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| content following this page was uploaded by Sebastido Carlos Leite Goncalveson 21 July 2014 e userhas requested enhancement ofthe downloaded file. Notas soprE Livros/BOOKNOTES Mouuica, Maria Cecilia; Maria L. Braga. 2003. Introdugao & Sociolin- giistica: 0 tratamento da variagdo. So Paulo: Contexto. ISBN 85-7244-222-7. 200p. en S aeeticl alia ii caa ieeatiac aie ici lel 4 VFRpy i BIBL IOT PAG 1, Fundamentagao tedrica: conceituagdo e delimitagao Maria Cecilia Mollica Linguistica e Sociolinguistica 5 A Sociolinguistica é uma das subareas da Linguistica ¢ estuda a lingua em uso no seio das comunidades de fala, voltando a atengao para um tipo de investigagao que correlaciona aspectos linguisticos e sociais. Esta ciéncia se faz presente num espago interdisciplinar, na fronteira entre lingua e sociedade, focalizando precipuamente os | empregos linguisticos concretos, em especial os de cardter heterogéneo. A heterogeneidade como foco Todas as linguas apresentam um dinamismo inerente, o que significa dizer que elas sao heterogéneas. Encontram-se assim formas tistintas que, em principio, se equivalem semanticamente no nivel do vocabulario, da sintaxe e morfossin- \ taxe, do subsistema fonctico-fonologico eno dominio pragmatico-discursivo. O portugués falado no Brasil est repleto de exemplos. No sul do pais, o pronome “tu” é 0 tratamento preferido quando o falante interage com o ouvinte, encontrando-se em menor escala em outras regides ¢ evidenciando uma diferenciagao geografica, em que os pronomes de tratamento distribuem-se em sistemas variacionais diferentes. A presenga de marcas de con- cordancia nominal e verbal como em “os estudos sociolinguisticos” ¢ “cles estu- dam Sociolinguistica” em geral alterna-se com a possibilidade de ocorréncia de enunciados em que tais marcas estéo ausentes: “os estudo® sociolinguisticoS”, | “eles estuda@ Sociolinguistica”. A realizagao de “framengo”, “andano”, “ta”, “fala@”, “paia” é encontrada no portugués do Brasil coexistindo com “flamen- go”, “andando”, “esta”, “falar”, “palha’’. Construgdes sintaticas como “eu vi ele | ontem”, “nds fomos no Maracana”, “€ 0 tipo de matéria que eu nao gosto dela”, / “a Linguistica, e/a é muito dificil” estiio presentes no portugués do Brasil (PB), alternando com os equivalentes semanticos “eu o vi ontem”, “nds fomos ao Ma- racana”, “é 0 tipo de matéria de que eu nao gosto”, “a Linguistica é muito dificil”. | Esses sao alguns exemplos que ilustram a variabilidade linguistica, presente em todas as linguas naturais humanas. A Sociolinguistica considera em especial como objeto de estudo exatamente a variaco, entendendo-a como um principio Infrodugeo 6 sociolinguisica 10 i ssivel de ser descrita © analisada cientificamente. Ela parte agora e universal, passivel do $e 59 sto influenciadas por fatores estry. do pressuposto de que as a SEEN referidos como varidveis independentes, tecnicamer turns esociais. Tas Rte Taiees Tingristicas sao motivados € as alternanciag sujeito, po no sentido que os us0s de «SI statisticamente previsivels. ® se realiza: gonfiguram-se por isso sistemalc equivalen cordancia Wn inguistica va i i e da Sociolinguls' é riantes Areas de interess« U independ itas as dreas de interesse da Sociolinguistica: contato entre as lin- = ou grupc as simento e extingdio linguistica, multilinguismo, exercer guas, questdes: relativas ao surgi , re ee 7 c ime, ariacdio e mudanga constituem temas de investigagao na sit Se 5 vi % fenomeno da diversidade linguistica em cada sistema é diferente do que i ae entendemos por multilinguismo. Um pais pode conviver com mais de uma lingua, Haine como €0 caso do Brasil: somos plurilingues, pois, além do portugues, ha em nosso D lnies territorio cerca de 180 linguas indigenas, de comunidades étnico-culturalmente | pana diferenciadas, afora as populagées bilingues que dominam igualmente 0 portu- ou pod gués e linguas do grupo romanico, anglo-germanico e eslavo-oriental, como