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Alvenaria Estrutural - Classificação e Materiais

Technical Report · March 2000


DOI: 10.13140/RG.2.1.4662.4807

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2 authors:

Gihad Mohamad Humberto Roman


Universidade Federal de Santa Maria Federal University of Santa Catarina
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Alvenaria Estrutural

Classificação
e
Materiais

Humberto Ramos Roman


Gihad Mohamad

GDA/NPC/ECV/UFSC

Julho de 1999

Compilado por JDNC – maio de 2000


A

ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................................. 1
1.1 ASPECTOS GERAIS.......................................................................................................... 1
1.2 VANTAGENS DA ALVENARIA ESTRUTURAL..................................................2
1.3 DESVANTAGENS DA ALVENARIA ESTRUTURAL........................................2
1.4 CLASSIFICAÇÃO DAS PEÇAS DE ACORDO COM O
CARREGAMENTO......................................................................................................................2
1.4.1 Placas ou lajes..............................................................................................................3
1.4.2 Chapas ou Paredes Estruturais...........................................................................3
1.4.3 Pilares ..............................................................................................................................3
1.4.4 Elementos de Alvenaria ..........................................................................................3
1.5 NORMAS TÉCNICAS DE ALVENARIA .................................................................5
1.5.1 Normas de Materiais ................................................................................................5
1.5.2 5.2. Normas de Cálculo............................................................................................6
1.6 MATERIAIS .........................................................................................................................7
1.6.1 Unidades de Alvenaria .............................................................................................7
1.6.1.1 Introdução .............................................................................................................7
1.6.1.2 Unidades Cerâmicas..........................................................................................8
1.6.1.3 Blocos de Concreto ........................................................................................ 15
1.6.2 Argamassa ..................................................................................................................24
1.6.2.1 Características Gerais das Argamassas.............................................25
1.6.2.2 Argamassas no Estado Fresco.................................................................27
1.6.2.3 Argamassas no Estado Endurecido.......................................................28
1.6.2.4 6.2.4. Materiais Constituintes da Argamassa.................................29
1.6.2.5 Tipos de Argamassa...................................................................................... 31
1.6.2.6 Escolha da Argamassa (Traço)................................................................33
1.6.3 Graute...........................................................................................................................35
1.6.3.1 Materiais Constituintes...............................................................................36
1.6.3.2 Dosagem..............................................................................................................37
1.6.3.3 Proporcionamento, Mistura e Lançamento........................................38

2 ALVENARIA ESTRUTURAL - PRINCÍPIOS BÁSICOS.....................................39


2.1 Introdução..........................................................................................................................39
2.1.1 Princípios Básicos ....................................................................................................39
2.2 Esforços Solicitantes da Alvenaria .......................................................................44
2.3 Teoria do Projeto em Alvenaria Estrutural ......................................................45
B

2.4 CRITÉRIOS DE PROJETO....................................................................................... 48


2.4.1 Projeto no estado limite ..................................................................................... 50
2.4.1.1 Princípios do projeto no estado limite ................................................ 50
2.4.1.2 Coeficientes de segurança....................................................................... 52
2.5 TEORIAS DE RUPTURA............................................................................................ 53
2.5.1 Teoria de Ruptura Baseada na Análise Elástica..................................... 53
2.5.2 Teoria de Ruptura Baseada na Resistência do Tijolo e Argamassa
sob Tensão Multi-Axial................................................................................................... 55

3 PROJETO PARA CARGAS VERTICAIS...................................................................... 58


3.1 Introdução.......................................................................................................................... 58
3.2 Paredes e Pilares Submetidos à Carga Axial................................................... 62
3.3 Parede e Pilares Submetidos à Cargas Excêntricas.................................... 62
3.4 Taxa de Esbeltez (Altura Efetiva)....................................................................... 64
3.5 Comprimento Efetivo ................................................................................................... 65
3.6 Espessura Efetiva de Paredes e Pilares............................................................. 65
3.7 Fator de Redução da capacidade suporte em função da esbeltez....... 67
3.8 Cálculo da Excentricidade ......................................................................................... 67
3.8.1 Método de Aproximação..................................................................................... 67
3.8.2 Análise de Pórtico................................................................................................. 68
3.9 Resistência ao Carregamento Vertical................................................................ 69
3.9.1 Paredes........................................................................................................................ 69
3.9.2 Pilares.......................................................................................................................... 69

4 CARGAS CONCENTRADAS .............................................................................................. 72


4.1 Dimensionamento de Coxins ...................................................................................... 73

5 CONSIDERAÇÕES SOBRE CARGAS DE VENTO NO PROJETO DE


ESTRUTURAS EM ALVENARIA ........................................................................................ 74
5.1 INTRODUÇÃO................................................................................................................. 74
5.2 ESTABILIDADE GLOBAL......................................................................................... 75
5.3 MÉTODOS TEÓRICOS PARA ANÁLISE DE VENTO................................ 77
5.3.1 Método Cantilever (ou Analogia da Viga em Balanço)......................... 79
5.3.2 Pórtico equivalente ............................................................................................... 79
5.3.3 Método das Ligações Rígidas (Wide Column Frame )......................... 80
5.3.4 Método do Contínuo (ou Técnica do Meio Contínuo)........................... 80
5.3.5 Método dos Elementos Finitos ........................................................................81
5.4 INVESTIGAÇÃO EXPERIMENTAL..................................................................... 82
C

6 DIMENSIONAMENTO PARA CARGAS DEVIDAS AO VENTO....................85


6.1 Distribuição de Cargas entre Paredes .................................................................85
6.1.1 Paredes Dispostas Simetricamente ...............................................................85
6.2 Paredes Dispostas Assimetricamente .................................................................85
6.3 Roteiro para Projetos de Paredes Assimétricas............................................89

7 DIMENSIONAMENTO DE PAINÉIS DE FACHADA.......................................... 91


7.1 Introdução.......................................................................................................................... 91
7.2 Análise de Paredes com Pré-compressão........................................................... 91
7.2.1 Resistência à Tração na Flexão....................................................................... 91
7.2.2 Pré-compressão Inicial........................................................................................ 91
7.2.3 Rigidez do Prédio....................................................................................................92
7.2.4 Condições de Apoio ...............................................................................................93
7.2.5 Teoria Aproximada para a Análise de Cargas Laterais de Paredes
Sujeitas à Précompressão..............................................................................................93
7.2.5.1 Parede sem Contraventamento ...............................................................93
7.2.5.2 Paredes com Contraventamento ............................................................94
7.2.6 Efeito de Pré compressão muito alta ..........................................................96
7.3 Análise de Paredes sem Pré-compressão...........................................................97
1

1 INTRODUÇÃO

A alvenaria estrutural pode ser altamente atraente arquitetonicamente


pelas inúmeras possibilidades estéticas e técnicas que oferece. Devido a
grande variabilidade de formas e dimensões, os blocos ou tijolos permitem
uma grande flexibilidade ao projetista para explorar novas formas
arquitetônicas. Neste trabalho são apresentados as características
principais dos materiais que constituem o sistema construtivo, suas
propriedades e características necessárias que tornam a alvenaria
estrutural potencialmente competitiva frente a outras tecnologias
construtivas.

1.1 ASPECTOS GERAIS

A Alvenaria Estrutural nos últimos 30 anos, devido a extensos


trabalhos de pesquisa, à imaginação de projetistas e a grande melhoria da
qualidade dos materiais, apresentou maiores e mais visíveis avanços do que
qualquer outra forma de estrutura usada na construção. Em muitos países,
notadamente Inglaterra, Alemanha, França, Austrália, Estados Unidos e
Canadá, são desenvolvidas extensas pesquisas nesta área, as quais tem
gerado contínuo e grande desenvolvimento. Consequentemente, a alvenaria
estrutural tem sido usada em projetos cada vez mais complexos e se
tornado uma real alternativa ao uso de concreto ou aço em estruturas.
Um número crescentes de profissionais desenvolve pesquisas e projetos
usando alvenaria armada e alvenaria protendida. Blocos fabricados com
formatos especiais tem permitido a construção de arcos com maiores vãos.
Enfim, são vários os exemplos e as formas de aplicação do tijolos com
função estrutural.
Como consequência, pode-se afirmar com segurança que a Alvenaria
Estrutural é o mais econômico e moderno método de construção. Em países
como Inglaterra, Austrália, Alemanha e Estados Unidos, este método
construtivo é o mais utilizado e de maior aceitação pelo usuário.
No Brasil, a técnica de cálculo e execução com Alvenaria Estrutural é
relativamente recente (final dos anos 60) e até hoje pouco conhecida da
maioria dos profissionais da Engenharia Civil. No entanto, novas fábricas de
materiais e pesquisas desenvolvidas fazem com que a cada dia, mais e mais
construtores utilizem e se interessem pelo sistema.
2

1.2 VANTAGENS DA ALVENARIA ESTRUTURAL

Nos últimos 20 anos, devido ao grande número de pesquisas, ao trabalho


engenhoso de projetistas e à melhora da qualidade dos materiais, a
tecnologia da Alvenaria Estrutural tem se desenvolvido muito. Como
resultado, é hoje considerada como um dos mais avançados e econômicos
métodos de construção.
Como vantagens da Alvenaria Estrutural pode se apontar:
Ø propriedade de uso com grande variedade funcional;
Ø geralmente é mais econômica do que os sistemas em aço ou
concreto;
Ø maior facilidade de projetar e detalhar;
Ø menor utilização de formas com consequente redução do número de
escoras;
Ø Utilização de ferragem apenas como detalhes construtivos, tais
amarração entre paredes;
Ø Facilidade de obtenção e treinamento de mão-de-obra:
Ø Redução no número de sub-construtores e tipos de material na obra;
Ø Maior facilidade de supervisão da obra;
Ø permite grande flexibilidade ao projetista por utilizar unidades de
pequena dimensão.

1.3 DESVANTAGENS DA ALVENARIA ESTRUTURAL

As principais desvantagens são,


Ø ausência ou deficiência do ensino de alvenaria estrutural;
Ø a resistência à compressão usadas no projeto de paredes em
alvenaria é geralmente menor do que as usadas para aço ou concreto
armado, fazendo com que seja necessária uma maior área da seção
da parede;
Ø quando existem grandes aberturas, vigas de concreto ou aço são
geralmente mais econômicas. Entretanto quando a carga for em arco
e quando as reações horizontais do arco podem ser acomodadas, a
alvenaria pode se tornar mais econômica.

1.4 CLASSIFICAÇÃO DAS PEÇAS DE ACORDO COM O


CARREGAMENTO

As peças estruturais são classificadas quanto ao modo de aplicação do


3

carregamento. As mais comuns são: placas ou lajes, chapas ou paredes


estruturais, vigas e pilares.

1.4.1 Placas ou lajes

São folhas que sofrem carregamento perpendicular à face formada


pelas duas maiores dimensões (Figura 2).

Figura 2 - Exemplo de placa ou laje

1.4.2 Chapas ou Paredes Estruturais

São folhas que sofrem carregamento perpendicular à face formada


pelas duas maiores dimensões (Figura 3).

Figura 3 - Exemplo de chapa ou


parede estrutural

1.4.3 Pilares

São barras que sofrem carregamento axial ou excêntrico ao longo de


sua maior direção(Figura 4).

Figura 4 - Exemplo de pilar

1.4.4 Elementos de Alvenaria

Os elementos de alvenaria são classificados em função das


características de montagem e das condições de carregamento. A definição
dos elementos podem ser, em geral, através do sistema construtivo como um
todo ou adotando soluções particulares para cada elemento em especial.

a) Tipos de Alvenaria
Ø Alvenaria resistente: são as alvenarias construídas para resistirem a
cargas outras além do próprio peso. Este sistema construtivo é
pratica comum em algumas regiões do país e baseia-se na
experiência de alguns construtores. Geralmente não está associado
4

a um embasamento de cálculo, sendo a aplicação empírica. Muitas


vezes, são utilizados blocos de vedação, não adequados a finalidade
específica.
Ø Alvenaria estrutural: diferencia-se da alvenaria resistente por ser
dimensionada segundo métodos de cálculo racionais com
confiabilidade determinável, enquanto a alvenaria resistente é
dimensionada empiricamente. As alvenarias estruturais podem ser
basicamente de três tipos:
1. Alvenaria estrutural não armada: (ou parcialmente armada)
empregam reforços de barras, fios e telas de aço apenas por
necessidades construtivas.
2. Alvenaria estrutural armada: a alvenaria é reforçada, devido
à exigências estruturais, com armadura passiva de fios,
barras e telas de aço.
3. Alvenaria estrutural protendida: alvenaria reforçada com
uma armadura ativa (póstensionada) que submete a alvenaria
a esforços de compressão.
Ø Alvenaria de vedações: são as alvenarias que são dimensionadas para
receber apenas o peso-próprio.

b) Paredes
As paredes são os elementos estruturais da alvenaria. São definidos
como elemento laminar vertical apoiado de modo contínuo em toda a sua
base, com comprimento maior que 5 vezes a espessura. De acordo com a
função estrutural que exercem, as paredes são definidas como:
Ø Paredes de vedação: são aquelas que suportam apenas o peso próprio
e tem função de fechamento externo ou de separação interna. Não
têm nenhuma responsabilidade estrutural.
Ø Paredes resistentes: destinam-se a resistir todas as cargas
verticais, de peso próprio e acidentais.
Ø Paredes de contraventamento: são as paredes resistentes
projetadas para suportarem também às cargas horizontais paralelas
ao seu plano.
Ø Paredes enrijecedoras: têm a função de enrijecerem as paredes
resistentes aumentando a resistência das mesmas aos esforços
devido à flexão.

Na figura 5 são mostradas as designações de paredes em função da


5

direção das cargas laterais aplicadas.

1) Parede de contraventamento
2) Parede Portante ou resistente
3) Parede enrijecedora

Figura 5 - Definição dos tipos de paredes

c) Colunas
São elementos isolados que resistem a cargas de compressão e com
largura menor que 4 vezes a espessura.

1.5 NORMAS TÉCNICAS DE ALVENARIA

1.5.1 Normas de Materiais

• Cerâmica
ü NBR 8041 - Tijolo Maciço Cerâmico para Alvenaria - Forma e
Dimensões
ü NBR 7170 - Tijolo Maciço Cerâmico para Alvenaria NBR 6460 -
Tijolo Maciço Cerâmico para Alvenaria - Verificação da
Resistência à Compressão
ü NBR 8042 - Bloco Cerâmico para Alvenaria - Formas e Dimensões
ü NBR 7171 - Bloco Cerâmico para Alvenaria
ü NBR 6461 - Bloco Cerâmico para Alvenaria - Verificação da
Resistência à Compressão
ü NBR 8043 - Bloco Cerâmico Portante para Alvenaria -
Determinação da Área Líquida
ü NBR 8949 - Paredes de Alvenaria Estrutural - Ensaio à
Compressão Simples

• Blocos de Concreto
ü NBR 6136 - Blocos Vazados de Concreto Simples para Alvenaria
Estrutural -Especificação
ü NBR 7186 - Blocos Vazados de Concreto Simples para Alvenaria
com Função Estrutural -Método de Ensaio
6

ü NBR 8215 - Prismas de Blocos Vazados de Concreto Simples para


Alvenaria Estrutural -Preparo e ensaio a compressão - método de
ensaio
ü NBR 8949 - Paredes de Alvenaria Estrutural - Ensaio à
Compressão Simples - Método de Ensaio

1.5.2 5.2. Normas de Cálculo

• Norma Brasileira
ü Cálculo de Alvenaria Estrutural de Blocos Vazados de Concreto -
NB1228/1989
• Norma Britânica
ü BRITISH STANDARD INSTITUTIO -BSI 5628: 1985 Parte 1 -
alvenaria não armada Parte 2 - alvenaria armada e protendida
Parte 3 - materiais e mão-de-obra
ü BRITISH STANDARD INSTITUTIO -BSI 3921:1985 - Clays
brick;
ü BRITISH STANDARD INSTITUTIO -BSI 6073:1981 - Precast
concrete masonry units. Method for specifying precast concrete
masonry units. Part 2;
ü BRITISH STANDARD INSTITUTIO -BSI 6073:1981 - Precast
concrete masonry units. Method for specifying precast concrete
masonry units. Part 1;
ü BRITISH STANDARD INSTITUTIO -BSI 1881:1983 - Method
for determination of tensile splitting strength . Part 117;

Foi publicada em 1978 e revisada em 1985. Primeira norma a substituir


o método de tensões admissíveis (determinístico) por um método semi-
probabilístico.
O uso do cálculo no estado limite permite manter o mesmo grau de risco
pela escolha de diferentes coeficientes de segurança parciais que refletem
as diferenças no padrão da mão-deobra.

