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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

a
FACULDADE DE FILOSOFIA DOM AURELINO MATOS
CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

CLAUBER LAN LIMA BANDEIRA

A CLASSIFICAÇÃO DE SUPERFÍCIES REGRADAS MÍNIMAS NO R3

LIMOEIRO DO NORTE - CEARÁ


2023
CLAUBER LAN LIMA BANDEIRA

A CLASSIFICAÇÃO DE SUPERFÍCIES REGRADAS MÍNIMAS NO R3

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao curso de Licenciatura em Matemática
da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano
Matos, centro da Universidade Estadual do
Ceará, como requisito parcial à obtenção do
grau de licenciado em Matemática.

Orientador: Prof. Dr. Wanderley de Oliveira


Pereira

LIMOEIRO DO NORTE - CEARÁ


2023
CLAUBER LAN LIMA BANDEIRA

A CLASSIFICAÇÃO DE SUPERFÍCIES REGRADAS MÍNIMAS NO R3

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Licenciatura em Matemática da
Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos,
centro da Universidade Estadual do Ceará,
como requisito parcial à obtenção do grau de
licenciado em Matemática.

Aprovada em: 04 de janeiro de 2023

AVALIAÇÃO

Prof. Dr. Wanderley de Oliveira Pereira


Universidade Estadual do Ceará (UECE)
1

Dedico este trabalho primeiramente a Deus,


por sempre estar comigo, e aos meu pais e
toda minha famı́lia.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus por todos as maravilhas que tem feito em minha vida, por estar
sempre comigo, abrindo portas e guiando meus passos, superando todos os obstáculos
com dedicação e sabedoria.
Aos meus pais, Liduina Maria de Lima Bandeira e Cenobio Bandeira Sobrinho, que me
apoiaram e me ensinaram a acreditar que por mais difı́cil que seja a jornada, nunca deve-
mos perder a fé e sempre perseguir nossos objetivos. Aos meus irmãos, especialmente ao
Claubio Bandeira e sua companheira Priscila de Sousa, por todo o apoio e ajuda durante
todo o meu percuso durante o curso.
Aos meus amigos Eloan Gurgel, Ívina Karol, Patrick de Oliveira, Raquel Bandeira, Tássio
de Jesus e Williana Nascimento, que compartilharam alegrias e tristezas, e que enfretaram
tantos desafios junto a mim, acreditando que não importa o quão difı́cil seja a batalha,
sempre daria tudo certo no final.
Gostaria de agradecer ao meu orientador, Wanderley de Oliveira, pelo apoio, disponibi-
lidade e excelente orientação durante toda a jornada, que desde o inı́cio acreditou em
minha capacidade e pela oportunidade de ser seu bolsista, onde me ajudou aprimorar
meus conhecimentos, que foi muito importante para compor este trabalho.
À todos os professores do curso que contribuı́ram significativamente para a minha formação
académica e profissional, para além da dedicação na partilha de conhecimento que foi es-
sencial para engrandecer este trabalho.
Enfim, à todos que de uma forma ou de outra contribuı́ram para a concretização deste
sonho.
1

“Eu penso que o sentido da vida é ser feliz, e


como ser feliz de fato se não compartilhando
experiências afetivas com alguém, e não com
coisas ou objetos”
(Anderson Sousa)
RESUMO

Neste trabalho será feito um estudo teórico da geometria diferencial de curvas e superfı́cies
regulares, abordando o tema de forma bem simples para que o material fique acessı́vel a
professores ou mesmo alunos ou qualquer pessoa interessada no tema, todos os conceitos
matemáticos envolvidos são apresentados de forma clara e objetiva. Usando as curvas
como ponto de partida para o estudo, mostrando resultados de classificação de curvas por
meio de informações conhecidas, à priori, sobre a curvatura e a torção destas curvas. Em
seguida, estudamos superfı́cies regulares, apresentando resultados e conceitos importan-
tes, incluindo curvatura média e gaussiana, primeira e segunda formas fundamentais e
superfı́cies regulares, e então passamos para as superfı́cies mı́nimas, objeto central de es-
tudo deste trabalho. Esse trabalho tem como objetivo estudar e classificar as superfı́cies
regulares, regradas que possuem curvatura média constante igual a zero, ou seja, su-
perfı́cies mı́nimas. A metodologia aplicada foi a de pesquisa bibliográfica com a pesquisa
sobre a história e solução do problema e, em seguida de estudo dos tópicos de Geometria
Diferencial envolvidos. Obteve-se como resultado um teorema de classificação que diz que
as únicas superfı́cies regradas e mı́nimas são o plano e o helicóide.

Palavras-chave: Classificação das Curvas. Curvatura Média. Superfı́cies Mı́nimas.


ABSTRACT

In this work a theoretical study of the differential geometry of curves and surfaces will be
made. regular sessions, approaching the subject in a very simple way so that the material
is accessible to teachers or even students or anyone interested in the topic, all concepts
mathematicians involved are presented in a clear and objective way. using the curves as a
starting point for the study, showing results of classification of curves by means of informa-
tion known, a priori, about the curvature and torsion of these curves. In Next, we study
regular surfaces, presenting important results and concepts, including mean and Gaussian
curvature, first and second fundamental forms, and regular surfaces, and then we move
on to minimal surfaces, the central object of study in this work. This work aims to study
and classify the surfaces regular, ruled that have a constant mean curvature equal to zero,
that is, minimal surfaces. The applied methodology was the bibliographic research with
the research about the history and solution of the problem and, after that, the study
of topics in Geometry Differential involved. As a result, a classification theorem was ob-
tained which says that the only ruled and minimal surfaces are the plane and the helicoid.

Keywords: Classification of Curves. Middle Curvature. Minimal Surfaces.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Representação do traço do exemplo 2.1 . . . . . . . . . . . . . . 14


Figura 2 – Representação do traço do exemplo 2.3 . . . . . . . . . . . . . . 15
Figura 3 – Representação do traço do exemplo 2.4 . . . . . . . . . . . . . . 15
Figura 4 – Representação do traço do exemplo 2.7 . . . . . . . . . . . . . . 16
Figura 5 – Diagrama de reparametrização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
Figura 6 – Vizinhança coordenada do ponto p ∈ S . . . . . . . . . . . . . . . 30
Figura 7 – Cobertura da esfera S 2 pelas parametrizações. . . . . . . . . . . 34
Figura 8 – Aplicação Inversa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Figura 9 – Representação do catenóide . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Figura 10 – Representação do helicóide . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2 PRELIMINARES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.1 Estudo de Curvas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3 SUPERFÍCIES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.1 Superfı́cies Regulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.2 Primeira forma Fundamental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.3 Segunda forma fundamental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.4 Curvaturas de Gauss e Média . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.5 Superfı́cies Mı́nimas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
4 TEOREMA DE BARBOSA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
11

1 INTRODUÇÃO

Todos os dias nos deparamos com diferentes problemas em que precisa de


conhecimentos de diversas áreas e muitos desses problemas podem ser resolvidos aplicando
Cálculo Diferencial e Integral. Ele é dividido em dois, Cálculo Diferencial envolve o estudo
de derivadas e o cálculo integral se refere para o cálculo de integrais. O Cálculo Diferencial
e Integral estuda a taxa de variação de gradezas e a acumulação de quantidades de uma
forma mais simples, pela qual é possı́vel calcular a variação da inclinação de uma reta
e a área sob um determinado sólido. Portanto, engenheiros civis podem ultilizar para
calcular cargas, volumes, áreas, momentos de inércia, deformação, centro de gravidade,
entre muitos outros, ou seja, pode ser ultilizado na construção de projetos estruturais,
como as dimensões de vigas, lajes e pilares, também pode ser calculado o formato, tamanho
e volume máximo de cisternas e piscinas, e o custo da obra pode ser ainda calculado usando
equações de enésimo grau.
A Geometria Diferencial é a parte da matemática que estuda as propriedades de
curvas e superfı́cies por meio de ferramentas de diferenciação e integração. Informalmente,
a Geometria Diferencial desenvolveu-se paralelamente ao Cálculo Diferencial e Integral,
mas foi formada e conhecida a partir do trabalho superfı́cies de Carl Friedrich Gauss no
século XVIII. Basicamente, a geometria diferencial visa produzir aplicar os métodos e
regras estudados no cálculo a problemas geometricos. Mais precisamente, a geometria
diferencial inclui o estudo de objetos geométricos, chamados de curvas e superfı́cies, com
base na noção de que existe uma tangente ou plano próximo a cada um de seus ponto.
A história da geometria diferencial começa com o estudo das curvas. Os gregos
Euclides, Arquimedes e Apolônio descobriram conceitos como a tangência de uma linha
à uma curva. No século XVII, os franceses Pierre e Fermat e René Descartes criaram
a geometria analı́tica moderna, e o alemão Gottfried von Leibniz e o inglês Sir Isaac
Newton inventou a geometria analı́tica moderna, algoritmos de cálculo infinitesimal, que
permitem o estudo de curvas e superfı́cies através de suas propriedades diferenciais. O
pródigo Leonhard Euler aluno de Johann Bernoulli, fez várias descobertas dominou a
matemática durante grande parte do século XVIII. Sua maior contribuição à geometria
diferencial, publicada em 1760, foi provavelmente seu estudo da curvatura das seções
planas da superfı́cie. Em 1772, Euler estava preocupado com o problema de saber sob quais
condições as superfı́cies, como cilindros e cones, podem ser mapeadas isometricamente no
plano. Ele descobriu que uma condição necessária é ser regrada, ou seja, ser coberto por
linhas.
Indiscutivelmente, a geometria pura e prática do passado foi sendo melhorada
após a linguagem, escrita e novas técnicas desenvolvidas. Em todo esse desenvolvimento
da geometria, temos hoje uma geometria muito rica e complexa que auxilia na modelagem
e construção de muitos dos produtos atuais que possuem uma boa durabilidade e buscam
12

sempre o menor custo de construção. Nesse ambiente de interesse a geometria diferencial


se faz presente no estudo de Curvas Parametrizadas e Regular, Superfı́cies Regulares,
Curvatura Média Constante, Curvatura de Gauss, Superfı́cies de Revolução, Primeira e
Segunda Forma Fundamental, Superfı́cies Regradas, Superfı́cies Mı́nimas, etc.
Em suma, o estudo de Geometria Diferencial é muito importante na ma-
temática porque a teoria tem inúmeras aplicações em outros campos da ciência. Mui-
tos problemas que surgem em matemática, fı́sica e pesquisas de engenharia podem ser
modelados e resolvidos por equações diferenciais e, naturalmente, surgem de alguns pro-
blemas de Geometria Diferencial. Em particular, as superfı́cies mı́nimas são as que mais
pesquisadas entre os cientistas para modelar os fenômenos estudados.
A teoria das superfı́cies mı́nimas ficou mais conhecida a partir do problema
de Plateau. Historicamente, este assunto começou com Lagrange no século XVIII, que
propôs o algoritmo de métodos para o cálculo variacionais em sua famosa autobiografia.
Em 1740, Euler obteve uma superfı́cie mı́nima por meio da rotação da catenária, que
hoje conhecemos como catenóide, nomeada por Plateau. As superfı́cies mı́nimas são um
dos principais tópicos em geometria diferencial e tem despertado grande interesse entre
os matemáticos. Os resultados para essas superfı́cies são agradáveis porque são fáceis
de visualizar e é uma teoria muita rica. Está profudamente ligada a funções analı́ticas
de variáveis complexas e equações diferenciais parciais. O termo superfı́cies mı́nimas foi
introduzido por Lagrange em 1760. Superfı́cies mı́nimas são frequentemente associadas
a bolhas de sabão, que pode-se mostrar fisicamente, que a pelı́cula assume uma posição
onde tem curvatura média zero em seus pontos regulares. Alguns exemplos de superfı́cies
mı́nimas são, plano euclidiano, helicóide, catenóide.
Deste ponto de vista, com base nos autores acima mencionados, este trabalho
visa estudar o conceito e propriedades de curvas e superfı́cies no plano, e obter resultados
de classificação de curvas a partir de certas informações sobre a curvatura e torção da
curva, obtendo resultados de classificação de superfı́cies, as superfı́cies regradas, focando
na curvatura média igual a zero. Nesse contexto, o referido trabalho tem como objetivo
principal estudar uma classe de superfı́cies regulares, as chamadas superfı́cies regradas, e
investigar dentre elas quais são as superfı́cies que são mı́nimas.
O presente trabalho será baseado em pesquisa bibliográfica e iremos reunir
informações que nos ajudarão a desenvolver o projeto com a maior precisão e rigor possı́vel.
Além disso, um software de computador matemático o Geogebra é usado para desenhar
as superfı́cies que serão apresentados ao longo do trabalho. A bibliografia utilizada para
escrever este trabalho está listada nas referências abaixo.
Assim, esse trabalho será dividido em três seções:
O primeiro capı́tulo vamos estudar a teoria de curvas parametrizadas dife-
renciáveis no plano, por meio de conceitos, definições, suas propriedades e exemplos. Em
seguida, dada a informação prévia da curvatura e torção da curva, utilizando o Teo-
13

rema Fundamental das Curvas e a fórmula de Frenet-Serrat como principais ferramentas,


são estabelecidos e provados os resultados da classificação de curvas parametrizadas dife-
renciáveis. Dentre os resultados que serão revelados neste capı́tulo, temos como destaque
as curvas com curvatura nula, curvas de curvatura constante, curvas de torção zero, curvas
de torção constante e curvas nas quais curvatura e torção estão relacionadas sob certas
condições.
No segundo capı́tulo, introduziremos os conceitos importantes de superfı́cies
regulares, tais como, curvaturas média e gaussiana, formas quadráticas de primeira e
segunda ordem, superfı́cies de revolução e superfı́cies regradas. Além disso, apresentare-
mos importantes resultados do estudo de superfı́cies, as superfı́cies mı́nimas, que é nosso
principal objetivo de estudo desse trabalho.
Por último, no terceiro capı́tulo, abordaremos o solução do nosso problema de
estudo, ultilizando as ideias de Barbosa, onde é demonstrado o teorema, que prova que,
se a superfı́cie regular é regrada e mı́nima, então essa superfı́cie é um plano ou helicóide.
14

