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A Estrutura Juridica Nos Clubes de Futebol
A Estrutura Juridica Nos Clubes de Futebol
Estamos a poucos anos da Copa do mundo da FIFA de 2014, evento que proporcionará
o afluxo de grandes divisas ao país e englobará os mais diversos setores de nossa
economia.
O direito como elemento regulador do convívio pacífico entre os homens, tem papel
decisivo na garantia da segurança no cumprimento de contratos e no respeito as
garantias universais , como liberdade de expressão, de locomoção , de comunicação,
de livre associação e de pleno acesso ao judiciário, para termos protegidas as normas
dispostas em nossa constituição.
O Brasil é uma das maiores potências econômicas mundiais e será sempre reconhecido
como o país do futebol, celeiro dos maiores craques, exportador de talento aos mais
diversos centros desportivos do planeta. É justo que nossos clubes e atletas, tenham
pleno conhecimento das garantias e obrigações oferecidas pela nossa legislação.
São crescentes as exigências do mercado de trabalho, o que requer cada vez mais
esforços dos profissionais na incessante busca por aprimoramento e,
conseqüentemente, por melhores oportunidades.
A cada dia torna-se mais evidente a importância que a atividade profissional voltada ao
esporte tem adquirido, com a circulação de cifras estratosféricas e a criação de
legislações regulamentando as relações jurídicas originárias do profissionalismo do
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esporte, notadamente no futebol. Essa realidade acabou por criar um vasto campo de
atuação para os profissionais do direito.
O termo não foi utilizado porque a expressão Direito Desportivo diz respeito a matéria
completamente diferente daquela em questão e daquela usualmente tratada como
tal.
Tanto é verdade que o Direito Desportivo diz respeito “às regras do jogo” que o artigo
50 da Lei 9.615/98 limitou a competência da Justiça Desportiva ao processo e
julgamento das infrações disciplinares e às competições desportivas.
Nessa linha, temos o Direito do Trabalho aplicado ao Âmbito Desportivo, quando serão
analisadas, por exemplo, as relações dos atletas profissionais de futebol com os clubes
aos quais prestam serviços; o Direito Tributário aplicado ao Âmbito Desportivo, no
qual, por exemplo, se discutem as questões tributárias incidentes sobre os
pagamentos feitos a atletas de futebol e às empresas por eles criadas para gerenciar
suas imagens; Direito Penal aplicado ao Âmbito Desportivo, quando, por exemplo, se
apreciará questões ligadas a lesões corporais praticadas durante disputas esportivas
não decorrentes do jogo propriamente dito (lembremos o caso do jogador argentino,
Desabato, que foi parar na delegacia por, supostamente, ter ofendido o jogador
Grafite, com palavras racistas, somente não vindo a ser processado criminalmente
porque o brasileiro optou por não dar continuidade ao caso), Direito Civil aplicado ao
Âmbito Desportivo, em situações em que, por exemplo, um torcedor se sente
prejudicado porque comprou o ingresso para um determinado jogo e não pode entrar
no estádio, por falta de organização do clube e busca indenização por danos morais e
materiais, e assim sucessivamente.
Com a evolução do futebol ao longo das últimas décadas, em que deixou de ser mero
lazer e se transformou em um “negócio” fenomenal, com índices físicos e técnicos
cada vez melhores dentro de campo e igualmente os expressivos números que os
norteiam fora de campo, impreterível a aplicação de gestão profissional em cada setor
da administração dos clubes, a fim de melhorar a administração geral e produzir o
máximo que a atividade pode proporcionar, de modo que a gestão positiva venha
gerar decisiva influência no desempenho dos gramados.
A tão procurada e necessária gestão profissional dos clubes de futebol do país exige
mudanças administrativas profundas em seus departamentos. Nos dias de hoje, é
inaceitável que se admire o antigo trabalho “por amor a camisa” que orgulhava a
todos que dedicavam o tempo que tinham, gratuitamente, a fim atender as
necessidades dos clubes de futebol.
