Você está na página 1de 11
PORTUGUES Crénica de D. Joao | Capitulo 11- “ Do alvorogo que foi na cidade cuidando que matavom o Meestre, e como ald foi Alvoro Paaez e muitas gentes com ele” ‘Assunto do capitulo: Neste capitulo, Feméo Lopes narra a forma como o povo de Lisboa, reage aos apelos do Pajem e de Alvaro Pais para que socorressem o Mestre, pois estavam-no a matar nos Pagos da Rainha. D. Constanga D. Inés D. Teresa Lourenco D. Leonor Teles 4 Pretenders a ono orupute ee i as B commento 1| is seg ran | teins cme esemene ps : 3 ‘© pov chega a0 Paco e mostra-se € plneleinvedio, € o momento Convencid pels ave o rodeam, 0 ah ese jane e mest: | sess go Adamacto | unbasasase | PO is ocelescamado (© Mestre sai do Pago e comenczo 5 Povo ese tase» cidade «| POM diige-se 90 Paro do Almirante Divisdo da crénica em partes: 1.* Parte - O Pajem sai dos Pagos da Rainha, gritando pelas ruas de Lisboa que tinham morto o Mestre. 2.4 Parte — O povo sai a rua juntamente com Alvaro Pais para socorrer o Mestre. 3.* Parte — A furia do povo, agora em multidao, cresce e ele quer saber noticias do Mestre. 4.* Parte — O Mestre acede aos apelos dos seus partidarios e surge a uma janela do Pago, acalmando o povo. Desenvolvimento do capitulo: 1.8 Parte (Il. 1-8) pelo / Convocacao ‘* © Pajem do Mestre grita repetidamente pela cidade que querem matar D. Joao, informando e incentivando 0 povo (com o boato que langa), dando, assim, inicio a um plano politico previamente definido, cujo objetivo é a criagéo de uma atmosfera favoravel a aclamagéo daquele como rei de Portugal. * O plano / a estratégia foi delineado pelo Mestre e por Alvaro Pais, com a colaboragao do Pajem, no sentido de intensificar a oposigao popular a Rainha ao conde Andeiro e converté-la em revolta a favor dos intuitos de D. Jodo e dos seus aliados. * Por outro lado, nao restam diividas de que o plano foi previamente combinado, como se comprova pela expressdo “segundo ja era percebido” De facto, o Pajem estava a porta aguardando que o instruissem a iniciar 0 plano e, quando recebe a ordem, parte a cavalo, percorrendo as ruas a galope, gritando que acudam ao Mestre, pois querem assassiné-lo. © Conclusao: anunciar o perigo que D. Jodo corre, para levar a populagao de Lisboa a apoid-lo. 2 Parte (IL 16) - Movimentagao e concentragao © Ao escutarem os gritos do Pajem, o povo sai a rua, para ver o que se passava, de seguida as pessoas comegaram a dialogar umas com as outras ficando revoltadas com o boato langado, sobre o qual néo refletem minimamente, e comegam a pegar em armas (armas de trabalho), 0 mais rapido possivel, para irem acudir o mestre. « Alvaro Pais, prestes e armado, desempenha o seu papel: junta-se aos seus aliados e ao Pajem e cavalga pelas ruas, gritando ao povo que acuda ao Mestre. Soam vozes pela cidade que matam o Mestre e 0 povo dirige-se, armado e apressadamente, para 0 local onde ele se encontra, para o defenderem e salvarem. © povo concentra-se numa grande multidéo nao cabendo pelas ruas principais e atravessando lugares escondidos, desejando cada um ser 0 primeiro a chegar ao Pago. Enquanto se desloca para la, questiona-se quem desejara matar o Mestre e varias vozes anénimas apontam o nome do conde Jodo Fernandes, por mandado da Rainha D. Leonor Teles. O clima de agitagao e excitagao do Povo foi preparado cuidadosamente e estava assim atingido o ponto pretendido. Parte (\I, 17 a 41) — Manifestacao © povo, unido em defesa do Mestre e com o sentimento de vinganca, inquieta-se e enfurece-se diante das portas cerradas