2 PRELIMINARES

Nesta seção, apresentamos um estudo sobre curvas que são necessários para
nosso estudo, apresentaremos resultados, definições e alguns exemplos, que ajudaram
para as proximas seções e subseções seguintes deste trabalho. Concluı́mos esta seção com
importante teorema sobre classificação de algumas curvas por meio de informações sobre
curvatura ou torção de cada uma dela.

2.1 Estudo de Curvas

Nesta subseção tratamos de curvas, principalmente as de R3 , além de ilustrar


essas curvas, mostramos também o conceito de curvas parametrizadas e diferenciáveis,
reparametrização de curvas, comprimento de curvas, reparametrização por comprimento
de arco, parâmetro do comprimento de arco, curvatura, torção e triedro de Frenet-Serret.
Os conceitos discutidos abaixo são baseados nos livros de Geometria Diferencial de Curvas
e Superfı́cies de Manfredo Perdigão do Carmo e Elementary Diferential Geometry de
Barrett O’Neill.

Definição 2.1 Uma curva no R3 , é uma aplicação α : I → R3 definida num intervalo


aberto em R3 .

A seguir, apresentamos alguns exemplos de curvas:

Exemplo 2.1 A aplicação α : R → R3 dada por

α(t) = (a cos t, a sen t, bt), t ∈ R

uma curva que modela uma hélice sobre o cilindro x2 + y 2 = a2 . A hélice apresentada a
seguir chamada de traço da curva α.

Figura 1: Representação do traço do exemplo 2.1

Fonte: Elaborada pelo autor.


15

Exemplo 2.2 A reta é o tipo mais simples de curva no espaço euclidiano, explicitamente
a curva α : R → R3 dada por

α(t) = p + qt = (p1 + tq1 , p2 + tq2 , p3 + tq3 )(q ̸= 0)

é a reta que passsa pelo ponto p = a(0).

Exemplo 2.3 A aplicação α : R → R2 dada por

α(t) = (t3 , t2 ), t ∈ R

é uma curva cujo traço está ilustrado na Figura 2.

Figura 2: Representação do traço do exemplo 2.3

Fonte: Elaborada pelo autor.

Exemplo 2.4 A aplicação α : R → R2 dada por

α(t) = (t, |t|), t ∈ R

é uma curva cujo traço está ilustrado na Figura 3.

Figura 3: Representação do traço do exemplo 2.4

Fonte: Elaborada pelo autor.

A seguir apresentamos uma classe de curvas para o nosso estudo.


16

Definição 2.2 Uma curva diferenciável parametrizada é uma aplicação diferenciável α :


I → R3 de um intervalo aberto I = (a, b) da reta real R em R3 .

Definição 2.3 Uma curva diferenciável parametrizada α : I → R3 é chamada regular se


α’(t) ̸= 0 para todo t ∈ I.

Exemplo 2.5 A curva dada no Exemplo 2.3 é uma curva diferenciável parametrizada,
mas não é regular, pois α′ (t) = (3t2 , 2t) = (0, 0) para t = 0. Ou seja, o vetor velocidade
é nulo para t = 0.

Exemplo 2.6 A aplicação α : R → R2 , dada no Exemplo 2.4 não é uma curva para-
metrizada diferenciável, pois |t| não é diferenciável em t = 0.

Exemplo 2.7 A aplicação α : R → R2 dada por

α(t) = (t3 − 4t, t2 − 4), t ∈ R

é uma curva parametrizada diferenciável regular, pois α′ (t) = (3t2 − 4, 2t) ̸= (0, 0) para
todo t ∈ R. O traço está ilustrado na Figura 4.

Figura 4: Representação do traço do exemplo 2.7

Fonte: Elaborada pelo autor.

Também podemos definir um vetor velocidade para a curva α, onde o vetor


velocidade será dado pela derivada da função coordenada, ou seja, se α(t) = (α1 , α2 , α3 ),
o vetor velocidade é dado por
 
′ dα1 dα2 dα3
α (t) = (t), (t), (t)
dt dt dt

Ultilizando a norma de vetores para o espaço R3 , o comprimento do vetor da curva α em


17

cada instante de tempo t é dada por


p
||α′ (t)|| = (α1′ (t))2 + (α2′ (t))2 + (α3′ (t))2 .

Definição 2.4 Seja α : I → R3 uma curva. Se h : J → I é uma função diferenciável no


intervalo aberto J então a função composta

β = α(h) : J → R3

é uma curva chamada de reparametrização de α por h.


Para cada s ∈ J, a nova curva β está no ponto β(s) = α(h(s)) alcançado por
α em h(s) no intervalo I, como na figura abaixo.

Figura 5: Diagrama de reparametrização

Fonte: Elaborada pelo autor.

Para calcular as coordenadas de β, vamos subistituir t = h(s) nas coordenadas


α1 (t), α2 (t), α3 (t) de α. Tendo como exemplo o que foi dito, suponhamos
√ √
α(t) = ( t, t t, 1 − t)

no intervalo I = (0, 4). Se h(s) = s2 em J : (0, 2) então a reparametrização da curva α é

β(s) = α(h(s)) = α(s2 ) = (s, s3 , 1 − s2 ).

É importante observar como se comporta o vetor velocidade da curva repa-


rametrizada. O lema a seguir estabelece a relação entre os vetores velocidade da curva
original e a raparametrização.
Lema 2.1 Se β é uma reparametrização de α por h, então

dh
β ′ (s) = (s)(α′ (h(s)).
ds

Demonstração: Considere α(t) = (α1′ (t), α2′ (t), α3 (t)), e a reparametrização

β(s) = α(h(s)) = (α1′ (h(s)), α2′ (h(s)), α3 (h(s))).


18

Usando a regra da cadeira para comoposição de funções (g(f ))′ = g ′ (f ) · f ′ para cada
função coordenada, obtemos que

αi (h)′ (s) = αi′ (h(s)) · h′ (s).

Pela definição do vetor velocidade, temos

β(s) = α(h)′ (s)


= (α1′ (h(s)) · h′ (s), α2′ (h(s)) · h′ (s), α3′ (h(s)) · h′ (s)))
= h′ (s) · α′ (h(s)).

Como querı́amos demonstrar.


A partir de agora, consideraremos apenas curvas diferenciáveis parametrizadas
regulares.

Definição 2.5 Dado t0 ∈ I, o comprimento de arco de uma curva parametrizada regular,


α : I → R3 , a partir do ponto t0 é por definição
Z t
s(t) = ||α′ (t)||dt
t0

em que
p
||α′ (t)|| = (x′ (t))2 + (y ′ (t))2 + (z ′ (t))2

é o comprimento do vetor α′ (t).


Definição 2.6 Dizemos que uma curva regular α : I → R3 está parametrizada pelo
comprimento de arco, se
Z b
||α′ (t)||dt = b − a,
a

para todo a, b ∈ I, a < b.


Com essa definição podemos observar que uma curva regular com velocidade
constante e igual a 1 é uma condição necessária e suficiente para a curva ser parametrizada
por comprimento de arco.  s s s
Exemplo 2.8 Considere a curva regular α(s) = a cos( ), a sen( ), b , a ∈ R, onde
c c c
c2 = a2 + b2 . Vamos verificar se essa curva é parametrizada por comprimento de arco.
19

 s s s
α(s) = a cos( ), a sen( ), b
 c c c 
a s a s b
α′ (s) = − sen( ), cos( ),
c c c c c
s  2
 a s 2  a s 2 b
||α′ (s)|| = − sen( ) + cos( ) +
c c c c c
r
a2 2
 s  a2
2
 s  b2
= 2
sen + 2 cos + 2
rc c c c c
2 
a 2
 s 
2
 s  b2
= 2
cos + sen +
rc c c c2
a2 + b 2
= 2
s c
a2 + b 2
=
a2 + b 2

= 1 = 1.

Logo, acabamos de ver uma curva parametrizada pelo comprimento de arco.


Exemplo 2.9 Considere a curva regular α(t) = (2 cos t, 2 sen t, t), a ∈ R.

Vamos verificar se essa curva é parametrizada pelo comprimento de arco.

α(t) = (2 cos t, 2sen t, t)


α′ (t) = (−2sen t, 2 cos t, 1)
p
||α′ || = (−2 sen t)2 + (2 cos t)2 + (1)2

= 4 sen 2 t + 4 cos2 t + 1
p
= 4( sen 2 t + cos2 t) + 1
p
= 4(1) + 1

= 5.

Logo, essa curva não é parametrizada pelo comprimento de arco.


Teorema 2.1 Se α é uma curva regular em R3 , então existe uma reparametrização β de
α tal que β tem velocidade unitária.
Demonstração: Fixemos um número a no domı́nio de α : I → R3 e considere a função
comprimento de arco.
Z b
s(t) = ||α(t)||dt
a

ds
(a reparametrização resultante é baseada em t=a). Logo, a derivada da função s(t) é
dt
uma função v = ∥|α′ ||. Como α é regular, por definição temos que α′ nunca será zero, e
20

ds
consequentemente > 0. Por Teorema da função inversa, a função s tem uma função
dt
dt ds
inversa t = t(s), cuja derivada em s = s(t) é a recı́proca de em t. Em particular,
ds dt
dt
> 0.
ds
Agora sejam β a reparametrização β(s) = α(t(s)) de α. Afirmamos que β tem
velocidade unitária. De fato, pelo Lema 2.1 temos

dt
β ′ (s) = (s)α′ (t(s)).
ds

Logo, pelas observações anteriores, a velocidade de β é

dt
||β ′ (s)|| = (s)||α′ (t(s))||
ds
dt ds
= (s) (t(s))
ds dt
= 1.

Como querı́amos demonstrar. Vejamos o exemplo a seguir.


Exemplo 2.10 Considere a curva regular do exemplo 2.8.

Temos que o comprimento de arco ||α′ (t)|| = 5. Encontremos a curva parametrizada di-
ferenciável β(s) = (α(s−1 (s))), onde s é o parâmetro do comprimento de arco e aplicamos
os resultados do Teorema 2.1 na curva β.


Z t √
s(t) = || 5||dt = 5t
0

⇒ s = 5t
s
⇒ t= √ .
5

Logo,

s
β(s) = (α(s−1 (s))) = α(t(s)) = α(t) = α( ).
5

Assim, obtivemos uma reparametrização β, de modo que esta nova reparametrização tem
velocidade unitária. Portanto,

s s s
β(s) = (2 cos( √ ), 2 sen ( √ ), √ ).
5 5 5

Note ainda que,

2 s 2 s 1
β ′ (s) = (− √ sen ( √ ), √ cos( √ ), √ ).
5 5 5 5 5
21

1
Então, β ′ (s) é regular, pois √ ̸= 0. Além disso
5

s
4 s 4 s 1
||β ′ (s)|| = sen 2 ( √ ) + cos2 ( √ ) +
5 5 5 5 5
r
4 1
= · 1 + = 1.
5 5

Nas curvas, temos um elemento importante a ser estudado, suas curvaturas.


