Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Report
Report
a
FACULDADE DE FILOSOFIA DOM AURELINO MATOS
CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA
BANCA EXAMINADORA
Primeiramente agradeço a Deus por ter me dado força nos momentos difı́ceis
e por ter me guiado pelo caminho certo nessa fase da minha vida. Sem Ele, nada disso
seria possı́vel.
Agradeço também aos meus pais, Francisca de Paiva Sousa e Benedito Antônio
Gonçalves, por terem sempre me apoiado nas decisões, muitas vezes difı́ceis, que tive
de enfrentar até aqui, além de darem todo suporte que precisei para a efetivação dessa
jornada. À minha irmã Maria Quitéria, meu motivo de alegria em todos os momentos.
Agradeço a todos os professores que contribuı́ram com minha trajetória acadê-
mica, especialmente ao professor Flávio Falcão por, além de orientado, ter realmente
participado deste trabalho, demonstrando dedicação e muito empenho, além de grande
preocupação em sempre me deixar motivado para a efetivação deste trabalho. Manifesto
aqui minha gratidão eterna por compartilhar sua sabedoria, o seu tempo e sua experiência.
Também sou grato ao professor Wanderley de Oliveira pelas oportunidades me dadas
durante o curso, além de grandes ensinamentos e conselhos compartilhados. Obrigado
por acreditarem na minha capacidade.
E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, o
meu muito obrigado.
1
As disciplinas que tratam sobre a Análise Matemática, em grande parte dos cursos de
Licenciatura em Matemática, restringem-se apenas a tópicos inicias do livro “Análise
Real: funções de uma variável” do autor Elon Lages Lima. O estudo dos conceitos que
a análise contém agregam bastante valor na formação do licenciando em matemática,
tanto para aqueles que desejam lecionar na Educação Básica, quanto para aqueles que
queiram seguir carreira acadêmica. Assim, por ser uma disciplina bastante desafiadora,
surge a seguinte problemática: que material didático produzir para os alunos de cursos
de licenciatura em matemática, que potencialize ou agregue nos seus estudos em análise?
Para solucionar esse questionamento, foi adotado como referência principal para este tra-
balho o livro “Curso de Análise” volume 1, também de autoria de Elon Lages Lima, e
além disso, trabalhar o capı́tulo que aborda integrais nesse livro. Este trabalho tem como
objetivo principal, produzir um material didático de Análise Matemática com foco no
conteúdo de Integrais de Riemann e, como objetivos especı́ficos, explorar Integrais de
Riemann com base em livros de análise; apresentar resultados de maneira precisa, a fim
de tornar o conteúdo mais compreensı́vel aos estudantes de análise; indicar, no decorrer
do trabalho, livros em que se encontra grande parte dos resultados usados no decorrer
de algumas demonstrações, tornando claro os passos implı́citos em provas e explicitando
resultados omitidos. Espera-se que esse trabalho seja fonte de muito estudo para os leito-
res interessados em se aprofundar e entender boa parte da teoria de Integrais de Riemann.
The subjects that deal with Mathematical Analysis, in most of the Mathematics Degree
courses, are restricted only to the initial topics of the book “Análise Real: funções de uma
variável” by the author Elon Lages Lima. The study of the concepts that the analysis
contains add a lot of value in the formation of the mathematics licentiate degree student,
both for those who wish to teach in Basic Education, and for those who want to pursue
an academic career. Thus, as it is a very challenging discipline, the following problem
arises: what didactic material to produce for mathematics licentiate degree student, that
enhance or aggregate in their studies under analysis? To solve this question, the book
“Curso de Análise”, volume 1, also authored by Elon Lages Lima, was adopted as the
main reference for this work, and also, the chapter that addresses integrals in that book
for to work. This work has as main objective, to produce a didactic material of Mathema-
tical Analysis focusing on the content of Riemann Integrals. The specific objectives are:
to explore Riemann Integrals based on analysis books; present results in a precise way, in
order to make the content more understandable to students of analysis; indicate, in the
course of the work, books in which is found a large part of the results used in the course
of some demonstrations, making clear the implicit steps in proofs and explaining omitted
results. It is hoped that this work will be a source of much study for readers interested
in deepening and understanding a good part of Riemann’s Integrals theory.
1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2 PRELIMINARES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.1 Conceitos iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.2 Resultados básicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.3 Problemas sobre inf e sup . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
3 INTEGRAL DE RIEMANN . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.1 Integral superior e integral inferior . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.1.1 Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.2 Funções integráveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.2.1 Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
3.3 O Teorema Fundamental do Cálculo . . . . . . . . . . . . . . . . 68
3.3.1 Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
3.4 Fórmulas clássicas do Cálculo Integral . . . . . . . . . . . . . . . 81
3.5 A integral como limites de somas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
3.5.1 Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
3.6 Caracterização de funções integráveis . . . . . . . . . . . . . . . 103
3.6.1 Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
11
1 INTRODUÇÃO
2 PRELIMINARES
Iniciamos com algumas definições úteis para serem consultadas pelo leitor e
citadas no decorrer do trabalho. Vale salientar que nesta seção não hesitamos em abordar
rigorosamente as teorias que antecedem a de Integral de Riemann, pois acreditamos que
nossos leitores já tenham estudado Cálculo e tido um contato com conceitos iniciais de
Análise Real.
Na seção seguinte, tratamos de estudar a teoria da integrabilidade de funções
limitadas. Essa teoria está baseada na aplicabilidade dos conceitos de ı́nfimo e supremo
(que certos tipos de conjuntos de números reais gozam). As definições logo abaixo são
necessárias para introduzirmos as noções de ı́nfimo e supremo, bem como caracterizar os
conjuntos que usufruem desses conceitos.
Observação 2. Se |x| = max{x, −x}, então x ≤ |x| e |x| ≥ −x. A última desigualdade
pode ser escrita como −|x| ≤ x. Assim, temos −|x| ≤ x ≤ |x|, para todo x ∈ R.
Definição 2.14 Um conjunto X ⊂ R diz-se fechado quando X = X, isto é, quando todo
ponto aderente a X pertence a X.
de f no ponto a. Escreveremos
lim sup f (x) = L
x→a
Diremos que f é limitada numa vizinhança de a, quando existir algum δ > 0, tal que a
restrição f |Vδ seja limitada.
ε
para qualquer ε > 0 dado arbitrariamente, basta tomarmos δ = , em que k é a constante
k
de Lipshchitz da função f. Daı́,
ε
x, y ∈ X, |x − y| < ⇒ k · |x − y| < ε ⇒ |f (x) − f (y)| < ε,
k
Lema 2.1 Seja (Iλ )λ∈L uma famı́lia de intervalos abertos, todos contendo o ponto p ∈ R.
[
Então I = Iλ é um intervalo.
λ∈L
Demonstração. Pode ser consultada em Lima (2012), página 167.
Teorema 2.6 Se (Fλ )λ∈L é uma famı́lia qualquer de conjuntos fechados, então a in-
\
terseção F = Fλ é um conjunto fechado.
λ∈L
Demonstração. Pode ser consultada em Lima (2012), página 171.
Teorema 2.12 Seja f limitada numa vizinhança de a. Então existe lim f (x) se, e so-
x→a
mente se, f possui um único valor de aderência no ponto a.
Demonstração. Pode ser consultada em Lima (2012), página 217.
Teorema 2.15 Seja f : X −→ R uma função cujas descontinuidades são todas de pri-
meira espécie. Então o conjunto dos pontos de descontinuidade de f é enumerável.
Demonstração. Pode ser consultada em Lima (2012), página 233.
Corolário 2.1 Se f : I −→ R é derivável num intervalo I, então f 0 não pode ter des-
continuidade de primeira espécie em I.
Demonstração. Pode ser consultada em Lima (2012), página 269.
f (b) − f (a)
f 0 (c) = .
b−a
Problema 2.1 Sejam A, B conjuntos não vazios limitados de números reais. Pondo
A + B = {x + y; x ∈ A, y ∈ B}, tem-se inf(A + B) = inf A + inf B e sup(A + B) =
sup A + sup B.
Demonstração. Inicialmente mostremos que o conjunto A + B é limitado.
De fato, sendo A e B limitados, existem sup A, inf A, sup B e inf B. Segue-se que, para
todo x ∈ A e y ∈ B,
(i) sup A ≥ x e sup B ≥ y;
(ii) inf A ≤ x e inf B ≤ y.
Desta maneira, sup A+sup B ≥ x+y e inf A+inf B ≤ x+y, para qualquer x+y ∈ A+B.
Logo, sup A + sup B é cota superior e inf A + inf B é cota inferior do conjunto A + B e,
consequentemente, A + B é limitado.
Diante disto, existem sup(A+B) e inf(A+B). Afirmamos que sup(A+B) = sup A+sup B
e inf(A + B) = inf A + inf B.
Como já mostramos que sup A + sup B é cota superior e inf A + inf B é cota inferior do
conjunto A + B, a fim de provar o problema, resta-nos mostrar que sup A + sup B é a
menor cota superior e inf A + inf B a maior cota inferior.
Com efeito, dado ε > 0 arbitrário, existem x ∈ A e y ∈ B tais que
ε ε
sup A ≥ x > sup A − e sup B ≥ y > sup B − .
2 2
Somando membro a membro, obtemos
Isto prova que qualquer número real menor que sup A + sup B deixa de ser cota superior
de A + B, ou seja, que sup A + sup B é a menor das cotas superiores de A + B e, portanto,
sup(A + B) = sup A + sup B.
De maneira semelhante, existem x ∈ A e y ∈ B tais que
22
ε ε
inf A ≤ x < inf A + e inf B ≤ y < inf B + ,
2 2
o que implicam em,
Logo, qualquer número real maior que inf A + inf B deixa de ser cota inferior de A + B,
donde, inf A + inf B é a maior das cotas inferiores de A + B e, consequentemente, inf(A +
B) = inf A + inf B. Isto prova o desejado.
Problema 2.2 Seja A um conjunto limitado e não vazio de números reais. Dado c ∈ R,
ponhamos c · A = {c · x; x ∈ A}. Então sup(c · A) = c · sup A e inf(c · A) = c · inf A caso
c > 0. Quando c < 0, tem-se sup(c · A) = c · inf A e inf(c · A) = c · sup A.
Demonstração. Seja c > 0. Para todo x ∈ A temos que
x ≤ sup A ⇒ c · x ≤ c · sup A.
Isto significa que c · sup A é uma cota superior do conjunto c · A. Além disso, dado ε > 0
qualquer, existe x ∈ A tal que
ε
sup A − < x ≤ sup A,
c
x ≥ inf A ⇒ c · x ≥ c · inf A.
Logo c · inf A é uma cota inferior do conjunto c · A. Como dado arbitrariamente ε > 0,
existe um x ∈ A tal que
ε
inf A ≤ x < inf A + ,
c
temos que
c · inf A ≤ c · x < c · inf A + ε.
x ≥ inf A ⇒ c · x ≤ c · inf A.
23
Desta maneira c · inf A é cota superior do conjunto c · A. Ora, dado arbitrariamente ε > 0,
existe x ∈ A tal que
ε
inf A ≤ x ≤ inf A − ,
c
ε
pois − > 0. Segue-se que
c
c · inf A ≥ c · x > c · inf A − ε.
Logo c · inf A é o supremo do conjunto c · A. Por fim, para todo x ∈ A, ainda temos que
x ≤ sup A ⇒ c · x ≥ c · sup A.
Isto significa que c · sup A é cota inferior do conjunto c · A. Assim, dado ε > 0 qualquer,
existe x ∈ A tal que
ε
sup A + < x ≤ sup A,
c
ε
pois < 0. Logo,
c
c · sup A + ε > c · x ≥ c · sup A.
Portanto c·sup A é o ı́nfimo do conjunto c·A e, diante disto, está demonstrado o problema.
Problema 2.3 Sejam A, B conjuntos não vazios de números reais, tais que
x ∈ A, y ∈ B ⇒ x ≤ y.
Prove que sup A ≤ inf B.
Demonstração. Inicialmente notemos que, como A e B são não vazios e, para todo
x ∈ A e todo y ∈ B, tem-se x ≤ y, então os conjuntos A e B são respectivamente
limitados superiormente e inferiormente, donde, existem sup A e inf B. Dessa maneira,
todo y ∈ B é cota superior de A e, consequentemente, sup A ≤ y para todo y ∈ B, pois
sup A é a menor das cotas superiores do conjunto A. Além disso, como sup A ≤ y para
todo y ∈ B, temos que sup A é cota inferior de B. Logo, sup A ≤ inf B, pois inf B é a
maior cota inferior do conjunto B. Isto prova o desejado.
Problema 2.4 Sejam A, B conjuntos não vazios de números reais e limitados superior-
mente. Se para cada x ∈ A, existe um y ∈ B tal que x ≤ y, prove que sup A ≤ sup B.
Demonstração. De fato, pois caso fosse sup A > sup B, pela Definição 2.6, existiria
x ∈ A tal que
sup B < x ≤ sup A.
Isto é um absurdo, pois sup B ≥ y para todo y ∈ B. Logo, deve necessariamente ser
sup A ≤ sup B, conforme o desejado.
Problema 2.5 Sejam A, B conjuntos não vazios de números reais e limitados inferior-
mente. Se para cada y ∈ B, existe um x ∈ A tal que x ≤ y, prove que inf A ≤ inf B.
Demonstração. De maneira semelhante ao problema anterior, supondo que inf A >
inf B, então, pela Definição 2.7, existe y ∈ B tal que
Isto é uma contradição, pois inf A ≤ x para todo x ∈ B. Logo, deve necessariamente ser
inf A ≤ inf B, o que prova o desejado.
Problema 2.6 Sejam A, B conjuntos limitados não vazios de números reais. Suponha-
mos que, para quaisquer x ∈ A e y ∈ B seja x ≤ y. Então sup A = inf B se, e somente
se, para cada ε > 0 existem x ∈ A e y ∈ B tais que y − x < ε.
Demonstração. (⇒) Se sup A = inf B então, dado ε > 0, existe um x ∈ A tal que
ε ε
sup A − < x ≤ sup A ⇒ −x < − sup A +
2 2
e um y ∈ B de modo que
ε
inf B ≤ y < inf B + .
2
Diante disso, temos que
ε ε
y −x <
infB
+ −
sup
A + = ε.
2 2
Portanto y − x < ε.
(⇐) Sabemos que sup A ≤ inf B. Se para cada ε > 0, existem x ∈ A e y ∈ B tais que
y − x < ε, supondo que sup A < inf B e tomando ε = inf B − sup A > 0, então, para
quaisquer x ∈ A e y ∈ B terı́amos
uma contradição, pois contrariaria a hipótese de y − x < ε. Logo, não se pode ter sup A <
inf B e, portanto, tem-se sup A = inf B.
25
Problema 2.7 Seja Y um conjunto não vazio limitado de números reais. Se m = inf Y
e M = sup Y, então, M − m = sup{|x − y|; x, y ∈ Y }.
Demonstração. Sendo A = {|x − y|; x, y ∈ Y }, queremos mostrar que M − m = sup A.
Dados x, y ∈ Y arbitrários, consideremos sem perda de generalidade x − y ≥ 0 (ou seja,
x ≥ y). Assim, como m = inf Y e M = sup Y, temos
m ≤ y ≤ x ≤ M ⇒ −y ≤ −m e x ≤ M,
Logo M − m é uma cota superior de A. Por outro lado, para todo ε > 0, pelo fato de
M = sup Y, podemos encontrar um x ∈ Y tal que
ε
M− <x≤M
2
ε ε
m≤y <m+ ⇒ −y > −m − .
2 2
Segue-se que
ε ε
M − m ≥ |x − y| ≥ x − y = x + (−y) > M − + −m − = (M − m) − ε
2 2
⇒ M − m ≥ |x − y| > (M − m) − ε.
3 INTEGRAL DE RIEMANN
Definição 3.1 Uma partição P do intervalo [a, b] é um subconjunto finito P ⊂ [a, b] tal
que a ∈ P e b ∈ P.
Definição 3.2 Definimos a soma inferior s(f ; P ) e a soma superior S(f ; P ) da função
27
e n
X
S(f ; P ) = M1 · (t1 − t0 ) + · · · + Mn · (tn − tn−1 ) = Mi · (ti − ti−1 ).
i=1
m · (b − a) ≤ s(f ; P ) ≤ S(f ; P ) ≤ M · (b − a)
ou seja,
n
X n
X
m · (ti − ti−1 ) ≤ s(f ; P ) ≤ S(f ; P ) ≤ M · (ti − ti−1 ). (1)
i=1 i=1
Note que,
n
X
m · (ti − ti−1 ) = m · (t1 − t0 ) + · · · + m · (tn − tn−1 )
i=1
= m · (t1 − t0 + t2 − t1 +
.