em Pina: comunidades multilingues portu, gués/italiano, portugués/espanhol, portugués/ | rn te alemao, portugués/japonéstA linguistica volta-se para todas as comunidades com o mesmo interesse cientifico ¢ a Sociolinguistica considera a importancia social da var da linguagem, dos pequenos grupos socioculturais a comunidades maiores. Se emer, cada grupo apresentasse comportamento linguistico idéntico, nao haveria razao e sist para se ter um olhar sociolinguistico da sociedade. tuali: O papel da mudanga linguistica € fundamental para os estudos socio- ong linguisticos. Os problemas tedricos envolvidos referem-se aos processos de ae encaixamento, avaliac4o e implementagao. Antes de tudo, o linguista deve compreender como se caracteriza uma determinada variagao de acordo com as oe propriedades da lingua, verificar seu status social positivo ou negativo, entender Se © grau de comprometimento do fendmeno varidvel no sistema e determinar se | cite as variantes em competigao acham-se em processo de mudanga, seja no sentido | din de avango, seja no de recuo da inovacao. Em ultima andlise, deve definir se 0 cot caso € de variagao estavel ou de mudanga em progresso, conceitos explicitados ali |- © ilustrados em alguns capitulos deste livro. | pri eC ‘ ’ tiy Variantes € varidveis | ci | e o & _ bivatato ee Constitui fendmeno universal ¢ pressupde a existéncia \ formas linguisticas altemativas denominadas variante§ Entendemos entio pot | d Hes as diversts formas altemativas que Configuram um fenémeno variavel, Fundamentagéo teérica: conceltuagée e deimitagao 11 = tecnicamente chamado de varidvel dependente. A concordancia entre 0 verbo 0 <;, Sujeito, por exemplo, é uma varidvel linguistica (ou um fendmeno varidvel), pois e realiza através de duas variantes, duas alternativas possiveis ¢ semanticamente aes a marca de concordancia no verbo ou a auséncia da marca de con- cordanci Uma varidvel é concebida como dependente no sentido que.o emprego das 7 ariantes nao € aleatdrio, mas influenciado por grupos de fatores (ou varidveis independentes) de natureza social ou estrutural. Assim, as varidveis independentes ou grupos de fatores podem ser de natureza interna ou externa a lingua e podem exercer presstio sobre os usos, aumentando ou diminuindo sua frequéncia de ocorréncia. yale frisar que o termo “variavel” pode significar fenémeno em variagao e grupo de fatores. Estes consistem nos parametros reguladores dos fenémenos varidveis, condicionando positiva ou negativamente 0 emprego de formas va- riantes. As variantes podem permanecer estaveis nos sistemas (as mesmas formas continuam se alternando) durante um periodo curto de tempo ou até por séculos, ou podem sofrer mudanga, quando uma das formas desaparece. Neste caso, as formas substituem outras que deixam de ser usadas, momento em que se configura um fenémeno de mudanca em progresso. Cabe 4 Sociolinguistica investigar o grau de estabilidade ou de mutabilidade da variagao, diagnosticar as variaveis que tém efeito positivo ou negativo sobre a emergéncia dos usos linguisticos alternativos e prever seu comportamento regular e sistematico. Assim, compreende-se que a variagdo e a mudanga sao contex- tualizadas, constituindo 0 conjunto de parametros um complexo estruturado de origens e niveis diversos. Vale dizer, os condicionamentos que concorrem para o emprego de formas variantes sdo em grande numero, agem simultaneamente € emergem de dentro ou de fora dos sistemas linguisticos. A partir de um esquema geral, uma classificagao da natureza dos fatores atuantes na variac’o configura-se como se segue. No conjunto de variaveis inter- nas, encontram-se os fatores de natureza fonomorfossintaticos, os semanticos, os discursivos ¢ os lexicais. Eles dizem respeito a caracteristicas da lingua em varias dimensées, levando-se em conta 0 nivel do_significante e do significado, bem como os diversos subsistemas de uma lingua. No conjunto de variaveis externas 4 lingua, retinem-se os fatores inerentes ao individuo (como etnia ¢ sexo), os pro- priamente sociais (como escolarizacao, nivel de renda, profissa classe social) € 0s contextuais (como grau de formalidade e tensao discursiva): Os do primeiro tipo referem-se a tragos proprios aos falantes, enquanto os demais a caracteristicas circunstanciais que ora envolvem 0 falante, ora 0 evento de fala. Neste livro, aprofundam-se as questées relativas ao comportamento dos grupos de fatores com relagiio a fendmenos varidveis ou em mudanga. Alguns 1p destinam-se a detalhar didaticamente os aspectos concernentes a algumas das varidveis independentes possiveis que contextualizam os fenomenos varidveis. guistica fa Hin Infrodugae 450° b ‘os da varia¢ao nao permite , idade dos con’ mmentos 8 ei Permite a No entanto, @ complexida tes correlacionados 4S vari inguisticas, a lo gen! dependentes (ou grupo de fatores) ipos de af : Jigaio de todos OS tipo: ridveis in previsao de (000 reito das vari i fete explicagao didatica do ef nao reflete evidentemente a atuacto simultane éum artificn aqui utilizado que inte ficio tiliza da rede de fatores que interage 04 variagaio linguistica. 12 dicional raparte fixa do lingua, nt : Pc idade e unidade heterogene! Todo sistema linguistico encontra-se Le vce a Pressio de duas forgas que atuam 10 sentido da variedade eda pee os ise Principio ‘opera por meio da interagao & da tensao de impulsos oe s 6 et mo lo que as linguas exibem inovacdes mantendo-se, contudo, coes : dew 0, 0 impuls 0 A variacdo & possivelmente A mudanga; de outro, ° impulso eo base para a nocao de comunidade linguistica, caracterizada por padroes estruturais e estilisticos. Assim, as linguas apresentam as contrapartes fixa ¢ heterogénea de io a heterogeneidade. Note-se que isso so € pos- forma a exibir unidade em mei t inouistica é inerente e motivada. Prova-se como é que a dinamicidade lingui equivocado 0 conceito estruturalista de variantes livres, ao ser demonstrado que a variagao é estruturada de acordo com as propriedades sistémicas das linguas ¢ se implementa porque ¢ contextualizada com regularidade. Por isso, a varia¢ao linguistica pode ocorrer nos eixos diatopico e diastra- ionalmente, considerando-se tico. No primeiro, as alterndncias se expressam regionalment 0s limites fisico-geograficos; no segundo, elas se manisfestam de acordo com os Pees oS levando-se em conta fronteiras sociais. Assim, tradi- Cionalmente, concebe-se uma ecologia linguistica do ponto de vista horizontal, com a constituigao de comunidades geograficas com base em marcadores regio- nais; e do ponto de vista vertical, com a geracdo de padrdes por meio de indic: dores sociais. A recorréncia da atuag’io de parametros condicionadores resulta na sistematicidade da variagao de tal modo que se originam padroes preditivos mensuraveis probabilisticamente. _ APA traded Gialetol6gica discretizou consideravelmente os padres so- 1 pee de ee rigida variedades como “padrao cult”, Tee tos sles ra a: Note-se que, além de tragos descontinuos, “comunicativos proprios de pa urbano, devem ser levados em conta recursos isolamento geografico e social a Re 2 ere monitorados, O crane estratificagdo descontinua, assimn ek para a gama de tracos que definem uma : i omo as relagdes sociais, as caracteristicas das = ude relagao do falante ao meio, $40 considerados também 08 orm ¢ informais Fanaa 10. Sao considerados tamber ase no scrita em conformidade com o controle sivel por Fundementagao tedrica: conceltuagdo @ delimitagao 13 € 0 monitoramento da produgio linguistica, além do plano da enunciagao e de considerar-se o grau diferenciado de envolvimento dos falantes nos diversos gé- neros discursivo-textuais. Desse modo, incorporam-se questées como a escolha do estilo que se impée ao falante para acomodar-se ao seu interlocutor, 0 apoio contextual na produgao dos enunciados, o grau de complexidade cognitiva exi- gida no tema ¢ a familiaridade do falante com a tarefa comunicativa realizada. Qualquer que seja o eixo, diatopico/geografico, diastratico/social, ou