Essas curvaturas, são variações de sua posição no espaço, que chamamos de curvatura da
curva e torção.

Definição 2.7 Seja α : I → R3 uma curva parametrizada pelo comprimento de arco


s ∈ I. O número ||β ′′ (s)|| = k(s) chama-se curvatura de β em s.

Exemplo 2.11 Calcule a curvatura da hélice α(t) = (a cos(t), a sen (t), bt) do Exemplo
2.1.
Note que,

α′ (t) = (−a sen (t), a cos(t), b)


p √
||α′ (t)|| = a2 sen 2 (t) + a2 cos2 (t) + b2 = a2 + b2 > 0.

Consideremos um parâmetro s para reparametrizar por comprimento de arco. Logo


Z t √
s(t) = || a2 + b2 ||dt
0

= t a2 + b 2
√ s
⇒ s = t a2 + b 2 ⇒ t = √ .
a2 + b 2

Usando o novo parâmetro em função de s,

s s s
β(s) = (a cos( √ ), a sen ( √ ), b √ )
a2 + b 2 a2 + b 2 a2 + b 2
−a s a s b
β ′ (s) = ( √ sen ( √ ), √ cos( √ ), √ )
a2 + b 2 a2 + b 2 a2 + b 2 a2 + b 2 a2 + b 2
−a s −a s
β ′′ (s) = ( √ cos( √ ), √ sen ( √ ), 0)
2
a +b 2 2
a +b 2 2
a +b 2 a + b2
2
s
a2 s a2 s
||β ′′ (s)|| = √ cos2 ( √ )+ √ cos( √ )
( a2 + b 2 ) 2 a2 + b 2 ( a2 + b2 )2 a2 + b 2
r
′′ a a
||β (s)|| = ( 2 2
)2 = 2
a +b a + b2
a
⇒ k(s) = 2 .
a + b2
22

Isso significa que a hélice tem curvatura constante e diferente de zero.


A cada ponto k(s) ̸= 0, podemos dizer que a relação α′′ (s) = k(s) · n(s)
estará bem definida, onde o vetor n(s) é unitário e tem direção de α′′ (s). Podemos dizer
também que α′′ é normal a α′ , sabendo α′ (s) · α′ (s) = 1 e derivando cada membro um a
um, teremos α′′ (s) · α′ (s) = 0, então n(s) é normal a α′ (s), chamado de vetor normal em
s. O plano formado por α′ (s) e n(s) é chamado de plano osculador em s. Logo, nenhum
plano osculador é definido em ponto de k(s) = 0. Podemos denotar o vetor tangente
unitário de α′ (s) em s por t(s) = α′ (s). Portanto com isso obtemos que

t(s) = k(s) · n(s).

Considerando o produto vetorial de t ∧ n, obteremos um vetor b, tal que será o vetor


binormal, que é normal ao plano osculador. Com o intuito de calcular b′ (s), podemos
notar que b é normal a b′ . Por outro lado b′ (s) = τ · n(s).

Definição 2.8 Seja α : I → R3 uma curva parametrizada pelo comprimento de arco s


tal que α′′ (s) ̸= 0, s ∈ I. O número τ (s) definido por b′ (s) = τ (s)n(s) é chamado torção
de β em s.

Exemplo 2.12 Calcule a torção da hélice α já parametrizada.


Temos que,

s s s
β(s) = (a cos( √ ), a sen ( √ ), b √ ).
a2 + b 2 a2 + b 2 a2 + b 2

Assim,

−a s −a s
β ′′ (s) = ( √ cos( √ ), √ sen ( √ ), 0).
2
a +b 2 2
a +b 2 2
a +b 2 a + b2
2

Daı́,
 
−a s −a s
√ cos( √ ), √ sen ( √ ), 0
β ′′ a2 + b 2 a2 + b 2 a2 + b 2 a2 + b 2
n(s) = = a
||β ′′ ||
a2 + b 2
s s
⇒ n(s) = (− cos( √ ), −sen ( √ ), 0),
a2 + b 2 a2 + b 2

como b = t ∧ n, tal que

−a s a s b
t = β ′ (s) = ( √ sen ( √ ), √ cos( √ ), √ ).
a2 + b 2 a2 + b 2 a2 + b 2 a2 + b 2 a2 + b 2
23

Calcularemos esse produto veotorial por meio do calculo de determinantes, ou seja,





i ⃗
j ⃗
k


−a s a s b
√ sen √ √ cos √ √

b = a2 + b 2

a 2 + b2 a 2 + b2 a 2 + b2 a

2 + b2

− cos( √ s s

−sen √ 0
a2 + b 2 a2 + b 2
 
1 b s b s
= √ 2 2
sen √ , 2 2
cos √ ,a
a +b a +b
2 2 a +b a +b
2 2 a + b2
2
 
′ b s s
⇒b = 2 cos √ , sen √ ,0 .
a + b2 a2 + b 2 a2 + b 2

Como b′ (s) = τ (s)n(s) então


   
b s s s s
cos √ , sen √ ,0 = τ (s) − cos( √ ), −sen ( √ ), 0
a + b2
2
a2 + b 2 a2 + b 2 a2 + b 2 a2 + b 2
b
⇒ τ (s) = − 2 .
a + b2

Portanto, a hélice tem torção positiva se b < 0 e negativa se b > 0.


Entre os métodos de resolução de problemas com geometria, o mais eficaz é a
escolha de um sistema de coordenadas adaptado ao problema. Temos para esse estudo
um sistema de coordenadas naturais, o triedro de Frenet-Serret formado por três vetores
unitários e ortogonais entre si t(s), n(s), b(s). Vejamos o teorema a seguir.

Teorema 2.2 Seja β : I ⇒ R3 é uma curva parametrizada por comprimento de arco,


curtvatura k > 0 e torção τ , então

t′ = kn (1)
n′ = −kt − τ b (2)
b′ = τ n (3)

Demonstração:

(1) Sabemos que

||t|| = ||n|| = ||b|| = 1.


24

< t, b > = 0
< b, n > = 0
< t, n > = 0
< t, t > = 1 ⇒< t, t′ >= 0.

Como k = ||t′ ||, então

t′
n= ⇒ t′ = ||t′ || · n = kn,
||t′ ||

portanto, t′ = kn.
(2) Temos que

n′ =< n′ , t > t+ < n′ , n > n+ < n′ , b > b,

como < n, t >= 0, então < n′ , t > + < n, t′ >= 0, daı́

< n′ , t >= − < n, t′ >= − < n, kn >= − < n, n > k = −k.

Como, < n, b >= 0 segue < n′ , b > + < n, b′ >= 0. Assim

< n′ , b >= − < n, b′ >= − < n, −τ n >= τ.

Portanto, n′ = −kt + τ b.
(3) Temos que

b′ =< b′ , t > t+ < b′ , n > n+ < b′ , b > b.

Como < b, b >= 1, temos < b′ , b >= 0. Agora como < b, t >= 0 segue que < b′ , t > + <
b, t′ >= 0. Assim

< b′ , t >= − < b, t′ >= − < b, kn >= − < b, n > k = 0.

Desde que, < b, n >= 0 segue que, < b′ , n > + < b, n′ >= 0. Assim

< b′ , n >= − < b, n′ >= − < b, −τ t + τ b >= −τ.

Portanto, b′ = −τ n. Com o teorema acima demonstrado podemos expressar


uma curva β em termos do quadro de Frenet Serret.
Definição 2.9 Uma curva regular α em R3 é chamada hélice cilı́ndrica se o vetor tan-
25

gente unitário de α faz um ângulo θ constante com algum vetor unitário ⃗u, isto é,
< t(t), ⃗u >= cos θ para todo t.
Um exemplo de curva cilı́ndrica é a hélice do Exemplo 2.8. Para ter essa
conclusão basta observar que os vetores tangentes formam um ângulo constante como o
eixo z.
A curvatura k e a torção τ de uma curva determinam o comportamento local
da curva perto de uma vizinhança de seus pontos. Informações sobre a curvatura da curva
determinam até que ponto a curva não é mais uma reta e que informações sobre a torção
da curva determina o quanto essa curva não é mais plana. O teorema a seguir, classifica
algumas curvas parametrizadas no plano e no espaço por meio de informações sobre a
curvatura ou à torção de cada uma delas.

Teorema 2.3 Seja α : I → R3 uma curva regular parametrizada com |α′ (t)| = 1. Então:
(1) uma reta se, somente se k = 0;
(2) uma curva plana se, somente se, τ (s) = 0;
(3) um cı́rculo se, somente se, k > 0 e τ = 0;
τ
(4) uma hélice cilı́ndrica se, somente se, ̸= 0 e constante;
k
(5) uma hélice circular se, somente se, k > 0 e τ > 0 constantes.

Demonstração item (1). Suponhamos que α é uma reta. Então α pode ser parametri-
zada por

α(s) = (x0 + as, y0 + bs, z0 + cs).

Logo, α′ (s) = (a, b, c). Daı́, α′′ (s) = (0, 0, 0) e, consequentemente

k(s) = |α′′ (s)| = (0).

Por outro lado, seja α uma curva com k(s) = 0. Logo, |α′′ (s)| = 0 implica que
p
(x′′ (s))2 + (y ′′ (s))2 + (z ′′ (s))2 = 0,

onde x′′ (s) = y ′′ (s) = z ′′ (s) = 0, consequentemente α′′ (s) = (0, 0, 0). Então, existe uma
constante m, tal que
Z s Z s
′ ′ ′′ ′
α (s) = α (0) + α (z)dz = α (0) + 0 dz = α′ (0) + m = u,
0 0

onde, u = α′ (0) + m. Disto, também temos que existe uma constante n tal que
Z s Z s

α(s) = α(0) + α (z)dz = α(0) + u ds = us + (α(0) + n) = us + v,
0 0
26

onde v = α(0) + n. Portanto, α(s) = us + v e, consequentemente, α é uma reta.

Demonstração item (2). Suponhamos que α é uma curva plana. Logo, o vetor binormal
à α em s satisfaz b(s) = 0, ou seja b(s) é constante. Então, b′ (s) = 0 e, consequentemente

τ (s) = b′ (s)n(s) = 0 · n(s) = 0.

Por outro lado, seja α uma curva com torção τ (s) = 0. Logo, b′ (s) = 0 e, consequente-
mente, o vetor binormal b(s) é constante. Definamos a seguinte aplicação:

f (s) = (α(s) − α(s0 ))b(s),

onde s0 é constante em relação à s. Derivando a expressão acima em relação a s, obtemos

f ′ (s) = α′ (s)b(s) + b′ (s)(α(s) − α(s0 )) = t(s)b(s)

Como t(s) e b(s) são vetores ortonormais, então f ′ (s) = 0. Logo, f é constante. Notem
também que

f (s0 ) = (α(s0 ) − α(s0 ))b(s) = 0.

Portanto, α está contido no plano ortogonal a b(s) e passando por α(s0 ).

Demonstração item (3). Se α é um cı́rculo de raio r = 1, temos que

α(t) = (cos t, sen t, 0).

Assim,

t(t) = α′ (t) = (−sen t, cos t, 0)


t′ (t) = α′′ (t) = (− cos t, −sen t, 0).

Desta forma, k(t) = ||α′′ (t)|| = cos2 t + sen2 t = 1. Sendo o cı́rculo uma curva plana,
temos que a torção é τ = 0.
Agora suponhamos α uma curva tal que as curvaturas k > 0 e τ = 0, com
k constante. Temos que mostrar que todo ponto da curva visto de um certo ponto um
mesmo valor.
Usando o Triedro de Frenet da curva α podemos definir a curva

1
γ(t) = α(t) + n(t)
k

em que n(t) é o vetor normal da curva α.


27

Note que

1
γ ′ (t) = α′ (t) + n′ (t)
k
1
= t(t) + (−kt(t) + 0b(t))
k
1
= t(t) + (−kt(t)) = 0.
k

Desta forma, a curva γ é uma curva constante γ(t) = c para todo t. Agora,
como

d(c, α(t)) = ||c − α(t)||


1
= ||α(t) + n(t) − α(t)||
k
1
= || n(t)||
k
1
=
k
1
Portanto, a curva α é um cı́rculo de centro c e raio .
k
Demonstração item (4). Suponha α uma curva regular que é uma hélice cı́lindrica
com k > 0. Por definição, temos que existe um vetor ⃗u tal que

< t(t), ⃗u >= cos θ

para todo t com θ constante. Derivando, temos

< t′ (t), ⃗u > + < t(t), ⃗0 > = 0


< t′ (t), ⃗u > = 0
< k · n(t), ⃗u > = 0
k· < n(t), ⃗u > = 0.