• Norma Norte-Americana
Recommended Practice for Engineered Brick Masonry - publicado pelo
Brick Institute of America, em 1969. Estabelece normas e procedimentos
para o cálculo e execução de alvenaria estrutural;
ü ACI-Building code requirements for concrete masonry structures
7

(ACI 531-79) -Revised 1983 -ACI- Manual of concrete Practice-


1986- Part 5;
ü ACI - Commentary on building code requirements for concrete
masonry structures (ACI 531-79) - ACI - Manual of concrete
practice- 1986- Part 5;
ü ASTM C 1006-84 - Standard test method for splitting tensile
strength of masonry units;
ü ASTM C1019-89A - Standard method of sampling and testing
grout;
• Norma Alemã
ü DIN 1053 - Estabelece recomendações para a construção em
alvenaria estrutural.

1.6 MATERIAIS

1.6.1 Unidades de Alvenaria

1.6.1.1 Introdução

As unidades existentes podem ser divididos em dois grandes grupos:


Blocos estruturais (concreto ou cerâmica), blocos de vedação (concreto ou
cerâmico).
A NBR 7171/Nov1992 define os bloco em dois grandes grupos:
• Blocos de vedação: são blocos que não tem a função de suportar
outras cargas verticais além de seu peso-próprio e pequenas
cargas de ocupação. Podem ser classificadas em comuns e
especiais.
• Blocos estruturais: São blocos projetados para suportarem outras
cargas verticais além de seu peso próprio, compondo o arcabouço
da edificação. Podem ser classificados em comuns e especiais.

Figura 6- Blocos cerâmicos estruturais comuns e especiais

As unidades de alvenaria são geralmente de cerâmica, concreto ou


sílico-calcáreos, e podem ser maciças ou furadas. Devem apresentar as
seguintes qualidades: resistência à compressão, baixa absorção de água,
durabilidade e estabilidade dimensional.
8

Figura 7 - Diferentes tipos de Blocos de Concreto estruturais

Tijolos e blocos sílico-calcáreos: são unidades de alvenaria compostas


por uma mistura homogênea e adequadamente proporcionada de cal e areia
quartzosa, moldadas por prensagem e curadas por vapor a alta pressão.

1.6.1.2 Unidades Cerâmicas

O ingrediente básico das unidades cerâmicas é a argila. A argila é


composta de sílica, silicato de alumínio e variadas quantidades de óxidos
ferrosos. A argila pode ser calcária ou não calcária. No primeiro caso quando
cozida, produz um bloco ou tijolo de cor amarelada. A não calcária contém
de 2 a 10% de óxido de ferro e feldspato e produz uma unidade de variados
tons vermelhos dependendo da quantia do óxido de ferro.
A argila apropriada para a fabricação de blocos e tijolos deve ter
plasticidade quando misturada com água, de maneira que possa ser moldada,
deve ter suficiente resistência à tração para manter o formato depois de
moldada e ainda, deve ser capaz de fundir as partículas quando queimada a
altas temperaturas.
Todas as propriedades físicas dos tijolos são afetadas pela composição
da matéria prima usada e pelo processo de fabricação. Pode-se obter
unidades de baixa resistência (3 MPa) até de alta resistência (> 100 MPa).
A qualidade das unidades cerâmicas é especificada pelas normas
listadas no item 5. Os pontos mais importantes são apresentados abaixo.
9

Os blocos e tijolos para alvenaria estrutural devem apresentar as


seguintes propriedades:

a) Aspecto:
São as características visuais que têm interesse do ponto de vista
estrutural e estético. As falhas visualmente perceptíveis que têm
reflexos na capacidade resistente das paredes são as quebras,
trincamentos e deformações. Do ponto de vista estético podem-se citar
a integridade das arestas e vértices, a textura da superfície, a cor etc.
b) Dimensões:
Quanto mais uniforme o tamanho do tijolo ou bloco, mais fácil será
o trabalho do pedreiro e melhor a qualidade do mesmo. A
homogeneidade das dimensões torna-se ainda mais importante na
medida em que, cada vez mais se utiliza a modulação da alvenaria como
forma de eliminar o desperdício com quebras.
c) Esquadro e planeia:
A extrusão, o corte e o cozimento dos blocos cerâmicos faz com
que possam ocorrer distorções no mesmo, se não houver um controle
adequado na produção. Blocos no esquadro e planos facilitam o
assentamento e permitem maior produtividade. Quando se executam
alvenarias estruturais, a geometria tem ainda maior importância: o
esquadro e a planeia influem na capacidade portante da parede.
Os blocos não devem apresentar defeitos sistemáticos, tais como
trincas, quebras, superfícies irregulares ou deformações que impeçam
seu emprego na função especificada. Na Tabela 1 são apresentadas as
tolerâncias máximas de fabricação dos blocos.

Tabela 1 - Tolerâncias máximas de fabricação;


Dimensão Tolerância mm
Largura (L) ±3
Altura (H) ±3
Comprimento (C) ±3
Desvio em relação ao esquadro D 3
Flecha (F) -3

d) Absorção de água:
Esta propriedade está relacionada à permeabilidade da parede à
água de chuva. A absorção de água não deve ser inferior à 8% nem
10

superior à 25%.
A absorção de água é definida como o peso de água, expressado
como uma percentagem do peso seco do tijolo, que é absorvida durante
a imersão em água num determinado período de tempo. Este tempo é
normalmente de 5 horas em água fervente ou de 24 horas em água fria.
O cálculo da absorção é feito através da fórmula
P −P 
Absorção =  sat seco  x100
 Pseco 

Onde: Absorção de água (em percentagem)


Psac = peso saturado (Kg)
Pseco = peso seco (Kg)

e) Taxa de Absorção Inicial:


A taxa de absorção inicial (taxa de sucção) de um tijolo é definida
como a quantidade de água absorvida por um tijolo seco quando
parcialmente imerso em água (profundidade de 3 mm) pelo período de 1
minuto. A taxa de absorção inicial é dada em Kg/m2.min.
A taxa de sucção do tijolo tem uma importância muito grande na
união entre o tijolo e a argamassa. Quanto maior a taxa de sucção
menor a resistência à flexão e ao cisalhamento. Quando um tijolo tem
uma elevada taxa de absorção inicial, deve ser umedecido antes do
assentamento na parede para reduzi-la. A norma inglesa recomenda o
valor máximo de 1,5 Kg/m2. min para a taxa de sucção.
A taxa de absorção inicial depende do tipo de argila empregada e
do grau de cozimento da peça.
O ensaio de taxa de absorção inicial mede a tendência de absorção
de água das unidades e sua magnitude depende das características
superficiais da unidade. A aderência entre os respectivos materiais
também está diretamente ligada a absorção de água inicial.
Conforme estudos realizados por NOLAND, TULIN e KINGSLEY
(1984), em tijolos cerâmicos, não há uma relação direta entre a taxa de
absorção inicial e a absorção 24 horas. Na Tabela 2 são apresentados
resultados das propriedades de absorção de água 24 horas dos tijolos e
os respectivos índices de sucção para diferentes tempos de molhagenv.
Os resultados mostram que para os três tijolos não houve
diferença na absorção 24 horas, enquanto que para a taxa de sucção, o
tijolo C apresentou um valor extremamente baixo.
11

Tabela 2 - Propriedades de absorção de água dos tijolos segundo


NOLAND, TULIN e KINGSLEY (1984);

Tipo de IRA Absorção Absorção de água do graute


Tijolos (g/in2) 24 horas A/c = 0,55 a/c = 0,65
(%)
5 min 30 min 60 min 5 min 30 min 60 min
A 0,74 5,7 0,32 0,73 1,00 0,56 1,10 1,40
B 0,72 6,6 0,33 0,80 1,07 0,50 1,10 1,43
C 0,27 6,4 0,34 0,77 1,10 0,42 1,10 1,20

f) Durabilidade:
O tijolo cerâmico é o mais durável material de construção em uso.
Os fatores que são potencialmente destruidores de tijolos são os sais
solúveis e as trocas de temperatura.

Sais Solúveis
Todos os tipos de tijolos de argila possuem sais solúveis. Estes sais
podem igualmente ser absorvidos das argamassas, do solo ou também da
atmosfera. Quando a água evapora, carrega para a superficie os sais
gerando o fenômeno da "eflorescência". Este processo normalmente não
produz danos à parede.
O ataque tos sulfatos presentes no tijolo pode gerar problemas
mais sérios. Quando o tijolo fica saturado, a água contendo sulfatos
atinge a argamassa e reage com componentes do cimento e da cal. Esta
reação ocasiona a expansão da argamassa com conseqüente
desintegração da mesma.

Congelamento
A resistência dos tijolos ao congelamento é muito variada. Um
tijolo pode quebrar quando 90% dos seus poros estiverem cheios de
água e a temperatura for igual ou menor a 0°C.

Resistência ao Fogo
Os tijolos de argila quando cozidos são expostos a temperaturas
muito mais altas do que às que seriam expostos durante um incêndio.
Como resultado, apresentam excelente capacidade de resistir ao fogo.
12

g) Resistência à compressão:
É a principal característica da unidade para uso em alvenaria
estrutural. Deve atingir os requisitos mínimos que a norma especifica e
ao mesmo tempo às exigências do projeto estrutural.
A resistência à compressão mínima dos blocos estruturais,
relacionado à área bruta, deve atender aos valores especificados na
Tabela 3. Para tijolos maciços são especificadas 3 classes de unidades
de acordo com a resistência à compressão: 1,5 MPa, 2,5 MPa e 4 MPa
(NBR 6460).

Tabela 3 - Classe e resistência à compressão dos blocos na área bruta MPa ;


Classe Resistência à compressão na área bruta - MPa
10 1,0
15 1,5
25 2,5
45 4,5
60 6,0
70 7,0
100 10,0

As normas brasileiras fixam valores muito baixos de resistência à


compressão. Estudos realizados mostram que, mesmo os tijolos de qualidade
muito ruim possuem resistência à compressão maior que a resistência de 4,0
MPa determinada pela NBR 6460. Amostras de olarias da Grande Porto
Alegre analisadas mostraram resistência variando de 3,4 MPa a 40,5 MPa,
com coeficientes de variação entre 14 e 48%. Outros testes forneceram
resistências médias de até 70 MPa. A magnitude do coeficiente de variação
das amostras observadas demonstra o baixo controle de qualidade na
produção.
Foram realizadas pesquisas na UFSC, para o desenvolvimento de um
bloco cerâmico, mostrado no Figura 8. Este bloco foi testado com dois
traços de argamassas e três traços
de graute com as características
mostradas na Tabela 4.

Figura 8
Bloco cerâmico com dois furos
13

Tabela 4 - Resistências dos blocos, argamassas e grautes estudados;


Resistência à compressão dos Resistência à compressão Resistência à compressão
Blocos cerâmicos (área bruta) em das Argamassas (MPa) dos Grautes (MPa)
MPa
farg.= 6,64 MPa fgraute = 50 MPa
fbloco = 23 MPa farg.= 20,2 MPa fgraute = 27 MPa
fgraute = 14 MPa

Com estes materiais foram moldados prismas grauteados e não


grauteados para ensaios de compressão. Os prismas testados são mostrados
na Figura 9. Os resultados são apresentados na Figura 10

Figura 9 - Prismas testados em compressão

25
Prisma Strenghth Gra (MPa)

20

15

10 Figura 10 - Resultados de
arg 1
resistência à compressão de
05 arg 3
prismas para diferentes
0 resistências de grautes e
0 10 20 30 40 50 60
diferentes traços de argamassas
Resist. Graute (MPa)

Através dos resultados acima nota-se a importância da compatibilidade


entre resistências de grautes em função do traço da argamassa e do bloco.
Outros tipos de unidades cerâmicas podem ser também usados com
função estrutural. A Figura 11 mostra alguns tipos de blocos cerâmicos
fabricados no Brasil e usados com função estrutural. É importante salientar
que, dependendo das dimensões e da geometria, as unidades de alvenaria
podem ter diferente desempenho estrutural na parede. A taxa de eficiência
pode ser maior ou menor. Na tabela 5 são apresentadas as características
fisicas e mecânicas dos mesmos tijolos e blocos da Figura 11.
14

Figura 11- Tipos de blocos cerâmicos fabricados no Brasil;

Tabela 5 - Características físicas e mecânicas dos diferentes blocos cerâmicos;


Tipo Dimensões (mm) Absorção Taxa de Resistência média
de água sucção à compressão
L H C % K m .min MPa
Tijolo maciço 120 55 250 22.2 1.29 19.5
21 furos pequeno 122 54 258 20 0.80 7.2
21 furos ande 123 110 260 17.4 0.90 14.3
Pequeno losan lar 100 141 248 18.6 1.55 11.3
Grande losan lar 160 143 248 19.3 1.70 7.0
Bloco vazado 145 190 290 15.6 1.10 22.9
Obs: A resistência das unidades foi calculada na área bruta:

O fator de eficiência de cada um dos tipos de tijolos e blocos da Figura


11, dado pela razão entre a resistência média dos prismas e a resistência
média da unidade, pode ser visto na figura 12.
15

Figura 12 - Fator de eficiência obtido para os blocos cerâmicos


ensaiados em função da resistência da unidade e do tipo de argamassa
utilizado.

1.6.1.3 Blocos de Concreto

Os blocos de concreto são feitos de concreto normal ou de baixa


densidade. São fabricados em vários tipos e tamanhos. Os principais
componentes são, cimento, agregados (areia e brita) e água. Os
componentes são misturados com pouca água (slump = zero) e colocados
numa máquina de moldar. Nesta, através de uma combinação de pressão e
vibração, é feito o bloco.
Os blocos são normalmente curados com algum tipo de aquecimento
para acelerar a cura.
A absorção de água dos blocos está indiretamente relacionada com as
suas densidades. Quanto mais denso o bloco menor é a taxa de absorção.
A densidade e a absorção de água afetam a construção, os isolamentos
térmico e acústico, a porosidade, a pintura, a aparência e a qualidade da
argamassa requerida. Unidades de alta absorção exigem uma argamassa com
maior retenção de água.
As unidades de concreto (e as sílico-calcárias) não devem ser molhadas
antes do assentamento. No caso de taxas de absorção inicial muito altas
deve-se dosar a argamassa de modo que possua uma grande retenção de
água. Desta forma evita-se a perda de trabalhabilidade devido à absorção
de água pelos blocos.
16

Os blocos de concreto com função estrutural devem apresentar


resistência mínima de 4,5 MPa, conforme especificação da NBR 6136. A
norma especifica, igualmente, a forma de determinação da resistência
característica dos blocos. Para tal, deve-se seguir os procedimentos
indicados abaixo:
Calcula-se a resistência característica estimada dos blocos fbk, est. da
seguinte forma:
- Ordena-se os resultados de forma crescente. (f1,f2,f3,....fn).
- - Se n= par à m=n/2 , se n=ímpar à m=(n-1)/2

2 ( f1 + f 2 + .... + f n )
f b k ,e s t . = − fm (1)
m −1

, . ≥ f bkest
f bkest ´
, .
OK! Lote aceito.

Onde ´
, . = ϕ6 f1
f bkest (2)
f1 = resistência característica do bloco especificada pelo calculista no
projeto;.