do Pago. Perante afirmagées de que o Mestre tinha sido morto, sdo sugeridas diversas agées tendentes a forgar a entrada no Pago: arrombar as portas cerradas, langar fogo ao edificio para queimar 0 conde e a Rainha, escalar os muros com escadas. Gera-se uma grande confusdo e o povo nao se entende acerca da atitude a adotar, enquanto varias mulheres transportam feixes de lenha e carqueja para queimar os muros dos Pagos e a Rainha, a quem dirigem muitos insultos. Dos Pacos, varios bradam que o Mestre esta vivo e 0 conde Andeiro morto, mas a “arraia mitida’ (0 povo) nao acredita e quer provas concretas, isto é, vé-lo. Receando que 0 povo, devido a sua fliria e ao desejo de vinganga, invada o palacio, os partidarios do mestre pedem para que D. Jodo | se mostre perante 0 povo descontrolado. Parte (\I, 42 a 55) — Aclamag: © Mestre mostra-se a uma grande janela e fala ao povo, que fica extremamente emocionado / perturbado ao constatar que esta efetivamente vivo e 0 conde morto, quando muitos acreditavam ja no contrario, Essa fala tem como finalidade tranquilizar 0 povo e dar-Ihe esperanga, mostrando-se seu aliado (a apéstrofe “Amigos..."). Nesta fase do texto, é apresentado uma imagem muito negativa de D. Leonor Teles, vista popularmente como infiel e traidora, chegando a ser acusada pela morte de D. Fernando. O narrador nao deixa grandes dividas: se a populagdo tivesse entrado no Pago, teria assassinado a Rainha. Caracterizacao dos atores/personagens: \tores/personagens individuais: Pajem, caracteriza-se como: > Obediente e convincente, pois obedece a estratégia delineada pelo Mestre elas suas palavras convictas, convence o povo de que matam o mestre, 0 Alvaro Pais, caracteriza-se como: > Inteligente, visto que aproveitou 0 édio do povo em relagao a rainha, ambicioso e manipulador, pois foi astuto e usou uma estratégia de publicidade para atingir os seus fins, esta que teve éxito. O Mestre de Avis, caracteriza-se como sendo: > Querido para com o povo, que o apoia politicamente e vé como garantia da independéncia nacional, > Humano, ponderado, refletivo e dialogante, nao obstante a impulsividade revelada com 0 entusiasmo de ir salvar 0 bispo de Lisboa quando Ihe anunciam que a se preparam para o matar; > Protegido por identidades divinas, como se pode comprovar por expressées textuais que mostram a crenga do povo de que tinha tido a protegao divina, dado ter sobrevivido ao suposto atentado: “E per vontade de Deos"; "Bento seja Deos que vos guardou de tamanha traigom”; > Carismatico e populista (mostra-se a populagao para obter 0 seu apoio); > Uma personagem dual: é amigo do povo e seu heréi, mas revela alguma fraqueza e incapacidade para tomar decisées autonomamente, dependendo da opiniao dos seus conselheiros. \tor/personagem coletiva: Povo, personagem principal 6 uma personagem coletiva dado que partilha um conjunto de caracteristicas comuns (lisboetas e patriotas) e um objetivo comum {apoiar o Mestre), agindo como um todo, coletivamente. Caracteriza-se como: > Curioso (“As gentes que esto ouviam saiam aa rua para ver que cousa era > Indignado, revoltado, vingativo e agressivo ("poerem fogo aos paagos e queimar 0 treedor e a aleivosa’); > Determinado e preocupado ("correndo a pressa’ primeiro"); > Empenhado na defesa do Mestre; > Unido — age como um todo e acorre aos Pagos para acudir ao Mestre ("todos feitos dum coragom, com talente de o vingar’): traziam lenha, queriam carqueja para langar 0 fogo ao Pago ou uma escada para verem o que se passava dentro; Agitado e