Como k ̸= 0, temos que < n(t), ⃗u >= 0. Assim, para cada t,⃗u mora no plano determinado
por t e b. Logo,

⃗u = cos θ + sen θ · b.

Derivando, segue

0 = cos θ(k · n) − sen θ(τ n)


0 = (k cos θ − τ sen θ)n
28

Assim, τ sen θ = k cos θ e, consequentemente ,

τ cos θ
= = constante.
k sen θ
τ
Reciprocamente, suponha constante. Escolha um ângulo θ tal que
k
τ
cot θ = .
k

Isso é possı́vel, pois a função cotangente é sobrejetiva. Defina

⃗u = cos θ · t(t) + sen θb(t),

temos

⃗u = cos θ(kn(t)) + sen θ(−τ n(t))


= (k cos θ − τ sen θ)n(t)
= ⃗0

τ
pois de cot θ = segue k cos θ − τ sen θ = 0. Assim, ⃗u é um vetor unitário tal que
k

< t(t), ⃗u > = < t(t), cos θ · t(t) + sen θ · b(t) >
= cos θ.

Portanto, α é uma hélice cilı́ndrica.

Demonstração item (5). Pelo Exemplo 2.1 temos que se α é uma hélice circular
temos que a curvatura k e a torção τ são constantes. Resta mostrar que se α é uma curva
tal que k e τ são constantes, então α é uma hélice circular.
Como α tem ||α′ (t)|| = 1 e k e τ constantes, segue que α é uma hélice cilı́ndrica.
Então existe ⃗u tal que < t(t), ⃗u >= cos θ, com θ um ângulo constante. A partir de α,
definamos a curva

γ ′ (t) = α(t)− < α(t) − α(t0 ), ⃗u > ⃗u.

Essa curva é a projeção α sobre o plano ortogonal a ⃗u que passa por α(t0 ). Assim, γ é uma
curva plana e dessa forma tem torção nula. Vamos calcular a curvatura de γ. Derivando,

γ ′ (t) = α′ (t)− < α′ (t), ⃗u > ⃗u.


29

Calculando |γ ′ (t)|,

< γ ′ (t), γ ′ (t)| = < α′ (t)− < α′ (t), ⃗u > ⃗u, α′ (t)− < α′ (t), ⃗u > ⃗u >
= < α′ (t), α′ (t) > − < α′ (t), ⃗u >2 − < α′ (t), ⃗u >2 + < α′ (t), ⃗u >2 (u)2
= 1 − cos2 θ − cos2 θ + cos2 θ · 1
= sen2 θ.

Desta forma, γ não é parametrizada por comprimento de arco. Supondo γ̄ a


reparametrização de γ por comprimento de arco, temos

γ(t) = γ̄(s(t))
γ ′ (t) = γ̄ ′ (s(t)) · s′ (t)
γ ′ (t) = γ̄(s(t)) · |γ ′ (t)|
γ ′ (t) = γ̄ ′ (s(t)) · sen θ.

Como a curvatura de γ é definida pela curvatura de γ̄, segue

γ ′′ (t) = γ̄ ′′ (s(t)) · s′ (t) · sen θ


γ ′′ (t) = γ̄ ′′ (s(t)) · sen2 θ
1
γ̄ ′′ (t) = 2
· γ ′′ (t)
sen θ
1
kγ = |γ̄ ′′ (t)| = 2
· |γ ′′ (t)|
sen θ
1 kα
= 2
· |α′′ (t)| = .
sen θ sen2 θ

Assim, a curvatura de γ é constante. Então γ é um cı́rculo, o que implica que α mora em


um cilı́ndro. O que prova o teorema.
30

3 SUPERFÍCIES

Nesta seção são apresentadas definições e resultados das superfı́cies regulares,


como primeira forma fundamental, segunda forma fundamental, superfı́cies de revolução,
curvaturas de Gauss e curvatura Média, superfı́cies regradas e superfı́cies mı́nimas. Esses
conceitos são apresentados de forma mais clara possı́vel com as demonstrações, facilitando
o leitor em um melhor entendimento dos passos. A seção termina com um exemplo de
superfı́cie mı́nima de revolução, o catenoı́de.

3.1 Superfı́cies Regulares

Definição 3.1 Um subconjunto S ⊂ R3 é uma superfı́cie regular se, para cada p ∈ S,


existe uma vizinhança V de p em R3 e uma aplicação X : U → V ∩ S de um aberto U de
R2 sobre V ∩ S ⊂ R2 tal que
1. X é diferenciável, isto é,

X(u, v) = (x(u, v), y(u, v), z(u, v)), (u, v) ∈ U

onde as funções x(u, v), y(u, v), z(u, v) têm derivadas parciais contı́nuas de todas as ordens
em U .
2. X é um homeomorfismo. Como x é uma bijeção contı́nua pela condição 1, então X
tem inversa X −1 : V ∩ S → U é contı́nua.
3. A diferencial dXq : R2 → R3 é injetiva para todo q ∈ U .
A aplicação X é chamada de uma parametrização ou um sistema de coordenadas (locais)
em (uma vizinhança de) p. A vizinhança V ∩ S de p em S é chamada de vizinhança
coordenada.

Figura 6: Vizinhança coordenada do ponto p ∈ S

Fonte: Elaborada pelo autor.

Observação 1 A condição (1) é natural pois em geometria diferencial uma superfı́cie S


terá um plano tangente em cada ponto.
31

Observação 2 A injetividade de X na condição(2) tem como objetivo excluir a possibi-


lidade de auto-interseções em superfı́cies regulares, que é necessário para podermos falar,
por exemplo, sobre o plano tangente em um ponto de S.

Observação 3 A continuidade da inversa na condição (2) serve para provar que certos
conceitos que dependem aparentemente da parametrização, na realidade só dependem do
ponto p ∈ S, isto é, independem da parametrização X : U → S ∩ V com p ∈ S ∩ V .

Observação 4 A condição (3) garante a existência de um plano tangente em todos os


pontos de S. Com intuito de expressar a condição (3) de uma forma mais conhecida, va-
mos agora calcular a matriz da aplicação linear dXq nas bases canônicas {e1 = (1, 0), e2 =
(0, 1)} de R2 , com coordenadas (u, v), e {f1 = (1, 0, 0), f2 = (0, 1, 0), f3 = (0, 0, 1)} de R3 ,
com coordenadas (x, y, z).
Seja q = (u0 , v0 ) ∈ U . O vetor e1 é tangente à curva u → (u, v0 ) cuja imagem
por X é a curva na superfı́cie S

u → (x(u, v0 ), y(u, v0 ), z(u, v0 )),

é chamada curva coordenada v = v0 . O vetor tangente desta curva em X(q) é o vetor


 
∂x ∂y ∂z
dXq (e1 ) = , , .
∂u ∂u ∂u

Analogamente, o vetor tangente à curva coordenada u = u0 ,

v → (x(u0 , v), y(u0 , v), z(u0 , v)),

imagem por X da curva v → (u0 , v) é o vetor


 
∂x ∂y ∂z
dXq (e2 ) = , , .
∂v ∂v ∂v

Portanto, a matriz da aplicação linear dXq nas bases canônicas de R2 e R3 é

∂x ∂x
 
 ∂u ∂v 
 
 
 ∂y ∂y 
 
dXq =  .
 ∂u ∂v 
 
 
 ∂z ∂z 
∂u ∂v

A condição (3) da Definição 3.1, nos fornece que dXq : R2 → R3 é injetora, quer dizer
que os dois vetores coluna da matriz Jacobiana acima são linearmente independentes. Ou
32

seja, que o seu produto vetorial deles é diferente de zero:

∂X ∂X
∧ ̸= 0.
∂u ∂v

Ou ainda, que uma das matrizes menores de ordem 2 da matriz dXq tem determinante
diferente de zero. Isto é, um dos determinantes:

∂x ∂x ∂y ∂y ∂x ∂x
     

∂(x, y)  ∂u
 ∂v  ∂(y, z)  ∂u
  ∂v  ∂(x, z)  ∂u
  ∂v 
= ; = ; = ,

∂(u, v)   ∂(u, v)   ∂(u, v) 
∂y ∂y ∂z ∂z ∂z ∂z

∂u ∂v ∂u ∂v ∂u ∂v

é diferente de zero.

A seguir, apresentamos alguns exemplos de superfı́cies regulares.

Exemplo 3.1 A esfera de centro na origem e raio 1

S 2 = {(x, y, z) ∈ R3 |x2 + y 2 + z 2 = 1}

é uma superfı́cie regular.


Seguindo a definição vamos mostrar que todo ponto de S 2 tem uma parametrização. A
interseção de S 2 com o subconjunto z > 0 de R3 é um gráfico da aplicação X1 : U ⊂
R2 → R3 dada por
p
X1 (u, v) = (u, v, 1 − (u2 + v 2 )), (u, v) ∈ U

em que R2 = {(x, y, z) ∈ R3 ; z = 0} e U = {(u, v) ∈ R2 ; u2 + v 2 < 1}. Essa é uma


parametrização de S 2 . Vamos verificar se as condições da Definição 3.1 são satisfeitas.
• Note que X1 (U ) é aberto em S 2 pois X1 (U ) = S 2 ∩ C1 , em que C1 = {(x, y, z) ∈ R3 |z >
0}.
p
• X1 é diferenciável, pois as funções u, v, 1 − (u2 + v 2 ) têm derivadas contı́nuas de todas
as ordens em U .
• X1 é um homeomorfismo, pois X1 é uma bijeção contı́nua sobre S 2 ∩ C1 e X1−1 é a
projeção sobre o plano xy dada por π(x, y, z) = (x, y) ao conjunto X1 (U ). Dessa forma,
X1−1 é contı́nua em S 2 ∩ C1 .
33

• A diferencial d(X1 )(u,v) é dada por


 
1 0
 
 
 
dX(u,v) =
 0 1 .

 
 
∂ p ∂ p
 
1 − (u2 + v 2 ) 1 − (u2 + v 2 )
∂u ∂v

∂(x, y)
Note que existe uma matriz menor com determinante diferente de zero. De fato, =
! ∂(u, v)
1 0
= 1 ̸= 0.
0 1

O processo análogo vamos fazer com a interseção de S 2 com um subconjunto


z < 0 de R3 . Para isso, definimos X2 : U ⊂ R2 → R3 por
p
X2 (u, v) = (u, v, − 1 − (u2 + v 2 )).

Similarmente como feito para X1 verificamos que X2 é uma parametrização. Observemos


que X1 (U ) ∪ X2 (U ) cobre a esfera menos o equador.

{(x, y, z) ∈ R3 ; x2 + y 2 = 1, z = 0}.

Para cobrir esses pontos vamos ultilizar os planos xz e yz, e definindo as seguintes para-
metrizações
p
X3 (u, v) = (u, + 1 − (u2 + v 2 ), v);
p
X4 (u, v) = (u, − 1 − (u2 + v 2 ), v);
p
X5 (u, v) = (+ 1 − (u2 + v 2 ), u, v);
p
X6 (u, v) = (− 1 − (u2 + v 2 ), u, v).

Essa parametrizações juntamente com X1 e X2 cobrem a esfera S 2 inteira. Portanto, S 2


é uma superfı́cie regular. A Figura 7 ilustra a construção.
34

Figura 7: Cobertura da esfera S 2 pelas parametrizações.

Fonte: Elaborada pelo autor.

O Exemplo 3.1 mostra que verificar um dado subconjunto S de R3 é uma


superfı́cie regular, a partir da definição, pode ser muito trabalhoso. Antes de prosseguir-
mos com mais exemplos, apresentamos duas proposições que ajudão em nosso trabalho.

Proposição 3.1 Se f : U → R é uma função diferenciável em um conjunto aberto U de


R2 , então o gráfico de f , isto é, o subconjunto de R3 dado por {(x, y, f (x, y)) ∈ R3 ; (x, y) ∈
U }, é uma superfı́cie regular.
Demonstração. Basta mostrar que a aplicação X : U → R3 dada por

X(u, v) = (u, v, f (u, v))

é uma parametrização do gráfico, cuja vizinhança coordenada cobre todos os pontos do


gráfico. Vamos verificar que as condições da Definição 3.1 são satisfeitas.
• Como as funções coordenadas da aplicação X : U → S = S ∩ R3 dada por X(u, v) =
(u, v, f (u, v)) tem derivadas parciais contı́nuas em U , então a aplicação X é diferenciável.
• A diferencial dX(u,v) é dada por
 
1 0
 
 
 
dX(u,v) =
 0 1 .

