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VII Transferencia e introjectio I. ATNTROJEGAO NA NEUROSE “A. aptidao dos neursticas para produzir sintomas néo é inter- rompida, em absoluto, pelo -ratamento analitico; ela se exerce pela criago de grupos de ideias de um tigo particular, em sua maioria inconscientes, que se pode designar pelo nome de transferéncias [Ubertragungen.” “© que sio essas transferéncias? So reedigSes, reprodugbes de tendéncias e de fantasias que a progressao da andlise desperta e deve tornar conscientes, e que se caracterizam pela substituicao de ‘pessoas outrore importantes pela pessoa do médico.” E nesies termos que Freud, em sua magistral histéria de um caso de histeria, expos uma de suas mais importantes descobertas'. ‘Todos aqueles que, desde entdo, seguindo o caminho tragado por Freud, tenfaram penetrar pela anilise 0 universo psiquico dos neuréticos, tiveram que admitir a corregio dessa observagio. As principais dificuldades da andlise provém precisamente dessa parti- ‘cularidade dos neurdticos, “a de transferir seus sentimentos refor- ‘gados por afetos inconscieates para a pessoa cdo médico, furtan- do-se assim ao conhecimerto de seu prdprio inconsciente”* “L Breud, Sammon Aeiner Scrifen zur Neursentore, I” volume, Deuticke, ‘Viena, 1906 "Forever Altua- und Psychonowrese, [Das neuroses as © das psito- neuroses) “WererKlinsche Rundschau’, 198, 88 oneas conterenas Masa medica que nos familasizamos cada vez mais com o psi- quismo do neurético, constatamos que essa tendéncia para a trans- feréncia por parte dos psiconeuréticos néo se manifesta apenas no mbito de uma psicanalise, nem unicamente em relagéo ao médico; muito mais do que isso, a tansferéncia apresenta-se como xm meca- nism psiquico caracteristco da neurose em gera, que se menifesta em ‘odas as creunstincias da vida e abrange a maior parte das manifesia- ses mérbicias, ‘A exoorigncia adquirida nos mostra o desperdicio aparente- mente gratuito dos afetos nos neursticos, o exagero de seu dio, de seu amor ou de sua compaixéo, que resultam das transteréncies; sas fantasias inconscientes ligam acontecimentos e pessoas do mo mento a eventos psiquicos ha muito esquecidos, provocando assin © deslocanento de energia afetiva dos complexos de representa- ses inconscientes para as ideias atuais, exagenando sua intensidade afetiva. © “comportamento excessivo” dos histéricos ¢ rruito co- nhecido e suscita os sarcasmos e o desprezo; mas, depois ce Freud, sabemos que esses sarcasmnos deveriam ser enderecados 2 nés, mé~ dicos, porque no reconhecemos a representacio simbdlice prépra da histeria, parecendo analfabetos em face da rica linguegem da histeria, ora qualificando-a de simulagao, ora pretendendo derro- té-la por mneio de denominagées fisiolégicas to grandifcquentes quanto obseuras. Segurdo Freud, 6 a exploragio psicoldgicn dos sintomas ¢ des caracteristcas da histeria que elucida de maneiza notdvel a vida psi quica dos neuréticos. Apurou-se que a tendéncia dos neurdtices pata a imitago, 0 coxtagio pstquico tao frequente nos histéricos, nao sio simples “automatismos’, mas explicam-se por reivindicaghes » desejos inconscientes, rejeitados pela consciéncia e inconfessaveis, © paciente apropria-se dos sintomas e do caréter de uma pesos, com a qual se identijen inconscientemente “com base numa expli- cago causal idéntica”® Essa mesma identificagao histérica explica a sensibilidade bem conhecida dos neuréticos, sua faculdade de se comover intensa- mente com 0 que acontece aas outros, de se colocar no lugar deles, Suas manifestagées impulsives de generosidade e de caridade so 3. Freud, Die raumdeutorg 2 3, Deutcke, Viena, 107 (La Science des Rees Pury A 89 {TRANSFERENCIA EINTROJECAD reagées desses movimentos afetivos inconscientes, portanto, atos