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A ESTRUTURA JURÍDICA NOS CLUBES DE


FUTEBOL
NILSON RIBEIRO
Consultor Jurídico, contábil e Administrativo
consultor@unimasterfutebol.com.br

Estamos a poucos anos da Copa do mundo da FIFA de 2014, evento que proporcionará
o afluxo de grandes divisas ao país e englobará os mais diversos setores de nossa
economia.

O direito como elemento regulador do convívio pacífico entre os homens, tem papel
decisivo na garantia da segurança no cumprimento de contratos e no respeito as
garantias universais , como liberdade de expressão, de locomoção , de comunicação,
de livre associação e de pleno acesso ao judiciário, para termos protegidas as normas
dispostas em nossa constituição.

O Brasil é uma das maiores potências econômicas mundiais e será sempre reconhecido
como o país do futebol, celeiro dos maiores craques, exportador de talento aos mais
diversos centros desportivos do planeta. É justo que nossos clubes e atletas, tenham
pleno conhecimento das garantias e obrigações oferecidas pela nossa legislação.

São crescentes as exigências do mercado de trabalho, o que requer cada vez mais
esforços dos profissionais na incessante busca por aprimoramento e,
conseqüentemente, por melhores oportunidades.

Imperioso considerar que investimentos e negócios relacionados ao esporte estão em


franco desenvolvimento, aumentando, assim, a necessidade de preparação de
profissionais para prestar consultoria e assessoria aos investidores, clubes, aos entes
públicos e demais interessados.

A cada dia torna-se mais evidente a importância que a atividade profissional voltada ao
esporte tem adquirido, com a circulação de cifras estratosféricas e a criação de
legislações regulamentando as relações jurídicas originárias do profissionalismo do
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esporte, notadamente no futebol. Essa realidade acabou por criar um vasto campo de
atuação para os profissionais do direito.

Direito aplicado á Área Esportiva


Antes de tudo vamos acabar com o mito chamado Direito Desportivo,

O termo não foi utilizado porque a expressão Direito Desportivo diz respeito a matéria
completamente diferente daquela em questão e daquela usualmente tratada como
tal.

O Direito Desportivo é aquele previsto no Código de Justiça Desportiva ou no Código


Brasileiro de Futebol, que regulam os acontecimentos exclusivamente no âmbito
desportivo, tais como a suspensão automática de jogador de futebol expulso em
determinada partida; a perda do mando de campo do clube que na observar a
segurança da torcida, jogadores, árbitros e demais envolvidos no espetáculo; a punição
a atleta que compete sob efeito de substâncias estimulantes, etc. As demais questões
dizem respeito a cada uma das áreas do Direito (se é que se pode falar assim, pois não
sendo uma ciência estanque, as diversas áreas se interligam) aplicada ao âmbito
desportivo.

Tanto é verdade que o Direito Desportivo diz respeito “às regras do jogo” que o artigo
50 da Lei 9.615/98 limitou a competência da Justiça Desportiva ao processo e
julgamento das infrações disciplinares e às competições desportivas.

Nessa linha, temos o Direito do Trabalho aplicado ao Âmbito Desportivo, quando serão
analisadas, por exemplo, as relações dos atletas profissionais de futebol com os clubes
aos quais prestam serviços; o Direito Tributário aplicado ao Âmbito Desportivo, no
qual, por exemplo, se discutem as questões tributárias incidentes sobre os
pagamentos feitos a atletas de futebol e às empresas por eles criadas para gerenciar
suas imagens; Direito Penal aplicado ao Âmbito Desportivo, quando, por exemplo, se
apreciará questões ligadas a lesões corporais praticadas durante disputas esportivas
não decorrentes do jogo propriamente dito (lembremos o caso do jogador argentino,
Desabato, que foi parar na delegacia por, supostamente, ter ofendido o jogador
Grafite, com palavras racistas, somente não vindo a ser processado criminalmente
porque o brasileiro optou por não dar continuidade ao caso), Direito Civil aplicado ao
Âmbito Desportivo, em situações em que, por exemplo, um torcedor se sente
prejudicado porque comprou o ingresso para um determinado jogo e não pode entrar
no estádio, por falta de organização do clube e busca indenização por danos morais e
materiais, e assim sucessivamente.

Portanto, o primeiro mito a ser desfeito no caso é a denominação de Especialistas em


Direito Desportivo àqueles profissionais o Direito que atuam em nome de atletas e/ou
entidades de prática desportiva.

Esses profissionais são advogados especialistas em Direito Penal, do Trabalho,


Tributário, Civil, etc., podendo apenas ser chamados de Especialistas em Direito
Desportivo aqueles que cuidam dos interesses dessas mesmas partes (atletas e/ou
entidades de prática desportiva) exclusivamente no âmbito desportivo, junto aos
Tribunais mantidos pelas Confederações de prática desportiva, tais como os Tribunais
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de Justiça Desportiva (TJD) das Federações Estaduais de Futebol, o Superior Tribunal


de Justiça Desportiva (STJD) da Confederação Brasileira de Futebol.

Com a evolução do futebol ao longo das últimas décadas, em que deixou de ser mero
lazer e se transformou em um “negócio” fenomenal, com índices físicos e técnicos
cada vez melhores dentro de campo e igualmente os expressivos números que os
norteiam fora de campo, impreterível a aplicação de gestão profissional em cada setor
da administração dos clubes, a fim de melhorar a administração geral e produzir o
máximo que a atividade pode proporcionar, de modo que a gestão positiva venha
gerar decisiva influência no desempenho dos gramados.

No departamento jurídico não é diferente, a contratação de profissional conhecedor


do Direito Desportivo para comandar o departamento ou executar os trabalhos é a
medida necessária para o sucesso do departamento e dos clubes.

GESTÃO JURÍDICA NOS CLUBES DE FUTEBOL

A tão procurada e necessária gestão profissional dos clubes de futebol do país exige
mudanças administrativas profundas em seus departamentos. Nos dias de hoje, é
inaceitável que se admire o antigo trabalho “por amor a camisa” que orgulhava a
todos que dedicavam o tempo que tinham, gratuitamente, a fim atender as
necessidades dos clubes de futebol.

Já não é de hoje que o esporte vem deixando vagarosamente de ser administrado por
amadores, pessoas que alteram suas vidas profissionais entre a fonte de renda oficial e
a gestão da entidade esportiva, atuando na área esportiva sem qualquer
conhecimento profissional próprio, dirigindo, gerenciando, executando ou até mesmo
presidindo, movidos tão somente pela paixão, pelo desejo de participar da
administração de seu clube do coração.