 
 
∂ ∂
 
f (u, v) f (u, v)
∂u ∂v

∂(x, y)
Note que existe uma matriz menor com determinante diferente de zero. De fato, =
! ! ∂(u, v)
1 0 ∂(x, y) 1 0
= 1 ̸= 0. = = 1 ̸= 0.
0 1 ∂(x, y) 0 1
• X é uma bijeção e X −1 é contı́nua, em que cada ponto (x, y, z) do gráfico é a imagem
por X de um único ponto (u, v) = (x, y) ∈ U , é a projeção contı́nua de R3 sobre o plano
35

xy.
Portanto, S = Graf(f ) é uma superfı́cie regular. O que prova o desejado.

Exemplo 3.2 Sejam p0 ∈ R3 e ⃗a, ⃗b ∈ R3 vetores LI. Então o plano

π = {p0 + λa + µb |λ, µ ∈ R}

que passa pelo ponto p0 e é paralelo aos vetores ⃗a e ⃗b, é uma superfı́cie regular.
De fato, seja N = ⃗a ∧ ⃗b o vetor normal ao plano π. Então

π = {p ∈ R3 | < p − p0 , N >= 0}.

Sendo N = (A, B, C), temos que

π = {(x, y, z) ∈ R3 |Ax + By + Cz = D},

onde D =< p0 , N >. Como N ̸= (0, 0, 0), temos que A ̸= 0 ou B ̸= 0 ou C ̸= 0. Se


C ̸= 0, por exemplo, π é o gráfico da função diferenciável f : R2 → R dada por:

D − Ax − By
f (x, y) = .
C

Portanto, pela Proposição 3.1, π é uma superfı́cie regular.

Exemplo 3.3 (Superfı́cies de Revolução). Seja S ⊂ R3 o conjunto obtido ao girarmos


uma curva regular plana C em torno de um eixo no plano que não encontra a curva.
Sejam π um plano, R um eixo (reta) e C uma curva regular, tal que R ⊂ π
e C ⊂ π de modo que C não intersecta R. A superfı́cie S obtida girando a curva C em
torno da reta R é chamada superfı́cie de revolução com geratriz C e eixo de rotação R. Os
circulos descritos pelos pontos de C são os paralelos de S e as várias posições de C sobre
a superfı́cie S ou seja, as interseções de S com os planos que contêm o eixo de rotação
são denominadas meridianos de S.
Vamos considerar o caso em que π = plano xz e R = eixo Oz. Seja λ(v) =
(f (v), 0, g(v)), g(v) > 0 uma parametrização de C e chamemos de u o ângulo de rotação
em torno do eixo Oz. Consideremos a aplicação

X : U ⊂ R2 → S,

em que U = (0, 2π) × (a, b), é uma parametrização de C, definida por

X(u, v) = (f (v) cos u, f (v)sen u, g(v)).


36

Vamos mostrar que X é uma parametrização de S.


• X(U ) = S ∩ (R3 − {(x, y, z) ∈ R3 |y = 0 e x ≥ 0}) é um aberto e X é diferenciável, pois
f, g : (a, b) → R são funções diferenciáveis.
• Para mostrarmos que X é um homeomorfismo, devemos mostrar primeiro que X é
injetiva. De fato, seja

(x, y, z) = (f (v) cos u, f (v)sen u, g(v)).


p
Então z = g(v) e f (v) = x2 + y 2 . Como, λ(v) = (f (v), 0, g(v)) é um homeomorfismo
p
sobre sua imagem, v é determinado de modo única por v = λ−1 ( x2 + y 2 , 0, z) e está
p
aplicação é contı́nua de x2 + y 2 e z, portanto, uma função contı́nua de x, y, z.
x y
Além disso, note que cos u = , sen u = com u ∈ (0, 2π), o parâmetro
f (v) f (v)
u é determinado de modo único. Portanto, X é injetora.
Agora, para provar que X −1 é contı́nua, temos que mostrar que u é uma função
contı́nua de x, y e z. Seja (x, y, z) = (f (v) cos u, f (v)sen u, g(v)) ∈ X(U ). Se u ∈ (0, 2π),
u u
temos que ∈ (0, π), logo tan está definida para todo u ∈ (0, 2π) e
2 2
u u u
u sen 2 sen cos sen u
tan = 2 = 2 2
2 u u u = 1 + cos u
cos 2 cos cos
2 2 2
y y
p
f (v) x2 + y 2
= x = x
1+ 1+ p
f (v) x2 + y 2
y 1
= p · x
2
x +y 1+ p2
x + y2
2

y
= p .
x + x2 + y 2
p y
Note que x + x2 + y 2 > 0, Logo, u = 2 arctan p . Então, u é uma função
x + x2 + y 2
contı́nua em (x, y, z). Do mesmo modo se u está em um intervalo pequeno em torno de
π, temos que

y
u = arctan p
x − x2 + y 2

ou seja, u é uma função contı́nua de (x, y, z), logo x−1 é contı́nua.


37

• dXu,v : R2 → R3 é injetora para todo (u, v) ∈ U pois

||Xu ∧ Xv ||2 = ||(−f (v)sen u, f (v) cos u, 0) ∧ (f ′ (v) cos u, f ′ (v)sen u, g ′ (v))||2
= ||(f (v)g ′ (v) cos u, f (v)g ′ (v)sen u, −f (v)f ′ (v))||2
= f (v)2 (f ′ (v)2 + g ′ (v)2 ) ̸= 0.

Para cobrir a faixa de S que não foi coberta, podemos cobrir por parame-
trizações similares. Então S é uma superfı́cie regular.
O teorema acima é um exemplo de ferramenta para se obter superfı́cies regula-
res sem muito esforço. Existem outras ferramentas e vamos apresentar mais uma a seguir.
Para isso, iniciamos com algumas definições.

Definição 3.2 Dada uma aplicação diferenciável F : U ⊂ Rn → Rm definida em um


conjunto aberto U de Rn , dizemos que p ∈ U é um ponto crı́tico de F se a diferencial
dFp : Rn → Rm não é sobrejetora. Um ponto b ∈ Rm é um valor crı́tico de F se existe
um ponto crı́tico p0 ∈ U tal que F (p0 ) = b. Um ponto a ∈ Rm que não é um valor crı́tico
de F é chamado um valor regular de F , isto é, dFp : é sobrejetora para todo p ∈ F −1 (a).

Algumas observações importantes:


Observação 5 Pela definição, se a ∈
/ F (u), então a é um valor regular de F .

Observação 6 Se f : U ⊂ R3 → R uma função diferenciável e p = (x0 , y0 , z0 ) ∈ U ,


então dfp aplicada ao vetor (1, 0, 0) é obtido calculando o vetor tangente em f (p) à curva

x → f (x, y0 , z0 )

Daı́, temos que


dfp (1, 0, 0) = (x0 , y0 , z0 ) = fx (x0 , y0 , z0 )
∂x

e, de modo análogo, que

dfp (0, 1, 0) = fy (x0 , y0 , z0 ), dfp (0, 0, 1) = fz (x0 , y0 , z0 ).

Assim, concluı́mos que a matriz de dfp na base (1, 0, 0), (0, 1, 0), (0, 0, 1) é dada por dfp =
(fx , fy , fz ). Portanto, dizer que dfp : R3 → R não é sobrejetora equivale a dizer que
fx (p) = fy (p) = fz (p) = 0.
Logo, a ∈ f (U ) é um valor regular de f se, e só se, fx , fy e fz não se anulam simultanea-
mente em qualquer ponto do conjunto f −1 (a) = {(x, y, z) ∈ U |f (x, y, z) = a}. O conjunto
f −1 (a) é chamado imagem inversa do ponto a.

Teorema 3.1 (Aplicação Inversa) Sejam U ⊂ Rn um aberto e f : U → Rn uma


38

aplicação de classe C k , k ≥ 1, tal que, num ponto p0 ⊂ U, dfp0 : Rn → Rn é um iso-


morfismo linear. Então existe um aberto V ⊂ U tal que p0 ∈ V, W = f (V ) é aberto e
f : V → W é um difeomorfismo de classe C k .
Demonstração. Pode ser consultada em Lima (1999), página 96.

Esses conceitos e o Teorema acima permite elaborar a seguinte proposição, que


por alguns autores é chamada de máquina de superfı́cies.
Proposição 3.2 Se f : U ⊂ R3 → R é uma função diferenciável e a ∈ f (U ) é um valor
regular de f , então f −1 (a) é uma superfı́cie regular em R3 .
Demonstração. Seja p0 = (x0 , y0 , z0 ) um ponto de f −1 (a). Como a é um valor regular
de f , temos que

grad f (p0 ) = (f (p0 ), fy (p0 ), fz (p0 )) ̸= (0, 0, 0).

Suponhamos que fz (p0 ) ̸= 0 e consideremos a aplicação F : U → R3 por

F (x, y, z) = (x, y, f (x, y, z)).

Como,
 
1 0 0
dFp0 = 0 1 0 ,
 

fx (P0 ) fy (p0 ) fz (p0 )

temos que det(dFp0 ) = fz (p0 ) ̸= 0. Logo, dFp0 : R3 → R3 é um isomorfismo. Pelo


Teorema da Aplicação Inversa, existe um aberto V ⊂ U tal que p0 ∈ V, W = F (V )
é um aberto de R3 , com F (p0 ) = (x0 , y0 , a) ∈ W e F : V → W é um difeomorfismo de
classe C ∞ . Então F −1 : W → V , dada por

F −1 (u, v, t) = (x(u, v, t), y(u, v, t), z(u, v, t)),

é diferenciável e x(u, v, t) = u, y(u, v, t) = v.


Afirmamos que F (f −1 (a) ∩ V ) = W ∩ {(u, v, t); t = a}. De fato, seja (u, v, a) ∈ W ∩
{(u, v, t)|t = a}. Então existe (x, y, z) ∈ V tal que (u, v, a) = F (x, y, z) = (x, y, f (x, y, z)),
logo, f (x, y, z) = a, ou seja, (x, y, z) ∈ f −1 (a) ∩ V . Portanto, (u, v, a) = F (x, y, z) ∈
F (f −1 (a) ∩ V ). Agora, se (x, y, z) ∈ f −1 (a) ∩ V , temos que F (x, y, a) ∈ W ∩ {(u, v, t)|t =
a}. Então f −1 (a) ∩ V é o gráfico da função h, pois

f −1 (a) ∩ V = F −1 (W ∩ {(x, y, t) ∈ R3 |t = a}) = {F −1 (x, y, a)|(x, y) ∈ U0 }


= {(x, y, h(x, y))|(x, y) ∈ U0 } = Graf (h).
39

Assim, f −1 (a) ∩ V é um aberto de f −1 (a) e a aplicação X : U0 → f −1 (a) ∩ V ,


dada por X(x, y) = (x, y, h(x, y)) é, pela Proposição 3.1, uma parametrização de f −1 (a)
em p0 . Portanto, f −1 (a) é uma superfı́cie regular, pois todo ponto p ∈ f −1 (a) pode ser
coberto por uma vizinhança coordenada. Isto prova o desejado.

Exemplo 3.4 O elipsóide

(x − x0 )2 (y − y0 )2 (z − z0 )2
+ + =1
a2 b2 c2

é uma suérfı́cie regular.


De fato, considere a função diferenciável F : R3 → R dada por

(x − x0 )2 (y − y0 )2 (z − z0 )2
F (x, y, z) = + + − 1.
a2 b2 c2

Então,
 
2(x − x0 ) 2(y − y0 ) 2(z − z0 )
gradF (x, y, z) = + + = (0, 0, 0).
a2 b2 c2

Se, e somente se, (x, y, z) = (x0 , y0 , z0 ). Portanto, F −1 (0) é uma superfı́cie regular, pois
0 é um valor regular de F , uma vez que o único ponto crı́tico de F , (x0 ; y0 ; z0 ), não
pertence a F −1 (0). Em particular inclui uma esfera de centro (x0 , y0 , z0 ) e raio r > 0
quando a = b = c = r.

A proposição a seguir fornece uma recı́proca local da Proposição 3.1, isto é,
que toda superfı́cie regular é localmente o gráfico de uma função diferenciável.
Proposição 3.3 Seja S ∈ R3 uma superfı́cie regular e p ∈ S. Então existe uma vizi-
nhança V de p em S tal que V é o gráfico de uma função diferenciável que tem uma das
seguintes formas:

z = f (x, y), y = g(x, z), x = h(y, z).