desorientado, préprio de quem age sem pensar; > Desconfiado; "desejando cada um de seer 0 > Aliviado e alegre; > Poderoso (“nao Ihes poderiam depois tolher de fazer 0 que quisessem’; “E sem divida, se eles entraram dentro, nom se escusara a rainha de morte, e fora maravilha quantos eram da sua parte e do conde poderem escapar’) ~Personagens referidas: Rainha D. Leonor Teles: 0 narrador coloca, estrategicamente, na boca do povo a acusagao de que é uma traidora e infiel, chegando a ser acusada da morte de D. Femando. Por vezes, em alguns estratos, o Mestre e D.Pedro Papel das personagens: > Pajem dos Mestre: comunicar ao povo que tinham morto o Mestre > Alvaro Pais: Responsavel pela organizacao do alvorogo > Povo: Socorrer e apoiar o mestre Estilo de Ferndo Lopes > O narrador vai alternando entre o discurso direto e indireto ao longo da narragao, conferindo dramatismo/vivacidade/dinamismo e veracidade ao que é narrado, uma vez que que através do discurso direto temos acesso as “falas reais" dos intervenientes. > O povo esta francamente unido numa causa comum, salvar o Mestre. Haveria um plano dinamizado pelas personagens individuais, ou seja, uma cilada para fazer crer que matavam o Mestre, tendo certeza de que 0 povo socorreria ao pago da rainha, para acudir e defender o Mestre. Recursos expressivos Ironia popular: "Oh, que mal fez! que matou o traedor"; Comparagao: “assi como vitiva que rei nom tinha, e como se Ihe este ficara em logo de marido, se moverom todos com mao armada, correndo... escusar morte” Esta comparagao sugere a cidade retrada com uma vitiva, por se encontrar desgovernada, desprotegida, uma vez que perderia o seu rei, mas ja se encontrava orientada por um futuro candidato a coroa Metaforas: -"Cada vez se acendia mais": contribui para recriar a tenséo que vai aumentando em volta do Pago; ~"E per voontade de Deos todos feitos de um coragom com talente de o vingar’ sublinha a unio do povo e a comunhao de sentimentos Pleonasmo: “escaadas para sobir acima”: Reforo do efeito visual, imaginar ao ler. Hipérbole: “"e em todo isto era o arroido atam grande que se nom entendiam uns com os outros”: realca o grande alvorogo e o tumulto da multidéo Interrogagées e repetigao: "U matom 0 Meestre? que ¢ do Meestre?’ estas portas?". ‘Quem garrou Apéstrofes: ~“O Senhor, como vos quiserom matar...": acentua o respeito, a veneragdo e a amizade do povo para com o Mestre e 0 alivio pela protegao de Deus o ter livrado da traigao do conde Andeiro. ~"Amigos...": a amizade entre o Mestre e 0 povo. Antitese: “... o Mestre era vivo, e o Conde Joam Fernandez morto. Capitulo 115: “Per que guisa estaca a cidade corregida pera se defender, quando el-Rei de Castela pds cerco sobr’ela” Tépicos de andlise => Neste capitulo, o leitor/ouvinte, a quem o cronista desde logo se dirige («que avees ouvido»), comega por ser convidado a presenciar: > como estava a cidade de Lisboa, quando o rei de Castela a cercou («de que guisa estava a cidade, jazemdo elRei de Castella sobrella»); > como o Mestre de Avis, juntamente com a populagao, preparou a defesa da cidade («per que modo poinha em ssi guarda o Meestre, e as gemtes que d&tro eram, por nom rreceber dano de seus emmiigos»); > 0 esforgo, a valentia, a determinagao que a gente de Lisboa mostrava («fouteza que comtra elles mostravom»). = Continuando a interpelar o leitor/ouvinte («Omde sabee que»), o cronista passa a relatar 0 que foi feito relativamente aos mantimentos (2° pardgrafo), focando depois {a partir do 3° pargrafo) a sua atengao numa outra