Ugustas que cbedecem, em dtima adlse,eopringlplo de eitaglo «lo desprazer: : Te meta pale navenentoie lena uma: tara ou reformista, entre os propagadores de abstinéncia (vegeta tans anaes abtionia)masrpnizaos esta siosas, nas conspiragdes pré ou contra a ordem politica, religiosa ou mor 0 ein pl deroxamento, os euro, en sencias egos (agressas e eras) recledas censuredas, do inconsciente para um plano once eas podem ser vividas sem culpa. TEntretanto, mesmo a simples vida burguesa cotidiana oferece sos neurticos portunidadesconsantes de dsigcamento par um ais licito das tendénias cue sua consciéncia recusa, ‘ m fungdes genitais (coito, part}, to frequi neuro. relagdoente os polos operon do corpo estabelee- “se desde a orimeira infancia, quando a auséncia de toda informa cio eslarecedoa pelos altos sobre os procesos de reprodugdo leva a crane, oj cascades de observa e de, racic j o muito vias, labore suas prépriasteoresientifeando inge- nuamente a absorgao alimentar com a fecundagao e a eliminagso como parto’. Sr aegkctpll gemlmcrenings et tos sintomas histéricos. na boca @ no esOlago: a repugnancia ai- mentar histo vamito histo horror sr bajiodo «sens 80 de uma bola na garganta [globss hystercus} enumerosos distir- Bios neues da mie eda defcaio. A gulodice ds istics, sa tenia para absower prods indigenes ou dfs dedi geri, inclusive nocivos (giz, papel, cabelos, venenos) aatracio pelo "euto proibido” (rutas verdes, alimentes insalubres) a antipatia pe- Jos alimentos preparados em suas casas e o apette pelos pratos vs- tos na mese de outrem,o agrado ou a repugndncia encessivos por alimentos ce uma cere forma, composiga0, cor ou consisténcia _— quesca soto pase Wie, o te “pinspo de racer a re a ean. Pca age ote epregde ot Pee a ammlung, 3 Frew, nfl Seaton [Teri inf ca seslidadel Sammlung, leer Schriften zur Newrosenlohre, IL ed, Deutcke, Viens, 90 ‘OBRAS COMPLETAS (idiossincrasia) resultam - as minhas andlises o confirmam — locamento das tendéncias erdticas recalcadas ‘genitals ow cot cas), traduzindo ume insatisfago sexual. Os apetites diversas e in- sélitos das mulheres grévidas, que também podem ser constatados fora da gravidez, no momento das regras, podem explicar-se pela represso de uma libido exacerbada pelo processo biologico, ou seja, por um estado histérico transitério, ©. Gross e Steckel atribuiram 4 mesma orgem 3 lpm sr ou plenamente consciente de, nos exempl of Hegre ct ns ps pein fra Mas a transieréncia € apenas um caso particular da ten- nncia getal dos neurdticos para o deslocamento. Para escapar de certos comglexos penosos, portanto recalcados, sio impelidos, pe- Tesexplcages cause a anaingas ais superfciais, a tester:unhar mentos exe A in ee repulsa, atragao, dio) por pessoas & As condigées de tratamento psicanalitico si cic anestabelecmento de tal traneferencia, Os afeos teenie ele dlos despertam progressivamerte na consciéncia, deparam “em es tado nascente” com a pessoa do médico e tentam relacionar com este suas valéncias quimicas nao saturadas. Para continuar com esta analogia quimica, podemos comparar a psicanilise, na medida em que a transferéncia afdesempenha wn papel, a uma especie de cz = 4 pesoa cdo médico atua af como um catalisadhe que ati wisoriamente os afetos liberndos pela dec sig im Go mantém-se instavel, e uma andlise bem administrada deve en- que mara o fim do processo de recaleamento, Entretanto, o psiquismo tolera mal esses afetos “livrenente Autuantes” desinvestidos do complexo. Freud demonstrou que na neurose de angustia é a retirada da excitagio sexual fisica da esfera psiquica que transforma a excitagao em angistia. Nas psiconeuro- $826, presumimos um proceso andlogo; 6 a retirada de libido psiquica de certos complexes de representaghes 0 que provoca a ansiedade