A profissionalização que será tão abordada neste trabalho se tornou impreterível a


partir do boom que o mercado esportivo mundial enfrentou nas últimas décadas, em
que o esporte praticado como lazer, se transformou em esporte como um lucrativo
negócio. Hoje, boa parte dos próprios dirigentes são capazes de perceber que a
profissionalização, como forma de especializar os departamentos do clube, é a única
forma de viabilizar a subsistência destas entidades, com produtividade e resultados
positivos, a fim de gerar e manter o mínimo de saúde financeira suficiente para
produzir resultados satisfatórios fora e dentro de campo.

A exigência natural de profissionalizar toda a estrutura dos clubes de futebol é tema


das mais diversas discussões e comentários, tanto pelos próprios dirigentes, como
jornalistas e até torcedores. Neste sentido, passou a ser relevante que os clubes
busquem a contratação de profissionais especialistas para cada área de atuação, com
competência para gerir o respectivo departamento ou executar com eficiência os
encargos que lhe são atribuídos, de modo que cada setor da entidade possa trazer
resultados positivos no que se propõe à administração geral do mesmo, tornando
eficaz a sua a gestão e conseqüentemente justificando a sua existência.
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Conforme Carravetta (2006, p. 46):


A transição política que começa a ser vivida pelos clubes brasileiros passa a exigir a
implantação de procedimentos de modernização administrativa, assim como a
profissionalização das gestões em diferentes departamentos, para que assim os clubes
possam adaptar-se à legislação e às novas exigências do mercado.

Especificamente quanto ao departamento jurídico, muitas vezes esquecido pela mídia


em geral, neste departamento é possível observar o melhor exemplo da
profissionalização eficaz dos clubes de futebol. O departamento jurídico é uma das
mais importantes áreas de qualquer entidade desportiva, capaz de definir os
procedimentos internos, aprovar ou reprovar contratações de atletas, interpretarem
as mais diversas legislações para orientação dos demais departamentos, apresentar
pareceres e sugestões sobre regulamentos, normas e outros atos promovidos por
entidades de administração, além de promover as defesas judiciais e administrativas
de interesse do clube.

GESTÃO PROFISSIONAL DOS CLUBES

Antes de adentrar ao mérito do trabalho, importante fazer algumas considerações


sobre gestão profissional.

A palavra “gestão” vem do latim, gestione, e diz respeito ao ato de gerir, sinônimo de
administração, direção, de onde deriva gerência. Portanto, o presente trabalho trata
da direção ou administração de um dos principais setores de um clube de futebol: o
departamento jurídico.

Importante lembrar que é do verbete direção que surge a palavra dirigente. Os


dirigentes esportivos eram antiga e popularmente conhecidos por “cartolas”, por
costumeiramente serem homens ricos e poderosos que usavam cartolas (à época...) e
detinham o comando econômico e administrativo do esporte mais popular do mundo,
o futebol. Era um contraste ter “cartolas” que não pertenciam àquele universo,
definindo seus rumos como melhor lhes conviesse. Da palavra direção também se
encontra o verbete diretor ou gestor, administrador.

O adjetivo profissional é relativo ou pertencente a certa profissão, é a pessoa que faz


uma coisa por ofício. A palavra profissional é derivada do verbete profissão, que
significa qualquer das atividades especializadas, de caráter permanente, em que se
desdobra o trabalho total realizado em uma sociedade.

A administração mais produtiva do departamento jurídico dos clubes de futebol ou de


seus serviços, exercida por pessoas que a façam de forma especializada,
permanentemente e por ofício, é o tema central do presente trabalho. Profissionalizar
uma atividade que envolva gestão de conhecimento e recursos exige necessariamente
a gestão eficaz destes mesmos conhecimentos e recursos.

Aidar, Leoncini e de Oliveira (2000, p. 102) comentam com conhecimento:


Gestão eficaz de recursos no negócio futebol só acontece se, no fim da temporada, o
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resultado final for boa performance técnica e caixa equilibrado. Mas para que se
alcance esse tão desejado resultado final, cada departamento do clube deve executar
com o máximo de produtividade o fim a que se destina, comandados por uma
presidência eficiente, que seja capaz de delegar a demanda a seus executores
especialistas, explorando ao máximo o que cada departamento pode produzir em prol
de sua administração.

Esta execução profissional produtiva é que deve ser objetivada pela administração
geral, também em cada departamento, na busca contínua por melhores resultados.

MODELO ORGANIZACIONAL DOS CLUBES DE FUTEBOL

No Brasil, os clubes de futebol, em sua grande maioria, mantêm suas estruturas


jurídicas na forma de associação, pessoa jurídica prevista no capítulo II do Código Civil
(Lei Federal n. 10.406/02), definida em seu art. 53, em que qualquer pessoa pode, em
regra, se associar e integrar os quadros do clube: “Art. 53. Constituem-se as
associações pela união de pessoas que se organizam para fins não econômicos.
Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos”.

Para a legislação desportiva – Lei Federal n. 9.615/98, Lei Geral Sobre Desportos,
popularmente conhecida por “Lei Pelé”, os clubes de futebol são entidades de prática
desportiva. As entidades desportivas profissionais são aquelas envolvidas em
competições de atletas profissionais (Art. 27, § 10o, Lei Federal n. 9.615/98, acrescido
pela Lei Federal n. 10.672/03) e integram o Sistema Nacional do Desporto (Art. 13,
parágrafo único, VI, Lei Federal n. 9.615/98).

Sem pretender se alongar nesta explanação vale ressaltar que o artigo 27 e parágrafos
da Lei Geral Sobre Desportos, após a alteração introduzida pela Lei Federal n.
10.672/03, facultou de forma induzida que os clubes de futebol transformassem sua
estrutura associativa em sociedades empresárias, pessoa jurídica com fins econômicos,
sob pena de serem consideradas sociedades em comum, empresa em que todos os
sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais. Mas, diante das
inúmeras impossibilidades, inviabilidades e dificuldades de tal transformação,
prevalecem até hoje as originárias estruturas clubisticas, que os mantém constituídos
na forma de associação.

