra é situada nesse discurso.

➔ Pra ela, o racismo é a sintomática que caracteriza a neurose cultural brasileira.


Ela argumenta que a articulação do racismo com o sexismo produz efeitos violentos
sobre a mulher negra. E por isso, é importante analisar o lugar de onde se fala
sobre essas questões, levando em consideração as noções de mulata, doméstica e
mãe preta.

➔ A autora menciona que em trabalhos anteriores, já foi abordada a noção de


mulata como uma profissão e a dupla imagem da mulher negra como mulata e
doméstica. Com isso, ela percebeu a necessidade de aprofundar essa reflexão e
questionar os modelos oferecidos pelas ciências sociais.

➔ A partir das noções de mulata, doméstica e mãe preta, a autora busca um


suporte epistemológico na psicanálise, especialmente em Freud e Lacan. Ela
argumenta que a consciência exclui o que a memória inclui, e que a memória é o
lugar de inscrições que restituem uma história não escrita. A consciência, por sua
vez, se expressa como o discurso dominante que oculta a memória.
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➔ O segundo capítulo do texto, chamado “A Nêga Ativa” a autora discute o papel da
mulher negra na sociedade brasileira, especialmente durante o Carnaval. Destaca a
objetificação e a fetichização das mulheres negras nesse período, contrastando sua
representação nas festividades com sua vida cotidiana como trabalhadoras
domésticas. Ela também observa o contexto histórico da escravidão e sua influência
na percepção das mulheres negras no Brasil.

➔ O texto traz ainda a percepção da escravidão colonial no Brasil, destacando os


papéis laborais e sexuais dos escravos. Lélia argumenta que essas relações eram
básicas e desprovidas de emoções ou sentimentos humanos e critica o tratamento
dispensado às mulheres negras, vistas apenas como objetos de satisfação sexual
dos senhores brancos. Além de enfatizar a divisão racial do espaço físico, com os
brancos ocupando lugares privilegiados e os negros repudiados a locais precários.

➔ O texto também aborda o ridículo e a repressão às mulheres negras que


denunciam a violência policial contra os homens negros e critica os estereótipos e
preconceitos raciais presentes na sociedade brasileira.

➔ A autora traz a importância da figura da “mãe negra” na cultura brasileira e como


ela desempenha o papel materno, transmitindo valores e a língua materna às
crianças brasileiras e defende que esta figura é crucial para a formação da
identidade cultural brasileira, enquanto a figura “branca” é vista como a outra,
responsável apenas por dar à luz os filhos do senhor.
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➔ Já no terceiro capítulo, nomeado “Muita Milonga prá uma Mironga só” é discutido
o caráter paradoxal da relação da sociedade brasileira com a cultura africana,
especialmente durante o Carnaval. Ela destaca como a sociedade, que muitas
vezes marginaliza a sua população negra, celebra e exalta a cultura africana
durante este festival e critica a noção do Brasil como uma democracia racial,
argumentando que essa ideia é contrariada pela discriminação enfrentada pelos
negros brasileiros. Além de explorar o caráter subversivo do Carnaval, onde os
papéis tradicionais são invertidos e a população negra, muitas vezes marginalizada,
torna-se símbolo de alegria e encanto e discutir o poder simbólico do corpo negro,
muitas vezes objetificado e mercantilizado, principalmente no Carnaval.

➔ A autora continua a discussão sobre a africanização da cultura brasileira,


argumentando que o Brasil já é africanizado e criticando a tendência europeizante
que tenta esconder este fato. Ela debate também a função paterna simbólica no
contexto da cultura brasileira, sugerindo que a influência africana é uma parte
significativa de sua identidade. Ela traz o termo “Améfrica Ladina”, que sugere uma
fusão das culturas africana e latino-americana. E discute o papel da figura paterna
na cultura brasileira, sugerindo que se trata mais de assumir responsabilidades do
que de certezas.
Por fim, ela analisa a representação dos heróis na cultura popular, contrastando os
heróis oficiais, produtos da lógica de dominação, com os heróis populares mais
representativos do povo e explora os estereótipos negativos associados aos negros,
sugerindo que são formas de esconder ou negar a influência da cultura africana na
sociedade brasileira. A autora destaca o poder simbólico de Zumbi, que é uma
figura significativa na história da resistência negra no Brasil e diz que Zumbi é um
símbolo de resistência e uma lembrança da luta pelos direitos dos negros no Brasil.

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