.. + − tn−2
tn−1
+ tn −
tn−1
)
= m · (−t0 + tn )
= m · (tn − t0 )
= m · (b − a), (2)
Quando f é uma função positiva, as somas s(f ; P ) e S(f ; P ) podem ser re-
presentadas como áreas de polı́gonos, um inscrito e outro circunscrito ao gráfico de f ,
respectivamente. Portanto, também podem ser interpretados como valores aproximados
(por falta e por excesso) da área compreendida entre esse gráfico e o eixo das abcissas,
conforme a Figura 1.
Definição 3.3 Sejam P, Q partições de [a, b]. Quando P ⊂ Q, diz-se que a partição Q
é mais fina do que P.
Teorema 3.1 Seja f : [a, b] −→ R limitada. Quando se refina uma partição P, a soma
29
Desta maneira,
o que acarreta em, S(f, Q) ≤ S(f ; P ). Portanto está provado o caso particular.
O caso geral é uma consequência imediata deste. Como todo refinamento de
uma partição P é gerada a partir do acréscimo de qualquer quantidade finita de n ele-
mentos (n ∈ N), usando indução matemática em n, mostremos que ao refinar a partição
P, a soma inferior não diminui e a soma superior não aumenta, ou seja, que as condições
do teorema sejam satisfeitas.
Com efeito, acrescentando um único elemento à partição P dada arbitrariamente, pelo que
acabamos de mostrar no caso particular, satisfazemos as condições deste teorema. Supo-
nha, como hipótese de indução, que ao acrescentar uma quantidade finita de n elementos
r1 , r2 , . . . , rn à partição P, obtemos uma partição Pn tal que
Independente de quantos pontos são acrescidos para refinar uma partição, sempre se obtém
uma outra acrescentando um ponto. Assim, segue imediatamente do caso particular acima
que, ao acrescentar mais um elemento rn+1 a partição Pn , obtemos uma nova partição
Pn+1 de modo que
Ora, mas isto equivale a dizer que acrescentamos uma quantidade n + 1 de elementos
r1 , r2 , . . . , rn , rn+1 à partição P. Logo, para qualquer refinamento de uma partição P,
ou seja, para qualquer acréscimo n de pontos à P, a soma inferior não diminui e a soma
superior não aumenta. Isto prova o desejado.
Corolário 3.1 Seja f : [a, b] −→ R limitada. Para quaisquer partições P, Q de [a, b],
tem-se s(f ; P ) ≤ S(f ; Q). Em outras palavras, toda soma inferior de f é menor do que
ou igual a qualquer soma superior de f.
Demonstração. Sabemos da Proposição 3.1 que s(f ; P ∪ Q) ≤ S(f ; P ∪ Q). Como
P ⊂ P ∪ Q e Q ⊂ P ∪ Q, pela Definição 3.3, a partição P ∪ Q refina P e Q. Logo, pelo
Teorema 3.1,
m · (b − a) ≤ s(f ; P ) ≤ S(f ; P ) ≤ M · (b − a)
32
Z b Z b
Resta-nos mostrar que m · (b − a) ≤ f (x) dx e f (x) dx ≤ M · (b − a).
a
Z ab
Com efeito, supondo por absurdo que m · (b − a) > f (x) dx, pela propriedade 1, existe
a
uma partição P de [a, b] tal que
Z b
m · (b − a) > f (x) dx ≥ s(f ; P ) ⇒ m · (b − a) > s(f ; P ),
a
o que é uma contradição, pois contraria a Proposição 3.1. Diante disto, temos que
Z b
m · (b − a) ≤ f (x) dx.
a
Z b
De maneira semelhante, supondo por absurdo que f (x) dx > M · (b − a), pela propri-
a
edade 10 chegaremos em uma contradição e, consequentemente, ter-se-á
Z b
f (x) dx ≤ M · (b − a).
a
Z b
nas partições que contém o ponto c, obteremos os mesmos valores para f (x) dx e
a
Z b
f (x) dx.
a
Demonstração. Inicialmente, consideremos os seguintes conjuntos:
σ = {s(f ; P ); P é partição de [a, b]};
σc = {s(f ; P 0 ); P 0 é partição de [a, b] que contém o ponto c};
Σ = {S(f ; P ); P é partição de [a, b]};
Σc = {S(f ; P 0 ); P 0 é partição de [a, b] que contém o ponto c}.
Sendo f limitada, pela Proposição 3.2 temos que
Se (iii) ocorre, pelo fato de d0 = inf Σ, existe uma partição P 0 com S(f ; P 0 ) ∈ Σc tal
que d0 ≤ S(f ; P 0 ) < d. Diante disto, como Σc ⊂ Σ e d > S(f ; P 0 ) ∈ Σ, temos mais um
absurdo, visto que d = inf Σ.
Se (iv) acontece, pelo fato d = inf Σ, existe uma partição P com S(f ; P ) ∈ Σ tal que
d ≤ S(f ; P ) < d0 . Por (4), existe também uma partição P 0 com S(f ; P 0 ) ∈ Σc de modo
que
S(f ; P 0 ) ≤ S(f ; P ) < d0 ⇒ d0 > s(f ; P 0 ) ∈ Σc ,
Lema 3.2 Sejam A, B conjuntos não vazios limitados de números reais. Pondo A + B =
{x + y; x ∈ A, y ∈ B}, tem-se inf(A + B) = inf A + inf B e sup(A + B) = sup A + sup B.
Demonstração. Encontra-se no Problema 2.1.
Agora, mostremos que sup C ≤ sup(A + B) e inf C ≥ inf(A + B). Com efeito, supondo
por absurdo que sup C > sup(A + B), então existe x ∈ [a, b] tal que
Absurdo, pois f (x) + g(x) ∈ A + B. Assim, obtemos que sup C ≤ sup(A + B).
De maneira semelhante, supondo que inf C < inf(A + B), existe um x0 ∈ [a, b] de modo
que
inf C ≤ f (x0 ) + g(x0 ) < inf(A + B),
o que novamente é absurdo, visto que f (x0 ) + g(x0 ) ∈ A + B. Logo, tem-se inf C ≥
inf(A + B). Portanto, como sup C = sup(f + g), sup A = sup f e sup B = sup g, temos
35
que
sup(f + g) ≤ sup f + sup g e inf(f + g) ≥ inf f + inf g,
e Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c
e
Z b
f (x) dx = inf(Σ1 + Σ2 ) = inf Σ1 + inf Σ2
a
Z b
⇒ f (x) dx = inf Σ1 + inf Σ2
a
Z b Z c Z b
⇒ f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c
3.1.1 Exemplos
e
S(f ; P ) = 1 · (t1 − t0 ) + · · · + 1 · (tn − tn−1 ) = tn − t0 = b − a,
Exemplo 3.2 Seja f : [a, b] −→ R constante: f (x) = c para todo x ∈ [a, b].
Então temos mi = Mi = c em todos os intervalos de qualquer partição P de [a, b]. Por
conseguinte,
e, portanto, Z b Z b
f (x) dx = f (x) dx = c · (b − a).
a a
Exemplo 3.3 Sejam f, g : [−1, 1] −→ R, f (x) = x e g(x) = −x para todo x ∈ [a, b].
Então, pelo Corolário 3.2,
sup(f + g) ≤ sup f + sup g
e
inf(f + g) ≥ inf f + inf g.
e
inf(f + g) = 0 > −2 = inf f + inf g.
α, se a ≤ x < c;
f (x) =
β, se c ≤ x ≤ b.
Z b Z b
Mostremos que f (x) dx = f (x) dx = α(c − a) + β(b − c).
a a
Sabemos do Teorema 3.2 que,
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx
a a c
e Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c
Como f |[c, b] é uma função constante igual β, pelo Exemplo 3.2 temos que
Z b Z c
f (x) dx = f (x) dx + β(b − c).
a a
Analogamente, Z b Z c
f (x) dx = f (x) dx + β(b − c).
a a
Perceba que a função f |[a, deixa de ser constante no ponto c. Assim, para provar a
c]
Z c Z c
igualdade acima, é necessário estudar as integrais f (x) dx e f (x) dx olhando para
a a
c de maneira isolada, ou seja, analisando o intervalo [a, c] como [a, c − ε] ∪ [c − ε, c], em
que ε > 0 seja tão pequeno quanto se queira, isolando ao máximo o ponto c dos demais
pontos do intervalo [a, c].
Então, para fixar as ideias, suponhamos α ≤ β. Assim β = sup f e, consequentemente,
para todo ε > 0 tal que a < c − ε < c, tem-se
Z c
f (x) dx ≤ β · [c − (c − ε)] = β · ε. (5)
c−ε
Temos também que α = inf f e, por conseguinte, para qualquer desses ε > 0,
Z c Z c−ε Z c
α(c − a) ≤ f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c−ε
39
Como f |[a, c−ε] é uma função constante, pelo Exemplo 3.2 e por (5), vem que
Z c
α(c − a) ≤ f (x) dx ≤ α · [(c − ε) − a] + β · ε
a
= α · c = α · ε − α · +β · ε
= α · (c − a) + ε · (β − α),
ou seja, Z c
α(c − a) ≤ f (x) dx ≤ α · (c − a) + ε · (β − α).
a
Z c
Note que, se α(c − a) < f (x) dx, então existe n0 ∈ N (suficientemente grande) tal que
a
Z c
1
α · (c − a) + · (β − α) < f (x) dx,
n0 a
1
a<c− < c.
n1
1 1
Escrevendo ε0 = min , temos que a < c − ε0 < c, donde segue que,
n0 n1
Z c
α(c − a) + ε0 (β − α) < f (x) dx ≤ α(c − a) + ε0 (β − α),
a
Z b
Quanto a f (x) dx, é imediato que deve ser também igual a α · (c − a), pois α = inf f
a
e para qualquer partição P = {a, t1 , t2 , . . . , tn−1 , c} de [a, c] se tem
Como toda soma inferior de f |[a, c] tem esse valor, temos que
Z c
sup s(f ; P ) = α · (c − a) = f (x) dx. (7)
P a
40
Z b Z b
e, portanto, f (x) dx = f (x) dx = α(c − a) + β(b − c).
a a
Z b Z b
Mostremos que f (x) dx = f (x) dx = α(c − a) + β(b − c).
a a
Perceba que, de maneira análoga ao Exemplo 3.4, para provar isto, basta mostrar que
Z c Z c
f (x) dx = f (x) dx = α · (c − a),
a a
Agora observe que, como γ = inf f |[a, c] , para todo ε > 0 tal que a < a + ε < c, tem-se
Z a+ε
f (x) dx ≥ γ[(a + ε − a)] = γ · ε. (9)
a
Pelo fato de α = sup f |[a, c] , pelo Teorema 3.2 e por (9), segue-se que para qualquer desses
ε > 0, temos:
Z c Z a+ε Z c
f (x) dx = f (x) + f (x)
a a a+ε
≥ γ · ε + α · [c − (a + ε)]
= γ·ε+α·c−α·a−α·ε
= α · (c − a) + ε · (γ − α),
ou seja,
Z c
f (x) dx ≥ α · (c − a) + ε · (γ − α). (10)
a
Z c Z c
Suponhamos que f (x) dx > α(c − a). Como f (x) dx = sup s(f ; P ), existe uma
a a P
42
Z c
Agora, supondo que α(c − a) > f (x) dx, existe um k0 ∈ N (suficientemente grande)
a
tal que
Z c
1
α(c − a) + (γ − α) > f (x) dx. (12)
k0 a
Z c
α(c − a) + ε0 (γ − α) > f (x) dx > α(c − a) + ε0 (γ − α).
a
e, consequentemente, que
Z b Z b
f (x) dx = f (x) dx = α(c − a) + β(b − c).
a a
Os Exemplos 3.5 e 3.4 mostram que os sinais < e ≤, nos intervalos que de-
compõe o domı́nio da função, são irrelevantes para o resultado final das integrais.
43
Vejamos no próximo exemplo que uma repetição dos Exemplos 3.5 e 3.4 mostra
que as integrais da função escada f são dadas por
Z b Z b n
X
f (x) dx = f (x) dx = ci · (ti − ti−1 ).
a a i=1
Perceba que o Exemplo 3.6, a seguir, é uma generalização dos Exemplos 3.5 e 3.4.
Z b Z tn−1 Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx
a a tn−1
Z tn−2 Z tn−1 Z b
= f (x) dx + f (x) dx + f (x) dx
a tn−2 tn−1
..
. Z t1 Z tn−1 Z b
= f (x) dx + · · · + f (x) dx + f (x) dx
a tn−2 tn−1
Z t1 Z b
= f (x) dx + · · · + f (x) dx,
a tn−1
obtemos que: Z b Z t1 Z b
f (x) dx = f (x) dx + · · · + f (x) dx.
a a tn−1
Pelos Exemplos 3.4 e 3.5 temos que os sinais < e ≤ não fazem diferença. Logo
Z b n
X
f (x) dx = c1 (t1 − a) + · · · + cn (b − tn−1 ) = ci (ti − ti−1 ).
a i=1
44
Z b Z b n
X
Portanto f (x) dx = f (x) dx = ci (ti − ti−1 ).
a a i=1
Lema 3.3 Seja A um conjunto limitado e não vazio de números reais. Dado c ∈ R,
ponhamos c · A = {c · x; x ∈ A}. Então sup(c · A) = c · sup A e inf(c · A) = c · inf A caso
c > 0. Quando c < 0, tem-se sup(c · A) = c · inf A e inf(c · A) = c · sup A.
Demonstração. Encontra-se no Problema 2.2.
mi (f ) + mi (g) ≤ mi (f + g),
donde,
n
X n
X n
X
mi (f ) · (ti − ti−1 ) + mi (g) · (ti − ti−1 ) ≤ mi (f + g) · (ti − ti−1 )
i=1 i=1 i=1
⇒ s(f ; P ) + s(g; P ) ≤ s(f + g; P ). (15)
Isto exprime que para quaisquer partições P e Q de [a, b], tem-se s(f ; P ) + s(g; Q) ≤
s(f + g; P ∪ Q). Daı́, pelo Problema 2.4, vem que
Ora, o Lema 3.2 nos dá que sup [s(f ; P ) + s(g; Q)] = sup s(f ; P ) + sup s(g; Q). Dessa
P, Q P Q
maneira, substituindo essa igualdade em (17), obtemos que
Assim, como toda partição L de [a, b] pode ser representada por L = L ∪ P0 , em que P0 é
a partição trivial {a, b} (a menos fina de todas as partições), e dadas quaisquer partições
P, Q de [a, b] temos que P ∪ Q pode ser visto como uma partição L de [a, b], segue-se
Z b
da Definição 3.1 que sup s(f + g; P ∪ Q) = sup s(f + g; L) = [f (x) + g(x)] dx. Diante
P, Q L a
disso, a desigualdade (18) equivale a
Z b Z b Z b
f (x) dx + g(x) dx ≤ [f (x) + g(x)] dx, (19)
a a a
Diante disto, para concluir a primeira tese do teorema, resta-nos mostrar que
Z b Z b Z b
[f (x) + g(x)] dx ≤ f (x) dx + g(x) dx.
a a a
Mi (f + g) ≤ Mi (f ) + Mi (g)
47
Daı́ (pelo Teorema 3.1), dadas quaisquer partições P e Q de [a, b], temos
Dessa forma, pelo Problema 2.5, vem que inf S(f + g; P ∪ Q) ≤ inf [S(f ; P ) + S(g; Q)]
P, Q P, Q
e, pelo Lema 3.2, que inf [S(f ; P ) + S(g; Q)] = inf S(f ; P ) + inf S(g; Q). Logo,
P, Q P Q
inf S(f + g; P ∪ Q) ≤ inf [S(f ; P ) + S(g; Q)] = inf S(f ; P ) + inf S(g; Q)
P, Q P, Q P Q
⇒ inf S(f + g; P ∪ Q) ≤ inf S(f ; P ) + inf S(g; Q)
P, Q P Q
Z b Z b Z b
⇒ [f (x) + g(x)] dx ≤ f (x) dx + g(x) dx. (24)
a a a
mi (c · f ) = c · mi (f ) e Mi (c · f ) = c · Mi (f )
mi (c · f ) = c · Mi (f ) e Mi (c · f ) = c · mi (f )
quando c < 0.