Valores de ϕ6 em função de n
n 6 7 8 10 12 14 16 18
ϕ6 0,89 0,91 0,93 0,96 0,98 1,00 1,02 1,04

Vários pesquisadores tem buscado estabelecer formas de determinar


analiticamente resistência última à compressão da alvenaria de blocos de
concreto.
VITOR ALY, em 1992, estudou a resistência à compressão de paredes
de alvenaria armada de blocos de concreto. Foram ensaiados 3 tipos de
blocos de concreto, prismas de alvenaria, paredinhas de 2 blocos de
comprimento por 3 fiadas e paredes em escala natural. As paredes foram
ensaiadas sem graute, com graute e com graute mais armaduras com taxas
de armadura de 0,2 % e 0,3 %. O traço de argamassa utilizado foi 1:1:6
(cimento: cal: areia) em massa. A Figura 13 mostra os resultados obtidos
para os blocos, prismas, paredinhas e paredes não armadas. A Figura 14
mostra os resultados para as paredes grauteadas e armadas.
17

Figura 13
Resistência à
compressão média dos
corpos de prova (Aly)

Figura 14
Resistência à
compressão das
paredes em escala
real (ALY)

As principais conclusões do trabalho de ALY foram:


a) é importante a realização de estudos maiores com os materiais
produzidos no Brasil;
b) paredes com blocos menos resistentes apresentam aumentos de
resistência mais significativos quando grauteadas e armadas;
c) paredes de blocos menos resistentes apresentam redução na
resistência com o aumento da taxa de armadura;
d) paredes não armadas apresentam ruptura frágil, enquanto paredes
armadas apresentam aviso de ruptura, seguido de ruptura frágil;
e) a norma brasileira é menos conservadora se comparada as normas
norte-americana e britânica
18

A produção de componentes e parâmetros de projeto para alvenaria


estrutural de blocos de concreto foi estudada por Medeiros em 1993. O
trabalho consistiu tanto na verificação dos processos de fabricação de
blocos de concreto, quanto no comportamento à compressão de paredes com
os blocos produzidos. Três tipos de agregados foram utilizados para
fabricar os blocos: brita zero (pedrisco basáltico), areia natural de rio e
areia artificial (pó de pedra basáltico). A relação cimento agregado variou
de 1:5,8 a 1:8,7. Em relação ao processo de fabricação dos blocos, Medeiros
conclue que a resistência à compressão é função do grau de compactação, do
consumo de cimento e da resistência mecânica dos agregados. O grau de
compactação, por seu lado, depende da granulometria dos agregados, da
umidade da mistura e das condições de moldagem.
O referido autor ainda ressaltou a influência das argamassas e dos
blocos na resistência à compressão das paredes. A resistência dos blocos
utilizados para a produção de prismas e paredes variou de 8,4 MPa à 14,9
MPa. As argamassas utilizadas foram com traço 1:1:6 e 1:1/2:4 (cimento: cal:
areia) em volume seco. As Figuras 15 e 16 mostram os resultados obtidos
para prismas e paredes com as diferentes resistências dos blocos. Pode-se
observar a redução do fator de eficiência com o crescimento da resistência
das unidades de alvenaria.

7
6,5
Resistência das Paredes e

6
Paredinhas (MPa)

5,5
5,0
4,5
Parede Arg. 1:1:6
4
Parede Arg. 1:1/2:4
3,5
Paredinhas Arg. 1:1:6
3
Paredinhas Arg. 1:1/2:4
2,5
2
5 10 15 20
Resistência do Bloco (MPa)

Figura 15 - Resistência à compressão de paredes e paredinhas (Medeiros)


19

Figura 16 - Fatores de eficiência das paredes para diferentes blocos e


argamassas (Medeiros)

Outros resultados obtidos por diversos autores, podem ser vistos na


Figura 17.

Figura 17 - Principais resultados de resistência à compressão de blocos,


argamassas e prismas
20

No estudo dos blocos, as principais características mecânicas são:


resistência à compressão, módulo de elasticidade, resistência à tração e
coeficiente de Poisson.
A resistência à compressão dos blocos de concreto é a capacidade do
mesmo de resistir cargas perpendiculares ao plano de assentamento dos
mesmos.
Estudos realizados na UFSC, através de ensaios à compressão de
diferentes blocos e prismas grauteados e não-grauteados, mostraram o
comportamento à compressão e deformação destes. Os blocos estudados
foram designados de MI e M2, em função da resistência à compressão dos
mesmos. Nas Tabelas 6 a 8 e nas Figuras 18 e 19, são apresentados os
principais resultados obtidos.

Tabela 6 - Resultados dos ensaios de compressão nos blocos capeados (MPa)


ENSAIOS DE RESISTÊNCIA A COMPRESSÃO DOS BLOCOS MPa
Tipo de Bloco
M1 M2
12.2 17.7
12.9 16.8
10.1 16.4
112.8 15.7
10.3 17.0
13.2 18.9
Média = 11.9 MPa Média = 17.1 MPa
Sd = 1,35 MPa Sd = 1.11 MPa
c.v (%) = 11.5 c. v (%)- 6.?

Tabela 7 - Resistência à compressão de prismas grauteados e não-grauteados


(resistência média)
Resistência à compressão MPa
Resistência à Resistência à Resistência à Resistência à
compressão dos compressão das compressão dos compressão dos
Bloco (área bruta) Argamassas Graute Prismas área bruta
- 10.3
10 10.1
11.9 4.6
24 12.4
36 13.3
- 10.9
10 9.6
17.1 4.6
24 12.8
36 13.4
21

Tabela 8 - Relação entre a resistência do prisma pela resistência do bloco


Prisma não-grauteado Prisma grauteado
Bloco M1 Bloco M2 Bloco M1 Bloco M2
G1 G2 G3 G1 G2 G3
fprisma /fbloco 0.86 0.6-1 0.85 1.04 1.12 0.56 0.75 0.78
* Os prismas não-grauteados foram calculados na área bruta;

Figura 18 - Relação entre a resistência dos prismas pela resistência do


graute em MPa pará duas resistências de bloco.

Figura 19- Relação tensão-deformação dos prismas grauteados e não-


grauteados;
22

Através dos resultados, nota-se a importância dos estudos específicos


relacionado ao conhecimento das propriedades mecânicas dos materiais e
suas interações. Nota-se que os prismas grauteados tiveram uma diminuição
nas deformações últimas. Isto leva a concluir que estes componentes tem
menor capacidade de absorver deformações, diferentemente dos prismas
não-grauteados.
Na alvenaria os estudos dos mecanismos de ruptura, associada as
propriedades mecânicas dos materiais foram estudadas por
MOHAMAD(1998) e suas conclusões mostram a importância da
compatibilidade entre materias. O mesmo autor também determinou um
modelo para a previsão da tensão de ruptura na alvenaria, pois algumas
tentativas de se determinar a resistência da alvenaria com base nas
resistência à compressão das unidades e argamassa, ou de outros fatores
tais como, módulos de deformação, tomados isoladamente sempre se
mostraram insatisfatórios. Geralmente os resultados são válidos para
condições específicas e aplicáveis apenas para os materiais que geraram o
modelo.
Com este trabalho buscou-se estabelecer o mecanismo de ruptura das
alvenarias de bloco de concreto em função de um maior número de fatores
possíveis de interferir na resistência à compressão dos mesmos.
Assim, foi estudado um modelo para a previsão da tensão da alvenaria
com base nos resultados obtidos experimentalmente, considerando os
seguintes fatores:

Ø Módulos de deformação do bloco e argamassa;


Ø Resistência à compressão dos prismas ( na área líquida) e das
argamassas;
Ø Resistência à tração do bloco.

Nas figuras 20 e 21 são apresentados os principais resultados das


diferentes relações de resistência à compressão e proporções entre
módulos de elasticidade materiais e elementos.
23

Figura 20- Relação entre a resistência do prisma pela argamassa em


função da proporção entre os módulo de elasticidade da argamassa e bloco.

Figura 21- Relação entre a resistência do prisma pela resistência à


tração dos blocos em função da proporção entre os módulo de elasticidade
da argamassa e bloco.

As equações (1) e (2) representam as curvas obtidas nas figuras 20 e


21.
24

MOHAMAD(1998) relacionou a resistência dos prismas em função da


resistência dos blocos e argamassas e estai apresentada na figura 22. A
equação que representou melhor esta superficie é apresentada na equação
5.

Figura 22 - Gráfico 313 - Variação da resistência dos prismas em


função da resistência dos blocos e argamassas

Através do gráfico da figura 22 tem-se que a superficie que melhor


representa os pontos, sendo esta equação a relação entre as faixas de
resistência dos blocos entre 10 MPa e 17 MPa e as diferentes resistências
das argamassas. Então a resistência do prismas seria expressa pela seguinte
função:

1.6.2 Argamassa

A argamassa é um material composto por um ou mais aglomerantes


(cimento e cal), por um agregado miúdo (areia) que deve ser limpo e bem
graduado, e água suficiente para produzir uma mistura plástica de boa
25

trabalhabilidade. Tem a propriedade de aderir a materiais porosos e de


endurecer após certo tempo.

1.6.2.1 Características Gerais das Argamassas

As argamassas de assentamento são elos entre as unidades e tem as


funções de distribuir as tensões, acomodar as deformações e promover uma
boa aderência na interface unidade/argamassa. Deve-se dar preferência as
argamassas com cal em relação às com aditivo incorporador-de-ar, em
função deste reduzir o poder de acomodação da argamassa e
consequentemente da alvenaria. Na escolha da argamassa a ser utilizada
deve-se considerar os seguintes fatores:

• função da argamassa
• situação climática a que estará exposta
• tipo de unidade disponível (índice de absorção inicial, rugosidade)
• o poder de retenção de água
• o equipamento a ser utilizado no assentamento (bisnaga, colher de
pedreiro, etc.).

Na Tabela 9 são apresentados os requisitos de desempenho de


argamassas no estado fresco e endurecido.

Tabela 9 - Requisitos de desempenho das argamassas de


assentamento para alvenaria estrutural;
ESTADO FRESCO ESTADO ENDURECIDO
1- Consistência; 1- Resistência mecânica;
2- Coesão; 2 - Capacidade de deformação;
3- Plasticidade; 3 - Aderência;
4- Retenção de água;
5- Adesão inicial,
6- Trabalhabilidade;

No caso do assentamento ser feito com bisnaga, a argamassa deverá


ser constituída por areia um pouco mais fina (módulo de finura entre 2,0 e
2,5). Neste caso, o traço deve ser enriquecido com maior teor de
aglomerantes. As argamassas de assentamento deverão ter um módulo de
finura em torno de 3 (areia média).
26

A argamassa é o elemento de ligação das unidades de alvenaria em uma


estrutura única, sendo normalmente constituída de cimento, areia e cal.
Apesar de seu uso datar dos primórdios da civilização, apenas nas últimas
décadas é que iniciou-se um enfoque e um tratamento racional de sua
tecnologia. Parte da responsabilidade por esta situação deve-se ao fato de
se tentar tratar as argamassas como se fossem concretos. Mesmo que na
essência ambos sejam compostos dos mesmos elementos (aglomerantes e
agregados), suas funções e empregos são radicalmente distintos. Não é
correto se imaginar que o que seja necessário para elaborar um bom
concreto seja o mesmo requerido para obter uma boa argamassa. Em certos
casos, estes requisitos caminham em sentidos opostos.
A colocação de concreto se realiza em moldes impermeáveis e, uma vez
lançado, deve-se prover umidade para assegurar a total hidratação do
cimento. Como conseqüência, são parte da tecnologia do concreto o uso da
minima quantidade de água possível, compatível com a resistência desejada e
com os métodos de adensamento disponíveis, o uso de agregados de maior
tamanho possível compatível com as seções das formas a preencher e a cura
durante o maior tempo possível. O objetivo final é a mais alta resistência à
compressão possível a um menor custo.
A argamassa é prioritariamente um adesivo que une as unidades de
alvenaria. Se estas unidades fossem perfeitas, a espessura da junta de
argamassa poderia ser insignificante. Por outro lado, comparando-se com o
concreto, a argamassa é colocada sobre superficies absorventes e a maior
parte de sua superficie está exposta aos efeitos da evaporação. A sucção
das unidades de alvenaria é necessária para promover o contato com o
cimento. Entretanto se esta absorção passa de certos limites, a unidade
pode absorver água indispensável à hidratação do cimento.
A argamassa não deve ser curada, não somente pela dificuldade de
executar tal operação, mas porque umedeceria principalmente as unidades
de alvenaria, criando-se deformações de expansão e contração que
atentariam contra a integridade da alvenaria (especialmente de blocos de
concreto). Todos estes aspectos indicam que a resistência à compressão,
que é vital para o concreto, é secundária para a argamassa.
Estruturalmente, a principal função da argamassa é a transferência das
tensões uniformemente entre os tijolos e blocos, compensando as
irregularidades e as variações dimensionais dos mesmos. Além disto, deve
unir solidariamente as unidades de alvenaria e ajudá-las a resistir os
esforços laterais.
27

A espessura recomendada das juntas é de 1 cm. Juntas maiores


implicam no enfraquecimento da estrutura. Juntas menores de 1 cm tornam
a estrutura muito rígida, favorecendo o aparecimento de fissuras.
As propriedades mais importantes da argamassa são: trabalhabilidade,
retentividade de água, tempo de endurecimento, liga, durabilidade e
resistência à compressão.

1.6.2.2 Argamassas no Estado Fresco

a) Trabalhabilidade
A trabalhabilidade é muito importante, pois influencia as outras
propriedades da argamassa. É essencial para assegurar a extensão da
penetração da argamassa em todos os interstícios da unidade de alvenaria.
Depende da combinação de vários outros fatores tais como: a qualidade
do agregado, a quantidade de água usada, a consistência, a capacidade de
retenção de água da argamassa, o tempo decorrido da preparação, a adesão,
a fluidez e a massa.
Não existe um método direto para medir a trabalhabilidade. O que se
mede é a fluidez (consistência). A fluidez pode ser definida como a
porcentagem do aumento de diâmetro da base de um tronco de cone depois
de submeter-se a impactos sucessivos em uma mesa vibratória padrão
(Figura 1). Testes com pedreiros experientes, indicou que uma argamassa de
boa trabalhabilidade apresenta fluidez entre 115 e 150 %. Entretanto, a
medição de fluidez nem sempre é indicativa de uma boa trabalhabilidade.
Misturas ásperas e sem coesão, mesmo com fluidez nesta faixa, produzirão
argamassas inadequadas para uso em alvenaria.
Argamassa de boa trabalhabilidade deve se espalhar facilmente sobre o
tijolo ou bloco e aderir nas superfícies verticais. A consistência deve ser tal
que o tijolo (ou bloco) possa ser prontamente alinhado mas seu peso e o peso
das fiadas subsequentes não provoquem posterior escorrimento aa
argamassa.
Em condições normais o tempo entre a mistura e o uso da argamassa
não deve exceder 2 horas e meia.

b) Retentividade de Água
É a capacidade da argamassa de reter água contra a sucção do tijolo.
Se o tijolo é muito poroso e retira muito rapidamente a água da argamassa,
não haverá líquido suficiente para a completa hidratação do cimento. Isto
28

resulta em uma fraca ligação entre o tijolo e a argamassa. Além disso, o


endurecimento muito rápido da argamassa pela perda de água, impede o
assentamento correto da fiada seguinte.
A má retentividade de água pode ser resultante de uma má
granulometria do agregado, agregados muito grandes, mistura insuficiente
ou escolha errada do tipo de cimento.
O uso de material pozolânico ou a adição de mais água e mais tempo de
mistura podem aumentar a retentividade.
Para medir a retenção de água primeiramente mede-se a fluidez. Em
seguida submete-se a argamassa a uma quantidade e tempo de vácuo padrão
e volta-se a medir a fluidez. A relação entre a fluidez final e a inicial,
expressa em porcentagem, é a medida da retentividade. Este valor não deve
ser inferior a 75%. Este teste, juntamente com o da fluidez, fornece uma
boa idéia da plasticidade e coesão de uma argamassa. Uma mistura áspera
pode ter a fluidez recomendada, mas não passará no ensaio de retenção de
água.

c) Tempo de Endurecimento
O endurecimento é função da hidratação, ou seja, da reação química
entre o cimento e a água. A velocidade em que esta ocorre determina o
tempo necessário para a argamassa resistir à ação de cargas. Se o
endurecimento for muito rápido, causará problemas no assentamento dos
tijolos e no acabamento das juntas. Se for muito lento, causará atraso na
construção pela espera que se fará necessária para a continuação do
trabalho.
Temperaturas muito altas tendem a acelerar o endurecimento.
Inversamente, clima muito frio provoca retardo.
A mistura mais homogênea impede o agrupamento das partículas de
cimento que dificulta o contato com a água, e consequentemente acelera o
processo de endurecimento.