Portanto, errônea é a denominação “sócio”, para aqueles filiados que integram


voluntariamente tais entidades, sem desenvolvimento de atividade econômica.
Ezabella (2003, p. 158) ensina: “Sócios, então, são aquelas pessoas que
reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de
uma atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados (art. 981)”.

Para gerir tais associações, seus dirigentes devem ser impreterivelmente, associados à
mesma. Normalmente os cargos de direção dos clubes são: a presidência, vice-
presidência(s) e diretorias de cada departamento.
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Como regra geral, são poderes dos clubes de futebol:

 Assembléia Geral, composta por todos os associados, competente para eleger


os conselheiros;
 Conselho Deliberativo, espécie de “poder legislativo” próprio, órgão máximo
da hierarquia dos clubes, composto por associados eleitos para exercício do
cargo de conselheiro;
 Conselho Fiscal, espécie de “tribunal de contas” próprio, composto por
associados eleitos para o exercício do cargo de conselheiros fiscais;
 Conselho Diretor ou Diretoria, espécie de “poder executivo” próprio, composto
por associados eleitos ou nomeados pela Assembléia Geral ou Conselho
Deliberativo para a administração do clube.

Todos os associados eleitos ou nomeados para ocupar funções nos conselhos ou


diretoria exercem mandato por prazo determinado, na forma do que dispuser o
respectivo estatuto, lei maior da associação, elaborado de acordo com os interesses
dos associados, respeitando os ditames da Constituição Federal e do Código Civil.

É possível também a existência de outros poderes, como Conselho Consultivo, de


Orientação ou Fiscalização, poderes de cunho político, representado costumeiramente
por ex-presidentes, políticos e outros associados ilustres, com mandato muitas vezes
vitalício. No São Paulo Futebol Clube, entidade que detêm grande patrimônio,
tricampeã mundial interclubes de futebol, o Conselho Consultivo, composto por ex-
presidentes do Clube, de seu Conselho Deliberativo e do próprio Conselho Consultivo,
“é o órgão responsável pela manutenção das tradições éticas, filosóficas e históricas
do Clube”.

No tradicional e popular Sport Club Corinthians Paulista, o CORI – Conselho de


Orientação, têm, dentre outras competências, orientar o Presidente da Diretoria,
fiscalizar a administração, aprovar regimentos internos, autorizar contratos e
parcerias, verificar as contas, e apurar responsabilidades dos diretores. Agora, com a
recente aprovação do novo Estatuto do Clube, o CORI passou a ser composto por 10
membros titulares, 10 suplentes, eleitos pelo Conselho Deliberativo dentre seus
próprios integrantes, dos dois últimos presidentes da diretoria e daqueles que hoje
ostentam a condição de membros natos, para exercício de mandato de três anos,
vedada a reeleição consecutiva. Os membros do CORI não podem integrar a diretoria.

O Conselho de Orientação e Fiscalização – COFI integra os poderes de outra grande e


tradicional agremiação brasileira, o Santos Futebol Clube. Este órgão responsável pela
orientação e Fiscalização da Presidência, é composto por ex-presidentes do Clube e ex-
presidentes do Conselho Deliberativo que cumpriram integralmente pelo menos um
mandato em seus cargos, além de igual número de conselheiros indicados pelo
presidente do Conselho Deliberativo, desde que já tenham cumprido ao menos um
mandato completo como membro do CD.

Há também nas entidades, os poderes e cargos com diversas denominações ocupados


por profissionais contratados, tais como “conselho gestor” ou “de administração”,
“presidência executiva”, “superintendência” etc, mas a criação destes ainda é tímida
na estrutura associativa da maioria dos clubes no Brasil.
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A primeira linha do poder hierárquico dos clubes de futebol é, portanto,


costumeiramente exercida por associados não remunerados, detentores do poder
político da associação. Mesmo que a presidência não seja exercida conjunta ou
subsidiariamente por um executivo profissional contratado para tal, mas tão somente
pelo presidente eleito pelos associados, logo abaixo, em linha hierárquica
subseqüente, junto a cada departamento há necessidade da implantação da “famosa”
gestão profissional.

Dentro do organograma funcional ideal de um clube de futebol, a presidência, vice-


presidência(s) ou diretorias não preterem de ser profissionais. A preservação da
Diretoria fora da estrutura profissional do clube, apesar de ser alvo de críticas das mais
diversas por contrariar a lógica da profissionalização, traz como fundamento a
preservação da essência da própria associação, cuja finalidade é não econômica. Nesta
hipótese, presidente e diretoria são mantidos tão somente nestes cargos de caráter
políticos da associação, como representantes escolhidos pelos associados para a
gestão do respectivo clube.

Em regra geral os departamentos mais comuns que compõe a diretoria nos clubes de
futebol são o administrativo, financeiro, de patrimônio, de futebol profissional, de
futebol não-profissional (ou amador), social, jurídico, de marketing, de comunicações,
dentre outros já não tão comuns. Cada um destes setores dos clubes devem ser
comandados por um diretor ou vice-presidente específico.

No São Paulo F. C., por exemplo, cinco são as vice-presidências, responsáveis pelos
departamentos Administrativo; Social e de Esportes Amadores; de Futebol; de
Patrimônio e de Comunicações e Marketing. Outras dezoito áreas são comandadas por
diretores. Há vedação expressa a funções remuneradas pertinentes aos poderes do
Clube, só os profissionais contratados podem ser remunerados por suas funções.

O Estatuto do Santos F. C. permite expressamente que seu presidente venha nomear


até cinco assessores não remunerados.

De outra parte, o Clube Atlético Paranaense, outro exemplo de sucesso no futebol


brasileiro, a gestão profissional implantada foi responsável direta pelo crescimento do
clube na última década. A Diretoria é composta por cinco associados, que exercem
funções remuneradas, como Diretor Superintendente, Financeiro, de Patrimônio,
Esportivo e Jurídico, todos eleitos pelo Conselho Administrativo (não-remunerado)
para mandatos de dois anos. Compete ao Conselho Administrativo do Clube a fixação
da remuneração da Diretoria e a forma de distribuição entre os diretores.