Demonstração. Seja X : U → S uma parametrização de S em p. Então um dos


determinantes Jacobianos

∂(x, y) ∂(y, z) ∂(z, x)


, , ,
∂(u, v) ∂(u, v) ∂(u, v)

∂(x, y)
é diferente de zero, onde X(q) = p. Suponhamos que ̸= 0 e consideremos a
∂(u, v)
aplicação diferenciável

π ◦ X : U → R2 , π ◦ X(u, v) = (x(u, v), y(u, v)).


40

∂(x, y)
Como ̸= 0, temos que dq (π◦X) : R2 → R2 é um isomorfismo. Logo, pelo Teorema
∂(u, v)
da Aplicação Inversa, existem abertos V1 ⊂ U e V2 ⊂ R2 , com q ∈ V1 e π ◦ X ∈ V2 tais
que π ◦ X : V1 → V2 é um difeomorfismo de classe C ∞ ,

Figura 8: Aplicação Inversa

Fonte: Elaborada pelo autor.

Daı́, X(V1 ) = V é um aberto de S com p ∈ V e tem uma inversa diferenciável


(π ◦ X) : V2 → V1 , (π ◦ X)−1 (x, y) = (u(x, y), v(x, y)). Como (π ◦ X)−1 é um difeo-
−1

morfismo C ∞ , λ = X ◦ (X ◦ X)−1 : X(V1 ) = V é um homeomorfismo diferenciável sobre


X(V1 ) = V , tal que

λ(x, y) = (x, y, z(u(x, y), v(x, y))),

para todo (x, y) ∈ V2 . Ou seja, V é o gráfico da função diferenciável f : V2 → R dada por

f (x, y) = z(u(x, y), v(x, y)).

Isto prova o desejado.

Agora para nosso estudo, vamos definir superfı́cies uma classe de superfı́cies
regulares, as superfı́cies regradas. Definimos superfı́cies regradas do seguinte modo: Con-
sidere uma famı́lia diferenciável a 1-parâmetro de retas α(t), w(t), ou seja, uma corres-
pondência que associa a cada t ∈ I um ponto α(t) ∈ R3 e um vetor w(t) ∈ R3 , w(t) ̸= 0,
tais que ambos α(t) e w(t) sejam diferenciáveis em t. Assim, para cada t temos uma
reta Lt gerada por w(t) e que passa em α(t), está é a reta da famı́lia em t. A superfı́cie
parametrizada X(t, v) = α(t) + vw(t), t ∈ I, v ∈ R é a superfı́cie regrada gerada pela
famı́lia {α(t), w(t)}. As retas Lt são chamadas as geratrizes, e as curva α(t) é chamada
uma diretriz da superfı́cie X.
Veremos alguns exemplos dessas superfı́cies.
Exemplo 3.5 Um cilindro é uma superfı́cie regrada, pois é gerada por uma famı́lia a
41

1-parâmetro de retas {α(t), w(t)}, t ∈ I, onde α(t) está contida em um plano P e w(t) é
paralelo a uma direção fixa em R3 . Logo, uma parametrização para o cilindro pode ser
dado da forma

X(u, v) = α(u) + vt,

onde t ∈ R3 − {(0, 0, 0)} um vetor fixo não paralelo ao plano P .

Exemplo 3.6 Já o cone é uma superfı́cie regrada gerada por uma famı́lia {α(t), w(t)}, t ∈
I, onde α(I) está contido em um plano P e todas as geratrizes Lt passam por um ponto
p ∈/ P . O ponto p é o vértice do cone. Como p ∈ Lt , então para cada t ∈ I, existe
v0 = v0 (t) ∈ R tal que

p = α(t) + v0 w(t) ⇒ α(t) = p − v0 w(t)

Portanto, uma parametrização do cone é dado por

X(t, v) = α(t) + vw(t) = p − v0 w(t) + vw(t)


= p + (v − v0 )w(t).

Note que fazendo u(v) = v − v0 , obtemos uma outra parametrização do cone, ou seja,

X(t, u) = p + u(v)w(t).

Exemplo 3.7 O helicoide é uma superfı́cie regrada gerada pela famı́lia {α(t), w(t)}, em
que α é a hélice parametrizada por α(t) = (cos t, sen t, t) e w(t) = (v cos t, v sen t), 0), t ∈
R, ou seja, é a superfı́cie formada por todas as retas paralelas ao plano xy, que unem cada
ponto do eixo z com o ponto da helice situado à mesma altura. Assim, uma parametrização
para o helicoide é dada por

X(t, v) = α(t) + vw(t)


= (cos t, sen t, t) + (v cos t, v sen t, 0)
= ((1 + v) cos t, (1 + v)sen t, at),

com (t, v) ∈ R2 .

Proposição 3.4 Seja X : U ⊂ R2 → S uma parametrização de uma superfı́cie regular S


e seja q ∈ U . O subespaço vetorial de dimensão 2,

dXq (R2 ) ⊂ R3 ,
42

coincide com o conjunto de vetores tangentes a S em X(q).


Demonstração. Pode ser consultada em Carmo (2005), página 98.
Pela proposição acima, o plano dXq (R2 ), que passa por X(q) = p, não depende
da parametrização X. Este plano será chamado de plano tangente a S n em p, e será
o
∂X ∂X
denotado por Tp S. A escolha de uma parametrização X determina uma base ∂u(q) , ∂v(q)
∂X ∂X
de Tp S, chamada base associada a X. Convém, às vezes, escrever ∂u
= Xu e ∂v
= Xv .

3.2 Primeira forma Fundamental

Até agora, tratamos as superfı́cies em termos de diferenciabilidade. Nesta


subseção, começaremos o estudo das estruturas geométricas associada às superfı́cies. O
produto interno canônico de R3 introduz um produto interno em cada plano tangente Tp S
da superfı́cie regular S, que denotaremos por <, >p .

Dessa forma, se r = (r1 , r2 , r3 ), s = (s1 , s2 , s3 ) ∈ Tp S ⊂ R3 , então < r, s >p é


igual ao produto interno de r e s como vetores em R3 , ou seja,

< r, s >p = r1 s1 + r2 s2 + r3 s3 .

Esse produto interno que é uma forma bilinear e simétrica, (isto é, < r, s >p =< s, r >p
e < r, s >p é linear em r e em s), que corresponde uma forma quadrática Ip : Tp S → R
dada por

Ip (r) =< r, r >p = ||r||2 ≥ 0

Definição 3.3 A forma quadrática Ip em Ts S definida por Ip (r) =< r, r >p = ||r||2 ≥ 0,
é chamada a primeira forma fundamental da superfı́cie regular S ⊂ R3 em p ∈ S.

A primeira forma fundamental nos permite fazer medições na superfı́cie (o com-


primento da curva, o ângulo do vetor tangente, a área da região), sem precisar mencionar
o espaço euclidiano R3 , onde está a superfı́cie S. Vamos agora expressar a primeira forma
fundamental na base {Xu , Xv } associada a uma parametrização X : U → X(U ) ⊂ S de
S em p.

Seja r ∈ Tp S, então existe uma curva parametrizada α(t) = X(u(t), v(t)), com
43

t ∈ (−ε, ε), tal que p = α(0) e r = α′ (0) = u′ (0)Xu + v ′ (0)Xv . Logo,

Ip (r) = Ip (α′ (0)) = < α′ (0), α′ (0) >p


= < u′ (0)Xu + v ′ (0)Xv , u′ (0)Xu + v ′ (0)Xv >p
= u′ (0)2 < Xu , Xu >p +2u′ (0)v ′ (0) < Xu , Xv >p +v ′ (0)2 < Xv , Xv >p
= u′ (0)2 E + 2u′ (0)v ′ (0)F + v ′ (0)2 G,

onde

E(u0 , v0 ) = < Xu , Xu >p ;


F (u0 , v0 ) = < Xu , Xv >p ;
G(u0 , v0 ) = < Xv , Xv >p ,

são os coeficientes da primeira forma fundamental na base {Xu , Xv } de Tp S. Fazendo p va-


riar na vizinhança coordenada correspondente a X(u, v), obtemos funções E(u, v), F (u, v)
e G(u, v) que são diferenciáveis nessa vizinhança.

Exemplo 3.8 Seja π o plano de R3 que passa pelos ponto p = (x0 , y0 , z0 ) e é paralelo
aos vetores ortonormais w1 = (a1 , a2 , a3 ) e w2 = (b1 , b2 , b3 ). Logo X : R2 → π, dada por
X(u, v) = p0 + uw1 + vw2 , com x(u, v) ∈ R2 é uma parametrização de π que cobre todo o
plano.

Então Xu = w1 e Xv = w2 , como w1 e w2 são vetores unitário ortogonais e as


funções E, F, G constantes, temos que E = G = 1 e F = 0 em R2 . Portanto,

Ip (aXu , bXv ) = a2 + b2

para todo (u, v) ∈ R2 .

Outro problema métrico que pode ser tratado com a primeira forma fundametal
é calcular a área de uma região limitada em uma superfı́cie regular S.
Definição 3.4 Seja R ⊂ S uma região limitada de uma superfı́cie regular, contida em
uma vizinhança coordenada de uma parametrização X : U ⊂ R2 → S. O número positivo
ZZ
||Xu ∧ Xv ||du dv = A(R)
Q

é chamada área de R, onde Q = X −1 (R).


Exemplo 3.9 Seja τ o toro de revolução obtido girando o cı́rculo

C = {(x, y, z) ∈ R3 |(y − a)2 + z 2 = r2 e x = 0}, a > r > 0,


44

em torno do eixo Oz.


Seja X : (0, 2π) × (0, 2π) → τ a parametrização de τ dada por

X(u, v) = ((a + r cos u) cos v, (a + rcosu)sen v, rsen u),

que cobre o toro τ menos um meridiano e um paralelo. Por computações fáceis, os coefi-
cientes da primeira forma fundamental são

E = r2 F = 0 G = (r cos u + a)2 .

Seja Rε = X(Qε ), onde ε > 0 (pequeno) e

Qε = {(u, v) ∈ R2 ; 0 + ε ≤ u ≤ 2π − ε, 0 + ε ≤ v ≤ 2π − ε}


Daı́, como ||Xu ∧ Xv || = EG − F 2 = r(a + r cos u), obtemos
Z 2π−ε Z 2π−ε
A(Rε ) = ||Xu ∧ Xv ||du dv
ε ε
Z 2π−ε Z 2π−ε
= r(a + cos u)du dv
ε ε
= (2π − 2ε)2 ar + (2π − 2ε)r2 (sen (2π − ε) − sen ε).

Fazendo ε → 0 na expressão acima, obtemos

A(T ) = lim A(Rε ) = (2π − 2 · 0)2 ar + (2π − 2 · 0)r2 (sen (2π − 0) − sen 0)
ε→0
= (4π 2 ar − 0) + 0 = 4π 2 ar.

Esse exemplo mostrou como calcular a área de uma superfı́cie toro τ . É im-
portante ressaltar que a parametrização não cobre por completo o toro, mas o que deixa
de cobrir não influencia na área.
Quando estivermos na situação de uma região R que não estar contida em uma
única parametrização, dividimos a região em partes que estejam contidas em que cada
parte esteja contida em uma vizinhança coordenada de uma parametrização.

3.3 Segunda forma fundamental

Nesta subseção, estudamos a segunda forma fundamental de uma superfı́cie


regular. Ela nos permite obter outra informações geométricas como as curvaturas de uma
superfı́cie. Para estudo, obteremos as expressões da segunda forma fundamental e da
diferencial da aplicação de Gauss em um sistema do coordenadas locais.
45

Definição 3.5 A forma quadrática IIp , definida em Tp S por IIp (v) = − < dNp (v), v >,
é chamada a segunda forma fundamental de S em p.
Para um melhor entendimento da segunda forma fundamental IIp , seja C uma
curva regular em S, com p ∈ C, e α : I → C uma parametrização de C pelo comprimento
de arco, tal que α(0) = p e α′ (0) = v. Seja N (s) a restrição do vetor normal N à curva
α(s), então < N (s), α′ (s) >= 0, o que implica em

< N (s), α′′ (s) >= − < N ′ (s), α′ (s) >,

para todo s ∈ I. Portanto,

IIp (α′ (0)) = − < dNp (α′ (0), α′ (0)) >


= − < N ′ (0), α′ (0) >=< N (0), α′′ (0) >
= < N, kn > (p) = kn(p).