preocupagao: a defesa da cidade © Relativamente a defesa de Lisboa, a informagao apresentada é bastante detalhada: primeiro fala-se dos muros, depois das torres, chegando-se por fim as portas da cidade e ao rio, Os pormenores descritivos abundam (ha, por exemplo, referéncias ao ntimero de torres, ao ntimero de portas da cidade, ao numero de estacas), bem como os termos técnicos associados ao campo seméntico da guerra (ver 3° e 4° paragrafos). = Mas, a medida que o cronista vai descrevendo 0 que foi feito para proteger a cidade, vai também mostrando os grupos sociais -os atores coletivos -que participaram nestes preparativos. Assim, vemos como os lavradores se recolheram & cidade, como a defesa das muralhas foi entregue aos «fidallgos e gidadados homrrados», aos «homées darmas», aos «mesteiraaes». Até as mulheres tiveram um papel a desempenhar, apanhando pedras e cantando («e as mogas sem nehud medo, apanhamdo pedra pellas herdades, camtavom altas vozes») © A cantiga transcrita ilustra bem o espirito de solidariedade, de entreajuda, de patriotismo e de orgulho que reinava entre as gentes da cidade. Alids, a atitude dessas gentes é varias vezes elogiada pelo narrador («todos rrijamente corriam pera ella», «logo os muros eram cheos, e muita gemte fora», «Nom avia hi nehutis rrevees dos que aviam de vellar, nem tall a que esqueegesse cousa do que Ihe fosse emcomemdado; mas todos muito prestes a fazer o que Ihe mamdavom, de guisa que a todo boom rregimemto que o Meestre hordenava»). E, assim, evidente a afirmagao da consciéncia coletiva, uma consciéncia pela defesa da cidade contra © inimigo. <2 Mas nao sao sé as gentes da cidade que tém um comportamento digno de louvor. Também o Mestre de Avis — ator individual — merece uma caracterizagao favoravel, destacando-se a sua diligéncia e determinagao, bem como todo o apoio que deu a populagao («E hordenou o Mestre com as gemtes da cidade, que fosse rrepartida a guarda dos muros», «ho Meestre que sobre todos tinha especiall cuidado da guarda e governamca da cidade, damdo seu corpo a mui breve sono», «boom rregimemto que o Mestre hordenava»). Linguagem e estilo: + Registo coloquial -evidente nos apelos ao leitor/ouvinte e no uso da 2.a pessoa do plural; a transcrigo da cantiga, ao reproduzir uma linguagem popular e carregada de insinuagées, contribui também para o tom coloquial + Descrigao viva e dinamica -os preparativos de defesa sao apresentados com mindcia, recorrendo a pormenores (quantificagao), a vocabulario técnico e a recursos expressivos, como a enumeragao («forom feitos fortes caramanchodes de madeira, os quaaes eram bem fornegidos descudos ¢ lamgas e dardos e beestas de torno») e a adjetivagdo («gramde e poderoso gerco», «fortes caramanchées», «Oo que fremosa cousa», «tam alto e poderoso senhor», «tam fremoso cerco»). Capitulo 148-“Das tribulagdes que Lixboa padecia per mingua de mantiimentos” 1? parte: Assunto do capitulo: Este capitulo, ocupa-se dos tempos de sofrimento da populagao de Lisboa, sujeita ao cerco castelhano. As privagées que ele provoca sao, descritas de forma pormenorizada, salientando-se os varios aspetos do sacrificio a que 0 referido cerco obriga: a escassez de alimentos e 0 seu prego elevade, a falta de esmolas, 0 recurso a produtos de baixa qualidade, etc. E, contudo, sempre que o inimigo ameagava era visivel o esforgo coletivo para superar as dificuldades. 