A estrutura ideal é, na realidade, o modelo defendido por Mintzberg (1992) citado


por Pires que constitui uma organização em 5 partes:

(1) Vértice Estratégico, no topo da pirâmide, é responsável por coordenar a


organização para que ela cumpra a sua vocação e missão e atinja seus objetivos
estratégicos. Em um clube estaria a Diretoria, o Conselho Administrativo e Fiscal e
demais áreas dispostas em estatuto exclusiva para os membros não-profissonais
(associados);
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(2) Tecnoestrutura, que dá suporte a estrutura de produção da organização. Seriam as


áreas de apoio, tais como os consultórios médicos, odontológicos, fisiologia ou mesmo
a assessoria jurídica;

(3) Logística, são os serviços de suporte que não intervêm na produção da organização.
Em um clube poderíamos enquadrar o estádio, a lavanderia, o refeitório entre outros;

(4) Linha Hierárquica, situado no centro da pirâmide, são as estruturas que


estabelecem a ligação entre o vértice estratégico e o centro operacional. Setor onde
estaria presente a área administrativa profissional, com gestores profissionais a
executarem aquilo que o vértice estratégico determinou como metas e objetivos da
organização.

(5) Centro Operacional, na base da pirâmide, são os encarregados pela produção da


organização. Em um clube temos os jogadores e comissão técnica como sendo os
“operários”, que se reportam diretamente a linha hierárquica e não ao vértice
estratégico como acontece comumente em muitos clubes atualmente.

A necessidade de implantação de gestão profissional na administração dos clubes


decorre da diversidade de relações existentes entre estes e seus atletas (profissionais e
não profissionais), comissão técnica (treinador, auxiliar, preparadores físicos,
treinadores de goleiros, massagistas, roupeiros), área médica (médicos,
fisioterapeutas, odontólogos, psicólogos, fisiologistas, nutricionistas), entidades de
administração, poder público, imprensa (emissoras de TV, rádio, jornais e mídia
eletrônica), agências de marketing esportivo ou publicidade, patrocinadores,
companhias de seguro, fornecedores (restaurantes, lavanderias, escolas), além dos
demais empregados (administrativo, secretárias, vendedores, bilheteiros, porteiros,
seguranças, jardineiros, motoristas, faxineiros...).

DEPARTAMENTO JURÍDICO

Ao departamento jurídico, também denominado “departamento de negócios


jurídicos”, “departamento de interesses legais”, ou outra definida em seus estatutos,
compete gerir todas as questões legais de interesse do clube, como o fornecimento de
consultoria e assessoria jurídica à presidência e todos os departamentos, elaboração e
revisão de todos os contratos firmados pelo clube, organização e manutenção de
arquivo de documentos jurídicos, indicação de profissionais para a defesa judicial e
administrativa do clube, dentre outras do mesmo ramo.

Em razão de sua relevância para todas as áreas do clube, este setor deve estar
diretamente ligado aos demais departamentos, especialmente subordinado à
presidência. Recentemente, o Sport Club Internacional de Porto Alegre, campeão
mundial interclubes de futebol de 2006, demonstrando que a gestão profissional fora
de campo é capaz de trazer resultados positivos dentro do campo, anunciou a
contratação de advogado especialista em contratos comerciais e de marketing para
atuação específica junto ao departamento de marketing do clube, a fim de fortalecer o
clube em acordos com parceiros comerciais, investidores e patrocinadores.
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A respeito esclareceu Luís César Moura, Vice-Presidente de Marketing do


Internacional:
Ao revisar os nossos contratos, percebemos que eles são bem feitos teoricamente e
juridicamente, mas muitos não espelham o negócio em questão. Na hora que vamos
pressionar os parceiros sobre o que foi acordado, eles se escondem no contrato, que é
genérico, e não os obriga a cumprir tudo aquilo que a gente negociou.

O responsável por administrar o departamento jurídico é o seu diretor ou o vice-


presidente. Esta função privativa de advogado (Art. 1o, II, da Lei Federal n. 9.906/94 –
Estatuto da Advocacia e da OAB) é exercida por associado nomeado ou eleito para a
mesma. O diretor jurídico no exercício do comando político do departamento deve ter
pleno conhecimento de todas as atividades do clube, de modo que possa acompanhar
ou determinar procedimentos que incluam o acompanhamento de tais atividades por
seu departamento, exercendo atividades de consultoria jurídica e a chamada
advocacia preventiva, no intuito de minimizar os riscos inerentes a todas as atividades
da entidade, além de gerir as oportunidades que se apresentem. Costumeiramente o
associado elevado à função diretiva deste departamento é um respeitado advogado
que integra o quadro associativo do clube, não necessariamente conhecedor e
militante na área do direito desportivo.

Elio Carravetta (2007, p. 46 e 47) comenta as “espécies” de dirigentes que


atualmente comandam os clubes de futebol no Brasil:

Amparados por esse paradigma surgiram muitos dirigentes providos de forte idealismo
que foram grandes empreendedores e provocaram amplas transformações e
inovações, contribuindo de maneira decisiva para o crescimento patrimonial dos
clubes e para o desenvolvimento do futebol brasileiro. Por outro lado, muitos outros
chegavam desprovidos de habilidades básicas para administrar e gerir pessoas.
Desconheciam a finalidade e o verdadeiro papel dos departamentos no contexto do
clube, a estrutura organizacional, a competência e a função dos colaboradores.
Freqüentavam o clube somente no final do expediente, para conversar com os amigos
de diretoria, participar de eventuais reuniões formais ou informais e despachar alguns
documentos. Em muitas circunstâncias contratavam um amigo, freqüentemente
desprovido de competência funcional, para exercer algum tipo de cargo remunerado, e
assim mantinham-se atualizados sobre o funcionamento dos setores.

Em muitos casos, especialmente nos das pequenas agremiações, o diretor jurídico é o


único advogado responsável por toda consultoria, assessoria e advocacia prestada ao
clube, atuando inclusive de forma gratuita e sem qualquer conhecimento do Direito
Desportivo. Esta situação colide frontalmente com o bom modelo de gestão
profissional do departamento, tendo em vista a alta demanda de trabalho, a
disponibilidade de tempo para dedicar-se ao clube, a falta de especialidade nas
matérias de atuação, dentre muitos outros inconvenientes prejudiciais à produtividade
da entidade.

A primeira medida que se impõe para a gestão eficaz do departamento jurídico de um


clube de futebol é a contratação de um profissional ou de um escritório militante na
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área do Direito Desportivo para a execução de consultoria, assessoria e advocacia a


todos os setores do clube. Profissionais atuantes em outras áreas do direito, tais como
direito empresarial, tributário, comercial, civil, também são bem aceitos e igualmente
importantes para atuação específica nos respectivos departamentos que demandam
de seus conhecimentos.