perma- nente, que 0 paciente esforca-se por apaziguar. Ele pode efetivamente converter em sintoma orgénico uma Parte da “quantidade de excitagio” (histeria) ow entao deslocé-la ppara uma idea de caréter compulsivo (neurose obsessiva), ou seja, heutralizar assim a excitagio de forma parcial. Entretanto, parece ue essa neutralizagio nunca é perfeita e que subsiste sempre uma quantidade variével de excitagdo livremente flutuante, centrfuga dirfamos nés (“complexifuga”), que procura entao neutralizar-se nos objetos do munde extemno, F a essa quantidade de excitacao “residual” que se imputard a disposigo dos neurcticos para a tans- feréncia; e nas neuroses sem sintoma permanente de conversao € essa libido insatisfeita, em busce de um objeto, cue explica o son junto do quadro patolégico, Para melhor entender o caréter fundamental do psiquisme dos neurbticos, comparemes seu comportamento com 0 dos dementes 95 TRANSFERENCIA EINTROJECAO vrecoces¢paranoicos, O demente retiraktalmente seu interesse do mun- epee es neo tenta fazer 0 mesmo sem 9 conseguir inteiramente. E incapa tle retiar seu interesse do mundo extemo; por isso contenta-se em recogar ese infereise dose "ego" em projtar no mando exterto Ces deseo e sede (Fret) eazeita econhecerem tem todo o amor, todo odo, que nog ex em si mesino, Em vez e admitirque ama ou gue ode abergsoSentimento de que todo o mundo se preocupa exclusivamente com ele, para persegu ee al Peis enquanto oparanice projta ro exterior as emogSx ge tomaram penesaso nerd prorat ssa pare tn re uit sto do mun er, para ao objeto de fantasisconscientes ou inconscientes Fase proceso, coe Se tau no enter pea Sich dos neuritis & onside doum press dedi, mediante og o neuritic procure ate nu a tonaidade penosa desas aepiragGes "Ivvemente futusn- trates emposs desta Prono ques jet aes inverso da projeclo. me pcurétco xt em perpétua busca de objets de identifica «lo, de transferncia; iso significa que arai tudo o que pode para a Sua esfera de interesses, “introjeta-os”. O paranoico entra a uma busta de bjetos analog, mas para “cola” neles como wl gatmente sec ~albid qe o incomoda essa a origem do car ter oposto do neusticoe do paranico, © neuro intressase por ido, ditbu seu amor ewe dopo mundo inte; o pare noice ensimenma- se €deiconado Sente-eespiado e persue, btiado ou ama pelo mundo todo, O” god urn €patolgin- tentedilatada ao passo que o paranoizo ofr, por assim dae, uma com frag dogo”. Tg ec es Pe mbnnp a ce EE Ne eer Det a coe (As diferengas pslcossexuais entre a histeria ¢ a deméncia precocel, Zentraloltt eaten oro ea — a Se ae aaa ae 96 onnas COMPLETA A hist6ria do desenvolvimento individual do ego — ou ontoge- nese ~, vista através da expeciéncia psicanalitica, nos convencord de que a projecdo paranoica e a introjeco neurstica constittem ap>- nas exageragSes de processos mentais cujos elementos se encon- tram em todo homem “normal’” Pode-se pensar que o recém-nascido experimenta todas as cci- sas de maneira morista, quer se trate de um estimulo extero ou de um processo psiquico. S6 mais tarde a crianga aprender a conhecor a “malicia das coisas”, aquelas que sao inacessiveis a intrespecgio, ebeldes & vontade, a0 passo que outras ficam & sua disposi¢ao e submetidas & sua vontade. © monismo converte-se em dualismo, Quando a erianga exclui os “objetos” da massa de suas percepedes, até ento unitérias, para formar com eles o mundo externo ¢, pela pri- meira vez, opde-lhes 0 “egc” que The pertence mais dirclaments; quando distingue, pela primeira vez, 0 percebido objetivo (Empfind. ng) do vivenciacio subjetivo (Gefih), esta efetuando, na reaidade,a sua primeira operacio projetiva, a “projoco primitiva’. E se, mais tarde, deseja desembaragar-se dos afetos desagradaveis no modo paranoico, ndo tem necessidade cle um método