1° Paragrafo: Os mantimentos existentes na cidade gastavam-se cada vez mais depressa, tornando-se escassos, devido ao facto de o numero de habitantes da cidade aumentar cada vez mais, porque a ela se recolheu muita gente (Ia estavam os habitantes de Lisboa, pessoas que vieram dos arredores, familias inteiras e os que vieram numa frota do Porto para socorrer a capital) Durante a noite, os cercados embarcavam em batéis em busca de trigo atravessando de noite, as escuras e clandestinamente para as partes do Ribatejo para abastecer a cidade, correndo enorme perigo, pois possivelmente seriam atacados pelos castelhanos. 2° Paragrafo: Os da cidade, logo que ouviam os sinos tocar saiam para socorrer as galés. Esta recolha de mantimentos obedece, aparentemente, a um plano prévio, dado que parece existir uma partilha de tarefas e fungées distribuidas: ha aqueles que vao recolher mantimentos que j4 estavam prontos ("... ali carregavom de trigo que ja achavom prestes, per recados que ante mandavom..."), através do Rio Tejo; ha sinais combinados para alertar para os perigos, nomeadamente os decorrentes da presenga dos castelhanos, etc.: “ali carregavom"; “Os que esperavam...”; “. repicavom logo por the acorrerem."; *... aguardando quando veesse, ¢ os que velavom, se viiam as galees remar contra /a, repicavom logo por Ihe acorrerem, Apenas uma vez as galés foram tomadas, gracas a dentincia de um “homem natural d'Almadaa’, cujo castigo pela traigdo foi terrivel: “el foi depois tomado e preso e arrastado, e decepado e enforcado.” 3° Paragrafo: Com o aumento da fome na cidade, as esmolas para os pobres deixaram de existir pelo que houve a necessidade de expulsar os deficientes, os incapazes para a defesa, as prostitutas e os judeus,, pois consumiam os mantimentos aos defensores. 4° Paragrafo: Inicialmente, os castelhanos receberam bem as pessoas expulsas da cidade, mas, quando perceberam que Lisboa beneficiava com isso, dado que haveria menos pessoas para alimentar, mandaram-nas regressar. Todos os que se recusassem a partir seriam agoitados e obrigados a retornar para a cidade. O seu desespero era total, pois certamente nao seriam acolhidos de volta, nomeadamente aqueles que tinham saido voluntariamente, j4 que preferiam ser prisioneiros dos castelhanos do que morrer a fome. Resisténcia da populacdo: Apesar do povo se encontrar faminto e esgotado, as pessoas sao solidarias umas com os outras e corajosas contra os castelhanos, continuando a manifestar uma identidade coletiva que as une num propésito comum, Recursos expressivos: Disfemismo: “deitar fora as gentes minguadas” Capitulo 148-2? parte Fome da populagao: caréncia de pao e came (desde "Na cidade nom havia triigo..." até "...tam presentes tinham?"). Na cidade j4 nao havia trigo e o que havia era alto e exagerado, dada a sua escassez. As pessoas estavam a sofrer e a viver maus tempos, trocando alimentos essenciais por alimentos prejudiciais a satide. O povo & comparado a galinhas, pois tal como as galinhas esgravatam a terra a procura de milho, também as pessoas, levadas pelo desespero da fome, remexiam a terra em busca de algum, grdo perdido. a) O drama dos que padecem: -a animalizagao das pessoas, que procuram desesperadamente comida no chao; -a morte; -0s peditérios: as criangas mendigam pela cidade, pedindo comida; -a falta de leite das maes. b) O drama dos que morrem: -a morte provocada pela ingestao de determinados alimentos e de agua; -a morte provocada pela fome Mais uma vez, a cidade é apresentada como uma personagem coletiva, um ser 86: “Toda a cidade era dada a nojo” (isto é, toda a cidade softia, tanto os pobres como os ricos ~ “grandes pessoas da