1.6.2.3 Argamassas no Estado Endurecido

a) Aderência
A aderência entre a argamassa e o tijolo é uma combinação do grau de
contato entre ambos e da adesão da pasta de cimento à superficie do tijolo.
A aderência, portanto, não é uma propriedade intrínseca da argamassa, mas
depende também das características das unidades.
29

A resistência de aderência é a capacidade que a interface bloco-


argamassa possui de absorver tensões tangenciais (cisalhamento) e normais
(tração) a ela, sem romper-se.
Os fatores que influenciam o grau de contato e a adesão são a
trabalhabilidade da argamassa, a retentividade, a taxa de absorção inicial
do tijolo, a mão-de-obra, a quantidade de cimento na mistura, a textura da
superfície do tijolo, o conteúdo de umidade do tijolo, temperatura e
umidade relativa. b) Durabilidade As principais causas de deterioração da
argamassa são o congelamento e a saturação de água.

c) Resistência à Compressão
A resistência à compressão depende do tipo e da quantidade de cimento
usado na mistura. É importante notar que uma grande resistência à
compressão da argamassa não é necessariamente sinônimo de uma melhor
solução estrutural. A argamassa deve ser resistente o suficiente para
suportar os esforços a que a parede será submetida. No entanto, não deve
exceder a resistência dos tijolos ou blocos da parede, de maneira a que as
fissuras que venham a ocorrer devido à expansões térmicas ou outros
movimentos da parede ocorram na junta.
Uma argamassa mais forte não implica necessariamente numa parede
mais forte. Não há uma relação direta entre as duas resistências. Para cada
tipo de tijolo existe uma resistência ótima da argamassa. Um aumento desta
resistência não aumentará a resistência da parede.

1.6.2.4 6.2.4. Materiais Constituintes da Argamassa

Cimento: são utilizados cimentos Portland Comum (CP). Outros tipos


como o pozolânico (Poz) e o Alto-Forno (AF) também podem ser utilizados. 0
cimento proporciona resistência às argamassa e melhora a aderência.
Adicionalmente, colabora na melhora da trabalhabilidade e retentividade.
Por outro lado, o excesso de cimento (quando maior que 1/3 do volume total)
aumenta exageradamente a contração da argamassa prejudicando a
durabilidade da aderência.
Os cimentos com maior superfície específica têm potencial para tornar
as argamassas mais trabalháveis e com maior retenção de água. Os cimentos
de endurecimento mais lento podem produzir argamassas mais resilientes
(com maior capacidade de absorver pequenas deformações).
30

Cal: se entende como cal, a cal hidratada com uma percentagem de


componentes ativos (Ca0 e Mg0) superior a 88%. Podem também ser
utilizadas cales extintas em obra capazes de produzir argamassas de
melhor qualidade final.
A cal confere à argamassa plasticidade, coesão, retentividade e
extensão da aderência, sendo o componente fundamental para assegurar a
durabilidade da aderência.

Areia: a areia, atuando como agregado inerte na mistura, reduz a


proporção dos aglomerantes permitindo aumentar seu rendimento e
diminuindo os efeitos nocivos do excesso de cimento.
Existe clara evidência de que as areias grossas aumentam a resistência
à compressão da argamassa, &quanto que as areias finas reduzem esta
resistência mas aumentam a aderência, sendo portanto preferíveis.
As normas Britânica e Norte Americana recomendam as granulometrias
da Tabela 10 para as areias destinadas as argamassas de assentamento.

Tabela 10 - Granulometrias Recomendadas para as Areias de Argamassa


Peneira - Abertura Percentagem (em peso) que passa nominal (em mm) nas
peneiras
BS - 1200 ASTM C-144
4,8 100 100
2,4 90 - 100 95 - 100
1,2 70 - 100 70 - 100
0,6 40 - 80 40 - 75
0,3 5-40 10-35
0,15 0- 10 2- 15

Água: a água é o principal componente para se obter a trabalhabilidade


da argamassa A quantidade de água deve ser tal que garanta uma boa
produtividade no assentamento sem que cause a segregação dos
constituintes. Adicionalmente, deve restituir-se a água que evapora durante
o processo de assentamento de modo a manter constante sua fluidez. Este
processo, conhecido como remistura, que é totalmente desaconselhável no
caso de concreto, não deve continuar uma vez iniciada a pega do cimento.
A Tabela 11 resume a influência dos componentes nas propriedades das
argamassas.
31

1.6.2.5 Tipos de Argamassa

Os tipos de argamassa utilizados no assentamento de unidades são


misturas a base de cal, cimento, cimentos com aditivos, cimentos de
alvenaria, cal e cimento (mistas).
Outros tipos de argamassa tem sido desenvolvidos por empresas
especializadas. Mas estas ainda carecem de maiores ensaios e de utilização
mais prolongada para que se tenha maior confiança em suas qualidades,
notadamente em relação à durabilidade.

Tabela 11 - Influência dos Componentes nas Propriedades das Argamassas


COMPONENTES

PROPRIEDADE CIMENTO CAL AREIA AREIA AGUA


GROSSA FINA
FRESCO 1. Fluidez + + 0 0 ++
2. Plasticidade + ++ - + 0
3. Coesão + ++ - + 0

4. Retentividade + ++ - + 0
ENDURECIDO 5. Aderência r + ++ - + +
a. Valor ++ 0 0 0 0
b. Extensão - ++ - + +
6. Durabilidade da - ++ 0 0 0
Aderência
7. Resistência à ++ - + - -
Compressão
+: indica que aumenta / - : indica que diminui / 0 : indica que tem pouca influência

a) Argamassa de Cal
É a argamassa tradicional da alvenaria. O desenvolvimento da
resistência à compressão é lento e esta resistência geralmente tem valores
baixos. O endurecimento se dá pela perda de água e não por pega. Não é
uma argamassa recomendada para alvenaria.

b) Argamassa de Cimento
É feita com cimento Portland e areia. Adquire alta resistência com
rapidez. Tem a desvantagem de apresentar pouca trabalhabilidade para as
misturas pobres enquanto as misturas ricas são antieconômicas e podem
facilitar o aparecimento de fissuras.
32

c) Argamassas Mistas
São constituídas de cimento, cal e areia. Apresentam, quando
adequadamente dosadas, as vantagens das argamassas de cal e de cimento.
São as mais adequadas para o uso em alvenaria estrutural.
No gráfico da figura 23 são apresentados os resultados de estudos
realizados em argamassas mistas. As características estudadas foram
resistência à compressão e retenção de água, para diferentes fatores
água/cimento e relação cal/cimento. Neste trabalho a consistência medida
no flow-table foi fixada em 240 t 10 mm. O diâmetro máximo do agregado
miúdo é 1,2. Na tabela 12 são mostrados as características físicas dos
materiais.

Tabela 12 - Características físicas dos materiais


Materiais Características Básicas
Massa unitária (g/cm3) Módulo de finura
Cimento - CP IV-32 0,908 -
Cal 0,583 -
Areia 1,559 1,535

Figura 23- Principais características dos traços de argamassas


estudados;
33

1.6.2.6 Escolha da Argamassa (Traço)

O tipo de argamassa a ser usado depende principalmente da função que


a parede vai exercer, das condições de exposição da parede e do tipo de
tijolo ou bloco que será utilizado. Quando se pensa no uso das alvenarias
como elementos estruturais há uma tendência de se especificar o uso de
argamassas com alto consumo de cimento e com grande resistência à
compressão. Na verdade, nem sempre uma argamassa mais resistente é a
mais indicada.
A argamassa é um adesivo que integra as unidades de alvenaria. Deve
portanto ser resistente, durável, impedir a penetração de água, ser
resiliente, econômica e com boa trabalhabilidade. As especificações e
requisitos para o uso de argamassas altamente resistentes podem
prejudicar as propriedades desejáveis citadas acima. Não é interessante
que uma argamassa tenha grande resistência à compressão em prejuízo da
aderência e/ou da trabalhabilidade. Também não é aceitável que uma
argamassa tenha um elevado consumo de cimento, alta resistência à
compressão e características de retração que causem fissuras de separação
na interface junta/unidade, resultando num caminho próprio para a
penetração de umidade.

A seleção de um tipo particular de argamassa para um determinado


projeto deve ser função do balanço das necessidades da alvenaria que será
construída e das propriedades dos vários tipos de misturas disponíveis.
Nesta seleção dois pontos fundamentais devem ser considerados:

1. não existe um único tipo de argamassa que seja o melhor para todos
os tipos de aplicações disponíveis;
2. não deve ser utilizada uma argamassa com resistência à compressão
maior que a necessária para atender as exigências estruturais do
projeto. Neste caso, o bom senso é muito importante. Seria
antieconômica e pouco prática uma mudança contínua do tipo de
argamassa para as vária partes de uma mesma obra.

As Tabelas 13 e 14 mostram os traços recomendados pelas normas


inglesa e norte-americana respectivamente.
34

Tabela 13 - Traços de Argamassa - Norma Inglesa


Designação Tipo de Argamassa Resistência à Compressão
(proporção por volume) aos 28 dias MPa
cimento cal areia laboratório obra
(i) 1 0 a 1/4 3 16,0 11
(ii) 1 1/2 4 a 4,5 6,5 4,5
(iii) 1 1 5a6 3,6 2,5
(iv) 1 2 8a9 1,5 1,0

Tabela 14 - Traços de Argamassa - Norma Norte-Americana


Designação Tipo de Argamassa Resistência à
(proporção por volume) Comp. aos 28 dias
cimento cal areia (Mpa)
M 1 1/4 de 2,25 a 3 17,2
S 1 1/4 a 1/2 vezes a soma 12,4
N 1 1/2 a 1,25 dos volumes 5,2
O 1 1,25 a 2,5 de cimento e 2,4
K 1 2,5 a 4 cal 0,5

Em relação aos traços da Norma Norte-Americana, são recomendados


os seguintes usos:

Argamassa tipo M: recomendada para alvenaria em contato com o solo,


tais como fundações, muros de arrimo, etc. Possui alta resistência à
compressão e excelente durabilidade.
Argamassa tipo S: recomendada para alvenaria sujeita a esforços de
flexão. É de boa resistência à compressão e produz uma boa resistência à
tração na interface com a maioria dos tipos de unidades.
Argamassa tipo N: recomendada para uso geral em alvenarias
expostas, sem contato com o solo. É de média resistência à compressão e
boa durabilidade.
Argamassa tipo O: pode ser usada em alvenaria de unidades maciças
onde a tensão de compressão não ultrapasse 0,70 MPa e não esteja exposta
em meio agressivo. É de baixa resistência à compressão e conveniente para
o uso em paredes interiores em geral.

Estes traços são indicados para o emprego dos materiais especificados


pelas duas normas. Como no Brasil a cal hidratada ainda não possui a mesma
35

qualidade observada nestes países, estes traços servem apenas como um


indicativo, e a sua utilização deve ser precedida de uma verificação, em
laboratório, de suas reais características.

1.6.3 Graute

O graute é um concretos ou argamassa fluidos lançado nos vazios dos


blocos, com a finalidade de solidarizar as ferragens à alvenaria,
preenchendo as cavidades onde elas se encontram e aumentando a
capacidade de resistência à compressão da parede.
O graute para alvenaria é composto de uma mistura de cimento e
agregado, combinados com água suficiente para produzir uma mistura que
preencha os furos e cavidades completamente e sem separação dos
componentes. Os agregados miúdos dos graute deverão possuir um módulo
de finura em torno de 4 (areias grossas).
O graute é composto dos mesmos materiais usados para produzir
concreto convencional. As diferenças estão no tamanho do agregado graúdo
(mais fino, 100% passando na peneira 12,5 mm) e na relação água/cimento.
Como se deseja uma elevada trabalhabilidade, o concreto deve ser
líquido. O ensaio de Slump deve mostrar um abatimento entre 20 e 28 cm. A
relação água/cimento deve estar entre 0,8 e 1,1 dependendo do módulo de
finura da areia. A fixação do Slump nesta faixa dependerá
fundamentalmente da taxa de absorção inicial das unidades(IRA) e da
dimensão dos alvéolos. Quanto mais absorventes forem as unidades e
menores forem seus alvéolos maior deverá ser o slump da mistura. Ao
colocar-se o graute na alvenaria, estas retiram grande parte do excesso de
água, deixando o mesmo com uma relação água/cimento final entre 0,5 e 0,6.
Para definição dos traços e, consequentemente, das resistências deve-
se considerar dois fatores: a resistência à compressão dos blocos utilizados
e o traço de argamassa utilizado na parede.
As principais propriedades que o graute deve apresentar são:

Ø • Consistência: A mistura deve apresentar coesão e, ao mesmo


tempo, Ter fluidez suficiente para preencher todos os furos
dos blocos.
Ø • Retração: a retração não deve ser tal que possa ocorrer
separação entre o graute e as paredes internas dos blocos.
Ø • Resistência à compressão: a resistência à compressão do
36

graute, combinada com as propriedades mecânicas dos blocos e


da argamassa definirão as características à compressão da
alvenaria.

O graute na alvenaria pode ser usado como material de enchimento em


reforços estruturais, em zonas de concentração de tensões e quando se
necessita armar as estruturas (armaduras construtivas ou para absorver
esforços de tração).
Estudos realizados na UFSC, mostram a importância da compatibilidade
entre bloco e graute e que uma combinação inadequada destes materiais
pode afetar a resistência da alvenaria, devido as tensões de tração
desenvolvidas. Na figura 24 é mostrado os estados de tensões gerados nos
diferentes materiais (bloco, argamassa e graute).

Figura 24 - Estado de tensões nos prismas devido a um carregamento


axial de compressão apresentados no modelo de HAMID e DRYSDALE
(1979)

1.6.3.1 Materiais Constituintes

Para o graute devem ser usados exclusivamente cimentos do tipo CP e


MRS. Alguns autores afirmam não ser admissível o emprego de cimentos
modificados por pozolanas pelo fato destes serem mais retentivos. Esta
característica leva a um aumento da relação água/cimento final e,
consequentemente, a uma menor resistência à compressão.
37

Em certos casos pode ser adicionada cal na mistura para diminuir a


rigidez da mesma. A quantidade de cal deve ser controlada para evitar a
corrosão da armadura (de 0 a 1/10 do volume de cimento).
A Tabela 15 indica as granulometrias recomendadas para as areias pela
norma ASTM C404.
São recomendadas areias com módulo de finura entre 2,3 e 3,1 pois
estas requerem menos cimentos e o graute, além de alcançar maior
resistência à compressão, apresentam. menor retração no endurecimento.
O pedrisco, quando utilizado, deve ter a granulometria indicada na
Tabela 16.

Tabela 15 - Granulometria Recomendada para


Areias: Porcentagem Retida Acumulada
Abertura da peneira (mm) Tipo 1 Tipo 2
9,5 0 0
4,8 0-5 0
2,4 0-20 0-5
1,2 15 - 50 0 - 30
0,6 40 - 75 25 - 60
0,3 70 - 90 65 - 90
0,15 90 - 98 85 - 98
0,075 95 - 100 95 - 100

Tabela 16 - Granulometria Recomendada do


Agregado Graúdo para o Graute.
Abertura da peneira mm % retida acumulada
12,5 0
9,5 0 - 15
4,8 70 - 90
2,4 90 - 100
1,2 95 - 100

1.6.3.2 Dosagem

O graute deve ser dosado para que atinja as características físicas e


mecânicas necessárias para o bom desempenho estrutural da parede. É
recomendável que seja sempre realizado ensaio de prismas feitos com
material a ser utilizado na obra para se verificar se a especificação de
38

materiais proporciona o resultado de resistência desejado. Em caso de


obras pouco carregadas, no entanto, pode-se utilizar alguns traços clássicos
de graute. Estes podem ser vistos na Tabela 17. Um é dosado com agregado
graúdo (pedrisco), e outro sem agregado graúdo.