Logo, sendo σ = {s(f ; P ); P é partição de [a, b]} e Σ = {S(f ; P ); P é partição de [a, b]},
novamente pelo Lema 3.3 temos, para c > 0,
e para c < 0,
e Z b Z b
f (x) dx ≤ g(x) dx.
a a
e Z b Z b
f (x) dx ≥ g(x) dx,
a a
onde mi (g) = Mi (g) = 0. Dessa forma, temos que s(g; P ) = S(g; P ) = 0, o que implica
em, Z b Z b
f (x) dx ≥ g(x) dx = 0
a a
e Z b Z b
f (x) dx ≥ g(x) dx = 0.
a a
Neste tópico, estudamos uma classe especial de funções: aquelas para as quais
o supremo das somas inferiores é igual ao ı́nfimo das somas superiores.
49
Z b Z b
Pelo Exemplo 3.2 sabemos que, f (x) dx = f (x) dx = c · (b − a). As-
a a
Z b
sim, toda função constante, f (x) = c, é integrável, com f (x) dx = c · (b − a). Mais
a
geralmente, pelos Exemplos 3.4 e 3.5, se f : [a, b] −→ R é uma função escada, então f é
Z b X
integrável e f (x) dx = ci · (ti − ti−1 ), em que os ci são os valores que f assume nos
a
intervalos (ti−1 , ti ). Por outro lado, pelo Exemplo 3.1, toda função f : [a, b] −→ R, igual
a 0 nos númerosZ irracionais e a 1Znos racionais, não é integrável. Pois vimos que, quando
b b
isso acontece, f (x) dx = 0 e f (x) dx = b − a.
a a
Z b Z b
Quando f (x) ≥ 0 para todo x ∈ [a, b], as integrais f (x) dx e f (x) dx
a a
resultam de tentar medir a área do conjunto plano A = {(x, y) ∈ R2 ; a ≤ x ≤ b, 0 ≤
y ≤ f (x)}, limitado pelo gráfico de f, pelo segmento [a, b] do eixo das abscissas e pelas
Z b
retas verticais x = a e x = b. Além disso, em f (x) dx usamos áreas de polı́gonos
a
Z b
contidos em A como aproximações (por falta) da área de A, enquanto em f (x) dx
a
tomamos polı́gonos que contêm A, isto é, aproximações por excesso (ilustrado na Figura
Z b Z b
1). Podemos dizer que f (x) dx é a “área interna” do conjunto A, e que f (x) dx é
a a
sua “área externa”. A afirmação de que f é integrável significa que as aproximações por
falta e por excesso para a área de A conduzem ao mesmo resultado, isto é, que o conjunto
Z b
A possui, de fato, uma área, igual a f (x) dx. No caso da função do Exemplo 3.1, o
a
conjunto A tem uma área interna igual a 0 e uma área externa igual a 1, logo não possui
uma área bem definida.
Para toda s = s(f ; P ) ∈ σ e toda S = S(f ; Q) ∈ Σ, temos s ≤ S. Pelo
Z b
Problema 2.3, isto nos dá sempre sup σ ≤ inf Σ. Como sup σ = f (x) dx e inf Σ =
a
Z b
f (x) dx, então dizer que f é integrável significa afirmar que sup σ = inf Σ.
a
Lema 3.4 Sejam σ, Σ conjuntos limitados não vazios de números reais. Suponhamos
50
que, para quaisquer s ∈ σ e S ∈ Σ seja s ≤ S. Então sup σ = inf Σ se, e somente se, para
cada ε > 0 existem s ∈ σ e S ∈ Σ tais que S − s < ε.
Demonstração. Encontra-se no Problema 2.6.
Definição 3.7 Dada f : [a, b] −→ R limitada, sua oscilação no conjunto não vazio
X ⊂ [a, b] é definida por
ω(f ; X) = sup f (X) − inf f (X).
Lema 3.5 Seja Y um conjunto não vazio limitado de números reais. Se m = inf Y e
M = sup Y, então, M − m = sup{|x − y|; x, y ∈ Y }.
Demonstração. Encontra-se no Problema 2.7.
Corolário 3.4 Seja f : [a, b] −→ R limitada. Para todo X ⊂ [a, b] não vazio, tem-se
ω(f ; X) = sup{|f (x) − f (y)|; x, y ∈ X}.
Demonstração. Sabemos da Definição 3.7 que
Tomando Y = f (X), sup f (X) = M e inf f (X) = m, pelo o Lema 3.5, temos
Definição 3.8 Dadas f : [a, b] −→ R limitada e uma partição P do intervalo [a, b],
indicaremos com ωi = Mi − mi a oscilação de f no intervalo [ti−1 , ti ]. (Às vezes se
escreve ωi (f ))
Assim, pelo Corolário 3.4, temos ωi = sup{|f (x) − f (y)|; x, y ∈ [ti−1 , ti ]}. Além disso,
para quaisquer x, y ∈ [ti−1 , ti ], tem-se f (x) ≤ Mi = sup f ([ti−1 , ti ]) e f (y) ≥ mi =
inf f ([ti−1 , ti ]). A última desigualdade pode ser escrita como −f (y) ≤ −mi . Assim, temos,
f (x) − f (y) ≤ Mi − mi , ou seja, f (x) − f (y) ≤ ωi .
2. Para todo ε > 0 existem partições P, Q do intervalo [a, b] tais que S(f ; Q) −
s(f ; P ) < ε;
3. Para todo ε > 0, existe uma partição P do intervalo [a, b] tal que S(f ; P )−s(f ; P ) <
ε;
4. Para todo ε > 0, existe uma partição P = {t0 , t1 , . . . , tn } do intervalo [a, b] tal
n
P
que ωi · (ti − ti−1 ) < ε.
i=1
Demonstração. Inicialmente mostremos que (1) ⇔ (2), em seguida que (3) ⇔ (4) e,
por fim, que (2) ⇔ (3).
Z b
Perceba que, dizer que f é integrável, pela Definição 3.6, é o mesmo que f (x) dx =
a
Z b
f (x) dx, ou ainda, que sup σ = inf Σ. Ora, segue diretamente do Lema 3.4 que f é
a
integrável se, e somente se, para cada ε > 0 existem s(f ; P ) ∈ σ e S(f ; Q) ∈ Σ tais que
S(f ; Q) − s(f ; P ) < ε. Logo, (1) ⇔ (2).
Por outro lado, pela Definição 3.8, temos que
n
X n
X
ωi · (ti − ti−1 ) = (Mi − mi ) · (ti − ti−1 )
i=1 i=1
Xn
= [Mi · (ti − ti−1 ) − mi · (ti − ti−1 )]
i=1
n
X n
X
= Mi · (ti − ti−1 ) − mi · (ti − ti−1 )
i=1 i=1
= S(f ; P ) − s(f ; P ).
Dessa maneira, (3) ⇒ (2). Além disso, se S(f ; Q) − s(f ; P ) < ε, tomando L = P ∪ Q,
pelo Corolário 3.1, temos
Isto mostra que (2) ⇒ (3) e, portanto, que (2) ⇔ (3). O que encerra a demonstração.
52
3. f + g é integrável e
Z b Z b Z b
[f (x) + g(x)] dx = f (x) dx + g(x) dx.
a a a
Segue-se de (4) e (5) que se |f (x)| ≤ k para todo x ∈ [a, b], então
Z b
f (x) dx ≤ k · (b − a).
a
6. O produto f · g é integrável. Z c Z c Z b
Demonstração. (1) Sejam α = f (x) dx, A = f (x) dx, β = f (x) dx e
a a c
Z b Z b Z b
B= f (x) dx. Então, pelo Teorema 3.2, f (x) dx = A + B e f (x) dx = α + β.
c a a
Assim, pela Definição 3.6, dizer que f, f |[a, c] e f |[c, b] são integráveis é o mesmo que dizer
α + β = A + B, α = A e β = B respectivamente. Ora, pela Proposição 3.2 temos que
53
α + β = A + B ⇔ α = A e β = B, (25)
Isto mostra, pela Definição 3.6, que c · f também é integrável para c 6= 0. Portanto, por
(26), (27) e (28), c · f é integrável, para todo c ∈ R.
Z b Z b Z b
(3) Se f, g são integráveis, por definição, temos f (x) dx = f (x) dx e g(x) dx =
a a a
Z b
g(x) dx, o que acarreta em,
a
Z b Z b Z b Z b
f (x) dx + g(x) dx = g(x) dx + f (x) dx.
a a a a
54
Z b Z b Z b Z b
⇒ f (x) dx + g(x) dx = [f (x) + g(x)] dx = [f (x) + g(x)] dx
a a a a
Z b Z b
= f (x) dx + g(x) dx.
a a
Z b Z b Z b
Logo, f + g é integrável e, além disso, [f (x) + g(x)] dx = f (x) dx + g(x) dx.
a a a
(4) Como f, g são integráveis, segue diretamente da Definição 3.6 que
Z b Z b Z b Z b Z b Z b
f (x) dx = f (x) dx = f (x) dx e g(x) dx = g(x) dx = g(x) dx
a a a a a a
e ainda que, particularmente, f, g são limitadas. Daı́, sendo f (x) ≤ g(x), para todo
x ∈ [a, b], pela Afirmação 3 Teorema 3.3, temos
Z b Z b Z b Z b Z b Z b
f (x) dx = f (x) dx ≤ g(x) dx = g(x) dx ⇒ f (x) dx ≤ g(x) dx.
a a a a a a
Pela relação (iii) do Teorema 2.2, para quaisquer x, y ∈ [a, b], temos que ||f (x)|−|f (y)|| ≤
|f (x) − f (y)|. Logo, ω(|f |; X) ≤ ω(f ; X). Em particular, dada uma partição arbitrária P
de [a, b], tem-se ωi (|f |) ≤ ωi (f ). Diante disso, se f é integrável, segue-se do Teorema 3.4
que, para todo ε > 0, existe uma partição P = {t0 , t1 , . . . , tn } do intervalo [a, b] tal que
Pn
ωi (f ) · (ti − ti−1 ) < ε. Como ωi (|f |) ≤ ωi (f ) para toda partição, temos que
i=1
n
X n
X
ωi (|f |) · (ti − ti−1 ) ≤ ωi (f ) · (ti − ti−1 ) < ε
i=1 i=1
Xn
⇒ ωi (|f |) · (ti − ti−1 ) < ε.
i=1
55
Dessa maneira, pelo mesmo Teorema 3.4, |f | é integrável. Além disso, para todo x ∈ [a, b],
(pela Observação 2 da Definição 2.9) vale −|f (x)| ≤ f (x) ≤ |f (x)|. Como |f | é integrável,
podemos usar a afirmação (4) para obter
Z b Z b Z b
−|f (x)| dx ≤ f (x) dx ≤ |f (x)| dx
a a a
Portanto, pela equivalência das afirmações (i) e (iii) do Teorema 2.1, temos
Z b Z b
f (x) dx ≤ |f (x)| dx.
a a
(6) Como f, g são integráveis então, particularmente, são limitadas. Seja K tal que
|f (x)| ≤ K e |g(x)| ≤ K, para todo x ∈ [a, b]. Dada uma partição P = {t0 , . . . , tn } de
[a, b], indiquemos com ωi (f · g), ωi (f ) e ωi (g) as oscilações dessas funções no intervalo
[ti−1 , ti ]. Para x, y ∈ [ti−1 , ti ] quaisquer, temos
Ora, pondo
A = {|(f · g)(x) − (f · g)(y)|; x, y ∈ [ti−1 , ti ]} ,
B = {|f (x) − f (y)|; x, y ∈ [ti−1 , ti ]},
C = {|g(x) − g(y)|; x, y ∈ [ti−1 , ti ]},
56
temos que
Daı́,
n
X n
X
ωi (f · g)(ti − ti−1 ) ≤ K · [ωi (f ) + ωi (g)] (ti − ti−1 )
i=1 i=1
n
X
= K · [ωi (f )(ti − ti−1 ) + ωi (g)(ti − ti−1 )]
i=1
n
X
= K· [ωi (f )(ti − ti−1 ) + ωi (g)(ti − ti−1 )]
"i=1n n
#
X X
= K· ωi (f )(ti − ti−1 ) + ωi (g)(ti − ti−1 ) . (30)
i=1 i=1
Ora, pelo Teorema 3.4, dizer que f e g são integráveis equivale a dizer que, para todo
57
n
" n n
#
X X X
ωi (f · g)(ti − ti−1 ) ≤ K · ωi (f )(ti − ti−1 ) + ωi (g)(ti − ti−1 ) < ε
i=1 i=1 i=1
Xn
⇒ ωi (f · g)(ti − ti−1 ) < ε.
i=1
Logo, f · g é integrável, conforme a equivalência das afirmações (1) e (4) do Teorema 3.4.
Está demonstrado o Teorema 3.5.
Z b Z c Z b
Observação 5. A igualdade f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx tem sentido apenas
a a c
quando a < c < b, conforme as definições e resultados até então apresentados. A fim
de torná-la verdadeira sejam quais forem a, b e c reais, serão adotadas as seguintes
convenções:
Z b Z a
Convenção 1 Se a = b, definimos f (x) dx = f (x) dx = 0.
a a
Z b Z a
Convenção 2 Se a > b, definimos f (x) dx = − f (x) dx.
a b
Assumindo essas convenções, para toda função f : min{a, b, c}, max{a, b, c} −→ R
integrável, vale, a igualdade
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx, (31)
a a c
independente da ordem dos números reais a, b, c. De fato, perceba que há seis possibili-
dades a considerar:
1. a ≤ b ≤ c, 4. b ≤ c ≤ a,
2. a ≤ c ≤ b, 5. c ≤ a ≤ b,
3. b ≤ a ≤ c, 6. c ≤ b ≤ a.
e, consequentemente,
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c
Esse é um caso trivial, em comum, dentre as seis possibilidades de ordem dos números
reais a, b, c. Agora, analisemos os demais casos.
1. Sejam a ≤ b ≤ c e f : [a, c] −→ R integrável. Se a < b < c então,
Z c Z b Z c Z b Z c Z c
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx ⇒ f (x) dx = f (x) dx f (x) dx −
a a b a a b
Z b Z c Z c
⇒ f (x) dx = f (x) dx + − f (x) dx
a a b
Z b Z c Z b
⇒ f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c
Se a = b < c,
Z b Z b Z c Z c
f (x) dx = 0 ⇒ f (x) dx = f (x) dx f (x) dx −
a a b b
Z b Z c Z c
⇒ f (x) dx = f (x) dx + − f (x) dx
a b b
Z b Z c Z b
⇒ f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c
Caso a < b = c,
Z b Z c Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + 0 ⇒ f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a a a c
Caso a = c < b,
Z b Z b Z b Z c Z b
f (x) dx = 0 + f (x) dx ⇒ f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a c a a c
59
Se a < c = b,
Z b Z c Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + 0 ⇒ f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a a a c
Se b = a < c,
Z c Z c Z c Z c Z a
f (x) dx = f (x) dx + 0 ⇒ f (x) dx =
f (x) dx + f (x) dx
b a b a b
Z a Z c Z c
⇒ − f (x) dx = f (x) dx − f (x) dx
b a b
Z b Z c Z b
⇒ f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c
Caso b < a = c,
Z b Z b Z b Z c Z b
f (x) dx = 0 + f (x) dx ⇒ f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a c a a c
Caso b = c < a,
Z b Z c Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + 0 ⇒ f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a a a c
Se b < c = a,
Z b Z b Z b Z c Z b
f (x) dx = 0 + f (x) dx ⇒ f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a c a a c
60
Se c = a < b,
Z b Z b Z b Z c Z b
f (x) dx = 0 + f (x) dx ⇒ f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a c a a c
Caso c < a = b,
Z a Z b Z a Z b
f (x) dx = f (x) dx ⇒ 0 = − f (x) dx + f (x) dx
c c c c
Z b Z c Z b
⇒ f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c
Se c = b < a,
Z b Z c Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + 0 ⇒ f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a a a c
Caso c < b = a,
Z c Z c Z c Z c
f (x) dx = f (x) dx ⇒ 0 = − f (x) dx + f (x) dx
a b a b
Z c Z b
⇒ 0=− f (x) dx − f (x) dx
a c
Z c Z b
⇒ 0= f (x) dx + f (x) dx
a c
Z b Z c Z b
⇒ f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c
Isso mostra que, para toda função f : min{a, b, c}, max{a, b, c} −→ R integrável, vale
61
a igualdade Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx,
a a c
ε
x, y ∈ [a, b], |x − y| < δ ⇒ |f (x) − f (y)| < . (32)
2(b − a)
b−a b−a
Seja n ∈ N tal que < δ. Pondo ti = a + i · , para i = 0, 1, 2, . . . , n, temos
n n
b−a b−a
t0 = a, t1 = a + , t2 = a + 2 · , . . . , tn = a + b − a = b. Assim, obtemos uma
n n
partição P = {t0 , t1 , . . . , tn } de [a, b] de modo que
b−a b−a
ti − ti−1 = a+i· − a + (i − 1) ·
n n
b−a b−a b−a
= a+i· −a−i· +
n n n
b−a
= < δ.
n
b−a
x, y ∈ [ti−1 , ti ] ⇒ |x − y| ≤ ti − ti−1 = <δ
n
ε
⇒ |f (x) − f (y)| < .