profundamente novo; assim como cbjetivou outrora uma parte de sia sensorialide- de, expulsaré agora uma part2 maior do ego para o mundo externo, ‘ransformando ainda mais afetos subjetivos em sensagdes objetiv Entretanto, uma parte maior ou menor do mundo extemo nao se deixa expulsar téo facilmente do ego, mas persiste em impor-se, como que por desaio: ama-me ou adeia-me, “combate-me ou ‘meu amigo!”" E 0 ego cede a esse desafio, reabsorve uma parte do mundo externo e a incluird em seu interesse: assim se constitui a primeira introjecio, a “introjegio primitiva”.O primeiro amor, o pri- meiro 6dic, realizam-se gragas & transferéncia: uma parte das sen- sagdes de prazer ou de desprazer, autoerdticas na origem, desloca- ‘se para os abjetos que as susei:aram. No inicio, a crianga s6 gosta da saciedade, porque el aplaca a fome que a tortura ~ depois acaba gostando também da mée, esse objeto que Ihe proporciona a sacic- dade. O primeiro amor objets, 0 primeiro dio objetal constituem, portanto, araiz, 0 modelo de toda transferéncia posterior, que nao & porconseguinte, uma carac:erfstica da neurose, mas a exazeracio de um processo mertal normal. 111. Wagner, O crepscad dos dense, Ato {RANSFERENCIA £INTROJECAD ” ‘As descobertas de Freud no demifnio da psicopatologia da vida cotidiana, até entao praticarnente virgem, demonstraram que os rnossos atos falhos, esquecimentos chamados “distragdes”, agoes de- ssajeitadas, lapsus lingua e lapsus calami, 86 se explicam pela hip6te- se da manutengao em atividade no adulto em estado vigil dos pro- cessas de deslocamento dos afetos™. Jé expes em outro lugar" 0 papel considerdvel, até dominante, que esses pracessos desempe- hnham no sono; mas Frecd também demonstrou como a visdo poli- tica e religiosa que os homens alimentam em relagio ao universo, as superstigoes tao generalizadas, até a metafisica dos fil6sofos, si0 metapsicologia pura: uma projegdo de sensacdes e de sentimentos no mundo externo. A mitologia, na qual 0 antropomorfismo de sempenha um papel téo grande, apresenta-se na analise como uma combinagio dos processos de intrcjecéo e de projecao. A obra espi- ritual de Kleinpaul sobre a origem 2 evolucio da linguagem", men- cionada por Abraham’, mostra amplamente em que grau de perfei- Gio o homem representa o conjunto do mundo, sonoro e insonoro, pelos processos do “ego”, explorando toda a gama de projegdes introjegdes. A maneira como a linguagem humana identifica uma série de sons e ruidos orginicos com tal ou qual objeto, sob 0 pre- texto de analogia actstica mais superficial, da “explicagao causal” mais minima, recorda vivamente o mecanismo precério da transie- vncia neurética ‘A histéria da vida psiquica individual, a formagio da lingua- ‘gem, 08 atos falhos da vida cotidiana, a mito.ogia, examinaclos sob tse angulo, podem refarcar a nossa convicgio de que o neurético percorre os mesmos caminhos dc individuo normal quando tenta ‘itenuar seus afetos flutuantes pela extensio de sua esfera de inte tresses, pela introjecao, portanto, quando espalha suas emagdes por todo tipo de objetos que pouca ne interessam, para deixar no inconsciente suas cmiogies vinculadas a certs objetos cue De interessam demas. “Efe Zur Pachiogises agcre Pkmptg da aos, Koger eri, 190. ee 1. erenca, Li postal Dick W, Badepeste, 1. Kkopnl Ba Ite dr Sc (A a ngage W. Foi Leipeg 10" Na tect cm, Prenlcauma aba cb do mesmo autor, that Sgt ae Sepche (T)] 3 Aa, Tu wd tes [Senko e mo}, Det, Viena 1808. ho ances em Osan, Tao Tat Fass) 98 ‘oBRaS cOMPLETAS Com fequéncis, a andlise consegue até restabelecer a ga dessa amplagio di esfera dos interests negatvon ou posits ‘Uma de minhas pacientes, ao ler um romance, lembrara-se de acon tecimentossexuais infantis; seguiu-se uma fobia de romances, fobia essa logo estendida a