Tabela 17 - Proporções Recomendadas para a Dosagem do Graute


MATERIAIS CONSTITUINTES
cimento areia brita 0
sem agregado graúdo 1 3a4 ---
com agregado graúdo 1 2a3 1a2

1.6.3.3 Proporcionamento, Mistura e Lançamento

O proporcionamento dos materiais componentes deve ser feito de tal


forma que as quantidades especificadas possam ser controladas e mantidas
com uma precisão da ordem de +/- 5%.
A mistura dos materiais constituintes deve efetuar-se mecanicamente
por um tempo não menor que 5 minutos e em qualquer caso, suficiente para
proporcionar boa homogeneidade.
O transporte e lançamento do graute geralmente tem sido efetivado em
duas ou três etapas. Estas opções permitem que se use um graute com
menor teor de água/cimento e maior controle do lançamento, diminuindo a
possibilidade de haver segregação do mesmo e de ocorrência de vazios
alvéolos.
O graute deve ser adensado. Muitas vezes, a própria pressão hidráulica
gerada- pela coluna líquida da mistura é suficiente. Em alguns casos pode
ser necessário vibrá-lo (vibradores de agulha de pequeno diâmetro) ou
compactá-lo manualmente (barras de aço do mesmo tipo utilizado como
armadura na parede).
39

2 ALVENARIA ESTRUTURAL - PRINCÍPIOS BÁSICOS

2.1 Introdução

Na alvenaria estrutural, as paredes estruturais tem a função de


resistir às cargas verticais e as cargas laterais. As cargas verticais são
devidas ao peso próprio da estrutura e às cargas de ocupação. Por outro
lado, as cargas laterais são originadas pela ação do vento e/ou do
desaprumo. Estas são absorvidas pelas lajes e transmitidas às paredes
estruturais paralelas à direção do esforço lateral.
Uma parede de alvenaria pode suportar pesadas cargas verticais e
horizontais paralelas ao seu plano, mas é comparativamente fraca às cargas
que atuam perpendicularmente ao plano da parede. O grande desafio do
engenheiro estrutural é, portanto, minimizar as tensões de tração que
possam vir a aparecer. Com este propósito, podem ser adotados alguns
procedimentos, os quais serão discutidos neste capítulo.

2.1.1 Princípios Básicos

A baixa resistência à tração da alvenaria pode ser superada,


assegurando estabilidade estrutural à edificação, se forem adotados
princípios básicos, os quais devem ser pensados nas etapas iniciais do
projeto. Os procedimentos de projeto que podem ser utilizados são
comentados a seguir.

a) troca da forma da parede


• paredes mais grossas
• paredes duplas
• paredes aletadas (fin walls)
• paredes diafragma
• paredes com enrijecedores
• outras geometrias de parede que possa dar maior resistência

b) arranjo apropriado das paredes


Para que se possa ter uma melhor definição estrutural, os pavimentos
devem ser divididos em peças de dimensões não muito grandes, repetindo-se
o mesmo arranjo arquitetônico em todos os pavimentos. Em uma edificação,
40

nem todas as paredes precisam ser definidas como estruturais. A escolha


adequada (número, disposição, etc) de quais paredes terão função
estrutural, faz com que uma parede atue como elemento enrijecedor e
estabilizador de outra (Figura 2). Distribuições de paredes muito
assimétricas podem originar tensões de torção diante de cargas laterais.

Figuras 1 e 2 – Formas possíveis de paredes


41

Além das paredes, outros elementos que compõe a edificação podem ser
explorados para aumentar a estabilidade estrutural. Por exemplo, as lajes
podem ser usadas para aplicar as cargas verticais nas paredes, amarrar a
estrutura e distribuir as cargas horizontais. Por sua vez, escadas, poços de
elevadores e de condução de dutos podem ser utilizados para a obtenção de
rigidez lateral.
A forma e a distribuição das paredes estruturais de um edifício
dependerá da função a que se destina o mesmo e das condições do local da
obra: solos, ventos, etc. Existe uma grande variedade de arranjos possíveis
que, de uma maneira geral, diferem entre si na definição das paredes que
deverão suportar as cargas verticais e horizontais. Os principais tipos de
arranjo de paredes em alvenaria são:

Ø sistema celular:
sistema onde tanto as paredes internas quanto as externas são
carregadas. Em planta, estas paredes mostram uma estrutura celular. A
resistência às cargas laterais é obtida nos dois eixos. Apropriado para
edifícios acima de seis pavimentos (Figura 3).

Figura 3 - Sistema
celular.

Ø Sistema de paredes transversais simples ou duplo:


apropriado para edifícios retangulares com peças repetitivas e
compartimentadas, como escritórios, lojas, hotéis, salas de aula, etc.
Nos sistemas simples, as paredes carregadas formam ângulos retos com
o eixo longitudinal da construção. As lajes são apoiadas nas paredes
transversais e a estabilidade longitudinal obtida através das paredes do
42

corredor. As paredes externas podem ser apenas de vedação (Figura 4-a).


O sistema duplo contém paredes resistentes paralelas aos dois eixos da
construção (Figura 4-b).

Figura 4 - Sistemas de parede transversais.

Ø sistemas complexos:
são sistemas compostos de combinações dos sistemas celular e
transversal. São adequados para edifícios com plantas complexas.
Uma forma de disposição de paredes prevê a construção de paredes
que atuam como uma "espinha dorsal". Estas, juntamente com as paredes
externas, resistirão às cargas das lajes. É um sistema importante para
quando se deseja maiores vãos, ou quando paredes de andares diferentes
não podem ser superpostas devido a diferentes necessidades funcionais em
cada pavimento. A
Figura 5 mostra um exemplo de sistema complexo.

Figura 5 - Sistema complexo


43

Ø construção com colunas:


é uma alternativa às construções com "espinha dorsal". Usada quando se
deseja grandes vãos (Figura 6-a).

Ø construção em podium:
quando necessidades funcionais requerem grandes espaços abertos no
térreo, tais como área de recepção e restaurante de hotel,
estacionamentos, grandes lojas, etc. Normalmente consiste de pilares de
alvenaria, concreto ou aço, suportando uma laje de concreto. Acima desta
laje, a estrutura pode ser de paredes com sistema celular, transversal ou
outro (Figura 6-b).

Figura 6 - a)construção com colunas; b)construção em pódium.

c) uso de armadura ou parede Protendida


Estas técnicas são usadas para aumentar a resistência da alvenaria a
cargas laterais que atuam no plano e fora do plano da parede. São
geralmente simples, práticas, econômicas e mais rápidas do que o concreto
armado e protendido. Podem ser usadas para reforçar pontos localizados de
uma obra ou como princípio estrutural de todo o projeto. Favorecem o
desenvolvimento de formas arquitetônicas mais arrojadas (Figura 7-a) e 7-
b).
44

Figura 7 - a) Armadura passiva, b) Alvenaria protendida

d) Combinação dos métodos anteriores


Qualquer combinação das soluções apresentadas nos itens anteriores
pode ser usada para aumentar a capacidade resistente da atvenafta.
Sempre que possível, deve-se buscar as soluções dentro da alvenaria não
armada e que não envolvam a utilização de materiais mais resistentes, para
que o projeto não seja encarecido ou até mesmo inviabilizado.

2.2 Esforços Solicitantes da Alvenaria

Os esforços que atuam sobre os elementos estruturais da alvenaria


(paredes) são obtidos através da análise estrutural dos edifícios. Os
principais esforços aos quais as paredes devem resistir estão
representados na Figura 8.

Figura 8 - Ação
de cargas sobre um
prédio
45

As paredes estão preponderantemente submetidas a esforços de


compressão, devidos ao peso próprio dos elementos e das cargas das lajes
sustentadas pelas paredes. Outro esforço a ser considerado nos edifícios é
o devido às cargas de vento. O vento origina o aparecimento de forças
horizontais, perpendiculares aos planos das paredes externas, ocasionando
nestes painéis esforços de flexão. Estes esforços horizontais que atuam
sobre as paredes externas, são transmitidos pelas lajes, na forma de
tensões de cisalhamento, às paredes internas transversais. Estas,
sucessivamente transmitem os esforços para os andares inferiores até
chegarem às fundações do edifício. Portanto, no cálculo de prédios em
alvenaria estrutural, deve-se considerar os esforços de compressão,
cisalhamento e flexão à que os elementos estarão submetidos.

2.3 Teoria do Projeto em Alvenaria Estrutural

O desenvolvimento de projetos em alvenaria estrutural exige do


projetista, procedimentos diferentes dos tomados quando do cálculo de
estruturas em concreto armado. Por serem sistemas diferentes, com
filosofias distintas, o calculista não deve conceber soluções com base em
conhecimentos aplicáveis ao concreto armado. Deve pensar alvenaria
estrutural.
A base de projetos em alvenaria estrutural se assenta nos seguintes
pontos:
• o objetivo do projeto é ajustar a forma, a espessura da parede ou
a compressão inicial, de tal forma que os carregamentos não
produzam tensões de tração excessivas nem fissuras excessivas.
• alvenaria pode suportar grandes tensões de compressão, mas
pequenas tensões de tração;
• todo momento fletor que cause tração deve ser evitado.
• forças que atuam através do centróide de qualquer seção
transversal de uma parede ou pilar são chamadas de forças axiais.
As demais são ditas excêntricas. Forças excêntricas podem ser
divididas em duas componentes: uma força axial P, e um momento
fletor M = P.e, onde “e” é a excentricidade da seção sendo
considerada (Figura 9). Geralmente, a excentricidade produzida
por cargas verticais excêntricas varia nas seções horizontais
situadas ao longo da altura da parede, sendo máxima no topo e
tendendo a zero na base da parede.
46

Figura 9 - Elevação e seção horizontal de alvenaria: a) carga vertical


axial; b)carga vertical excêntrica.

• cargas excêntricas originam tensões de compressão superiores


aquelas produzidas por cargas axiais, em virtude do aumento de
tensão gerado pela componente de flexão.
• a posição do ponto de aplicação da força resultante de
compressão determina as tensões que aparecerão na parede

Ø Força resultante aplicada dentro do terço médio central da


seção (núcleo central), produz tensões de flexão sempre
menores que as de compressão axial, não produzindo tração no
elemento. Neste caso, as paredes podem romper por
esmagamento, por flambagem, ou por uma combinação dos dois
efeitos (Figura 10 a), b) e c).
47

Figura 10 - Paredes com carga excêntrica dentro do terço médio: a)tensões de


compressão; b)ruptura por compressão; c) ruptura por flambagem

Ø se a resultante da compressão cair fora do núcleo central, as


tensões de flexão excederão as de compressão axial,
originando, neste caso, tensões de tração em um lado da seção.
Quanto mais afastada do terço médio for aplicada a resultante,
maior será a magnitude das tensões de tração geradas. Estas
tensões de tração podem produzir o aparecimento de fissuras
ou até mesmo levar a alvenaria à ruptura, caso a resistência à
tração desta seja atingida (Figura 11 a) e b).

Figura 11 - Paredes com


carga excêntrica fora
do terço médio:
a)tensões de tração;
b)ruptura.
48

Ø Se a resultante cair fora da espessura da parede, a ruptura do


elemento será imediata.

• flambagem só é associada com elementos que apresentem


esbeltez maior que 6. A ruptura por flambagem é rápida, pela
produção de um momento fletor grande e incontrolável.
Geralmente é iniciada por forças laterais, pela não verticalidade
da parede ou, em alguns casos, pelo incompleto preenchimento de
algumas juntas.
• elementos de alvenaria em flexão romperão quando excederem a
resistência à tração da alvenaria. Existem critérios de projeto
(por exemplo, norma britânica) que não admitem o aparecimento
de tensões de tração em nenhum ponto da seção. Neste caso,
admitindo-se uma distribuição de tensões elástica ao longo da
seção, a capacidade do elemento de alvenaria de suportar flexão é
proporcional à compressão axial e à espessura da seção (t) na
direção do momento.
• em paredes ou pilares sujeitos a grandes tensões de flexão pode
se tornar necessário 0 aumento das cargas de compressão, ou o
uso de armadura ou protensão.

2.4 CRITÉRIOS DE PROJETO.

Uma estrutura em alvenaria deve ser capaz de suportar, durante sua


vida útil, ao carregamento imposto de forma a não produzir deflexões ou
fraturas excessivas que comprometam as questões estéticas e de segurança
estrutural. A dificuldade de definir precisamente a magnitude das cargas e
da resistência dos materiais que compõe a estrutura, levam à utilização de
coeficientes de segurança. De um modo geral, estes coeficientes majoram
as cargas estimadas, de forma que o projetista busque materiais que sejam
capazes de resisti-Ias sem que a sua resistência seja atingida ou superada
dentro da vida útil prevista para a edificação.

Os valores dos coeficientes de segurança são apresentados dentro de


normas técnicas e na sua determinação são considerados os seguintes
aspectos:
49

• probabilidade da carga de projeto ser ultrapassada


• tipo de carregamento: estático, dinâmico, cíclico
• possibilidade de ruptura por fadiga
• incertezas durante o processo construtivo
• qualidade da mão de obra variações nas propriedades dos
materiais
• deterioração dos materiais por efeitos ambientais
• conseqüências da ruptura `
• outros

A forma com os coeficientes de segurança são definidos e


implementados dentro de um projeto definem o critério de projeto:

a) critério do fator de carga:


este método envolve a multiplicação das cargas de trabalho pelo fator
de segurança. Este valor deverá ser usado para a escolha dos materiais a
serem utilizados, cujas resistências deverá ultrapassar este valor. O ponto
desfavorável ~ método é que este é aplicado aos carregamentos e não
considera as variações no material

b) critério das tensões admissíveis:


consiste na análise das tensões de ruptura (resistência obtidas em um
conjunto de experimentos. Destes valores é calculada a resistência méd
que, dividida pelo fator de segurança, representa a tensão máxima
admissível pe alvenaria. A tensão máxima admissível é multiplicada pela área
da parede e por outra fatores (a serem apresentados no capítulo seguinte),
fornecendo a capacidade de carga c alvenaria. A desvantagem do método é
que este baseia-se nas tensões no estado elástic enquanto a alvenaria possui
comportamento plástico ou semi-plástico.

c) critério do estado limite:


a definição de estado limite é a de que a estrutura se torr inapropriada
para utilização quando atinge uma das condições: ruptura total (estado
limite último) ou deflecção ou fissuras excessivas (estado limite de
trabalhabilidade). Uma da diferenças fundamentais entre os critérios
apresentados anteriormente e o do estado limil é que os dois primeiros
aplicam um coeficiente de segurança para cobrir todas a condições de
materiais, carregamentos, mão-de-obra, etc., enquanto que o último
50

considera coeficientes de segurança parciais, aplicáveis para cada item


separadamente Isto permite o uso de coeficientes mais precisos durante o
projeto e que dependem do cas sendo considerado. O coeficiente total é
dividido em vários coeficientes de seguranç parciais. Além disto, o critério
do estado limite emprega a resistência característica d alvenaria, dentro de
intervalo de confiança de 95 % (5 % dos resultados experimentai
apresentam valores inferiores ao característico, como mostra a Figura 12).
Esta resistênci característica, multiplicada pela área da parede e por outros
fatores (ver capítulo seguinte e dividida pelo coeficiente de segurança
definido na norma para os materiais, fornece a resistência de projeto.

Figura 12 - Resistência característica do material

2.4.1 Projeto no estado limite

2.4.1.1 Princípios do projeto no estado limite

Os princípios essenciais do projeto no estado limite podem ser


resumidos como:

Sendo:
Rk
R* − S * ≤ 0 R* =
γm
e S * = f ( γ f .Qk )
51

Onde:
• R* é a resistência de projeto da estrutura;
• S* representa os efeitos da carga de projeto;
• Qk valores característicos de carregamento (5% dos
resultados experimentais apresentam valores superiores ao
característico),
• Rk valores característicos de resistência;
• γm e γf são coeficientes de segurança parciais para,
respectivamente, materiais e cargas.