de outra ordem, a variagfio é continua e, em nenhuma hipétese, é possivel demarcarem-se nitidamente as fronteiras em que ela ocorre. E preferivel falar em tendéncias a empregos de formas alternantes motivadas simultaneamente por condicionamentos diversos, Sistematicidade, legitimidade e estigmatizagao Numa perspectiva cientifica, cabe assinalar que todas as manifestagdes linguisticas sao legitimas e previsiveis, ainda que exista flutuacdo estatistica. Embora os julgamentos de valor nao se apliquem, os padrées linguisticos estéio sujeitos a avaliacao social positiva e negativa e, nessa medida, podem determinar © tipo de inser¢ao do falante na escala social. Estigmatizagao linguistica e mobilidade social constituem temas de inte- tesse aos sociolinguistas. Em principio, estruturas de maior valor de mercado que tecebem avaliagao positiva parametrizam-se com grau alto de monitoramento e de letramento. Maior sensibilidade, percepgao e planejamento linguistico so, via de regra, pré-condi¢ao a producao das formas de prestigio e disposigaio adequada para eliminarem-se estigmas sociolinguisticos na fala ou na escrita. Os sociolinguistas tém-se voltado para a andlise dessas relagdes, e 0 preconceito linguistico tem sido um ponto muito debatido na 4rea, pois ainda predominam as praticas pedagégicas assentadas em diretrizes maniqueistas do tipo certo/errado, tomando-se como referéncia 0 padrao culto. As linguas, em geral, apresentam uma diversidade que se distribui em continuum, da qual o falante adquire primeiro as variantes informais e, num processo sistematico e paulatino, pode vir a apropriar-se de estilos e géneros mais formais, aproximando-se das variedades cultas e da tradigao literaria. Toda lingua portanto apresenta variantes mais prestigiadas do que outras. s estudos sociolinguisticos oferecem valiosa contribuigao no sentido de destruir preconceitos linguistics e de relativizar a nogao de erro, ao buscar descrever 0 padrao real que a escola, por exemplo, procura desqualificar e banir como ex- Pressao linguistica natural e legitima. UFRPE - VAG BIBLIOTECA 14 introdugae a sociolinguistica a metodologia ciolinguistica oferece diferent modelos tgorico-metodolOBicos part da variagao € da mudanea, E, cS a maneira como & abordagem da Teoria da Variagao lac ste jo precursor € 0 linguista William rate Jivro apresemt ; taliza analise sociolinguistica, cuj Jinha adotada, ¢™ fungao de set considerada teoricamente coerent ao da lingua em uso numa oe icamente eficaz para ‘a descrig ica. Nao se exclui, porém, a relevancia € a contribuigao important inte outros diferenciais de andlise. Portanto, todos os capitulos que com] em a present i i paulatina ¢ gradualmente © leitor no ea anenes an Bet os cote correlacional de base quantitativa, tipicamente Jaboviana. Aqui estao pee os postulados conceituais necessarios, tabelas, graficos ¢ figuras que ae { Poe ep ae 2 trabalho no ambito tedrico-metodologico adotado. ee a quada interpretagao de resultados. gence Adotando um imento, @ So Como toda drea de conhecil aa andlise Pre 3. Relevancia das varidveis ndo linguisticas Maria Cecilia Mollica Efeito de agentes externos e Peet feciies : ae Tinguistiea éuma das saree icas univer- Pea ueatelsiearstibira face heters Me com forcas de estabilidade. arentemente Bee sivell porque os 1 iS génea imanente da lingua ¢ regular, istematica Eles podem ser gd lesintemoe ae dos por vat + estruturss Son ero aswatiavels ecin Ss Seog ae sistema linguistico. ee 2 s ou nao linguisticas, registram-se os marcadores re- gionais predominantes em comunidades facilmente identificadas geograficamente, em simultaneidade a indicadores de estratificagao estilistico-social, de forma que a variagao projeta-se num continuo em que se podem descrever tendéncias de uso linguistico de ena de fala caracterizadas diferentemente quanto a0 perfil sociolinguistico. As varidveis. tanto linguisticas quanto nao linguisticas, nao agem | isoladamente, mas operam num conjunto complexo de