todos os livros e, mais tarde, a toco papel im- presso. Foi a luta contra a sua tendéncia pare a masturbagso que provocou em um ce meus pacientes uma fobia das privadas, locals onde costumava se entregar & sua paixao; mais tarde, esat fobie ampliou-se, convertendo-se en claustrofobia: pavor dos lugares fe- chados em geral. Pude demonstrar que muitos casos de impaténcia de origem psiquica estavam condicionados por um temeroso res. peito em relacao as mulheres, correspondente a resisténeia outrora posta a eszolha de objeto incestuoso (mie au irma, depok A ex. tensao desse modo de defesa s todas as mulheres. O prazer respei- to exercem sobre a sugestionabilidade. Esse ponto nao podia passar despercebido, por certo, aos olhos de experimentadores e abserva~ dores conscienciosos. Entretanto, cles ignoram dois fatos de que somente a psicandlise péde convencer-me. Em primeiro lugar, que esses afet9s, o respeito e a simpatia, predominantemente incons- cientes, desempenham o papel principal na produgao da irfluéncia sugestiva; em seguida, que esses aftos sZo, emt itima andlise, as mani Jfestagies de instintos libidinais, ert sua maioriatransferidos do complezo de representacdes da velagto pats-flho(a) para a relagto médico-pacteme. Em outras palavras, sabia-se bem que a simpatia ou a antipatia en- tre o hipnatizador ¢ 0 pacierte infiuenciavam consideravelmente 0 resultado da experiéneia, mes ignorava-se que esses chamatios sen~ ‘timentos de “simpatia” ou de “antipatia” so combinagdes psiquicas complexas que a psicanslise. precisamente, pode reduzir 20s seus ‘componentes. A andlise permite isolar os elementos de base que sio as aspiragdes primérias libidinais de satisfaco de desejos em {que os fenmenos complexos da sugestionabilidace tém sua origem. Na camada mais profurda do psiquismo, assim como no co: ‘mego do cesenvoly:mento mental, reina o prine‘pio de desprazer, 23, Fetene, em 181), fala de “principio de desprazer” nde, em nossos dies, lagamos do “principio de prazer”. (NTE) [TRANSFERENCIA EINTROJECAO 107 «© desejo de satisfagZo motora imediata da libido. & a camada (9 es~ tagio) “autoerstica”. O edulto nao tem mais acesso diteto, por via de reproducio, a essa camada de seu psiquismo; nés mesmos $6 podemos deduzir sua exsténcia a partir dos sintomas. O que pode ser imediatamente evocado pertence em geral & camada (ao esté- io) do amor objetal, e os primeitos objetos de amor so os pais. Portanto, tudo Teva a pensar que fodo semtimerto de simpatia’ se sefere a wma psigio sexual” inconsciente e, quando duas pessoas s2 en contram, sejam elas do mesmo sero ou de sexos opostos, 0 incons- ciente tentard sempre uma transferéncia, ("O inconsciente ignora a negagio, 0 ‘nao’; “o irconsciente sé sabe desejar”, diz Freud.) E se 0 inconsciente consegue fazer com que a transferéncia seja acei- ta pelo consciente ~ abertamente sob forma sexual (erética) ou en- tio sublimada, disfarcaca (respeito, gratidao, amizade, apreciago cstética) ~ resulta dai um sentimento de simpatia, Se a censura que vigia no limiar da conscééncia responde negativamente as tendén- cias sempre positivas do inconsciente, s40 pessiveis todos os graus cle antipatia, até a aversio e a repulsa. fato de que os sentimentos de antipatia e de repulsa com- péem-se de gozo, sofrimento, prezet e desprazer, é bem ilustrado pelo caso de uma de minhas pacientes de inteligencia supezios, que sofria de um delitio de citime paranoico. Apurou-se que a fonte de sua doenga era a homossexualidade infantil transferida outrora de sua mB para as suas babés, depois para as suas amigas, e que foi inuito ativa. As decepgGes do casamento fizeram refluir a libido para a via infantil; mas, nesse meio-tempo, esse modo de satisfagio da sextialidade tornara-se intolerdvel para a paciente, e por