Rk e Qk são valores característicos de resistência e de carregamento


respectivamente. Geralmente 95 % das amostras de Rk serão maiores que o
valor e 95 % das forças aplicadas serao menores do que Qk (Figura 13).

A probabilidade de ruptura é, então: P  R* − S * ≤ 0 = p

Se o valor de p é determinado, pode-se calcular γm, e γf. p geralmente


estará na faixa de 10-5 à 10-6.

Figura 13 -Projeto no estado limite


52

2.4.1.2 Coeficientes de segurança

Os coeficientes de segurança dividem-se em dois grupos:

Ø Coeficientes de segurança para materiais e mão de obra (γm)


São baseados na probabilidade do material não atingir a resistência
esperada e refletem indiretamente a qualidade do material e da mão de
obra empregados.
A partir de ensaios de caracterização da resistência dos elementos
unitários (blocos cerâmicos, blocos de concreto, etc.) A qualidade dos
elementos unitários (blocos cerâmicos, blocos de concreto, etc.) é possível
de ser controlada através de ensaios experimentais, obrtndo um razoável
controle que permite o estabelecimento de limites para a probabilidade de
ruptura. Entretanto, a argamassa é mais difícil de controlar e, portanto,
apresenta maior probabilidade de ruptura. O nível de controle sobre o
processo de fabricação da argamassa determinará o coeficiente de
segurança que será usado.

Tabela 1 - Coeficientes de coeficientes de


segurança para materiais segundo BS 5628.
Controle de Fabricação Controle da Obra
Especial Normal
Especial 2,5 3,1
Normal 2,8 3,5

Ø Coeficientes de segurança para cargas e consequências de ruptura


São usados levando em conta as imprevisões nas cargas de projetos
consideradas, erros no projeto da estrutura, tolerâncias de fabricação e
conseqüências da ruptura. Tem como vantagem também a possibilidade de
ajustar os fatores para diferentes combinações de cargas. É improvável a
ocorrência simultânea de aumento das cargas superimpostas e de vento
simultaneamente, por exemplo.
As conseqüências da ruptura de uma estrutura variam
consideravelmente de acordo com o tipo, utilização e localização do prédio.
Por exemplo, efeitos de ruptura numa arquibancada são muito diferentes de
uma falha num local de trabalhos temporários.
Os coeficientes de segurança para cargas podem ser vistos na Tabela 2.
53

Tabela 2 - Coeficientes de segurança para cargas segundo BS 5628.


Combinação de cargas Coeficiente de segurança
Permanente + acidental
Permanente 0,9 Gk ou 1,4 Gk
Acidental 1,6 Qk
Permanente + vento
Permanente 0,9 Gk ou 1,4 Gk
Vento 1,4 Wk ou 0,015 Gk, aquele que for maior
Permanente + acidental + vento r
Permanente 1,2 Gk
Acidental 1,2 Qk
Vento 1,2 Wk ou 0,015 Gk, aquele que for maior
Danos acidentais
Permanente 1,2 GA
Acidental 0,35 Qk
1,05 Qk prédios usados para estocagem ou de
sobrecarga permanente.
Vento 0,35 Wk.

Gk = carga própria característica


Qk = sobrecargas características
Wk = carga de vento característica

2.5 TEORIAS DE RUPTURA

2.5.1 Teoria de Ruptura Baseada na Análise Elástica

A fórmula, proposta por Francis, é obtida da consideração de um prisma


de alvenaria submetido à uma compressão axial c (Figura 5.1).

Figura 5.1 Teoria elástica de ruptura para alvenaria


54

Deformações na argamassa e no tijolo:

σa σ
εa = − + νa c (5.1)
Ea Ea
σ σ
εt = − t + νt c (5.2)
Ea Ea

Ea, Eb e ν a e ν t são os módulos de elasticidade e coeficientes de Poisson


da argamassa e do tijolo.
As deformações laterais na argamassa e no tijolo são consideradas
como sendo uniformes e iguais. Além disto, por equilíbrio estático, a força
total lateral no tijolo e na argamassa são iguais e opostas.

Então:
d
σa = σt = r σt
t
d = altura dom tijolo
t = espessura da argamassa
d
r=
t

 1 r   νa ν t 
Combinando (5.1) e (5.2): σt  +  = σc  − 
 Et Ea   Ea Et 

ν .m − ν t 
Fazendo σt =  a (5.3)
Et
Ea = m è σ c
 1 + r .m 

Tomando como critério de ruptura a deformação de tração última,


segue:
σt σ
εult = + νt c (5.4)
Er Et

fazendo: σ't = Et .εult


σt = σt' − ν t .σ c

σ’t é a tensão correspondente à ruptura à tração do tijolo. Substituindo


em (5.3) e rearranjando chega-se à tensão de compressão limite:

σ't
σc = (5.5)
ν ( m − νt )
νt + a
1 + r.m
55

Figura 5.2
Envelope de Ruptura para Alvenaria em Biaxial Tração - Compressão (Francis et. al.)

2.5.2 Teoria de Ruptura Baseada na Resistência do Tijolo e Argamassa


sob Tensão Multi-Axial

Teoria formulada por Hilsdorf e baseada na consideração de uma


relação linear entre a resistência à tração lateral biaxial e a tensão de
compressão local.
Segundo Hilsdorf os fatores que afetam a resistência à compressão da
alvenaria são:

• a resistência à compressão uniaxial do tijolo, -


• a resistência à tração biaxial do tijolo;
• o critério de ruptura para um tijolo submetido a um estado triaxial
de tensões, conforme a linha A (Figura 5.3);
• a resistência à compressão uniaxial da argamassa (início da linha C);
• o comportamento da argamassa sob um estado de compressão
triaxial: linha C;
• o coeficiente de não-uniformidade U.
56

Figura 5.3 Critério de Ruptura de Hilsdorf

Se A é considerada como sendo uma reta, a equação que define o


critério de ruptura no tijolo é:

 σ 
σ x = σ z = f bt'  1 − y'  (5.6)
 fb 

σx, σy, σz, = tensões nas direções x, y, z


f’b = resistência à compressão uniaxial do tijolo
f’bt = resistência do tijolo sob tração biaxial σx = σz

σx e σz, são as tensões de compressão na argamassa (linha C representa


a tensão de tração lateral mínima no tijolo suficiente para confinar a
argamassa).
Se a resistência triaxial da argamassa segue a relação estabelecida
para o concreto, então a resistência da junta é:

σ y = f j' + 4,1.σ 2 onde (5.7)

σx = σ1 = σ2 = compressão lateral na argamassa


σy = compressão local na argamassa, perpendicular à junta
f’j = resistência à compressão uniaxial da argamassa
57

As condições de equilíbrio requerem que:

σ xt .d = σ xj .t (5.8)

σxt = tensão lateral de tração no tijolo


σxj = compressão lateral na argamassa
d = altura do tijolo
t = espessura da junta

Substituindo σxj por σ2 em (5.7), a equação para a linha C é obtida:

σx =
t
4,1.d
( ) (
σ y − f j' = α σy − f j' ) (5.9)

onde α =
t
4,1.d

A tensão local máxima na ruptura corresponde ao ponto de interseção


das linhas A e C.

 f bt' + αf 'j 
σy = f b'   (5.10)
 f bt' + αfb' 
 

Introduzindo um coeficiente de ruptura Uk, definido como a razão da


tensão máxima pela tensão média na área, a tensão média na ruptura é
calculada como:

σy
σ ym = f m' =
Uk

a qual, colocada em (5.10) dá a expressão geral para a resistência à


compressão axial da alvenaria.

f'  f bt' + αf j' 


f m´ = b . ' 
Uk  f bt + αfb' 
 
58

3 PROJETO PARA CARGAS VERTICAIS

Maior parte do material compilado a partir do livro Design of Masonry


Structure de A. W. Heudry, B. P. .Sinha e S. R. Davies.

3.1 Introdução

Alvenaria resiste mais à compressão do que à flexão e cisalhamento, e


esta característica deve ser levada em conta quando se elabora o projeto.
Uma parede ou coluna geralmente resiste às solicitações de duas maneiras:
pela sua resistência à compressão ou resistência à flexão. Esta última é
normalmente pequena, embora um aumento da carga axial de compressão
determine o aumento na resistência à flexão efetiva da parede.
A seção 4 da BS 5628 fornece os dados necessários para o projeto de
paredes e colunas além dos já definidos, relativos à resistência
característica dos materiais e coeficientes de segurança.

Elementos em compressão são calculados basicamente pela fórmula

β b t fk
γm

sendo:
β = fator redutor de capacidade para excentricidade e esbeltez
b,t = respectivamente, largura e espessura
fk = resistência à compressão característica.
γm = coeficiente de segurança parcial do material.

β é derivado a partir da consideração de que há uma excentricidade de


carregamento variando de e,, no topo da parede até 0 (zero) no pé da
mesma, além de uma excentricidade adicional devida à deflexão lateral
relacionada com a esbeltez (para taxa de esbeltez ≥ 6). A excentricidade
adicional é considerada variando de zero no topo e no pé da parede até um
valor ea no quinto central da altura da parede (Figura 1).
59

Figura 1 - Excentricidades consideradas para a


determinação da capacidade resistente à
compressão (BS 5628).

 1  hef  2 
A excentricidade total é: ea = t  − 
 2400  t 
0,015

 
A excentricidade total é: et = 0,6e x + ea

No caso de et ser menor que ex, ex deve ser considerada a


excentricidade de projeto.
Assume-se que a carga na parede é resistida por um bloco de tensão
retangular com tensão constante de 1,1 fk/γm (Figura 2).

Figura 2 - Bloco de tensão


considerado para determinação da
capacidade de carregam vertical (BS
5628)
60

A largura deste bloco é: b = t  1 − m 


2e
 t 

1,1  1 −  t fk
2 em
e a capacidade de carga vertical da parede é: 
 t  fm

ou considerando que β = 1,1  1 −


2 em 
 t 
fk
βt
γm
sendo em o maior valor entre ex e et, em não pode ser menor que 0,05 t.
Se a excentricidade é menor que 0,05 t, então β = 1 .

Geralmente as excentricidades calculadas pela norma são muito


menores do que as encontradas em testes de laboratório.
Isto contudo, pode ser compensado pela forma empírica usada para
calcular a excentricidade adicional ea e por outras considerações usadas no
cálculo do fator de redução. As cargas concentradas são associadas com
carregamentos de vigas, e tensões mais altas são permitidas na vizinhança
das cargas. Três tipos de carregamento são observados (Fig. 3).
A resistência localizada de projeto, calculada sob uma tensão de
carregamento uniforme, é igual a:

para tipo 1, e
fk
1,25
γm

para tipo 2
fk
1,5
γm

Para o tipo 1, é permitido um aumento de 25% na resistência de projeto


quando a laje forma ângulo reto, desde que o apoio seja maior que 50 mm e
menor que a metade da espessura da parede.
O tipo 2 é para vigas pequenas ou lajes que formam ângulos retos com a
parede e cuja distância ao fim da parede é maior que o apoio da laje.
Lajes cujo comprimento do apoio está entre seis ou oito vezes a largura
do apoio são incluídas no tipo 2 e permitem um acréscimo de 50% na
resistência de projeto.
61

Figura 3 – Tensões de projeto na vizinhança de vigas e lajes, de acordo com o apoio (BS
5628)
62

3.2 Paredes e Pilares Submetidos à Carga Axial

Considerando-se apenas o carregamento axial, o tipo de ruptura


dependeria da esbeltez da parede ou do pilar.
Para pilares pequenos, com baixa esbeltez, a ruptura pode ocorrer por
compressão do material. Para pilares longos e altos valores de esbeltez, o
colapso se dará por instabilidade lateral (Figura 4).

Figura 4 - Tensão de ruptura x taxa de esbeltez

A ruptura é também dependente das propriedades do material. A


tensão de ruptura para esbeltez zero é dependente da resistência do tijolo
e da argamassa usados.

3.3 Parede e Pilares Submetidos à Cargas Excêntricas

É praticamente impossível aplicar cargas axiais, em paredes ou colunas.


Para isto seriam necessários tijolos e construção perfeitos. A carga
vertical, portanto, será geralmente excêntrica e produzirá momento fletor
no elemento de alvenaria (Figura 5).
63

Figura 5 - Carregamento excêntrico O momento


adicional pode ser considerado de duas maneiras:

a) aumento da tensão devida às cargas axiais usando a fórmula

Onde, A = área da seção transversal


P M
Tensao total = ±
A Z
Z = módulo da seção

b) reduzindo a capacidade resistente às cargas axiais das paredes ou


colunas por um coeficiente adequado (método usado na BS 5628).
0 efeito da esbeltez e da excentricidade são combinados e aparecem na
norma como 0 coeficiente redutor de resistência (Figura 6).

Figura 6 - Coeficiente redutor de resistência na BS 5628


64

3.4 Taxa de Esbeltez (Altura Efetiva)

É a razão entre a altura efetiva e a espessura efetiva. A máxima taxa


de esbeltez permitida pela BS 5628 é 27.
A altura efetiva é relacionada com as restrições impostas pelos pisos e
vigas e dependem da resistência lateral a movimentos fornecidos pelos
suportes. Teoricamente a altura efetiva pode ser calculada através da
teoria de Euler (Figura 7). A Tabela 1 estabelece as alturas efetivas para
paredes e pilares.

Figura 7 - Altura efetiva para diferentes condições de apoio.

Tabela 1- Altura efetiva de paredes e pilares


Condições de Apoio Altura Efetiva
Parede com suporte lateral nas duas extremidades 0,75 .h
e com restrição à movimentos de rotação 0,75 h
Parede com suporte nas duas extremidades e com
restrição simples.
Pilares com restrição à movimento em duas direções h
nas duas extremidades
Pilares com apoio lateral em uma direção h (direção do apoio)
2h (direção em que não
há apoio)
Colunas formadas por aberturas adjacentes na 0,75 h + 0,25 altura
parede e com restrição à rotação da maior abertura
Colunas formadas por aberturas adjacentes e -- h-
restrição simples
65

3.5 Comprimento Efetivo

O comprimento efetivo de uma parede pode ser tomado como:

a) 0,75 vezes a distância entre suportes laterais verticais que


garantam efetiva resistência a movimentos laterais (Figura 8.a).
b) 2 vezes a distância entre um suporte lateral vertical que garanta
efetiva resistência a movimentos laterais e uma face livre(Fig. 8 b).
c) a distância interna entre os suportes laterais verticais quando
garantem simples resistência a movimentos laterais (Fig. 8 c).
d) 2,5 vezes a distância entre o suporte lateral vertical que garante
resistência simples ao deslocamento lateral, e uma face livre (Fig. 8
d).

Figura 8 - Comprimentos Efetivos

3.6 Espessura Efetiva de Paredes e Pilares

A espessura efetiva para paredes simples e pilares é igual à espessura


real. .
Para paredes duplas ou paredes reforçadas por colunas ou paredes
adjacente, a espessura efetiva é aumentada de uma certa quantidade que
66

depende das dimensões do reforço e do seu espaçamento. A Tabela 2


fornece os valores de k que serão usados para o cálculo da espessura
efetiva tf. A Figura 9 mostra as diferentes situações que podem ocorrer.

Tabela 2 - Valores de k para o cálculo de tef


L/p Tp/t
1 2 3
6 1,0 1,4 2,0
10 1,0 1,2 1,4
20 1,0 1,0 1,0

Figura 9 - a) Parede simples com pilares; b) parede equivalente sem pilares; c) paredes
ecker com pilares

Paredes Ecker (Cavity walls) : A adição de uma nova parede de


alvenaria, unida apenas com grampos metálicos a uma parede maciça,
obviamente reduz a tendência desta parede de romper por flambagem, se
apenas uma ou ambas estão carregadas. Contudo, a rigidez do conjunto não
pode ser tomada como a soma das rigidez individuais. A espessura neste
caso deve ser tomada como maior valor de:

a) 2/3 (t1+ t2) ou


b) t1 ou
c) k . t2
67

3.7 Fator de Redução da capacidade suporte em função da esbeltez.

Na determinação da resistência de uma parede deve ser levado em


conta o seu índice de esbeltez. Quanto mais esbelta menos resistente será
esta parede. A norma inglesa (BS 5628) utiliza um fator redutor (3 (ver
item 1) que é função deste índice de esbeltez.