correlagGes que inibem ou favorecem 0 emprego de formas variantes semanticamente equivalen- tes. Por exemplo, agentes como escolarizagao alta, contato com a escrita, com 0s Meios de comunicag4o de massa, nivel socioecondmico alto e origem social alta concorrem para o aumento na fala e na escrita das variedades prestigiadas, admitindo-se que existam pelo menos 0 padrao popular e o culto.. Questoes e debates cados os estudos que correlacionam as varidveis sexo/ al, dentre outras, a fendmenos de uso na ainda possivel dar como concluida is com vistas S4o bastante avan género, idade, escolaridade ¢ classe soci fala e na escrita. Mesmo assim, ndo nos parece a discussao acerca de um efeito padronizado dessas yaridveis soci aresponder a algumas questes. ‘a saber: a) 0 grau alto de escolarizag jo concorre paraum comportamento linguistico ajustado ao padriio culto? b) o género femin ino é mais conservador do ponto de vista da norma? c) ha uma relagao entre estigma- tizagio sociolinguistica, status & mobilidade social? d) qual o impacto da ae sobre a variacao linguistica? Esses ¢ outros pontos sdo problematizados quando correlacionamos varidveis na0 linguisticas a fendmenos de variagao. Neste livro apenas alguns S40 focalizados. socioingustic® inna irroctuge° © 28 1960 ¢ 1970, Labov (1972) investigou 9 eit «aos dos anos pre tragos do inglés padrag » ,. ° te a nos idos 5 dessa natureza S* ue 0 Black English yer ° Pa Pepe fitores SOC Cig a el en reenn voMacnae . dive dedicando-Se sob! vestigmatizad sofre preconce! Tazo de Dresca aceasta fo, dem exremamente SUBMIT "Sankoff, Kemp & Cedergren (1975. eee | varicé™ escolarizagdo © classe © 1 mercado de formas discursivas ¢ ,, cee ee ue escolarizagaO, VO" | doterminar 0 grau negativo ou no." ele den monstraram qUC S°°r cao relevantes Para sero OUP OSitiyy do fal rofissional dos falan » iternativas linguisticas falantes com maior COtacag oad ee marcagdio social das alte Jangar mao de estruturas de maior pres gio, e etem: mercado linguistico rier) Clermont & Cedergren (1979) ¢ os taba comut contribs ety eonsotidarar resultados a favor da tese de que Ging fe 1979 € ialmente em indivi ss puso: prestigiados acham-se preferencialt ndividuos ee ra ae one tem sido testada amplamente para se verificar 9 seu gray BO de infuéncia sobre os falantes quanto 4 apropriag0 aes i Prestigio. Num nor painel bem amplo apresentado em Silva & Bouerre (220), tres ten a nelas foram ines observadas quanto a0 efeito da escolarizagao sobre as formas padrao, proprias g es estilos e géneros mais formais. a a) Podem ocorrer casos em que 0S falantes entram na ee oscilando entre um gre trande e um pequeno uso da variante padrio; a escola “poda” a erianga que nao se Fo amolda ao sistema de ensino. (..) Nesses casos, trata-se de variantes estigmatizadas a pela escola, que chegam a ser sistematicamente corrigidas. a | b) Em outros casos, em que a maioria dos falantes entra na escola sem usar a : } variante padrao, esta é adquirida durante sua escolarizagao sem que desapareca, | porém, a variante nao padrao. Enquanto no primeiro ano escolar s6 ha individuos que tendem a usara variante no padrao, nos ultimos anos escolares ha falantes que i tendem a usar ambas as variantes. (...) Algumas variantes nfo padrao nao chegam ] a ser estigmatizadas pela escola, nao sendo objeto de correcao. ‘ ©) Finalmente, uma terceira modalidade ocorre quando os falantes entram na escola apenas com a variante que se considera nao padrao, mas, paulatinamente, substituem essa variante pela considerada padrao, (SILVA & SCHERRE, 1996, p. 346, 348-349) Bortoni també a AG ay te mbém tem observado a agao decisiva que atividades de letta- } lento podem ter sobre os alunos, Pees mesmo que sejam praticas de base inteiramente intuitiva por parte dos professores, c, : lendamos que se lhes proporcione de Sociolinguistica, 2 oe (BORTONI, 1994, p. 92) Relevancia das variévels nao linguisticas 29 i Sobre © portugués brasileiro, os resultados até entiio observados para