isso proje- lou essas tendéncias em seu marido, muito amado até entdo, acu- sando-o de infidelidade, Mas, fato extraordinario, ela 96 suspeitava de menininhas de 12-13 anos ou de mulheres velhas e feias, em ge- ral empregadas domésticas repugnantes. Quando podia admitir seu amor sob uma forma svblimada (amizade, prazer estético) — como no caso de mulheres jovens e belas, e de seu meio —, ela manifesta- ‘va uma viva simpatia e ro experimentava nenhum citime, E prova- vyelmente por motives psicoldgicos semethantes que a mistura de spostos agucarados e amargos nos parece enjoativa; a idiossinerasia para alimentos ou bebidas de ume certa cor ou de wma certa consis- {éncia é uma reagio provocada por desejos recalcados, geralmente ligados & coprofiia e a urofilia. Quando a vista de objetos“repugnantes” 18 nas ConPuenis desencadeie @ vontade de cuspir ow de vomitar, iso é apenas uma reagie ao deseo inconsciente de meter esses obetos na boca. Recordese de que a crianga pequena leva a boca todos os objetos sem discerr:mento, Uma ilustragao clissica em apoio do fato de que a “posicao se- xual” manifesta-se em relagio a todo o mundo € fomnecida pelo caso de Dora, a pacente de Freud, que ele descreve em seu artigo Fragmentos de uma andlise de histeria”. Essa andlise - no tormi- nada ~ mostrou que nenhum membro de seu meio permaneceu in- diferente a sexualidede de Dora. O casal K,, amigos da familia (tan too maride como a mulher), a governanta, 0 irmao, 0 pai: tcdos ex. cavalos ‘num menino de 5 anos, que Freud ligou a uma identificagio do ca- valo com o pai, 6 igualmente flagrante ~ Jahrbuch f. Psychoanalyse, volume I.) Quis mostrar equi que o médium sente pelo hipnotizador um amor inconsciente e que a tendéncia para essa forma décil de amor aprende-e no quarto das crianeas, Quero ainda assinalar que um sentimento amorose natural Pode igualmente dar origem a fenémenos psiquicos que recordam a hipnose. No famoso processo Czinsky, os mais célebres ospecia listas foram incapazes de decidir se a baronesa, que foi a heroina co aso, tinha agido scb o efeito de uma cegueira amorosa ou de ura influéncia hipnética. A maio: parte dos homossexuais que contam sua vida irsinua que o primero pareeiro masculino com quem tive- sam relagGes os hipaotizou ou influenciou pelo olhar. Naturalmer~ te, vetifica-se depois que essas fantasias de hipnose so meras ten- tativas de se desculparem. Contentar-me-2i com es:as observagbes e nao quero levar mais adiante a analogia entre 0 estado amoroso eo estado de hipnose para no suscitar a impressao errdnea de que a minha atitude cor 33, erence refere-s a um dos eases clissioos de Freud, a anise de Poquen > Hians, “Analyse der Photie eines finahrigen Knaben” [Anslse de uma bie nat ‘mening de 8 anos), Gesanmeite Scr, Viena, vol. 8 (Welume 10 da Edipdo Star. ‘ard Brasileira cas Obras Psiolgicas Competas de Sigmund Freud, Image Ria do Janeiro, 20069. (N. do) : Jo inj o banal. Apoio- ee alc ee slesta hipétese tendem todos para um mesmo ponto, isso no cons- Iitui um desmentido, oe indiscutivel ponto fraco destas consideragdes € © pequeno nimora de sno ebeenadom Mas da natura do trabaltio pica halitco que a investigngéo ern profundidade venha substituir os da- «ls esttistices.A explorago minvciosa de casos poueo numeros05, « eoncordncia dos resutados e sua comparago com 0 material ‘onsiderdvel da psicandlise justficam amplamente uma modificagao as nossa atuaisconcopgoes sobre ahipnoseeasugestio, Segundo noon conse a xpi a hiose correspon cviagdoarifil de coats em que tend versal geralmente reed) pars obediocia cag ea confiaea incondiciona,sorec- vncia do amor edo dio ie etic pels pais ¢ trnserida do pplexo parental para a pessoa do hipmstizador ou do sugestionador.

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