cidade"). Assim, Lisboa é apresentada como um grande corpo coletivo que sofre. © povo de Lisboa - personagem coletiva (sente e age como um sé) comportamentos e sentimentos diversificados, que evidenciam o agravamento da miséria e do estado animico, Capitulo 148-3? parte De facto, apesar de famintos e extenuados, so solidarios uns com os outros e corajosos contra os castelhanos, continuando a manifestar uma identidade coletiva que os une num propésito comum. Resisténcia da populagao: 0 patriotismo e a solidariedade da populagao - apesar da situagao extrema de pentiria e de desespero, do ambiente de tristeza e de conflitos ocasionais banais, sempre que os sinos repicam, todos se aprestam para enfrentar o inimigo castelhano; por outro lado, consolam-se uns aos outros naquele momento de infortinio. A populagao reza, devota e desesperadamente, pedindo a Deus que a ajude, mas, vendo que as suas preces nao sao atendidas e que a sua dor é cada vez maior, chega a pedir a morte. A incapacidade do Mestre resolver a situagao (desde “Sabia, porém...” até rumor do povo.”) © Mestre e os seus, sabendo que nada podem fazer, sentem-se impotentes e ignoram os lamentos da populagao. Neste passo, aparentemente Fernéo Lopes critica a agdo de D. Joao e do seu Conselho, dado que “garravom suas orelhas do rumor do poboo’, parecendo assim o cronista cumprir a imparcialidade e a neutralidade enunciadas no “Prélogo” a crénica. desespero da populacao (desde "Como nom quereis...” até “... per duas guisas.”) — dois inimigos: a fome ¢ 0 rei de Castela levam ao desejo de morte. Femdo Lopes congratula os que viverdo no futuro, porque ndo passardo pelos sofrimentos que Lisboa tem de passar durante o cerco. Marcas do estilo de Fernao Lopes: » 0 sentido coloquial: * por isso, falamos de maneira rdpida, espontanea, descontraida, popular regional com o intuito de interagir com as pessoas, uso da segunda pessoa do plural: "ouvistes", "esguardae"; * uso da interrogagao retérica: "Como nom querees que maldissessem sa vida e desejassem morrer... da vida aa morte?"; "veede que fariam aquelles que as continuadamente tam presentes tinham?"; “Pera que é dizer mais de taes falecimentos?”; © uso da exclamagao: "Oo quantas vezes... néo eram compridas!"; Recursos Expressivos Personificagées “as pubricas esmolas comegarom desfalecer’. Pleonasmos: “colherom dentro"; “deitar fora"; “langarem fora’, “os a morte privasse da vida" Metaforas: “rogavam a morte que os levasse"; “cerravom suas orelhas do rumor do povo."; “padeciam duas grandes guerras” (...) sse defender da morte per duas guisas. os habitantes de Lisboa enfrentam duas guerras — a guerra (0 cerco) contra os castelhanos e a fome resultante do cerco — que impedia que se defendessem quer da morte, quer, por falta de forgas, do inimigo; “ondas de tais afligdes?" “Os padres e madres viam estalar de fome os filhos...": explicita a desgraca das criangas, tal como o que estala parte, morre, também as criangas morriam, privadas de alimentos; *... andavom homees e mogos esgaravatando a terra’: a metafora evidencia o desespero das pessoas por causa da fome. Tal como as galinhas esgaravatam a terra em busca dos gros de milho, também as pessoas, levadas pelo desespero da fome, remexiam a terra como aquelas a procura de algum grao perdido. Apéstrofe: "Oh, geragom que depois veio, povo bem-aventurado. : "ondas de tais afligdes!”. Eufemismo: “Assim que rogavam a morte que os levasse. morte, pois é preferivel esta aos padecimentos que sofrem — explicita 0 desejo de

Você também pode gostar