3.8 Cálculo da Excentricidade

A existência de excentricidade no carregamento implica na redução da


capacidade suporte de um elemento de alvenaria.
Dois métodos podem ser usados paro o cálculo da excentricidade: o
método de aproximação ou pela análise de pórtico.

3.8.1 Método de Aproximação

a) A carga transmitida por um piso é considerada atuando a um terço da


espessura de carregamento em relação a face da parede (Figura 10). No
caso de parede simples (Figura 10 a), a excentricidade é calculada pela
fórmula:
t
w2
e= 6
w1 + w2

No caso da Figura 10 b), toda a carga é resistida pela parede interna.


Calcula-se a excentricidade como no caso a), considerando t = tef para
parede Ecker.

Figura 10 - excentricidade para a) Piso/parede simples; b) piso/parede Ecker


68

b) para piso contínuo se considera a carga atuando a 1/6 da espessura


da face apropriada (Figura 11 a). Neste caso, a excentricidade é obtida pela
seguinte fórmula:

t
(W3 − W2 )
e= 3 **************
W1 + W2 + W3

c) se a força vertical atua entre o centróide das duas paredes, em caso


de Paredes Ecker com laje apoiada em ambas as paredes, esta deve ser
substituída por cargas axiais estaticamente equivalentes nas duas folhas
(Figura 11b).

W1 =
W .b
e W2 =
(a − b)W
a a

a) b) Figura 11 - Excentricidades para a) carga/parede contínuas; b) paredes Ecker

3.8.2 Análise de Pórtico

Se o momento fletor e a carga axial da parede forem calculados para


um nó qualquer de uma estrutura em pórtico, então a excentricidade é
calculada dividindo o momento pela carga axial.
69

3.9 Resistência ao Carregamento Vertical

3.9.1 Paredes

A resistência ao carregamento vertical da parede deve ser maior que a


carga vertical calculada. Para uma parede, a resistência de projeto para
carga vertical é dada por:

γm = coeficiente parcial de segurança para o material


β = coeficiente redutor da capacidade de carga
fk = resistência característica à compressão da alvenaria.

3.9.2 Pilares

A resistência de cálculo à cargas verticais é dada por:

β.b. t. fk
γm

neste caso, β deve ser escolhido de acordo com as regras abaixo:

Excentricidade no Excentricidade no topo do Escolha de β


topo do pilar em pilar em relação ao menor
relação ao maior eixo eixo

Usar curva superior da Fig. 6


< 0,05 b < 0,05 t com tef apropriado para o menor
eixo
Fig. 6 com excentricidade e
< 0,05 b > 0,05 t esbeltez apropriados para o
menor eixo
Fig. 6 com excentricidade
> 0,05 b < 0,05 t apropriada para o maior eixo e
esbeltez ara o menor eixo

Se as excentricidades no topo do Pilar forem > 0,05 b e > 0,05 t,


calcula-se conforme segue: em relação à XX
70

1) a excentricidade do projeto em é definida como o maior valor de ex e


et. Onde

et = 0,6e x + ea
 1 h 
2 
et = 0,6ex + t  
ef
  − 0,015
 2400  tef 
  

t = espessura da coluna
tef = espessura efetiva
hef/tef = taxa de esbeltez em relação ao menor eixo.

2) o valor β é calculado como

β = 1,1 1 − m 
2e
 t 

em = maior valor entre ex e et

A carga resistente de cálculo é portanto:

βtf k  2e  fk 
= 1,1 1− m  t γ 
γm  t  m 

ex
x ey x
t

Figura 12 - Área transversal do pilar

A Tabela 8.4. estipula os valores de acordo com a excentricidade no


topo da parede e com o índice de esbeltez.
71

Tabela 8.4. - coeficiente redutor de capacidade β


Taxa de esbeltez Excentricidade no topo da parede
het/ter <0,05 0,1 t 0,2 t 0,3 t
0 1,00 0,88 0,66 0,44
6 1,00 0,88 0,66 0,44
8 1,00 0,88 0,66 0,44
10 0,97 0,88 0,66 0,44
12 0,93 0,87 0,66 0,44
14 0, 89 0, 83 0,66 0,44
16 0, 83 0, 77 0,64 0,44
18 0,77 0,70 0,57 0,44
20 0, 70 0, 64 0, 51 0, 3 7
22 0, 62 0, 56 0,43 0, 30
24 0, 5 3 0,47 0, 34
26 0,45 0,38
27 0,40 0.33
72

4 CARGAS CONCENTRADAS

A BS 5628 especifica os seguintes procedimentos para verificação de


cargas concentradas:

a) Verificar:

1. Imediatamente abaixo do carregamento


2. 0,4 h abaixo do carregamento (h é a altura da parede)

b) Considerar:
Carga vertical que causará máxima tensão de compressão

c) Determinar cargas verticais características:

1. no local de carregamento, assumindo que a carga seja


uniformemente distribuída sobre a área de apoio;
2. 0,4 h abaixo, assumindo a carga uniformemente distribuída numa
área contida entre linhas traçadas à 45°;
3. adicionar qualquer outra carga que esteja presente.
73

d) Escolher a pior combinação de cargas dos casos a), b) e c) da norma:

1,4 Gk + 1,6 Qk è geralmente este


1,4 Gk + 1,4 Wk
1,2 Gk + 1,2 Qk + 1,2 Wk

e) Carga de projeto deve ser menor que carga resistente

Para a área 0,4 h abaixo do apoio: calcular a excentricidade e a


resultante da carga concentrada P e da carga uniformemente distribuída q.

f) Resistência de projeto depende do tipo de apoio.

4.1 Dimensionamento de Coxins

O coxim deve apresentar rigidez suficiente para distribuir a carga


concentrada uniformemente.

β. f k q P
≥ +
γm t b.t
onde:
t = espessura da parede
b = largura do coxim

Após dimensionar b, dimensiona-se h h ≥ x2

Se dimensões do coxim forem muito elevadas, dimensionar pilares nos


apoios.
74

5 CONSIDERAÇÕES SOBRE CARGAS DE VENTO NO PROJETO DE


ESTRUTURAS EM ALVENARIA1

B. P. Sinha, BSc:, PhD, MICE, MIStructE

5.1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, em todo o mundo tem crescido o interesse pelas


estruturas em alvenaria construídas sem a utilização de pórticos. Edifícios
de andares múltiplos construídos desta forma devem ser projetados para
resistir às ações laterais de vento e de abalos sísmicos, quando for o caso.
A resistência a estas ações é obtida por shear walls, também chamadas
paredes de contraventamento ou cross-wall, devido à sua resistência ao
cisalhamento e ao tombamento, como mostrado na Fig. 1.

Fig. 1 - Ação em parede de cisalhamento

Este artigo trata de alguns dos aspectos de projeto relacionados à ação


do vento em estruturas de alvenaria. Em um edifício típico em alvenaria a
resistência à ação do vento é obtida principalmente devido à flexão do
painel de fachada (Fig. 2) o qual transfere o carregamento para a shear wall
através das lajes de piso (diafragma). Portanto, ao se considerar o efeito do
vento, nos projetos, os seguintes problemas devem ser analisados:

(i) Estabilidade global do edifício;


(ii) Resistência à flexão dos painéis isolados de alvenaria.

1
Tradução do artigo "Some A.spects of Design of Brick Swctures for Wind Loads"
75

Fig. 2 - Ação do vento em um edifício: os painéis de fachada resistem à ação do vento


sofrendo flexão e transferindo os esforços para as paredes de contraventamento
através das lajes, e após, para a fundação (Structural Clay Products)

O projeto de painéis submetidos à ação do vento será discutido em


outro artigo. Somente a estabilidade global é aqui considerada.

5.2 ESTABILIDADE GLOBAL

Analisando-se a estrutura em shear wall da Fig. 3 pode-se notar que a


mesma é estável na direção Y, mas não o é na direção X.

Fig. 3 - Estrutura em shear wall estável na


direção Y mas não na direção X
76

A carga lateral na direção X causa colapso em "efeito dominó". Para se


obter estabilidade e evitar este tipo de ruptura, devem ser projetadas
paredes com comprimento adequado nas direções de ambos os eixos X e Y.
Além disso, as lajes de piso e de forro devem ter resistência e rigidez
suficientes para transferir o carregamento, agindo como diafragma. O
projetista deve assegurar-se de que as ligações laje-parede apresentem
resistência adequada para resistir às tensões de cisalhamento devido ao
carregamento.
Em uma construção em alvenaria, paredes podem ser dispostas de vária
maneiras de modo a se obter estabilidade global. Entretanto, três
configurações básicas [1,2] apresentadas na Fig. 4, podem ser utilizadas,
sendo:

Fig. 4 - Configurações típicas de paredes


77

a. Sistema contraventamento simples ou duplo: Os principais


contraventamentos são elementos estruturais que também
fornecem resistência adequada à ação do vento paralela a sua
direção. Estabilidade lateral na outra direção é obtida pelo
corredor e pelas paredes laterais.
b. Celular: Paredes internas e externas são estruturais e fornecem
estabilidade lateral em ambas as direções
c. Complexo: Combinação de ambos os sistemas, como ilustrado na
Fig. 4. A estabilidade lateral nas duas direções é obtida através
dos sistemas de parede ou dos núcleos estruturais (áreas de
circulação).

Na etapa de planejamento, o projetista deve evitar, tanto quanto


possível, configurações assimétricas de p$redes. Esta situação é
exemplificada na Fig. 5, onde as paredes estão sujeitas à torção devida à
ação do vento, o que pode gerar tensões indesejáveis em algumas delas.

Fig. 5 - Torção em edificios assimétricos.

5.3 MÉTODOS TEÓRICOS PARA ANÁLISE DE VENTO

O cálculo da rigidez lateral e de tensões em um sistema onde as shear


walls sem aberturas são dispostas de forma simétrica é direto e envolve
somente cálculo de flexão simples. Shear walls com abertura são um
problema muito mais complexo. A complexidade e dificuldade aumentam
78

ainda mais quando se trata de estruturas tridimensionais de andares


múltiplos. As estruturas tridimensionais são simplificadas para análise e
considerandas bidimensionais. Basicamente, cinco métodos são usados para
análise e projeto de shear wall com aberturas:

(i) Método "cantilever" (ou Analogia da Viga em Balanço)


(ii) Pórtico equivalente
(iii) Método das Ligações Rígidas (Wide Column Frame)
(iv) Método do Contínuo (ou Técnica do Meio Contínuo)
(v) Método dos Elementos Finitos

A Fig. 6 mostra uma idealização de shear walls com abertura para estes
métodos.

Fig. 6 - Idealização de shear walls com abertura para análise teórica.


79

5.3.1 Método Cantilever (ou Analogia da Viga em Balanço)

Considera-se que a estrutura é composta de uma série de paredes


verticais engastadas. Considera-se que as lajes agem como diafragmas
conectadas às paredes capazes de transmitirlhes os esforços diretamente.
O momento devido ao vento é distribuído proporcionalmente às paredes de
acordo com sua rigidez à flexão. Este é o método mais comumente usado no
projeto de estruturas em alvenaria. Entretanto esta simplificação despreza
a flexão de vigas ou lajes interligadas, que pode requerer considerações
adicionais no projeto. O deslocamento das paredes consideradas
isoladamente é dado por:

w1  x 4 h 3 x h 4 
∆=  − + 
EI1  24 6 8
e por:
w2  x 4 h 3 x h 4 
∆=  − + 
EI2  24 6 8

onde
w w
w1 = I1 w1 = I2
I1 + I 2 I1 + I 2

x: distância, a partir do topo, entre as seções consideradas.


w: carga de vento distribuída uniformemente ao longo da altura h
h: altura da edificação.

5.3.2 Pórtico equivalente

Neste método as paredes (shear walls) são idealizadas e substituídas


por um pórtico equivalente [3,4]. Pilares e vigas são considerados com a
mesma rigidez que as respectivas paredes e lajes do pavimento. Pelo centro
de massa das paredes passa-se a linha de centro dos pilares e os vãos das
vigas são tomados como sendo a distância entre a linha de centro dos
pilares adjacentes. Qualquer método clássico pode ser usado para análise
[5] podendo-se levar em conta ou não a deformação axial por cisalhamento
de vigas e pilares. Programas para computadores podem ser usados para
análise utilizando este método.
80

5.3.3 Método das Ligações Rígidas (Wide Column Frame )

Este método [6] é um refinamento adicional do método do Pórtico


Equivalente. A estrutura é idealizada de maneira análoga ao Pórtico
Equivalente com a diferença de que as vigas, entre a face das paredes shear
wall e o centro de massa, são consideradas com rigidez infinita. Métodos
similares de análise como Pórtico Equivalente podem ser usados.

5.3.4 Método do Contínuo (ou Técnica do Meio Contínuo)

Neste método, as vigas que ligam as paredes são substituídas por um


meio contínuo equivalente. Como hipóteses adicionais considera-se que o
meio tem um ponto de contraflexão no centro e que as deformações por
cisalhamento são desprezíveis. Considera-se que os momentos e esforços de
cisalhamento são distribuídos entre as paredes proporcionalmente às suas
rigidezas. Com base nisto, uma equação diferencial de segunda ordem para a
força de cisalhamento redundante na superfície pode ser expressa , de
acordo com Coull & Chowdhary [7], por:

d 2T
2
− α 2T = −βx 2
dx

x
onde T = ∫ qdx
0

12Ip  l
2
A 
α2 =  + 
hb  I A1 + A2 
3 

1  12 Ip  l
β=
2  hb 3  I
wl

I = I1 + I2

A = A1 + A2

Levando em conta as condições de contorno, ou seja, para paredes com


fundação rígida, o valor de T será:

2β  sinh α h − α h α2 x2 
T= 4 1 + sinh αh − cosh αx + 
α  cosh α h 2 
81

Encontrando-se a equação redundante do sistema, o momento fletor na


parede 1 e 2 pode ser expresso por:

M1 =  wx2 − Tl  1
1 I
2 I
M 2 =  wx2 − Tl  21
1 I
2  I
Os deslocamentos serão:
d2y 1 2
EI 2 = wx − Tl
dx 2

Para carga distribuída uniformemente, o deslocamento em qualquer


seção X a partir do topo será dado por:

 2 
1 wh4   1 1 1  x    1  
y=  − x +    1−  +
2 EI  4 12  h   µ  
  3h  
   x 2 
4     − 1 αh sinh αh − sinh α h − cosh h − x + 1 
1 wh  2   h  ( ) ( ) 
−  +
2 EI  µ 2 ( αh ) 2
( αh ) cosh αh
4  
  
   

onde ,

A1 + A2 I I
µ = 1+
A1 A2 l 2

O Método do Contínuo foi desenvolvido a partir do trabalho pioneiro de


Chitty [8] tendo sido utilizado e desenvolvido por vários pesquisadores
[9,10,11,12 & 13 ] para shear wall com aberturas. Basicamente, todos estes
pesquisadores os empregam mesmo método para escolher a equação
redundante. Existem tabelas para projeto [7, 14] que permitem uma
avaliação rápida dos deslocamentos máximos e das tensões na ligação entre
shear wall.

5.3.5 Método dos Elementos Finitos

Todos os métodos anteriores de análise consideram um comportamento


elástico-linear. O Método dos Elementos Finitos é uma ferramenta poderosa
82

para análise destas estruturas permitindo que efeitos de não-linearidade


sejam considerados. No Método dos Elementos Finitos as paredes são
divididas em um grande número de elementos retangulares ou triangulares
conectados nos nós. As equações de equilíbrio em cada nó são expressas em
forma de matriz e resolvidas com o uso de computador. Existem programas
para computadores disponíveis que são capazes de resolver estruturas
complexas. Entretanto isto pode apresentar custo elevado além de
desnecessário nas situações práticas de projeto.