2(b − a)
ε
Isto mostra que é uma cota superior para o conjunto {|f (x) − f (y)|; x, y ∈
2(b − a)
[ti−1 , ti ]} em cada intervalo [ti−1 , ti ]. Daı́, como o supremo de um conjunto é a menor
das cotas superiores e a oscilação ωi de f em cada intervalo [ti−1 , ti ] é tal que ωi =
ε
sup{|f (x) − f (y)|; x, y ∈ [ti−1 , ti ]}, vem que ωi ≤ . Segue-se que
2(b − a)
n
X
ωi · (ti − ti−1 ) = ω1 · (t1 − a) + ω2 · (t2 − t1 ) + · · · + ωn · (b − tn−1 )
i=1
b−a b−a b−a
= ω1 · + ω2 · + · · · + ωn ·
n n n
b−a
= · (ω1 + ω2 + · · · + ωn )
n
b−a ε
≤ ·n·
n 2(b − a)
ε
= < ε.
2
62
Ora, ainda pelo fato de f ser contı́nua e [a, b] compacto, segue-se do Teorema 2.17 que
f [a, b] é compacto e, consequentemente, que f é limitada (Definição 2.8). Portanto, f
é integrável, conforme a afirmação (4) do Teorema 3.4. Isto prova o desejado.
Teorema 3.7 Seja f : [a, b] −→ R limitada. Se, para cada c ∈ [a, b), f |[a, c] é integrável,
então f é integrável.
Demonstração. Já que f é limitada, para todo x ∈ [a, b], seja |f (x)| ≤ K. Além disso,
dado ε > 0, tomemos c ∈ [a, b) tal que
ε ε
b− <c<b⇒b−c< . (33)
4K 4K
Como f |[a,c] é integrável, pelo Teorema 3.4, existe uma partição {t0 , . . . , tn } de [a, c] tal
Pn ε
que ωi · (ti − ti−1 ) < . Pondo tn+1 = b, obtemos uma partição {t0 , . . . , tn , tn+1 } de
i=1 2
[a, b]. Segue-se do Teorema 2.2 que, para quaisquer x, y ∈ [tn , tn+1 ],
ε ε
ωn+1 · (tn+1 − tn ) = ωn+1 · (b − c) < 2K · =
4K 2
ε
⇒ ωn+1 · (tn+1 − tn ) < .
2
Portanto,
n+1
X n
X
ωi · (ti − ti−1 ) = ωi · (ti − ti−1 ) + ωn+1 · (tn+1 − tn )
i=1 i=1
ε ε
< +
2 2
= ε
Corolário 3.5 Seja f : [a, b] −→ R limitada. Se, para a < c < d < b quaisquer, f |[c,d] é
integrável, então f é integrável.
Demonstração. Com efeito, fixemos um ponto p, com a < p < b. Assim, por hipótese,
f |(a, p] e f |[p, b) são integráveis. Segue, imediatamente do Teorema 3.7, que f |[a, p] e f |[p, b]
também são. Logo, pelo item (1) do Teorema 3.5, podemos concluir que f é integrável.
Isto prova o desejado.
obtemos novamente que f é integrável. Os casos (iii) e (iv) se resumem aos dois primeiros.
Isto prova que f é integrável, conforme querı́amos demonstrar.
3.2.1 Exemplos
Exemplo 3.7 Sejam f, g : [a, b] −→ R funções limitadas que diferem apenas num sub-
conjunto finito de [a, b]. Então f será integrável se, e somente se, g o for. No caso
64
Z b Z b
afirmativo tem-se f (x) dx = g(x) dx.
a a
Com efeito, seja {t1 ,
t2 , . . . , tn−1 }
⊂ [a, b] o conjunto dos pontos em que f difere de g.
Considerando a partição P = {a = t0 , t1 , t2 , . . . , tn−1 , tn = b} de [a, b], notemos que a
função f − g : [a, b] −→ R é constante (igual a 0) em cada intervalo (ti−1 , ti ). Assim, f
é uma função escada, conforme a Definição 3.5. Dessa maneira, pelo Exemplo 3.6,
Z b Z b n
X
(f − g)(x) dx = (f − g)(x) dx = 0 · (ti − ti−1 )
a a i=1
Z b
⇒ (f − g)(x) dx = 0.
a
Z b
Isto mostra que f − g é integrável e (f − g)(x) dx = 0. Ora, como
a
Z b Z b
Z b
f (x) dx = f (x) + g(x) − g(x) dx = g(x) + f (x) − g(x) dx,
a a a
Z b Z b
Logo, f é integrável se, e somente se, g o é, com f (x) dx = g(x) dx.
a a
|(f − g)(c)|
Caso c = ti , para algum i = 1, . . . , n − 1, pondo ε = > 0, tem-se, quando
3
(f − g)(c) > 0,
|(f − g)(c)|
(f − g)(c) < ε ⇒ (f − g)(c) − ε < (f − g)(c) + ε = (f − g)(c) +
3
(f − g)(c)
= (f − g)(c) −
3
3(f − g)(c) − (f − g)(c)
=
3
2
= · (f − g)(c) < 0,
3
Isto significa, por (35) e (36), que f − g é descontı́nua apenas nos pontos t1 , t2 , . . . , e
tn−1 . Por outro lado, como f, g são limitadas, existe uma constante K (suficientemente
K K
grande) tal que |f (x)| < e |g(x)| < , para todo x ∈ [a, b]. Daı́,
2 2
K K
|f (x)| + |g(x)| < + ⇒ |f (x)| + | − g(x)| < K.
2 2
Contudo, cabe destacar que o Exemplo 3.7 não contém o Corolário 3.6 na
demonstração de sua afirmação.
sen 1 , se x 6= 0,
f (x) = x
0, se x = 0,
é integrável.
De fato, pois se x 6= 0, tem-se
1
−1 ≤ sen ≤ 1 ⇒ −1 ≤ f (x) ≤ 1 ⇒ |f (x)| ≤ 1
x
e, caso x = 0, |x| = 0 < 1. Assim, |f (x)| < 1, para todo x ∈ [−1, +1] e, consequen-
temente, f é limitada. Além disso, dado a ∈ [−1, +1], perceba que, se a 6= 0, tem-se
1
f (a) = sen , donde,
a
1 1
lim f (x) = lim sen = sen = f (a).
x→a x→a x a
Contudo, lim f (x) não existe, basta observarmos que a sequência definida, para todo
x→0
1 1
n ∈ N, por xn = π converge para 0, mas a sequência f (xn ) = sen diverge, pois
+ nπ xn
2
1 π 1, se n for par,
lim f (xn ) = lim sen = lim sen + nπ =
n→∞ n→∞ xn n→∞ 2 −1, se n for ı́mpar.
Isto exprime que f é descontı́nua apenas no ponto 0. Portanto, como f é limitada com
uma quantidade finita de descontinuidades, pelo Corolário 3.6, f é integrável.
p p
forma x = , em que é uma fração irredutı́vel com p 6= 0. Daı́, se ocorre a segunda
q q
opção,
ε0 1 ε0 b−a
f (x) ≥ ⇒ ≥ ⇒q≤ .
b−a q b−a ε0
Isto exprime que F é o conjunto das frações irredutı́veis pertencentes a [a, b] cujos deno-
b−a
minadores são menores ou iguais que . Ora, como a quantidade de inteiros positivos
ε0
b−a b−a
q≤ é finito (pois se não fosse, era um limitante superior dos inteiros) e, para
ε0 ε0
p1 p2 pm
cada denominador q, existem no máximo uma quantidade finita de frações , , . . . ,
q q q
pertencentes a [a, b] (pois caso contrário, q · b era um limitante superior para o conjunto
dos inteiros ou q · a um limitante inferior, o que é um absurdo, visto que Z é ilimitado),
temos que F é finito. Isto prova o afirmado.
Agora, tomemos uma partição P = {t0 , . . . , tn } de [a, b] tal que a soma dos compri-
mentos dos intervalos de P que contêm algum ponto de F seja menor do que ε0 , ou seja,
dada uma partição Q = {q0 , . . . , qm } qualquer de [a, b], basta refinarmos Q n − m vezes
(com n > m suficientemente grande) de modo que (t0i − t0i−1 ) < ε0 , onde assinalamos
P
com um apóstrofo os intervalos [t0i−1 , t0i ] de P que contêm algum ponto de F. Por outro
lado, assinalando com dois apóstrofos os intervalos [t00i−1 , t00i ] de P que são disjuntos de F,
observemos que F ∩ [t00i−1 , t00i ] = ∅, donde, para todo x ∈ [t00i−1 , t00i ], temos
1 ε0 ε0
x ∈ [a, b] − F ⇒ f (x) = 0 ou 0 < f (x) = < ⇒ 0 ≤ f (x) < .
q b−a b−a
ε0
Diante disso, é uma cota superior do conjunto B = {f (x); x ∈ [t00i−1 , t0i ]} e,
b−a
ε0
consequentemente, Mi00 = sup B ≤ . Em seguida, notemos que a soma S(f ; P ) =
P b−a
Mi (ti − ti−1 ) se decompõe em duas parcelas:
X X X
Mi · (ti − ti−1 ) = Mi0 · (t0i − t0i−1 ) + Mi00 · (t00i − t00i−1 ). (37)
(t0i
− t0i−1 ) < ε0 e, além disso, 0
P
Assim, como Mi ≤ 1 (uma vez que 1 é uma cota superior
1
do conjunto C = f (x) = ; x ∈ [t0i−1 , t0i ] e Mi0 = sup C), o primeiro somatório é tal
q
que
X X
Mi0 · (t0i − t0i−1 ) ≤ 1 · (t0i − t0i−1 ) < 1 · ε0 = ε0
X
⇒ Mi0 · (t0i − t0i−1 ) < ε0 . (38)
ε0
O segundo também é menor do que ε0 , pois Mi00 ≤ e (t00i − t00i−1 ) < b − a, o que
P
b−a
68
acarreta em,
X ε0
Mi00 · (t00i − t00i−1 ) <
· (b − a) = ε0
b−a
X
⇒ Mi00 · (t00i − t00i−1 ) < ε0 . (39)
Isto mostra que, para todo ε > 0, existe uma partição P de [a, b] tal que S(f ; P ) < ε, ou
Z b
seja, 0 ≤ S(f ; P ) < 0 + ε. Segue-se que f (x) dx = inf S(f ; P ) = 0 e, como f (x) ≥ 0
a P
(para todo x ∈ [a, b]), temos
Z b Z b Z b Z b
0≤ f (x) dx ≤ f (x) dx = 0 ⇒ f (x) dx = f (x) dx = 0
a a a a
Z b
⇒ f (x) dx = 0.
a
Z b
Portanto, concluı́mos que f é integrável e que f (x) dx = 0, como querı́amos mostrar
a
anteriormente.
Perceba que f é descontı́nua num conjunto infinito, a saber: o conjunto dos
números racionais do intervalo [a, b]. Basta ver que, dado a ∈ Q, existem p, q ∈ Z tal que
p 1 1
é uma fração irredutı́vel com p 6= 0 e q > 0. Daı́, f (a) = , donde, pondo ε = > 0,
q q q+1
devido a densidade dos irracionais em R, para todo δ > 0, existe um x ∈ [a, b] ∩ (R − Q)
de modo que |x − a| < δ, mas
1 1
|f (x) − f (a)| = 0 − = ≥ ε ⇒ |f (x) − f (a)| ≥ ε.
q q
Além disso, note-se que 0 ≤ f (x) ≤ 1, ou seja, f é limitada. Logo, o Exemplo 3.10 acima
mostra que a recı́proca do Corolário 3.6 não é verdadeira.
Seja f : [a, b] −→ R integrável. Pelo item (1) do Teorema 3.5, para todo
x ∈ [a, b], f |[a, x] é integrável. Assim, nestas condições, será possı́vel sempre definirmos
uma função F : [a, b] −→ R pondo
Z x
F (x) = f (t) dt.
a
Z y
Daı́, sendo g(t) dt = K · (y − x) ≤ K · |y − x| (ver Exemplo 3.2), vem que
x
Z y
|F (y) − F (x)| = f (t) dt ≤ K · |y − x|
x
⇒ |F (y) − F (x)| ≤ K · |y − x|.
Teorema 3.8 Seja f : [a, b] −→ R integrável. ZSe f é contı́nua no ponto c ∈ [a, b], então
x
a função F : [a, b] −→ R, definida por F (x) = f (t) dt é derivável no ponto c e se tem
a
F 0 (c) = f (c).
F (c + h) − F (c)
Demonstração. Queremos mostrar que lim existe e é igual a f (c), ou
h→0 h
seja, que F 0 (c) = f (c). De fato, como f é contı́nua no ponto c, dado ε > 0 arbitrário,
podemos achar δ > 0 tal que
ε
t ∈ [a, b], |t − c| < δ ⇒ |f (t) − f (c)| < .
2
donde,
Z c+h
F (c + h) − F (c) 1
− f (c) = f (t) dt − h · f (c)
h h c
Z c+h
1
= f (t) dt + (c + h − c) · [−f (c)]
h c
Z c+h Z c+h
1
= f (t) dt + −f (c) dt
h c c
Z c+h
1
= [f (t) − f (c)] dt
h c
1 c+h
Z
≤ |f (t) − f (c)| dt
h c
1 ε
≤ · · (c + h − c)
h 2
1 ε
= · ·h
h 2
< ε.
isto é, que F−0 (c) = f (c). Basta ver que ao adotar a Convenção 2, não importa se c + h <
c, pois, diante dela, conseguimos usar o mesmo processo acima para mostrarmos que
F−0 (c) = f (c). Logo, sendo F+0 (c) = f (c) = F−0 (c), podemos concluir que F 0 (c) = f (c),
como querı́amos demonstrar anteriormente.
Corolário 3.7 Dada f : [a, b] −→ R contı́nua, existe F : [a, b] −→ R derivável, tal que
F 0 = f.
Demonstração. De fato,Z como toda função contı́nua é integrável (ver o Teorema 3.6),
x
basta tomarmos F (x) = f (t) dt. Assim, como f é contı́nua em todo x ∈ [a, b], pelo
a
Teorema 3.8, F é derivável em todo x ∈ [a, b] com F 0 (x) = f (x). Portanto, F : [a, b] → R
é derivável e, além disso, F 0 = f. Isto prova o desejado.
Proposição 3.4 Se f : [a, b] −→ R possui uma primitiva, então possui uma infinidade
delas. Duas primitivas de f em [a, b] diferem por uma constante, pois têm a mesma
derivada f.
Demonstração. De fato, seja F : [a, b] −→ R uma primitiva da função f, ou seja,
F 0 = f. Daı́, dado k ∈ R e pondo G(x) = F (x) + k, para todo x ∈ [a, b], temos que
F e G são deriváveis (a primeira pela definição de primitiva e a segunda por ser a soma
das funções deriváveis F com uma função constante igual k), o que implica na função
G − F, dada por (G − F )(x) = k para todo x ∈ [a, b], ser derivável. Donde segue que,
(G − F )0 (x) = 0 para todo x ∈ [a, b] e, consequentemente, para todo c ∈ [a, b],
Logo, G0 = F 0 = f e, como c pode ser qualquer valor real, f : [a, b] −→ R possui uma
infinidade de primitivas. Por outro lado, se F, G : [a, b] −→ R são primitivas da função f,
então G, F (por serem deriváveis) são contı́nuas (ver o Teorema 2.20) e, consequentemente,
a função G − F é contı́nua e tem derivada nula. Segue do Teorema do Valor Médio, de
72
Lagrange (Teorema 2.22), que para qualquer x ∈ (a, b], existe c ∈ (a, x) tal que
(G − F )(x) − (G − F )(a)
= (G − F )0 (c)
x−a
⇒ (G − F )(x) − (G − F )(a) = (G − F )0 (c) · (x − a)
⇒ (G − F )(x) − (G − F )(a) = 0 · (x − a)
⇒ (G − F )(x) = (G − F )(a)
⇒ G(x) − F (x) = (G − F )(a).