Compete ao diretor jurídico a indicação dos advogados ou escritórios a serem


contratados para a defesa dos interesses da associação, mediante a especialidade do
profissional, para atuação em defesa do clube perante a Justiça estadual, federal, do
trabalho e desportiva, além de consultoria e assessoria constante aos setores de
registro e transferência de atletas, recursos humanos, financeiro, marketing, médico
etc.

Os profissionais contratados pelo clube podem atuar de forma interna, como


empregado, trabalhando diuturnamente em gabinete oferecido pela entidade em sua
sede, ou de forma terceirizada, permanecendo em seu próprio escritório, com vínculo
decorrente de contrato de prestação de serviços e estipulação de honorários
advocatícios firmado, em que estarão definidas as atribuições dos profissionais, a
limitação ou não de horas mensais para a prestação, e o valor dos honorários
respectivos.

As grandes agremiações de futebol já possuem vários advogados trabalhando


internamente no clube, com atuação constante em diversos ramos do direito, além de
escritórios especializados terceirizados. Muitas já dispõem, inclusive, de gerente-
jurídico, advogado contratado, diretamente subordinado ao diretor jurídico, que
supervisiona o trabalho dos demais e gerencia os contatos e procedimentos com os
escritórios terceirizados. Atualmente pouquíssimos clubes comportam e necessitam de
tamanha estrutura nos quadros de seu setor jurídico, mas, tudo indica que este é o
modelo mais eficaz para a gestão profissional do departamento.

Diante da relevância e das diversas especialidades exigidas àqueles que integram


departamento jurídico de clubes de futebol, o Estatuto Social do Santos F. C., subdivide
em três divisões: 1-) Consultiva e de Contratos, com competência para orientar a toda
a estrutura do clube com relação a contratos; 2-) Processual, responsável por
acompanhar toda a demanda contenciosa do Clube; e 3-) Inquéritos e Sindicâncias,
destinada a apurar questões necessárias ou suscitadas no âmbito de sua administração
interna.

João Paulo Rossi, diretor jurídico do grupo Telefônica, analisando o papel do advogado
nos departamentos jurídicos, assevera (www.conjur.com.br, acesso em 09/04/2007):

Ao todo são dez as competências inerentes a um bom advogado interno de uma


empresa. Conhecer a empresa, os clientes, os fornecedores e saber quais os serviços
que presta é primordial para fazer uma boa assessoria. Só assim é possível elaborar
contratos. Além disso, o papel do advogado é resolver.

Neste contexto, evidente que o papel do advogado da entidade é muito maior do que
possa parecer, sua atividade deve estar diretamente ligada a cada ato dos demais
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departamentos, participando de forma robusta dos resultados produzidos.

DIREITO DESPORTIVO

Para Carlezzo (2004, p. 4), embora a ciência jurídico-desportiva não esteja adstrita
apenas ao estudo do futebol e suas relações com o direito, englobando também o
vôlei, o futsal, o judô, o atletismo, enfim, as mais diversas modalidades esportivas
praticadas no país, não há como olvidar que a grande estrela e carro-chefe do esporte
brasileiro é o futebol.

Como anteriormente narrado, o ramo do Direito mais importante para o


departamento jurídico dos clubes de futebol é o Direito Desportivo. Esta novel área
jurídica já é considerada por muitos como segmento autônomo da ciência jurídica,
independente das demais ramificações do direito. Para Castro (2002, p. 14 e 15)
abordando a tese defendida por muitos, comenta:

Defendem ser o Direito Desportivo fruto de uma necessidade da sociedade oriunda de


uma nova conduta e de interesses decorrentes de sua evolução. Defendem que o
desenvolvimento e a importância do esporte na vida socioeconômica do cidadão, nos
últimos anos, implicaram a necessidade de legislação específica para regular o
desporto e sua prática. Para eles, as antigas legislações comerciais, civis e trabalhistas,
apenas para citar algumas, não mais podem ser aplicadas diretamente no desporto,
pois esse é uma atividade diferenciada do dia-a-dia da sociedade, devendo assim, ser
tratadas diferentemente.

Exemplos não faltam para ilustrar essa diferenciação da atividade desportiva. As


normas de Direito Penal não podem ser aplicadas ao boxe. Da mesma forma o Direito
Previdenciário não pode ser aplicado integralmente em todos os casos ocorridos na
prática das modalidades esportivas. Como ficaria o futebol se todos os atletas
contundidos acionassem seus clubes pedindo indenizações por acidente do trabalho? E
o Direito do Trabalho que, em tese, não se aplica a atletas dito “amadores” praticantes
de modalidades como futsal, basquete, handebol. Castro (2002, p. 15) ainda
complementa:

O Direito Desportivo é um ramo interdisciplinar do Direito, mas sem estar vinculado ou


subordinado a nenhum. O Direito Desportivo é parte de todos os outros ramos do
Direito e de nenhum dele ao mesmo tempo, por isso defendem ser o Direito
Desportivo um ramo autônomo e não independente. Para eles, o Direito Desportivo é
o Direito Civil, Penal, Trabalhista, Previdenciário, Constitucional, Internacional etc.,
mas sempre com as características e exceções próprias que tornam ineficazes vários
preceitos e regras de outros ramos do Direito.

Nas entidades de prática do futebol a relevância do Direito Desportivo é ainda mais


evidente, tendo em vista a grandiosidade da estrutura organizacional das mesmas. Boa
parte das atividades desempenhadas por tais associações são matérias abrangidas pela
ciência jurídica-desportiva.
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RELAÇÃO CLUBE X ATLETAS

Para o advogado que milita na área do Direito Desportivo, especialmente defendendo


os interesses dos clubes de futebol, a relação clube x atleta talvez seja a mais
importante a ser gerida. A atividade fim dos clubes de futebol é o próprio futebol, e os
atletas seu principal produto no mercado, cujos valores, em linhas gerais, pode ser
suficiente para assegurar bons resultados econômicos e garantir a subsistência da
agremiação.

Foi o tempo em que as rendas aferidas nas bilheterias eram fontes suficientes para
garantir a manutenção qualificada das finanças do clube sem dependência de direitos
televisivos, venda de atletas, patrocínios, entre outros. Atualmente as médias de renda
alcançadas pelos clubes de futebol são insuficientes para assegurar a manutenção
qualificada do time, estrutura administrativa, investimentos, despesas ordinárias etc.
Mesmo com o fim do “passe” (art. 93 da Lei Federal n. 9.615/98, que revogou
tacitamente o art. 11 da Lei Federal n. 6.354/76) a formação de atletas e venda de seus
direitos federativos e econômicos ainda são as atividades mais rentáveis a serem
exercidas pelo clube a fim de manter o melhor nível de sua atividade fim.