Já não é de hoje que o esporte vem deixando vagarosamente de ser administrado por
amadores, pessoas que alteram suas vidas profissionais entre a fonte de renda oficial e
a gestão da entidade esportiva, atuando na área esportiva sem qualquer
conhecimento profissional próprio, dirigindo, gerenciando, executando ou até mesmo
presidindo, movidos tão somente pela paixão, pelo desejo de participar da
administração de seu clube do coração.
A palavra “gestão” vem do latim, gestione, e diz respeito ao ato de gerir, sinônimo de
administração, direção, de onde deriva gerência. Portanto, o presente trabalho trata
da direção ou administração de um dos principais setores de um clube de futebol: o
departamento jurídico.
resultado final for boa performance técnica e caixa equilibrado. Mas para que se
alcance esse tão desejado resultado final, cada departamento do clube deve executar
com o máximo de produtividade o fim a que se destina, comandados por uma
presidência eficiente, que seja capaz de delegar a demanda a seus executores
especialistas, explorando ao máximo o que cada departamento pode produzir em prol
de sua administração.
Esta execução profissional produtiva é que deve ser objetivada pela administração
geral, também em cada departamento, na busca contínua por melhores resultados.
Para a legislação desportiva – Lei Federal n. 9.615/98, Lei Geral Sobre Desportos,
popularmente conhecida por “Lei Pelé”, os clubes de futebol são entidades de prática
desportiva. As entidades desportivas profissionais são aquelas envolvidas em
competições de atletas profissionais (Art. 27, § 10o, Lei Federal n. 9.615/98, acrescido
pela Lei Federal n. 10.672/03) e integram o Sistema Nacional do Desporto (Art. 13,
parágrafo único, VI, Lei Federal n. 9.615/98).
Sem pretender se alongar nesta explanação vale ressaltar que o artigo 27 e parágrafos
da Lei Geral Sobre Desportos, após a alteração introduzida pela Lei Federal n.
10.672/03, facultou de forma induzida que os clubes de futebol transformassem sua
estrutura associativa em sociedades empresárias, pessoa jurídica com fins econômicos,
sob pena de serem consideradas sociedades em comum, empresa em que todos os
sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais. Mas, diante das
inúmeras impossibilidades, inviabilidades e dificuldades de tal transformação,
prevalecem até hoje as originárias estruturas clubisticas, que os mantém constituídos
na forma de associação.
Para gerir tais associações, seus dirigentes devem ser impreterivelmente, associados à
mesma. Normalmente os cargos de direção dos clubes são: a presidência, vice-
presidência(s) e diretorias de cada departamento.
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Em regra geral os departamentos mais comuns que compõe a diretoria nos clubes de
futebol são o administrativo, financeiro, de patrimônio, de futebol profissional, de
futebol não-profissional (ou amador), social, jurídico, de marketing, de comunicações,
dentre outros já não tão comuns. Cada um destes setores dos clubes devem ser
comandados por um diretor ou vice-presidente específico.
No São Paulo F. C., por exemplo, cinco são as vice-presidências, responsáveis pelos
departamentos Administrativo; Social e de Esportes Amadores; de Futebol; de
Patrimônio e de Comunicações e Marketing. Outras dezoito áreas são comandadas por
diretores. Há vedação expressa a funções remuneradas pertinentes aos poderes do
Clube, só os profissionais contratados podem ser remunerados por suas funções.
(3) Logística, são os serviços de suporte que não intervêm na produção da organização.
Em um clube poderíamos enquadrar o estádio, a lavanderia, o refeitório entre outros;
DEPARTAMENTO JURÍDICO
Em razão de sua relevância para todas as áreas do clube, este setor deve estar
diretamente ligado aos demais departamentos, especialmente subordinado à
presidência. Recentemente, o Sport Club Internacional de Porto Alegre, campeão
mundial interclubes de futebol de 2006, demonstrando que a gestão profissional fora
de campo é capaz de trazer resultados positivos dentro do campo, anunciou a
contratação de advogado especialista em contratos comerciais e de marketing para
atuação específica junto ao departamento de marketing do clube, a fim de fortalecer o
clube em acordos com parceiros comerciais, investidores e patrocinadores.