verificar-se apertinéncia da relacao entre estigmatizagao linguistica e prestigio social apontam, de maneira diferenciada, a importancia da cotagio de mercado da forma linguistica. De acordo com Bourdieu (1977), as manifestagdes linguisticas recebem um valor do que ele denominou “mercado linguistico”, aliado a renda, sexo, faixa etétia e nivel escolar do falante. O efeito da midia sobre as yariantes de prestigio tem despertado interesse e tem sido objeto de estudo para verificar-se até que ponto ha influéncia dos meios de comunicagao nos comportamentos linguisticos (cf, Naro & Scherre, 1996). AS. evidéncias estatisticas na referida coletanea sugerem que renda, valor de mercado, midia e sensibilidade linguistica, conjuntamente com outros pardmetros, podem ser bons indicadores sociais. Alguns resultados servem de comprovagao de que a variavel mercado se mostra relevante, pois demonstram que, quanto maior a cota¢ao na escala do mercado ocupacional, maior a chance de haver ajuste 4 norma padr4o com relagéo a concordancia nominal, por exemplo, fendmeno inegavelmente marcado socialmente. A questao, em principio, poderia ser simples se todas as evidéncias reve- lassem uma correlagao constante e regular entre estruturas linguisticas standard, prestigiadas, de alto valor no mercado linguistico, diretamente proporcional a grau alto de consciéncia linguistica, em individuos mais velhos e escolariza- dos, de classe socioeconémico-cultural alta. Isso posto como verdade absoluta, esperar-se-ia 0 emprego de estruturas padrao dos grupos mais escolarizados ¢ mais sensiveis a diversidade linguistica em relagdo 4 necessidade de adequacao dos usos alternativos em estilos ¢ géneros de grau diferenciado de formalidade tanto na fala quanto na escrita. A realidade ¢, contudo, muito mais complexa. Ouso da forma sew, altemando-se com a forma dele, para indicar 0 possuidor na terceira pessoa, acha-se em extingao na fala do PB, no entanto é standard, de tradi¢ao literaria e altamente prestigiado, como bem demonstrou Silva (1982), num trabalho que examina as atitudes linguisticas em diversas classes socioculturais. Em relagao ao uso, os falantes clasificados como mais conscientes e de renda mais alta apresentam maior numero de empregos da forma prestigiada. Contraditoriamente, as variaveis midia e mercado ocupacional nao exercem influéncia sobre o uso da forma sew. Por raz6es funcionais, a forma dele (desambiguadora) vem se sobrepondo amplamente 4 forma sew entre os falantes de maior nivel social e cultural e esta sendo inclusive veiculada na midia, ainda que contrarie os ditames do padrao culto, faca parte do imaginario dos falantes como a forma recomendada e seja trabalhada na escola, Esse exemplo é extremamente uitil para a nossa reflexdo, fornecendo elementos concretos para a constata¢4io ainda mais contundente da complexidade do efeito de indicadores sociais sobre o perfil sociolinguistico dos falantes. ‘Numa sociedade tio complexa como a constituida pelos falantes do PB, podemos pensar em intimeros indicadores sociais, seja de exclusao ¢ inclusio, sejade estabilidade emobilidade social. Origem social, renda, acesso a bens materiais e culturais sao alguns deles, assim como tipo de ocupagao, grau de insergao em redes sociais € outros. 30 Introduge° 6 sociolinguistice julga que classe social ¢ 0 aspecto mais mareado te Chambers (1995) ulead jystrializadas © @ estratificacto social nog, eee inten icadores ocupacionais, educacionais € econdmicg, eee or jais mais fechados ¢ localizados, temos as ae Sin i ang do clube e de outros locais de identidade. Ha he lasse social, outros de carater bem subjetivo, Em sey. ices detalhados para demarcar classe socia) jote-se ainda que mobilidade social pode e submeter-se 4 constituigao de esteres. ticament ser observa' Para 0 autor, nO: sociais da familia, da indices mais objetivos ies Trudgill (1974) oferece ind! i Ni tal como localidade, tipo de casa ete ficar ao sabor da avaliagdo das pessoas Fs uveau riche. mo a categoria