Neste contexto, a relação clube x atleta se destaca como uma “faca de dois gumes”,
quando gerida com competência traz resultados absolutos para o clube. De outra
parte, capaz de gerar prejuízos inestimáveis causando até mesmo a “quebra” da
entidade quando mal aproveitados.

Ao operador do direito desportivo cabe orientar aos respectivos departamentos do


clube a melhor forma de aplicação da legislação desportiva hoje vigente,
especialmente quanto ao prazo contratual, valor da cláusula penal, registro para
condição legal de jogo, elaboração de contratos de licença para uso da imagem,
procedimentos legais do departamento médico, hipóteses e formas de rescisão
contratual, representação do clube nas transferências de atletas, elaboração de
contratos de formação de atletas não-profissionais, indenizações decorrentes da
formação de atletas, contratação de seguros etc.

Também junto à Justiça Desportiva e Poder Judiciário, o advogado conhecedor do


Direito Desportivo deve atuar constantemente em defesa dos interesses dos clubes.
Na forma do art. 217 da Constituição Federal, a Justiça Desportiva é competente para
apreciar os assuntos relacionados à disciplina e competições desportivas.
Ordinariamente todas as infrações disciplinares e outras questões decorrentes das
competições disputadas são submetidas ao processamento e julgamento dos órgãos
judicantes desportivos, previstos no Capítulo VII da Lei n. 9.615/98, cuja organização,
funcionamento, atribuições, processos e medidas disciplinares estão definidos no
Código Brasileiro de Justiça Desportiva (instituído pela Resolução n. 01/03, do
Conselho Nacional do Esporte).

A atuação do advogado junto à Justiça Desportiva traz resultados objetivos no fator


campo. O papel do profissional responsável por esta área é trabalhar na prevenção da
indisciplina dos jogadores e membros da comissão técnica, também do próprio clube
com relação às suas obrigações com segurança, cumprimento de normas
13

regulamentares e estruturais. De outra parte, tem a difícil incumbência de promover


as defesas de todos que forem levados a julgamento por esta Justiça especializada, a
fim de evitar a incidência de penas rigorosas a atletas, dirigentes e ao próprio clube,
requerendo em muitas oportunidades conversão de penas, recurso com efeito
suspensivo e até liminares específicas.

Junto aos órgãos do Poder Judiciário, leia-se, Justiça Estadual Comum e do Trabalho, é
costumeira também a atuação do advogado contratado pelo clube. É a Justiça Estadual
Comum a competente para apreciar questões decorrentes da aplicação ou desrespeito
ao contrato de imagem normalmente firmado entre clubes e atletas. Já a Justiça
Federal do Trabalho possui competência para processar e julgar as questões
decorrentes da relação de trabalho, não só de atletas profissionais, como os não-
profissionais, treinadores, membros das comissões técnicas, além dos demais
empregados do clube. Relevante o conhecimento específico do advogado na área do
Direito Desportivo, posto as peculiaridades impostas pela legislação desportiva e
jurisprudências para atletas profissionais, não-profissionais, treinadores e até
massagistas.

Ainda na relação trabalhista, importante a assessoria jurídica constante do profissional


ao setor de Recursos Humanos da entidade, em razão das inúmeras peculiaridades
trabalhistas e previdenciárias atinentes ao obreiro da área esportiva e das implicações
ao clube.

Indispensável também a participação do advogado na assessoria para a formalização


de negócios junto ao agente credenciado e elaboração de contratos de transferências
nacionais e internacionais para resguardar todos os interesses e direitos do clube,
especialmente adequando o pacto às disposições normativas expedidas pelas
entidades internacional (FIFA), nacional (CBF) e regional (federações) de administração
do futebol, além, é claro, da própria legislação pátria pertinente. Relevante ainda nesta
mira, a consultoria contínua do profissional ao departamento de registro e
transferência da agremiação.

Por fim, a constante assessoria ao departamento de futebol não-profissional nas


atividades rotineiras de sua estrutura, especialmente quanto ao cumprimento dos
contratos de formação e bolsa de aprendizagem, parceria, além da revisão de
documentação e cumprimento da lei para exigência das indenizações de formação e
mecanismos de solidariedade, previstas nas normas nacionais e internacionais da
modalidade.

DEMAIS ATIVIDADES

O trabalho desenvolvido pelo advogado contratado por clubes de futebol não fica
adstrito à relação clube x atleta. Merecem destaque as questões de ordem tributária,
igualmente importantíssimas para todos os clubes, posto são a origem das dívidas de
maior monta contraídas pelas agremiações. Especialmente agora, com a vigência da
Lei Federal n. 11.345 de 11 de setembro de 2006, que instituiu a loteria denominada
“Timemania”, cujo objetivo é desenvolver a prática esportiva do futebol, através da
14

criação de receitas destinadas aos clubes, com o fim exclusivo de parcelamento de


seus débitos tributários e com o FGTS, mediante a licença remunerada de suas
populares logomarcas para o referido concurso de prognóstico. Da mesma forma,
igualmente relevante o amplo conhecimento e militância sobre os ditames da Lei
Federal n. 11.438/06, já alterada pela Lei n. 11.472/07, a chamada “Lei de Incentivo ao
Desporto”, capaz de propiciar aos entes desportivos recursos oriundos de deduções de
tributos federais para execuções de projetos específicos de caráter esportivos,
previamente aprovados pelo Ministério do Esporte. Não se pode esquecer ainda, a
coordenação de toda gestão contábil do Clube, especialmente para cumprimento do
disposto no art. 46-A, I, da Lei Geral Sobre Desportos, com elaboração das
demonstrações financeiras da entidade.

A consultoria e assessoria da presidência e demais departamentos do clube são


atividades igualmente relevantes. Ordinariamente, a orientação, elaboração e revisão
de contratos de patrocínio, transmissão televisiva, estágios e prestação de serviços;
orientação para cumprimento do Estatuto de Defesa do Torcedor, instituído pela Lei
Federal n. 10.671 de 15 de maio de 2003; atuação junto ao PROCON; orientação na
contratação de seguros esportivos; elaboração de resoluções e portarias internas são
constantemente necessárias.