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Amparados por esse paradigma surgiram muitos dirigentes providos de forte idealismo
que foram grandes empreendedores e provocaram amplas transformações e
inovações, contribuindo de maneira decisiva para o crescimento patrimonial dos
clubes e para o desenvolvimento do futebol brasileiro. Por outro lado, muitos outros
chegavam desprovidos de habilidades básicas para administrar e gerir pessoas.
Desconheciam a finalidade e o verdadeiro papel dos departamentos no contexto do
clube, a estrutura organizacional, a competência e a função dos colaboradores.
Freqüentavam o clube somente no final do expediente, para conversar com os amigos
de diretoria, participar de eventuais reuniões formais ou informais e despachar alguns
documentos. Em muitas circunstâncias contratavam um amigo, freqüentemente
desprovido de competência funcional, para exercer algum tipo de cargo remunerado, e
assim mantinham-se atualizados sobre o funcionamento dos setores.
João Paulo Rossi, diretor jurídico do grupo Telefônica, analisando o papel do advogado
nos departamentos jurídicos, assevera (www.conjur.com.br, acesso em 09/04/2007):
Neste contexto, evidente que o papel do advogado da entidade é muito maior do que
possa parecer, sua atividade deve estar diretamente ligada a cada ato dos demais
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DIREITO DESPORTIVO
Para Carlezzo (2004, p. 4), embora a ciência jurídico-desportiva não esteja adstrita
apenas ao estudo do futebol e suas relações com o direito, englobando também o
vôlei, o futsal, o judô, o atletismo, enfim, as mais diversas modalidades esportivas
praticadas no país, não há como olvidar que a grande estrela e carro-chefe do esporte
brasileiro é o futebol.
Foi o tempo em que as rendas aferidas nas bilheterias eram fontes suficientes para
garantir a manutenção qualificada das finanças do clube sem dependência de direitos
televisivos, venda de atletas, patrocínios, entre outros. Atualmente as médias de renda
alcançadas pelos clubes de futebol são insuficientes para assegurar a manutenção
qualificada do time, estrutura administrativa, investimentos, despesas ordinárias etc.
Mesmo com o fim do “passe” (art. 93 da Lei Federal n. 9.615/98, que revogou
tacitamente o art. 11 da Lei Federal n. 6.354/76) a formação de atletas e venda de seus
direitos federativos e econômicos ainda são as atividades mais rentáveis a serem
exercidas pelo clube a fim de manter o melhor nível de sua atividade fim.
Neste contexto, a relação clube x atleta se destaca como uma “faca de dois gumes”,
quando gerida com competência traz resultados absolutos para o clube. De outra
parte, capaz de gerar prejuízos inestimáveis causando até mesmo a “quebra” da
entidade quando mal aproveitados.
Junto aos órgãos do Poder Judiciário, leia-se, Justiça Estadual Comum e do Trabalho, é
costumeira também a atuação do advogado contratado pelo clube. É a Justiça Estadual
Comum a competente para apreciar questões decorrentes da aplicação ou desrespeito
ao contrato de imagem normalmente firmado entre clubes e atletas. Já a Justiça
Federal do Trabalho possui competência para processar e julgar as questões
decorrentes da relação de trabalho, não só de atletas profissionais, como os não-
profissionais, treinadores, membros das comissões técnicas, além dos demais
empregados do clube. Relevante o conhecimento específico do advogado na área do
Direito Desportivo, posto as peculiaridades impostas pela legislação desportiva e
jurisprudências para atletas profissionais, não-profissionais, treinadores e até
massagistas.