de 70 fi a a tipos, So stnpiek ariedades de prestigio, com alta cotagao de mercado, silo necessariamente assimiladas pelos falantes. Ha ore ee fe Cons- tituem mudanga em curso €, Por isso, os padroes ingu eae compre endidos também pela sua natureza dindmica. Esse éum ee 08 pelos auais nao necessariamente OS movimentos dos individuos: na diregao le ascengo social redundam na apropriagao de recursos linguistico-discursivos monitorados, Estudos pioneiros no Brasil no Ambito do PEUL (Programa de Estudos sobre os Usos da Lingua), citados e sucintamente mencionados em Paiva & Scherre (1999), procuraram correlacionar a utilizagao de construcdes prestigiadas enio prestigiadas com varidveis como bens materiais, bens culturais, origem so- cial. Os resultados nao foram tao surpreendentes quanto se esperava, ° que pode significar que essas categorias nao sao mensuraveis por critérios linguisticos ou sfio subcategorias que representam pré-condigdes a uma trajetéria mais custosa ¢/ ou mais longa que 0 individuo tem que percorrer no eixo vertical da estratificagaio social, durante a qual a lingua é uma das propriedades no conjunto de propriedades que compée finalmente o patriménio social de uma pessoa. ‘A busca de varidveis sociais nao convencionais para 0 entendimento da variagiio Pi i linguistica numa sociedade tio complexa como a brasileira, em que a categorizacao por classe social segundo parametros como renda, local de moradia, escolarizacaio e profissao nao é claramente delimitada, tem motivado 0 controle de aspectos mais sutis da ambientagao material e cultural dos individuos e do seu grau de integragao aos yalores veiculados pelos meios de comunicagao de massa. Concebidas na forma de escalas que controlam a relagao quantitativa e qualitativa dos falantes com os produtos culturais (como midia televisiva e escrita, cinema, teatro e ou- tros) sua Bee de bens materiais disponiveis no mundo moderno (apartamentos, os i A oe lefones, viagens ete.) e Suas expectativas em relagaio ao futuro, varidveis a a Bae (ae bens culturais e motivagio vém insinuando uma outra forma See are eee ee (...) Conjugadas com as varidveis mais se a . HAE, SeXO © escolarizacao, essas vari4veis mais refinadas Permitem detectar tendéncias divergentes no interi i jor da mesma comunidade de fala. (...) Revela-se, portant: i ace eee '0, estreita correlaco entre a complexidade social e os (PAIVA & SCHERRE, 1999, p, 220-21) Algurr c fatores eautili que os identit conse nas n e co Bras emr sitiv tem mis tati pai 2 31 Relevancia das variaveis nao linguisticas Algumas consideragées Como podemos vincular as questes linguisticas sucintamente expostas com fatores e barreiras de exclusiio e mobilidade social? A apropriagio da cultura letrada eautilizagao adequada de recursos linguisticos sao suficientes para indicar o espago que os individuos ocupam na escala social e/ou determinar mobilidade social? Se ha davidas quanto a alguns dos indicadores aqui mencionados como identificadores ¢ determinadores de status social, h4 outros sobre os quais ha consenso absoluto e que ja so de senso comum. A fome, condigdes subuma- has no que se refere A habitacdo, satide, educagio so barreiras intransponiveis € constituem impedimentos aos individuos a cidadania plena. Sabemos que 0 Brasil convive com esses agentes em diferentes graus a depender da localidade em nosso territério. Segundo o ultimo Censo, os indicadores sociais apresentam-se mais po- sitivos. No entanto, a concentragiio populacional nos grandes centros urbanos tem concorrido para que um grande universo de pessoas mantenha-se na linha da miséria, embora os indices apontem melhoria para os brasileiros quanto a expec- tativa de vida, renda, satide e escolaridade. Contudo, isso nao tem sido suficiente para promover distribuicao mais justa de riqueza no pais, para diminuir a violéncia € a mortalidade infantil, para melhorar a qualidade de nosso ensino. UFrKrb - VAG | BIBLIOTECA

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