GOVERNANÇA CORPORATIVA NO
FUTEBOL
Muitas agremiações são administradas sob óticas gerenciais ultrapassadas e se
protegem sob o argumento de que não têm fins lucrativos

Em breve resumo, para que todos possam entender o conceito geral de governança
corporativa aplicado aos clubes pode ser definido como o conjunto de princípios e
mecanismos que orientam as relações entre os associados do clube, seus dirigentes,
funcionários (incluindo a comissão técnica e os jogadores), além de outros
stakeholders de um clube, como por exemplo, os patrocinadores, os fornecedores de
materiais, as federações e confederações aos quais os clubes estão associados; a mídia
em todas as suas ramificações e, é claro, o torcedor.

Com a adoção dos princípios gerais de governança corporativa, aumenta a


probabilidade de obtenção, pelos gestores e associados do clube, dos objetivos
traçados.

Esses riscos não estão somente relacionados com superávit ou déficit do clube, mas
também com ações ou atitudes que possam “manchar” a imagem da instituição
perante seus stakeholders (todos que possuem algum interesse, direto ou indireto,
com o clube, os quais foram exemplificados anteriormente).

Para que os clubes possam iniciar o processo de adoção das boas práticas de
governança corporativa, devem prever, entre outras medidas:
• Atuação forte e independente dos seus conselhos;
• Revisão da política de remuneração de seus gestores, comissão técnica e jogadores;
15

• Identificação dos fatores diferenciadores do clube, em relação aos “concorrentes”,


buscando maximizar estes diferenciais competitivos;
• Identificação dos fatores de riscos ou deficiências, em relação aos “concorrentes”,
buscando administrar e cobrir, da melhor forma possível, os riscos associados a estas
deficiências;
• Disponibilização periódica de informações detalhadas ao público (stakeholders); e
• Administração responsável de suas finanças, identificando o nível ótimo, é máximo
de seu endividamento.

Assim como aconteceu com as empresas em outros segmentos, os clubes devem


começar a se preocupar em se proteger criando estruturas que farão esse “tracking” e
que deverão estabelecer padrões que o clube implantará em todas as operações desde
a mais simples compra de material até a venda dos direitos federativos de um
importante jogador, por exemplo. Estas regras internas devem, em primeiro lugar,
atender à legislação tributária, fiscal e contábil vigentes no país; seguidas das normas
estabelecidas pelo próprio clube. Uma vez estabelecidas estas normas, o próximo
passo será criar meios de controle e gerenciamento de forma a garantir, de forma
independente, que tais normas são seguidas no cotidiano do clube.

Desta forma os clubes, além de se protegerem contra possíveis irregularidades, sejam


elas cometidas eventualmente por funcionários, dirigentes, comissão técnica ou
jogadores, posicionam-se diante das autoridades fiscais, contábeis e tributárias do país
como uma entidade praticante das normas e leis vigentes; e evitam possíveis
autuações decorrentes de investigações aos quais os clubes estão sujeitos, mantendo,
portanto, a imagem do clube não só no país de origem, como internacionalmente.

Exemplos de investigações sobre negócios no futebol


Necessário se tornou essa introdução, pois queremos abordar, em especial, um
assunto que vem ganhando espaço na mídia internacional e que também já chegou ao
Brasil. Está ocorrendo uma mudança importantíssima no comportamento das
autoridades legais e fiscais de alguns países em relação ao segmento esportivo devido,
sobretudo, aos bilhões de dólares que circulam por ano no mundo do esporte e em
particular no futebol.

TMS - Transfer Matching System


A FIFA, entidade máxima do futebol, já implantou o sistema eletrônico nas transações
de compra e venda dos direitos federativos de jogadores.

O objetivo do sistema TMS (sistema de correspondência para transferências) é, por


um lado, garantir que as autoridades do futebol dispõem de mais informações
relativamente a cada transferência e, por outro lado, aumentar a transparência de
todas as transações, o que, por sua vez, aumentará a credibilidade e a reputação de
todo o sistema de transferências. Simultaneamente, o sistema garantirá que é de fato
um jogador que está a ser transferido e não um mero jogador fictício usado para
movimentar dinheiro (“lavagem de dinheiro”). Além disso, o sistema contribuirá para
salvaguardar a proteção de menores.
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Esse sistema, segundo a agência Estado, já contempla 38 clubes brasileiros. No mundo


são 2.100 clubes em 144 países que adotaram o sistema. Até outubro de 2010, a FIFA
planeja estar com 4.000 clubes integrados ao sistema em todo o mundo.

Nesse sistema, deverá ser informado tanto pelo clube vendedor como comprador
todos os dados da negociação, incluindo: o montante do negócio; salário do jogador;
agente ou advogado responsável; duração do contrato; e a conta e o país onde serão
depositados os valores da transação. Sem esses dados, a FIFA não dará como aceita a
transação e com isso o jogador não poderá ser inscrito em nenhum certame.

Estas determinações visam coibir fraudes contábeis e fiscais; transferências ilegais de


jogadores; operações relacionadas a lavagem de dinheiro, etc. Em paralelo à posição
da entidade, outras ingerências no futebol têm demonstrado a vontade das
autoridades legais e fiscais de alguns países de acompanharem mais de perto as
negociações e os valores envolvidos - citemos alguns exemplos que já foram noticiados
em alguns dos principais jornais internacionais.

Na Inglaterra, por exemplo, conforme reportagem publicada no site Terra, as


autoridades tanto do futebol como do fisco estão atentas às regras e com isso a
punição pode ser tanto esportiva como pecuniária: um primeiro caso é envolvendo o
jogador Carlos Tevez na transação realizada pelo West Ham, que o adquiriu mesmo
sabendo que ele pertencia a uma empresa privada e não a um clube. Resultado: multa
de 5,5 milhões de libras em abril de 2007 aos Hammers.

Outro exemplo é do fisco inglês que convocou 100 jogadores a explicarem os valores
recebidos como direito de imagem, uma vez que os clubes pagam os valores relativos a
este item a uma empresa do próprio jogador e que, caso esse pagamento fosse
recolhido pelo jogador diretamente, o valor do imposto seria pago maior do que
realmente o é. Essa diferença de imposto pago e o que o fisco inglês acredita que
deveria ser pago pode chegar a um valor de 100 milhões de libras em impostos não
recolhidos.