Assim, o valor IIp em um vetor unitário v ∈ Tp S é igual a curvatura normal


de qualquer curva regular em S que passa por p e é tangente a v em p.
Para estudar a curvatura de uma superfı́cie, consideremos todas as parame-
trizações X : U ⊂ R2 → S nesta seção compativéis com a orientação da superfı́cie S, isto
é, em X(U ), temos que

Xu ∧ Xv
N= .
|Xu ∧ Xv |

Dado p ∈ S e uma parametrização X : U ⊂ R2 → S ⊂ R3 de uma vizi-


nhança de p em S, p = X(u, v), queremos obter a matriz que representa o operador forma
dNp : Tp S → Tp S na base {Xu, Xv}.

Seja η ∈ Tp S, = rXu (q) + vXv (q), com X(q) = p. Logo

dNp (η) = udNp (Xu (q)) + vdNp (Xv (q))


= uNu (q) + vNv (q).

Como Nu e Nv pertencem a Tp S, podemos escrever esses vetores na base {Xu , Xv }:

Nu = a11 Xu + a21 Xv ,
Nv = a12 Xu + a22 Xv .

Portanto,

dNp (η) = (a11 u + a12 v)Xu (q) + (a21 u + a22 v)Xv (q).
46

isto é,
! ! !
u a11 a12 u
dNp = .
v a21 a22 v

Ou seja, na base {Xu , Xv }, dNp é dada pela matriz (aij ), i, j = 1, 2.


Observação 7 Note que a matriz não é necessariamente simétrica. Mas se a base
{Xu , Xv } é ortonormal, a matriz é simétrica, pois

a21 = < a11 Xu + a21 Xv , Xv >


= < dNp (Xu ), Xv >
= < Xu , dNp (Xv ) >
= < Xu , a12 Xu + a22 Xv >
= a12 .

Também podemos obter os coeficientes da segunda forma fundamental na base {Xu , Xv }


dada por

IIp (η) = − < dN (η), η >


= − < Nu u + Nv v, Xu u + Xv v >
= e(u)2 + 2f uv + g(v)2 ,

em que

• e = − < Nu , Xu >=< N, Xuu >


• f = − < Nv , Xu >=< N, Xuv >=< N, Xvu >= − < Nu , Xv >
• g = − < Nv , Xv >=< N, Xvv >,

já que < N, Xu >=< Xv , N >= 0.

3.4 Curvaturas de Gauss e Média

Nesta subseção vamos definir duas curvaturas importantes para o nosso estudo
de superfı́cies, a Curvatura de Gauss (K) e a Curvatura Média (H). Vamos obter agora
os valores de aij a partir dos coeficientes e, f, g. Como Nu = a11 Xu + a21 Xv e Nv =
47

a12 Xu + a22 Xv , temos que

−f = < Nu , Xv >= a11 F + a21 G;


−f = < Nv , Xu >= a12 E + a22 F ;
−e = < Nu , Xu >= a11 E + a21 F ;
−g = < Nv , Xv >= a12 F + a22 G,

onde E, F, G são os coeficientes da primeira forma fundamental na base {Xu , Xv }. Logo,


! ! !
e f a11 a21 E F
− = ,
f g a12 a22 F G

ou seja,
! ! !−1 ! !
a11 a21 e f E F 1 e f G −F
=− =− . (4)
a12 a22 f g F G EG − F 2 f g −F E

Logo,

f F − eG gF − f G
a11 = 2
; a12 = ;
EG − F EG − F 2
eF − f E f F − gE
a21 = ; a 22 = .
EG − F 2 EG − F 2

A curvatura de Gauss é definida como sendo o determinante da matriz que define a dNp .
Assim, a partir de (4), temos
! !
1 e f G −F
K = det(aij ) = − det det
EG − F 2 f g −F E
1
= (eg − f 2 )(GE − F 2 )
(EG − F 2 )2
eg − f 2
= .
EG − F 2

em que E =< Xu , Xu >, F =< Xu , Xv >, G =< Xu , Xv >, e =< N, Xuu >, f =<
N, Xuv > e g =< N, Xvv >.
A curvatura média é definida como o traço da matriz que define a dNp . Para
o cálculo da curvatura média, podemos calcular o traço de dNp a partir da matriz diago-
nalizada. Para isso, sejam k1 e k2 , tais que

dNp (e1 ) = −k1 e1 dNp (e2 ) = −k2 e2 ,

em que {e1 , e2 } é uma base ortonormal de autovetores de dNp . Os autovalores k1 e


48

k2 são chamados de curvaturas principais de S em p. Para a computação das curvaturas


principais, consideremos o polinômio caracterı́stico det(dNp +kI) = 0, onde I é a aplicação
identidade, ou seja,
" ! !#
a11 a12 k 0
det(dNp + KI) = det + =0
a21 a22 0 k
!
a11 + k a12
⇒ det =0
a21 a22 + k
⇒ (a11 + k)(a22 + k) − a21 a12 = 0
⇒ a11 a22 + a11 k + a22 k + k 2 − a21 a12 = 0
⇒ k 2 + k(a11 + a22 ) + a11 a22 − a21 a12 = 0.

As raı́zes da equação acima são k1 e k2 . Assim,

1 1 1 eG − 2f F + gE
H = (k1 + k2 ) = − (a11 + a22 ) = .
2 2 2 EG − F 2

k1 + k2
Temos ainda que, H = e K = k1 k2 . Logo 2H = k1 + k2 . Substituindo na equação
2
5 obtemos

k 2 + 2Hk − K = 0

Portanto,

−2H ± 4H 2 + 4K √
k= = −H ± H 2 + K
2

contı́nuas em S.
Observação 8 Um ponto é dito umbı́lico se as curvaturas principais nesse ponto são
iguais. De forma equivalente, p é um ponto umbı́lico se, e somente se, H 2 (p) = K(p). De
fato,
 2
2 k1 + k2
H (p) − K(p) = − k1 k2
2
k12 + 2k1 k2 + k22
= − k1 k2
4
k12 + 2k1 k2 + k22 − 4k1 k2
=
4
(k1 − k2 )2
= ≥ 0.
4

Portanto, H 2 (p) = K(p) se, e somente se, k1 = k2 .


49

3.5 Superfı́cies Mı́nimas

Dizemos que uma superfı́cie parametrizada regular S ⊂ R3 é uma superfı́cie


mı́nima se H = 0. Uma superfı́cie regular S ⊂ R3 é mı́nima se cada uma de suas
parametrizações é mı́nima.
Para um melhor entedimento da palavra mı́nima para tais superfı́cies vamos
introduizir a noção de variação. Seja X : U ⊂ R2 → R3 uma superfı́cie parametrizada
regular. Escolha um domı́nio D ⊂ U e uma função diferenciável h : D̄ → R, onde D̄ é a
união do domı́nio D e sua fronteira ∂D. A variação normal X(D̄), determinada por h, é
a aplicação diferenciável

φ : D̄ × (−ε, ε) → R3

dado por φ(u, v, t) = X(u, v) + th(u, v)N (u, v), com (u, v) ∈ D̄, t ∈ (−ε, ε). Para cada
t ∈ (−ε, ε) fixo, a aplicação X t : D → R3 dada por X t (u, v) = φ(u, v, t) é uma superfı́cie
parametrizada com

∂X t
= Xu + thNu + thu N,
∂u
∂X t
= Xv + thNv + thv N.
∂v

Assim, os coeficientes E t , F t , Gt da primeira forma fundamental de X t são:

E t = E + th(< Xu , Nu ) > + < Xu , Nu >) + t2 h2 < Nu , Nu > +t2 hu hu


F t = F + th(< Xu , Nv ) > + < Xv , Nu >) + t2 h2 < Nu , Nv > +t2 hu hv
Gt = G + th(< Xv , Nv ) > + < Xv , Nv >) + t2 h2 < Nv , Nv > +t2 hv hv .

Como −e =< Xu , Nu >, −2f =< Xu , Nv > + < Xv , Nu >, −g =< Xv , Nv > e a
curvatura média

1 Eg − 2F f + Ge
H= ,
2 EG − F 2

obetemos

E t Gt − (F t )2 = (E − 2the + t2 h2 < Nu , Nu > +t2 h2u )(G − 2thg + t2 h2 < Nv , Nv > +t2 h2v )
= (F − 2thf + t2 h2 < Nu , Nv > +t2 hu hv )2
= EG − F 2 − 2th(Eg − 2F f + Ge) + R
= EG − F 2 + −4thH(EG − F 2 ) + R
 

= (EG − F 2 )(1 − 4thH) + R,


50

R
onde R é uma função tal que lim = 0. Como D̄ é compacto, segue que para ε suficien-
t→0 t
temente pequeno, X t é uma superfı́cie parametrizada regular. Além disso, a área A(t) de
X t (D̄) é
Z p Z p √
A(t) = E t Gt − (F t )2 dudv = 1 − 4thH + R̄ · EG − F 2 dudv.
D̄ D̄

R
onde R̄ = . Logo, se ε é pequeno, A é uma função diferenciável e sua derivada
EG − F 2
em t = 0 é


Z √
A (0) = − 2hH EG − F 2 dudv (5)

pois

d( 1 − 4thH + R̄) 1 −4hH + R̄′
= √ = −2hH,
dt 2 1 − 4thH + R

em t = 0. Com isso estamos prontos para justificar o uso da palavra mı́nima em conexão
com as superfı́cies com curvatura média zero.

Proposição 3.5 Seja X : U → R3 uma superfı́cie parametrizada regular e seja D ⊂ U


um domı́nio limitado em U . Então X é mı́nima se e somente se A′ (0) = 0 para todo D
e toda variação normal de X(D̄).
Demonstração. Se X é mı́nima em D, H ≡ 0 em D, é claro que a condição é satisfeita.
Suponhamos agora que a condição é satisfeita e que H(q) ̸= 0 para algum q ∈ D. Vamos
supor que H(q) > 0. Seja ε > 0 tal que C̄ε (q) ⊂ D e H(p) ≥ M para todo p ∈ C̄ε
e h : R2 ε(q) → R uma função diferenciável tal que h(q) = 1, 0 ≤ h(p) ≤ 1 para todo
p ∈ Bε (q) e mh(p) = 0 para todo p ∈ R2 − Bε (q). Então


Z √ Z √
A (0) = − 2
2hH EG − F dudv ≤ −2M EG − F 2 dudv < 0
D̄ D̄

para a variação normal de X(D̄) determinada pela função h, o que é uma contradição.
Isto prova o desejado.

Assim, qualquer região compacta de uma superfı́cie mı́nima X(D̄) é um ponto


crı́tico para a função área de qualquer variação normal de X(D̄).
Fisicamente, as superfı́cies mı́nimas geralmente estão associada a uma pelı́cula
de sabão, que pode ser obtido mergulhando uma moldura de arame em uma solução de
sabão e removendo-o cuidadosamente. Depois de mergulhar e, em seguida, remover a
moldura da solução de sabão, a pelı́cula de sabão forma uma figura com a menor área
de superfı́cie possı́vel, pois assim é necessária menos energia para transferir moléculas do
lı́quido para a superfı́cie. Quando a pelı́cula se desprende do arame, ela adquire uma
51

forma esférica, pois essa é a figura de menor área superficial para aquele volume.

Definição 3.6 O vetor curvatura média de uma superfı́cie parametrizada regular, é o


vetor H = HN , onde H é a curvatura média e N é o vetor normal à superfı́cie.
Observe que o significado geométrico da direção H pode ser obtido através da
equação (5). De fato, escolhendo h = H, temos que, para essa variação particular


Z √
A (0) = −2 < H, H > EG − F 2 dudv < 0,

ou seja, que se deformarmos X(D̄) na direção do vetor H, a área é inicialmente decrescente.


Vamos agora obter uma outra interpretação para o vetor curvatura média H.
Definição 3.7 Seja X : U → R3 uma superfı́cie parametrizada regular. Dizemos que X
é isotérmica se < Xu , Xu >=< Xv , Xv > e < Xu , Xv >= 0.

Proposição 3.6 Seja X : U → R3 uma superfı́cie parametrizada regular e suponha que


X é isótermica. Então

Xuu + Xvv = 2λ2 H,

onde λ2 =< Xu , Xu >=< Xv , Xv >.

Demonstração. Como X é isótermica, temosa < Xu , Xu >=< Xv , Xv > e < Xu , Xv >=


0. Derivando, temos que

< Xuu , Xu > = < Xvu , Xv >;


< Xuv , Xv > + < Xu , Xvv >= 0.