DEMAIS ATIVIDADES
O trabalho desenvolvido pelo advogado contratado por clubes de futebol não fica
adstrito à relação clube x atleta. Merecem destaque as questões de ordem tributária,
igualmente importantíssimas para todos os clubes, posto são a origem das dívidas de
maior monta contraídas pelas agremiações. Especialmente agora, com a vigência da
Lei Federal n. 11.345 de 11 de setembro de 2006, que instituiu a loteria denominada
“Timemania”, cujo objetivo é desenvolver a prática esportiva do futebol, através da
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GOVERNANÇA CORPORATIVA NO
FUTEBOL
Muitas agremiações são administradas sob óticas gerenciais ultrapassadas e se
protegem sob o argumento de que não têm fins lucrativos
Em breve resumo, para que todos possam entender o conceito geral de governança
corporativa aplicado aos clubes pode ser definido como o conjunto de princípios e
mecanismos que orientam as relações entre os associados do clube, seus dirigentes,
funcionários (incluindo a comissão técnica e os jogadores), além de outros
stakeholders de um clube, como por exemplo, os patrocinadores, os fornecedores de
materiais, as federações e confederações aos quais os clubes estão associados; a mídia
em todas as suas ramificações e, é claro, o torcedor.
Esses riscos não estão somente relacionados com superávit ou déficit do clube, mas
também com ações ou atitudes que possam “manchar” a imagem da instituição
perante seus stakeholders (todos que possuem algum interesse, direto ou indireto,
com o clube, os quais foram exemplificados anteriormente).
Para que os clubes possam iniciar o processo de adoção das boas práticas de
governança corporativa, devem prever, entre outras medidas:
• Atuação forte e independente dos seus conselhos;
• Revisão da política de remuneração de seus gestores, comissão técnica e jogadores;
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Nesse sistema, deverá ser informado tanto pelo clube vendedor como comprador
todos os dados da negociação, incluindo: o montante do negócio; salário do jogador;
agente ou advogado responsável; duração do contrato; e a conta e o país onde serão
depositados os valores da transação. Sem esses dados, a FIFA não dará como aceita a
transação e com isso o jogador não poderá ser inscrito em nenhum certame.
Outro exemplo é do fisco inglês que convocou 100 jogadores a explicarem os valores
recebidos como direito de imagem, uma vez que os clubes pagam os valores relativos a
este item a uma empresa do próprio jogador e que, caso esse pagamento fosse
recolhido pelo jogador diretamente, o valor do imposto seria pago maior do que
realmente o é. Essa diferença de imposto pago e o que o fisco inglês acredita que
deveria ser pago pode chegar a um valor de 100 milhões de libras em impostos não
recolhidos.
O Ministério Público vai começar o seu trabalho sobre as transações legalizadas pela
CBF e isso poderá trazer à tona algumas irregularidades cometidas, tais como valores
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por toda a narrativa apresentada ao longo do trabalho, é fácil concluir pela relevância
da aplicação de gestão profissional mesmo nas “antigas” estruturas clubisticas
brasileiras, para o aparecimento de resultados positivos em suas administrações e
posteriormente dentro do campo, no fator meramente esportivo.
Não se deve abrir mão da paixão na gestão esportiva, mas paixão deve ficar para a
torcida. Sem qualquer necessidade de imposição legal, o mercado exige que a gestão
dos clubes deva ser executada por profissionais, com atuação full time, focada na
maximização das receitas e redução dos custos, com a finalidade de melhorar cada vez
mais a estrutura e obter os melhores resultados dentro de campo. Na busca constante
de novas conquistas, a estrutura gerencial deve ser semelhante à das empresas, ou
seja, totalmente profissional.
Este setor do clube, conforme visto, deve se relacionar diretamente com todos os
demais departamentos, também com sua presidência e conselhos, gerindo riscos e
oportunidades, na busca de resultados vitoriosos para a administração geral.
Conclui-se enfim, que o Direito Desportivo é matéria relevante para a gestão dos
clubes de futebol, e conseqüentemente que a contratação de advogados estudiosos e
militantes nesta área do Direito para exercício de cargos de direção ou funções de
assessoria executiva junto ao departamento jurídico dos clubes de futebol é medida
eficaz como forma de especializar a execução destes trabalhos, corroborando
frontalmente com a transformação dos conhecidos problemas de gestão em
conquistas esportivas.
REFERÊNCIAS
AIDAR, A. C. K.; LEONCINI, M. P.; DE OLIVEIRA, J. J. A Nova Gestão do Futebol. São
Paulo: FGV, 2000.
JACOBS, C. S.; DUARTE F. Futebol Exportação. Rio de Janeiro: Senac Rio, 2006.
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