Logo, duas primitivas de f em [a, b] diferem por uma constante, na qual seria (G − F )(a)
se tratando das primitivas F e G.
Demonstração.
Z x Com efeito, sendo F 0 contı́nua, pelo Teorema 3.8 a função
ϕ(x) = F 0 (t) dt e a função F são ambas primitivas de F 0 em [a, b]. Logo, pela Pro-
a
posição Z3.4, ϕ(x) − F (x) = constante, para todo x ∈ [a, b]. Como, pela Convenção 1,
a
ϕ(a) = F 0 (t) dt = 0, segue-se que
a
Mostraremos agora que não é preciso supor F 0 contı́nua para comprovar a tese
da Proposição 3.5.
F (ti ) − F (ti−1 )
que = F 0 (ξi ), donde, F (ti ) − F (ti−1 ) = F 0 (ξi ) · (ti − ti−1 ). Dessa maneira,
ti − ti−1
temos que
F (b) − F (a) = F (b) − F (tn−1 ) + F (tn−1 ) − F (tn−2 ) + · · · + F (t1 ) − F (a)
= F 0 (ξn ) · (b − ti−1 ) + F 0 (ξn−1 ) · (tn−1 − tn−2 ) + · · · + F 0 (ξ1 ) · (t1 − a),
n
F 0 (ξi ) · (ti − ti−1 ).
P
o que implica em, F (b) − F (a) =
i=1
Indicando com m0i e Mi0 (respectivamente) o inf e o sup de F 0 no intervalo [ti−1 , ti ], temos,
para todo i = 1, . . . , n, m0i ≤ F 0 (ξi ) ≤ Mi0 , donde
n
X n
X n
X
m0i · (ti − ti−1 ) ≤ F 0 (ξi ) · (ti − ti−1 ) ≤ Mi0 · (ti − ti−1 )
i=1 i=1 i=1
⇒ s(F 0 ; P ) ≤ F (b) − F (a) ≤ S(F 0 ; P ),
3.3.1 Exemplos
Z x
Tomando F : [0, 2] −→ R, F (x) = f (t) dt, vem que
a
0, se 0 ≤ t ≤ 1,
F (x) =
x − 1, se 1 ≤ t ≤ 2,
pois f |[0, 1) e f |[1, 2] são funções constantes iguais a 0 e 1, respectivamente. Dessa maneira,
pelo Exemplo 3.2,
Z x
F (x) = f (t) dt = 0 · (x − 0) = 0, ∀ x ∈ [0, 1)
0
e Z x
F (x) = f (t) dt = 1 · (x − 1) = x − 1, ∀ x ∈ [1, 2].
1
Observe nos gráficos acima que F é contı́nua, mas não é derivável no ponto
x = 1, que trata-se de uma descontinuidade de primeira espécie em f.
O Corolário 3.7 diz que toda função contı́nua f num intervalo compacto possui
primitiva F. Entretanto, nem toda função integrável f possui uma primitiva F. Pois, ao
observar o Exemplo 3.11 acima, notamos que f é uma Z função escada e, como já vimos,
x
é integrável. Mas, a função definida por F (x) = f (t) dt não é derivável no ponto
0
x = 1, não podendo ser a primitiva de f. Além disso, sabemos do Corolário 2.1 que: se
f = F 0 então f não pode ter descontinuidades de primeira espécie, ou seja, se f admite
pelo menos uma descontinuidade de primeira espécie, então f não possui uma primitiva
F 0 = f.
Exemplo 3.12 A função f do Exemplo 3.11 não possui primitiva em intervalo algum
que contenha o ponto 1 em seu interior. Por outro lado, a função descontı́nua no ponto
0, dado por
2x · sen 1 − cos 1 se x 6= 0,
f (x) = x x
0, se x = 0
possui a primitiva
x2 · sen 1 , se x 6= 0,
F (x) = x
0, se x = 0.
Para verificar isso, basta usar a regra do produto usada até mesmo nos cursos de Cálculo.
A existência da primitiva, neste caso, pode ocorrer devido a descontinuidade em f no
ponto x = 0 ser de segunda espécie, não existindo os limites laterias lim+ f (x) e lim− f (x).
x→0 x→0
76
Exemplo 3.13 Como uma aplicação do Teorema Fundamental do Cálculo, pode-se obter
o desenvolvimento de Taylor de log em torno do ponto 1 (ou de log(1 + x) em torno de
x = 0).
Observação 8. A “base” dos logaritmos naturais é indicado pelo sı́mbolo e, que segundo
Lima (2012) é uma das constantes mais ubı́quas na Análise Matemática.
Observação
n9. O número e pode ser definido pela igualdade: log e = 1, ou pelo limite:
1
lim 1 + = e. A prova da existência deste limite Pode ser consultada em Erguidor
n→∞ n
(2008, p. 119) ou nos Exemplos 8, 9 e 16 do Capı́tulo IV de Lima (2012). Já a equivalência
do limite com a igualdade acima, na subseção 7 do Capı́tulo IX de Lima (2012).
q − t · q = (1 + t + · · · + tn−1 ) − (t + t2 + · · · + tn−1 + tn )
⇒ q · (1 − t) = 1 − tn
1 − tn
⇒ =q
1−t
1 − tn
⇒ = 1 + t + · · · + tn−1 ,
1−t
1 − tn
para t 6= 1. Como 1 + t = 1 − (−t), segue-se da fórmula = 1 + t + · · · + tn−1 que,
1−t
6 −1,
para t =
1 − (−t)n
= 1 + (−t) + (−t)2 + · · · + (−t)n−1
1 − (−t)
1 − (−1)n tn
⇒ = 1 − t + t2 − · · · + (−1)n−1 tn−1
1+t
1 − (−1)n tn tn tn
⇒ + (−1)n = 1 − t + t2 − · · · + (−1)n−1 tn−1 + (−1)n
1+t 1+t 1+t
1 − (−1)n tn + (−1)n tn tn
⇒ = 1 − t + t2 − · · · + (−1)n−1 tn−1 + (−1)n
1+t 1+t
n
1 t
⇒ = 1 − t + t2 − · · · + (−1)n−1 · tn−1 + (−1)n . (40)
1+t 1+t
77
Sendo F (t) = log(1 + t), note que, para qualquer t > −1,
h
Pondo u = , perceba que u → 0 se e só se h → 0, donde
t+1
1
F (t + h) − F (t) u(t + 1) u(t+1)
lim = lim log 1 +
h→0 h u→0 t+1
1
= lim log(1 + u) u(t+1)
u→0
1 1
= lim log(1 + u) u
u→0 t + 1
1 1
= lim log(1 + u) u
t+1 u→0
u
1 1
= lim log 1 +
t + 1 u→∞ u
u
1 1
= log lim 1 +
t+1 u→∞ u
1
= log e
t+1
1
= ·1
t+1
1
= .
t+1
1
Assim, para todo t > −1, F 0 (t) = f (t) = e, consequentemente, F é uma primitiva de
1+t
f. Além disso, pode ser consultado em qualquer livro de Cálculo (em particular, Guidorizzi
ti+1
(2008, p. 145)) que: se i ∈ N − {1} e G(t) = então G0 (t) = g(t) = ti , isto é, G é
i+1
78
e
x Z x
xi+1 0i+1
Z
i
G(x) + G(0) = t dt ⇒ + = ti dt
0 i+1 i+1
i+1 Z x 0
x
⇒ +0= ti dt
i+1
i+1 Z x 0
x
⇒ = ti dt
i+1 0
para cada x > −1, podemos obter um t > −1 tal que −1 < x ≤ t, pois cada valor x
do domı́nio de F é extraı́do
Z x do nconjunto dos valores t, que representam o domı́nio da
t tn
função f, em que F (x) = dt e f (t) = com −1 < x ≤ t. Assim, usando a
0 1+t 1+t
79
1
0≤x⇒1≤1+x≤1+t ⇒ ≤1
1+t
tn
⇒ ≤ tn
1+t
x x
tn xn+1
Z Z
⇒ |rn (x)| = dt ≤ tn dt =
0 1+t 0 n+1
xn+1
⇒ |rn (x)| ≤ ;
n+1
1 1
−1 < x ≤ 0 ⇒ 0 < 1 + x ≤ 1 + t ⇒ 0 < ≤
1+t 1+x
n n
t |t| |t|n
⇒ ≤ ≤
1+t 1+t 1+x
tn |t|n
⇒ ≤
1+t 1Z+ x
x Z x
tn |t|n
⇒ |rn (x)| = dt ≤ dt
0 1+t 0 1+x
Z x
|t|n
⇒ |rn (x)| ≤ dt
0 1+x
Z x
1
⇒ |rn (x)| ≤ |t|n dt
1+x 0
|x|n+1
⇒ |rn (x)| ≤ .
(1 + x)(n + 1)
e, para −1 < x ≤ 0,
rn (x)
⇒ lim =0
x→0 xn
rn (x)
⇒ lim n = 0.
x→0 x
rn (x)
Logo, em qualquer caso acima, lim = 0 e, portanto,
x→0 xn
x2 x3 xn
pn (x) = x − + + · · · + (−1)n−1 ·
2 3 n
é o polinômio de Taylor de ordem n para a função log no ponto 1. (Ou para f (x) =
log(1 + x) no ponto 0.) Além disso, pelo Teorema do Confronto aplicado a sequências,
notemos que, para 0 ≤ x ≤ 1,
xn+1 xn+1
0 ≤ |rn (x)| ≤ ⇒ lim 0 ≤ lim |rn (x)| ≤ lim
n+1 n→∞ n→∞ n→∞ n + 1
⇒ lim |rn (x)| = 0
n→∞
⇒ lim rn (x) = 0
n→∞
e, para −1 < x ≤ 0,
|x|n+1 |x|n+1
0 ≤ |rn (x)| ≤ ⇒ lim 0 ≤ lim |rn (x)| ≤ lim
(1 + x)(n + 1) n→∞ n→∞ n→∞ (1 + x)(n + 1)
xn+1 1
0 ≤ xn+1 ≤ 1n+1 = 1 ⇒ 0 ≤ ≤
n+1 n+1
n+1
x 1
⇒ 0 ≤ lim ≤ lim =0
n→∞ n + 1 n→∞ n + 1
xn+1
⇒ lim = 0,
n→∞ n + 1
81
e, sendo −1 < x ≤ 0 (⇔ 0 ≤ |x| < 1), temos x + 1 > 0 e, de maneira semelhante ao caso
acima, obtemos
|x|n+1 1 1 |x|n+1 1 1
0≤ ≤ ⇒ 0≤ lim ≤ lim
(1 + x)(n + 1) (1 + x)(n + 1) (1 + x) n→∞ n + 1 (1 + x) n→∞ n + 1
n+1
|x| 1 |x|n+1
⇒ lim = lim = 0.
n→∞ (1 + x)(n + 1) (1 + x) n→∞ n + 1
Assim, para todo x ∈ (−1, 1], temos lim rn (x) = 0. Vale, portanto, o desenvolvimento
n→∞
de Taylor para −1 < x ≤ 1 dado por:
x2 x3 xn
log(1 + x) = x − + + · · · + (−1)n−1 · + ...
2 3 n
1 1 (−1)n−1
log(2) = 1 − + + ··· + + ...
2 3 n
Por outro lado, como g([c, d]) ⊂ [a, b], pela Regra da Cadeia e pelo fato de F = f 0 e g
ser derivável, temos
para todo t ∈ [c, d]. Assim, F ◦ g : [c, d] −→ R é uma primitiva da função integrável
t 7→ f (g(t)) · g 0 (t) e, novamente pelo Teorema Fundamental do Cálculo, temos
Z d
f (g(t)) · g 0 (t) dt = f (g(d)) · g 0 (d) − f (g(c)) · g 0 (c)
c
= (F ◦ g)(d) − (F ◦ g)(c)
= F (g(d)) − F (g(c)). (42)
Observação 10. No Teorema 3.10, não se exige que, para todo t ∈ [c, d], o ponto
g(t) pertença ao intervalo cujos extremos são g(c) e g(d). Muito menos requer que g seja
monótona. Em compensação, necessita que f seja contı́nua. Na realidade, a demonstração
acima usa apenas que f é integrável e possui uma primitiva. A Proposição 3.6 abaixo,
dar-se um outro enunciado ao Teorema 3.10, no qual admite apenas f integrável mas
estipula que g seja monótona.
Z b Z b
Observação 11. A notação tradicional f (x) dx, em vez de f, encontra uma boa
a Za g(d)
justificativa no Teorema 3.10. Para mudarmos de variável em f (x) dx, tomamos
g(c)
x = g(t). Daı́ a diferencial de x será dx = g 0 (t)dt. Dessa maneira,
e
d = t ⇒ g(d) = g(t) ⇒ g(d) = x,
Demonstração. Para fixar as ideias, consideremos g(c) ≤ g(d). Sendo f integrável, pelo
item 1 do Teorema 3.5, dado p ∈ [g(c), g(d)] ⊂ [a, b], f |[g(c), p] e f |[p, g(d)] são integráveis
e consequentemente, também pelo item 1 do teorema 3.5, f |[g(c), g(d)] é integrável. Assim,
Z g(d)
vale f (x) dx. Pondo x = g(t), por g ser derivável, temos dx = g 0 (t)dt, onde dx é a
g(c)
diferencial de x. Além disso, como g é monótona, temos que
Diante disso, a medida que x varia entre g(c) e g(d), t varia entre c e d. Logo, fazendo as
devidas substituições, obtemos
Z g(d) Z d
f (x) dx = f (g(t)) · g 0 (t) dt.
g(c) c
(f · g) = f 0 g + f g 0 . (43)
Z b
Logo, aplicando o Teorema Fundamental do Cálculo em (f · g)(t) dt, obtemos
a
Z b Z b
0
f (b) · g(b) − f (a) · g(a) = f (t)g(t) dt + f (t)g 0 (t) dt
a a
Z b Z b
0
b
⇒ f · g]a = f (t)g(t) dt + f (t)g 0 (t) dt
a a
Z b Z b
0
⇒ b
f (t) · g (t) dt = f · g]a − f 0 (t) · g(t) dt,
a a
Teorema 3.12 (Fórmulas de Valor Médio para Integrais) São dadas as funções
f, p : [a, b] −→ R, com f contı́nua. Então:
Z b
A. Existe c ∈ (a, b) tal que f (x) dx = f (c) · (b − a).
a Z b
B. Se p é integrável e não muda de sinal, existe c ∈ [a, b] tal que f (x)p(x) dx =
Z b a
F (b) − F (a)
= F 0 (c) = f (c) ⇒ F (b) − F (a) = f (c)(b − a). (44)
b−a
Além disso, como f é integrável (por ser contı́nua) e possui uma primitiva, pelo Teorema
Fundamental do cálculo, temos
Z b
f (x) dx = F (b) − F (a). (45)
a
Z b
Logo, por (44)e (45), temos f (x) dx = f (c)(b − a), o que prova A.
a
B. Inicialmente perceba que, para todo x ∈ [a, b], m ≤ f (x) ≤ M, em que m = inf f
e M = sup f. Além disso, como f é contı́nua e [a, b] é compacto, pelo Teorema de
Weierstrass (Teorema 2.18), existem x1 , x2 ∈ [a, b] tais que m = f (x1 ) e M = f (x2 ).
Dessa maneira, supondo p(x) ≥ 0 (a fim de fixar as ideias), temos
Z b
f (x)p(x) dx
a
Agora, considerando d = Z b
, temos m ≤ d ≤ M e
p(x) dx
a
Z b Z b
f (x)p(x) dx = d p(x) dx. (46)
a a
Z b Z b
Logo, em qualquer caso, existe c ∈ [a, b] tal que f (x)p(x) dx = f (c) · p(x) dx. O
a a
caso em que p(x) < 0, procede-se de modo análogo.