5.4 INVESTIGAÇÃO EXPERIMENTAL

Uma boa quantidade de trabalhos analíticos tem sido feita para


determinar as tensões e deslocamentos de estruturas submetidas a cargas
laterais, mas poucos ensaios têm sido feitos para validar estes métodos de
modo a permitir seu emprego prático no projeto estrutural. Para isso, uma
estrutura de 5 pavimentos foi ensaiada para estudar [15] o comportamento
sob carregamento lateral. Devido ao alto custo e elevado consumo de tempo
nos ensaios em escala natural, foram utilizados blocos em escala reduzida
1:1/6, Estes testes foram preliminares, antecedendo um programa de
ensaios mais extenso [16] desenvolvido em uma estrutura similar em escala
natural em uma pedreira (que funcionou como parede de reação) em Torphin
Edinburgh.
A estrutura de 5 pavimentos (Fig. 7) consistiu de três pares de paredes
de contraventamento de 112,5 mm (4,5"). As paredes foram construídas em
blocos com resistência à compressão de 34,6 N/mm2 e argamassa 1:1/4:3
(cimento: cal: areia). As lajes eram compostas de painéis pré-moldados de
50 mm e capeados com 75 mm de concreto. As cargas foram aplicadas em
cada pavimento por três macacos hidráulicos contra a pedreira (parede de
reação), alinhada com concreto, de modo a se obter uma superficie plana. A
carga de cada macaco foi medida por células de carga ligadas a um
voltímetro digitai. Os deslocamentos foram medidos por relógios
comparadores e extensômetros em vários locais da estrutura em alvenaria e
por Demec gauges no nível do solo. O deslocamento da estrutura é
apresentado na Fig. 8. A distribuição de tensões obtida pela medição de
deformação na base da estrutura é apresentada na Fig. 9. A estrutura foi
substituída por uma outra hipotética bidimensional [6,17] com áreas
apropriadas e momentos de segunda ordem e analisada utilizando todos os
83

métodos referidos no item 3. O resultado teórico desta análise é


apresentado nas Figs. 8 e 9. A deformação experimental, e portanto a
distribuição de tensões, foi não-linear ao longo das shear walls, o que não
pôde ser reproduzido pela maioria dos métodos teóricos baseados em
variação linear de deformação, com exceção do Método dos Elementos
Finitos. Como resultado, estes métodos não fornecem uma distribuição
precisa das tensões em shear walls. A comparação entre resultados teóricos
e experimental sugerem que a melhol aproximação do comportamento de
tais estruturas em alvenaria pode ser obtida substituindo a estrutura real
por um pórtico equivalente. As barras verticais deste pórtico devem ter o
mesmo momento de inércia das paredes e o vão para interligação deve ser
tomado como sendo os eixos que passam pelo centro de massa e pelas
paredes adjacentes. Métodos mais rigorosos e elaborados como o Método
dos Elementos Finitos dão resultados comparáveis, mas não são
recomendados para análises e projetos convencionais. Tanto 0 Método do
Contínuo quanto o Método das Ligações Rígidas (Wide Column Frame)
superestimam a rigidez em várias vezes, não são sendo, portanto,
recomendáveis.
84
85

6 DIMENSIONAMENTO PARA CARGAS DEVIDAS AO VENTO

Maior parte do material compilado a partir do livro Desigh of Masonry


Structure de A. W. Hendry, B. P. Sinha e S. R. Davies

6.1 Distribuição de Cargas entre Paredes

6.1.1 Paredes Dispostas Simetricamente

Quando há simetria (Figura 1) a carga é distribuída para cada parede na


proporção de sua rigidez, uma vez que o deslocamento das paredes deve ser
o mesmo no nível do piso:

I1 I2 I3

Figura 1 - Paredes com disposição simétrica

W .I1 W .I1
W1 = = (1)
I1 + I2 + I3 ∑ I

W. I2 W .I 3
W2 = (2) e W3 = (3)
∑I ∑I

6.2 Paredes Dispostas Assimetricamente

Quando um sistema de paredes de contraventamento de seções


uniformes na altura não é simétrico no espaçamento das pareces ou na
distribuição das massas, a resultante das carga de vento não passará
através do centro de cisalhamento, ou seja do centróide dos momentos de
inércia, e um momento torçor será aplicado no prédio. Similarmente, será
induzida a torção num prédio simétrico se o resultado das forças aplicadas
86

não passar pelo centro de cisalhamento.


A carga W pode ser substituída por uma carga atuando no centro de
cisalhamento mais um momento torçor igual a W. e (Figura 2).
Devido a este momento as paredes são submetidas a um carregamento
adicional de magnitude W'A, W'B e W, respectivamente. O carregamento
nas paredes A e B será negativo e na parede C, positivo.
Assumindo que o deslocamento das paredes devido ao momento torçor
seja igual a, b, c, conforme Figura 3, então, se a laje é rígida:

∆ a .xb
∆b = (4)
xa
∆ .x
∆c = a c (5)
xa

e também,

W A' .h3
∆a = (6)
K.E. I A

sendo K, constante de deflexão.

WB' .h3
∆b = (7)
K .E .I B

Substituindo o valor de ∆b da equação (4) pela (7), da equação (6)


obtém-se:

∆a W ' .h3
xb = B (8)
xa K .E .I B
ou

 xb   W A'  WB'
    = (9)
 xa  I A  I B

 W' I   xb 
WB' =  A B    (10)
 IA   xa 
87

Figura 2 - Paredes assimétricas submetidas à cargas de vento

Figura 3 - Deflexão das paredes


88

similarmente:

W ' I   xc 
WC' =  A C    (11)
 IA   xa 

A soma dos momentos de todas as forças em relação ao centro de


cisalhamento de todas as paredes deve ser igual ao momento torçor:

WA' xa + WB' xb +WC' xc = W .e (12)

Substituindo (8) em (9):

 I B xb2 I C x 2c 
WA'  xa + . +  = W .e (13)
 I A xa I A xa 

multiplicando ambos os lados por xa e IA:

WA'  I A xa2 + I B .xb2 + IC xc2  = W .e.xa .I A (14)

(15)
W .e.xa .I A W .e.I A .xa
WA' = =
(
I A xa2 + I B. x2b + I C x2c ∑ I . x2 )

similarmente

(16)
W .e.I B . xb
WB' =
∑ ( I .x 2 )

(17)
W .e.I C .xc
WC' =
∑ ( I .x 2 )

A carga em cada parede será a soma algébrica das cargas calculadas


das equações (1), (2) e (15). Assim, a carga resistida em cada parede é

(18)
W .I n W .e .I n . xn
Wn = +
∑ I ∑ I .x 2 ( )
89

6.3 Roteiro para Projetos de Paredes Assimétricas

1. Determinar um eixo de referência. No exemplo abaixo é a face


externa da parede estrutural mais a esquerda. A partir do eixo de
referência determinar o centro de torção.

Figura 4 – X’i , de cada parede para determinação do centro de torção

2. Determinar a distância dos centros de gravidade de cada parede


(X';) ao eixo de referência.

3. Determinar o centro geométrico do prédio (Xcg) que é igual à metade


do comprimento da fachada em que está incidindo o vento.
4. O centro de torção (Xct) é dado pela equação:

X ct =
∑ Ii .xi'
∑ Ii
90

Determinar os valores dos esforços a partir da planilha abaixo:


Parede Ii xi' I i . xi' xi I i . xi Ii. xi2 W .I n W .e.I n .xn M n = [ (1) + (2) ] h Y1 σ=
M . yi
N. ∑ I ∑ I .x 2
(1) (2)
( ) Ii

P1, P2, ... Pn è paredes estruturais na direção de vento considerada


Ii è momento de inércia da parede i

X ct =
∑ Ii .xi'
∑ Ii

X i = x i' − xcg

Ø e = excentricidade da parede è e = xct − xcg


Ø h = altura do braço de alavanca para determinar o momento devido
ao vento
Ø Yi = distância do centro de gravidade da parede ao seu extremo
mais afastado
Ø = tensão normal na parede devido ao vento
91

7 DIMENSIONAMENTO DE PAINÉIS DE FACHADA

7.1 Introdução

Em qualquer estrutura típica de alvenaria estrutural, dois tipos de


paredes resistem pressão lateral, que pode ser causada pelo vento ou pelo
efeito de uma explosão.
Estas paredes podem ser classificadas em:
1. paredes com~pré compressão, isto é, paredes sujeitas a cargas
verticais e laterais.
2. paredes sem pré compressão, isto é, paredes sujeitas apenas ao
peso próprio e ao carregamento lateral.

7.2 Análise de Paredes com Pré-compressão

A resistência lateral de paredes com pré compressão depende dos


seguintes fatores:
i) resistência à tração na flexão
ii) pré compressão inicial
iii) rigidez do prédio contra a tendência de ocorrer um levantamento
iv) condições de apoio da parede.

7.2.1 Resistência à Tração na Flexão

A resistência à flexão da alvenaria é muito baixa e pode ser ignorada no


projeto de paredes para resistir cargas laterais, sem grande perda de
precisão.

7.2.2 Pré-compressão Inicial

A resistência lateral da parede depende da compressão vertical


aplicada. Normalmente, esta é tomada como sendo a carga permanente da
estrutura suportada pela parede. Porém, se ocorre assentamento, é possível
que parte desta carga seja redistribuída para outras partes da estrutura
(Figura 1).
0 assentamento relativo da parede do lado direito produzirá momentos
fletores nas lajes de piso, os quais por sua vez reduzirão o carregamento na
92

parede. Foi verificado experimentalmente que o assentamento de apenas 1


ou 2 mm pode reduzir bastante a pré compressão.

7.2.3 Rigidez do Prédio

Instantes antes de romper, uma parede sob carregamento lateral tende


a levantar a estrutura que está acima (Figura 2). 0 levantamento depende da
espessura da parede. 0 efeito é oposto ao que ocorre quando há
assentamento e resulta numa compressão adicional na parede.
O valor depende da rigidez da parede contra esta tendência ao
levantamento. Contudo, a rigidez de uma parede é altamente indeterminada
e varia não linearmente. Em casos práticos, portanto, esta compressão
adicional deve ser ignorada.

Figura 1 - Redistribuição da carga devido ao


assentamento

Figura 2 - Levantamento da parede no momento de ruptura


93

7.2.4 Condições de Apoio

Na prática, as paredes podem apoiar-se nas lajes e lateralmente, em


paredes de contraventamento. Estes apoios podem fornecer resistência
extra dependendo da razão comprimento/altura da parede, da resistência à
tração do tijolo e do número de fiadas que amarram as paredes. Na teoria
descrita a seguir, assume-se que as paredes de contraventamento não
rompem. Contudo, o projetista deve verificar se estas pode suportar as
cargas com segurança.

7.2.5 Teoria Aproximada para a Análise de Cargas Laterais de Paredes


Sujeitas à Précompressão

7.2.5.1 Parede sem Contraventamento

Uma análise aproximada pode ser desenvolvida com base nas seguintes
hipóteses:
i) As deflexões elásticas nos apoios das paredes são negligenciáveis
ii) Ruptura ocorre por fissura horizontal no topo, centro e parte
inferior da parede, causando rotação em relação a linhas
horizontais que passam por A, B, e C (Figura 3 ). As forças
atuando na metade superior da parede no instante de ruptura são
mostradas na Figura.

Figura 3 - Mecanismo simplificado de ruptura de paredes apoiadas em cima e embaixo


94

Tomando mementos em relação à A:

(1)
l h
σ.t .L. ( t − a ) = q0 .h
24

8.σ. t. ( t − a )
q0 = (2)
h2

σ = pré-compressão
t = espessura da parede sujeita à pré compressão
L = comprimento da parede h = altura da parede
qo = pressão lateral ou transversal
a = distancia horizontal em que o centro da parede moveu-se.

Se a tensão de compressão for considerada constante na ruptura, a


pressão máxima resistida pela parede é igual a

8.σ.t 2
q0 = 2 quando a = 0 (3)
h
Se a compressão aumenta com a elevação da parede, é possível o
aumento do momento resistente, σtL(t - a), mesmo em caso de diminuição do
braço de alavanca (t - a), resultando no aumento da máxima pressão lateral
resistida pela parede.

7.2.5.2 Paredes com Contraventamento

Neste caso, parte da pressão lateral será transmitido para as paredes


de contraventamento.
Considerando uma parede com um contraventamento e tomando o
momento de todas as forças atuando na metade superior da parede (Figura
4) em relação ao topo, obtém-se:

h2 h
(4)
h h
σ.t 2 .L = q1 L − q1
2 4 8 3

Portanto,

8.σ.t 2 1
onde (5)
L
q1 = α= ≥ 0,5
h2 1 − 1 h

95

Figura 4 - Mecanismo simplificado de ruptura para paredes com contraventamento

Substituindo o valor de qo (parede sem contraventamento) da equação


(3) na equação (5), obtém-se:

(6)
1
q1 = q0
1
1−

De forma similar, para uma parede com 2 apoios laterais:

h 2 2h
(7)
h h
σ.t 2 .L = q2 L − q2
2 4 8 3

Portanto,

8.σ.t 2 1
onde (8)
L
q2 = α= ≥ 1,0
h2 1 − 1 h

Da equação 3:

(9)
1
q2 = q0
2
1−

96

Na Norma Inglesa BS 5628, os fatores 1 − e 1− são trocados por


1 2
3α 3α
um fator k (Tabela 1).

Tabela 11.1 - Projeto de carga lateral com contraventamento k.q (BS 5626, Tabela 10)
Valor de k
Núm. de paredes de contraventamento L/h = 0,75 1,0 2,0 3,0
1 1,6 1,5 1,1 1,0
2 4,0 3,0 1,5 1,2

7.2.6 Efeito de Pré compressão muito alta

Da equação (3) pode ser visto que a pressão lateral varia diretamente
com a pré-compressão, o que é verdadeiro para um corpo rígido ideal. Em
paredes de tijolo com pré-compressão alta, os dois blocos giram resultando
numa redução da área efetiva da seção transversal (Figura 5), e com
conseqüente aproximação da resistência última à compressão, a ruptura
ocorrerá antes do previsto pela teoria linear da equação (3). Se a pré-
compressão for igual à resistência última da alvenaria, a parede romperá
sem resistir a qualquer esforço lateral. A capacidade máxima de resistência
a cargas laterais, para qualquer tipo de alvenaria, é atingida para pré-
compressão aproximadamente igual à metade da resistência última,
conforme pode ser visto na Figura 6.

Figura 5 - Efeito da rotação da


parede: a) rotação básica b)
rotação modificada (alta pré-
compressão)
97

Figura 6 - Relação entre pré-compressão e pressão lateral máxima (tijolo de 102,5 mm)

7.3 Análise de Paredes sem Pré-compressão

Paredes que resistem carga lateral perpendicular ao seu plano podem


ser apoiadas das seguintes maneiras:
i) Apoio no topo e na base,
ii) Apoio apenas nas laterais,
iii) Apoio simples ou contínuo em 3 ou 4 lados, isto é, paredes
apoiadas em mais de dois lados e sob várias condições. 2.1. Apoios
horizontais (topo e base) ou verticais (laterais)

O momento máximo por unidade de largura das paredes pode ser


calculado por:

ω.h 2
Apoio no topo e na base è My = (10)
8

ω.L2
Apoio nas laterais è Mx = (11)
8
onde,
w = pressão de projeto
Mx e My = momentos máximos por unidade de largura no meio da parede
h = altura da parede
L = largura da parede
98

Similarmente, o momento resistente por unidade de largura de parede


pode ser calculado do valor conhecido das resistências à tração na flexão
nas direções respectivas:

M y = f ty .Z (12)

onde fty = resistência à tração permissível perpendicular à junta de


assentamento.

M x = ftx .Z (13)

ftx = resistência a tração permissível paralela à junta de assentamento.


Z = módulo seccional por unidade de largura.

Em caso de projeto no estado limite, os momentos fletores de projeto


por unidade de largura nas duas direções serão:

ωk .γ f .h 2
My = (14)
8

onde
Wk = carga de vento característica por unidade de área
γf = coeficiente de segurança parcial para cargas.

ωk .γ f .L2
Mx = (15)
8

O momento de resistência da parede será:

f ky .Z
My = (16)
γm

(17)
f kx .Z
Mx =
γm
fky, e fkx são as resistências à flexão características normal e paralela à
junta de assentamento.

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