Logo, < Xuu , Xu >= − < Xu , Xvv > ou seja, < Xuu + Xvv , Xu >= 0. De modo anáçogo,
temos que

< Xuv , Xu > = < Xvv , Xv >;


< Xuu , Xv > + < Xu , Xvu >= 0,

logo, < Xvv , Xv >= − < Xuu , Xv > ou seja, < Xuu + Xvv , Xv >= 0. Segue-se que
Xuu + Xvv é paralelo a N . Logo como X é isotérmica, então E = G e F = 0. Logo

1 Eg − 2F f + Ge
H =
2 EG − F 2
1 EG + Ee
=
2 E2
1g+e
= ,
2 λ2
52

ou seja, 2λ2 H = g + e =< Xuu + Xvv , N >. Portanto, Xuu + Xvv = 2λ2 H. Isto prova o
desejado.
Vejamos a seguir, um exemplo de superfı́cie mı́nima
Exemplo 3.10 O catenóide é a superfı́cie de revolução obtido girando a catenária
z 
y = a cosh
a

em torno do eixo Oz, a > 0. Logo, X : (0, 2π) × R → R3 , onde

X(u, v) = (a cosh v cos u, a cosh v sen u, av),

é uma parametrização do catenóide. Como,

Xu (u, v) = (−a cosh v sen u, a cosh v cos u, 0);


Xv (u, v) = (a senh v cos u, a senh v sen u, a)

temos que

< Xu , Xu > = a2 cosh2 v sen2 u + a2 cosh2 v cos2 u + 0


= a2 cosh2 v(sen2 u + cos2 u)
= a2 cosh2 v =< Xv , Xv >

< Xu , Xv > = −a2 cosh v sen u senh v cos u + a2 cosh v cos u senh v sen u + 0
= 0,

então X é isotérmica. Além disso temos que,

Xuu (u, v) = (−a cosh v cos u, −a cosh v sen u, 0);


Xvv (u, v) = (a cosh v cos u, a cosh v sen u, 0),

então Xuu + Xvv = 0, e portanto X é mı́nima. Um fato interessante é que o catenóide é


a única superfı́cie mı́nima de revolução.
53

Figura 9: Representação do catenóide

Fonte: Elaborada pelo autor.

Exemplo 3.11 Seja H o helicóide obtido a partir da hélice circular α(t) = (cos t, sen t, t), t ∈
R.
Como já vimos no Exemplo 3.7, X : R2 → H,

X(t, v) = ((1 + v) cos t, (1 + v)sen t, t),

é uma parametrização de H que cobre todo o helicóide. Portanto, como h(t, v) = (t, senh v), (t, v) ∈
R2 , é um difeomorfismo de R2 sobre R2 , temos que Y = X ◦ h : R2 → H,

Y (t, v) = (senh v cos t, senh v sen t, at),

é uma parametrização de H que cobre todo o helicóide. Sendo,

Yt = (−a senh v cos t, a senh v sen t, a)

Yv = (a cosh v cos t, a cosh v sen t, 0)

temos que

< Yt , Yt >= a2 (senh v 2 + 1) = a2 (cosh2 v) =< Yv , Yv > e

e < Yt , Yv >= 0, logo Y é isotérmica.


Além disso, como

Ytt = (−a senh v cos t, −a senhv sen t, 0)

Yvv = (a senh v cos t, a senh v sen t, 0),

então Ytt + Yvv = 0. Portanto, o helicóide é uma superfı́cie mı́nima.


54

4 TEOREMA DE BARBOSA

Com os elementos definidos acima, podemos prosseguir para abordar nossa


questão de pesquisa. A solução do problema proposto a seguir segue a ideia de Barbosa
e é formulada como o seguinte teorema.
Teorema 4.1 Se S é uma superfı́cie regular regrada e mı́nima, então ela é um plano ou
helicóide.
Demonstração. Se S ⊂ R3 é uma superfı́cie regrada, então com a parametrização,

X(s, t) = α(s) + tβ(s). (6)

Vamos calcular a curvaturra média a partir da fórmula

1 Eg − F f + Ge
H= .
2 EG − F 2

Sejam Xs (s, t) = α′ (s) + tβ ′ (s) e Xt (s, t) = β(s). Calculando os coeficientes

E = < Xs , Xs >=< α′ (s) + tβ ′ (s), α′ (s) + tβ ′ (s) >


= < α′ (s), α′ (s) > +t < α′ (s), β ′ (s) > +t < α′ (s), β ′ (s) > +t < β ′ (s), β ′ (s) >
= |α′ (s)| + 2t < α′ (s), β ′ (s) > +t2 |β ′ (s)|2
= 1 + 2t < α′ (s), β ′ (s) > +t2 |β ′ (s)|2 .

F = < Xs , Xt >=< α′ (s) + tβ ′ (s), β(s) >


= < α′ (s), β(s) > +t < β ′ (s), β ′ (s) >
= 0,

pois α é perpendicular a β(s) e |β(s)|2 = 1, o que implica < β ′ (s), β(s) >= 0.

G =< Xt , Xt >=< β(s), β(s) >= |β(s)|2 = 1.

Com Xs e Xt , podemos determinar um campo vetorial unitário a X, dado por:

Xs ∧ Xt
N =
||Xs ∧ Xt ||
(α′ (s) + tβ ′ (s)) ∧ β(s)
= √
EG − F 2
α′ (s) ∧ β(s) + tβ ′ (s) ∧ β(s)
= √ .
E
55

Agora, determinemos os coeficientes e e g.

e = < Xss , N >=< α′′ (s) + tβ ′′ (s), N >


α′ (s) ∧ β(s) + tβ ′ (s) ∧ β(s)
= < α′′ (s) + tβ ′′ (s), √ >
E
1
= √ (α′′ (s), α′ (s) ∧ β(s) > +t(α′′ (s), β ′ (s) ∧ β(s)+ < β ′′ (s), α′ (s) ∧ β(s) >)
E
+ t < β ′′ (s), β ′ (s) ∧ β(s) >).
2

g =< Xtt , N >=< 0, N >= 0.


Logo,

1 eG − 2f F + gE 1e
H = 2
=
2 EG − F 2E
1
= √ < α′′ , α′ ∧ β > +t(< α′′ , β ′ ∧ β > + < β ′′ , α′ ∧ β >) + t2 < β ′′ , β ′ ∧ β > .
2E E

Supondo de a superfı́cie é mı́nima, temos que

< α′′ , α′ ∧ β > +t(< α′′ , β ′ ∧ β > + < β ′′ , α′ ∧ β > +t2 < β ′′ , β ′ ∧ β >) = 0.

Obtemos um polinômio em t identicamente nulo. Assim, os coeficientes tem que ser zero:

(i) < α′′ , α′ ∧ β > = 0;


(ii) < α′′ , β ′ ∧ β > + < β ′′ , α′ ∧ β >= 0; (9)
(iii) < β ′′ , β ′ ∧ β > = 0,

da equação (i) segue-se que α′′ deve pertencer ao plano gerado por α′ e β. Contudo, como
α é parametrizado pelo comprimento de arco, temos α′ e α perpendiculares. Então α′′ é
paralelo a β, e portanto < β ′ ∧ βα′′ >= 0. Portanto, a equação (ii) de (9) torna-se

(ii′ ) < α′ ∧ β, β ′′ >= 0.

Da equação (ii′ ) e (iii) concluı́mos que β ′ pertence, simultaneamente aos planos


gerados por α′ e β, e por β ′ e β. A interseção desses dois planos contém pelo menos o
subespaço gerado pelo vetor β. Como β ′′ pertence aos dois planos, temos duas situações
a considerar.
Se houver um ponto β ′ não paralelo a β, então perto desse ponto os dois planos
se coincidem e α′ é paralelo a β ′ . Como α e β são funções análiticas reais, isso é verdade
em todos os pontos. Então, temos (β ∧ α′ )′ = β ′ ∧ α′ + β ∧ α′′ = 0. Portanto, o plano
gerado por β e α′ é constante. Logo, α é uma curva plana e a superfı́cie descrita por X é
um plano.
56

Por outro lado, se β ′′ é paralelo a β em todos os pontos e α′ e β ′ não são


paralelos em um ponto, então isso ocorre em uma vizinhança desse ponto. Neste caso,
é fácil demonstrar que a curvatura e a torção de α são constantes. Desde que α tem
velocidade unitária temos que k = ||α′ (s)||. Como α′′ e β são paralelos com ||β(s)|| = 1,
segue que k =< α′′ , β >. Como a curva α(s) é perpendicular as retas determinadas pelo
campo β(s), segue que < α′ , β >= 0. Assim, derivando em relação a s:

0 =< α′ , β >=< α′′ , β > + < α′ , β ′ > .

Consequentemente, < α′′ , β >= − < α′ , β ′ >. Desta forma, k = − < α′ , β ′ >. Daı́:

dk
= − < α′ , β ′ >′ = − < α′′ , β ′ > − < α′ , β ′′ >= 0.
ds

Isso por que, como α′′ é paralelo a β e < β, β ′ >= 0, temos que α′′ é perpendicular a β ′ ,
e ainda como β ′′ e β são paralelos, então α′ e β ′′ são perpendiculares.
Para a torção, podemos demonstrar que ±τ =< α′ ∧ β ′ , β >. De fato, para a
curva α(s) o vetor tangente é dado por α′ e o vetor normal é paralelo a β, e consequen-
temente, b = α ∧ β. Derivando ambos os lados, temos:

b′ = α′′ ∧ β + α′ ∧ β ′′ = α′ ∧ β ′ ,

pois α′′ e β são paralelos. Como b′ = τ n, temos que τ = ± < α′ ∧ β ′ , β >.


Derivando ambos os lado,


± =< α′ ∧ β ′ , β >′ =< α′′ ∧ β ′ , β >′ + < α′ ∧ β ′′ , β > + < α′ ∧ β ′ , β ′ >= 0.
ds

Portanto, k e τ são constantes. Pelo teorema de classificação de curvas, temos que a curva
α é uma hélice circular. Desta forma, a menos de um movimento rı́gido de R3 , α pode ser
parametrizado por α(s) = (A cos as, A sen as, bs), onde A2 a2 + b2 = 1. Como β é paralelo
a α′′ , β ′ = a ± (cos as, sen as, 0). Se tomarmos u = A ± t e v = s, então (7) se torna

X(u, v) = (u cos as, sen as, bv).

Portanto, S é um pedaço de helicóide, o que prova o teorema.


57

Figura 10: Representação do helicóide

Fonte: Elaborada pelo autor.


58

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização deste trabalho nos permitiu conhecer um pouco da história e o


estudo de Geometria Diferencial, que nos permite entender as propriedades das curvas
parametrizadas através de conceitos básicos e fundamentais, como a curvatura e torção
de uma curva, e entender as propriedades das superfı́cies regulares, conhecendo a priori
conceitos importantes como as curvaturas gaussiana e média, e as formas quadráticas.
Neste trabalho apresentamos uma famı́lia muito especial de superfı́cies, que
são as superfı́cies regradas. Com o que foi demonstrado, é possı́vel classificar todas as
superfı́cies regradas regulares que são mı́nimas. Na demonstração utiliza-se a compreensão
que a equação gerada por H = 0 é um polinômio na variável t que identicamente nulo
e assim busca-se as informações geométricas contidas nas relações entre os coeficientes,
provando assim um problema de rigidez, mostrando que toda superfı́cie regrada e mı́nima
é um plano ou helicóide.
Portanto, espera-se que este trabalho possa contribuir para a diseminação do
conhecimento em Matemática, e poder ser ultilizado como material de pesquisa em Geo-
metria Diferencial de curvas e superfı́cies regulares diferenciáveis, para auxiliar docentes
de graduação em matemática em seus estudos.
59

REFERÊNCIAS

BARBOSA, João; COLARES, Antonio. Minimal Surfaces in R3 . Berlim: Springer


Verlag, 1986.

CARMO, Manfredo. Geometria Diferencial de Curvas e Superfı́cies. Rio de


Janeiro: Sociedade Brasileira de Matemática, 2005.

GORODSKI, Claudio. Um breve panorama histórico da geometria. Revista


Matemática Universitária, n. 44, p. 14-29, 2009. Disponı́vel em:
https://rmu.sbm.org.br/wp-content/uploads/sites/27/2018/03/n44 Artigo02.pdf.
Acesso em: 30 nov. 2022.

LIMA, Elon. Curso de análise volume 2. 5. ed. Rio de Janeiro: Impa, 1999. 96 p.

O’NEILL, Barrett. Elementary Differential Geometry. 2. ed. Los Angeles:


Elsevier, 1966.

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