Z tEstá provada a tese B.
C. Definamos F : [a, b] −→ R pondo F (t) = f (x) dx. Então F 0 = f e F (a) =
Z a a
Agora note que, pelo fato de p ser decrescente, dado um ponto t ∈ [a, b], deve ser p0 (t) ≤ 0.
86
p(x) − p(t)
x ≤ t ⇒ p(x) ≥ p(t) ⇒ ≤ 0,
x−t
p(x) − p(t)
lim = p0 (t) ≤ 0,
x→t x−t
donde,
Logo d = α · F (ξ) + β · F (b) pertence ao intervalo cujos extremos são F (ξ) e F (b). Como
F é contı́nua (por ser derivável), pelo Teorema do valor Intermediário (Teorema 2.16),
existe c ∈ (ξ, b) ⊂ [a, b] tal que F (c) = d. Portanto, substituindo essa igualdade em (48),
temos que Z b Z c
f (x)p(x) dx = p(a) · F (c) = p(a) · f (x) dx
a a
Z t
para algum c ∈ [a, b], uma vez que F (t) = f (x) dx para todo t ∈ [a, b]. Isto prova C
a
e, portanto, está demonstrado o Teorema.
Lema 3.6 Seja ϕ : [0, 1] −→ R uma função que possui derivada de ordem n+1 integrável
em [0, 1]. Então
1
ϕ00 (0) ϕ(n) (0) (1 − t)n
Z
0
ϕ(1) = ϕ(0) + ϕ (0) + + ··· + + · ϕ(n+1) (t) dt.
2! n! 0 n!
Escrevendo f (t) = 1 − t e g(t) = ϕ0 (t). Então f 0 (t) = −1 e g 0 (t) = ϕ00 (t). Assim, fazendo
88
Logo, como temos acima f (t) = 1 − t, g(t) = ϕ0 (t) e g 0 (t) = ϕ00 (t), obtemos
Z 1
ϕ(1) = ϕ(0) + f (0)g(0) − f (1)g(1) + f (t)g 0 (t) dt
0
Z 1
0 0
= ϕ(0) + (1 − 0)ϕ (0) − (1 − 1)ϕ (1) + (1 − t) · ϕ00 (t) dt
0
Z 1
= ϕ(0) + ϕ0 (0) + (1 − t) · ϕ00 (t) dt.
0
Suponhamos agora que ϕ possua derivada terceira integrável em [0, 1]. Assim, pelo mos-
trado acima, temos
Z 1
0
ϕ(1) = ϕ(0) + ϕ (0) + (1 − t) · ϕ00 (t) dt. (49)
0
2
(1 − t)
Escrevendo agora f˜(t) = − e g̃(t) = ϕ00 (t), temos f˜0 (t) = 1 − t e g̃(t) = ϕ000 (t),
2
89
1
ϕ000 (0) (1 − t)2
Z
0
ϕ(1) = ϕ(0) + ϕ (0) + + · ϕ000 (t) dt.
2 0 2
Seguindo por indução até a ordem n + 1 temos o resultado desejado. Com efeito, temos
para n = 1 e n = 2 que o resultado é válido, pelo o que acabamos de mostrar acima.
Considerando que ϕ : [0, 1] −→ R possui derivada de ordem n+1 integrável, suponhamos
(como hipótese de indução) que
1
ϕ00 (0) ϕ(n−1) (0) (1 − t)n−1
Z
0
ϕ(1) = ϕ(0) + ϕ (0) + + ··· + + · ϕ(n) (t) dt,
2! (n − 1)! 0 (n − 1)!
(1 − t)n (1 − t)n−1
Tomando p(t) = − e h(t) = ϕ(n) (t), vemos que p0 (t) = e h(t) =
n! (n − 1)!
ϕ(n+1) (t). Assim, substituindo na hipótese de indução acima, obtemos
1
ϕ00 (0) ϕ(n−1) (0)
Z
0
ϕ(1) = ϕ(0) + ϕ (0) + + ··· + + p0 (t)h(t) dt.
2! (n − 1)! 0
90
0 ≤ t ≤ 1 ⇔ 0 ≤ th ≤ h ⇔ a ≤ a + th ≤ a + h.
ϕ0 (t) = f 0 (a + th)h
ϕ00 (t) = f 00 (a + th)h2
ϕ000 (t) = f 0 (a + th)h3
..
.
ϕ(n) (t) = f (n) (a + th)hn
ϕ(n+1) (t) = f (n+1) (a + th)hn+1 ,
donde, ϕ(k) (0) = f (k) (a + 0 · h)hk = f (k) (a)hk , para k = 1, 2, . . . , n + 1. Diante disso,
91
Observação 12. Ao usar a notação [a, a + h], está implı́cito que h ≥ 0. Porém, a mesma
fórmula vale para h < 0, pois a definição de ϕ não leva isto em conta na demonstrção
acima.
b
f (n) (a) (b − x)n (n+1)
Z
0
f (b) = f (a) + f (a) · (b − a) + · · · + · (b − a)n + ·f (x) dx.
n! a n!
b − x = a + h − a − th = h − th ⇒ b − x = h − th.
0 ≤ t ≤ 1 ⇔ 0 ≤ ht ≤ h ⇔ a ≤ a + ht ≤ a + h
⇔ a≤x≤b
ou seja, quando t varia entre 0 e 1, x varia entre a e b. Logo, aplicando o Teorema 3.13 e
fazendo as devidas substituições, temos
b
f (n) (a) (b − x)n (n+1)
Z
0
f (b) = f (a) + f (a) · (b − a) + · · · + · (b − a)n + ·f (x) dx.
n! a n!
Observação 13. O Corolário 3.8 dar uma expressão equivalente (ou alternativa) para a
fórmula de Taylor com resto integral.
Definição 3.11 Seja P = {t0 , . . . , tn } uma partição do intervalo [a, b]. Chamaremos
norma de P ao número |P | = maior comprimento ti − ti−1 dos intervalos de P.
bem como, a integral inferior de uma função limitada f é o limite das somas inferiores
s(f ; P ) quando a norma da partição P tende a zero, ou seja,
Z b
f (x) dx = lim s(f ; P ).
a |P |→0
Teorema 3.14 Seja f : [a, b] −→ R uma função limitada. Para todo ε > 0 existe δ > 0
Z b
tal que S(f ; P ) < f (x) dx + ε qualquer que seja a partição P com norma menor do
a
que δ.
Demonstração. Inicialmente, mostremos o caso particular em que f (x) ≥ 0, para todo
Z
x ∈ [a, b]. Com efeito, pelas condições que caracterizam a integral da função f, dado
ε > 0, existe uma partição P1 = {t0 , t1 , . . . , tn } de [a, b] tal que
Z b
ε
S(f ; P1 ) < f (x) dx + . (50)
a 2
Como f é limitada, existe M > 0 tal que |f (x)| ≤ M , para todo x ∈ [a, b]. Tomemos δ
de modo que
ε
δ= > 0, (51)
2M · n
ε
S(f ; P ) ≤ S(f ; P1 ) + M · δ · n = S(f ; P1 ) + M · ·n
2M · n
ε
= S(f ; P1 ) +
2
Z b
ε ε
< f (x) dx + +
a 2 2
Z b
= f (x) dx + ε,
a
Z b
isto é, S(f ; P ) < f (x) dx + ε. Isto prova o caso particular, onde f (x) ≥ 0, para todo
a
x ∈ [a, b].
Mostremos agora, o caso geral. De fato, sendo |f (x)| ≤ M , temos f (x)+M ≥ 0, para todo
x ∈ [a, b]. Daı́, pondo g(x) = f (x) + M recaı́mos no caso mostrado acima com g(x) ≥ 0.
Agora, perceba que, dada uma partição P = {t0 , . . . , tn }, têm-se, para i = 1, . . . , n, Mi
e Mi + M, respectivamente, como supremos de f e g em cada intervalo [ti , ti−1 ]. Diante
disso, temos
ou seja,
S(g; P ) = S(f ; P ) + M · (b − a),
para qualquer partição P de [a, b] (em particular, para as partições que tem norma menor
do que um certo δ). Além disso, escrevendo A como o conjunto das somas superiores da
função g, é fácil ver que A = B +{M ·(b−a)}, em que B é o conjunto das somas superiores
de f. Segue imediatamente do Lema 3.2 que
Z b Z b
g(x) dx = f (x) dx + M · (b − a).
a a
Logo, pelo caso particular já demonstrado, dado ε > 0, existe um δ > 0 tal que, para
qualquer que seja a partição P com norma menor que δ,
Z b Z b
S(g; P ) < g(x) dx + ε ⇒ S(f ; P ) + M · (b − a) < f (x) dx + M · (b − a) + ε
a a
Z b
⇒ S(f ; P ) < f (x) dx + ε,
a
95
Demonstração. De fato, dado ε > 0, pelo Teorema 3.14, existe δ > 0 tal que
Z b
S(f ; P ) < f (x) dx + ε,
a
Z b
Portanto f (x) dx = lim S(f ; P ), o que prova este corolário.
a |P |→0
Z b
Logo f (x) dx = lim s(f ; P ), como querı́amos demonstrar.
a |P |→0
96
Observação 14. Vale ressaltar, nas demonstrações dos Corolários 3.9 e 3.10, que
Z b Z b
f (x) dx = inf S(f ; P ) e f (x) dx = sup s(f ; P ),
a P a P
o que justifica,
Z b Z b
0 ≤ S(f ; P ) − f (x) dx e 0 ≤ f (x) dx − s(f ; P ),
a a
Definição 3.12 Seja P = {t0 , . . . , tn } uma partição de [a, b]. Em cada intervalo
[ti−1 , ti ] escolhemos arbitrariamente um ponto ξi . Estes pontos ξi definem uma partição
pontilhada P ∗ de [a, b].
Proposição 3.7 Seja f : [a, b] −→ R limitada. Então, seja qual for a maneira de
pontilhar a partição P, temos
X
s(f ; P ) ≤ (f ; P ∗ ) ≤ S(f ; P ).
Definição 3.14 Dada f : [a, b] −→ R limitada, diremos que o número real I é o limite
de (f ; P ∗ ) quando a norma |P | tende para zero, e escreveremos
P
X
I = lim (f ; P ∗ ),
|P |→0
quando, para todo ε > 0, for possı́vel obter δ > 0 tal que | (f ; P ∗ ) − I| < ε, seja qual for
P
(f ; P ∗ ) se, e
P
Teorema 3.15 Seja f : [a, b] −→ R limitada. Existe o limite I = lim
|P |→0
Z b
somente se, f for integrável. No caso afirmativo, tem-se I = f (x) dx.
a
Demonstração. (⇐) Seja f integrável. Pelos Corolários 3.9 e 3.10, temos então
Z b
lim s(f ; P ) = lim S(f ; P ) = f (x) dx.
|P |→0 |P |→0 a
Logo, fazendo |P | tender a zero em todos os membros, pelo Teorema do Confronto (Teo-
rema 2.9), obtemos
X Z b
∗
lim (f ; P ) = f (x) dx.
|P |→0 a
(f ; P ∗ ) e mostremos
P
(⇒) Reciprocamente, suponhamos que exista o limite I = lim
|P |→0
Z b
que f é integrável, com f (x) dx = I.
a
Com efeito, pela Definição 3.12, dado arbitrariamente ε > 0, existe um δ > 0 tal que
X ε X ε ε
|P | < δ ⇒ (f ; P ∗ ) − I < ⇒ (f ; P ∗ ) ∈ I − , I + , (52)
4 4 4
seja qual for a maneira de pontilhar P. Agora, fixemos uma partição P = {t0 , . . . , tn }
com |P | < δ e a pontilhemos de duas maneiras.
1. Em primeiro lugar, sendo mi = inf f em cada intervalo [ti−1 , ti ], pela definição de
ı́nfimo (Definição 2.7), podemos escolher um ponto ξi no mesmo intervalo tal que
ε
mi ≤ f (ξi ) < mi +
4n(ti − ti−1 )
ε
⇒ f (ξi )(ti − ti−1 ) < mi (ti − ti−1 ) + .
4n
98
ε
Mi − < f (ξi ) ≤ Mi
4n(ti − ti−1 )
ε
⇒ Mi (ti − ti−1 ) − < f (ξi )(ti − ti−1 ),
4n
ε ε X ε X ε ε ε
I− − < (f ; P # ) − < s(f ; P ) ≤ S(f ; P ) < (f ; P ∗ ) + < I + +
4 4 4 4 4 4
ε ε
⇒ I − < s(f ; P ) ≤ S(f ; P ) < I +
2 2
ε ε
⇒ S(f ; P ) − s(f ; P ) < I + − I +
2 2
⇒ S(f ; P ) − s(f ; P ) < ε.
Assim, pela equivalência dos itens (1) e (2) do Teorema 3.4, f é integrável. Além disso,
sabemos da Proposição 3.7 que
X
s(f ; P ) ≤ (f ; P ∗ ) ≤ S(f ; P ).
Logo,
X
lim s(f ; P ) ≤ lim (f ; P ∗ ) ≤ lim S(f ; P )
|P |→0 |P |→0 |P |→0
99
Z b Z b
e portanto, pela integrabilidade de f f (x) dx = f (x) dx e pelos Corolários 3.9
a a
e 3.10, tem-se Z b Z b Z b
f (x) dx ≤ I ≤ f (x) dx ⇒ I = f (x) dx.
a a a
Proposição 3.8 Seja f : [a, b] −→ R uma função integrável. Dada uma sequência (Pn∗ )
de partições pontilhadas com lim |Pn∗ | = 0, tem-se
n→∞
Z b X
f (x) dx = lim (f ; Pn∗ ).
a n→∞
Z b X
Demonstração. De fato, se f é integrável, pelo Teorema 3.15, f (x) dx = lim (f ; P ∗ ),
a |P |→0
ou seja, de acordo com a Definição 3.12, dado ε > 0, existe um δ > 0 tal que
X Z b
∗
|P | < δ ⇒ (f ; P ) − f (x) dx < ε, (55)
a
seja qual for a partição pontilhada P ∗ . Daı́, se lim |Pn∗ | = 0, então, para o δ > 0 mencio-
n→∞
nado acima, existe um N ∈ N tal que
n ≥ N ⇒ |Pn∗ | < δ,
X Z b
n≥N ⇒ |Pn∗ | <δ⇒ (f ; Pn∗ ) − f (x) dx < ε.
a
Z b X
Portanto, f (x) dx = lim (f ; Pn∗ ).
a n→∞
Proposição 3.9 Seja (Pn ) uma sequência de partições de um intervalo [a, b]. Seja qual
for, para qualquer n ∈ N, o pontilhamento realizado em Pn , tem-se
3.5.1 Exemplos
1
Exemplo 3.14 Consideremos a função f : [1, 2] −→ R, dada por f (x) = . Mostremos
x
que
1 1 1
lim + + ··· + = log 2.
n→∞ n+1 n+2 2n
Sabemos do exemplo 3.13 que a primitiva da função f é a função log x. Segue-se do
Teorema Fundamental do Cálculo, que
Z 2
dx
= log 2 − log 1 = log 2.
1 x
n 1 1
f (ξi )(ti − ti−1 ) = · = .
n+i n n+i
1
Logo, como, para cada n ∈ N, temos |Pn | = , segue-se que
n
1
lim |Pn | = lim =0
n→∞ n→∞ n
101
Exemplo 3.15 (Valor médio de uma função num intervalo) Considerando as es-
pecificações acima, mostremos que o valor médio de f no intervalo [a, b] tem a expressão
Z b
1
M (f ; [a, b]) = f (x) dx.
b−a a
X n
X n
X
(f ; Pn∗ ) =
f (ξi )(ti − ti−1 ) = f (a + ih) · a + ih − (a + (i − 1)h)
i=1 i=1
n
X
= f (a + ih) · [a + ih − a − ih + h]
i=1
Xn
= f (a + ih) · h
i=1
n
X b−a
= f (a + ih) ·
i=1
n
n
b−a X
= · f (a + ih).
n i=1
Assim,
n n
1X b−aX
M (f ; n) = f (a + ih) ⇒ (b − a) · M (f ; n) = f (a + ih)
n i=1 n i=1
X
⇒ (b − a) · M (f ; n) = (f ; Pn∗ )
1 X
⇒ M (f ; n) = · (f ; Pn∗ ).
b−a
1 X 1 X
M (f ; [a, b]) = lim (f ; Pn∗ ) = lim (f ; Pn∗ ).
n→∞ b − a b − a n→∞
Observação 15. Em particular, se f está definida no intervalo [a, a + 1], seu valor médio
nesse intervalo é igual a
Z a+1 Z a+1
1
· f (x) dx = f (x) dx.