Na Bélgica, segundo reportagem publicada pelo Jornal Correio da Manhã de Portugal


em sua edição de 26/02/10, a Justiça está investigando um diretor do Standart de
Liége, que já atuou como jogador, agente, empresário, em seus negócios com alguns
clubes, principalmente portugueses.

No Brasil começa a ser investigado negócios no futebol


No Brasil, o Ministério Público abriu inquérito mediante denúncia de empresários que
têm se utilizado das redes sociais para “seduzir” jovens interessados em jogar no
exterior oferecendo testes em importantes clubes europeus sem terem essa
autorização. O Ministério Público indagou a CBF sobre como são realizados os negócios
de transações de venda de direitos federativos e esta disse que existem operações
sobre as quais ela não tem conhecimento de sua realização, reconhecendo que 800
jogadores foram transacionados sem seu conhecimento.

O Ministério Público vai começar o seu trabalho sobre as transações legalizadas pela
CBF e isso poderá trazer à tona algumas irregularidades cometidas, tais como valores
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não declarados, impostos não recolhidos, depósitos realizados em contas de paraísos


fiscais sem a sua devida informação pelos clubes em seus relatórios e balanços, etc.
É neste momento que a governança corporativa torna-se importante instrumento de
proteção aos clubes que, em muitos casos, são administrados sob óticas gerenciais
ultrapassadas e que se protegem sob o argumento de que são entidades sem fins
lucrativos e com isso estão isentas de determinas normas legais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por toda a narrativa apresentada ao longo do trabalho, é fácil concluir pela relevância
da aplicação de gestão profissional mesmo nas “antigas” estruturas clubisticas
brasileiras, para o aparecimento de resultados positivos em suas administrações e
posteriormente dentro do campo, no fator meramente esportivo.

O calcanhar-de-aquiles do futebol administrado profissionalmente ainda é a paixão


aliada ao esporte, muitas vezes prejudicial à concretização de planejamentos, alcance
de metas e manutenção das estruturas. E a paixão aqui referida gera justamente a
maior das despesas dos clubes de futebol, que são os salários de seus jogadores.

Os apaixonados torcedores sabem que os melhores jogadores são capazes de deixar


seu time mais próximo dos títulos, mas esquecem que a conta dos custos com atletas é
a mais arriscada a ser gerida pelo clube. Nem sempre o planejamento financeiro da
agremiação permite e prevê grandes investimentos com jogadores, mas basta que a
equipe não obtenha os resultados esperados nos gramados para que o planejamento
seja ignorado, contratações promovidas, prêmios oferecidos ou ampliados, redução do
valor dos ingressos aos torcedores, enfim, o desastre administrativo.

Para a redução de todo esse risco ao longo da gestão exige-se conhecimento


específico de cada setor de atuação. As múltiplas necessidades dos clubes, em cada
área de sua atividade, demandam administradores focados na operação e com
dedicação em tempo integral. Para garantir conhecimentos específicos e dedicação
integral, os profissionais contratados devem ser remunerados segundo valores de
mercado, preterindo até mesmo de serem torcedores do respectivo time.

Não se deve abrir mão da paixão na gestão esportiva, mas paixão deve ficar para a
torcida. Sem qualquer necessidade de imposição legal, o mercado exige que a gestão
dos clubes deva ser executada por profissionais, com atuação full time, focada na
maximização das receitas e redução dos custos, com a finalidade de melhorar cada vez
mais a estrutura e obter os melhores resultados dentro de campo. Na busca constante
de novas conquistas, a estrutura gerencial deve ser semelhante à das empresas, ou
seja, totalmente profissional.

O advogado incumbido da administração do departamento jurídico, ao contrário da


maioria dos dirigentes dos demais departamentos, assim como no departamento
médico, é impreterivelmente um profissional. Entretanto, apesar dessa visível
“vantagem” constatada, nem sempre o diretor jurídico tem a formação necessária
18

para ser um gestor eficaz de seu departamento, nem sempre é um conhecedor


técnico-específico das atividades, mercado e necessidades desportivas.

Este setor do clube, conforme visto, deve se relacionar diretamente com todos os
demais departamentos, também com sua presidência e conselhos, gerindo riscos e
oportunidades, na busca de resultados vitoriosos para a administração geral.

Conclui-se enfim, que o Direito Desportivo é matéria relevante para a gestão dos
clubes de futebol, e conseqüentemente que a contratação de advogados estudiosos e
militantes nesta área do Direito para exercício de cargos de direção ou funções de
assessoria executiva junto ao departamento jurídico dos clubes de futebol é medida
eficaz como forma de especializar a execução destes trabalhos, corroborando
frontalmente com a transformação dos conhecidos problemas de gestão em
conquistas esportivas.

REFERÊNCIAS
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Paulo: FGV, 2000.

CARLEZZO E. Direito Desportivo Empresarial. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004.

CARRAVETTA E. Modernização da Gestão no Futebol Brasileiro. Porto Alegre: AGE,


2006.

CASTRO, L. R. M. A Natureza Jurídica do Direito Desportivo: Revista Brasileira de


Direito Desportivo. São Paulo: OAB-SP, 2002.

CONSULTOR JURÍDICO. Departamento Jurídico Papel do Advogado é Gerir Riscos e


Oportunidades. www.conjur.com.br, acessado em 09 de abril de 2007.

EZABELLA, F. L. As Associações no Novo Código Civil e a Influência no Direito


Desportivo: Revista Brasileira de Direito Desportivo, São Paulo: Imprensa Oficial, 2003.

FERREIRA, A. B. de H. Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. São Paulo:


DB, 1993.

GURGEL, A. Futebol S/A A Economia em Campo. São Paulo: Saraiva. 2006.

JACOBS, C. S.; DUARTE F. Futebol Exportação. Rio de Janeiro: Senac Rio, 2006.

MÁQUINA DO ESPORTE. www.maquinadoesporte.com.br, acessado em 11 de abril de


2007.

PIRES, G. Agôn: Gestão do Desporto. Porto: Porto Editora, 2007.


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ROBERTO J. PUGLIESE JR.:); membro dos Institutos Brasileiro e Catarinense de Direito


Desportivo, da Comissão de Estudos do Direito Desportivo da OAB/SC

Quer saber mais...

Belo Horizonte / MG, Setembro de 2010

“Seja lá o que for fazer ou sonhar, comece...”

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NILSON RIBEIRO - Consultor Esportivo, Jurídico e Contábil
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