(a + 1) − a a a
103
Definição 3.16 Seja X ⊂ R. Diremos que X tem conteúdo nulo (segundo Jordan), e
escreveremos c(X) = 0 quando, para todo ε > 0, for possı́vel obter uma coleção finita de
intervalos abertos I1 , . . . , Ik tal que X ⊂ I1 ∪ · · · ∪ Ik e a soma dos comprimentos dos
intervalos Ij seja menor do que ε.
e I ∪ Ij = Ij . Logo, temos que r ≤ k, pois cada intervalo Ji só pode ser expresso por um
dos I1 , . . . , Ik ou por uma reunião de uma parte deles.
Antes de irmos para o próximo resultado de Lima (2012) (Lema 3.7), lembre-
mos o que é uma função caracterı́stica, e mostremos duas proposições que serão bastantes
úteis na demonstração do lema.
x ∈ R,
k
X
ξY (x) ≤ ξXj (x),
j=1
x∈
/ Y = X1 ∪ · · · ∪ Xk ⇒ x ∈/ Xj (∀ j = 1, . . . , k)
Xk
⇒ ξY (x) = 0 = ξXj (x)
j=1
k
X
⇒ ξY (x) = ξXj (x).
j=1
Caso 2. Já o segundo, é sobre o conjunto dos valores x ∈ Y ⊂ R. Assim, temos sempre
ξY (x) = 1, fazendo-se necessário analisarmos mais dois casos, particulares ao Caso 2,
como se segue.
Caso 2.1. Se existir pelo menos dois conjuntos Xj e Xl (j 6= l, j, l = 1, . . . , k) tais que
Xj ∩ Xl 6= ∅, podemos encontrar um x ∈ Xj ∩ Xl ⊂ Y, donde, segue-se
k
X
ξXj (x) = 1 = ξXl (x) ⇒ ξY (x) = 1 < 2 ≤ ξXj (x)
j=1
k
X
⇒ ξY (x) < ξXj (x).
j=1
Caso 2.2. Sendo os conjuntos Xj dois a dois disjuntos, temos que, para qualquer x ∈ Y,
o número x pertence a um único Xl . Logo, temos
1, j = l,
ξXj (x) =
6 l,
0, j =
para l = 1, . . . , k. Portanto,
k
X k
X
ξY (x) = 1 = ξXj (x) ⇒ ξY (x) = ξXj (x),
j=1 j=1
Logo, ξX (x) é uma função do tipo escada. Segue, portanto, do Exemplo 3.6, que
Z b
ξX (x) dx = 0 · (c − a) + 1 · (d − c) + 0 · (b − d) = |X|.
a
r
X k
X
ξJi = ξY ≤ ξIj ,
i=1 j=1
r
Z bX k
Z bX
ξJi ≤ ξIj . (56)
a i=1 a j=1
acima, obtemos:
r
X Z b r
X r
Z bX
|Ji | = [ξJ1 + · · · + ξJr ] ⇒ |Ji | = ξJi .
i=1 a i=1 a i=1
r
X r
Z bX k
Z bX
|Ji | = ξJi ≤ ξIj . (57)
i=1 a i=1 a j=1
k
Z bX k Z
X b k
X
ξIj = ξIj = |Ij |. (58)
a j=1 j=1 a j=1
ou seja, |J1 | + · · · + |Jr | ≤ |I1 | + · · · + |Ik |. Além disso, quando dois intervalos abertos
Ij e Il tiverem um ponto em comum, cairemos no Caso 2.1 da Proposição 3.10 e, então,
P
ξY (x) < ξIj (x), o que resulta no final |J1 | + · · · + |Jr | < |I1 | + · · · + |Ik |. Entretanto,
se os intervalos Ij forem dois a dois disjuntos, cairemos no Caso 2.2 da Proposição 3.10,
P
donde, ξY (x) = ξIj (x), resultando no final |J1 | + · · · + |Jr | = |I1 | + · · · + |Ik |. Portanto,
o lema está demonstrado.
Corolário 3.11 Seja X ⊂ [a, b] um conjunto de conteúdo nulo. Dado ε > 0, existe uma
partição P de [a, b] tal que a soma dos comprimentos dos intervalos de P que contêm
algum ponto de X é menor do que ε.
Demonstração. Com efeito, sendo X ⊂ [a, b] um conjunto de conteúdo nulo, pela
Definição 3.16, dado ε > 0, existem intervalos abertos I1 , . . . , Ik tais que
k
X
I1 ∪ · · · ∪ Ik ⊃ X e |Ij | < ε.
j=1
Ora, como I1 ∪ · · · ∪ Ik é um conjunto aberto (por ser uma reunião de conjuntos abertos),
k
[ [r
pelo Teorema 2.4, podemos escrever, de modo único, Ij = Ji (r ≤ k), em que os
j=1 i=1
107
intervalos abertos Ji são dois a dois disjuntos. Diante disso, pelo Lema 3.7, vem que
r
X k
X r
X
|Ji | ≤ |Ij | < ε ⇒ |Ji | < ε.
i=1 j=1 i=1
e
A1 ∪ · · · ∪ Ar = J1 ∪ · · · ∪ Jr ∩ [a, b] ⊃ X,
Portanto, X é limitado.
Y ⊂ X ⊂ I1 ∪ · · · ∪ Ik ⇒ Y ⊂ I1 ∪ · · · ∪ Ik
108
X1 ∪ · · · ∪ Xn ⊂ Ij1 ∪ · · · ∪ Ijkn
e, além disso,
ε · k1 ε · kn
|Ij1 | + · · · + Ijkn < + ··· +
m m
k1 + k2 + · · · + kn
= ε·
m
= ε.
Logo, c(X1 ∪ · · · ∪ Xn ) = 0.
ε ε ε
|Ik+i | = ri + − ri + = ,
4p 4p 2p
donde,
ε ε
|Ik+1 | + · · · + |Ik+p | = p · = .
2p 2
Logo, F ⊂ X, F ⊂ Ik+1 ∪ · · · ∪ In (n = k + p) e X − F ⊂ I1 ∪ · · · ∪ Ik implicam em
(X − F ) ∪ F ⊂ I1 ∪ · · · ∪ Ik ∪ Ik+1 ∪ · · · ∪ In
⇒ X ⊂ I1 ∪ · · · ∪ In ,
n
X ε ε
em que |Ij | < + = ε. Portanto, c(X) = 0.
j=1
2 2
109
Proposição 3.12 Seja X ⊂ [a, b]. Se para cada ε > 0, existe uma partição P de [a, b]
tal que a soma dos comprimentos dos intervalos de P que contêm pontos de X é menor
do que ε, então, c(X) = 0.
Demonstração. Dado ε > 0, suponhamos que exista uma partição P = {t0 , . . . , tn }
de [a, b] tal que a soma dos comprimentos dos intervalos de P que contêm pontos de X
seja menor do que ε. Daı́, pondo, para cada j = 0, . . . , n, Ij = (tj , tj+1 ) e escrevendo
F = X ∩ P, vemos que
X ⊂ (I1 ∪ · · · ∪ In ) ∪ F ⇒ X ⊂ (I1 ∪ · · · ∪ In ) ∪ F
⇒ X − F ⊂ I1 ∪ · · · ∪ In . (59)
Logo, como existe um subconjunto finito F ⊂ X (finito por, também, ser subconjunto
do conjunto finito P ) tal que vale (59) e a soma dos comprimentos dos intervalos Ij que
contém pontos de X é menor do que ε, pela propriedade 4 (sobre conjuntos de conteúdo
nulo), temos c(X) = 0. Isto prova o desejado.
(x − δ, x + δ) = (a − b + a, a + b − a) = (2a − b, b),
donde,
a < b ⇒ 2a < b + a ⇒ 2a − b < a
e assim,
(2a − b, b) ∩ [a, b] = [a, b) = [a, a + b − a) = [a, a + δ).
Portanto, ω(δ) = ω f ; [a, a + δ) ;
iii. se x = b e δ ≤ b − a, então
(x − δ, x + δ) = (b − b + a, b + b − a) = (a, 2b − a),
donde,
b > a ⇒ 2b > a + b ⇒ 2b − a > b,
δ1 < δ2 ⇒ (x − δ1 , x + δ1 ) ⊂ (x − δ2 , x + δ2 )
⇒ (x − δ1 , x + δ1 ) ∩ [a, b] ⊂ (x − δ2 , x + δ2 ) ∩ [a, b],
uma vez que o limite acima tende a zero apenas por valores positivos, fazendo com que
111
esse mesmo limite lateral à direita recaia no limite ordinário. Logo, temos a seguinte
definição:
lδ = inf f (Vδ ) e Lδ = sup f (Vδ ). Dessa maneira, segue imediatamente do Teorema 2.11
que,
lim Lδ = L(x) e lim Lδ = l(x).
δ→0 δ→0
Observação 17. Notemos que se f é contı́nua, então, pelo fato de x0 ∈ [a, b] = [a, b]0 ,
lim f (x) existe e é igual a f (x0 ). Assim, pelo Teorema 2.12, f possui um único valor
x→x0
de aderência e, consequentemente, l(x0 ) = f (x0 ) = L(x0 ). Em particular, com essa pro-
posição, é fácil perceber que f é contı́nua no ponto x0 se, e somente se, l(x0 ) = f (x0 ) =
L(x0 ), ou seja, f é contı́nua no ponto x0 se, e somente se, ω(f ; x0 ) = 0. Contudo, devido
a importância desse resultado, no teorema a seguir, faremos uma demonstração indepen-
dente.
Teorema 3.16 Sejam f : [a, b] −→ R limitada. A fim de que f seja contı́nua no ponto
x0 ∈ [a, b] é necessário e suficiente que ω(f ; x0 ) = 0.
Demonstração. Inicialmente mostremos que é necessário. De fato, supondo que f é
contı́nua no ponto x0 ∈ [a, b], então (por definição), dado arbitrariamente ε > 0, existe
δ0 > 0 tal que, escevendo X = (x0 − δ0 , x0 + δ0 ) ∩ [a, b],
ε ε
x ∈ X ⇒ f (x0 ) − < f (x) < f (x0 ) +
4 4
ε ε
⇒ f (x0 ) − ≤ inf f (X) ≤ sup f (X) ≤ f (x0 ) +
4 4
ε ε
⇒ sup f (X) − inf f (X) ≤ f (x0 ) + − f (x0 ) +
4 4
ε
⇒ sup f (X) − inf f (X) ≤
2
⇒ ω(δ) < ε.
Logo ω(f ; x0 ) = lim ω(δ) = 0, pois, para qualquer ε > 0, podemos obter um δ0 > 0 de
δ→0
modo que
δ ∈ (0, δ0 ] ⇒ ω(δ) < ε.
Agora, mostremos que é uma condição suficiente. Suponhamos que ω(f ; x0 ) = 0. Assim,
por definição (Definição 3.18),
Daı́, pela definição de ı́nfimo (Definição 2.7), para todo ε > 0 dado, existe δ > 0 tal que,
pondo (x0 − δ, x0 + δ) ∩ [a, b],
Em particular,
x ∈ [a, b], |x − x0 | < δ ⇒ |f (x) − f (x0 )| < ε.
Teorema 3.17 Seja f : [a, b] −→ R limitada. Dado x0 ∈ [a, b], para todo ε > 0 existe
δ > 0 tal que
x ∈ [a, b], |x − x0 | < δ ⇒ ω(f ; x) < ω(f ; x0 ) + ε.
Assim, pela definição de ı́nfimo (Definição 2.7), dado ε > 0, existe um δ > 0 tal que
(x − δ0 , x + δ0 ) ⊂ (x0 − δ, x0 + δ) ⇒ (x − δ0 , x + δ0 ) ∩ [a, b] ⊂ X
⇒ X0 ⊂ X,
visto que ω(f ; x) é o ı́nfimo das oscilações de f nos conjuntos (x − δ, x + δ) ∩ [a, b] nos
quais X0 faz parte. Logo, para cada x ∈ X, vale ω(f ; x) ≤ ω(δ), donde, segue de (61) que
ω(f ; x) < ω(f ; x0 ) + ε para todo x ∈ X. Em outras palavras, segue de (61) que
Demonstração. Com efeito, se ω(f ; x0 ) < α, então existe ε > 0 tal que ω(f ; x0 ) + ε = α.
Assim, pelo Teorema 3.17, para o ε mencionado, existe δ > 0 de modo que
Corolário 3.13 Para todo α > 0, o conjunto Eα = {x ∈ [a, b]; ω(f ; x) ≥ α} é compacto.
Demonstração. Inicialmente notemos que Eα é limitado, pois Eα ⊂ [a, b]. Assim, resta-
nos mostrar que E é fechado (veja a Definição 2.15).
Com efeito, seja α > 0. Daı́, escrevendo R − E = {x ∈ [a, b]; ω(f ; x) < α}, dado
x0 ∈ R − E, tem-se ω(f ; x0 ) < α. Diante disso, pelo Corolário 3.12, existe δ1 > 0 tal que
Isto exprime que qualquer x0 ∈ R−E é interior ao conjunto R−E. Dessa maneira, R−E é
aberto e consequentemente, pelo Teorema 2.5, seu complementar E = {x ∈ R; ω(f ; x) ≥
α} é fechado. Logo, como Eα = {x ∈ [a, b]; ω(f ; x) ≥ α} = E ∩ [a, b] é a interseção de
dois conjuntos fechados, pelo Teorema 2.6, Eα é fechado. Portanto, Eα é compacto, como
querı́amos demonstrar.
115
Corolário 3.14 Para todo n ∈ N, seja xn ∈ [a, b] e lim xn = x. Se existir lim ω(f ; xn ) =
n→∞
L, então L ≤ ω(f ; x). Em outros termos: lim ω(f ; xn ) ≤ ω(f ; lim xn ).
1
Demonstração. Suponhamos que seja L > ω(f ; x). Assim, tomando ε = [L − ω(f ; x)] ,
2
temos que
1 1 1
L−ε=L− [L − ω(f ; x)] = L + ω(f ; x)
2 2 2
1 1
= L + ω(f ; x) − ω(f ; x)
2 2
1
= ω(f ; x) + [L − ω(f ; x)]
2
= ω(f ; x) + ε.
n ≥ n0 ⇒ ω(f ; xn ) < L − ε.
Isto significa que lim ω(f ; xn ) 6= L, o que contradiz a hipótese. Portanto, temos necessa-
n→∞
riamente que L ≤ ω(f ; x), conforme o desejado.
Teorema 3.18 Seja f : [a, b] −→ R limitada. Se ω(f ; x) < ε para todo x ∈ [a, b], então
existe uma partição P de [a, b] tal que ωi = Mi − mi < ε em todos os intervalos [ti−1 , ti ]
da partição.
Demonstração. Seja ε > 0. Se, para todo x ∈ [a, b], vale ω(f ; x) < ε, então, pela
definição de oscilação no ponto (Definição 3.18), dado x ∈ [a, b], tem-se
em que ω(δ) = ω (f ; (x − δ, x + δ) ∩ [a, b]) . Daı́, pela definição de ı́nfimo (Definição 2.7),
existe um δ0 > 0 tal que
Diante disso, para cada x ∈ [a, b], existe um intervalo aberto Ix = (x − δ, x + δ) tal
que a oscilação de f em Ix ∩ [a, b] = [x − δ, x + δ] ∩ [a, b] é inferior a ε. Assim, pelo
[
Teorema de Borel-Lebesgue (Teorema 2.7), da cobertura [a, b] ⊂ Ix , extraı́mos uma
x∈[a, b]
subcobertura finita [a, b] ⊂ Ix1 ∪· · ·∪Ixk . Os pontos a e b, juntamente com as extremidades
dos intervalos Ixj que pertençam a [a, b], determinam uma partição P = {t0 , . . . , tn }.
Logo, para cada j = 1, . . . , k, escrevendo Ixj = (aj , bj ), temos que, para qualquer ı́ndice
i = 1, . . . , n, existe algum ı́ndice j tal que
k
[ ε
X⊂ Ij e |I1 | + · · · + |Ik | = k · <ε
j=1
2k
Teorema 3.19 Uma função limitada f : [a, b] −→ R é integrável se, e somente se, para
todo δ > 0, o conjunto Eδ = {x ∈ [a, b]; ω(f ; x) ≥ δ} tem conteúdo nulo.
Demonstração. (⇒) Seja f integrável. Mostraremos inicialmente que c(Eδ ) = 0. De
fato, dados δ > 0 e ε > 0, pela equivalência dos itens 1 e 4 do Teorema 3.4, existe uma
117
Por outro lado, perceba que qualquer intervalo [ti−1 , ti ] de P está contido em [a, b].
Assim, [ti−1 , ti ] ∩ [a, b] = [ti−1 , ti ], o que implica em,
ωi = ω f ; [ti−1 , ti ] ∩ [a, b] ,
ou seja, a oscilação de f no intervalo [t0i−1 , t0i ] é maior ou igual a δ. Dessa maneira, se, na
soma n
X
ωi (ti − ti−1 ) < ε · δ,
i=1
em (62), nos restringirmos às parcelas correspondentes aos k (k ≤ n) intervalos que contêm
pontos de Eδ em seu interior, teremos
k
X k
X k
X n
X
δ· (t0i − t0i−1 ) = δ· (t0i − t0i−1 ) ≤ ωi0 · (t0i − t0i−1 ) ≤ ωi (ti − ti−1 ) < ε · δ
i=1 i=1 i=1 i=1
Xk
⇒ δ· (t0i − t0i−1 ) < ε · δ
i=1
Xk
⇒ (t0i − t0i−1 ) < ε. (63)
i=1
Portanto, a soma dos comprimentos dos intervalos de P que contém algum ponto de Eδ
em seu interior é menor do que ε. Além disso, dado x ∈ Eδ , tem-se x ∈ [t0i−1 , t0i ] para
118
k
[ k
[
Eδ ⊂ (t0i−1 , t0i ) ∪ X ⇒ Eδ − X ⊂ (t0i−1 , t0i ). (64)
i=1 i=1
Logo, por (63) e (64), Eδ −X tem conteúdo nulo (ou seja, c(Eδ −X) = 0) e, pelo Lema 3.8,
X também tem (isto é, c(X) = 0). Segue imediatamente da Propriedade 3 de conjuntos
de conteúdo nulo que
c(Eδ ) = c (Eδ − X) ∪ X = 0 ⇒ c(Eδ ) = 0,
que trata-se de um refinamento Pλ , com ωi = Mi − mi < δ nos intervalos que não contêm
P ε
pontos de Eδ e (ti − ti−1 ) < nos intervalos que contêm pontos de Eδ . Dessa
2(M − m)
maneira, relativamente a P, podemos escrever
X X X
ωi · (ti − ti−1 ) = ωi0 (t0i − t0i−1 ) + ωi00 · (t00i − t00i−1 ), (65)
onde [t0i−1 , ti−1 ] são os intervalos de P que contêm pontos de Eδ e [t00i−1 , t00i−1 ] os intervalos
de P que não contêm pontos de Eδ . Então, como
X ε
ωi0 = Mi − mi < M − m e (t0i − t0i−1 ) < ,
2(M − m)
119
segue-se que
X X X
ωi0 · (t0i − t0i−1 ) < (M − m) · (t0i − t0i−1 ) = (M − m) · (t0i − t0i−1 )
ε
< (M − m) ·
2(M − m)
ε
< ,
2
ou seja,
X ε
ωi0 · (t0i − t0i−1 ) < . (66)
2
e portanto, pela equivalência dos itens 1 e 4 do Teorema 3.4, f é integrável. Isto conclui
a demonstração.
Definição 3.20 Diremos que um conjunto X ⊂ R tem medida nula (à Lebesgue) e escre-
veremos m(X) = 0, quando, para todo ε > 0, for possı́vel obter uma coleção enumerável
∞
X
de intervalos abertos I1 , I2 , . . . , In , . . . tais que X ⊂ I1 ∪ · · · ∪ In ∪ . . . e |In | < ε.
n=1
Y ⊂ X ⊂ I1 ∪ · · · ∪ In ∪ . . . ⇒ Y ⊂ I1 ∪ · · · ∪ In ∪ . . .
120
∞
X
e |In | < ε. Logo, por definição, M (Y ) = 0. Em particular, todo conjunto de medida
n=1
nula X contém o conjunto vazio e, portanto, m(∅) = 0.
[ ∞
X
X⊂ In e |In | < ε.
n∈N n=1
∞
[ ∞
[ ∞
[
Y = X 1 ∪ · · · ∪ Xn ∪ . . . ⊂ I1j ∪ . . . Inj ∪ . . . = Inj ,
j=1 j=1 n,j=1
e
1 1
∞ X
∞ ∞
ε 2
= ε · 2 = ε.
X X
|Inj | < =ε·
2 n 1 1
n=1 j=1 n=1 1−
2 2
Logo, como uma reunião enumerável de conjuntos enumeráveis é um conjunto enumerável,
existe uma quantidade enumerável de intervalos Inj e portanto, pela Definição 3.20,
m(Y ) = 0.
então m(X) = 0.
Suponhamos que, dado ε > 0, podemos obter um subconjunto enumerável
E ⊂ X e intervalos abertos I1 , . . . , In , . . . tais que X − E ⊂ I1 ∪ · · · ∪ In ∪ . . . e
∞
X ε
|In | < . Então, sendo E enumerável, para cada ri ∈ E, escreveremos
n=1
2
ε ε
Ji = ri − , ri + .
2i+2 2i+2
Daı́, teremos
ε ε 2ε ε
|Ji | = ri + − ri + = = i+1 ,
2i+2 2i+2 2i+2 2
donde,
1 1
n n
ε ε 1 ε 2 ε ε
= · 2 = .
X X
|J1 | + · · · + |Jn | + · · · = lim = · lim = ·
n→∞ 2i+1 2 n→∞ i=1 2i 2 1 2 1 2
i=1 1−
2 2
em que
∞ ∞
X X ε ε
|Ij | + |J1 | < + = ε.
j=1 i=1
2 2
[
das extremidades dos Jn , temos X − E ⊂ In , E enumerável e |In | = |Jn |, donde,
n∈N
∞
X
|In | < ε. Logo, pela Propriedade (4) de conjuntos de medida nula, tem-se m(X) = 0.
n=1
Isto conclui a demonstração.
pois sup X ≤ inf X para qualquer conjunto não vazio e limitado X. Diante disso, 0 é uma
cota inferior do conjunto {ω(δ); δ > 0} e, consequentemente,
para todo x ∈ [a, b]. Assim, como, pelo Teorema 3.16, ω(f ; x) = 0 se, e somente se, f
é contı́nua no ponto x, segue-se que o conjunto dos pontos de descontinuidade de f é o
conjunto dos pontos em que ω(f ; x) > 0, ou seja, é o conjunto D expresso pela reunião
[
D= Eδ , em que Eδ = {x ∈ [a, b]; ω(f ; x) ≥ δ}, para todo δ > 0. Em particular, D
δ>0 [
pode ser também expresso pela reunião D = E 1 . Está provado o Lema.
n
n∈N
Teorema 3.20 Para que uma função limitada f : [a, b] −→ R seja integrável, é ne-
cessário e suficiente que o conjunto D dos seus pontos de descontinuidade tenha medida
nula.
Demonstração. (⇒) De fato, se f é integrável então, pelo Teorema 3.19, para cada
n ∈ N, o conjunto E 1 tem conteúdo nulo e, consequentemente, medida nula. Dessa
n
maneira, pelo Lema 3.9, o conjunto D é uma reunião enumerável de conjuntos de medida
[
nula expresso por D = E 1 . Logo, pela Propriedade (3) de conjuntos de medida nula,
n
n∈N
123
Daı́, para cada δ > 0, tem-se Eδ ⊂ D. Assim, se m(D) = 0, então, pela Propriedade (1)
de conjuntos de medida nula, m(Eδ ) = 0 para todo δ > 0. Segue-se do Corolário 3.13
que Eδ é compacto e consequentemente, pela Propriedade (2) de conjuntos de medida
nula, c(Eδ ) = 0 para todo δ > 0. Logo, pelo Teorema 3.19, f é integrável. Isto conclui a
demonstração.
Corolário 3.16 Seja f : [a, b] −→ R limitada. Se o conjunto dos seus pontos de des-
continuidade é enumerável, então f é integrável. Em particular, se existem os limites
laterais de f em cada ponto de [a, b] então f é integrável. Mais particularmente ainda,
se a função limitada f é monótona, então é integrável.
Demonstração. Seja Df = {x1 , . . . , xn , . . .} o conjunto dos pontos de descon-
tinuidade das função f. Dado ε > 0, para cada n ∈ N, existe um intervalo aberto
ε ε
In = xn − , xn + tal que
4 4
ε
{xn } ⊂ In e |In | = < ε.
2
Assim, cada conjunto unitário {xn } possui medida nula e portanto, pela Propriedade (3)
[
de conjuntos de medida nula, {xn } = Df tem medida nula. Logo, pelo Teorema 3.20,
n∈N
f é integrável. Em particular, se existem os limites laterais de f em cada ponto de [a, b]
então, pela Definição 2.22, f deve admitir apenas descontinuidades de primeira espécie.
Logo, pelo Teorema 2.15, Df é enumerável e, pelo provado acima, f é integrável. Mais
particularmente ainda, se a função limitada f é monótona, então, pelo Teorema 2.14, f
admite apenas descontinuidades de primeira espécie e, portanto, existem os limites laterais
124
de f em cada ponto de [a, b]. Portanto, pelo caso particular anterior, f é integrável. Isto
conclui a demonstração.
3.6.1 Exemplos
Exemplo 3.16 Seja X = Q ∩ [a, b], com a < b. Mostremos que o conjunto enumerável
X (por ser subconjunto do conjunto enumerável Q) se trata de um conjunto que não tem
conteúdo nulo.
Com efeito, se fosse c(X) = 0, então pelo Corolário 3.11, dado ε < b − a, existiria
uma partição P = {a = t0 , . . . , tn = b} de [a, b] tal que a soma dos comprimentos dos
intervalos de P que contém pontos de X seria menor do que ε. Assim, como todo intervalo
não degenerado possui elementos racionais e todo intervalo da partição P está contido
em [a, b], segue-se que os comprimentos dos intervalos de P que contém pontos de X são
todos os intervalos da partição P. Entretanto, a soma dos comprimentos dos intervalos de
tal partição é tal que
Exemplo 3.17 Seja K ⊂ [0, 1] o conjunto de Cantor. Tem-se aqui um conjunto não
enumerável cujo conteúdo é nulo.
Com efeito, depois da n-ésima etapa da construção do conjunto de Cantor, foram omitidos
125
1
2n−1 intervalos abertos de comprimento cuja soma é dada por
3n
2n−1 2n−1
1 2 4 1 2 4
+ + + ··· + n = · 1 + + + · · · + n−1
3 9 27 3 3 3 9 3
" 2 n−1 #
1 2 2 2
= · 1+ + + ··· +
3 3 3 3
n−1 i
1 X 2
= ·
3 i=0 3
n
2
= 1− ,
3
pois,
2 n−1 2 3 n
2 2 2 2 2 2 2 2
S =1+ + + ··· + ⇒ S= + + + ··· +
3 3 3 3 3 3 3 3
n
2 2
⇒ S− S =1−
3 3
n
1 2
⇒ S =1− ,
3 3
donde,
n−1 i n
1 X 2 2
· =1− .
3 i=0 3 3
Por outro lado, perceba que após a n-ésima etapa da construção de K, podemos obter uma
partição P de [0, 1] dada pelos os extremos dos intervalos omitidos. Assim, é evidente
que os pontos de K estão contidos nos intervalos de P que não foram omitidos. Ora,
como a soma de todos os comprimentos dos intervalos de P é 1 e, pelo provado acima, a
n
2
soma dos comprimentos dos intervalos não omitidos é 1 − , temos que a soma dos
3
comprimentos dos intervalos de P que contém pontos de K é
n n
2 2
1−1+ = .
3 3
41).
Exemplo 3.18 Temos aqui as variações de algumas funções em cada ponto dos seus
respectivos domı́nios.
(a) Para a função
x
, se x 6= 0,
f (x) = |x|
0, se x = 0,
tem-se
0, se x 6= 0,
ω(f ; x) = .
2, se x = 0,
(b) Se
0, se x ∈ (R − Q) ∪ {0},
g(x) = 1 p
, se x = é irredutı́vel com q > 0,
q q
então a oscilação é ω(g; x) = g(x), para todo x ∈ R.
(c) Se
0, x ∈ Q,
h(x) =
1, x ∈ R − Q,
Agora justificaremos em cada item acima o porquê dos valores indicados para
as oscilações das respectivas funções.
(a) Perceba que f é contı́nua nos pontos em que x 6= 0, pois f é uma função constante igual
a 1 (respectivamente −1) para valores positivos (respectivamente, para valores negativos)
de x ∈ R. Assim, pelo Teorema 3.16, temos ω(f ; x) = 0, para todo x 6= 0. Por outro
lado, f possui uma descontı́nuidade de primeira espécie no ponto 0, pois lim+ f (x) = 1 e
x→0
lim f (x) = −1, donde, lim sup f (x) = 1 e lim inf f (x) = −1. Segue, da Proposição 3.13,
x→0− x→0 x→0
que
ω(f ; 0) = max{1, 0} − min{−1, 0} = 1 − (−1) = 2.
Inicialmente mostremos a primeira igualdade. Com efeito, devemos mostrar que dado
ε > 0, existe δ > 0 tal que
p
ou seja, para 6= a (caso a ∈ Q),
q
p 1 1
∈ (a − δ, a + δ) < δ ⇒ − 0 = < ε.
q q q
1
Para isso, consideremos o conjunto finito F = q ∈ N; q ≤ (finito, pois o corpo
ε
ordenado R é arquimediano, donde, N é ilimitado). Indiquemos, para cada q ∈ F, por
mq
mq ∈ Z o maior inteiro tal que mq < a · q, ou seja, < a. Como F é finito, então,
q
mq
evidentemente, o conjunto Fm = ; q ∈ F é finito e, portanto, existe uma fração
q
m mq m
0
, que representa a maior das frações < a, com q ∈ F. Assim, 0 é a maior fração
q q q
menor do que a, com denominador em F. De maneira semelhante, indiquemos por nq ∈ Z
nq mq
o menor inteiro tal que a < . Daı́, como F é finito, Fn = ; q ∈ F também é
q q
n nq
e, consequentemente, existe uma fração 00 , que é a menor das frações tais que a < ,
q q
q ∈
com F. Logo, com exceção do a (caso a ∈ Q), nenhum número racional
do intervalo
m n m n
, pode ter denominador em F. Logo, se escrevermos δ = min a − 0 , 00 − a ,
q 0 q 00 q q
veremos que
p m n p
∈ , ⊂ (a − δ, a + δ) ⇒ ∈ (a − δ, a + δ)
q q 0 q 00 q
⇒ q∈/F
1
⇒ q>
ε
1
⇒ < ε.
q
Dessa maneira, lim g2 (x) = 0. Provado o afirmado, segue imediatamente que lim g(x) = 0
x→a x→a
para qualquer a ∈ R. Diante disso, g é contı́nua nos irracionais e no ponto 0, donde, pelo
Teorema 3.16, ω(g; x) = g(x) = 0, para todo x ∈ (R − Q) ∪ {0}. Por outro lado, f é
1
descontı́nua em todos os racionais não nulos, pois g(x) = 6= 0 para todo x ∈ Q − {0}.
q
Entretanto, o limite existe em qualquer ponto desse conjunto, e daı́, 0 é o único valor de
p
aderência de f em qualquer ponto x ∈ Q − {0}. Logo, pela Proposição 3.13, dado x = ,
q
128
p
em que é uma fração irredutı́vel com q > 0, tem-se
q
1 1 1 1
ω(g; x) = max 0, − min 0, = − 0 = = g(x).
q q q q
para todo x ∈ R.
129
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
FIGUEIREDO, Djairo Guedes. Análise I . 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1996. 266 p.
GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. São Paulo:
Atlas, 2002.
LIMA, Elon Lages. Curso de Análise. 14. ed. Rio de Janeiro: Associação Instituto
Nacional de Matemática Pura e Aplicada, 2012. 431 p.
LIMA, Elon Lages. Análise Real: funções de uma variável. 12. ed. Rio de Janeiro:
IMPA, 2014. 198 p.